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O S E CON OMIS TAS

M ICHAL K ALECKI

T EORIA D A D IN ÂMICA E CON ÔMICA

E N S AIO S OB RE AS MU D AN ÇAS C ÍCLICAS E A


L ON GO P RAZO D A E CON OMIA C AP ITALIS TA

Apresen tação d e J or ge Miglioli


T rad u ção d e P a u lo de Alm eida
F u n da dor
VICTOR CIVITA
(1907 - 1990)

E dit or a Nova Cu lt u r a l Lt da .

Copyr igh t © dest a ediçã o 1977, Cír cu lo do Livr o Lt da .

Ru a P a es Lem e, 524 - 10º a n da r


CE P 05424-010 - Sã o P a u lo - SP

Tít u lo or igin a l:
T h eory of E con om ic Dyn am ics - An E ssay on Ciclical an d
L on g-R u n Ch an ges in Capitalist E con om y

Text o pu blica do sob licen ça de Geor ge Allen & Un win ,


Lon dr es (T eoria d a Din âm ica E con ôm ica)

Dir eit os exclu sivos sobr e a s Apr esen t a ções de a u t or ia de


J or ge Miglioli, Má r io Lu iz P ossa s e Ta m á s Szm r ecsá n yi,
E dit or a Nova Cu lt u r a l Lt da .

Dir eit os exclu sivos sobr e a s t r a du ções dest e volu m e:


Cír cu lo do Livr o Lt da .

Im pr essã o e a ca ba m en t o:
DONNE LLE Y COCH RANE GRÁF ICA E E DITORA BRASIL LTDA.
DIVISÃO CÍRCULO - F ONE : (55 11) 4191-4633

ISBN 85-351-0918-8
AP RES EN TAÇÃO

1) Ad v e rtê n c ia

A T eoria d a Din âm ica E con ôm ica é a pr in cipa l obr a de Mich a l


Ka lecki a r espeit o da s econ om ia s ca pit a list a s e con st it u i leit u r a in dis-
pen sá vel pa r a qu em deseja a pr ofu n da r seu s con h ecim en t os sobr e essa s
econ om ia s. F oi or igin a lm en t e pu blica da em in glês em 1954 e, com a l-
gu n s a cr éscim os e cor r eções, em 1965. J á a pa r eceu em vá r ia s ou t r a s
lín gu a s: it a lia n o e espa n h ol (em 1956), polon ês e ja pon ês (1958), fr a n cês
e a lem ã o (1966), gr ego (1980) e em su eco (1975) gr a n de pa r t e dela foi
in clu ída n u m a seleçã o de t ext os de Ka lecki. A t r a du çã o pa r a a lín gu a
por t u gu esa foi pu blica da pela Abr il Cu lt u r a l, n a sér ie “Os P en sa dor es”,
em 1976.
P a r a o leit or qu e n ã o con h ece os t r a ba lh os de Ka lecki e, folh ea n do
o pr esen t e livr o, su r pr een da -se com su a for m u la çã o m a t em á t ica , t a lvez
seja con ven ien t e com eça r com o segu in t e a viso da do pelo a u t or , n o
P r efá cio à ediçã o ja pon esa da obr a : “E st e livr o est á ch eio de equ a ções,
da dos est a t íst icos, dia gr a m a s et c. Ao leit or isso pode pr ovoca r a er r a da
im pr essã o de qu e o t em a cen t r a l seja a a plica çã o da Ma t em á t ica e da
E st a t íst ica à pesqu isa econ ôm ica . Ma s n ã o se t r a t a disso, a bsolu t a -
m en t e. As equ a ções m a t em á t ica s sã o u sa da s a pen a s pa r a con den sa r
o cu r so do r a ciocín io e da r -lh e m a ior pr ecisã o. Os da dos est a t íst icos
ser vem pa r a dem on st r a r qu e os r esu lt a dos t eór icos n ã o con t r a dizem
os fa t os e qu e, por t a n t o, esses r esu lt a dos for n ecem explica çã o fidedign a
dos fen ôm en os pesqu isa dos”.1
E m ou t r a s pa la vr a s, o livr o n ã o con st it u i u m sim ples t r a t a m en t o
m a t em á t ico de con cepções econ ôm ica s est a belecida s. E le com pr een de,

1 In clu ído em KALE CKI, Mich a l. Dziela. v. II, p. 214. P or in icia t iva da Aca dem ia P olon esa
de Ciên cia s e com excelen t e t r a ba lh o edit or ia l de J er zy Osia t yn ski, est ã o sen do pu blica da s
em polon ês a s obr a s com plet a s de Ka lecki, sob o t ít u lo ger a l de Dziela (Obras) e dividida s
em cin co volu m es: 1) Capitalism o: Con ju n tu ra e E m prego; 2) Capitalism o: Din âm ica E co-
n ôm ica; 3) S ocialism o; 4) Países em Desen volvim en to; 5) An álises E con ôm icas. At é 1981
som en t e os dois pr im eir os volu m es t in h a m sido pu blica dos.

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OS ECON OMIS TAS

n a ver da de, u m con ju n t o de pesqu isa s or igin a is a cer ca da din â m ica


da s econ om ia s ca pit a list a s, a í em pr ega n do-se a Ma t em á t ica com o lin -
gu a gem e a E st a t íst ica com o in st r u m en t o de ver ifica çã o em pír ica da s
con clu sões t eór ica s.
F eit a essa a dver t ên cia , va m os fa la r u m pou co do a u t or a n t es de
a bor da r m os o con t eú do do livr o em qu est ã o.

2) B io g ra fia e Obra s 2

Mich a l Ka lecki n a sceu em Lodz, em 22 de ju n h o de 1899. E st u dou


n a E scola P olit écn ica de Va r sóvia e depois n a de Gda n ski, m a s n ã o
ch egou a gr a du a r -se. Seu pr im eir o t ít u lo a ca dêm ico ele o obt eve a os
57 a n os de ida de, qu a n do, já in t er n a cion a lm en t e r econ h ecido, o gover n o
polon ês o n om eou pr ofessor u n iver sit á r io; e em 1964 a Un iver sida de
de Va r sóvia lh e con fer iu o t ít u lo de dou t or h on oris cau sa.
F oi u m a u t odida t a . E m su a for m a çã o com o econ om ist a , r ecebeu
pr ofu n da in flu ên cia da s obr a s de Ma r x e de ou t r os a u t or es m a r xist a s.
Seu pr im eir o em pr ego com o econ om ist a foi n o In st it u t o de P es-
qu isa de Con ju n t u r a e P r eços, de Va r sóvia , em 1927. E m 1935, qu a n do
já t in h a pu blica do seu est u do in ova dor em t eor ia dos ciclos econ ôm icos,
via jou pa r a a Su écia com u m a bolsa de est u dos. No a n o segu in t e m u -
dou -se pa r a a In gla t er r a , on de t r a ba lh ou n a E scola de E con om ia de
Lon dr es e depois n a Un iver sida de de Ca m br idge (1937/39) e n o In st it u t o
de E st a t íst ica da Un iver sida de de Oxfor d (1940/45).
Ter m in a da a Segu n da Gu er r a Mu n dia l, Ka lecki pr est ou ser viços
du r a n t e a lgu m t em po pa r a a Or ga n iza çã o In t er n a cion a l do Tr a ba lh o
e pa r a o Gover n o polon ês. Da í foi pa r a o depa r t a m en t o econ ôm ico do
Secr et a r ia do da ONU, on de ficou a t é 1954.
Ret or n a n do à P olôn ia , ocu pou diver sos ca r gos: dir et or de pesqu i-
sa s n o depa r t a m en t o de ciên cia s econ ôm ica s da Aca dem ia P olon esa de
Ciên cia s (1955/56), pr esiden t e da Com issã o de P la n eja m en t o de Lon go
P r a zo (1957/60), vice-pr esiden t e do Con selh o E con ôm ico do E st a do
(1957/63), e t a m bém , a o lon go de t odo esse t em po (ist o é, de 1956 a
1969), pr ofessor n a E scola Cen t r a l de P la n ifica çã o e E st a t íst ica .
Ka lecki m or r eu em Va r sóvia n o dia 17 de a br il de 1970.

Os t r a ba lh os de Ka lecki podem ser sepa r a dos em t r ês gr u pos:


sobr e a s econ om ia s ca pit a list a s desen volvida s, sobr e a s econ om ia s su b-

2 P a r a m a is in for m a ções sobr e a biogr a fia e a s obr a s de Ka lecki, os segu in t es t r a ba lh os


podem ser con su lt a dos: MIGLIOLI, J or ge (or g.). Kaleck i. “Coleçã o Gr a n des Cien t ist a s
Socia is”. S. P a u lo. E dit or a Át ica , 1980; KOWALIK, Ta deu s. “Biogr a ph y of Mich a l Ka lecki”.
In : Problem s of E con om ic Dyn am ics an d Plan n in g — E ssays in H on ou r of M ich al Kaleck i.
Va r sóvia , P olish Scien t ific P u blish er s, 1964; F E IWE L, Geor ge. T h e In telectu al Capital of
M ich al Kaleck i. Kn oxville. Th e Un iver sit y of Ten n essee P r ess, 1975; os vá r ios a r t igos de
Oxford B u lletin of E con om ics an d S tatistics, fever eir o de 1977, n ú m er o especia l dedica do
a Ka lecki. O livr o de F eiwel con t ém a bibliogr a fia com plet a de Ka lecki.

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KALECKI

desen volvida s e sobr e a s econ om ia s socia list a s. E le escr eveu t a m bém


a cer ca de ou t r os t em a s (por exem plo: qu est ões de polít ica , est a t íst ica ,
m a t em á t ica t eór ica , m et odologia econ ôm ica et c.), m a s su a s pr in cipa is
con t r ibu ições in t elect u a is est ã o con t ida s n os t r a ba lh os a n t er ior m en t e
r efer idos.
Seu s pr im eir os escr it os (1927/32) sobr e a s econ om ia s ca pit a list a s
a bor da m pr oblem a s de pr odu çã o e com er cia liza çã o (a í in clu in do o ca so
de ca r t éis in t er n a cion a is) de m er ca dor ia s específica s, e depois a lgu m a s
qu est ões de ca r á t er m a is ger a l. A gr a n de cr ise econ ôm ica de 1929/33
exer ceu u m a in flu ên cia decisiva sobr e a s pr eocu pa ções t eór ica s de Ka -
lecki. E m 1933 ele pu blicou “E sboço de u m a Teor ia do Ciclo E con ôm ico”,
qu e se t or n ou u m dos seu s t r a ba lh os m a is fa m osos, e dessa época a t é
o fim de su a vida ele se em pen h ou em est u da r os pr oblem a s da din â m ica
(flu t u a ções cíclica s e m u da n ça s de lon go pr a zo) da s econ om ia s ca pit a -
list a s. Depois volt a r em os a esse a ssu n t o.
Na pr im eir a m et a de da déca da de 1950, a o t r a ba lh a r n o Secr e-
t a r ia do da ONU, Ka lecki pa ssou a t er con t a t o com pa íses su bdesen -
volvidos e a in t er essa r -se por seu s pr oblem a s econ ôm icos. Com o r esu l-
t a do, ela bor ou vá r ios est u dos, t a n t o pr á t icos com o t eór icos.3 Os pr i-
m eir os in clu em r ela t ór io sobr e os pr oblem a s econ ôm icos de Isr a el, ob-
ser va ções sobr e o t er ceir o pla n o econ ôm ico da Ín dia , pla n o qü in qü en a l
(1961/65) de Cu ba ; os est u dos t eór icos se r efer em a pr oblem a s de de-
sem pr ego, a ju da econ ôm ica in t er n a cion a l, desen volvim en t o econ ôm ico.
Den t r e esses ú lt im os est u dos, o m a is im por t a n t e se in t it u la “O P r o-
blem a do F in a n cia m en t o do Desen volvim en t o E con ôm ico”, pu blica do
or igin a lm en t e n o México em 1954 e qu e t eve gr a n de in flu ên cia n a
for m a çã o do pen sa m en t o est r u t u r a list a da CE P AL.
Volt a n do pa r a a P olôn ia em 1955, n o a n o segu in t e Ka lecki se
viu n o m eio da s m a n ifest a ções polít ica s qu e der r u ba r a m o gover n o
st a lin ist a de en t ã o e cr ia r a m , n o pa ís, u m a m bien t e dem ocr á t ico fa -
vor á vel a o r essu r gim en t o cu lt u r a l. Na á r ea da E con om ia in iciou -se u m
gr a n de deba t e qu e in clu ía desde os pr in cípios bá sicos dessa ciên cia
a t é qu est ões m u it o específica s do sist em a pr odu t ivo polon ês. Nesse
m esm o a n o, Ka lecki a pr esen t ou dois t r a ba lh os sobr e econ om ia socia -
list a : n o pr im eir o, pr ocu r a va coloca r n os devidos t er m os o pa pel do
in vest im en t o n o cr escim en t o econ ôm ico; n o segu n do, defen dia a idéia
da n ecessida de de r efor ça r os con selh os oper á r ios den t r o da s em pr esa s
e de da r -lh es pa r t icipa çã o n o pr ocesso de pla n eja m en t o.4 Nos a n os
segu in t es pu blicou m u it os ou t r os est u dos sobr e a s econ om ia s socia list a s
em ger a l e a econ om ia polon esa em pa r t icu la r . De t odos eles, o m a is

3 E sses t r a ba lh os se en con t r a m r eu n idos em : KALE CKI, Mich a l. E ssays on Developin g Cou n-


tries. Su ssex, Th e H a r vest er P r ess. 1976. E m por t u gu ês, vá r ios deles est ã o in clu ídos em :
1) KALE CKI. Crescim en to e Ciclo d as E con om ias Capitalistas. S. P a u lo. E dit or a H u cit ec,
1977; 2) MIGLIOLI, J or ge (or g.). Kaleck i. Op. cit.
4 Am bos os t r a ba lh os se en con t r a m em MIGLIOLI (or g.). Kaleck i. Op. cit.

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OS ECON OMIS TAS

im por t a n t e é o livr o In trod u ção à T eoria d o Crescim en to em E con om ia


S ocialista (pr im eir a ediçã o em 1963 e a segu n da , a m plia da , em 1968),
qu e h oje se en con t r a t r a du zido pa r a vá r ios idiom a s.5

3) A Obra d e Ka le c k i n a His tó ria d o P e n s a m e n to Ec o n ô m ic o

A gr a n de con t r ibu içã o de Ka lecki pa r a o en t en dim en t o do m odo


com o fu n cion a e se desen volve a econ om ia ca pit a list a est á em su a
for m u la çã o e seu a pr ofu n da m en t o do pr in cípio da dem a n da efet iva .
P a r a com pr een der a gr a n deza de su a con t r ibu içã o, é pr eciso obser vá -la
den t r o da h ist ór ia do pen sa m en t o econ ôm ico.6
E m seu livr o A R iqu eza d as N ações (1776), Ada m Sm it h h a via
defen dido a im por t â n cia da fr u ga lida de pa r a o pr ogr esso econ ôm ico:
qu a n t o m a ior a pou pa n ça (dos ca pit a list a s), m a ior ser ia a a cu m u la çã o
de ca pit a l e, por t a n t o, o r efer ido pr ogr esso. E le con dicion a va a a cu m u -
la çã o à exist ên cia de u m a pou pa n ça pr évia e est a belecia , ou pelo m en os
su ger ia , o pr in cípio de qu e t oda pr odu çã o t er ia de ser n ecessa r ia m en t e
com pr a da : a pa r t e n ã o con su m ida , ist o é, pou pa da , ser ia a dqu ir ida
pa r a a cu m u la çã o.
Algu m a s déca da s m a is t a r de, den t r o dessa lin h a de r a ciocín io,
J a m es Mill n a In gla t er r a e J ea n -Ba pt ist e Sa y n a F r a n ça vir ia m a
for m u la r o qu e pa ssou , post er ior m en t e, a ser con h ecido com o “lei dos
m er ca dos de Sa y”, segu n do a qu a l t oda pr odu çã o cr ia va u m a dem a n da
n ecessá r ia pa r a a bsor vê-la . De a cor do com Mill (A Defesa d o Com ércio,
1808): “A pr odu çã o de m er ca dor ia s cr ia , e é a ú n ica e u n iver sa l ca u sa
qu e cr ia , u m m er ca do pa r a a s m er ca dor ia s. (...) A dem a n da de u m a
n a çã o é sem pr e igu a l à pr odu çã o de u m a n a çã o”. Segu n do Sa y (T ratad o
d e E con om ia Política, 1814): “Um pr odu t o, t ã o logo seja cr ia do, n esse
m esm o in st a n t e ger a u m m er ca do pa r a ou t r os pr odu t os em t oda a
gr a n deza de seu pr ópr io va lor ”.
F oi Da vid Rica r do, por ém (em seu s Prin cípios d e E con om ia Po-
lítica e T ribu tação, 1817), qu em deu con sist ên cia t eór ica à “lei de Sa y”;
m a is t a r de, J oh n St u a r t Mill (Prin cípios d e E con om ia Política , 1848)
se en ca r r egou de t r a n sfor m á -la em dogm a , e com o t a l ela foi in cor por a da
pelos econ om ist a s n eoclá ssicos.
Ten do a dot a do a “lei de Sa y”, Rica r do pa ssou a a plicá -la coer en -
t em en t e à a n á lise de diver sos pr oblem a s econ ôm icos e com isso con -
t r ibu iu decisiva m en t e pa r a qu e econ om ist a s post er ior es a a ceit a ssem
sem qu est ion a m en t o. Gr a ça s à in flu ên cia de Rica r do, a “lei de Sa y”
a ssu m iu u m a im por t â n cia fu n da m en t a l n a in t er pr et a çã o dos m a is di-
ver sos pr oblem a s: a a cu m u la çã o de ca pit a l e o desen volvim en t o eco-

5 E sse livr o, t r a du zido e pr efa cia do por Lu iz L. Va scon celos, foi pu blica do em P or t u ga l pela
E dit or a P r elo, Lisboa , 1978, e n o Br a sil pela edit or a Br a silien se, S. P a u lo, 1982.
6 E sse t em a é t r a t a do m in u ciosa m en t e em MIGLIOLI, J or ge. Acu m u lação d e Capital e De-
m an d a E fetiva. S. P a u lo, T. A. Qu eir oz E dit or , 1981.

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KALECKI

n ôm ico, a im possibilida de de cr ise de su per pr odu çã o, a dist r ibu içã o de


r en da en t r e sa lá r ios e lu cr os, a in sign ificâ n cia da expor t a çã o e dos
ga st os pú blicos pa r a o a u m en t o da pr odu çã o.
Se é a pr odu çã o qu e cr ia a dem a n da , en t ã o est a ú lt im a t em u m
pa pel pa ssivo. A a cu m u la çã o de ca pit a l e o pr ogr esso econ ôm ico de-
pen dem a pen a s da pr odu çã o, n ã o en con t r a n do n en h u m obst á cu lo por
pa r t e da dem a n da . Na ver da de, u m a pa r t e da r en da ger a da n o pr ocesso
pr odu t ivo deixa de ser ga st a em con su m o, ou seja , é pou pa da , e isso
poder ia sign ifica r qu e essa pa r t e ger a r ia u m exceden t e de pr odu çã o,
u m volu m e in ven dá vel de m er ca dor ia s. Isso, por ém , n ã o a con t ece, de
a cor do com Rica r do e seu s segu idor es. A pa r t e pou pa da da r en da de
u m ca pit a list a ser ia u sa da de dois m odos: dir et a m en t e pa r a a cu m u la çã o
de ca pit a l (qu e con st it u i u m a com pr a de m er ca dor ia s) e/ou pa r a em -
pr ést im o a ou t r os ca pit a list a s, qu e a u sa r ia m pa r a a cu m u la çã o; a ssim ,
t oda pou pa n ça se t r a n sfor m a r ia em a cu m u la çã o de ca pit a l (in vest i-
m en t o, n a lin gu a gem a t u a l) e, por t a n t o, t oda a pr odu çã o est a r ia sen do
ven dida : u m a pa r t e pa r a con su m o e ou t r a pa r a a cu m u la çã o.
P oder ia h a ver cir cu n st a n cia lm en t e u m excesso de pr odu çã o em
a lgu n s set or es específicos de a t ivida de, m a s isso ser ia logo cor r igido:
os ca pit a is est a belecidos n eles se desloca r ia m pa r a os set or es on de h á
dem a n da .
Com o a dem a n da n ã o con st it u i obst á cu lo pa r a a pr odu çã o, por qu e
é cr ia da por est a , en t ã o a a cu m u la çã o de ca pit a l e o desen volvim en t o
econ ôm ico pa ssa m a ser det er m in a dos a pen a s pela s con dições da pr o-
du çã o. E n t r e est a s, a t a xa de lu cr o t em u m pa pel essen cia l, por qu e
qu a n t o m a ior ela for , m a ior ser á a t a xa de pou pa n ça e, con seqü en t e-
m en t e, a t a xa de a cu m u la çã o. Con sider a n do-se qu e o pr eço é d ad o
(ist o é, det er m in a do pela s con dições da con cor r ên cia ), o lu cr o pa ssa a
depen der do sa lá r io: qu a n t o m a ior est e, m en or a qu ele. A su posiçã o
fu n da m en t a l dessa con clu sã o é a de qu e a r en da t ot a l (com post a de
sa lá r ios e lu cr os) é u m a gr a n deza da da ; da í, o a u m en t o n a pa r cela dos
sa lá r ios dá com o r esu lt a do u m a r edu çã o de igu a l m a gn it u de n a pa r cela
dos lu cr os. Logo, o pr in cipa l em pecilh o à a cu m u la çã o pa ssa a ser o
a u m en t o dos sa lá r ios.
A su posiçã o a dot a da n esse a r gu m en t o t em vá r ia s ou t r a s im pli-
ca ções e por isso deve ser m elh or escla r ecida . Segu n do a “lei de Sa y”,
a pr odu çã o cr ia sem pr e su a pr ópr ia dem a n da , ou , em ou t r os t er m os,
t oda a r en da ger a da n a pr odu çã o é n ecessa r ia m en t e ga st a n a com pr a
dessa m esm a pr odu çã o. P or t a n t o, o poder de com pr a dessa r en da n ã o
é a fet a do pelo m odo com o ela se dist r ibu i (da í por qu e a “lei de Sa y”
é à s vezes ch a m a da de “lei da pr eser va çã o do poder de com pr a ”). Se
a r en da for r edist r ibu ída em ben efício dos sa lá r ios, isso sign ifica r á
a pen a s qu e os t r a ba lh a dor es (com seu s m a ior es sa lá r ios) com pr a r ã o
m a is e os ca pit a list a s (com seu s m en or es lu cr os) com pr a r ã o m en os,
m a s o m on t a n t e t ot a l da pr odu çã o e da r en da n ã o ser á m odifica do.

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OS ECON OMIS TAS

De a cor do com esse m esm o pr in cípio, se os t r ibu t os for em a u m en t a dos,


isso n ã o a fet a r á a pr odu çã o, m a s a pen a s t r a n sfer ir á pa r a o E st a do
u m a pa r t e do poder de com pr a dos in divídu os. Do m esm o m odo, se a s
expor t a ções for em in cr em en t a da s, a pr odu çã o n ã o ser á a lt er a da , por qu e
a pa r t e a ser expor t a da , se per m a n ecer n o pa ís, ser á a dqu ir ida pelo
poder de com pr a n a cion a l ger a do pela pr ópr ia pr odu çã o.
Ain da n o t em po de Rica r do, a “lei de Sa y” e su a s im plica ções
for a m r efu t a da s por diver sos a u t or es, en t r e eles Th om a s Rober t Ma l-
t h u s — o m esm o qu e se t or n ou con h ecido por su a t eor ia popu la cion a l.
De a cor do com Ma lt h u s (em seu s Prin cípios d e E con om ia Política , 1820),
a dem a n da t en de a ser in fer ior à pr odu çã o. Isso por qu e, se os t r a ba -
lh a dor es ga st a m t oda su a r en da , o m esm o n ã o a con t ece com os ca pi-
t a list a s. Dos lu cr os t ot a is, os ca pit a list a s u sa m u m a pa r t e pa r a con -
su m ir e ou t r a pa r a a cu m u la r ca pit a l, m a s u m a pa r t e r est a n t e n ã o é
ga st a em coisa n en h u m a , por qu e, em vez de ga st a r , os ca pit a list a s
m a n ifest a m u m a “pr efer ên cia pela in dolên cia ” (qu e, diga -se de pa ssa -
gem , é u m con ceit o m u it o sem elh a n t e a o de “pr open sã o a pou pa r ”
for m u la do por Keyn es u m sécu lo m a is t a r de). Se a dem a n da n ã o é
n ecessa r ia m en t e igu a l à pr odu çã o, en t ã o o pr ogr esso econ ôm ico depen de
n ã o a pen a s do a cr éscim o da ca pa cida de pr odu t iva m a s t a m bém dos
det er m in a n t es do a u m en t o da dem a n da efet iva , im pr escin dível pa r a
pôr em oper a çã o a qu ela a cr escida ca pa cida de. E n t r e esses det er m i-
n a n t es, Ma lt h u s m en cion a a r edist r ibu içã o da r en da , a expa n sã o da s
expor t a ções e dos ga st os im pr odu t ivos (en t r e os qu a is se in clu em os
ga st os pú blicos).
Ta m bém Ka r l Ma r x se opôs fr on t a lm en t e à “lei de Sa y”. De a cor do
com ele, o pr ocesso de r epr odu çã o pode ser dividido em difer en t es m o-
m en t os. De posse de u m da do m on t a n t e de din h eir o (D), os ca pit a list a s
a dqu ir em u m det er m in a do volu m e de m er ca dor ia s (M ), de dois t ipos:
m eios de pr odu çã o (m a t ér ia s-pr im a s, equ ipa m en t os et c.) e for ça de t r a -
ba lh o. Oper a n do com os m eios de pr odu çã o, a for ça de t r a ba lh o ger a
n ova s m er ca dor ia s (M ′), de m a ior va lor (ist o é, M ′ > M ). A t r a n sfor m a çã o
de D em M e de M em M ′ con st it u i o pr ocesso de cr ia çã o de va lor , ou
de pr odu çã o stricto sen su . Ma s o pr ocesso de pr odu çã o lato sen su n ã o
foi con clu ído, por qu e o va lor criad o a in da n ã o foi realizad o; pa r a isso,
é pr eciso qu e a s m er ca dor ia s pr odu zida s (M ′) seja m ven dida s (con ver -
t ida s em D′). Assim , o pr ocesso com plet o pode ser expr esso com o
D → M → M ′ → D′. Os m om en t os D → M e M → M ′ depen dem da s con -
dições pr ópr ia s da pr odu çã o (exist ên cia de m a t ér ia s-pr im a s, equ ipa -
m en t os, for ça de t r a ba lh o, o n ível de pr odu t ivida de et c.); a t r a n sfor -
m a çã o de M ′ em D′ depen de da s con dições da r ea liza çã o, e n a da ga r a n t e
qu e o va lor cr ia do (M ′) seja n ecessa r ia m en t e r ea liza do, t or n a do real
pa r a os ca pit a list a s.
Assim , pa r a Ma r x, e con t r a r ia m en t e à “lei de Sa y”, a dem a n da

10
KALECKI

n ã o é n ecessa r ia m en t e igu a l à pr odu çã o. Ma is do qu e isso, a pr odu çã o


ou ofer t a de m er ca dor ia s t en de n a t u r a lm en t e, n o ca pit a lism o, a ser
m a ior do qu e su a dem a n da . Veja m os a r a zã o disso. O va lor de t oda s
a s m er ca dor ia s la n ça da s n o m er ca do se decom põe em t r ês pa r t es: C,
ou ca pit a l con st a n t e, com pr een den do os in su m os in cor por a dos n a s m er -
ca dor ia s e o desga st e (ou depr ecia çã o) dos equ ipa m en t os em pr ega dos
n a pr odu çã o; V, ou ca pit a l va r iá vel, cor r espon den t e a os sa lá r ios pa gos;
S , a m a is-va lia ou lu cr o qu e os ca pit a list a s esper a m a u fer ir . E m su m a ,
o va lor t ot a l da ofer t a é igu a l a W = C + V + S .
P a r a pr odu zir esse va lor , os ca pit a list a s ga st a r a m u m m on t a n t e
igu a l a C + V. Ou seja , pa r a pr odu zir m er ca dor ia s n o va lor de W = C
+ V + S , os ca pit a list a s dem a n da r a m m er ca dor ia s n o va lor de C + V
e, por t a n t o, su a ofer t a é m a ior do qu e su a dem a n da . P a r a pr odu zir
W, os ca pit a list a s t iver a m de com pr a r m eios de pr odu çã o n o va lor de
C; com o sã o os pr ópr ios ca pit a list a s qu e ven dem essa s m er ca dor ia s
(u n s ven dem pa r a os ou t r os), isso sign ifica qu e pa r a pr odu zir W os
ca pit a list a s a u t om a t ica m en t e r ea liza m o va lor de C. Tiver a m t a m bém
de com pr a r for ça de t r a ba lh o n o va lor de V. Su pon do-se qu e os t r a ba -
lh a dor es n ã o pou pa m , en t ã o t odo o m on t a n t e V de sa lá r ios é ga st o
por eles n a com pr a de ben s de con su m o. Com o sã o os ca pit a list a s qu e
ven dem esses ben s, en t ã o, pa r a pr odu zir W, os ca pit a list a s a u t om a t i-
ca m en t e r ea liza m t a m bém o va lor de V. E m con clu sã o: pa r a pr odu zir
W = C + V + S , os ca pit a list a s (dir et a m en t e, n o ca so de C, ou a t r a vés
dos t r a ba lh a dor es, n o ca so de V ) dem a n da m , e ven dem , m er ca dor ia s
n o va lor de C + V. F a lt a , con t u do, r ea liza r o va lor de S . Qu e sign ifica
isso? Sign ifica qu e se os ca pit a list a s r ea liza r a m a pen a s o va lor de C
+ V, eles n ã o obt iver a m lu cr os, m a s t ã o-som en t e t iver a m cu st os.
Com o é qu e os ca pit a list a s, con sider a dos em con ju n t o, con segu em
r ea liza r a m a is-va lia , a u fer ir u m lu cr o? A r espost a é: com pr a n do, u n s
dos ou t r os, m a is m er ca dor ia s, a lém da qu ela s cor r espon den t es a o va lor
de C + V. Qu e m er ca dor ia s sã o est a s? Os ca pit a list a s, en qu a n t o pessoa s,
pr ecisa m con su m ir ; logo, eles com pr a m ben s de con su m o. Os ca pit a -
list a s, en qu a n t o a gen t es do ca pit a l, pr eocu pa m -se em a cu m u la r ; logo,
eles com pr a m ben s de in vest im en t o (n ovos equ ipa m en t os et c.). E m
con clu sã o: o m on t a n t e do lu cr o a u fer ido pelos ca pit a list a s em con ju n t o
va i depen der do qu a n t o eles m esm os ga st a m n a com pr a de ben s de
con su m o e de in vest im en t o. Assim , su pon do-se qu e a ca pa cida de pr o-
du t iva t ot a l da econ om ia é da da , o lu cr o é det er m in a do pelo in vest i-
m en t o e con su m o dos ca pit a list a s. E esse lu cr o só por a ca so ser á igu a l
a o S da equ a çã o da ofer t a .
E ssa s con clu sões, qu e m a is t a r de ser ia m cla r a m en t e explica da s
por Ka lecki, podem ser t ir a da s dir et a m en t e da t eor ia de Ma r x (ver ,
por exem plo, O Capital, v. II, p. I, ca p. 4). Toda via , os pr im eir os se-
gu idor es e est u diosos de Ma r x n ã o en t en der a m devida m en t e su a ex-
plica çã o do pr oblem a da r ea liza çã o n o pr ocesso de a cu m u la çã o de ca -

11
OS ECON OMIS TAS

pit a l. Algu n s sim plesm en t e ign or a r a m ou m in im iza r a m a im por t â n cia


do pr oblem a , e os ou t r os der a m a s m a is difer en t es in t er pr et a ções. Ma s
o deba t e qu e se t r a vou , se n ã o levou a u m a con clu sã o ger a l, pelo m en os
ser viu pa r a a ssen t a r cer t os pon t os específicos.
P or exem plo, Tu ga n -Ba r a n ovski (em seu livr o sobr e As Crises
In d u striais n a In glaterra, ediçã o r u ssa de 1894 e ediçã o fr a n cesa , m o-
difica da , de 1913) deixou bem cla r o du a s qu est ões bá sica s: 1) o desen -
volvim en t o da econ om ia ca pit a list a depen de n ã o a pen a s da expa n sã o
da s for ça s pr odu t iva s, m a s t a m bém da a m plia çã o dos m er ca dos pa r a
a bsor ver a pr odu çã o; 2) con t r a r ia m en t e à t ese dos t eór icos su bcon su -
m ist a s, o a u m en t o do con su m o (seja dos t r a ba lh a dor es ou dos ca pit a -
list a s) n ã o é im pr escin dível pa r a r ea liza r a cr escen t e pr odu çã o; est a
pode ser r ea liza da a pen a s n o set or pr odu t or de equ ipa m en t os — por
exem plo, sã o pr odu zida s m á qu in a s pa r a pr odu zir m a is m á qu in a s pa r a
fa zer a in da m a is m á qu in a s. Ta m bém Rosa Lu xem bu r g (em A Acu m u -
lação d e Capital, 1913) a cen t u ou o pr im eir o pon t o. Ma s n ã o en t en deu
o segu n do; pa r a ela , er a n ecessá r io h a ver u m m er ca do ext er n o (for a
do sist em a ca pit a list a ) pa r a a bsor ver a cr escen t e pr odu çã o e, a ssim ,
est im u la r a a cu m u la çã o ca pit a list a . E st a é u m a fa lsa solu çã o t eór ica :
a pesa r disso, a o pr opô-la , Rosa Lu xem bu r g dest a cou u m a qu est ã o r e-
leva n t e pa r a a s econ om ia s ca pit a list a s: o pa pel da s expor t a ções e dos
ga st os pú blicos (especia lm en t e com a r m a m en t os) n o pr ocesso de r ea -
liza çã o da pr odu çã o.
F or a da cor r en t e m a r xist a , pou cos for a m os econ om ist a s, a t é a
déca da de 1930, qu e se in t er essa r a m pelo pr oblem a da dem a n da efet iva .
E n t r e esses pou cos, dest a ca -se J . A. H obson , cu ja pr in cipa l obr a sobr e
o a ssu n t o, A E con om ia d o Desem prego, foi pu blica da em 1923. H obson
er a u m t eór ico do su bcon su m ism o: segu n do ele, a ca pa cida de pr odu t iva
da econ om ia cr escia m a is r a pida m en t e do qu e a ca pa cida de de con su m o
da socieda de, e isso a con t ecia devido à m á dist r ibu içã o de r en da : de
u m la do, os t r a ba lh a dor es, com ba ixa s r en da s, n ã o podia m a u m en t a r
seu con su m o, e de ou t r o la do, os ca pit a list a s, com a lt a s r en da s, for -
m a va m gr a n des pou pa n ça s, a cu m u la va m ca pit a l, a m plia n do ca da vez
m a is a ca pa cida de pr odu t iva .
A gr a n de cr ise econ ôm ica in icia da em 1929 a ca ba r ia por for ça r
o r econ h ecim en t o da im por t â n cia da dem a n da efet iva n o pr ocesso ca -
pit a list a de pr odu çã o. É ver da de qu e, a pesa r da dr a m a t icida de com
qu e o pr oblem a se a pr esen t a va , a esm a ga dor a m a ior ia dos econ om ist a s
de for m a çã o or t odoxa con t in u ou a su st en t a r opin iões a poia da s n a “lei
de Sa y”.7 Ma s u n s pou cos, m en os a pega dos à or t odoxia , com eça r a m a
ver o pr oblem a . Isso a con t eceu sim u lt a n ea m en t e com dois gr u pos de

7 Algu n s exem plos dessa s opin iões for a m r ela cion a dos por H ARROD, Roy. T h e L ife of J oh n
M ayn ard Keyn es. Lon dr es, 1951; KLE IN, La wr en ce. T h e Keyn esian R evolu tion . 2ª ed., Lon -
dr es, 1968; e LE KACH MAN, Rober t . T h e Age of Keyn es. Lon dr es, 1968.

12
KALECKI

econ om ist a s eu r opeu s n os pr im eir os a n os da déca da de 1930. De u m


la do, R. F r isch , B. Oh lin e pr in cipa lm en t e Gu n n a r Myr da l, m a is in -
flu en cia dos pela obr a de Kn u t Wicksell, pu ser a m em discu ssã o a s r e-
la ções en t r e pou pa n ça e in vest im en t o. Na In gla t er r a , J oh n Ma yn a r d
Keyn es (u m decla r a do a dm ir a dor de Ma lt h u s) e a lgu n s discípu los —
en t r e os qu a is J oa n Robin son — pr epa r a va m u m a r evolu çã o con t r a o
dom ín io da “lei de Sa y”, o qu e a con t eceu com a pu blica çã o, em 1936,
da T eoria Geral d o E m prego, d o J u ro e d a M oed a de Keyn es. Depois
do a pa r ecim en t o dessa obr a , e gr a ça s t a m bém a o gr a n de pr est ígio de
seu a u t or n os m eios polít icos a ca dêm icos ociden t a is, o pr in cípio da
dem a n da efet iva foi ga n h a n do a ceit a çã o ger a l.
An t es, con t u do, de su r gir a T eoria Geral de Keyn es, Ka lecki já
h a via pu blica do, em polon ês, t r ês est u dos 8 qu e con st it u ír a m , em con -
ju n t o, a pr im eir a for m u la çã o pr ecisa e sist em á t ica do pa pel da dem a n da
efet iva n o pr ocesso de r epr odu çã o ca pit a list a . Nesses est u dos pode-se
con st a t a r cla r a m en t e a in flu ên cia de Ma r x, Tu ga n -Ba r a n ovski e Rosa
Lu xem bu r g, com o o pr ópr io Ka lecki o r econ h ece.9 E a pa r t ir deles Ka -
lecki foi a m plia n do e a pr im or a n do su a s con cepções, qu e cu lm in a r a m
com a pu blica çã o de su a T eoria d a Din âm ica E con ôm ica em 1954 —
da qu a l fa la r em os a dia n t e.
Apesa r de su a for m a çã o m a r xist a e da or igin a lida de de su a s con -
cepções, qu e pr eceder a m o a pa r ecim en t o da T eoria Geral de Keyn es,
du r a n t e m u it o t em po Ka lecki foi iden t ifica do com o u m “keyn esia n o”.
Na ver da de, a con t eceu o con t r á r io: foi ele qu em in t r odu ziu diver sa s
idéia s qu e depois for a m a dot a da s pela ch a m a da “E con om ia Keyn esia -
n a ”; com o escr eveu J oa n Robin son : “P ou cos da a t u a l ger a çã o de ‘key-
n esia n os’ pa r a m pa r a in da ga r qu a n t o eles devem a Ka lecki e qu a n t o
r ea lm en t e a Keyn es”.10
A pa r t ir da segu n da m et a de da déca da de 1950 — e gr a ça s à
divu lga çã o feit a , en t r e ou t r os, por J oa n Robin son , P a u l Ba r a n , P a u l
Sweezy e La wr en ce Klein — a or igin a lida de da s idéia s de Ka lecki e
su a for m a çã o m a r xist a com eça r a m a ser m a is con h ecida s. Mu it os eco-
n om ist a s m a r xist a s pa ssa r a m a per ceber qu e a obr a de Ka lecki sobr e
a s econ om ia s ca pit a list a s, em bor a despr ovida do voca bu lá r io m a r xist a
t r a dicion a l e com t odo o est ilo for m a l e a s expr essões m a t em á t ica s,
con st it u ía u m desen volvim en t o do velh o “pr oblem a da r ea liza çã o”.11

8 E sses t r ês est u dos sã o: “E sboço de u m a Teor ia do Ciclo E con ôm ico” e “Com ér cio In t er n a cion a l
e ‘E xpor t a ções In t er n a s’”, de 1933. e “O Meca n ism o da Recu per a çã o E con ôm ica ”, de 1935.
O pr im eir o foi t a m bém pu blica do, com ver sões difer en t es, em fr a n cês e in glês em 1935.
E sses est u dos est ã o in clu ídos em Crescim en to e Ciclo d as E con om ias Capitalistas. Op. cit.
9 A esse r espeit o, ver KALE CKI. “As E qu a ções Ma r xist a s de Repr odu çã o e a E con om ia Mo-
der n a ” e “O P r oblem a da Dem a n da E fet iva em Tu ga n -Ba r a n ovski e Rosa Lu xem bu r g”. In :
Crescim en to e Ciclo d as E con om ias Capitalistas.
10 ROBINSON, J oa n . “Ka lecki a n d Keyn es”. In : Problem s of E con om ic Dyn am ics an d Plan n in g.
Op. cit.
11 Com o m a is t a r de escr eveu Ma u r ice Dobb (T h eories of Valu e an d Distribu tion sin ce Ad am

13
OS ECON OMIS TAS

4) A Te o ria d a D in â m ic a Ec o n ô m ic a
A r espeit o da s econ om ia s ca pit a list a s, Mich a l Ka lecki ela bor ou
a pen a s t r ês livr os: E n saios em T eoria d as Flu tu ações E con ôm icas
(1939), E stu d os d e Din âm ica E con ôm ica (1943) e T eoria d a Din âm ica
E con ôm ica (1954);12 t odos seu s ou t r os livr os a cer ca dessa s econ om ia s
con st it u em coleções de a r t igos or igin a lm en t e pu blica dos em r evist a s
e/ou de ca pít u los específicos da qu eles t r ês livr os.
Com o o a u t or escla r ece n o pr efá cio d a T eoria d a Din âm ica
E con ôm ica, est e livr o su bst it u i os dois a n t er ior es. Ou seja , em bor a
t r a t e dos m esm os t em a s dos ou t r os dois, con st it u i u m n ovo livr o.
E isso em t r ês sen t idos: pr im eir o, por qu e r epr esen t a u m a p r im or a -
m en t o; segu n do, por qu e a bor da a lgu m a s n ova s qu est ões; t er ceir o,
por qu e se u t iliza de n ovos da dos est a t íst icos pa r a ver ifica çã o dos
a r gu m en t os t eór icos. E m su m a , o ú lt im o livr o con st it u i a ver sã o
m a is com plet a da s id éia s de Ka leck i sobr e o p r oblem a da din â m ica
da s econ om ia s ca pit a list a s.
Assim , os dois livr os a n t er ior es r epr esen t a m ver sões pr ecu r sor a s.
Ma s n ã o a pen a s eles: n a ver da de, qu a se t odos os t em a s t r a t a dos n a
T eoria d a Din âm ica E con ôm ica for a m sen do a pr im or a dos em su cessivos
t r a ba lh os, m u it os dos qu a is pu blica dos com o a r t igos de r evist a s. P or
ou t r o la do, a lgu n s desses m esm os t em a s con t in u a r a m a ser est u da dos
por Ka lecki depois da pu blica çã o da T eoria d a Din âm ica E con ôm ica.
P or t a n t o, pa r a o leit or in t er essa do n a evolu çã o da s idéia s do a u t or a
r espeit o desses t em a s, r ela cion a m os, m a is a dia n t e, os t r a ba lh os qu e
pr eceder a m e su ceder a m o r efer ido livr o.
De qu e t r a t a a T eoria d a Din âm ica E con ôm ica? E m bor a seu su b-
t ít u lo seja E n saio S obre as M u d an ças Cíclicas e a L on go Prazo d a
E con om ia Capitalista, o livr o a br a n ge t a m bém o pr oblem a da det er -
m in a çã o do n ível da r en da (ou da pr odu çã o) a cu r t o pr a zo.
As econ om ia s ca pit a list a s em ger a l se desen volvem den t r o de
u m pa dr ã o cíclico: ou seja , ela s se expa n dem , m a s com flu t u a ções pe-
r iódica s. Assim , a pr odu çã o a o lon go do t em po pode ser r epr esen t a da
com o u m m ovim en t o on du la t ór io, com o a cu r va C n a F igu r a 1. Ma s,
a pesa r da s flu t u a ções, a pr odu çã o con t in u a a cr escer ; ist o é, o m ovi-
m en t o on du la t ór io se dá em t or n o de u m a t en dên cia cr escen t e, expr essa
pela r et a T n a F igu r a 1. Nesse com por t a m en t o da s econ om ia s ca pit a -
list a s, é possível sepa r a r t r ês t ipos de qu est ões:
1) por qu e, n u m det er m in a do a n o, a r en da a t in giu u m cer t o n ível,

Sm it h . Lon dr es, 1973. p. 221): “Qu a n t o a Ka lecki (...) su a obr a podia , r ea lm en t e, ser con-
sider a da u m a for m a liza çã o do ‘pr oblem a da r ea liza çã o’; e, excet o por su a a pr esen t a çã o
r igida m en t e for m a l e m a t em á t ica , os m a r xist a s podia m sen t ir -se n u m m u n do fa m ilia r ”.
12 E ssays in th e T h eory of E con om ic Flu ctu ation s. Lon dr es, Allen & Un win , 1939; S tu d ies in
E con om ic Dyn am ics. Lon dr es, Allen & Un win , 1943; T h eory of E con om ic Dyn am ics. Lon dr es,
Allen & Un win , 1954.

14
KALECKI

e n ã o ou t r o n ível qu a lqu er ? Ou , por exem plo, pa r a u sa r a F igu r a 1,


por qu e, n o a n o t i , a r en da a lca n çou o n ível R i?;
2) por qu e a r en da oscila a o lon go do t em po? Ou , por qu e a r en da
a pr esen t a o m ovim en t o descr it o pela cu r va C?;
3) p or qu e a r en d a cr es ce? Ou , com o exp lica r a t e n d ên cia
cr es cen t e T ?

É cla r o qu e essa s t r ês qu est ões est ã o est r eit a m en t e r ela cion a da s.


Ma is do qu e isso; a lon go pr a zo t r a t a -se de u m ú n ico pr oblem a : com o
explica r o com por t a m en t o da pr odu çã o n o decor r er do t em po? A expli-
ca çã o ger a l pa r a essa per gu n t a r espon der ia sim u lt a n ea m en t e a s t r ês
r efer ida s qu est ões: a t en dên cia cr escen t e da pr odu çã o, seu m ovim en t o
cíclico e o n ível a t in gido em ca da a n o, t en do em vist a qu e, a o lon go
do t em po, o com por t a m en t o da pr odu çã o n a da m a is é do qu e u m a
su cessã o de pr odu ções a n u a is. Met odologica m en t e, con t u do, é possível
sepa r a r o pr oblem a ger a l n a s t r ês qu est ões específica s, e isso é o qu e
t em sido feit o n a Ciên cia E con ôm ica . A pr im eir a qu est ã o é u su a lm en t e
con h ecida com o “det er m in a çã o do n ível da r en da ” (ou , em t er m os m a is
ger a is, “da a t ivida de econ ôm ica ”) e con st it u i u m pr oblem a de “est á t ica
econ ôm ica ”, pois n ã o en volve m u da n ça s a o lon go do t em po: t r a t a -se
de explica r o n ível da r en da n u m ú n ico m om en t o (ist o é, n u m a n o).
As du a s ou t r a s qu est ões sã o de “din â m ica econ ôm ica ”: em a m ba s o
objet o de est u do sã o exa t a m en t e a s va r ia ções do n ível de r en da a o
lon go do t em po. Ma s essa s du a s qu est ões se difer en cia m pelo fa t o de
qu e o objet o de est u do, em u m a dela s, sã o a s m u da n ça s cíclica s e, n a
ou t r a , é o cr escim en t o da r en da .
E ssa s du a s qu est ões de din â m ica econ ôm ica t êm sido est u da da s
sepa r a da m en t e. A a n á lise dos ciclos e a do cr escim en t o econ ôm ico r a -
r a m en t e sã o in t egr a da s n u m a ú n ica t eor ia . E la s ch ega m m esm o a con s-
t it u ir dois ca pít u los em sepa r a do da Ciên cia E con ôm ica . Su a n ã o-in -
t egr a çã o se deve a du a s r a zões bá sica s. A pr im eir a decor r e de in ju n ções
h ist ór ica s e m esm o do m odism o. Assim , por exem plo, du r a n t e e a t é

15
OS ECON OMIS TAS

m u it os a n os depois da gr a n de cr ise econ ôm ica de 1929/33, su r giu u m a


va st a lit er a t u r a sobr e os ciclos; depois, qu a n do a s econ om ia s ca pit a list a s
en t r a r a m n u m r it m o de fir m e expa n sã o, a t ôn ica se deslocou pa r a a
t eor ia de cr escim en t o (n essa época , a ela bor a çã o de “m odelos de cr es-
cim en t o econ ôm ico” vir ou m oda , e a lgu n s a u t or es ch ega r a m a fa la r do
fim dos ciclos); n a déca da de 1970, qu a n do a s econ om ia s ca pit a list a s
volt a r a m a a pr esen t a r a cen t u a da s flu t u a ções, a s t eor ia s dos ciclos for a m
r essu scit a da s.
A segu n da r a zã o est á n a dificu lda de de in t egr a r con sist en t em en t e
n u m a ú n ica for m u la çã o t eór ica o pr oblem a dos ciclos e o do cr escim en t o.
E ssa dificu lda de se t or n a m a ior qu a n do, com o n o ca so de Ka lecki, a
explica çã o t eór ica é a pr esen t a da sob a for m a de u m m odelo m a t em á t ico.

O objet ivo da T eoria d a Din âm ica E con ôm ica é o de explica r


com o, n a s econ om ia s ca pit a list a s, sen do da da s su a s con dições pr ópr ia s
de pr odu çã o, a r en da n a cion a l e ca da u m de seu s com pon en t es (lu cr os
e sa lá r ios, pelo â n gu lo da r en da , e con su m o e in vest im en t o, pelo pr ism a
da despesa ) sã o det er m in a dos.

Determ in ação d e L u cros, S alários e R en d a N acion al. De a cor do


com Ka lecki, o volu m e t ot a l de lu cr os n u m da do a n o é det er m in a do
pelo in vest im en t o, con su m o dos ca pit a list a s, déficit or ça m en t á r io do
Gover n o e sa ldo de expor t a ções (ver ca pít u lo 3). Se, pa r a sim plifica r ,
exclu ím os est a s du a s ú lt im a s gr a n deza s, t em os: lu cr os = in vest im en t os
+ con su m o dos ca pit a list a s. Ou seja , com o já h a via sido in dica do por
Ma r x, os lu cr os r ea liza dos pelos ca pit a list a s com o u m t odo sã o t a n t o
m a ior es qu a n t o m a is eles in vest em e con som em .
De qu e depen de, por su a vez, o volu m e t ot a l de sa lá r ios? Se a
t a xa de sa lá r io (ist o é, o sa lá r io por t r a ba lh a dor ) n ã o se a lt er a , en t ã o,
qu a n t o m a ior a pr odu çã o, m a ior o em pr ego de for ça de t r a ba lh o e,
por t a n t o, m a ior o m on t a n t e de sa lá r ios; logo, est e ú lt im o depen de da
pr odu çã o. E st a pode ser dividida em t r ês set or es: o set or I pr odu z ben s
de in vest im en t o, o II pr odu z ben s de con su m o pa r a os ca pit a list a s, e
o III pr odu z ben s de con su m o pa r a os t r a ba lh a dor es. A pr odu çã o dest e
ú lt im o set or va i depen der do m on t a n t e de sa lá r ios; su pon do-se qu e os
t r a ba lh a dor es n ã o pou pa m , en t ã o, qu a n t o m a ior esse m on t a n t e, m a ior
a com pr a e, a ssim , a pr odu çã o de ben s do set or III. Se o volu m e de
sa lá r ios depen de da pr odu çã o, m a s, por ou t r o la do, a pr odu çã o do set or
III depen de da qu ele, isso sign ifica qu e ele é det er m in a do pela pr odu çã o
dos set or es I e II: o a u m en t o da pr odu çã o n esses dois set or es im plica
o cr escim en t o de seu volu m e de em pr ego e de sa lá r ios; esse a cr éscim o
de sa lá r ios, por seu t u r n o, va i pr ovoca r o a u m en t o da pr odu çã o, do
em pr ego e do m on t a n t e de sa lá r ios n o set or III. Assim , o volu m e t ot a l
de sa lá r ios é det er m in a do t a m bém pelo in vest im en t o e con su m o dos
ca pit a list a s.

16
KALECKI

Se essa s du a s gr a n deza s det er m in a m t a n t o os lu cr os com o os


sa lá r ios, e sen do a r en da n a cion a l igu a l à som a de lu cr os e sa lá r ios,
en t ã o ela s t a m bém det er m in a m a r en da n a cion a l. Ma s, é pr eciso ob-
ser va r , essa con clu sã o só é vá lida se su pom os qu e a dist r ibu içã o da
r en da en t r e sa lá r ios e lu cr os n ã o se a lt er a . P a r a ser m os m a is exa t os:
o m on t a n t e de sa lá r ios e a r en da n a cion a l depen dem n ã o a pen a s do
in vest im en t o e con su m o dos ca pit a list a s, m a s t a m bém da r epa r t içã o
da r en da en t r e sa lá r ios e lu cr os n a econ om ia com o u m t odo.
Con sider em os u m a u m en t o n o in vest im en t o e n o con su m o dos
ca pit a list a s, ist o é, n a pr odu çã o dos set or es I e II. Os lu cr os t er ã o u m
igu a l a cr éscim o. Ma s o a u m en t o n o m on t a n t e de sa lá r ios va i depen der
da dist r ibu içã o da r en da n os t r ês set or es. Se, a o cr escer a pr odu çã o
dos set or es I e II, a r epa r t içã o da r en da n ã o se a lt er a r , en t ã o o m on t a n t e
de sa lá r ios cr escer á n a m esm a pr opor çã o dos lu cr os; se a r epa r t içã o
se m odifica r em ben efício dest es ú lt im os, en t ã o o volu m e de sa lá r ios
cr escer á m en os. E n fim , o m on t a n t e de sa lá r ios depen de n ã o só do in -
vest im en t o e do con su m o dos ca pit a list a s, m a s t a m bém da r epa r t içã o
da r en da . O m esm o a con t ece com a r en da n a cion a l.

Distribu ição d e R en d a. Con st a t a da a im por t â n cia da dist r ibu içã o


da r en da n a det er m in a çã o do pr odu t o n a cion a l, ca be explica r a pr ópr ia
dist r ibu içã o. É com a a n á lise desse pr oblem a qu e Ka lecki in icia seu
livr o. Na econ om ia com o u m t odo, a r epa r t içã o da r en da con st it u i a
m édia pon der a da da r epa r t içã o n os difer en t es r a m os pr odu t ivos. E ,
em ca da r a m o, a dist r ibu içã o é fu n çã o de dois fa t or es: 1) o gr a u de
m on opólio e 2) a r ela çã o en t r e o cu st o dos in su m os m a t er ia is e os
sa lá r ios. Qu a n t o m a ior o gr a u de m on opólio, m a ior é o pr eço (e, den t r o
dele, o lu cr o) qu e u m a in dú st r ia pode cobr a r por su a m er ca dor ia em
r ela çã o a o cu st o de su a pr odu çã o (on de se in clu em o cu st o dos in su m os
e os sa lá r ios); logo, m a ior es sã o os lu cr os em r ela çã o a os sa lá r ios, ist o
é, m a ior é a pa r t icipa çã o dos lu cr os n a r en da ger a da . E m segu n do
lu ga r , qu a n t o m a ior o cu st o dos in su m os em r ela çã o a os sa lá r ios, e
com o os lu cr os sã o a u fer idos sobr e a som a de in su m os e sa lá r ios, en t ã o
m a ior es sã o os lu cr os em r ela çã o a os sa lá r ios (ver ca pít u lo 2).

Form ação d e Preços. O pon t o fu n da m en t a l dessa explica çã o da


dist r ibu içã o da r en da é o pr oblem a do gr a u de m on opólio, o qu a l im plica
t oda u m a t eor ia da for m a çã o dos pr eços. P or isso m esm o é qu e Ka lecki,
a n t es de for m u la r a qu ela explica çã o, t r a t a de est a belecer su a t eor ia
da for m a çã o de pr eços (ver ca pít u lo 1).
E m seu s pr im eir os t r a ba lh os de E con om ia , de 1928 a 1932, Ka -
lecki est u dou m u it os ca sos r ea is de pr odu çã o e com er cia liza çã o de m er -
ca dor ia s e pôde obser va r a a çã o m on opolist a da s em pr esa s sobr e os
m er ca dos. P or isso, ele ja m a is a ceit ou a t eor ia n eoclá ssica dos pr eços,
a poia da n o pr in cípio da con cor r ên cia per feit a , e viu -se obr iga do a for -

17
OS ECON OMIS TAS

m u la r su a pr ópr ia t eor ia , n o qu e foi in flu en cia do pela s obr a s pion eir a s


de Sr a ffa , Ch a m ber lin e J oa n Robin son sobr e o t em a .13 Su a t eor ia é
a segu in t e: excet u a n do a a gr icu lt u r a (on de os pr odu t os sã o pou co di-
fer en cia dos e, a cu r t o pr a zo, a ofer t a é r ígida , e on de, por t a n t o, os
pr eços sã o det er m in a dos pela dem a n da ), n os dem a is set or es exist e r e-
ser va de ca pa cida de pr odu t iva , e a s em pr esa s — seja pela con cen t r a çã o
in du st r ia l ou seja pela pr opa ga n da , difer en cia çã o r ea l ou fict ícia de
su a s m er ca dor ia s et c. — det êm poder sobr e seu s m er ca dos pa r a fixa r em
os pr eços de seu s pr odu t os. P a r a isso, ca da em pr esa t om a por ba se
seu cu st o m édio de pr odu çã o (in su m os e sa lá r ios) e a cr escen t a su a
m a r gem de lu cr o, leva n do em con t a o pr eço m édio da s ou t r a s fir m a s.
Qu a n t o m a ior o dom ín io sobr e o m er ca do — ist o é, o “gr a u de m on opólio”
— por parte de uma empresa, maior será o preço por ela fixado para seu
produto em relação a seu custo médio e, portanto, m aior será seu lucro.
A con cepçã o de Ka lecki sobr e o pr ocesso de for m a çã o dos pr eços
foi pu blica da pela pr im eir a vez em 1938 e a pa r t ir da í, em su cessivos
t r a ba lh os, foi sen do a pr im or a da . Ma s a t é h oje con t in u a sen do u m dos
pon t os m a is discu t idos de t oda su a obr a sobr e a s econ om ia s ca pit a list a s
— e n em poder ia deixa r de ser a ssim , vist o con t r a r ia r fr on t a lm en t e a
t eor ia n eoclá ssica dos pr eços, qu e é o m it o m a is sa gr a do dessa cor r en t e
do pen sa m en t o econ ôm ico, dom in a n t e n o m u n do ociden t a l. De qu a lqu er
m odo, a ceit a n do-a ou n ã o, n o t odo ou em pa r t e, u m fa t o t em de ser
r econ h ecido: a o r ela cion a r est r eit a m en t e a det er m in a çã o do pr odu t o
n a cion a l com a dist r ibu içã o de r en da e com o pr ocesso de for m a çã o
dos pr eços, Ka lecki con segu iu in t egr a r n u m a só t eor ia t r ês pr oblem a s
qu e n a Ciên cia E con ôm ica or t odoxa sã o u su a lm en t e t r a t a dos em
sep a r a do (h a ja vist a a t r a d icion a l sep a r a çã o da Ma cr oecon om ia e
da Micr oecon om ia ).

Im portân cia Fu n d am en tal d o In vestim en to. P odem os volt a r a gor a


a o pr oblem a da det er m in a çã o do n ível da a t ivida de econ ôm ica . J á dis-
sem os qu e os lu cr os dos ca pit a list a s com o u m t odo n u m a n o qu a lqu er
sã o for m a dos pelos ga st os dos pr ópr ios ca pit a list a s em in vest im en t o e
con su m o n esse m esm o a n o. Além disso, sen do da da a dist r ibu içã o da
r en da en t r e lu cr os e sa lá r ios, a qu ela s du a s gr a n deza s det er m in a m t a m -
bém o m on t a n t e de sa lá r ios e o pr odu t o n a cion a l. Assim , o in vest im en t o
e o con su m o dos ca pit a list a s (ju n t a m en t e com o déficit or ça m en t á r io
do Gover n o e o sa ldo de expor t a ções, qu e t em os om it ido pa r a sim plifica r
a exposiçã o) con st it u em a s va r iá veis fu n da m en t a is n a det er m in a çã o
do n ível da a t ivida de econ ôm ica .
Toda via , com o m ost r a Ka lecki n o ca pít u lo 4, t a m bém o con su m o

13 SRAF F A, P ier o. “Th e La ws of Ret u r n s u n der Com pet it ive Con dit ion s”. In : E con om ic J ou rn al.
Dezem br o de 1926; CH AMBE RLIN, E . H . T h e T h eory of M on opolistic Com petition . 1932;
ROBINSON, J oa n . E con om ics of Im perfect Com petition. 1933.

18
KALECKI

dos ca pit a list a s n u m a n o qu a lqu er depen de dos in vest im en t os efet u a dos


em a n os a n t er ior es. Logo, con sider a n do a qu est ã o de m odo din â m ico,
ist o é, a o lon go do t em po, a va r iá vel r ea lm en t e est r a t égica é o in ves-
t im en t o. É essa va r iá vel qu e det er m in a o n ível da r en da n a cion a l n u m
da do a n o e su a s va r ia ções (ciclos e cr escim en t o) n o decor r er do t em po.
As r ela ções en t r e a r en da n a cion a l (t a n t o seu n ível com o su a va r ia çã o)
e o in vest im en t o sã o exa m in a da s n o ca pít u lo 5.

T axas d e J u ros. E st a belecido o pa pel est r a t égico do in vest im en t o,


ca be en con t r a r seu s det er m in a n t es. An t es, por ém , de en t r a r n esse a s-
su n t o, Ka lecki fa z u m a pa r a da pa r a a n a lisa r a s t a xa s de ju r os de cu r t o
pr a zo (ca pít u lo 6) e de lon go pr a zo (ca pít u lo 7). Do m odo com o se
en con t r a m , sem m a ior es explica ções a cer ca de su a s liga ções com o
t em a cen t r a l (a n ã o ser n a ú lt im a pá gin a do ca pít u lo 7), esses dois
ca pít u los pa r ecem est a r m eio per didos n o livr o. Ma s n ã o est ã o. De
a cor do com m u it os a u t or es (t a n t o clá ssicos com o n eoclá ssicos, e t a m bém
Sch u m pet er e Keyn es, em bor a ba sea dos em su post os difer en t es), a
t a xa de ju r os a ssu m e gr a n de im por t â n cia n a det er m in a çã o do in ves-
t im en t o: est e va r ia r ia em sen t ido con t r á r io a o da t a xa de ju r os. O qu e
Ka lecki se pr opõe n esses dois ca pít u los é r efu t a r essa con cepçã o. P a r a
isso, a n t es de t u do, ele sepa r a a s t a xa s de ju r os de cu r t o pr a zo e a s
de lon go pr a zo (o qu e r a r a m en t e é feit o pelos ou t r os a u t or es); e isso
deve ser feit o por qu e os em pr ést im os pa r a in vest im en t os sã o efet u a dos
a t a xa s de lon go pr a zo. A con clu sã o de Ka lecki é a segu in t e: a s t a xa s
de cu r t o pr a zo a pr esen t a m gr a n des oscila ções, m a s a s de lon go pr a zo
(a s qu e efet iva m en t e im por t a m n o pr oblem a em pa u t a ) per m a n ecem
r ela t iva m en t e est á veis du r a n t e p er íod os de t em po r a zoa velm en t e
lon gos (por exem p lo, n o decor r er de t od o u m ciclo econ ôm ico de oit o
a d ez a n os) e, por t a n t o, t êm m u it o p ou ca in flu ên cia n o pr ocesso de
in vest im en t o.

Capital E m presarial com o L im ite d o In vestim en to. Mu it a s t eor ia s


t r a t a m o in vest im en t o com o se est e fosse a cessível a qu a lqu er in divídu o
dispost o a a r r isca r -se n u m em pr een dim en t o pr odu t ivo, o qu e ca r a ct e-
r iza r ia , n a s pa la vr a s de Ka lecki, “u m est a do de dem ocr a cia econ ôm ica
on de qu a lqu er pessoa dot a da de h a bilida de em pr esa r ia l pode obt er
ca pit a l pa r a in icia r u m n egócio”. A r ea lida de, con t u do, n ã o é est a . A
qu a se t ot a lida de dos in vest im en t os é efet u a da por pessoa s (física s ou
ju r ídica s) qu e já sã o pr opr iet á r ia s de ca pit a l. Logo, a o t r a t a r dos de-
t er m in a n t es do in vest im en t o, é pr eciso leva r em con t a esse fa t o, com o
o fa z Ka lecki (ver ca pít u lo 8).
A pr opr ieda de de ca pit a l por pa r t e de u m a em pr esa — o ca pit a l
em pr esa r ia l — é qu e lim it a o m on t a n t e de in vest im en t o qu e a em pr esa
pode efet u a r . E isso por dois m ot ivos: 1) qu a n t o m a ior for seu ca pit a l
pr ópr io, a em pr esa t er á m a ior a cesso a o m er ca do de cr édit o, ist o é,

19
OS ECON OMIS TAS

poder á obt er m a ior es em pr ést im os pa r a in vest im en t o; 2) da do o gr a u


de r isco a ssu m ido pela em pr esa , o m on t a n t e de em pr ést im os qu e ela
pode t om a r pa r a in vest im en t o va i depen der de seu ca pit a l pr ópr io.
Tr a t a -se, n esse segu n do ca so, da a plica çã o da qu ilo qu e Ka lecki den o-
m in ou (em est u do a n t er ior ) de “pr in cípio do r isco cr escen t e”: a o t om a r
em pr ést im os pa r a in vest im en t o, o r isco a ssu m ido pela em pr esa , em
ca so de fr a ca sso, ser á t a n t o m a ior qu a n t o m a ior for o va lor dos em -
pr ést im os em r ela çã o a o va lor de seu ca pit a l pr ópr io. Assim , com u m
m esm o gr a u de r isco, a s em pr esa s m a ior es podem r ecor r er a m a is
em pr ést im os do qu e a s em pr esa s m en or es.

Determ in an tes d o In vestim en to. Deixem os d e la do a a cu m u la -


çã o de est oqu es qu e, pa r a Ka leck i, p ode ser con sid er a da u m a fu n çã o
da va r ia çã o d o volu m e de pr odu çã o. Assim , o in vest im en t o se r efer e
a p en a s à a cu m u la çã o de ca pit a l fixo. S eu m on t a n t e, n u m da do m o-
m en t o, depen de de t r ês “fa t or es”: a disp on ibilida de de r ecu r sos fi-
n a n ceir os pr ópr ios, a va r ia çã o n os lu cr os e a va r ia çã o n o est oqu e
de ca pit a l fixo. Além dessa s t r ês va r iá veis, n a equ a çã o d os det er -
m in a n t es do in vest im en t o é in clu ído u m ou t r o fa t or , con sider a do
r ela t iva m en t e con st a n t e a o lon go d o t em po; a ssim , in dep en den t e-
m en t e da s t r ês va r iá veis, h a ver ia sem pr e u m cer t o m on t a n t e de
in vest im en t o decor r en t e d esse fa t or , o qu a l r eflet ir ia a som a de ou -
t r a s diver sa s in flu ên cia s — pr in cipa lm en t e da s in ova ções t ecn oló-
gica s — sobr e o p r ocesso de in vest im en t o.
Os r efer idos r ecu r sos fin a n ceir os sã o con st it u ídos pela pou pa n ça
br u t a da s em pr esa s (ist o é, os lu cr os br u t os n ã o dist r ibu ídos) e pela
pou pa n ça pessoa l dos pr opr iet á r ios qu e con t r ola m a s em pr esa s. E sses
sã o os r ecu r sos de qu e ela s dispõem pa r a in vest im en t o sem pr ecisa r em
r ecor r er a o m er ca do de ca pit a is. Qu a n t o m a ior o volu m e desses r ecu r -
sos, m a ior deve ser o m on t a n t e do in vest im en t o; pr im eir o, por qu e a s
em pr esa s n ã o podem deixá -los sim plesm en t e ociosos e, por t a n t o, t en -
dem a con ver t ê-los em in vest im en t o; segu n do, por qu e eles a u m en t a m
o ca pit a l pr ópr io da s em pr esa s (de qu e fa la m os a n t es), e, a ssim , a m -
plia m o a cesso a o m er ca do de ca pit a is.
O in vest im en t o efet u a do pela s em pr esa s n u m da do m om en t o pode
ser m en or , igu a l ou m a ior do qu e o volu m e de seu s r ecu r sos fin a n ceir os
pr ópr ios, depen den do da a t u a çã o dos ou t r os dois “fa t or es” n o m om en t o
a n t er ior : a eleva çã o dos lu cr os in flu en cia posit iva m en t e, m a s o a u m en t o
do est oqu e de ca pit a l fixo t em u m a in flu ên cia n ega t iva . A sim ples
expa n sã o dos lu cr os n ã o ba st a pa r a ju st ifica r o in vest im en t o; se, n o
m om en t o a n t er ior , a s em pr esa s t in h a m ca pa cida de ociosa m a s, a pesa r
disso, o est oqu e de ca pit a l cr esceu , en t ã o n o m om en t o pr esen t e ela s
n ã o pr ecisa m in vest ir a pen a s por qu e a pr odu çã o e, com est a , o volu m e
de lu cr os a u m en t a r a m : n o m om en t o pr esen t e ela s podem con t in u a r a
pr odu zir m a is, sem a m plia r seu ca pit a l fixo (ist o é, sem in vest ir ), sim -

20
KALECKI

plesm en t e a pr oveit a n do-se da ca pa cida de ociosa exist en t e. E m su m a ,


é pr eciso leva r em con t a a va r ia çã o t a n t o do lu cr o com o do est oqu e de
ca pit a l fixo.
E ssa t eor ia a pr esen t a diver sos pon t os fr a cos, en t r e os qu a is dois
m er ecem dest a qu e: 1) a in flu ên cia do pr ogr esso t écn ico n ã o é r essa lt a da ,
per m a n ecen do em bu t ida n u m a con st a n t e a dicion a da à equ a çã o dos de-
t er m in a n t es do in vest im en t o; 2) n ã o se explica por qu e os ca pit a list a s
con t in u a m a in vest ir (a a m plia r seu ca pit a l fixo) a pesa r da exist ên cia
de con sider á vel m a r gem de ca pa cida de pr odu t iva ociosa . Ka lecki est á
cien t e da s deficiên cia s de su a t eor ia , e por isso m esm o con t in u ou a
est u da r o pr oblem a . P ou cos a n os a n t es de su a m or t e, pu blicou u m
t r a ba lh o on de a pr esen t ou u m a n ova explica çã o dos det er m in a n t es do
in vest im en t o, elim in a n do a qu eles dois pon t os fr a cos. De a cor do com
essa explica çã o, o est ím u lo a o in vest im en t o decor r e da con cor r ên cia
en t r e os ca pit a list a s: u m ca pit a list a é leva do a in t r odu zir in ova ções
t ecn ológica s e, por t a n t o, a in vest ir (vist o qu e a s in ova ções est ã o em -
bu t ida s n os n ovos equ ipa m en t os de ca pit a l), a pesa r da exist ên cia de
ca pa cida de ociosa , pa r a ca pt a r lu cr os a u fer idos por seu s con cor r en t es
(ver o en sa io “Ten dên cia e Ciclo E con ôm ico” em Crescim en to e Ciclo
d as E con om ias Capitalistas).

Ciclos e Crescim en to. As du a s ú lt im a s pa r t es da T eoria d a Di-


n âm ica E con ôm ica t r a t a m sepa r a da m en t e dos ciclos (ca pít u lo 11 a 13)
e do cr escim en t o (ca pít u los 14 e 15). O pr oblem a dos ciclos, r ela cion a do
a o dos det er m in a n t es do in vest im en t o, foi o qu e m a is exigiu o esfor ço
in t elect u a l de Ka lecki em t oda su a vida . E le pu blicou u m gr a n de n ú -
m er o de t r a ba lh os sobr e o t em a (r ela cion a dos m a is a dia n t e), t en do
ela bor a do diver sos m odelos dos ciclos. Seu ú lt im o m odelo est á n o en sa io
“Ten dên cia e Ciclo E con ôm ico” a cim a cit a do; seu pen ú lt im o m odelo é
o qu e est á in clu ído n a T eoria d a Din âm ica E con ôm ica.
Ao fa zer e r efa zer seu s m odelos, a pr eocu pa çã o de Ka lecki er a
a de en con t r a r u m a explica çã o dos ciclos qu e fosse a m a is r ea list a
possível. Assim , seu s pr im eir os m odelos a dot a va m a h ipót ese dos “ciclos
pu r os”, ou seja , ciclos despr ovidos de t en dên cia , com o se a s flu t u a ções
da pr odu çã o se dessem a o lon go de u m a lin h a h or izon t a l (por exem plo,
n a F igu r a 1 a r et a T ser ia h or izon t a l e n ã o a scen den t e). J á em seu
livr o S tu d ies in E con om ic Dyn am ics (1943), Ka lecki leva em con t a a
t en dên cia , e essa n ova for m a de a bor da gem foi a pr im or a da n a T eoria
d a Din âm ica E con ôm ica e em u m a r t igo post er ior , m a s Ka lecki con -
t in u ou in sa t isfeit o por n ã o t er in t egr a do o ciclo e o cr escim en t o eco-
n ôm ico n u m ú n ico m odelo. P or isso m esm o, ele volt ou a a pr esen t a r
u m a n ova for m u la çã o, n o já cit a do en sa io “Ten dên cia e Ciclo E con ôm ico”
(1968), on de a dver t iu : “E u m esm o a bor dei esse pr oblem a em m in h a
T eoria d a Din âm ica E con ôm ica e em m in h a s ‘Obser va ções sobr e a
Teor ia do Cr escim en t o’ de u m m odo qu e a gor a n ã o con sider o in t eir a -

21
OS ECON OMIS TAS

m en t e sa t isfa t ór io: com ecei desen volven do u m a t eor ia d o ‘ciclo eco-


n ôm ico pu r o’ n u m a econ om ia est a cion á r ia e depois m od ifiqu ei a s
r espect iva s equ a ções pa r a in t r odu zir a t en dên cia . Com essa sepa -
r a çã o d a s in flu ên cia s d e cu r t o e lon go pr a zos, d eixei de leva r em
con t a cer t a s r eper cu ssões d o pr ogr esso t écn ico qu e a fet a m o pr ocesso
din â m ico com o u m t odo. Ten t a r ei a gor a n ã o d ivid ir m in h a a n á lise
n essa s du a s et a p a s”. 14
Ou seja , n a T eoria d a Din âm ica E con ôm ica, da equ a çã o dos de-
t er m in a n t es do in vest im en t o (da qu a l con st a m os t r ês fa t or es a n t es
m en cion a dos: a pou pa n ça in t er n a br u t a da s em pr esa s, o a u m en t o dos
lu cr os e o a u m en t o do est oqu e de ca pit a l fixo), seu a u t or der iva a
equ a çã o do ciclo econ ôm ico; t oda via , pa r a obt er a t en dên cia , ele é obr i-
ga do a in t r odu zir “de for a ” u m n ovo fa t or : a s in ova ções t ecn ológica s.
J á n o r efer ido en sa io, o pr ogr esso t écn ico pa ssa a ser o pr in cipa l de-
t er m in a n t e do in vest im en t o, e é da í qu e Ka lecki obt ém t a n t o a equ a çã o
do ciclo com o a da t en dên cia .
Apesa r de Ka lecki t er for m u la do diver sos m odelos de ciclos, seu
pr in cípio bá sico é sem pr e o m esm o. A va r iá vel est r a t égica n a explica çã o
do n ível da a t ivida de econ ôm ica , seja n u m a n o ou seja a o lon go do
t em po, é o in vest im en t o. É essa va r iá vel qu e, a t r a vés do seu efeit o
m u lt iplica dor , det er m in a o volu m e ger a l dos ga st os (ist o é, da dem a n da
efet iva ) e, a ssim , a r en da n a cion a l n u m da do a n o. É essa va r iá vel qu e,
a dicion a da a o exist en t e est oqu e de ca pit a l, a m plia a ca pa cida de pr o-
du t iva e per m it e o cr escim en t o econ ôm ico de lon go pr a zo. P or fim , é
essa va r iá vel qu e, com su a s oscila ções, ger a os ciclos econ ôm icos. E
su a s oscila ções decor r em do ca r á t er su i gen eris do in vest im en t o; com o
escr eveu Ka lecki em 1939. “Vem os qu e a per gu n t a ‘Qu e ca u sa a s cr ises
per iódica s?’ poder ia ser r espon dida br evem en t e: é o fa t o de qu e o in -
vest im en t o n ã o a pen a s é pr odu zido m a s t a m bém é pr odu t or . O in ves-
t im en t o con sider a do com o despesa é a fon t e de pr osper ida de, e ca da
a u m en t o dele m elh or a os n egócios e est im u la u m a post er ior eleva çã o
do in vest im en t o. Ma s, a o m esm o t em po, ca da in vest im en t o é u m a a diçã o
a o equ ipa m en t o de ca pit a l, e desde logo com pet e com a ger a çã o m a is
velh a desse equ ipa m en t o. A t r a gédia do in vest im en t o é qu e ele ca u sa
cr ise por qu e é ú t il. Sem dú vida , m u it a s pessoa s con sider a r ã o pa r a doxa l
essa t eor ia . Ma s n ã o é a t eor ia qu e é pa r a doxa l, e sim seu objet o: a
econ om ia ca pit a list a ”.15

5) Tra ba lh o s Re la c io n a d o s c o m a Te o ria d a
D in â m ic a Ec o n ô m ic a

Com o dissem os a n t er ior m en t e, Ka lecki pu blicou , a n t es e depois

14 KALE CKI. Crescim en to e Ciclo d as E con om ias Capitalistas. p. 105 e 106.


15 KALE CKI. E ssays in th e T h eory of E con om ic Flu ctu ation s. p. 148 e 149.

22
KALECKI

de su a T eoria d a Din âm ica E con ôm ica, m u it os t r a ba lh os qu e t r a t a m


dos m esm os t em a s con t idos n est e livr o, e a leit u r a de a lgu n s deles
pode a ju da r con sider a velm en t e n o en t en dim en t o do livr o.16

1. Grau d e M on opólio e Distribu ição d a R en d a

Tr a ba lh os a n t er ior es à T eoria d a Din âm ica E con ôm ica, por or dem


cr on ológica :

1.1. “Th e Det er m in a n t s of Dist r ibu t ion of t h e Na t ion a l In com e”. In :


E con om etrica. Abr il de 1938. p. 97-112;

1.2. “Th e Dist r ibu t ion of t h e Na t ion a l In com e”. Ca pít u lo dos E ssays;

1.3. “Mon ey a n d Rea l Wa ges”. Ca pít u lo dos E ssays. E m por t u gu ês,


“Sa lá r ios Nom in a is e Rea is”. In : Kaleck i;

1.4. Place N om in aln e e R ealn e (Va r sóvia , 1939), cu jo ca pít u lo t eór ico,
sob o t ít u lo de “Sa lá r ios Nom in a is e Rea is”, se en con t r a em Cres-
cim en to e Ciclo;

1.5. “Th e Su pply Cu r ve of a n In du st r y u n der Im per fect Com pet it ion ”.


In : R eview of E con om ic S tu d ies. F ever eir o de 1940. p. 91-112;

1.6. “Th e Th eor y of Lon g-Ru n Dist r ibu t ion of t h e P r odu ct ion of In du s-
t r y”. In : Oxford E con om ic Papers. J u n h o de 1941. p. 31-41;

Tr a ba lh o post er ior :

1.7. “Cla ss St r u ggle a n d t h e Dist r ibu t ion of Na t ion a l In com e”. In : Ky-
k los. n º 1, 1971. p. 1-9. E m por t u gu ês: “Lu t a de Cla sse e Dist r i-
bu içã o da Ren da Na cion a l”. In : Crescim en to e Ciclo.

2. Determ in an tes d os L u cros e d a R en d a N acion al

Tr a ba lh os a n t er ior es à T eoria d a Din âm ica E con ôm ica:

2.1. “O H a n dlu Za gr a n iczn ym i ‘ekspor cie wewn et r zn ym ’”. In : E k on o-

16 E m n ossa r ela çã o desses t r a ba lh os, os t ít u los dos livr os E ssays in th e T h eory of E con om ic
Flu ctu ation s, S tu d ies in E con om ic Dyn am ics e Crescim en to e Ciclo d as E con om ias Capita-
listas, já cit a dos, ser ã o r esu m idos pa r a E ssays, S tu d ies e Crescim en to e Ciclo, r espect iva-
m en t e. O volu m e r efer en t e a Ka lecki n a Coleçã o Gr a n des Cien t ist a s Socia is da E dit or a
Át ica , t a m bém já m en cion a do, ser á in dica do com o Kaleck i.

23
OS ECON OMIS TAS

m ista. n º 3 de 1933. p. 27-35. E m por t u gu ês: “Com ér cio In t er n a -


cion a l e ‘E xpor t a ções In t er n a s’”. In : Crescim en to e Ciclo;

2.2. “In vest m en t a n d In com e”. Ca pít u lo dos E ssays;

2.3. “A Th eor y of P r ofit s”. In : E con om ic J ou rn al. J u n h o-set em br o de


1942. p. 258-267.
P ost er ior :

2.4. “Th e Ma r xia n E qu a t ion s of Repr odu ct ion a n d Moder n E con om ics”.
In : S ocial S cien ces In form ation , n º 6, 1968. p. 73-79. E m por t u -
gu ês: “As E qu a ções Ma r xist a s de Repr odu çã o e a E con om ia Mo-
der n a ”. In : Crescim en to e Ciclo.

3. T axas d e J u ros

3.1. “Th e Lon g-Ter m Ra t e of In t er est ”. Ca pít u lo dos E ssays;

3.2. “Th e Sh or t -Ter m Ra t e a n d t h e Lon g-Ter m Ra t e”. In : Oxford E co-


n om ic Papers. Set em br o de 1940. p. 15-22.

4. Determ in an tes d o In vestim en to


Os est u dos sobr e os det er m in a n t es do in vest im en t o fa zem pa r t e
dos t r a ba lh os sobr e os ciclos econ ôm icos (a ba ixo r ela cion a dos), com
u m a exceçã o:

4.1. “Th e P r in ciple of In cr ea sin g Risk”. In : E con om ica. Novem br o de


1937. p. 440-447; e u m a n ova ver sã o n os E ssays.

5. Ciclo e Crescim en to E con ôm ico


E st u dos a n t er ior es à T eoria d a Din âm ica E con ôm ica:

5.1. Próba-T eorii Kon iu n k tu ry. Va r sóvia , 1933. A pa r t e t eór ica desse
pequ en o livr o foi post er ior m en t e p u blica d a em sepa r a do. Su a
t r a du çã o, “E sboço de u m a Teor ia do Ciclo E con ôm ico”, se en -
con t r a em Crescim en to e Ciclo. Du a s ver sões dessa pa r t e t eór ica
for a m pu blica da s, u m a em fr a n cês e ou t r a em in glês: “E ssa i
d’u n e Th éor ie du Mou vem en t Cycliqu e des Affa ir es”. (In : R evu e
d ’É con om ie Politiqu e. n º 2, 1935. p. 285-305); e “A Ma cr ody-
n a m ic Th eor y of Bu sin ess Cycles”. In : E con om etrica. n º 3. 1935.
p. 327-344;

5.2. “Ist ot a P r opa wy Kon iu n kt u r a ln ej”. In : Polsk a Gospod arcza. n º 43,


1935. p. 1320-1324. E m por t u gu ês: “O Meca n ism o da Recu per a çã o
E con ôm ica ”. In : Crescim en to e Ciclo e t a m bém em Kaleck i;

24
KALECKI

5.3. “A Th eor y of t h e Bu sin ess Cycles”. In : R eview of E con om ic S tu d ies.


F ever eir o de 1937. p. 77-97;

5.4. “A Th eor y of t h e Bu sin ess Cycle”. Ca pít u lo dos E ssays e qu e cor -


r espon de a u m a ediçã o m odifica da do t r a ba lh o a n t er ior ;

5.5. “Bu sin ess Cycle a n d Tr en d”. Segu n da pa r t e dos S tu d ies;

5.6. “A New Appr oa ch t o t h e P r oblem of Bu sin ess Cycles”. In : R eview


of E con om ic S tu d ies. n º 2, 1949. p. 57-64.

Tr a ba lh os post er ior es:

5.7. “Obser va t ion s on t h e Th eor y of Gr owt h ”. In : E con om ic J ou rn al.


Ma r ço de 1962. p. 134-153;

5.8. “Tr en d a n d Bu sin ess Cycles Recon sider ed”. In : E con om ic J ou rn al.
J u n h o de 1968. p. 263-276. E m por t u gu ês: “Ten dên cia e Ciclo
E con ôm ico”. In : Crescim en to e Ciclo;

5.9. “Th eor ies of Gr owt h in Differ en t Socia l Syst em s”. In : S cien tia.
Ma io-ju n h o de 1970. p. 311-316. E m por t u gu ês: “Teor ia s do Cr es-
cim en t o em Difer en t es Sist em a s Socia is”. In : Crescim en to e Ciclo.

F in a lm en t e, u m ou t r o t r a ba lh o t a m bém deve ser m en cion a do,


por a pr esen t a r u m a a bor da gem in t eir a m en t e diver sa da s a n t er ior es.
Nesse t r a ba lh o, pu blica do em 1943, Ka lecki pr evê o ca r á t er polít ico
qu e os ciclos econ ôm icos t er ia m depois da Segu n da Gu er r a Mu n dia l:

5.10. “P olit ica l Aspect s of F u ll E m ploym en t ”. In : Political Qu arterly.


n º 4, 1943. p. 322-331. E m por t u gu ês: “Os Aspect os P olít icos do
P len o E m pr ego”. In : Crescim en to e Ciclo.

J or ge Miglioli

J o rg e Mig lio li, n a scido em 1935, é


licen cia do em Ciên cia s Socia is pela
Un iver sida de F eder a l do Rio de J a -
n eir o, dou t or em Ciên cia s E con ôm i-
ca s pela E scola Cen t r a l de P la n ifi-
ca çã o e E st a t íst ica de Va r sóvia (P o-
lôn ia ) e livr e-docen t e em E con om ia
pela Un iver sida de E st a du a l de Ca m -
pin a s, on de é P r ofessor t it u la r do De-
pa r t a m en t o de E con om ia e P la n eja -

25
OS ECON OMIS TAS

m en t o E con ôm ico. P u blicou os se-


gu in t es livr os: T écn icas Qu an titati-
vas d e Plan ejam en to (1976); Acu m u -
lação d e Capital e Dem an d a E fetiva
(1981); In trod u ção ao Plan ejam en to
E con ôm ico (1982). Além de t er edi-
t a do: Mich a l Ka lecki, Crescim en to e
Ciclo d as E con om ias Capitalistas
(1977); Kaleck i (Gr a n des Cien t ist a s
Socia is, 1980).

26
M ICHAL K ALECKI

T EORIA D A D IN ÂMICA E CON ÔMICA*

E N S AIO S OB RE AS MU D AN ÇAS C ÍCLICAS E A


L ON GO P RAZO D A E CON OMIA C AP ITALIS TA

T rad u ção d e P a u lo de Alm eida

* Tr a du zido do or igin a l in glês: T h eory of E con om ic Dyn am ics — An E ssay on Ciclical an d


L on g-R u n Ch an ges in Capitalist E con om y. 2ª ed. r evist a . Lon dr es. Geor ge Allen & Un win ,
1965.
P REF ÁCIO

E st e livr o est á sen do pu blica do em lu ga r de u m a segu n da ediçã o


de m eu s E ssays in th e T h eory of E con om ic Flu ctu ation s (E n saios sobre
a T eoria d as Flu tu ações E con ôm icas) e de m eu s S tu d ies in E con om ic
Dyn am ics (E stu d os d e Din âm ica E con ôm ica). Tr a t a -se, con t u do, de u m
livr o essen cia lm en t e n ovo. Apesa r de cobr ir a m esm a á r ea qu e foi objet o
dos dois livr os a n t er ior es e de a s idéia s bá sica s n ã o t er em sofr ido
m u it a s m odifica ções, a a pr esen t a çã o e m esm o a a r gu m en t a çã o pa ssa -
r a m por a lt er a ções su bst a n cia is. Adem a is, em a lgu n s ca sos, pr in cipa l-
m en t e n os ca pít u los 13 e 14, for a m in cor por a dos n ovos elem en t os. Ta m -
bém o escopo da s ilu st r a ções de ca r á t er est a t íst ico foi ba st a n t e a m -
plia do, t en do sido u t iliza dos n ovos m a t er ia is est a t íst icos a qu e se t eve
a cesso post er ior m en t e à pu blica çã o de m in h a s obr a s a n t er ior es.
Con vém t a m bém sa lien t a r qu e n a s a n á lises est a t íst ica s foi em -
pr ega do o m ét odo dos m ín im os qu a dr a dos. E sse pr ocedim en t o pode
pa r ecer a lgo gr osseir o à lu z dos desen volvim en t os m a is r ecen t es da s
t écn ica s est a t íst ica s. Deve-se obser va r , con t u do, qu e o pr opósit o da
a n á lise est a t íst ica a qu i en cet a da é m ost r a r a pla u sibilida de da s r ela ções
en t r e va r iá veis econ ôm ica s a qu e se ch egou t eor ica m en t e e n ã o obt er
os coeficien t es m a is pr ová veis dessa s r ela ções. E sper a -se qu e a s pr e-
ca u ções t om a da s n a a plica çã o de n osso in st r u m en t a l est a t íst ico sim ples
(pr in cipa lm en t e n a a n á lise dos det er m in a n t es do in vest im en t o) t en h a m
sido a dequ a da s pa r a obt er u m a pr im eir a a pr oxim a çã o qu e sir va pa r a
fin s ilu st r a t ivos.
F a z-se a qu i u so fr eqü en t e de fór m u la s, m a s, a pa r disso, foi r ea -
liza do u m esfor ço — em a lgu n s ca sos m esm o em det r im en t o da pr ecisã o
— n o sen t ido de se a plica r a pen a s a m a t em á t ica elem en t a r .
Sou m u it o obr iga do à Sr a . Tin g Ku a n Sh u -Ch u a n g e a o Sr . Ch a n g
Tse-Ch u n por su a s va liosa s su gest ões com r ela çã o a o m elh or a m en t o
da a pr esen t a çã o do livr o e por su a a ju da n a s pesqu isa s est a t íst ica s.
M. Ka lecki
F ever eir o de 1952

29
P ARTE P RIMEIRA

G RAU D E M ON OP OLIZAÇÃO E
D IS TRIB U IÇÃO D A R EN D A
1

Cu s to e P re ç o s

P re ç o s “d e te rm in a d o s p e lo c u s to ” e p re ç o s
“d e te rm in a d o s p e la d e m a n d a ”

A s a lt er a ções de pr eços a cu r t o pr a zo podem ser cla ssifica da s


em dois gr u pos pr in cipa is: a s qu e sã o det er m in a da s pr in cipa lm en t e
por m odifica ções do cu st o da pr odu çã o e a s qu e sã o det er m in a da s pr in -
cipa lm en t e por m odifica ções da dem a n da . De m odo ger a l, a s a lt er a ções
de pr eço dos pr odu t os a ca ba dos sã o “det er m in a da s pelo cu st o”, en qu a n t o
a s a lt er a ções de pr eço da s m a t ér ia s-pr im a s, in clu sive pr odu t os a lim en -
t ícios pr im á r ios, sã o “det er m in a da s pela dem a n da ”. Cla r o est á qu e o
pr eço dos pr odu t os a ca ba dos é a fet a do por qu a isqu er m u da n ça s “de-
t er m in a da s pela dem a n da ” ocor r ida s n os pr eços da s m a t ér ia s-pr im a s,
m a s é a t r a vés dos cu stos qu e essa in flu ên cia é t r a n sm it ida .
É evidente que cada um desses dois tipos de formação de preços
surge de condições diferentes de oferta. A produção de bens acabados é
elástica devido à existência de reservas de capacidade produtiva. Quando
a dem anda aumenta, o acréscimo é atendido principalm ente por um a
elevação do volume de produção, enquanto os preços tendem a permanecer
estáveis. As alterações de preços que porventura se verificarem resultarão
principalmente de modificações do custo de produção.
J á qu a n t o à s m a t ér ia s-pr im a s, a sit u a çã o é difer en t e. É n ecessá r io
u m per íodo de t em po r ela t iva m en t e gr a n de pa r a se con segu ir u m a u -
m en t o da ofer t a de pr odu t os a gr ícola s. O m esm o se pode dizer com
r ela çã o à m in er a çã o, em bor a a coisa a qu i se dê em gr a u m en or . Ma n -
t en do-se a ofer t a in elá st ica du r a n t e u m per íodo de t em po cu r t o, u m a
eleva çã o da pr ocu r a m ot iva u m a dim in u içã o dos est oqu es e, con se-
qü en t em en t e, u m a u m en t o dos pr eços. O m ovim en t o in icia l dos pr eços
pode ser in t en sifica do pela in clu sã o de u m elem en t o especu la t ivo. As
m er ca dor ia s em qu est ã o n or m a lm en t e sã o pa dr on iza da s e se a ch a m

33
OS ECON OMIS TAS

su jeit a s a cot a çã o n a bolsa de m er ca dor ia s. Um a u m en t o pr im á r io n a


pr ocu r a , m ot iva n do u m a eleva çã o dos pr eços, fa z-se fr eqü en t em en t e
a com pa n h a r por u m a pr ocu r a secu n dá r ia de ca r á t er especu la t ivo. Isso
t or n a a in da m a is difícil, a cu r t o pr a zo, qu e a pr odu çã o se equ ilibr e
com a dem a n da .
E st e ca pít u lo t r a t a r á pr in cipa lm en t e do est u do da for m a çã o dos
pr eços “det er m in a dos pelo cu st o”.
F ix a ç ã o d o p re ç o p o r u m a firm a

Con sider em os u m a fir m a com u m da do ca pit a l fixo. Su põe-se qu e


a ofer t a seja elá st ica , ist o é, qu e a fir m a oper e com ca pa cida de ociosa
e qu e os cu st os dir et os (cu st os de m a t er ia is e sa lá r ios — os or den a dos
se in clu em n os cu st os in dir et os) por u n ida de pr odu zida seja m est á veis
pa r a a a m plit u de r eleva n t e da pr odu çã o.17 Dia n t e da s in cer t eza s com
qu e se defr on t a o pr ocesso de fixa çã o de pr eços, n ã o ir em os su por qu e
a fir m a r ecor r a a a lgu m a m edida em pa r t icu la r n a pr ocu r a de m a xi-
m iza r seu s lu cr os. No en t a n t o, su por em os qu e o n ível efet ivo dos cu st os
in dir et os n ã o in flu en cia dir et a m en t e a det er m in a çã o do pr eço, u m a
vez qu e o t ot a l dos cu st os in dir et os per m a n ece m a is ou m en os est á vel
com r ela çã o à s va r ia ções da pr odu çã o. Assim sen do, o n ível de pr odu çã o
e de pr eços n o qu a l se su põe qu e a som a dos cu st os in dir et os m a is os
lu cr os a lca n ce o pon t o m a is eleva do é a o m esm o t em po o n ível qu e
pode ser con sider a do o qu e m a is fa vor ece os lu cr os. (Con t u do, t a r de
ir em os ver qu e o n ível dos cu st os in dir et os pode t er u m a in flu ên cia
in dir et a sobr e a for m a çã o dos pr eços.)
P a r a fixa r os pr eços, a fir m a leva em con sider a çã o a m édia de
seu s cu st os dir et os e os pr eços de ou t r a s fir m a s qu e fa br ica m pr odu t os
sim ila r es. A fir m a t em qu e evit a r qu e o pr eço se eleve dem a sia do com
r ela çã o a os pr eços da s ou t r a s fir m a s, já qu e se isso su cedesse a s ven da s
se r edu zir ia m dr a st ica m en t e. É pr eciso t a m bém , por ou t r o la do, evit a r
qu e o pr eço se t or n e dem a sia do ba ixo com r ela çã o à m édia dos cu st os
dir et os, por qu a n t o isso r edu zir ia dr a st ica m en t e a m a r gem de lu cr o.
Assim , qu a n do o pr eço p é det er m in a do pela fir m a com r ela çã o a o
cu st o dir et o u n it á r io u, é pr eciso t om a r cu ida do pa r a qu
_ e a r a zã o en t r e
p e a m édia pon der a da dos pr eços de t oda s a s fir m a s, p 18, n ã o se t or n e
a lt a dem a is._ Se u a u m en t a , p pode ser a u m en t a do pr opor cion a lm en t e
som en t e se p a u m en t a m en os qu e u . Ma s se p a u m en t a m en os qu e u ,
proporcionalmente também.
17 Na ver da de, os cu st os dir et os u n it á r ios ca em u m pou co, em m u it os ca sos, à m edida qu e
a pr odu çã o a u m en t a . F izem os a bst r a çã o dessa com plica çã o, qu e n ã o é de gr a n de im por t â n cia
n o ca so. A su posiçã o, feit a em 1939, em m eu s E ssays in th e T h eory of E con om ic Flu ctu ation s,
de u m a cu r va de cu st os dir et os e cu r t o pr a zo qu a se h or izon t a l, t em sido com pr ova da desde
en t ã o por m u it a s pesqu isa s em pír ica s e t em desem pen h a do, explícit a ou im plicit a m en t e,
u m pa pel im por t a n t e n a pesqu isa econ ôm ica . Cf., por exem plo, LE ONTIE F , W. W. T h e
S tru ctu re of Am erican E con om y. H arvard Un iversity Press, 1941.
18 P on der a do pela s r espect iva s pr odu ções, in clu sive pela da fir m a em qu est ã o.

34
KALECKI

o pr eço da fir m a p t a m bém su bir á m en os do qu e u . E ssa s con dições


se a ch a m cla r a m en t e expr essa s n a fór m u la
_
p = m u + np
on de t a n t o m com o n sã o coeficien t es posit ivos.
Aceit a m os qu e n < 1, pelo segu in t e m ot ivo:
_ n o ca so on de o pr eço
p da fir m a foca liza da é igu a l a o pr eço m édio p t em os:
p = m u + np (1)

de on de se con clu i qu e n t em qu e ser m en or qu e a u n ida de.


Os coeficien t es m e n , qu e ca r a ct er iza m a polít ica de fixa çã o de
pr eços da fir m a , r eflet em a qu ilo qu e podem os ch a m a r de gr a u de m o-
n opólio da posiçã o da fir m a . De fa t o, fica cla r o qu e a equ a çã o (1) r et r a t a
u m a for m a çã o de pr eços sem im on opolíst ica . A ela st icida de da ofer t a
e a est a bilida de dos cu st os dir et os u n it á r ios sobr e a a m plit u de r eleva n t e
da pr odu çã o é in com pa t ível com a a ssim ch a m a da con cor r ên cia per feit a .
Or a , se pr edom in a ssem con dições de con cor r ên cia per feit a , o exceden t e
do pr eço p sobr e os cu st os dir et os u n it á r ios u leva r ia a fir m a a a u m en t a r
a pr odu çã o a t é o pon t o em qu e se elim in a sse t ot a lm en t e a ca pa cida de
ociosa . Assim , qu a lqu er fir m a qu e fica sse n o r a m o ch ega r ia a o plen o
em pr ego dos fa t or es de pr odu çã o, sen do qu e o pr eço su bir ia a t é o n ível
em qu e se equ ilibr a r ia m ofer t a e pr ocu r a .
Ser á in t er essa n t e a pr esen t a r u m gr á fico dem on st r a n do a s m odi-
fica ções do gr a u de m on opoliza çã o. Divida m os a equ a çã o (1) pelo cu st o
dir et o u n it á r io u :
_
p p
= m + n
u u
_
p
E st a equ a çã o se a ch a r epr esen t a d a n o gr á fico 1, on d e é a
u
a bscissa e

Gr á fi co 1. M od ificação n o grau d e m on opólio.

35
OS ECON OMIS TAS

p
é a or den a da , pela r et a AB. A in clin a çã o de AB é m en or do qu e 45º
u
por qu e n < 1. A posiçã o dessa r et a qu e é com plet a m en t e det er m in a da
por m e n in dica o gr a u de m on opoliza çã o. Qu a n do, devido a u m a
m odifica çã o de m e n , a r et a desloca r -se pa r a cim a ,_ da posiçã o AB
pa r a a posiçã o A′B ′, en t ã o a u m da do pr eço m édio p e cu st o dir et o
u n it á r io u cor r espon der á_ u m pr eço m a is eleva do p da fir m a sobr e a
p
a m plit u de r eleva n t e de . Dir em os n esse ca so qu e o gr a u de m on opo-
u
liza çã o a u m en t ou . Qu a n do, por ou t r o la do, a r et a desloca r -se pa r a ba ixo
a t é a posiçã o A′′B ′′, dir em os qu e o gr a u de m on opoliza çã o dim in u iu
(su pom os qu e m e n sem pr e se m odifica m de for m a t a l qu e n en h u m a
da s lin h a s cor r espon den t es_ a vá r ia s posições de AB cr u za ou t r a sobr e
p
a a m plit u de r eleva n t e de ).
u
P odem os a gor a dem on st r a r u m a pr oposiçã o qu e se r evest e de
cer t a im por t â n cia n o qu e diz r espeit o a n ossa a r gu m en t a çã o fu t u r a .
Con sider em os os pon t os de in t er seçã o P, P′, P′′ da s r et a s A B ,
A′B ′, A′′B ′′ com a lin h a OK cor t a n do a or igem a 45º. É cla r o qu e qu a n t o
m a ior o gr a u de m on opoliza çã o, m a is lon ga ser á a a bscissa t r a ça da a
pa r t ir do r espect ivo pon t o de in t er seçã o. Or a , esse pon t o é det er m in a do
pela s equ a ções:
_ _
p p p p
= m + n e = .
u u u u
m
Con clu i-se qu e a a bscissa do pon t o de in t er seçã o é igu a l a . P or
1–n
m
con segu in t e, u m a u m en t o de se r eflet ir á em u m gr a u m a is eleva do
1–n
de m on opólio e vice-ver sa .
Nest e t ópico e n o segu in t e, a a r gu m en t a çã o qu a n t o à in flu ên cia
do gr a u de m on opoliza çã o sobr e a for m a çã o de pr eços é de ca r á t er
ba st a n t e for m a l. As r a zões qu e n a pr á t ica leva m a m odifica ções do
gr a u de m on opoliza çã o ser ã o exa m in a da s m a is a dia n t e.
F o rm a ç ã o d e p re ç o s n u m ra m o d a in d ú s tria :
u m c a s o e s p e c ia l
P odem os in icia r o deba t e da det er m in a çã o do pr eço m édio em
u m r a m o da in dú st r ia , t om a n do u m ca so em qu e os coeficien t es m e
n sã o os m esm os pa r a t oda s a s fir m a s, m a s on de os cu st os dir et os
u n it á r ios u sã o difer en t es. Tem os, en t ã o, com ba se n a equ a çã o (1):
_
p 1 = m u 1 + np
_
p 2 = m u 2 + np

36
KALECKI

. . . . . . . . . .
_
pk = m u k + n p (1′)

Se essa s equ a ções for em pon d er a da s por su a s r espect iva s pr odu ções
(ist o é, ca da u m a dela s m u lt ip lica d a por su a r esp ect iva pr odu çã o,
t odos os r esu lt a d os som a dos e a som a d ivid ida p elo t ot a l da pr odu -
çã o), obt er em os:
_ __ _
p = m u + np
de for m a qu e (2)
_ m __
p = u.
1–n

Recor dem os qu e, de a cor do com o t ópico a n t er ior , qu a n t o m a is eleva do


m
o gr a u de m on opoliza çã o, m a ior ser á . P odem os a ssim con clu ir :
_ 1–n __
O pr eço m édio p é pr opor cion a l a o cu st o dir et o u n it á r io m édio u se o
gr a u de m on opoliza
_ çã o se m a n t iver con st a n _t_e. Se a u m en t a r o gr a u de
m on opoliza çã o, p se eleva r á com r ela çã o a u .
Ain da é im por t a n t e ver de qu e for m a u m n ovo “equ ilíbr io de
pr eços” é a lca n ça do qu a n do os cu st os dir et os u n it á r ios m u da m em con -
seqü ên cia de m odifica ções n os pr eços da s m a t ér ia s-pr im a s ou da m ã o-
de-obr a . Repr esen t em os os “n ovos” cu st os dir et os u n it á r ios por u 1 , u 2
et c., e os_ pr eços “velh os” por p′1 , p′2 et c. A m édia pon der a da desses
pr eços é_ p ′. A ela _cor r espon dem os n ovos pr eços p′′1 , p′′2 et c., igu a is a
_m u 1 + np ′, m u 2 + n p ′ et c. Isso leva por su a vez a u m n ovo pr eço m édio
p ′′, _e assim por diante, convergindo o processo afinal para um novo valor
de p , dado pela fórmula (2). Essa convergência do processo depende da
condição de ser n < 1. De fato, conforme as equações (1′) tem os que:
_ __ _
p ′′ = m u + np ′
_
e pa r a o n ovo p fin a l:
_ __ _
p = m u + np .

Su bt r a in do a segu n da equ a çã o da pr im eir a , obt em os:


_ _ _ _
p ′′ – p = n (p ′ – p )
_
o qu e m ost r a qu e o desvio do va lor fin a l de p dim in u i em pr ogr essã o
geom ét r ica sem pr e, desde qu e n < 1.
F o rm a ç ã o d e p re ç o s n u m ra m o d a in d ú s tria : o c a s o g e ra l
Con sider em os a gor a o ca so gen ér ico em qu e os coeficien t es m e

37
OS ECON OMIS TAS

n sã o difer en t es de fir m a pa r a fir m a . P a r ece qu e, m edia n t e u m pr o-


cedim en t o sem elh a n t e a o qu e foi a plica do n o ca so especia l, ch ega -se
à fór m u la :
__
_ m __ __
p = u (2′)
1 – n
__ __
m e n sã o a m édia pon der a da dos coeficien t es m e n .19
Agor a im a __
gin em__os u m a fir m a pa r a a qu a l os coeficien t es m e n
seja m igu a is a m e n pa r a o r a m o de in dú st r ia a o qu a l essa fir m a
per t en ce. P odem os con sider á -la com o sen do u m a fir m a r epr esen t a t iva
do r a m o de in dú st r ia a qu e per t en ce. P odem os a in da con sider a r qu e
o gr a u de m on opoliza çã o desse r a m o de in dú st r ia seja o m esm o da
fir m a escolh ida com o r epr esen t a t iva . Assim , o gr a u de m on opoliza çã o
ser á det er m in a do pela posiçã o da r et a cor r espon den t e a :
_
p __ __ p
= m + n .
u u
Um a u m en t o do gr a u de m on opoliza çã o ir á r eflet ir -se n u m desloca -
m en t o pa r a cim a dessa r et a (ver gr á f. 1). Con clu i-se da a r gu m en t a çã o
con t ida n a pá gin a 36, qu e qu a n t o m a is eleva do__o gr a u de m on opoliza çã o,
m __
de a cor do com est a defin içã o, m a ior ser á .
1 – n
A pa r t ir disso e da equ a çã o (2′), segu e-se a gen er a liza çã o dos
r esu lt a dos obt idos
_ n o t ópico a n t er ior pa r a o ca so especia l con sider __ a do.
O pr eço m édio p é pr opor cion a l a o cu st o dir et o u n it á r io m édio u se o
gr a u de m on opólio for con st__a n t e. Se o gr a u de m on opoliza çã o a u m en t a r ,
p se eleva com r ela çã o a u .
A r a zã o en t r e pr eço m édio e cu st o dir et o u n it á r io é igu a l à r a zã o
en t r e o m on t a n t e dos r en dim en t os do r a m o da in dú st r ia e o m on t a n t e
dos cu st os dir et os do r a m o da in dú st r ia . Segu e-se qu e a r a zã o en t r e
r en dim en t os e cu st os dir et os é est á vel, a u m en t a n do ou dim in u in do
som en t e con for m e o qu e a con t ecer com o gr a u de m on opoliza çã o.
Deve-se lembrar que todos os resultados aqui obtidos estão sujeitos
à suposição de que a oferta seja elástica. Quando as firmas não têm mais
capacidade ociosa, um aum ento adicional da dem anda ir á provocar um a
elevação do preço além do nível indicado pelas considerações acim a. Con-
tudo, esse nível poderia ser mantido por algum tempo, enquanto a firm a
perm itisse que os pedidos se acumulassem em carteira.
Ca u s a s d e m o d ific a ç ã o d o g ra u d e m o n o p o liza ç ã o

Lim it a r -n os-em os a qu i a discu t ir os pr in cipa is fa t or es su bja cen t es

19 m é a m édia de m pon der a da pelos cu st os dir et os t ot a is de ca da fir m a : n é a m édia de n


pon der a da pela s r espect iva s pr odu ções.

38
KALECKI

à s m odifica ções do gr a u de m on opoliza çã o n a s econ om ia s ca pit a list a s


m oder n a s. E m pr im eir o lu ga r , h á qu e con sider a r o pr ocesso de con -
cen t r a çã o da in dú st r ia , qu e leva à for m a çã o de cor por a ções giga n t esca s.
A in flu ên cia do su r gim en t o de fir m a s qu e r epr esen t a m u m a pa r cela
su bst a n cia l da pr odu çã o de u m r a m o de in dú st r ia pode ser fa cilm en t e
en t en dida à lu z da s con sider a ções a cim a . Um a fir m a desse t ipo _ sa be
qu e seu pr eço p in flu en cia de for m a a pr eciá vel o pr eço m édio p e qu e,
a dem a is, a s ou t r a s fir m a s do r a m o se ver ã o com pelida s n a m esm a
dir
_ eçã o, já qu e a for m a çã o de pr eços dela s depen de do pr eço m édio
p . Assim , a fir m a pode fixa r seu pr eço n u m n ível m a is eleva do do qu e
ser ia o ca so se a s coisa s fossem difer en t es. Ou t r a s fir m a s gr a n des
fa zem o m esm o jogo e a ssim o gr a u de m on opólio se eleva de m odo
su bst a n cia l. E sse est a do de coisa s pode ser r efor ça do por u m a cor do
t á cit o. (E n t r e ou t r a s coisa s, esse a cor do pode se da r m edia n t e a fixa çã o
de pr eços por u m a fir m a gr a n de, a fir m a “líder ”, com a s ou t r a s fir m a s
segu in do esses pr eços.) Um a cor do t á cit o, por ou t r o la do, pode t r a n s-
for m a r -se n u m a cor do m a is ou m en os for m a l, ou seja , n u m ca r t el, o
qu e equ iva le a o m on opólio com plet o, lim it a do a pen a s pelo m edo da
en t r a da de n ovos m em br os.
A in flu ên cia qu e ocu pa o segu n do lu ga r em im por t â n cia é o de-
sen volvim en t o da pr om oçã o a t r a vés da pu blicida de, ven dedor es et c.
Assim , a con cor r ên cia de pr eços é su bst it u ída pela con cor r ên cia a t r a vés
de ca m pa n h a s de pu blicida de et c. Obvia m en t e isso t a m bém ir á pr ovoca r
u m a eleva çã o do gr a u de m on opoliza çã o.
Além dos fa t or es a pon t a dos a cim a , dois ou t r os t êm qu e ser leva dos
em con sider a çã o: (a) a in flu ên cia da s m odifica ções n o n ível dos cu st os
in dir et os com r ela çã o a os cu st os dir et os sobr e o gr a u de m on opoliza çã o;
(b) o poder io dos sin dica t os.
Se o n ível dos cu st os in dir et os se eleva r m u it o com r ela çã o a os
cu st os dir et os, h a ver á n ecessa r ia m en t e u m “a per t o dos lu cr os”, a m en os
qu e se per m it a u m a u m en t o da r a zã o en t r e o t ot a l dos r en dim en t os
e os cu st os dir et os. Disso pode r esu lt a r u m a cor do t á cit o en t r e a s fir m a s
de u m r a m o pa r a “pr ot eger ” os lu cr os e con seqü en t em en t e eleva r os
pr eços com r ela çã o a os cu st os dir et os u n it á r ios. P or exem plo, a eleva çã o
em cu st os de ca pit a l por u n ida de pr odu zida , r esu lt a n t e da in t r odu çã o
de t écn ica s qu e a u m en t a m a ca pit a l-in t en sida de, pode, dessa m a n eir a ,
t en der a eleva r o gr a u de m on opoliza çã o.
O fa t or r epr esen t a do pela “pr ot eçã o” dos lu cr os a pa r ece com fr e-
qü ên cia du r a n t e per íodos de depr essã o. A sit u a çã o n essa s oca siões é
a segu in t e: o t ot a l dos r en dim en t os decr esce n a m esm a pr opor çã o qu e
os cu st os dir et os se o gr a u de m on opoliza çã o per m a n ecer in a lt er a do.
Ao m esm o t em po, o t ot a l dos cu st os in dir et os ca i, n os per íodos de
depr essã o, m en os qu e os cu st os dir et os. Isso a br e o ca m in h o pa r a o
est a belecim en t o de a cor dos t á cit os n o sen t ido de n ã o se r edu zir em os
pr eços n a m esm a pr opor çã o dos cu st os dir et os. Con seqü en t em en t e, su r -

39
OS ECON OMIS TAS

ge u m a t en dên cia n o sen t ido de o gr a u de m on opoliza çã o su bir n a


depr essã o, t en dên cia essa qu e oper a em sen t ido in ver so n a fa se de
pr osper ida de.20
Apesa r de a s con sider a ções a cim a a pr esen t a r em u m m eio pelo
qu a l os cu st os in dir et os podem a fet a r a for m a çã o dos pr eços, é cla r o
qu e su a in flu ên cia sobr e os pr eços em n ossa t eor ia é m u it o m en os
n ít ida do qu e a qu e exer cem os cu st os dir et os. O gr a u de m on opoliza çã o
pod e a u m en t a r — m a s n ã o se pode a fir m a r qu e a u m en t e n ecessa r ia -
m en t e — em con seqü ên cia de u m a u m en t o dos cu st os in dir et os com
r ela çã o a os cu st os dir et os. Isso e a ên fa se da da à in flu ên cia dos pr eços
de ou t r a s fir m a s con st it u em a difer en ça en t r e a t eor ia a qu i expost a e
a a ssim ch a m a da t eor ia dos cu st os t ot a is.
F oca lizem os a gor a o pr oblem a da in flu ên cia do poder io dos sin -
dica t os sobr e o gr a u de m on opoliza çã o. A exist ên cia de sin dica t os po-
der osos pode cr ia r u m a t en dên cia n o sen t ido de se r edu zir a m a r gem
de lu cr o, pelos segu in t es m ot ivos. Ver ifica n do-se u m a r a zã o eleva da
en t r e os lu cr os e os sa lá r ios, for t a lece-se o poder de ba r ga n h a dos
sin dica t os em su a s a t ivida des visa n do a u m en t os de sa lá r ios, u m a vez
qu e os sa lá r ios m a is eleva dos ser ã o en t ã o com pa t íveis com “lu cr os r a -
zoá veis” a os n íveis de pr eços exist en t es. Se a pós os a u m en t os ser em
con cedidos os pr eços fossem m a jor a dos, ser ia m ger a da s n ova s dem a n -
da s de a u m en t o de sa lá r ios. Da í se con clu i qu e u m a r a zã o eleva da
en t r e lu cr os e sa lá r ios n ã o pode ser m a n t ida sem cr ia r u m a t en dên cia
n o sen t ido da eleva çã o dos cu st os. E sse efeit o a dver so sobr e a posiçã o
com pet it iva de u m a fir m a ou de u m r a m o da in dú st r ia est im u la a
a doçã o de u m a polít ica de m a r gen s de lu cr o m a is ba ixa s. Assim , o
gr a u de m on opoliza çã o ser á em cer t a m edida m a n t ido ba ixo gr a ça s à
a çã o dos sin dica t os e qu a n t o m a ior for a for ça dos sin dica t os com m a ior
in t en sida de isso se fa r á sen t ir .
As m odifica ções do gr a u de m on opoliza çã o sã o de im por t â n cia
decisiva n ã o só pa r a a dist r ibu içã o de r en da en t r e t r a ba lh a dor es e
ca pit a list a s com o t a m bém em a lgu n s ca sos pa r a a dist r ibu içã o de r en da
da cla sse ca pit a list a . Assim , o a u m en t o n o gr a u de m on opoliza çã o m o-
t iva do pelo cr escim en t o da s gr a n des cor por a ções r esu lt a em u m a t r a n s-
fer ên cia r ela t iva de r en da da s ou t r a s in dú st r ia s pa r a a s dom in a da s
por t a is cor por a ções. Dessa for m a , a r en da é r edist r ibu ída , pa ssa n do
da s pequ en a s pa r a a s gr a n des em pr esa s.

As re la ç õ e s c u s to -p re ç o a lo n g o e a c u rto p ra zo

As r ela ções cu st o-pr eço descr it a s a cim a ba seia m -se em u m en fo-


qu e da sit u a çã o a cu r t o pr a zo. Con t u do, os ú n icos pa r â m et r os qu e

20 E ssa é a t en dên cia bá sica ; con t u do, em a lgu n s ca sos o pr ocesso opost o de ocor r ên cia de-
sen fr ea da pode m a n ifest a r -se n u m a depr essã o.

40
KALECKI

en t r a m n a s equ a ções em qu est ã o sã o os coeficien t es m e n , qu e r eflet em


o gr a u de m on opoliza çã o. E sses coeficien t es podem — se bem qu e n ã o
t en h a m qu e fa zê-lo n ecessa r ia m en t e — m u da r a lon go pr a zo. Se m e
n perm an ecem con st a n t es, a s a lt er a ções a lon go pr a zo n os pr eços r e-
flet ir ã o som en t e a s a lt er a ções a lon go pr a zo dos cu st os dir et os u n it á r ios.
O pr ogr esso t ecn ológico t en der á a r edu zir o cu st o dir et o u n it á r io u .
Ma s a s relações en t r e os pr eços e os cu st os dir et os u n it á r ios podem
ser a fet a da s por m odifica ções n o ca m po da t écn ica e dos equ ipa m en t os
som en t e n a m edida em qu e ela s in flu en cia r em o gr a u de m on opólio.21
E st a ú lt im a possibilida de h a via sido in dica da a cim a qu a n do se m en -
cion ou qu e o gr a u de m on opoliza çã o poder ia ser in flu en cia do pelo n ível
dos cu st os in dir et os com r ela çã o a os cu st os dir et os.
Deve-se sa lien t a r qu e t oda essa per spect iva con t r a r ia pon t os de
vist a ger a lm en t e a ceit os. Su põe-se em ger a l qu e devido à cr escen t e
in t en sida de de ca pit a l, ist o é, cr escen t e dispên dio de ca pit a l fixo por
u n ida de de pr odu çã o, h á n ecessa r ia m en t e u m con t ín u o a u m en t o da
r a zã o en t r e pr eço e cu st o dir et o u n it á r io. E sse pon t o de vist a ba seia -se,
a o qu e pa r ece, n a su posiçã o de qu e a som a dos cu st os in dir et os m a is
lu cr os va r ia a lon go pr a zo m a is ou m en os em pr opor çã o a o va lor do
ca pit a l. Assim , a eleva çã o em ca pit a l com r ela çã o à pr odu çã o é t r a du zida
em u m a r a zã o m a is a lt a en t r e cu st os in dir et os m a is lu cr os e r en di-
m en t os, equ iva len do isso a u m a u m en t o da r a zã o en t r e pr eços e cu st os
dir et os u n it á r ios.
Or a , pa r ece qu e lu cr os m a is cu st os in dir et os podem a pr esen t a r
u m a qu eda a lon go pr a zo com r ela çã o a o va lor do ca pit a l e, con se-
qü en t em en t e, a r a zã o en t r e pr eço e cu st o dir et o u n it á r io pode per m a -
n ecer con st a n t e m esm o se o ca pit a l a u m en t a r com r ela çã o à pr odu çã o.
Isso se a ch a dem on st r a do pelo qu e a con t eceu n o r a m o m a n u fa t u r eir o
da econ om ia n or t e-a m er ica n a n o per íodo com pr een dido en t r e 1899 e
1914. (Ver t a bela 1.)
Com o se poder á ver pela t a bela , o ca pit a l fixo su biu con t in u a -
m en t e com r ela çã o à pr odu çã o du r a n t e o per íodo foca liza do, en qu a n t o
a r a zã o en t r e r en dim en t os e cu st os dir et os per m a n eceu m a is ou m en os
est á vel. Isso é explica do por u m a qu eda n os lu cr os m a is cu st os in dir et os
com r ela çã o a o va lor do ca pit a l fixo (t a n t o com r ela çã o a seu va lor
n om in a l com o com r ela çã o a seu va lor a os pr eços cor r en t es).
Sem pr e exist e, é cla r o, a possibilida de, in dica da a cim a , de qu e
o a u m en t o dos cu st os in dir et os com r ela çã o a os cu st os dir et os, devido
a o a u m en t o da in t en sida de do ca pit a l, pr ovoqu e u m a eleva çã o do gr a u
de m on opoliza çã o, gr a ça s à t en dên cia de se “pr ot eger em ” os lu cr os:

21 E ssa a fir m a çã o, con t u do, é m a t iza da pela su posiçã o su bja cen t e a n ossa s equ a ções cu st o-pr eço,
a sa ber , qu e o cu st o dir et o u n it á r io n ã o depen de do gr a u de u t iliza çã o do equ ipa m en t o e
qu e o lim it e de ca pa cida de pr á t ica n ã o é a t in gido. Ver pp. 35-6

41
OS ECON OMIS TAS

essa t en dên cia , con t u do, n ã o é de for m a a lgu m a a u t om á t ica , poden do


n ã o pr eva lecer , con for m e se dem on st r a n o exem plo da do.

TABE LA 1. In ten sid ad e d e Capital e R azão E n tre R en d im en tos e Cu stos


Diretos n o R am o M an u fatu reiro n os E stad os Un id os, 1899-1914.

Abor da m os a cim a cer t a s qu est ões qu e su r gem liga da s à a plica çã o


de n ossa t eor ia a os fen ôm en os a lon go pr a zo. Qu a n do su a t eor ia é
a plica da à a n á lise da for m a çã o de pr eços n o decu r so de u m ciclo eco-
n ôm ico, leva n t a -se o pr oblem a de sa ber se a n ossa fór m u la fu n cion a
n a fa se de pr osper ida de. De fa t o, em t a is per íodos a u t iliza çã o de equ i-
pa m en t o pode a t in gir o pon t o de elim in a r a ca pa cida de ociosa e a ssim ,
sob pr essã o da dem a n da , os pr eços podem exer cer o n ível in dica do por
essa s fór m u la s. P a r ece, con t u do, qu e, devido à dispon ibilida de de ca -
pa cida de ociosa e à possibilida de de a u m en t a r o volu m e do equ ipa m en t o
sem pr e qu e ocor r em est r a n gu la m en t os, esse fen ôm en o n ã o é en con t r a do
fr eqü en t em en t e m esm o em fa ses de pr osper ida de. P a r ece qu e em ger a l
ele se r est r in ge a sit u a ções de gu er r a ou de pós-gu er r a , qu a n do a ca -
r ên cia de m a t ér ia -pr im a ou de equ ipa m en t o lim it a for t em en t e a ofer t a
com r ela çã o à pr ocu r a . E sse t ipo de a u m en t o de pr eços é qu e con st it u i
o m otivo básico do processo inflacionário que predomina nesses períodos.
Ap lic a ç ã o à s m u d a n ç a s a lo n g o p ra zo n o ra m o
m a n u fa tu re iro d o s EU A
Com o a r a zã o en t r e pr eço e cu st o dir et o u n it á r io é igu a l à r a zã o
en t r e o m on t a n t e dos r en dim en t os e o m on t a n t e dos cu st os dir et os, a s
m odifica ções n essa r ela çã o podem ser a n a lisa da s em pir ica m en t e com
r efer ên cia a vá r ios r a m os t om a n do-se por ba se o Cen so dos F a br ica n t es
Nor t e-Am er ica n os (Un ited S tates Cen su s of M an u factu res), on de en -
con t r a m os o va lor dos pr odu t os, o cu st o da s m a t ér ia s-pr im a s e os cu st os
de m ã o-de-obr a de ca da r a m o. Con t u do, a s m odifica ções da r a zã o en t r e

42
KALECKI

r en dim en t os e cu st os dir et os de u m ú n ico r a m o da in dú st r ia qu e, de


a cor do com o qu e foi dit o a cim a , sã o det er m in a da s por m odifica ções
n o gr a u de m on opoliza çã o, r eflet em m u da n ça s da s con dições pa r t icu -
la r es da qu ele r a m o da in dú st r ia . P or exem plo, u m a m odifica çã o n a
polít ica de pr eços de u m a fir m a gr a n de pode oca sion a r u m a m u da n ça
fu n da m en t a l n o gr a u de m on opoliza çã o do r a m o da in dú st r ia a o qu a l
essa fir m a per t en ce. P or esse m ot ivo, lim it a m os a s con sider a ções a qu i
con t ida s a o r a m o m a n u fa t u r eir o com o u m t odo, poden do dessa for m a
in t er pr et a r a s m odifica ções de r ela çã o en t r e r en dim en t os e cu st o dir et o
em t er m os de m u da n ça s im por t a n t es da s con dições in du st r ia is.
Tom a m os a ssim a r a zã o en t r e o m on t a n t e dos r en dim en t os do
r a m o m a n u fa t u r eir o dos E st a dos Un idos e o m on t a n t e de seu s cu st os
dir et os. Su r ge con t u do u m a dificu lda de: essa r ela çã o n ã o r eflet e sim -
plesm en t e a s m odifica ções n a r ela çã o en t r e os r en dim en t os e os cu st os
dir et os em r a m os da in dú st r ia em sepa r a do, m a s t a m bém a lt er a ções
de su a im por t â n cia den t r o do set or m a n u fa t u r eir o com o u m t odo. P or
esse m ot ivo, n a t a bela 2 se a ch a in dica da n ã o só a r a zã o en t r e os
r en dim en t os e os cu st os dir et os do set or m a n u fa t u r eir o dos E st a dos
Un idos, com o t a m bém essa r a zã o ca lcu la da com ba se n a su posiçã o de
qu e a pa r cela r ela t iva r epr esen t a da n o va lor t ot a l dos r en dim en t os
pelos gr u pos pr in cipa is seja est á vel.22 A difer en ça r ea l en t r e essa s du a s
sér ies pa r ece, em ger a l, n ã o ser sign ifica t iva .

TABE LA 2. R azão E n tre R en d im en tos e Cu stos Diretos n o S etor M a -


n u fatu reiro d os E stad os Un id os, 1879-1937.

22 Os det a lh es do cá lcu lo, bem com o os a ju st es qu e for a m feit os a fim de per m it ir a com pa r a çã o
em t er m os a pr oxim a dos dos vá r ios a n os do Cen so, o qu e h a via sido pr eju dica do por m odi-
fica ções de escopo e de m ét odos do Cen so, en con t r a m -se descr it os n o Apên dice E st a t íst ico.
Not a s 2 e 3.

43
OS ECON OMIS TAS

Nota-se que houve um aum ento substancial na razão entre rendi-


mentos e custos diretos de 1879 a 1889. Sabe-se que esse foi um período
de mudança no capitalism o americano e que se caracterizou pela formação
de gigantescas corporações industriais. Não é pois surpresa algum a que
o grau de monopolização tenha aum entado nesse período.
De 1889 a 1923 h ou ve pou ca m odifica çã o n a r a zã o en t r e r en di-
m en t os e cu st os dir et os. Con t u do, a pa r ece u m a u m en t o m a r ca n t e n o
per íodo de 1923 a 1929. A eleva çã o n o gr a u de m on opoliza çã o n esse
per íodo pode ser explica da em pa r t e por a qu ilo qu e poder ia ser ch a m a do
de “r evolu çã o com er cia l” — a sú bit a en t r a da em cen a de pr om oçã o de
ven da s a t r a vés da pu blicida de, ven dedor es et c. Ou t r o fa t or a con sider a r
foi u m a u m en t o ger a l dos cu st os in dir et os com r ela çã o a os cu st os dir et os
ocor r ido n esse per íodo.
Pode-se perguntar se o alto nível da razão entre rendimentos e
custos diretos em 1929 não se deveu, pelo m enos em parte, a terem as
firmas atingido sua capacidade total na fase de prosperidade. Há que
salientar, porém , que o grau de utilização de equipamento em 1929 não
era maior que o de 1923. Um exame dos dados do Censo para 1925 e
1927 também parece indicar que a elevação da razão entre rendim entos
e custos diretos durante o período 1923/29 foi de caráter gradual.
De 1929 a 1937 a r a zã o en t r e r en dim en t os e cu st os dir et os a pr e-
sen t a u m a m odest a r edu çã o. P r ova velm en t e isso pode ser a t r ibu ído
pr in cipa lm en t e a o a u m en t o do poder io dos sin dica t os.
As explica ções a qu i con t ida s sã o de ca r á t er pr ovisór io e esqu e-
m á t ico. De fa t o a in t er pr et a çã o do m ovim en t o da r a zã o en t r e r en di-
m en t os e cu st os dir et os em t er m os de m odifica ções do gr a u de m on opólio
com pet e a os especia list a s em h ist ór ia econ ôm ica , qu e podem con t r ibu ir
pa r a esse est u do com con h ecim en t o m a is a pr ofu n da do da s con dições
in du st r ia is em m u da n ça .

Ap lic a ç ã o a o ra m o m a n u fa tu re iro e a o d o c o m é rc io v a re jis ta


d o s EU A d u ra n te a Gra n d e D e p re s s ã o

Na t a bela 3 a pa r ece a r a zã o en t r e r en dim en t os e cu st os dir et os


do set or m a n u fa t u r eir o dos E st a dos Un idos n os a n os de 1929, 1931,
1933, 1935 e 1937. Ma is u m a vez, a lém da r a zã o or igin a l en t r e r en -
dim en t os e cu st os dir et os, dá -se t a m bém a r a zã o a ju st a da em fu n çã o
da s m odifica ções n a com posiçã o do va lor dos pr odu t os.23 Com o n a t a bela
a n t er ior , n ã o h á difer en ça sign ifica t iva en t r e a s du a s sér ies. A t a bela
in dica t a m bém a r a zã o en t r e o t ot a l da s ven da s a va r ejo de ben s de
con su m o n os E st a dos Un idos e o seu cu st o pa r a os va r ejist a s du r a n t e
o m esm o per íodo. Isso cor r espon de, grosso m od o, à r a zã o en t r e r en di-

23 Com o n a t a bela a n t er ior , os da dos for a m a ju st a dos em fu n çã o de m odifica ções n o escopo


e n os m ét odos do Cen so (ver Apên dice E st a t íst ico, Not a s 2 e 3).

44
KALECKI

m en t os e cu st os dir et os do r a m o va r ejist a . (Nã o foi feit o o cá lcu lo de


u m a sér ie a ju st a da pa r a a com posiçã o da s ven da s.)

TABE LA 3. R azão E n tre R en d im en tos e Cu stos Diretos n o S etor


M an u fatu reiro e n o Com ércio Varejista n os E stad os Un id os, 1929/ 37.

Vê-se qu e a r a zã o en t r e r en dim en t os e cu st os dir et os t en deu


a a u m en t a r d u r a n t e a d epr essã o; leva n do em con t a o a lca n ce da
depr essã o n a déca da de 30, con t u d o, a m u d a n ça foi d e ca r á t er ba s-
t a n t e m oder a do. O a u m en t o da r a zã o pode ser a t r ibu ído a u m a ele-
va çã o d os cu st os in dir et os com r ela çã o a os cu st os dir et os, o qu e
est im u lou o est a belecim en t o de a cor dos t á cit os pa r a “pr ot eger ” os
lu cr os e p or t a n t o pa r a a u m en t a r o gr a u de m on opoliza çã o. Vê-se
qu e du r a n t e o per íodo d e r ecu per a çã o de 1933 a 1937 h ou ve u m
m ovim en t o n o sen t ido in ver so. P a r a o set or m a n u fa t u r eir o, con t u do,
a r a zã o en t r e r en dim en t os e cu st o dir et o ca iu a u m n ível sign ifica -
t iva m en t e in fer ior a o d e 1929. Con for m e foi su ger ido a n t er ior m en t e,
isso pr ova velm en t e r esu lt ou de u m con sid er á vel for t a lecim en t o dos
sin dica t os n o per íodo de 1933/37.
F lu tu a ç õ e s d o s p re ç o s d e m a té ria s -p rim a s
Con for m e dissem os n o in ício dest e ca pít u lo, a s m odifica ções a
cu r t o pr a zo n os pr eços dos pr odu t os pr im á r ios r eflet em pr in cipa lm en t e
a s a lt er a ções da dem a n da . Dessa for m a , esses pr eços ca em ba st a n t e
com a con t r a çã o da a t ivida de econ ôm ica e sobem ba st a n t e com su a
expa n sã o.
É sa bido qu e os pr eços da s m a t ér ia s-pr im a s sofr em flu t u a ções
cíclica s m a ior es d o qu e os n íveis sa la r ia is. As ca u sa s desse fen ôm en o
podem ser exp lica d a s da segu in t e for m a : m esm o com os sa lá r ios
m a n t idos con st a n t es, os pr eços da s m a t ér ia s-pr im a s ca ir ia m du r a n t e

45
OS ECON OMIS TAS

u m a depr essã o, devido à qu eda d a dem a n da “r ea l”. Or a , os cor t es


de sa lá r ios du r a n t e u m a depr essã o n u n ca pod em “a lca n ça r ” o pr eço
da s m a t ér ia s-pr im a s em su a qu eda , p or qu e os cor t es sa la r ia is por
su a vez p r ovoca m u m a qu ed a n a dem a n d a e por t a n t o u m a n ova
qu ed a n os pr eços dos pr odu t os pr im á r ios. Im a gin em os qu e os pr eços
da s m a t ér ia s-pr im a s ca ia m em 20% devido à dim in u içã o da d em a n da
r ea l. Im a gin em os a in d a qu e em segu ida a t a xa de sa lá r ios seja cor -
t a da t a m bém em 20%. A t eor ia da for m a çã o de pr eços d esen volvida
a cim a in dica qu e o n ível ger a l de pr eços ir á con seqü en t em en t e ca ir
t a m bém em cer ca de 20%. (O gr a u de m on opólio t en de a a u m en t a r
u m p ou co, m a s n ã o m u it o.) Ma s isso oca sion a r á u m a qu ed a cor r es-
pon den t e da s r en da s, d e dem a n d a , e, por t a n t o, dos pr eços da s m a -
t ér ia s-pr im a s.
Na t a bela 4, a ba ixo, é feit a u m a com pa r a çã o dos ín dices de pr eços
de m a t ér ia s-pr im a s e sa lá r ios/h or a n os E st a dos Un idos, n o per íodo de
1929/41. (Ver p. 47)
A r a zã o en t r e pr eços de m a t ér ia s-pr im a s e sa lá r ios/h or a m ost r a
u m a t en dên cia a decr escer a lon go pr a zo qu e em pa r t e r eflet e a eleva çã o
da pr odu t ivida de do t r a ba lh o. Isso, con t u do, n ã o escon de o pa dr ã o cíclico
qu e se a ch a m a n ifest o em pa r t icu la r n a qu eda m a r ca n t e ver ifica da
t a n t o n a depr essã o de 1929/33, com o n a de 1937/38.
F o rm a ç ã o d e p re ç o s d e p ro d u to s a c a ba d o s
De a cor do com a t eor ia a cim a , a for m a çã o de pr eços de pr odu t os
a ca ba dos r esu lt a da for m a çã o de pr eços em ca da et a pa da pr odu çã o,
com ba se n a fór m u la
__
_ m __ __
p = u.
1 – n

Da do u m gr a u de m on opólio, os pr eços a ca da et a pa sã o pr opor -


cion a is a os cu st os dir et os u n it á r ios. Na pr im eir a et a pa da pr odu çã o,
os cu st os dir et os con sist em de sa lá r ios e do cu st o de pr odu t os pr im á r ios.
Na et a pa segu in t e, os pr eços sã o for m a dos com ba se n os pr eços da
et a pa a n t er ior e n os sa lá r ios da et a pa a t u a l, e a ssim por dia n t e. É
fá cil de ver , por t a n t o, qu e, da do u m gr a u de m on opólio, os pr eços de
pr odu t os a ca ba dos sã o fu n ções lin ea r es h om ogên ea s dos pr eços da s
m a t ér ia s-pr im a s de u m la do e, de ou t r o, dos cu st os de m ã o-de-obr a
em t oda s a s et a pa s da pr odu çã o.
U m a vez qu e a s flu t u a ções dos sa lá r ios n o decu r so do ciclo
econ ôm ico sã o m u it o m en or es qu e a s dos p r eços da s m a t ér ia s-p r im a s
(ver t ópico a n t er ior ), con clu i-se qu e os pr eços dos pr odu t os a ca ba dos
t a m bém t en d em a flu t u a r bem m en os qu e os p r eços d a s m a t ér ia s-
pr im a s.

46
KALECKI

TABE LA 4. Ín d ices d e Preços d e M atérias-Prim as e d e S alários/ H ora


n os R am os M an u fatu reiro, d e M in eração, d e Con stru ção e Ferroviário
n os E stad os Un id os, 1929/ 41.

Qu a n t o à s difer en t es ca t egor ia s de pr eços de pr odu t os a ca ba dos,


su põe-se fr eqü en t em en t e qu e os pr eços dos ben s de ca pit a l du r a n t e
u m per íodo de depr essã o ca em m a is qu e os pr eços dos ben s de con su m o.
Den t r o da t eor ia a qu i expost a , con t u do, n ã o h á fu n da m en t o pa r a essa
su posiçã o. P ode-se a t é m esm o pr essu por u m a cer t a qu eda dos pr eços
de ben s de con su m o com r ela çã o a os pr eços dos ben s de ca pit a l. O
peso dos pr odu t os pr im á r ios, in clu sive pr odu t os a lim en t ícios, pr ova -
velm en t e ser á m a ior n o m on t a n t e dos ben s de con su m o qu e n o ca so
dos ben s de ca pit a l e os pr eços dos pr odu t os pr im á r ios ca em m a is qu e
os sa lá r ios du r a n t e a depr essã o.
Na t a bela 5 a pa r ecem os ín dices de pr eços de m a t ér ia s-pr im a s,
pr eços a o con su m idor (n o n ível de va r ejo) e pr eços de ben s a ca ba dos
de ca pit a l n os E st a dos Un idos n o per íodo de 1929 a 1941. Vê-se qu e
os pr eços da s m a t ér ia s-pr im a s a pr esen t a r a m u m a flu t u a çã o m u it o
m a ior qu e os pr eços de ben s de con su m o a ca ba dos ou ben s de ca pit a l
a ca ba dos.
A r a zã o en t r e os pr eços de ben s de ca pit a l e os pr eços de ben s
de con su m o dem on st r a u m a cla r a t en dên cia a scen den t e. Con t u do,
t r a n spa r ece da cu r va t em por a l dessa r ela çã o n o gr á fico 2 qu e h ou ve
u m a eleva çã o m a is pr on u n cia da du r a n t e a s con t r a ções de 1929/33 e

47
OS ECON OMIS TAS

TABE LA 5. Ín d ice d e Preços d e M atérias-Prim as, B en s d e Con su m o e


B en s d e Capital n os E stad os Un id os, 1929/ 41.

1Os ín dices de pr eços im plícit os n a defla çã o do con su m o e o in vest im en t o de ca pit a l fixo for a m
cla cu la dos a pa r t ir do Su plem en t o Sobr e a Ren da Na cion a l de Su r vey of Cu r r en t e Bu sin ess,
1951. F ica cla r o qu e esses ín dices sã o do t ipo de P a a sch e.

1937/38 24 qu e n o per íodo t om a n do com o u m t odo. P a r ece, por ou t r o


la do, qu e essa s flu t u a ções cíclica s da r a zã o en t r e os pr eços dos ben s
de ca pit a l e os pr eços dos ben s de con su m o, em bor a seja m n it ida m en t e
m a r ca da s, sã o ba st a n t e pequ en a s em t er m os de a m plit u de.

Gr á fi co 2. R elação en tre os preços d os ben s d e capital e os preços d os


ben s d e con su m o para os E stad os Un id os, 1929/ 41.

24 No ú lt im o ca so, con t u do, o fen ôm en o pa r ece t er sido exa ger a do por fa t or es específicos.

48
2

D is tribu iç ã o d a Re n d a N a c io n a l

Os d e te rm in a n te s d a p a rc e la re la tiv a d o s s a lá rio s n a re n d a

I r em os a gor a liga r a r a zã o en t r e r en dim en t os e cu st os dir et os


n u m r a m o da in dú st r ia , qu e est u da m os n o ca pít u lo a n t er ior , e a pa r cela
r ela t iva dos sa lá r ios n o va lor a gr ega do da qu ele r a m o da in dú st r ia . O
va lor a gr ega do, ist o é, o va lor dos pr odu t os m en os o cu st o da s m a t é-
r ia s-pr im a s, é igu a l à som a de sa lá r ios, cu st os in dir et os e lu cr os. Se
in dica r m os o t ot a l dos sa lá r ios por W, o t ot a l do cu st o da s m a t ér ia s-
pr im a s por M e a r a zã o en t r e o t ot a l dos r en dim en t os e o t ot a l dos
cu st os dir et os por k , t em os:

cu st os in dir et os + lu cros = (k – 1) (W + M )

on de a r a zã o en t r e r en dim en t os e cu st os dir et os k é det er m in a da , con -


for m e a cim a , pelo gr a u de m on opólio. A pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios
n o va lor a gr ega do de u m r a m o da in dú st r ia pode ser r epr esen t a da
com o
W
w = .
W + (k – 1) (W + M )

Se in dica r m os a r a zã o en t r e o m on t a n t e dos cu st os de m a t ér ia s-pr im a s


e o cu st o de m ã o-de-obr a por j, t er em os:
1
w = .
1 + (k – 1) (j + 1)

Con clu i-se qu e a pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios n o va lor a gr ega do é de-
t er m in a da pelo gr a u de m on opólio e pela r a zã o en t r e os cu st os de
m a t ér ia s-pr im a s e os cu st os de m ã o-de-obr a .

49
OS ECON OMIS TAS

P ode-se em pr ega r pa r a o r a m o m a n u fa t u r eir o da in dú st r ia com o


u m t odo u m a fór m u la sem elh a n t e à qu e foi est a belecida pa r a u m de-
t er m in a do r a m o de in dú st r ia . Con t u do, a qu i a r a zã o en t r e r en dim en t os
e cu st os dir et os e a r a zã o en t r e cu st o de m a t ér ia s-pr im a s e sa lá r ios
depen dem t a m bém da im por t â n cia dos vá r ios r a m os da in dú st r ia n o
set or m a n u fa t u r eir o t om a do com o u m t odo. A fim de sepa r a r esse ele-
m en t o, podem os pr oceder do segu in t e m odo: n a fór m u la (3), em lu ga r
de k , qu e é a r a zã o en t r e r en dim en t os e cu st os dir et os, e em lu ga r de
j, qu e é a r a zã o en t r e cu st os de m a t ér ia s-pr im a s e cu st os de m ã o-de-
obr a , coloca m os a s r a zões k′ e j′, a ju st a da s de for m a t a l qu e fica eli-
m in a do o efeit o de a lt er a ções da im por t â n cia dos diver sos r a m os da
in dú st r ia . Assim , obt em os:

1
w′ = (3′)
1 + (k′ − 1) (j′ + 1)

A pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios n o va lor a gr ega do, w ′, obt ida dessa
for m a , a pr esen t a r á u m desvio em com pa r a çã o com a pa r cela r ela t iva
r ea l dos sa lá r ios, w , n a m edida de u m a qu a n t ia qu e ser á devida a
m odifica ções n a com posiçã o in du st r ia l do va lor a gr ega do.
Dos pa r â m et r os da fór m u la (3′), k ′ é det er m in a do pelo gr a u de
m on opólio n os r a m os da in dú st r ia m a n u fa t u r eir a . O pr oblem a dos de-
t er m in a n t es de j′ é u m pou co m a is com plica do. Os pr eços da s m a t é-
r ia s-pr im a s sã o det er m in a dos pelos pr eços dos pr odu t os pr im á r ios, pelo
cu st o dos sa lá r ios n a s pr im eir a s et a pa s da pr odu çã o e pelo gr a u de
m on opólio pr esen t e n essa s et a pa s. Assim , grosso m od o, j′, qu e equ iva le
à r a zã o en t r e os cu st os de m a t ér ia s-pr im a s por u n ida de e os cu st os
de sa lá r ios por u n ida de, é det er m in a do pela r a zã o en t r e os pr eços dos
pr odu t os pr im á r ios e os cu st os dos sa lá r ios por u n ida de e t a m bém pelo
gr a u de m on opólio do r a m o.25 E m r esu m o: a pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios
n o va lor a gr ega do da in dú st r ia m a n u fa t u r eir a é det er m in a da , n ã o só
pela com posiçã o in du st r ia l do va lor a gr ega do, com o pelo gr a u de m o-
n opólio e pela r a zã o en t r e os pr eços da s m a t ér ia s-pr im a s e os cu st os
de sa lá r ios p or u n ida de. U m a eleva çã o do gr a u d e m on op ólio ou dos
pr eços da s m a t ér ia s-p r im a s com r ela çã o a os cu st os d e sa lá r ios por
u n id a de pr ovoca u m a qu ed a da pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios n o va lor
a gr ega do.
Cu m pr e lem br a r a esse r espeit o qu e, a o con t r á r io do qu e su cede
com os pr eços de pr odu t os a ca ba dos, os pr eços de m a t ér ia s-pr im a s sã o
“det er m in a dos pela dem a n da ”. A r a zã o en t r e os pr eços de m a t ér ia s-

25 E ssa gen er a liza çã o esqu em á t ica se ba seia em du a s su posições sim plifica dor a s: (a) qu e os
cu st os u n it á r ios de m a t er ia is se m odifica m pr opor cion a lm en t e a os pr eços dos m a t er ia is,
ist o é, a s m odifica ções ocor r ida s n a eficiên cia da u t iliza çã o dos m a t er ia is n ã o sã o leva da s
em con t a ; e (b) qu e os cu st os de sa lá r ios por u n ida de n a s pr im eir a s et a pa s da pr odu çã o
va r ia m pr opor cion a lm en t e a os cu st os de sa lá r ios por u n ida de n a s et a pa s m a is a va n ça da s.

50
KALECKI

pr im a s e os cu st os de sa lá r ios por u n ida de depen de da dem a n da de


m a t ér ia s-pr im a s (det er m in a da pelo n ível de a t ivida de econ ôm ica ) em
r ela çã o à su a ofer t a — qu e é in elá st ica a cu r t o pr a zo.
P odem os a gor a , u sa n do o m esm o en foqu e, volt a r -n os pa r a u m
gr u po de r a m os da in dú st r ia de â m bit o m a ior qu e a m a n u fa t u r eir a e
on de o pa dr ã o de for m a çã o de pr eços possa ser t ido com o sem elh a n t e,
a sa ber , o gr u po for m a do pela in dú st r ia m a n u fa t u r eir a , pela da con s-
t r u çã o civil, pela dos t r a n spor t es e pela dos ser viços. P a r a esse gr u po
com o u m t odo a pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios n o t ot a l do va lor a gr ega do
dim in u ir á em con seqü ên cia de u m a u m en t o do gr a u de m on opólio ou
de u m a u m en t o da r a zã o en t r e os pr eços dos pr odu t os pr im á r ios e os
cu st os de sa lá r ios por u n ida de. O r esu lt a do t a m bém ser á a fet a do, é
cla r o, por m odifica ções da com posiçã o in du st r ia l do va lor a gr ega do do
gr u po.
P ode-se a gor a dem on st r a r qu e esse t eor em a pode ser gen er a liza do
de for m a a cobr ir a pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios n a r en da br u t a n a cion a l
do set or pr iva do (ist o é, a r en da n a cion a l a n t es da depr ecia çã o e sem
in clu ir a r en da dos fu n cion á r ios do gover n o). Além dos set or es da eco-
n om ia m en cion a dos a cim a , t em os a in da qu e leva r em con sider a çã o a
a gr icu lt u r a e a m in er a çã o, a s com u n ica ções e em pr esa s de pr est a çã o
de ser viços a o pú blico (elet r icida de, gá s, t elefon e, esgot os et c.), o co-
m ér cio, a s em pr esa s im obiliá r ia s e do set or fin a n ceir o. Na a gr icu lt u r a
e n a m in er a çã o os pr odu t os sã o m a t ér ia s-pr im a s e a pa r cela r ela t iva
dos sa lá r ios n o va lor a gr ega do depen de pr in cipa lm en t e da r a zã o en t r e
os pr eços da s m a t ér ia s-pr im a s prod u zid as e seu cu st o de sa lá r ios por
u n ida de. Nos dem a is set or es, a pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios n o va lor
a gr ega do é in sign ifica n t e. Ver em os a ssim qu e, em t er m os ger a is, o
gr a u de m on opoliza çã o, a r a zã o en t r e os p r eços de m a t ér ia s-p r im a s
e cu st os d e sa lá r ios p or u n ida de e a com posiçã o in du st r ia l 26 sã o os
det er m in a n t es d a pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios n a r en d a br u t a do
set or pr iva do.

Mu d a n ç a s a lo n g o e a c u rto p ra zo n a d is tribu iç ã o d a re n d a

As m u da n ça s a lon go pr a zo n a pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios, qu er


n o va lor a gr ega do de u m gr u po in du st r ia l com o o set or m a n u fa t u r eir o
ou n a r en da br u t a de t odo o set or pr iva do, sã o, de a cor do com o qu e
foi vist o a cim a , det er m in a da s pela s t en dên cia s a lon go pr a zo do gr a u
de m on opoliza çã o e dos pr eços da s m a t ér ia s-pr im a s com r ela çã o a os
cu st os de sa lá r ios por u n ida de, bem com o da com posiçã o in du st r ia l. O
gr a u de m on opólio a pr esen t a u m a t en dên cia ger a l a a u m en t a r a lon go

26 Deve-se sa lien t a r qu e, por com posiçã o in du st r ia l, qu er em os dizer a com posiçã o do valor da


r en da br u t a do set or pr iva do. Assim , a s m odifica ções da com posiçã o depen dem n ã o só de
m odifica ções do volu m e dos com pon en t es in du st r ia is com o t a m bém do m ovim en t o r ela t ivo
dos pr eços r espect ivos.

51
OS ECON OMIS TAS

pr a zo e a ssim a depr im ir a pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios n a r en da ,


a pesa r de, com o vim os a cim a , essa t en dên cia ser m u it o m a is for t e em
a lgu n s per íodos qu e em ou t r os. É difícil, con t u do, gen er a liza r a r espeit o
da r ela çã o en t r e os pr eços de m a t ér ia s-pr im a s e os cu st os de sa lá r ios
por u n ida de (r ela çã o essa qu e depen de da s m u da n ça s a lon go pr a zo
da posiçã o da s m a t ér ia s-pr im a s n o qu e diz r espeit o à ofer t a e à pr ocu r a )
ou a r espeit o da com posiçã o in du st r ia l. Nen h u m a a fir m a çã o a priori
ser ia por t a n t o possível qu a n t o à s t en dên cia s a lon go pr a zo da pa r cela
r ela t iva dos sa lá r ios n a r en da . Com o ir em os ver n a pa r t e segu in t e, a
pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios n o va lor a gr ega do do set or m a n u fa t u r eir o
dos E st a dos Un idos declin ou con sider a velm en t e a pós 1880, en qu a n t o
n o Rein o Un ido27 os sa lá r ios m a n t iver a m su a pa r cela n a r en da n a cion a l
desde a déca da de 1880 a t é 1924, a pr esen t a n do a lt os e ba ixos a lon go
pr a zo n o decor r er do per íodo.
É possível dizer a lgo m a is específico qu a n t o a m u da n ça s n a pa r -
cela r ela t iva dos sa lá r ios n a r en da n o decu r so do ciclo econ ôm ico. Ve-
r ifica m os qu e o gr a u de m on opólio t en de a a u m en t a r u m pou co du r a n t e
a s depr essões (cf. p. 39). Nessa fa se, os pr eços da s m a t ér ia s-pr im a s
ca em com r ela çã o a os sa lá r ios (cf. p. 45). A pr im eir a in flu ên cia a pon t a da
t en de a r edu zir a pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios n a r en da , en qu a n t o a
segu n da t en de a a u m en t á -la . F in a lm en t e, a s m odifica ções da com po-
siçã o in du st r ia l du r a n t e u m a depr essã o a fet a m de m a n eir a a dver sa a
pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios. De fa t o, essa s m u da n ça s sã o dom in a da s
por u m a r edu çã o do in vest im en t o com r ela çã o à s ou t r a s a t ivida des e
a pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios n a r en da da s in dú st r ia s de ben s de
ca pit a l é em ger a l m a is eleva da qu e n a s ou t r a s in dú st r ia s. (E m co-
m u n ica ções, em pr esa s de pr est a çã o de ser viços a o pú blico, n o com ér cio,
em pr esa s im obiliá r ia s e do set or fin a n ceir o, pa r t icu la r m en t e, o pa ga -
m en t o de sa lá r ios é r ela t iva m en t e despr ovido de im por t â n cia .)
Os efeit os líqu idos da s m odifica ções desses t r ês fa t or es sobr e a
pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios n a r en da — o pr im eir o e o t er ceir o dos
qu a is sã o n ega t ivos, en qu a n t o o segu n do é posit ivo — pa r ecem ser
pequ en os. Assim , a pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios, qu er n o va lor a gr ega do
de u m gr u po in du st r ia l, qu er n a r en da br u t a do set or pr iva do com o
u m t odo, pa r ece n ã o a pr esen t a r flu t u a ções cíclica s sign ifica t iva s.
O qu e foi dit o a cim a pode ser dem on st r a do: (a) por u m a a n á lise
da s m u da n ça s a lon go pr a zo da pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios n o va lor
a gr ega do do set or m a n u fa t u r eir o dos E st a dos Un idos e n a r en da n a -
cion a l do Rein o Un ido; (b) por u m a a n á lise da s m u da n ça s n a pa r cela
r ela t iva dos sa lá r ios n o va lor a dicion a l do set or m a n u fa t u r eir o dos
E st a dos Un idos du r a n t e a Gr a n de Depr essã o; e (c) por u m a a n á lise
da s m u da n ça s du r a n t e o m esm o per íodo n a pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios
n a r en da n a cion a l dos E st a dos Un idos e do Rein o Un ido.

27 In gla t er r a , E scócia , P a ís de Ga les e Ir la n da do Nor t e. (N. do T.)

52
KALECKI

Mu d a n ç a s a lo n g o p ra zo n a p a rc e la re la tiv a d o s s a lá rio s n o
v a lo r a g re g a d o d o s e to r m a n u fa tu re iro d o s Es ta d o s U n id o s e
n a re n d a n a c io n a l d o Re in o U n id o
As m odifica ções a lon go pr a zo n a pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios
n o va lor a gr ega do do set or m a n u fa t u r eir o dos E st a dos Un idos sã o a n a -
lisa da s n a t a bela 6:

TABE LA 6. Parcela R elativa d os S alários n o Valor Agregad o n o S etor


M an u fatu reiro d os E stad os Un id os, 1879-1937.

F on t e: Un ited S tates Cen su of M an u factu res.

Na s du a s pr im eir a s colu n a s a pa r ecem k′ e j′, ist o é, a r a zã o


“a ju st a da ” en t r e r en dim en t os e cu st os dir et os e a r a zã o “a ju st a da ” en t r e
os cu st os de m a t ér ia s-pr im a s e cu st os de m ã o-de-obr a .28 A pa r t ir dessa s
du a s sér ies, t em os, m edia n t e o em pr ego da fór m u la (3′), w ′, a pa r cela
r ela t iva r ea l dos sa lá r ios n o va lor a gr ega do. F in a lm en t e, a pa r cela
r ela t iva r ea l dos sa lá r ios n o va lor a gr ega do a pa r ece n a ú lt im a colu n a .
As m odifica ções da difer en ça w – w ′ in dica m a in flu ên cia de m odifica -
ções n a com posiçã o in du st r ia l do va lor a gr ega do.

28 A r a zã o “a ju st a da ” en t r e r en dim en t os e cu st os dir et os, k ’, é a m esm a sér ie da t a bela 3,


a cim a . Qu a n t o a os va lor es or igin a is da r a zã o en t r e cu st os de m a t ér ia -pr im a e cu st os de
m ã o-de-obr a qu a n t o à descr içã o do cá lcu lo da sér ie j’ “a ju st a da ” da da n a t a bela 6, ver o
Apên dice E st a t íst ico, Not a s 2 e 3. Os a ju st es r ea liza dos em fu n çã o de m odifica ções n o
escopo e n os m ét odos do Cen so sã o descr it os a li.

53
OS ECON OMIS TAS

P a r ece qu e w , a pa r cela r ela t iva r ea l dos sa lá r ios n o va lor a gr e-


ga do, sofr eu u m a qu eda con sider á vel — em bor a n ã o con t ín u a — n o
decor r er do per íodo en foca do. E ssa qu eda r esu lt ou pr in cipa lm en t e do
a u m en t o da r a zã o “a ju st a da ” en t r e r en dim en t os e cu st os dir et os, w ′,
qu e n a n ossa in t er pr et a çã o r eflet e u m a u m en t o do gr a u de m on opoli-
za çã o. A r a zã o “a ju st a da ” en t r e os cu st os de m a t ér ia s-pr im a s e cu st os
de m ã o-de-obr a , j, t en deu a ca ir e n ã o a su bir , de m odo qu e em ger a l
a s m odifica ções sofr ida s por ela a m en iza r a m o declín io de w . F in a l-
m en t e os efeit os da s m odifica ções da com posiçã o in du st r ia l se der a m
n o sen t ido de r edu zir a pa r cela r ela t iva r ea l dos sa lá r ios n o va lor
a gr ega do w : de fa t o, ca iu m a is qu e o va lor a ju st a do w ′.
Nã o exist em da dos com r espeit o à pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios
n a r en da n a cion a l dos E st a dos Un idos du r a n t e u m per íodo de t em po
lon go. J á pa r a o Rein o Un ido, con t u do, t a is da dos se a ch a m dispon íveis.

TABE LA 7. Parcela R elativa d os S alários n a R en d a Prod u zid a In ter-


n am en te n o R ein o Un id o, 1881-1924.

F on t es: PR E S T . A. R . “N ation al In com e of th e Un ited Kin gd om ”. In : E con om ic J ou r n a l. M arço


d e 1948; E stim ativas n ão pu blicad as d a ren d a d e u ltram ar d o R ein o Un id o, com pilad as por F.
H ilgen d t; S tatist; B OWL E Y , A. L . Wa ges a n d In com e in t h e Un it ed Kin gdom Sin ce 1860. T abela
1, p. 6, ín d ice d a taxa salarial d e Wood s.

Na t a bela 7, a pa r ece a pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios n a r en da


n a cion a l pr odu zida in t er n a m en t e29 n o Rein o Un ido. Além disso, a t a bela

29 Ren da n a cion a l pr odu zida in t er n a m en t e é a r en da n a cion a l exclu sive a r en da pr oven ien t e


de in vest im en t os est r a n geir os, qu e é ir r eleva n t e pa r a o pr oblem a da dist r ibu içã o a qu i
con sider a do. Deve-se sa lien t a r qu e m esm o depois desse a ju st e os da dos n ã o cor r espon dem
com plet a m en t e a n ossos con ceit os por qu e se r ela cion a m com a r en da n a cion a l líqu ida
e n ã o com a br u t a , e por qu e a r en da n a cion a l in clu i a r en da dos em pr ega dos do Gover n o,
en qu a n t o n ós t r a t a m os a cim a com a pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios n a r en da do set or
pr iva do. Con t u do, pa r ece pr ová vel qu e esses fa t or es n ã o possa m a fet a r ser ia m en t e a t en -
dên cia da pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios n a r en da n a cion a l.

54
KALECKI

dá a r a zã o en t r e o ín dice de Sa u er beck dos pr eços n o a t a ca do e o


ín dice da t a xa sa la r ia l, o qu e pode ser t om a do com o u m in dica dor
a pr oxim a do da s m odifica ções n a r a zã o en t r e pr eços de m a t ér ia s-pr im a s
e cu st os de sa lá r ios por u n ida de. Apesa r de o ín dice de Sa u er beck ser
u m ín dice ger a l de pr eços de a t a ca do, ba seia -se pr in cipa lm en t e n os
pr eços de m a t ér ia s-pr im a s e sem im a n u fa t u r a dos. É ver da de qu e o ín -
dice da t a xa de sa lá r ios se eleva m a is r a pida m en t e (ou ca i m a is len -
t a m en t e) qu e o ín dice de cu st os de sa lá r ios, devido à eleva çã o secu la r
da pr odu t ivida de, de m odo qu e u m a t en dên cia decr escen t e se a ch a
pr esen t e em n osso in dica dor da r a zã o en t r e os pr eços da s m a t ér ia s-
pr im a s e os cu st os de sa lá r ios por u n ida de. E ssa t en dên cia , con t u do,
t em u m a pr open sã o a ser len t a , m or m en t e por qu e o ín dice da t a xa de
sa lá r ios se ba seia pa r cia lm en t e em t a xa s de sa lá r ios por pr odu çã o.
P or t a n t o, é m u it o pr ová vel qu e a r a zã o en t r e os pr eços de m a t ér ia s-
pr im a s e cu st os de sa lá r ios t en h a ca ído de 1881/85 a 1891/95, com o
a con t eceu com o in dica dor . Cer t a m en t e a u m en t ou de 1896-1913; e ca iu
de n ovo de 1911/13 a 1924.
O m ovim en t o da pa r cela r ela t iva da r em u n er a çã o do fa t or t r a -
ba lh o n a r en da n a cion a l pode ser in t er pr et a do de for m a pla u sível do
segu in t e m odo: em bor a t en h a h a vido u m a eleva çã o a lon go pr a zo do
gr a u de m on opoliza çã o, su a in flu ên cia foi em gr a n de pa r t e con t r a ba -
la n ça da pela qu eda da r a zã o en t r e os pr eços da s m a t ér ia s-pr im a s e
os cu st os de sa lá r ios por u n ida de de 1881/85 a 1891/95. A in flu ên cia
do gr a u de m on opólio foi r efor ça da pela eleva çã o da r a zã o en t r e os
pr eços da s m a t ér ia s-pr im a s e os cu st os de sa lá r ios por u n ida de n o
per íodo de 1896-1900 a 1911/13, e fin a lm en t e m a is qu e con t r a ba la n ça da
por u m a qu eda n essa r a zã o de 1911/13 a 1924. Assim , o fa t o de qu e
a pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios n a r en da n a cion a l em 1924 foi a m esm a
qu e t in h a sido n o per íodo 1881/85, r esu lt a r ia , segu n do essa in t er pr e-
t a çã o, do equ ilíbr io a ciden t a l da in flu ên cia de m u da n ça s n o gr a u de
m on opólio e m u da n ça s n a r a zã o en t r e os pr eços da s m a t ér ia s-pr im a s
e os cu st os de sa lá r ios por u n ida de. In felizm en t e, essa in t er pr et a çã o
n ã o pode ser t om a da com o defin it iva , devido à possibilida de da in -
flu ên cia de m odifica ções da com posiçã o in du st r ia l da r en da n a cion a l.
Mu d a n ç a s n a p a rc e la re la tiv a d o s s a lá rio s n o v a lo r a g re g a d o
d o s e to r m a n u fa tu re iro d o s Es ta d o s U n id o s d u ra n te a
Gra n d e D e p re s s ã o

A t a bela 8 a pr esen t a u m a a n á lise da s m u da n ça s da pa r cela r e-


la t iva dos sa lá r ios n o va lor a gr ega do do set or m a n u fa t u r eir o dos E s-
t a dos Un idos du r a n t e a Gr a n de Depr essã o, fu n da da n o m esm o m ét odo
em pr ega do pa r a a a n á lise da s m odifica ções a lon go pr a zo. (Cf. t a bela
6.) A t a bela a pr esen t a a r a zã o “a ju st a da ” en t r e r en dim en t os e cu st os
dir et os k ′, bem com o a r a zã o “a ju st a da ” en t r e os cu st os de m a t ér ia s-
pr im a s e os cu st os de m ã o-de-obr a j′.
A pa r t ir de k ′ e j′ ca lcu la m os w ′ — a pa r cela r ela t iva “a ju st a da ”

55
OS ECON OMIS TAS

dos sa lá r ios n o va lor a gr ega do — em pr ega n do a fór m u la (3′). F in a l-


m en t e a pa r ece a pa r cela r ela t iva r ea l dos sa lá r ios n o va lor a gr ega do,
w . As m odifica ções da difer en ça w − w ′ r eflet em o efeit o da s m u da n ça s
da com posiçã o in du st r ia l.
Se a bst r a ir m os pr ovisor ia m en t e a in flu ên cia da s m odifica ções da
com posiçã o in du st r ia l, leva n do em con t a a ssim só k ′, j′ e w ′, t em os o
segu in t e: de 1929 a 1933 a r a zã o en t r e os r en dim en t os e os cu st os
dir et os, k ′, a u m en t a , r eflet in do a eleva çã o do gr a u de m on opólio du r a n t e
a depr essã o (cf. p. 45).
Con t u do, a o m esm o t em po, a r a zã o en t r e os cu st os de m a t ér ia s-
pr im a s e cu st os de m ã o-de-obr a declin a , devido à qu eda , t ípica da fa se
de depr essã o, dos pr eços da s m a t ér ia s-pr im a s com r ela çã o a os sa lá r ios.
A in flu ên cia desses dois fa t or es sobr e a pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios
n o va lor a gr ega d o, w ′, se m a n ifest a em d ir eções opost a s. Com o w ′
per m a n eceu est á vel de 1929 a 1933, pa r ece qu e esses dois fa t or es
m a n t iver a m -se em equ ilíbr io. De 1933 a 1937, a pa r cela r ela t iva
“a ju st a da ” d os sa lá r ios n o va lor a gr ega do, w ′, a u m en t ou , d evid o à
qu ed a da r a zã o “a ju st a da ” en t r e os r en dim en t os e os cu st os dir et os,
k ′, qu e n ão foi con tra bala n ça d a pela elevação d a razão “a ju stad a ”
en tre os cu stos d e m atéria s-prim a s e os cu stos d e m ão-d e-obra, j′.
E st a sit u a çã o r eflet e a r edu çã o r ela t iva m en t e gr a n de n o gr a u de
m on op ólio n a fa se d e r ecu per a çã o, r esu lt a n t e do a cr éscim o d e poder io

TABE LA 8. Parcela R elativa d os S alários n o valor Agregad o d o S etor


M an u fatu reiro d os E stad os Un id os, 1929/ 37.

dos sin dica t os. A t en dên cia a lon go pr a zo dos pr eços da s m a t ér ia s-pr i-
m a s n o sen t ido de decr escer com r ela çã o a os cu st os dos sa lá r ios, qu e
se r eflet e n o fa t o de qu e j′ n ã o r ecobr ou em 1937 seu n ível de 1929,
foi u m dos fa t or es qu e con t r ibu ír a m pa r a isso.

56
KALECKI

Qu a n t o à difer en ça en t r e a p a r cela r ela t iva r ea l e “a ju st a da ”


dos sa lá r ios n o va lor a gr ega do, w — w ′, p a r ece qu e ca iu n a depr essã o
(w ca iu u m pou co de 1929 a 1933, en qu a n t o w ′ p er m a n eceu m a is
ou m en os est á vel; d e 1933 a 1937 w a u m en t ou pou co m a is qu e w ′).
Isso se deve pr in cipa lm en t e a u m m a ior declín io n a pr odu çã o de
ben s de ca pit a l, d o qu e n a pr odu çã o do set or m a n u fa t u r eir o com o
u m t odo du r a n t e a depr essã o. De fa t o, a pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios
n o va lor a gr ega do é m a is eleva d a pa r a esses p r od u t os qu e p a r a os
ben s m a n u fa t u r a dos com o u m t odo e a ssim a r edu çã o da im p or t â n cia
da pr odu çã o dos ben s de ca p it a l d u r a n t e a dep r essã o t en de a r edu zir
a pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios n o va lor a gr ega d o do set or m a n u fa -
t u r eir o com o u m t odo.
Ser ia de a lgu m in t er esse est a belecer o peso dos t r ês fa t or es
con sider a dos a cim a n a det er m in a çã o do m ovim en t o da pa r cela r e-
la t iva dos sa lá r ios n o va lor a gr ega do n o decor r er do ciclo. P a r a esse
fim , podem os ca lcu la r a pa r t ir da fór m u la (3′) qu a l ser ia o va lor de
w ′ em 1933, ca so se a lt er a sse a p en a s a r a zã o en t r e os r en d im en t os
e os cu st os dir et os, en qu a n t o a r a zã o en t r e cu st os de m a t ér ia s-p r im a s
e cu st os d e m ã o-de-obr a per m a n ecesse n o n ível de 1929. O r esu lt a do
é 34,6%. E sse va lor , ju n t a m en t e com o de w de 1929 e de 1933 e
com o de w ′ em 1933 (cf. t a bela 8), n os per m it e con st r u ir a t a bela
9. (ver p . 58).
A difer en ça en t r e a segu n da colu n a e a pr im eir a n os dá o efeit o
da m odifica çã o da r a zã o en t r e os r en dim en t os e os cu st os dir et os; a
difer en ça en t r e a t er ceir a e a segu n da colu n a , o efeit o da m odifica çã o
n a r a zã o en t r e cu st os de m a t ér ia s-pr im a s e cu st os de m ã o-de-obr a ; e
a difer en ça en t r e a qu a r t a e a t er ceir a , o efeit o da m odifica çã o n a
com posiçã o in du st r ia l.
Ver em os qu e os efeit os dos t r ês fa t or es con sider a dos sã o r ela t i-
va m en t e pequ en os. Assim , o seu sa ldo t a m bém é pequ en o e isso explica
a est a bilida de a pr oxim a da da pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios n o va lor
a gr ega do du r a n t e a depr essã o.

57
OS ECON OMIS TAS

TABE LA 9. An álise d as Alterações d a Parcela R elativa d os S alários


n o Valor Agregad o d o S etor M an u fatu reiro d os E stad os Un id os,
1929/ 33.

Mo d ific a ç õ e s n a p a rc e la re la tiv a d o s s a lá rio s n a re n d a


n a c io n a l n o s Es ta d o s U n id o s e n o Re in o U n id o d u ra n te
a Gra n d e D e p re s s ã o

In felizm en t e, n ã o exist em da dos exa t os sobr e o a ssu n t o, qu a n t o


a os E st a dos Un idos, já qu e a s est a t íst ica s da r en da n a cion a l n ã o fa zem
sepa r a çã o en t r e sa lá r ios e or den a dos. É possível, con t u do, for m a r u m a
idéia a pr oxim a da da s m odifica ções n a pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios n a
r en da do set or pr iva do pa r a o per íodo 1929/37. Os da dos sobr e os sa -
lá r ios do set or m a n u fa t u r eir o da in dú st r ia exist em .30 Con for m e foi m en -
cion a do a cim a , os sa lá r ios pa gos sã o in sign ifica n t es em a lgu n s gr u pos
in du st r ia is, a sa ber , n o com ér cio (os ba lcon ist a s sã o cla ssifica dos com o
fu n cion á r ios qu e r ecebem or den a dos), n o set or fin a n ceir o e n o im obi-
liá r io, n o de com u n ica ções e n o de em pr esa s de pr est a çã o de ser viços
a o pú blico. Qu a n t o à s in dú st r ia s r est a n t es, ist o é, a da a gr icu lt u r a ,
da m in er a çã o, da con st r u çã o civil, do t r a n spor t e e a de ser viços, só se
dispõe de da dos en globa n do sa lá r ios e or den a dos. Se ca lcu la r m os u m
ín dice pon der a do dos sa lá r ios do set or m a n u fa t u r eir o de u m la do e
dos sa lá r ios e or den a dos da a gr icu lt u r a , da m in er a çã o, da con st r u çã o,
do t r a n spor t e e de ser viços do ou t r o, obt er em os u m a a pr oxim a çã o do
ín dice do t ot a l dos sa lá r ios. (De fa t o, os sa lá r ios n o set or m a n u fa t u r eir o
con st it u em cer ca da m et a de do t ot a l dos sa lá r ios, en qu a n t o os or den a dos
dos dem a is r a m os da in dú st r ia qu e est a m os con sider a n do se m a n t êm
em cer t a m edida pa r a lelos a os sa lá r ios.) P r ossegu im os dividin do esse

30 E xist em a s sér ies r efer en t es à s folh a s de pa ga m en t o de t odos os a n os e est ã o de a cor do


com o Cen so d os Fabrican tes n o qu e diz r espeit o a os a n os qu e for a m objet o do Cen so.

58
KALECKI

ín dice pelo da r en da br u t a do set or pr iva do e desse m odo obt em os u m


ín dice a pr oxim a do da pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios n essa r en da .
E ssa sér ie dem on st r a u m a len t a t en dên cia a scen den t e, a lon go
pr a zo, qu e pode ser a t r ibu ída pr in cipa lm en t e a u m a qu eda n o gr a u
de m on opólio r esu lt a n t e do for t a lecim en t o dos sin dica t os depois de
1933 e em a lgu m a m edida a u m declín io dos pr eços de m a t ér ia s-pr im a s
com r ela çã o a os cu st os dos sa lá r ios. As flu t u a ções cíclica s sã o obvia -
m en t e pequ en a s. (Se os or den a dos n a a gr icu lt u r a , n a m in er a çã o, n a
con st r u çã o civil, n os t r a n spor t es e n os ser viços fossem elim in a dos, o
ín dice ser ia ligeir a m en t e m a is ba ixo du r a n t e a depr essã o, por qu e os
or den a dos em ger a l ca em ligeir a m en t e m en os qu e os sa lá r ios; m a s
t a m bém n ã o h á dú vida de qu e a s flu t u a ções cíclica s per m a n ecer ia m
pequ en a s.) E sse r esu lt a do é ext r em a m en t e pr ová vel devido à in t er a çã o
dos m esm os fa t or es qu e em er gir a m da a n á lise da pa r cela r ela t iva dos
sa lá r ios n o va lor a gr ega do da s in dú st r ia s do r a m o m a n u fa t u r eir o.

TABE LA 10. Ín d ice Aproxim ad o d a Parcela R elativa d os S alários n a


R en d a B ru ta d o S etor Privad o d os E stad os Un id os, 1929/ 37.

F on t es: Un ited S tates Cen su s of M an u factu res; Departam en to d e Com ério d os E stad os Un id os.
Su plem en t o Sobr e a Ren da Na cion a l de Su r vey of Cu r r en t Bu sin ess, 1951. Para m ais d etalh es,
ver o Apên d ice E státistico, N ota 4.

Durante a depressão houve provavelmente uma elevação do grau de


monopolização nas indústrias “que pagam salários”, mas uma queda nos
preços das matérias-primas com relação aos salários. As modificações na
composição industrial do setor privado durante a depressão tenderam a
reduzir a parcela relativa dos salários. De fato, houve um deslocamento
relativo na distribuição da renda nacional, das indústrias “qu e pa ga m

59
OS ECON OMIS TAS

salários” para os outros ram os: e também no interior do grupo “que paga
salários”, dos ram os com um a parcela relativa m ais elevada para os com
uma parcela relativa de salários m ais baixa na renda bruta. Esses des-
locamentos deveram -se mormente à redução — relativamente maior du-
rante a depressão — do investimento. Assim , da m esm a form a que nos
setores m anufatureiros da indústria, o efeito adverso da elevação do grau
de monopólio e da m udança da com posição industrial durante a depressão
parece ter sido aproximadam ente contrabalançado pela influência da que-
da dos preços das matérias-prim as com relação aos salários.
P odem os a gor a con sider a r a r ela çã o en t r e sa lá r ios e r en da n a -
cion a l pr odu zida in t er n a m en t e n o Rein o Un ido n o per íodo de 1929/38.31
E xist em du a s sér ies de r en da n a cion a l pa r a o per íodo em qu est ã o:
u m a est im a da pelo P r ofessor A. L. Bowley e ou t r a por J . R. S. St on e.
Con t u do, exist e a pen a s a est im a t iva de Bowley pa r a os sa lá r ios. F e-
lizm en t e, con t u do, os ín dices de a m ba s a s ver sões da r en da n a cion a l
sã o em ger a l ba st a n t e sem elh a n t es pa r a o per íodo em qu est ã o, a pesa r
de seu s va lor es a bsolu t os diver gir em .
A t a bela 11 dá ín dices da s r a zões en t r e os sa lá r ios (est im a t iva
de Bowley) e a s du a s va r ia n t es da r en da n a cion a l. P ode-se ver qu e a s
du a s sér ies n ã o a pr esen t a m flu t u a ções cíclica s m a r ca n t es.

TABE LA 11. Ín d ices d a Parcela R elativa d os S alários n a R en d a N a -


cion al n o R ein o Un id o. 1929/ 38.

F on t es: B OWL E Y , A.L . St u dies in t h e Na t ion a l In com e; PR E S T , A. R . “N ation al In com e of th e


Un ited Kin gd om ”. In : E con om ic J ou r n a l. M arço d e 1948; Boa r d of Tr a de J ou r n a l.

31 Con for m e foi dit o a cim a (ver n ot a 29), a sér ie de r en da n a cion a l pr odu zida in t er n a m en t e
n o Rein o Un ido n ã o cor r espon de exa t a m en t e a o con ceit o de r en da br u t a do set or pr iva do
u sa do por n ós, u m a vez qu e a r en da n a cion a l se en t en de depois da depr ecia çã o e n ela se
in clu em os or den a dos de fu n cion á r ios do Gover n o. P a r ece, con t u do, qu e n o per íodo con si-
der a do a s m odifica ções n a pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios n a r en da n a cion a l a ssim defin ida
sã o in dica t iva s de m u da n ça s cor r espon den t es a o n osso con ceit o.

60
KALECKI

Mu d a n ç a s c íc lic a s n a p a rc e la re la tiv a d o s s a lá rio s e


o rd e n a d o s n a re n d a bru ta d o s e to r p riv a d o
Tr a t a m os a t é a gor a som en t e de m u da n ça s n a pa r cela r ela t iva
dos sa lá r ios n o t ot a l da r en da . Tr a t a r em os a gor a r a pida m en t e do pr o-
blem a da pa r cela r ela t iva da r em u n er a çã o do fa t or t r a ba lh o com o u m
t odo n a r en da br u t a do set or pr iva do, leva n do em con sider a çã o n ã o só
os sa lá r ios, m a s t a m bém os or den a dos. A a plica çã o da t eor ia da dis-
t r ibu içã o de r en da à a n á lise da s m odifica ções a lon go pr a zo da pa r cela
r ela t iva dos sa lá r ios e or den a dos n a r en da ser ia difícil devido à cr es-
cen t e im por t â n cia dos or den a dos n a som a de cu st os in dir et os e lu cr os,
m ot iva da pela cr escen t e con cen t r a çã o econ ôm ica . Con t u do, podem -se
exa m in a r a s flu t u a ções cíclica s n a pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios e or -
den a dos n a r en da br u t a do set or pr iva do, qu e sã o de ba st a n t e in t er esse.
Vim os a cim a qu e a pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios n a r en da br u t a
do set or pr iva do t en de a ser r a zoa velm en t e est á vel n o decu r so do ciclo.
O m esm o n ã o é de se esper a r , con t u do, qu a n t o à pa r cela r ela t iva dos
sa lá r ios e or den a dos em con ju n t o. Os or den a dos, por con st it u ír em cu s-
t os in dir et os, t en dem a ca ir m en os du r a n t e a depr essã o e a eleva r -se
menos
m a is du r a n t e a fa se de pr osper ida de do qu e os sa lá r ios. Assim , pode-se
esper a r qu e sa lá r ios e or den a dos “r ea is” V flu t u em m en os n o decu r so
do ciclo do qu e a r en da br u t a “r ea l” do set or pr iva do, Y . 32 Con seqü en -
t em en t e, podem os escr ever :
V = αY + B

on de B é u m va lor posit ivo con st a n t e a cu r t o pr a zo, em bor a su jeit o a


m odifica ções a lon go pr a zo. O coeficien t e α é m en or do qu e 1 por qu e
V < Y e B > 0. Se a gor a dividir m os os dois t er m os dessa equ a çã o pela
r en da “r ea l” Y , obt er em os
V B
= α + (4)
Y Y
V
on de é a pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios e or den a dos n a r en da br u t a
Y
V
do set or pr iva do. a u m en t a , é cla r o, qu a n do a r en da “r ea l” Y declin a .
Y
P odem os n ot a r qu e a equ a çã o (4) a pr esen t a u m elo n a t eor ia do ciclo
econ ôm ico desen volvida a dia n t e.
Aplica r em os a gor a a equ a çã o (4) a os da dos dos E st a dos Un idos
pa r a o per íodo 1929/41. A pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios e or den a dos 33
n a r en da br u t a do set or pr iva do e o va lor dessa r en da a os pr eços de

32 Im a gin a m os qu e t a n t o sa lá r ios e or den a dos com o r en da br u t a do set or pr iva do seja m de-


fla cion a dos pelo m esm o ín dice de pr eço.
33 Deve-se sa lientar que nos or denados se encontra m incluídos ordena dos dos executivos que
ocupam ca rgos ma is elevados nas em presa s e que se a cha m ma is per to, por tanto, dos lucros.

61
OS ECON OMIS TAS

1939 a pa r ecem n a t a bela 12.34 De a cor do com a equ a çã o (4), cor r ela -
cion a m os a pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios e or den a dos n a r en da V com
Y
1
a r ecípr oca da r en da “r ea l” e t a m bém com o t em po t, a fim de in -
Y
cor por a r à a n á lise u m a possível t en dên cia secu la r . (t é con t a do em
a n os a pa r t ir de 1935, qu e é o pon t o m édio do per íodo con sider a do.)
Obt em os a segu in t e equ a çã o de r egr essã o:
V 707
⋅ 100 = 42,5 + + 0,11 t .
Y Y
V
O coeficien t e de cor r ela çã o du pla é 0,926. O va lor de ca lcu la do a
Y
pa r t ir da equ a çã o de r egr essã o t a m bém a pa r ece n a t a bela 12. A t en -
dên cia posit iva pr ova velm en t e r eflet e a in flu ên cia da qu eda do gr a u
de m on opoliza çã o e dos pr eços de m a t ér ia s-pr im a s com r ela çã o a os
cu st os de sa lá r ios por u n ida de.

TABE LA 12. Parcela R elativa d os S alários e Ord en ad os n a R en d a


B ru ta d o S etor Privad o d os E stad os Un id os, 1929/ 41.

34 Com o defla t or foi em pr ega do o ín dice im plícit o n a defla çã o do pr odu t o br u t o r ea l do set or


pr iva do pelo Depa r t a m en t o do Com ér cio dos E st a dos Un idos. P a r a m a ior es det a lh es, ver
o Apên dice E st a t íst ico, Not a s 5 e 6.

62
P ARTE S EGU N D A

A D e te rm in a ç ã o d o s Lu c ro s e d a
Re n d a N a c io n a l
3

Os D e te rm in a n te s d o s Lu c ro s

A te o ria d o s lu c ro s e m u m m o d e lo s im p lific a d o 35
P odem os con sider a r em pr im eir o lu ga r os det er m in a n t es dos lu -
cr os em u m m odelo fech a do, n o qu a l t a n t o os ga st os do set or pú blico
com o a t r ibu t a çã o seja m despr ezíveis. O pr odu t o n a cion a l br u t o, por -
t a n t o, ser á igu a l à som a do in vest im en t o br u t o (em ca pit a l fixo e es-
t oqu es) e o con su m o. O va lor do pr odu t o n a cion a l br u t o ser á dividido
en t r e t r a ba lh a dor es e ca pit a list a s e n a da , pr a t ica m en t e, ser á pa go com o
im post os. A r en da dos t r a ba lh a dor es con sist e em sa lá r ios e em or de-
n a dos. A r en da dos ca pit a list a s (ou lu cr os br u t os) en globa a depr ecia çã o
e lu cr os n ã o dist r ibu ídos, dividen dos e sa qu es n ã o oper a cion a is, a lu -
gu éis e ju r os. Tem os a ssim o segu in t e ba la n ço do pr odu t o n a cion a l
br u t o, n o qu a l fa zem os a dist in çã o en t r e o con su m o dos ca pit a list a s e
o con su m o dos t r a ba lh a dor es:

Lu cr os br u t os In vest im en t o br u t o
Sa lá r ios e Or den a dos Con su m o dos Ca pit a list a s
Con su m o dos Tr a ba lh a dor es
P ro d u to N a c io n a l B ru to P ro d u to N a c io n a l B ru to

Se su pu ser m os a in da qu e os t r a ba lh a dor es n ã o fa zem pou pa n ça ,


o con su m o dos t r a ba lh a dor es ser á en t ã o igu a l à su a r en da . Da í se
con clu i dir et a m en t e en t ã o qu e

Lu cr os br u t os = In vest im en t o br u t o + con su m o dos ca pit a list a s

35 A t eor ia dos lu cr os a qu i expost a foi desen volvida já em 1935 em m eu “E ssa i d’u n e Th éor ie
de Mou vem en t Cycliqu e des Affa ir es”. In : R evu e d ’E con om ie Politiqu e. Ma r ço-a br il de 1935;
e em m eu “A Ma cr odyn a m ic Th eor y of Bu sin ess Cycles”. In : E con om etrica. J u lh o de 1935.

65
OS ECON OMIS TAS

O qu e sign ifica essa equ a çã o? Qu er dizer qu e os lu cr os em u m


da do per íodo det er m in a m o con su m o e o in vest im en t o dos ca pit a list a s?
Ou o con t r á r io? A r espost a depen de de qu a l dos it en s est iver dir et a -
m en t e su jeit o à s decisões dos ca pit a list a s. Or a , é cla r o qu e os ca pit a -
list a s podem decidir con su m ir e in vest ir m a is n u m da do per íodo qu e
n o pr oceden t e, m a s n ã o podem decidir ga n h a r m a is. P or t a n t o, sã o su a s
decisões qu a n t o a in vest im en t o e con su m o qu e det er m in a m os lu cr os
e n ã o vice-ver sa .
Se tomarm os um período curto, podem os dizer que o investimento
e o consumo dos capitalistas são determinados por decisões que tom aram
form a no passado. É que leva um certo tempo para se pôr em prática
um investim ento e é somente com uma certa demora que o consum o dos
capitalistas responde a mudanças nos fatores que o influenciam .
Se os ca pit a list a s sem pr e decidissem con su m ir ou in vest ir n u m
da do per íodo o qu e ga n h a r a m n o per íodo a n t er ior , os lu cr os desse pe-
r íodo da do ser ia m igu a is a os do a n t er ior . Nu m ca so desses, os lu cr os
per m a n ecer ia m est a cion á r ios e o pr oblem a da in t er pr et a çã o da equ a çã o
a cim a per der ia su a im por t â n cia . Ma s n ã o é isso qu e a con t ece. Apesa r
de os lu cr os do per íodo a n t er ior ser em u m dos det er m in a n t es im por -
t a n t es do con su m o e do in vest im en t o dos ca pit a list a s, os ca pit a list a s
em ger a l n ão decidem con su m ir e in vest ir n u m da do per íodo pr ecisa -
m en t e o qu e ga n h a r a m n o a n t er ior . Isso explica por qu e os lu cr os n ão
per m a n ecem est a cion á r ios, m a s flu t u a m com o t em po.
A a r gu m en t a çã o a cim a n ecessit a ser m a t iza da u m pou co. As de-
cisões com ba se n o in vest im en t o pa ssa do podem n ã o det er m in a r com -
plet a m en t e o volu m e de in vest im en t o em u m da do per íodo, devido a
u m a in esper a da a cu m u la çã o ou esgot a m en t o de est oqu es. A im por t â n -
cia desse fa t or , con t u do, pa r ece t er sido m u it a s vezes exa ger a da .
H á a in da qu e con sider a r o fa t o de qu e a s decisões qu a n t o a con -
su m o e in vest im en t o em ger a l sã o t om a da s em t er m os r ea is e en t r e-
m en t es os pr eços podem m u da r . P or exem plo, u m a peça de equ ipa m en t o
en com en da da pode cu st a r m a is ca r o a gor a qu e qu a n do foi em it ido o
pedido. P a r a su per a r essa dificu lda de, su pon h a m os qu e os dois m em -
br os da equ a çã o seja m ca lcu la dos a pr eços con st a n t es.
P odem os a gor a con clu ir qu e os lu cr os br u t os r ea is em u m da do
per íodo cu r t o de t em po sã o det er m in a dos por decisões dos ca pit a list a s,
com r espeit o a seu con su m o e in vest im en t o, t om a da s n o pa ssa do e
su jeit a s a cor r eções dia n t e de m odifica ções in esper a da s n o volu m e dos
est oqu es.
Ser ia ú t il, pa r a a com pr een sã o dos pr oblem a s coloca dos, a pr e-
sen t a r a s coisa s de u m â n gu lo u m pou co difer en t e. Im a gin em os qu e,
segu in do os “esqu em a s de r epr odu çã o” m a r xist a s, su bdividim os t oda
a econ om ia em t r ês depa r t a m en t os: o Depa r t a m en t o I, qu e pr odu z
ben s de ca pit a l; o Depa r t a m en t o II, qu e pr odu z ben s de con su m o pa r a
os ca pit a list a s; e o Depa r t a m en t o III, qu e pr odu z ben s de con su m o

66
KALECKI

pa r a os t r a ba lh a dor es. Os ca pit a list a s do Depa r t a m en t o III, depois de


t er em ven dido a os t r a ba lh a dor es a qu a n t ia de ben s de con su m o cor -
r espon den t e a seu s sa lá r ios, a in da t er ã o u m exceden t e de ben s de
con su m o equ iva len t e a seu s lu cr os. E sses ben s ser ã o ven didos a os t r a -
ba lh a dor es do Depa r t a m en t o I e do Depa r t a m en t o II, e, com o os t r a -
ba lh a dor es n ã o pou pa m , isso a bsor ver á t oda a su a r en da . Assim , o
t ot a l dos lu cr os ser á igu a l à som a dos lu cr os do Depa r t a m en t o I, m a is
os lu cr os do Depa r t a m en t o II e os sa lá r ios desses dois Depa r t a m en t os:
ou en t ã o, o t ot a l dos lu cr os ser á igu a l a o va lor da pr odu çã o desses
dois Depa r t a m en t os — em ou t r a s pa la vr a s, a o va lor da pr odu çã o de
ben s de ca pit a l e de con su m o pa r a os ca pit a list a s.
A pr odu çã o do Depa r t a m en t o I e do Depa r t a m en t o II t a m bém
ir á det er m in a r a pr odu çã o do Depa r t a m en t o III, se a dist r ibu içã o en t r e
lu cr os e sa lá r ios em t odos os Depa r t a m en t os for fixa . A pr odu çã o do
Depa r t a m en t o III se desloca r á pa r a cim a a t é o pon t o em qu e os lu cr os
a u fer idos a pa r t ir dessa pr odu çã o for em igu a is a os sa lá r ios dos De-
pa r t a m en t os I e II. Em outras palavras, o em prego e a produção do
Departam ento III se deslocarão para cim a até o ponto onde o excedente
dessa produção sobre o que os trabalhadores desse Departamento com pram
com seus salários for igual aos salários dos Departam entos I e II.
O qu e foi dit o a cim a escla r ece o pa pel dos “fa t or es de dist r ibu içã o”,
ist o é, os fa t or es qu e det er m in a m a dist r ibu içã o da r en da (com o o gr a u
de m on opólio) n a t eor ia dos lu cr os. Da do qu e os lu cr os sã o det er m in a dos
pelo con su m o e in vest im en t o dos ca pit a list a s, é a r en da dos t r a ba lh a -
dor es (igu a l a qu i a o con su m o dos t r a ba lh a dor es) qu e é det er m in a da
pelos “fa t or es de dist r ibu içã o”. Dessa for m a , o con su m o e o in vest im en t o
dos ca pit a list a s, em con ju n t o com os “fa t or es de dist r ibu içã o”, det er -
m in a m o con su m o dos t r a ba lh a dor es e, con seqü en t em en t e, a pr odu çã o
e o em pr ego em esca la n a cion a l. A pr odu çã o n a cion a l se desloca r á pa r a
cim a a t é o pon t o em qu e os lu cr os dela a u fer idos de a cor do com os
“fa t or es de dist r ibu içã o” for em igu a is à som a do con su m o e do in ves-
t im en t o dos ca pit a list a s.36

O c a s o g e n é ric o

Agor a podem os pa ssa r de n osso m odelo sim plifica do pa r a a si-


t u a çã o r ea l on de a econ om ia n ã o é u m sist em a fech a do e on de os
ga st os pú blicos e a dist r ibu içã o n ã o sã o despr ezíveis. O pr odu t o n a cion a l

36 A a r gu m en t a çã o a cim a se ba seia n a su posiçã o de ofer t a elá st ica qu e foi feit a n a P r im eir a


P a r t e. Con t u do, se a pr odu çã o de ben s de con su m o pa r a os t r a ba lh a dor es se pr ocessa sem
ca pa cida de ociosa , qu a lqu er a u m en t o n o con su m o ou n o in vest im en t o dos ca pit a list a s ir á
sim plesm en t e pr ovoca r u m a eleva çã o dos pr eços desses ben s. Nesse ca so, é a eleva çã o dos
pr eços dos ben s de con su m o dos t r a ba lh a dor es qu e a u m en t a r á os lu cr os n o Depa r t a m en t o
III a t é o pon t o em qu e eles for em igu a is a o va lor eleva do dos sa lá r ios dos depa r t a m en t os
I e II. Os sa lá r ios r ea is ir ã o ca ir , r eflet in do o fa t o de qu e os sa lá r ios a u m en t a dos se defr on t a m
com u m a ofer t a de ben s de con su m o sem a lt er a ções.

67
OS ECON OMIS TAS

br u t o en t ã o é igu a l à som a do in vest im en t o br u t o, con su m o, ga st os do


Gover n o com ben s e ser viços, e o sa ldo da ba la n ça com er cia l (expor t a çã o
m en os im por t a çã o). ("In vest im en t o" a qu i qu er dizer in vest im en t o pr i-
va do, sen do qu e os in vest im en t os pú blicos se en qu a dr a m n o it em “ga s-
t os do Gover n o com ben s e ser viços”.) Um a vez qu e o va lor t ot a l da
pr odu çã o é dividido en t r e ca pit a list a s e t r a ba lh a dor es ou pa go em im -
post os, o va lor do pr odu t o n a cion a l br u t o do la do da r en da ser á igu a l
a os lu cr os br u t os depois de dedu zidos os im post os, sa lá r ios e or den a dos
depois de dedu zidos os im post os, m a is t odos os im post os, t a n t o dir et os
com o in dir et os. Dessa for m a , t em os o segu in t e ba la n ço do pr odu t o n a -
cion a l br u t o:

Lu cr os br u t os In vest im en t o br u t o
dedu zidos os im post os (dir et os) Sa ldo da ba la n ça com er cia l
Sa lá r ios e or den a dos Ga st os do Gover n o em
dedu zidos os im post os (dir et os) ben s e ser viços
Im post os (dir et os e in dir et os)
Con su m o dos ca pit a list a s
Con su m o dos t r a ba lh a dor es

P ro d u to N a c io n a l B ru to P ro d u to N a c io n a l B ru to

Um a pa r t e dos im post os é em pr ega da em t r a n sfer ên cia s t a is com o


ga st os socia is, en qu a n t o a pa r t e r est a n t e ser ve pa r a fin a n cia r os ga st os
do set or pú blico em ben s e ser viços. Su bt r a ia m os de a m bos os la dos
do ba la n ço os im post os m en os a s despesa s de t r a n sfer ên cia . Do la do
da r en da , o it em “im post os” ir á desa pa r ecer e som a r em os a s t r a n sfe-
r ên cia s a os sa lá r ios e or den a dos. Do ou t r o la do, a difer en ça en t r e os
ga st os do Gover n o em ben s e ser viços e os im post os m en os a s t r a n s-
fer ên cia s ser á igu a l a o déficit or ça m en t á r io. Dessa for m a o ba la n ço
ser á a ssim :

Lu cr os br u t os In vest im en t o br u t o
dedu zidos os im post os Sa ldo da ba la n ça com er cia l
Sa lá r ios, or den a dos e despesa s Déficit or ça m en t á r io
de t r a n sfer ên cia dedu zidos os Con su m o dos ca pit a list a s
im post os Con su m o dos t r a ba lh a dor es

P rod uto Nacion al Bru to m en os P ro d u to N a c io n a l B ru to


im p o s to s , m a is d e s p e s a s d e m e n o s im p o s to s , m a is
tra n s fe rê n c ia d e s p e s a s d e tra n s fe rê n c ia

Agor a , su bt r a in do de a m bos os la dos os sa lá r ios, or den a dos e


t r a n sfer ên cia s, dedu zidos os im post os, t er em os a segu in t e equ a çã o:

68
KALECKI

In vest im en t o bru to
Lu cro br ut o + Saldo da ba la nça com er cia l
dedu zidos os = + Déficit orça m ent á rio
im post os – P ou pa n ça dos tr aba lha dor es
+ Con su m o dos ca pit a list a s

Dessa for m a , essa equ a çã o difer e da equ a çã o do m odelo sim pli-


fica do, n a m edida em qu e, em vez do in vest im en t o, t em os a gor a o
in vest im en t o m a is o sa ldo da ba la n ça com er cia l, m a is o déficit or ça -
m en t á r io, m en os a pou pa n ça dos t r a ba lh a dor es. É cla r o, con t u do, qu e
n ossa r ela çã o a n t er ior a in da pr eva lece se su pu ser m os qu e t a n t o o or -
ça m en t o com o o com ér cio ext er n o sã o equ ilibr a dos e qu e os t r a ba lh a -
dor es n ã o pou pa m , ist o é:

Lu cr os br u t os depois da = In vest im en t o br u t o + con su m o


dedu çã o dos im post os dos ca pit a list a s

Mesm o fa zen do essa s su posições, o sist em a é m u it o m a is r ea list a


do qu e er a com o pr im eir o m odelo sim plifica do e de qu a lqu er for m a
t oda a a r gu m en t a çã o da pa r t e a n t er ior a in da se a plica . Tem os qu e
n os lem br a r , con t u do, de qu e a gor a est a m os t r a t a n do com os lu cr os
depois da dedu çã o dos im post os, en qu a n t o, n o pr im eir o m odelo sim -
plifica do, o pr oblem a n ã o er a con sider a do, u m a vez qu e se su pu n h a
qu e os im post os er a m despr ezíveis.

P o u p a n ç a e in v e s tim e n to

Su bt r a ia m os o con su m o dos ca pit a list a s de a m bos os m em br os


da equ a çã o ger a l dos lu cr os (ver a cim a ) e som em os a pou pa n ça dos
t r a ba lh a dor es. Obt er em os:

P ou pa n ça br u t a dos ca pit a list a s In vest im en t o br u t o


P ou pa n ça dos t r a ba lh a dor es Sa ldo de ba la n ça
com ercial
Déficit or ça m en t á r io
To ta l d a p o u p a n ç a bru ta To ta l d a p o u p a n ç a bru ta

Assim , o t ot a l da pou pa n ça é igu a l à som a de in vest im en t o pr i-


va do, sa ldo da ba la n ça com er cia l e déficit or ça m en t á r io, en qu a n t o a
pou pa n ça dos ca pit a list a s é igu a l, é cla r o, a essa som a m en os a pou -
pa n ça dos t r a ba lh a dor es.
Se su pu ser m os qu e t a n t o o com ér cio ext er n o com o o or ça m en t o
do Gover n o sã o equ ilibr a dos, t er em os qu e:

P ou pa n ça br u t a = In vest im en t o br u t o

69
OS ECON OMIS TAS

Se su pu ser m os, a dem a is, qu e os t r a ba lh a dor es n ã o pou pa m , t e-


r em os qu e:

P ou pa n ça br u t a dos ca pit a list a s = In vestim en to br u to

E ssa equ a çã o é equ iva len t e a :

Lucros líquidos = Investimento bruto + Consum o dos ca pit a list a s

por qu e pode ser obt ida a pa r t ir da equ a çã o a n t er ior , dedu zin do-se o
con su m o dos ca pit a list a s de a m bos os m em br os.
Devem os sa lien t a r qu e a igu a lda de en t r e pou pa n ça e in vest im en t o
m a is sa ldo da ba la n ça com er cia l, m a is déficit or ça m en t á r io n o ca so
ger a l — ou só in vest im en t o n o ca so especia l — ser á vá lida em t oda s
a s cir cu n st â n cia s. P a r t icu la r m en t e, ela ser á in depen den t e do n ível da
t a xa de ju r os, qu e a t eor ia econ ôm ica cost u m a va con sider a r o fa t or de
equ ilíbr io en t r e a pr ocu r a e a ofer t a de ca pit a l n ovo. Den t r o da con -
cepçã o pr esen t e, o in vest im en t o, u m a vez r ea liza do, a u t om a t ica m en t e
for n ece pou pa n ça n ecessá r ia pa r a fin a n ciá -lo. De fa t o, em n osso m odelo
sim plifica do, os lu cr os em u m da do per íodo con st it u em o r esu lt a do
dir et o do con su m o dos ca pit a list a s e do in vest im en t o n a qu ele per íodo.
Se o in vest im en t o a u m en t a em u m cer t o va lor , a pou pa n ça a pa r t ir
dos lu cr os é pro tan to m a ior .
Coloqu em os a coisa de for m a m a is con cr et a : se a lgu n s ca pit a -
list a s a u m en t a m seu in vest im en t o u sa n do pa r a esse fim su a r eser va
líqu id a , os lu cr os dos ou t r os ca p it a list a s se eleva r ã o pro tan to e
dessa for m a a s r eser va s líqu ida s in vest ida s pa ssa r ã o à s m ã os d est es
ú lt im os. Se o in vest im en t o a dicion a l for fin a n cia do por cr édit o ba n -
cá r io, o dispên dio da s qu a n t ia s em qu est ã o fa r á com qu e idên t ica s
qu a n t ia s de lu cr os pou p a dos se a cu m u lem sob a for m a de depósit os
ba n cá r ios. Os ca p it a list a s in vest id or es p oder ã o, dessa m a n eir a , em i-
t ir t ít u los d e cr édit o n o m esm o va lor e dessa for m a sa lda r os em -
pr ést im os ba n cá r ios a ssu m idos.
Um a con seqü ên cia im por t a n t e do qu e se a ch a expost o a cim a é
qu e a t a xa de ju r os n ã o pode ser det er m in a da pela dem a n da e pela
ofer t a de ca pit a l n ovo por qu e o in vest im en t o é “a u t ofin a n cia do”. Os
fa t or es qu e det er m in a m o n ível da t a xa de ju r os sã o expost os n a P a r t e
Ter ceir a .
O e fe ito d o s a ld o d a ba la n ç a c o m e rc ia l e d o
d é fic it o rç a m e n tá rio
No r a ciocín io qu e se segu e, ir em os fr eqü en t em en t e su por o equ i-
líbr io t a n t o do or ça m en t o gover n a m en t a l com o do com ér cio ext er n o,
a lém de u m a pou pa n ça dos t r a ba lh a dor es igu a l a zer o. Isso n os pos-
sibilit a r á ba sea r n ossa a r gu m en t a çã o n a igu a lda de en t r e lu cr os depois

70
KALECKI

da dedu çã o dos im post os e a som a do in vest im en t o br u t o e o con su m o


dos ca pit a list a s. Ser ia ú t il, con t u do, dizer a lgu m a coisa a gor a sobr e o
sign ifica do da in flu ên cia do sa ldo da ba la n ça com er cia l e do déficit
or ça m en t á r io sobr e os lu cr os.
De a cor do com a fór m u la est a belecida a cim a , os lu cr os sã o igu a is
a o in vest im en t o m a is o sa ldo da ba la n ça com er cia l, m a is o déficit or -
ça m en t á r io, m en os a pou pa n ça dos t r a ba lh a dor es, m a is o con su m o dos
ca pit a list a s. Con clu i-se dir et a m en t e da í qu e u m a cr éscim o do sa ldo da
ba la n ça com er cia l eleva r á os lu cr os pro tan to, desde qu e os dem a is
com pon en t es n ã o se a lt er em . (O m eca n ism o a í oper a n t e é o m esm o
qu e foi descr it o n a pá gin a 66). O va lor de u m in cr em en t o da pr odu çã o
do set or de expor t a ções ser á explica do pelo a u m en t o dos lu cr os e sa -
lá r ios da qu ele set or . Os sa lá r ios, con t u do, ser ã o ga st os n a com pr a de
ben s de con su m o. Desse m odo, a pr odu çã o de ben s de con su m o pa r a
os t r a ba lh a dor es se expa n dir á a t é o pon t o em qu e os lu cr os a u fer idos
dessa pr odu çã o a u m en t a r em n a m edida dos sa lá r ios a dicion a is do set or
de expor t a çã o.37
Con clu i-se dir et a m en t e do qu e foi dit o a cim a qu e o sa ldo da ba -
la n ça com er cia l per m it e o a u m en t o dos lu cr os a cim a do n ível qu e ser ia
det er m in a do pelo in vest im en t o e pelo con su m o dos ca pit a list a s. É desse
pon t o de vist a qu e se poder ia con sider a r a lu t a pelos m er ca dos ext er n os.
Os ca pit a list a s de u m pa ís qu e con segu em dom in a r os m er ca dos ex-
t er n os a t é en t ã o det idos por ou t r os pa íses con segu em a u m en t a r seu s
lu cr os à s expen sa s dos ca pit a list a s dos ou t r os pa íses, qu e per der a m
esses m er ca dos. Da m esm a for m a , u m a m et r ópole colon ia list a pode
con segu ir u m sa ldo posit ivo em su a ba la n ça com er cia l a t r a vés de in -
vest im en t os em seu s t er r it ór ios depen den t es.38
Um déficit or ça m en t á r io t em efeit o sem elh a n t e a o de u m sa ldo
posit ivo n a ba la n ça com er cia l. E le t a m bém per m it e u m a u m en t o dos
lu cr os a cim a do n ível det er m in a do pelo in vest im en t o pr iva do e pelo
con su m o dos ca pit a list a s. E m u m cer t o sen t ido, o déficit or ça m en t á r io
pode ser con sider a do u m sa ldo posit ivo da ba la n ça com er cia l a r t ificia l.
Apr esen t a n do sa ldo posit ivo em su a ba la n ça com er cia l, u m pa ís r ecebe
m a is por su a s expor t a ções do qu e pa ga por su a s im por t a ções. No ca so
do déficit or ça m en t á r io, o set or pr iva do da econ om ia r ecebe m a is a t r a vés

37 Se a pr odu çã o de ben s de con su m o pa r a os t r a ba lh a dor es n ã o dispõe de ca pa cida de ociosa ,


os pr eços desses ben s ir ã o su bir a t é o pon t o em qu e os lu cr os a u fer idos dessa pr odu çã o
a u m en t em n a m edida dos sa lá r ios a dicion a is do set or de expor t a çã o (ver n ot a 36 dest e
ca pít u lo).
38 Os em pr ést im os a o ext er ior de da do pa ís n ã o t êm qu e ser liga dos à expor t a çã o de ben s
desse pa ís. Se u m pa ís A em pr est a a ou t r o pa ís B , est e ú lt im o pode ga st a r o din h eir o do
em pr ést im o n o pa ís C, qu e poder á a u m en t a r pro tan to seu est oqu e de ou r o e su a r eser va
de divisa s. Nesse ca so, o em pr ést im o a o ext er ior feit o pelo pa ís A ir á pr ovoca r u m sa ldo
posit ivo n a ba la n ça com er cia l do pa ís C a com pa n h a do de u m a cú m u lo de ou r o ou de divisa s
n a qu ele pa ís. No ca so de depen dên cia colon ia l, isso é difícil a con t ecer , ist o é, a qu a n t ia
in vest ida ser á n or m a lm en t e ga st a n a m et r ópole.

71
OS ECON OMIS TAS

dos ga st os do Gover n o do qu e pa ga em im post os. A exist ên cia de u m


sa ldo posit ivo n a ba la n ça com er cia l sign ifica u m a u m en t o do va lor
devido pelos pa íses est r a n geir os a o pa ís con sider a do. A exist ên cia de
u m déficit or ça m en t á r io sign ifica u m a u m en t o do va lor devido pelo
set or pú blico a o set or pr iva do da econ om ia . E sses dois exceden t es da
r eceit a sobr e a s despesa s ger a m lu cr os da m esm a for m a .
O qu e foi dit o a cim a dem on st r a cla r a m en t e a sign ificâ n cia dos
m er ca dos “ext er n os” (in clu sive os qu e sã o cr ia dos pelos déficit s or ça -
m en t á r ios) pa r a u m a econ om ia ca pit a list a . Sem esses m er ca dos, os
lu cr os sã o con dicion a dos pela ca pa cida de dos ca pit a list a s de con su m ir
ou de em pr een der o in vest im en t o de ca pit a l. O sa ldo da ba la n ça co-
m er cia l e o déficit or ça m en t á r io é qu e per m it em a os ca pit a list a s a u fer ir
lu cr os sobr e e a cim a de su a s pr ópr ia s com pr a s de ben s de ser viços.
A liga çã o en t r e os lu cr os “ext er n os” e o im per ia lism o é óbvia .
A lu t a pela divisã o d os m er ca dos ext er n os exist en t es e a expa n sã o
dos im pér ios colon ia is, qu e p r op icia n ova s opor t u n ida des pa r a a ex-
por t a çã o de ca pit a l liga d a à expor t a çã o de ben s, p ode ser vist a com o
u m esfor ço pa r a se obt er u m sa ld o posit ivo n a ba la n ça com er cia l,
a fon t e clá ssica d e lu cr os “ext er n os”. Os a r m a m en t os e a s gu er r a s,
em ger a l fin a n cia dos p elos d éficit s or ça m en t á r ios, sã o t a m bém u m a
fon t e dessa espécie de lu cr os.

72
4

Os Lu c ro s e o In v e s tim e n to

Os lu c ro s e o in v e s tim e n to d e n tro d e s u p o s iç õ e s
s im p lific a d o ra s
A pon t a m os a cim a (p. 66) qu e o in vest im en t o e o con su m o dos
ca pit a list a s sã o det er m in a dos por decisões or igin a is n o pa ssa do. Os
det er m in a n t es da s decisões qu a n t o a in vest im en t o, qu e sã o de ca r á t er
ba st a n t e com plexo, sã o t r a t a dos n o ca pít u lo 9. Aqu i ir em os t r a t a r da
det er m in a çã o do con su m o dos ca pit a list a s.
P odem os fa zer a segu in t e su posiçã o, qu e é pla u sível en qu a n t o
pr im eir a a pr oxim a çã o, sobr e o con su m o “r ea l” dos ca pit a list a s em u m
a n o da do, C t : de qu e ele con sist e em u m a pa r t e A e u m a pa r t e pr o-
por cion a l a P t – λ, o lu cr o r ea l depois da dedu çã o dos im post os de a lgu m
t em po a t r á s, ist o é:
C t = qP t – λ + A (5)

on de λ: in dica a dem or a da r ea çã o do con su m o dos ca pit a list a s à m u -


da n ça de su a r en da cor r en t e, q é posit ivo e <1 por qu e os ca pit a list a s
t en dem a con su m ir a pen a s u m a pa r t e do in cr em en t o da r en da . De
fa t o, est a pa r t e t en de a ser ba st a n t e pequ en a , de for m a qu e é pr ová vel
qu e q seja con sider a velm en t e m en or qu e 1. F in a lm en t e, A é con st a n t e
a cu r t o pr a zo, a pesa r de su jeit o a m odifica ções a lon go pr a zo. Su por e-
m os, por en qu a n t o, qu e t a n t o a ba la n ça com er cia l com o o or ça m en t o
do Gover n o sã o equ ilibr a dos e qu e os t r a ba lh a dor es n ã o pou pa m . Nesse
ca so, os lu cr os depois da dedu çã o dos im post os P sã o igu a is à som a
do in vest im en t o I m a is o con su m o dos ca pit a list a s C:
P = I + C. (6)

Su bst it u in do o va lor de C pela equ a çã o (5), obt em os:

73
OS ECON OMIS TAS

P t = I t + qP t – λ + A. (7)

Con clu i-se qu e os lu cr os “r ea is” a o t em po t sã o det er m in a dos pelo


in vest im en t o cor r en t e e pelos lu cr os n o t em po t – λ. Os lu cr os a o t em po
t – λ por su a vez ser ã o det er m in a dos pelo in vest im en t o à qu ele t em po
e pelos lu cr os a o t em po t – 2λ, e a ssim por dia n t e. F ica cla r o a ssim
qu e os lu cr os a o t em po t sã o fu n çã o lin ea r do in vest im en t o a o t em po
t – λ, t – 2λ et c. e qu e os coeficien t es de in vest im en t o,
I t , I t – λ, I t – 2λ et c., n essa r ela çã o, ser ã o 1, q, q 2 et c. r espect iva m en t e.
Or a , q, con for m e foi dit o a cim a , é m en or qu e 1, e é pr ová vel qu e seja
con sider a velm en t e m en or qu e 1. Dessa for m a , a sér ie de coeficien t es
1, q, q 2, ... ser á r a pida m en t e decr escen t e e con seqü en t em en t e, en t r e
I t , I t – λ, I t – 2λ..., som en t e os coeficien t es r ela t iva m en t e per t o n o t em po
con t a r ã o n a det er m in a çã o dos lu cr os P t . Os lu cr os desse m odo ser ã o
fu n çã o t a n t o do in vest im en t o cor r en t e com o do in vest im en t o do pa ssa do
r ecen t e; ou , fa la n do em t er m os a pr oxim a dos, os lu cr os segu em o in -
vest im en t o com u m h ia t o t em por a l. Dessa for m a , podem os escr ever
com o equ a çã o a pr oxim a da :
P t = f (I t – ω) (8)

on de w é o h ia t o t em por a l en volvido.
A for m a da fu n çã o f pode ser det er m in a da da segu in t e m a n eir a :
volt em os u m pou co à equ a çã o (7) e coloqu em os em lu ga r de P seu
va lor da do pela equ a çã o (8):
f (I t – ω) = It + qf (I t – ω – λ) + A.

E ssa equ a çã o dever á ser vá lida qu a lqu er qu e seja o decu r so n o


t em po do in vest im en t o I t . Assim , dever á da r cober t u r a in ter alia a o
ca so on de o in vest im en t o é m a n t ido por a lgu m t em po n u m n ível est á vel,
de for m a qu e t en h a m os I t = I t – ω = I t – ω – λ. Da í,

f (I t ) = I t + qf (I t) + A

ou
It + A
f (I t ) = .
1 – q
Com o essa igu a lda de é vá lida pa r a qu a lqu er n ível de I t, ela n os
dá a for m a da fu n çã o f. P odem os en t ã o escr ever a equ a çã o (8) com o:
It – ω + A
Pt = (8′)
1 – q

A sign ificâ n cia da equ a çã o (8′) é qu e r edu z o n ú m er o de det er -

74
KALECKI

m in a n t es d os lu cr os de dois pa r a u m , devido a leva r em con sider a çã o


a depen dên cia d o con su m o dos ca pit a list a s pa r a com os lu cr os pa s-
sa d os, con for m e n os dá a equ a çã o (5). Os lu cr os, de a cor d o com a
equ a çã o (8′), sã o det er m in a dos com p let a m en t e pelo in vest im en t o,
a ch a n do-se en volvido u m cer t o h ia t o t em por a l. Ad em a is, o in vest i-
m en t o depen de de decisões de in vest ir a in da m a is r em ot a s n o pa s-
sa d o. Con clu i-se qu e os lu cr os sã o det er m in a dos pela s decisões pa ssa -
da s de in vest ir .
A in t er pr et a çã o da equ a çã o (8′) pode su scit a r cer t a s dificu lda des.
Den t r o da s su posições da da s de qu e a ba la n ça com er cia l e o or ça m en t o
do Gover n o sã o equ ilibr a dos e de qu e os t r a ba lh a dor es n ã o pou pa m ,
o in vest im en t o é igu a l à pou pa n ça dos ca pit a list a s (ver p. 69). Con clu i-se
en t ã o dir et a m en t e da equ a çã o (8′) qu e a pou pa n ça dos ca pit a list a s
“a n t ecede” os lu cr os. E sse r esu lt a do pode pa r ecer u m pa r a doxo. O “sen so
com u m ” su ger ir ia a seqü ên cia con t r á r ia — ist o é, qu e a pou pa n ça é
det er m in a da pelos lu cr os. Con t u do, n ã o é esse o ca so. O con su m o dos
ca pit a list a s em u m cer t o per íodo r esu lt a de su a s decisões ba sea da s
n os lu cr os do pa ssa do. Um a vez qu e en t r em en t es os lu cr os m u da m , a
pou pa n ça r ea l n ão cor r espon de à disposiçã o de r en da pr et en dida . Na
ver da de, a pou pa n ça r ea l qu e é igu a l a o in vest im en t o ir á “pr eceder ”
os lu cr os, con for m e dem on st r a a equ a çã o (8′). P ode-se a pr esen t a r o
segu in t e exem plo pa r a ilu st r a r com o isso a con t ece. Im a gin em os qu e
t a n t o o in vest im en t o com o por t a n t o a pou pa n ça e t a m bém os lu cr os
se a pr esen t em con st a n t es por a lgu m t em po. Im a gin em os qu e h a ja en t ã o
u m a sú bit a m u da n ça n o in vest im en t o. A pou pa n ça a u m en t a r á im edia -
t a m en t e ju n t o com o in vest im en t o e os lu cr os t a m bém su bir ã o n a m es-
m a pr opor çã o. Con t u do, o con su m o dos ca pit a list a s su bir á som en t e
depois de a lgu m t em po, com o r esu lt a do desse a u m en t o pr im á r io dos
lu cr os. Dessa for m a , os lu cr os a in da est a r ã o a u m en t a n do depois de já
se t er det ido o a u m en t o do in vest im en t o e da pou pa n ça .
O c a s o g e n é ric o

De qu e for m a a equ a çã o (8’) ir á se m odifica r se n ão a ceit a r m os


o equ ilíbr io da ba la n ça com er cia l e do or ça m en t o do Gover n o n em qu e
a pou pa n ça dos t r a ba lh a dor es é igu a l a zer o? Se in dica r m os a som a
do in vest im en t o pr iva do, do sa ldo da ba la n ça com er cia l e do déficit
or ça m en t á r io por I’, a pou pa n ça dos t r a ba lh a dor es por s e o con su m o
dos ca pit a list a s con for m e a cim a por C, t em os, qu a n t o a os lu cr os, a
equ a çã o (ver p. 69-70):
P = I′ – s + C .
Ver em os qu e pa r a esse ca so gen ér ico a equ a çã o (8′) ser á m odi-
fica da pa r a :

75
OS ECON OMIS TAS

I′t – ω – st – ω + A
Pt = . (8′′)
1 – q

De fa t o, a fór m u la (8′) foi obt ida a pa r t ir da r ela çã o en t r e o con su m o


dos ca pit a list a s e os lu cr os (equ a çã o 5) e da su posiçã o de qu e o in ves-
t im en t o I é igu a l à difer en ça en t r e os lu cr os e o con su m o dos ca pit a list a s.
Assim , qu a n do essa difer en ça for igu a l a I′ – s, esse it em é qu e dever á
en t ã o su bst it u ir I n a fór m u la (8′).
A equ a çã o (8′′) pode ser su bst it u ída p or u m a fór m u la m a is
sim p les, em bor a a pr oxim a t iva . Devem os lem br a r qu e o t ot a l da p ou -
pa n ça é igu a l à som a do in vest im en t o, sa ldo da ba la n ça com er cia l
e d o déficit or ça m en t á r io, I′ (ver p. 69). Além disso, a pesa r de em
ger a l a p ou pa n ça d os t r a ba lh a d or es, s, n ã o ser igu a l a zer o, seu
n ível e su a s m odifica ções a bsolu t a s sã o pequ en os em com pa r a çã o
com o t ot a l da pou pa n ça . Adem a is, n o decu r so do ciclo econ ôm ico,
s deve a pr esen t a r u m eleva do gr a u de cor r ela çã o com o t ot a l da
pou pa n ça . (Isso é o qu e se con clu i d a s con sider a ções qu e a pr esen -
t a m os n o ca pít u lo segu in t e, on de est a belecem os u m a r ela çã o en t r e
os lu cr os e a r en da n a cion a l.) Dessa for m a , t em qu e a pr esen t a r
eleva do gr a u de cor r ela çã o com I′. Con seqü en t em en t e, t em os com o
u m a boa a p r oxim a çã o:
I′t – ω + A′
Pt = (8′′′)
1 – q′

on de a m u da n ça de pa r â m et r os de q pa r a q′ e de A pa r a A′ r eflet e a
su bst it u içã o de I′t – ω – s t – ω pela fu n çã o lin ea r de I′t – ω. Devem os lem -
br a r qu e q é u m coeficien t e in dica n do qu e pa r t e de u m in cr em en t o
n os lu cr os ser á a loca da pa r a o con su m o, en qu a n t o a con st a n t e A é a
pa r t e do con su m o dos ca pit a list a s qu e per m a n ece est á vel a cu r t o pr a zo
a pesa r de se a ch a r su jeit a a m odifica ções a lon go pr a zo. q′ e A′ r eflet em ,
a lém disso, a r ela çã o da pou pa n ça dos t r a ba lh a dor es com o t ot a l da
pou pa n ça , qu e é igu a l a I′.
A fór m u la (8′′′) é su per ior à fór m u la (8′′) n o sen t ido de qu e pode
ser ilu st r a da por m eios est a t íst icos. Isso é vir t u a lm en t e im possível n o
qu e diz r espeit o a (8′′), já qu e n ã o h á da dos est a t íst icos dispon íveis
qu a n t o à pou pa n ça dos t r a ba lh a dor es, s.
Ilu s tra ç ã o e s ta tís tic a

Aplica r em os a equ a çã o (8′′′) a os da dos dos E st a dos Un idos pa r a


o per íodo de 1929/40. Os va lor es “r ea is” dos lu cr os br u t os depois da
dedu çã o dos im post os, P,39 e de I′ a pa r ecem n a t a bela 13. O sign ifica do

39 P é obt ido dedu zin do-se t odos os im post os dir et os dos lu cr os br u t os. Os im post os d iretos
sobr e sa lá r ios e or den a dos for a m m u it o pequ en os n o per íodo con sider a do.

76
KALECKI

de I′ é ligeir a m en t e m odifica do em com pa r a çã o com seu con ceit o bá sico.


Além do in vest im en t o br u t o, do sa ldo da ba la n ça com er cia l e do déficit
or ça m en t á r io, a qu i se a ch a m in clu ída s a s com issões de cor r et or es. Na s
est a t íst ica s dos E st a dos Un idos essa s despesa s se en con t r a m in clu ída s
n o con su m o. Con t u do, com o se t r a t a de u m dispên dio t ípico de ca pit a l
qu e n ã o se a ch a liga do in t im a m en t e à r en da , é pr oceden t e qu e a qu i
o con sider em os n o m esm o pé qu e o in vest im en t o. O ín dice de pr eços
im plícit o n a defla çã o do pr odu t o n a cion a l br u t o do set or pr iva do é
em pr ega do com o defla t or pa r a a m ba s a s sér ies.40
An t es de est a belecer a cor r ela çã o en t r e P e I′, foi n ecessá r io
det er m in a r o h ia t o t em por a l, w , o qu e foi com plica do pelo fa t o de
qu e pa r ecia a ch a r -se pr esen t e a lgu m a t en dên cia n a r ela çã o en t r e
P e I′. A fim de con t or n a r essa dificu ld a de, a t en dên cia foi elim in a da
a p r oxim a da m en t e t om a n do-se em con sid er a çã o a s p r im eir a s d ife-
r en ça s ∆P e ∆I′. A cor r ela çã o en t r e essa s difer en ça s pa r ece in dica r
qu e o m elh or a ju st a m en t o ser á obt ido pa r a u m h ia t o de t em po de
cer ca de t r ês m eses.
E m vist a disso, P foi cor r ela cion a do com I′t – 1 , ist o é, com I′
4
desloca do pa r a t r ês m eses a t r á s por m eio de u m a in t er pola çã o. Assim ,
I′t – 1 foi obt ido t om a n do-se 3/4 de I′ n u m da do a n o e 1/4 de I′ n o a n o
4
a n t er ior . A fim de se leva r a t en dên cia em con sider a çã o, foi est a belecida
u m a cor r ela çã o du pla de P′ com I′t – 1 e o t em po t (con t a do em a n os
4
a pa r t ir do m eio do per íodo 1929/40, ist o é, de pr in cípios de 1935). A
equ a çã o de r egr essã o é:
P t = 1,34I′t –
1 + 13,4 – 0,13t .
4

O va lor d os lu cr os, ca lcu la do a p a r t ir dessa equ a çã o, é d a do


n a t a bela 13 pa r a efeit o d e com pa r a çã o com os lu cr os r ea is. O gr a u
de cor r ela çã o é ba st a n t e eleva do. O coeficien t e de cor r ela çã o du pla
é 0,986.
Se n ã o h ou vesse pou pa n ça a pa r t ir dos sa lá r ios e or den a dos, o
1
coeficien t e de I′t – 1 ser ia igu a l a n a equ a çã o (8′). Nesse ca so
4 1–q
dever ía m os t er pa r a q, qu e é o coeficien t e in dica n do qu a l pa r t e de u m
in cr em en t o dos lu cr os ser á dir igida a o con su m o:
1
= 1,34; q = 0,25 .
1 – q

40 P a r a os det a lh es de cá lcu lo de P e de I’, ver o Apên dice E st a t íst ico, Not a s 7 e 8.

77
OS ECON OMIS TAS

TABE LA 13. Determ in ação d os L u cros n os E stad os Un id os, 1929/ 40.

Isso sign ifica r ia qu e som en t e 25% dos lu cr os a dicion a is ser ia m dir igidos
a o con su m o e 75% pa r a a pou pa n ça . Na ver da de, o coeficien t e q ser á
m a ior por qu e u m a pa r t e da pou pa n ça vem da r en da do t r a ba lh o. Con -
t u do, é im pr ová vel qu e q exceda m u it o 30%.
O coeficien t e da t en dên cia é n ega t ivo, o qu e pr ova velm en t e se
explica em gr a n de pa r t e pelo fa t o de qu e, devido à Gr a n de Depr essã o,
os lu cr os n a déca da de 30 for a m m u it o m a is ba ixos qu e n a déca da
a n t er ior e por qu e essa qu eda dos lu cr os a lon go pr a zo poder ia t er
ca u sa do u m declín io da con st a n t e, A, du r a n t e o per íodo con sider a do.
E m ou t r a s pa la vr a s, o pa dr ã o de vida dos ca pit a list a s est a va declin a n do
devido à depr essã o dos lu cr os a lon go pr a zo.

78
5

D e te rm in a ç ã o d a Re n d a N a c io n a l e d o Co n s u m o

In tro d u ç ã o

N o ca pít u lo 2 in vest iga m os a pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios e or -


den a dos n a r en da n a cion a l e n os dois ú lt im os ca pít u los vim os a r ela çã o
en t r e os lu cr os e I′, a som a do in vest im en t o, do sa ldo da ba la n ça co-
m er cia l e do déficit or ça m en t á r io. A com bin a çã o dos r esu lt a dos dessa s
du a s in vest iga ções n os per m it ir á est a belecer u m a r ela çã o en t r e a r en da
n a cion a l e I′. Assim , n o ca so especia l on de a ba la n ça com er cia l e o
or ça m en t o gover n a m en t a l sã o equ ilibr a dos, a r en da n a cion a l ser á r e-
la cion a da a o in vest im en t o I.
A fór m u la pa r a a pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios e or den a dos n a
r en da br u t a do set or pr iva do est a belecida n o ca pít u lo 2 (p. 61) é:
V B
= α + (4)
Y Y

on de V é o va lor “r ea l” dos sa lá r ios e or den a dos e Y é a r en da br u t a


“r ea l” do set or pr iva do. O coeficien t e α é posit ivo e < 1 e a con st a n t e
B , qu e est á su jeit a a m odifica ções a lon go pr a zo, t a m bém é posit iva .
A difer en ça en t r e Y e V é π, os lu cr os líqu idos a n t es da dedu çã o dos
im post os. (No ca pít u lo a n t er ior , P r epr esen t a va os lu cr os líqu idos d epois
da dedu çã o dos im post os.) Tem os por t a n t o:
Y – π B
= α +
Y Y

ou :
π + B
Y = (9)
1 – α
79
OS ECON OMIS TAS

P a r a m elh or com pr een sã o do qu e se segu e, devem ser dit a s a l-


gu m a s pa la vr a s a r espeit o da difer en ça en t r e o prod u to n acion al br u t o
e a ren d a bru ta do setor privad o, Y . A difer en ça en t r e o pr odu t o n acion al
br u t o e o pr odu t o privad o br u t o con sist e n o pr odu t o do Gover n o e é
m edida pelos pa ga m en t os a os em pr ega dos do set or pú blico. A difer en ça
en t r e o va lor do prod u to pr iva do br u t o e a ren d a br u t a do set or pr iva do,
Y , con sist e n os im post os in dir et os qu e se a ch a m in clu ídos n o va lor do
pr odu t o pr iva do.41 Assim , a difer en ça en t r e o pr odu t o n a cion a l br u t o
e a r en da br u t a do set or pr iva do con sist e n os pa ga m en t os a os em pr e-
ga dos do Gover n o e dos im post os in dir et os.
P ro d u to n a c io n a l, lu c ro s e in v e s tim e n to e m
u m m o d e lo s im p lific a d o

Discutiremos o problem a da determinação do produto ou da renda


nacional prim eiram ente com respeito ao modelo sim plificado utilizado no
início do capítulo 3. Supúnhamos ali um sistem a fechado de rendim entos
e gastos governam entais desprezíveis. Conseqüentem ente, o produto na-
cional bruto é igual à soma do investimento privado e do consumo. F izemos
também abstração da poupança dos trabalhadores. Para esse modelo, com o
vim os, a fórm ula (8′), que relaciona os lucros depois da dedução dos im -
postos, P, ao investim ento, I (ver p. 75), é válida:
It – ω + A
Pt = (8′)
1 – q

on de 1 > q > 0 e A > 0. Um a vez qu e o r en dim en t o dos im post os é


despr ezível, podem os t om a r com o idên t icos os lu cr os a n t es e depois da
dedu çã o dos im post os. O pr odu t o n a cion a l br u t o e a r en da pr iva da
br u t a do set or pr iva do, Y , t a m bém podem ser t om a dos com o idên t icos,
u m a vez qu e t a n t o o pa ga m en t o dos em pr ega dos do Gover n o com o os
im post os in dir et os sã o despr ezíveis. Tem os por t a n t o a s segu in t es e-
qu a ções pa r a a det er m in a çã o do pr odu t o n a cion a l br u t o:
Pt + B
Yt = (9′)
1 – α

It – ω + A
Pt = (8′)
1 – q

É cla r o qu e a r en da br u t a ou pr odu t o br u t o, Y t ′, é com plet a m en t e de-


t er m in a da pelo in vest im en t o, I t – ω.

41 Um a vez qu e a r en da br u t a do set or pr iva do, Y , é t om a da a qu i a n t es dos im post os dir et os,


Y in clu i os im post os d iretos.

80
KALECKI

Um a vez qu e a equ a çã o (9′) r eflet e os fa t or es qu e det er m in a m


a dist r ibu içã o da r en da n a cion a l, t a m bém podem os dizer : a r en da br u t a ,
Y t , se desloca a t é u m pon t o em qu e os lu cr os sobr e ela , det er m in a dos
pelos “fa t or es de dist r ibu içã o”, cor r espon dem a o n ível de in vest im en t o
I t – ω. O pa pel dos “fa t or es de dist r ibu içã o” é a ssim o de det er m in a r a
r en da ou o pr odu t o com ba se n os lu cr os, qu e por su a vez sã o det er -
m in a dos pelo in vest im en t o. O m eca n ism o dessa det er m in a çã o da r en da
já foi descr it o n o ca p. 3 (ver p. 66).
Da í se con clu i dir et a m en t e qu e a s m odifica ções n a dist r ibu içã o
da r en da ocor r em n ã o por m eio de u m a m odifica çã o dos lu cr os, P, m a s
a t r a vés de u m a m u da n ça n a r en da br u t a ou pr odu t o, Y . Im a gin em os,
por exem plo, qu e, devido à eleva çã o do gr a u de m on opólio, a pa r cela
r ela t iva dos lu cr os n a r en da br u t a a u m en t e. Os lu cr os per m a n ecer ã o
sem a lt er a çã o, já qu e con t in u a r ã o a ser det er m in a dos pelo in vest im en t o,
qu e depen de da s decisões de in vest ir or igin a da s n o pa ssa do, m a s os
sa lá r ios e or den a dos r ea is e a r en da br u t a ou pr odu t o ir ã o ca ir . O
n ível de r en da ou pr odu t o ir á declin a r a t é o pon t o em qu e a pa r cela
r ela t iva dos lu cr os m a is eleva da per m it ir a u fer ir o m esm o n ível a bsolu t o
de lu cr os. Na s n ossa s equ a ções, a sit u a çã o ser á r eflet ida da segu in t e
m a n eir a : o a u m en t o do gr a u de m on opólio pr ovoca r á u m a qu eda do
coeficien t e, α (de a cor do com a equ a çã o (4), α é a pa r t e da pa r cela
r ela t iva dos sa lá r ios e or den a dos n a r en da Y qu e é in depen den t e do
B
n ível de Y ; a ou t r a pa r t e r epr esen t a a in flu ên cia do elem en t o de
Y
cu st o in dir et o pr esen t e n os or den a dos). E m con seqü ên cia , u m n ível
m a is ba ixo da r en da ou pr odu t o, Y t , cor r espon der á a u m da do n ível
de in vest im en t o, I t – ω .

Mo d ific a ç õ e s n o in v e s tim e n to e n o c o n s u m o e m
u m m o d e lo s im p lific a d o

Da da s a s r ela ções en t r e os lu cr os e o in vest im en t o e a r en da


br u t a e os lu cr os, con for m e expr essa s n a s equ a ções (8′) e (9′), qu a lqu er
m odifica çã o do in vest im en t o pr ovoca u m a n ít ida m odifica çã o da r en da .
Um a eleva çã o do in vest im en t o em ∆I t – ω pr ovoca , com u m h ia t o t em -
por a l, u m a eleva çã o dos lu cr os em

∆I t – ω
∆P t = .
1 – q

Adem a is, u m a eleva çã o dos lu cr os em ∆P pr ovoca u m a eleva çã o da


r en da br u t a ou pr odu t o em

81
OS ECON OMIS TAS

∆P t
∆Y t =
1 – α

ou
∆l t – ω
∆Y t =
(1 – α) (1 – q)

Deve-se lem br a r qu e q é o coeficien t e qu e in dica a pa r t e de ∆P, o


in cr em en t o dos lu cr os, qu e ser á dedica da a o con su m o; e qu e α é o
coeficien t e qu e in dica a pa r t e de ∆Y , o in cr em en t o da r en da br u t a ,
qu e va i pa r a sa lá r ios e or den a dos. Ta n t o 1 – q com o 1 – α sã o < 1, de
m odo qu e ∆Y t > ∆I t – ω. E m ou t r a s pa la vr a s, a r en da br u t a ou pr odu t o
a u m en t a m a is qu e o in vest im en t o, devido a o efeit o da eleva çã o do
in vest im en t o sobr e o con su m o dos ca pit a list a s (fa t or 1 ) e sobr e a
1–q
1
r en da dos t r a ba lh a dor es (fa t or ). Um a vez qu e a qu i se su põe qu e
1–α
o con su m o dos t r a ba lh a dor es seja igu a l à su a r en da , isso qu er dizer
qu e a r en da a u m en t a m a is qu e o in vest im en t o, devido à in flu ên cia do
a u m en t o do in vest im en t o sobr e o con su m o dos ca pit a list a s e dos t r a -
ba lh a dor es.42 Du r a n t e a depr essã o, a qu eda do in vest im en t o t a m bém
m ot iva u m a r edu çã o do con su m o, de m odo qu e a qu eda do n ível de
em pr ego é m a ior do qu e a qu e se or igin a dir et a m en t e da con t r a çã o
da a t ivida de in vest idor a .
P a r a sit u a r bem a n a t u r eza desse pr ocesso n a econ om ia ca pit a -
list a , ser ia in t er essa n t e con sider a r m os qu a l ser ia o efeit o de u m a r e-
du çã o n o in vest im en t o n u m sist em a socia list a . Os t r a ba lh a dor es libe-
r a dos pela pr odu çã o de ben s de ca pit a l ser ia m em pr ega dos n a s in dú s-
t r ia s de ben s de con su m o. O a cr éscim o da ofer t a desses ben s ser ia
a bsor vido por m eio de u m a r edu çã o de seu s pr eços. Um a vez qu e os
lu cr os da s in dú st r ia s socia list a s ser ia m igu a is a o in vest im en t o, os pr e-
ços t er ia m qu e ser r edu zidos a o pon t o em qu e o declín io dos lu cr os
fosse igu a l à qu eda do va lor do in vest im en t o. E m ou t r a s pa la vr a s, o
plen o em pr ego ser ia m a n t ido a t r a vés da r edu çã o dos pr eços com r ela çã o
a os cu st os. No sist em a ca pit a list a , con t u do, é m a n t ida a r ela çã o cu s-
t o-pr eço, con for m e se a ch a r eflet ida n a equ a çã o (9′), e os lu cr os ca em
n o m esm o va lor qu e os in vest im en t os m a is o con su m o dos ca pit a list a s
a t r a vés da r edu çã o da pr odu çã o e do n ível de em pr ego. É pa r a doxa l,

42 Deve-se sa lien t a r qu e a equ a çã o (9′), qu e r eflet e a r ela çã o pr eço-cu st o, se ba seia n a con diçã o
de ela st icida de da ofer t a post u la da n a P r im eir a P a r t e. Se a ofer t a de ben s de con su m o é
in elá st ica , u m a u m en t o do in vest im en t o n ã o r esu lt a r á em u m a u m en t o do volu m e de con -
su m o, m a s sim plesm en t e em u m a u m en t o dos pr eços de ben s de con su m o (ver n ot a 36 do
ca p. 3). Na a r gu m en t a çã o segu in t e, con t in u a m os a su por , n a m esm a lin h a da P a r t e P r im eir a ,
a con diçã o de ela st icida de da ofer t a .

82
KALECKI

r ea lm en t e, qu e en qu a n t o os a pologist a s do ca pit a lism o ger a lm en t e con -


sider a m o “m eca n ism o dos pr eços” a gr a n de va n t a gem do sist em a ca -
pit a list a , a flexibilida de dos pr eços dem on st r a ser u m a ca r a ct er íst ica
pr ópr ia da econ om ia socia list a .43
At é a qu i vín h a m os con sider a n do a r ela çã o en t r e a s m odifica ções
absolu tas do in vest im en t o, I, dos lu cr os, P, e da r en da br u t a ou pr odu t o,
Y . Ser á t a m bém in t er essa n t e com pa r a r su a s m odifica ções proporcio-
n ais. P a r a isso, volt em os à s equ a ções (8′) e (9′). Devem os lem br a r qu e
a con st a n t e A, a pa r t e est á vel do con su m o dos ca pit a list a s, e a con st a n t e
B , a pa r t e est á vel dos sa lá r ios, sã o posit iva s. Segu e-se qu e os lu cr os,
P, m u da m pr opor cion a lm en t e m en os n o decu r so do ciclo econ ôm ico qu e
o in vest im en t o, I, e qu e o m esm o se a plica à r en da br u t a , Y , com
r ela çã o a os lu cr os, P. Con seqü en t em en t e, a s m odifica ções r ela t iva s da
r en da br u t a , Y , sã o m en or es qu e a s do in vest im en t o, I.
Um a vez qu e n o n osso m odelo a r en da br u t a ou pr odu t o, Y , é
igu a l à som a do in vest im en t o e do con su m o, a s m odifica ções r ela t iva s
do con su m o sã o m en or es qu e a s da r en da br u t a . Or a , se u m com pon en t e
(in vest im en t o) va r ia pr opor cion a lm en t e m a is do qu e a som a (r en da
br u t a ou pr odu t o), o ou t r o com pon en t e (con su m o) t em qu e va r ia r pr o-
por cion a lm en t e m en os do qu e a som a . Da í se con clu i dir et a m en t e qu e
o in vest im en t o va r ia pr opor cion a lm en t e m a is do qu e o con su m o, ou ,
em ou t r a s pa la vr a s, qu e ele ca i com r ela çã o a o con su m o du r a n t e a
fa se de depr essã o e qu e se eleva du r a n t e a fa se de pr osper ida de.

O c a s o g e n é ric o

Aba n don em os a gor a a su posiçã o de qu e os ga st os e os r en dim en t os


do set or pú blico sã o despr ezíveis. P or or a podem os con t in u a r su pon do
qu e a ba la n ça com er cia l e o or ça m en t o do Gover n o sã o equ ilibr a dos e
qu e os t r a ba lh a dor es n ã o pou pa m . Assim , a equ a çã o (8′)

It – ω + A
Pt = (8′)
1 – q

a in da se a plica , m a s os lu cr os a n t es da dedu çã o dos im post os, π, n ã o


sã o m a is idên t icos a os lu cr os depois da dedu çã o dos im post os, P. Su -
pon h a m os, ou t r ossim , qu e o sist em a t r ibu t á r io seja da do e qu e a r ela çã o
en t r e os lu cr os “r ea is” a n t es dos im post os, π, e os lu cr os “r ea is” depois
dos im post os, P, possa ser expr essa a pr oxim a da m en t e por u m a fu n çã o
lin ea r . P oder em os en t ã o su bst it u ir a fór m u la (9′) pela equ a çã o

43 Deve-se sa lien t a r qu e n u m a econ om ia socia list a em expa n sã o u m a r edu çã o n a r a zã o pr e-


ço-cu st o r eflet ir á u m desloca m en t o r ela t ivo — e n ã o a bsolu t o — do in vest im en t o pa r a o
con su m o.

83
OS ECON OMIS TAS

Pt + B ′
Yt = (9′)
1 – α′
on de a s con st a n t es α e B n ã o depen dem sim plesm en t e dos fa t or es
su bja cen t es à dist r ibu içã o da r en da n a cion a l, m a s sã o in flu en cia da s
t a m bém pelo efeit o do sist em a t r ibu t á r io sobr e os lu cr os. A pa r t ir dessa s
du a s equ a ções fica a pa r en t e qu e a r en da br u t a do set or pr iva do Y é
n ova m en t e det er m in a da — com u m h ia t o t em por a l — pelo in vest im en t o
I. A u m in cr em en t o n o in vest im en t o ∆I t – ω cor r espon de u m in cr em en t o
n a r en da br u t a :
∆I t – ω
∆Y t =
(1 – α′) (1 – q)
∆Y a qu i é m a is u m a vez m a ior qu e ∆I. Isso, con t u do, é explica do n ã o
só pelo a u m en t o do con su m o dos ca pit a list a s e dos t r a ba lh a dor es su b-
seqü en t e a o a cr éscim o do in vest im en t o, m a s t a m bém pelo m a ior volu m e
de im post os dir et os qu e pa ga m sobr e a r en da a cr escida .
P a ssa n do a gor a a o ca so gen ér ico on de a ba la n ça com er cia l e
o or ça m en t o do Gover n o n ã o sã o n ecessa r ia m en t e equ ilibr a dos e
on de a pou p a n ça dos t r a ba lh a dor es n ã o é n ecessa r ia m en t e zer o,
t em os (ver p. 75)
I′t – ω + A′
Pt = (8′′′)
1 – q′
on de I′ é a som a do in vest im en t o, do sa ldo da ba la n ça com er cia l e do
déficit or ça m en t á r io, e on de q′ e A′ difer em de q e A n a equ a çã o (8′)
n a m edida em qu e r eflet em a pou pa n ça dos t r a ba lh a dor es. A for m a
da equ a çã o (9′′) per m a n ece in a lt er a da :
Pt + B ′
Yt = (9′′)
1 – α′
E ssa s du a s equ a ções det er m in a m Y , em t er m os de I′t – ω . O in cr em en t o
em Y t cor r espon den t e a o in cr em en t o de I′t – ω é

∆I′t – ω
∆Y t =
(1 – α′) (1 – q′)

A det er m in a çã o do con su m o é m u it o m a is com plica da do qu e n o


n osso m odelo sim plifica do on de o con su m o er a a difer en ça en t r e Y e
I. No ca so gen ér ico, o con su m o é a difer en ça en t r e o t ot a l da r en da
depois dos im post os e a pou pa n ça . Agor a a pou pa n ça é igu a l a I′, a
som a do in vest im en t o, do sa ldo da ba la n ça com er cia l e do déficit or -
ça m en t á r io. O m on t a n t e da r en da depois dos im post os a qu i n ã o é igu a l

84
KALECKI

a Y . De fa t o, est e ú lt im o va lor é a r en da br u t a do set or pr iva do, qu e


n ã o en globa a r en da dos em pr ega dos do Gover n o ou a s despesa s de
t r a n sfer ên cia do Gover n o e é an tes dos im post os dir et os. O m on t a n t e
da r en da depois dos im post os é igu a l a Y , m a is a r en da dos em pr ega dos
do Gover n o e a s despesa s de t r a n sfer ên cia s do Gover n o e m en os t odos
os im post os dir et os. Segu e-se qu e o con su m o é igu a l a Y – I′ m en os os
im post os dir et os, m a is a r en da dos em pr ega dos do Gover n o m a is a s
despesa s de t r a n sfer ên cia . É óbvio qu e o con su m o n ã o pode ser com -
plet a m en t e det er m in a do em t er m os de I′ pela s equ a ções a cim a , qu e
per m it em a det er m in a çã o som en t e de Y – I′.
Ilu s tra ç ã o e s ta tís tic a

Tratemos agora de estimar os coeficientes da relação entre Y e I′


para os Estados Unidos no período 1929/41. Na página 62 estabelecemos
para aquele período a seguinte equação para a parcela relativa dos salários
e ordenados, V, na renda bruta do setor privado, Y:

V 707
⋅ 100 = 42,5 + + 0,11t
Y Y

on de o t em po, t, é con t a do a pa r t ir de 1935.


Leva n do em con sider a çã o qu e os lu cr os a n t es dos im post os
π = Y – V, obt em os

Y – π 7,07
= 0,425 + + 0,0011t .
Y Y

A pa r t ir dessa equ a çã o, Y pod e ser ca lcu la do com ba se em π. A


t a bela 14 dá os va lor es “r ea is” ver da deir os de Y e π5 44 e o va lor
ca lcu la do de Y. O gr a u de cor r ela çã o en t r e o va lor ver da d eir o e o
ca lcu la do de Y é ext r em a m en t e eleva d o. O coeficien t e d e cor r ela çã o
é 0,995.
Se a ba n don a r m os a t en dên cia n a equ a çã o a cim a , obt em os:
Y = 1,74 π + 12,2

qu e vem a se r a e qu iva le n t e d a equ a çã o (9 ). N e ces sit a m os a in d a


con s id e r a r os im p os t os s obr e os lu cr os s e qu ise r m os obt er a r e -
la çã o d e Y com os lu cr os d ep ois d os im p os t os , P . P a r a is so, cor -
r ela cion a m os os lu cr os “r e a is ” a n t es e d ep ois d os im p os t os (P foi

44 Com o defla t or foi em pr ega do n ova m en t e o ín dice im plícit o n a defla çã o do pr odu t o br u t o do


set or pr iva do pelo Depa r t a m en t o do Com ér cio dos E st a dos Un idos.

85
OS ECON OMIS TAS

TABE LA 14. R en d a B ru ta d o S etor Privad o e L u cros n os E stad os Un i-


d os, 1929/ 41.

da do a cim a n a t a bela 13) e obt em os u m a equ a çã o de r egr essã o qu e,


podem os su por , ca r a ct er iza o sist em a t r ibu t á r io vigen t e n a qu ele pe-
r íodo.45 E ssa r ela çã o en t r e π e P n os per m it e expr im ir Y em t er m os
de lu cr os depois dos im post os, P. Tem os por t a n t o com o equ iva len t e da
equ a çã o (9′′):

Y t = 2,03 P t + 10,4 .

A r e la çã o e n t r e P e I ’ p a r a o m e s m o p e r íod o foi e s t a b e le cid a


a cim a (p . 7 6 ). D e s p r e za n d o a t e n d ê n cia , t e m os com o e q u iv a -
le n t e d a e q u a çã o (8 ’’’):
1
P t = 1,34I′ t –
4
+ 13,4

Dessa s du a s equ a ções obt em os:

45 Tom a m os em con sider a çã o a qu i o per íodo 1929/40, em vez de 1929/41. A equ a çã o de r egr essã o
é: P = 0,86π + 0,9. O gr a u de cor r ela çã o é ba st a n t e eleva do, o qu e r esu lt a do fa t o de qu e
o sist em a de im post os dir et os per m a n eceu r a zoa velm en t e est á vel du r a n t e o per íodo con si-
der a do. Os im post os, con t u do, sofr er a m eleva çã o su bst a n cia l em 1941. (P a r a os det a lh es,
ver o Apên dice E st a t íst ico, Not a 9.)

86
KALECKI

Y t = 2,72I′ t –
1 + 37,7 .
4

O in cr em en t o de Y t qu e cor r espon de, com u m h ia t o t em por a l, a u m


in cr em en t o de I′t – 1 é:
4

∆Y t = 2,72∆I′ t –
1 .
4

As s im , a s m od ifica çõe s a b sol u t a s d e Y s ã o con s id e r a v e l-


m e n t e m a ior e s q u e a s d e I′. S im u lt a n e a m e n t e , d e a cor d o com
a e q u a çã o a n t e r ior , a s m od ifica çõe s p r op or ci on a is d e Y s ã o m e -
n or e s q u e a s d e I′.
P ro d u to bru to d o s e to r p riv a d o

Com o dissem os a cim a (p. 80), a r en da br u t a do set or pr iva do, Y ,


n ã o é igu a l a o pr odu t o br u t o da qu ele set or . A fim de pa ssa r de u m a
pa r a ou t r a , é pr eciso a dicion a r os im post os in dir et os de t oda s a s es-
pécies, t a is com o o im post o de con su m o, t a xa s a du a n eir a s ou a con -
t r ibu içã o dos em pr ega dor es à pr evidên cia socia l. Se design a r m os o pr o-
du t o ou pr odu çã o br u t a “r ea l” do set or pr iva do por O e o va lor “r ea l”
do t ot a l dos im post os in dir et os por E , t er em os:46
O =Y +E .

Com o foi dem on st r a do a cim a , Y é det er m in a do — com u m h ia t o t em -


pora l — pela som a do in vest im en t o, do sa ldo da ba la n ça com er cia l e
do déficit or ça m en t á r io I′ ou pelo in vestim en t o I se a ba la n ça com er cia l
e o or ça m en t o forem equ ilibr a dos. A fim de deter m in a r o produ t o
br u to do set or pr iva do, é n ecessá r io fa zer a lgu m a s su posições com
r ela çã o a E . As flu t u a ções r ela t iva s de E n o decu r so do ciclo econ ôm ico
sã o ger a lm en te m u ito m en ores qu e a s da r en da br u t a , Y , pela s se-
gu in t es r a zões: (a) os im post os in dir etos sã o freqü en t em en te a plica dos
a gên er os de pr im eir a n ecessida de ou qu a se de pr im eir a n ecessida de,
cu jo con su m o flu tu a m u it o m en os qu e Y ; (b) a s ta xa s sã o m u it a s vezes
fixa da s em din h eir o e n ã o ad valorem , de for m a qu e o va lor r ea l
dessa s t a xa s a u m en t a qu a n do os preços ca em . Ten ta n do sim plifica r,
va m os su por n a teor ia dos ciclos econ ôm icos expost a a segu ir qu e E
seja u m a con st a n te.
P a r a a det er m in a çã o da pr odu çã o do set or pr iva do, O, em t er m os
da som a do in vest im en t o, sa ldo da ba la n ça com er cia l e déficit or ça -
m en t á r io, I′, t em os a gor a :

46 Im a gin a m os Y e E su bm et idos a o m esm o defla t or , qu e é o ín dice de pr eços, de O, ist o é,


pelo ín dice dos pr eços do m ercad o.

87
OS ECON OMIS TAS

Ot = Y t + E (10)

Pt + B ′
Yt = (9′′)
1 – α′

I′t – ω + A′
Pt = . (8′′′)
1 – q′

Con clu i-se dir et a m en t e qu e u m in cr em en t o de I′t – ω det er m in a


u m in cr em en t o de O t :
∆I′t – ω
∆O t = .
(1 – α′) (1 – q′)

Su pon do-se qu e E seja u m a con st a n t e, O dem on st r a r á m odi-


fica ções pr opor cion a is m en or es qu e Y . Com o a s m odifica ções r ela t i-
va s de Y n o decu r so do ciclo sã o m en or es qu e a s de I′, segu e-se qu e
isso é a in d a m a is ver da d eir o com r ela çã o a O. Assim , se a ba la n ça
com er cia l e o or ça m en t o est ã o equ ilibr a d os, de for m a qu e I′ = I,
pode-se dizer qu e o pr odu t o br u t o do set or pr iva do O flu t u a m en os
qu e o in vest im en t o I.
Mo d ific a ç õ e s a lo n g o p ra zo n o in v e s tim e n to e n a re n d a

Dem on st r ou -se a cim a qu e a s m odifica ções r ela t iva s do in vest i-


m en t o I (m elh or dizen do, da som a do in vest im en t o, do sa ldo da ba la n ça
com er cia l e do déficit or ça m en t á r io, I′, qu e é igu a l à pou pa n ça ) n o
decu r so do ciclo econ ôm ico sã o m a ior es qu e a s da r en da br u t a ou pr o-
du çã o do set or pr iva do. Con t u do, n ã o é isso n ecessa r ia m en t e o qu e
su cede a lon go pr a zo.
A discr epâ n cia n a s flu t u a ções de I′ e Y ou O n o decu r so do ciclo
econ ôm ico depen de pr in cipa lm en t e de dois fa t or es: (a) qu e o con su m o
dos ca pit a list a s flu t u e m en os qu e os lu cr os; e (b) qu e os sa lá r ios m a is
or den a dos flu t u em m en os qu e a r en da br u t a , Y . Con t u do, o con su m o
dos ca pit a list a s n ã o t em qu e a u m en t a r m a is len t a m en t e qu e os lu cr os
n o decu r so do cr escim en t o a lon go pr a zo de u m a econ om ia . Na ver da de,
a pa r t e est á vel do con su m o dos ca pit a list a s, A (ver p. 73), pode, a
lon go pr a zo, su bir pr opor cion a lm en t e a os lu cr os, P. Da m esm a m a n eir a ,
a pa r t e est á vel dos sa lá r ios e or den a dos, B , qu e r eflet e o elem en t o de
cu st os in dir et os pr esen t e n a com posiçã o dos sa lá r ios (ver p. 61), pode
t a m bém eleva r -se a lon go pr a zo pr opor cion a lm en t e à r en da , Y . Assim ,
a lon go pr a zo, o in vest im en t o e a r en da podem n ã o dem on st r a r m odi-

88
KALECKI

TABE LA 15. R azão E n tre “Form ação B ru ta d e Capital” e “R en d a B ru ta


N acion al” n os E stad os Un id os, 1869-1913.

fica ções despr opor cion a is com o a s qu e a pr esen t a m n o decor r er do ciclo


econ ôm ico.
Parece que nos Estados Unidos, no período de 1870-1914, as m o-
dificações a longo prazo no investimento e na renda foram de fato mais
ou m enos proporcionais. A tabela 15 apresenta a razão entre “formação
bruta de capital” e “renda bruta nacional” para esse período, por décadas,
segundo Kuznets. Essa razão perm aneceu bastante estável.
Apesa r de t a n t o o n u m er a dor com o o den om in a dor difer ir em em
t er m os de con ceit o de I′ e de Y ,47 é pr a t ica m en t e cer t o qu e n o per íodo
con sider a do I′ e Y m over a m -se m a is ou m en os pr opor cion a lm en t e à
“for m a çã o br u t a de ca pit a l” e à “r en da br u t a n a cion a l” r espect iva m en t e.
A est a bilida de da r a zã o en t r e I′ e Y n ã o qu er dizer n ecessa r ia m en t e
qu e t a n t o a dist r ibu içã o da r en da com o a pr opor çã o do con su m o sobr e
os lu cr os t en h a m per m a n ecido con st a n t es, por qu a n t o poder ia t er h a vido
m odifica ções qu e fu n cion a ssem com o com pen sa çã o sobr e esses fa t or es.
De qu a lqu er for m a , n ã o se pr et en de qu e a a r gu m en t a çã o a cim a t en h a
sido expost a pa r a su ger ir qu e a est a bilida de a lon go pr a zo da r a zã o
en t r e pou pa n ça e r en da seja u m a lei econ ôm ica , m a s sim plesm en t e
pa r a m ost r a r qu e exist e a possibilida de da ocor r ên cia dessa r ela çã o.

47 I′ = “for m a çã o br u t a do ca pit a l” m en os in vest im en t o pú blico m a is déficit or ça m en t á r io.


Y = “r en da br u t a n a cion a l” m en os in vest im en t o pú blico m a is déficit m en os r en da dos em-
pr ega dos do Gover n o.
As difer en ça s em qu est ã o sã o pequ en a s n o per íodo con sider a do e, por t a n t o, pode-se su por
u m a pr opor cion a lida de n a s m odifica ções en t r e I′ e a “for m a çã o do ca pit a l” e en t r e Y e a
“r en da br u t a n a cion a l”.

89
P ARTE T ERCEIRA

A Ta x a d e J u ro s
6

A Ta x a d e J u ro s a Cu rto P ra zo

In tro d u ç ã o
A fir m a m os a cim a qu e a t a xa de ju r os n ã o pode ser det er m in a da
pela dem a n da e pela ofer t a de ca pit a l, por qu e o in vest im en t o a u t om a -
t ica m en t e cr ia u m a pou pa n ça de idên t ico va lor . Assim , o in vest im en t o
se “a u t ofin a n cia ” qu a lqu er qu e seja o n ível da t a xa de ju r os (ver p.
70). A t a xa de ju r os, por t a n t o, r esu lt a da in t er a çã o de ou t r os fa t or es.
Ir em os t r a t a r de dem on st r a r qu e a t a xa de ju r os a cu r t o pr a zo é de-
t er m in a da pelo va lor da s t r a n sa ções e pela ofer t a m on et á r ia por pa r t e
dos ba n cos; e qu e a t a xa a lon go pr a zo é det er m in a da por pr evisões
da t a xa a cu r t o pr a zo ba sea da s n a exper iên cia pa ssa da e por est im a t iva s
do r isco en volvido n a possível depr ecia çã o do a t ivo r ea lizá vel, a lon go
pr a zo (ver ca pít u lo 7).
Ve lo c id a d e d e c irc u la ç ã o e a ta x a a c u rto p ra zo
In diqu em os por M a m a ssa m on etá r ia , ist o é, a s n ota s de ba n co
em m ã os do pú blico e os depósit os ba n cá r ios a vist a , e por T o volu m e
t ota l dos n egócios, ist o é, o m on t a n t e do va lor da s tr a n sa ções em u m
cert o per íodo; T / M en t ã o é a velocida de de cir cu la çã o da m oeda , V.
F r eqü en t em en t e se t em su post o qu e V é con st a n t e; e esse de fa t o é
o a licer ce da t eor ia qu a n t it a t iva da m oeda . Ma s pa r ece ba sta n t e óbvio
qu e a velocida de de cir cu la çã o de fa t o depen de da t a xa de ju r os a
cu rt o pra zo.
De fa t o, qu a n t o m a is a lt a a t a xa a cu r t o pr a zo, m a ior ser á o
in cen t ivo a in vest ir din h eir o por per íodos cu r t os a o in vés de m a n t ê-lo
com o r eser va em ca ixa . Ou , de for m a m a is pr ecisa : a s t r a n sa ções
podem ser r ea liza da s com u m a qu a n t ida de d e din h eir o m a ior ou
m en or ; con t u do, o a u m en t o dos m eios de pa ga m en t o com r ela çã o
a o volu m e de n egócios sign ifica em m édia u m a r ea liza çã o m a is su a ve

93
OS ECON OMIS TAS

e m a is con ven ien t e da s t r a n sa ções. P or ou t r o la do, qu a n t o m a is


a lt a a t a xa de ju r os a cu r t o pr a zo, m a is ca r a ser á essa opçã o em
com pa r a çã o com a a lt er n a t iva d e se in vest ir em a t ivos r ea lizá veis
a cu r t o pr a zo. 48
P ode-se per gu n t a r por qu e foca liza m os a qu i a t a xa de ju r os a
cu r t o pr a zo e n ã o a t a xa de ju r os em ger a l. E scolh em os a t a xa a
cu r t o pr a zo p or qu e ela é a r em u n er a çã o da r en ú n cia à liqu idez. 49
Se com pa r a r m os a p osse de u m en ca ixe m on et á r io com a de let r a s
a vist a , a ú n ica difer en ça é qu e a s let r a s n ã o sã o dir et a m en t e u t i-
lizá veis pa r a r ea liza r t r a n sa ções e qu e r en d em ju r os. 50 Qu a n do, con -
t u do, com pa r a m os a posse de din h eir o com a de t ít u los d e r en da
fixa , t em os qu e leva r em con sid er a çã o t a m bém o r isco de u m a qu eda
n o pr eço dos t ít u los. 51
Ch ega m os à con clu sã o a cim a de qu e a velocida de de cir cu la çã o
V é fu n çã o cr escen t e da t a xa de ju r os a cu r t o pr a zo ρ ou

T
= V (ρ) . (11)
M

Dessa equ a çã o con clu i-se dir et a m en t e qu e, da da a fu n çã o V, a


t a xa de ju r os a cu r t o pr a zo, ρ, é det er m in a da pelo va lor da s t r a n sa ções,
T , e pela ofer t a m on et á r ia , M , qu e, por su a vez, é det er m in a da pela
polít ica ba n cá r ia .

48 Aqu i su r ge o pr oblem a de sa ber se, n est e con t ext o, a t a xa de ju r os a cu r t o pr a zo deve ser


en t en dida br u t a ou líqu ida com r ela çã o a o im post o sobr e a r en da . Se o em pr esá r io con sider a r
qu e o in con ven ien t e da r edu çã o da qu a n t ia de din h eir o líqu ido qu e t em em seu poder ir á
se r eflet ir a fin a l n u m a r edu çã o cor r espon den t e dos lu cr os, en t ã o ser ã o os ju r os a n t es dos
im post os qu e dever ã o ser con sider a dos. P a r ece qu e, pr ova velm en t e, a ssim a con t ece. Con t u do,
os r esu lt a dos do est u do em pír ico su bseqü en t e, com r ela çã o a o Rein o Un ido n o per íodo
1930/38, n ã o sã o a fet a dos por essa dificu lda de, u m a vez qu e a t a xa de im post o sobr e a
r en da foi ba st a n t e est á vel du r a n t e o per íodo.
49 H á qu e m a t iza r a coloca çã o, já qu e a t a xa a cu r t o pr a zo cobr e, a lém disso, a lgu n s cu st os
e in con ven ien t es t r a zidos pela s oper a ções de in vest im en t o en qu a n t o t a is, ou “cu st os de
in vest im en t o”.
50 As “let r a s” a qu i t ipifica m os a t ivos r ea lizá veis a cu r t o pr a zo em ger a l, en t r e os qu a is se
in clu em t a m bém os depósit os a pr a zo fixo.
51 Nã o se deve con clu ir disso, con t u do, qu e qu a lqu er a cr éscim o a o din h eir o líqu ido à disposiçã o
de u m a fir m a ir á t en der a ser in vest ido em let r a s. Im a gin em os qu e u m a fir m a t en h a em
seu poder n u m er á r io, let r a s e t ít u los. Im a gin em os a in da qu e en qu a n t o seu volu m e de
n egócios per m a n ece in a lt er a do e su a s t a xa s de ju r os a cu r t o e a lon go pr a zos per m a n ecem
t a m bém sem a lt er a çã o a fir m a r ecebe m a is din h eir o. Or a , se a fir m a in vest isse t odo o
din h eir o a dicion a l em let r a s, isso ser ia con sist en t e com a r ela çã o en t r e a pr efer ên cia pela
liqu idez e a t a xa de ju r os a cu r t o pr a zo da da , m a s ser ia desn ecessá r io r edu zir a pr opor çã o
dos a t ivos (t ít u los) r ela t iva m en t e m a is “a r r isca dos” m a s m a is com pen sa dor es do pon t o de
vist a da r em u n er a çã o. Assim , a fir m a t en der á a in vest ir pa r t e do n u m er á r io a dicion a l em
t ít u los.

94
KALECKI

Gr á fi co 3. R elação en tre a velocid ad e d e circu lação, V, e a taxa d e


ju ros a cu rto prazo, ρ.

A r ela çã o en t r e a t a xa de ju r os a cu r t o pr a zo, ρ, e a velocida de


de cir cu la çã o, V , pode ser r epr esen t a da por u m a cu r va com a for m a
t r a ça da n o gr á fico 3. Qu a n do V for a lt o, ist o é, a r et en çã o de din h eir o
líqu ido for bem pequ en a com r ela çã o a o volu m e dos n egócios, ser á
pr eciso u m a u m en t o ba st a n t e gr a n de da t a xa de ju r os a cu r t o pr a zo
pa r a m ot iva r u m a r edu çã o a dicion a l do en ca ixe m on et á r io. Dessa for m a ,
n esse pon t o ser á n ecessá r io u m a u m en t o ba st a n t e gr a n de da t a xa de
ju r os a cu r t o pr a zo pa r a m ot iva r u m da do in cr em en t o da velocida de
de cir cu la çã o, ∆V. P or ou t r o la do, qu a n do a m oeda m a n u a l é a bu n da n t e
com r ela çã o a o volu m e dos n egócios, é fá cil con segu ir econ om ia s em
din h eir o líqu ido, e a eleva çã o da t a xa de ju r os n ecessá r ia pa r a possi-
bilit a r u m a u m en t o da velocida de de cir cu la çã o ∆V é pequ en a .
Ilu s tra ç ã o e s ta tís tic a

Aplica r em os o r a ciocín io a cim a a u m a a n á lise da s m odifica ções


n a t a xa de ju r os a cu r t o pr a zo n o Rein o Un ido n o per íodo 1930/38,
pa r a o qu a l se dispõe de da dos sobr e o volu m e dos n egócios (la n ça m en t os
n os débit os da s con t a s cor r en t es) da ca r t eir a de com pen sa çã o de Lon -
dr es. Apesa r de a r a zã o en t r e esses da dos e o n ível da s con t a s cor r en t es
poder pa r ecer à pr im eir a vist a su ficien t e pa r a n os da r a velocida de de
cir cu la çã o, in felizm en t e a coisa n ã o é t ã o sim ples a ssim .
O volu m e de n egócios con sist e em du a s pa r t es de ca r á t er ba st a n t e
dist in t o: oper a ções fin a n ceir a s e n ã o fin a n ceir a s. Ca lcu la -se qu e n o
a n o de 1930 a s oper a ções fin a n ceir a s t en h a m r epr esen t a do cer ca de
85%52 do volu m e t ot a l dos n egócios. P or ou t r o la do, a s con t a s cor r en t es
fin a n ceir a s dificilm en t e r epr esen t a r ã o m a is qu e u m t er ço desse t ot a l.53
E ssa despr opor çã o obvia m en t e r eflet e a velocida de de cir cu la çã o m u it o

52 BROWN, E . H . P h elps e SH ACKLE , G. L. S. S tatistics of M on etary Circu lation in E n glan d


an d Wales. 1919-1937. Roya l E con om ic Societ y, Mem or a n do n º 74. p. 28.
53 Ibid ., p. 3.

95
OS ECON OMIS TAS

m a ior da s con t a s fin a n ceir a s em com pa r a çã o com a s n ã o fin a n ceir a s.


Con seqü en t em en t e, u m a m odifica çã o n a pr opor çã o da s con t a s fin a n -
ceir a s em com pa r a çã o com a s n ã o fin a n ceir a s pr ovoca r á u m a m odifi-
ca çã o con sider á vel n a r a zã o en t r e o volu m e dos n egócios e a s con t a s
cor r en t es, a pesa r de a m ba s a s velocida des de cir cu la çã o per m a n ecer em
in a lt er a da s. E sse defeit o pode ser r em edia do da segu in t e m a n eir a : r e-
du zim os o p eso d a s op er a ções fin a n ceir a s m u lt iplica n d o-a s pelo fa t or
qu e leva a r a zã o en t r e a s oper a ções fin a n ceir a s e a s n ã o fin a n ceir a s
n o a n o-ba se de 1930 a o n ível da r a zã o en t r e a s con t a s cor r en t es
fin a n ceir a s e a s n ã o fin a n ceir a s n a qu ele a n o. E m segu ida , som a m os
a s “op er a ções fin a n ceir a s r edu zida s” à s oper a ções n ã o fin a n ceir a s e
dividim os a som a p elo t ot a l da s con t a s cor r en t es. E ssa r a zã o p ode
ser con sider a da u m ín dice a pr oxim a do da s m od ifica ções da veloci-
da de de cir cu la çã o. E sse cá lcu lo é det a lh a do em m eu a r t igo sobr e
“A t a xa d e ju r os a cu r t o pr a zo e a velocida d e de cir cu la çã o”. 54 Os
r esu lt a d os a li obt id os a pa r ecem n a t a bela 16 e, em for m a de gr á fico,
n o gr á fico 4. 55

TABE LA 16. Ín d ice d a Velocid ad e d e Circu lação e T axa d e J u ros a


Cu rto Prazo n o R ein o Un id o, 1930/ 38.

Como se pode observar, exceto no que se refere a 1931, os pontos


de relação entre ρ e V situam-se em torno de uma curva cuja forma havíamos

54 Review of E con om ic St a t ist ics. Ma io de 1941.


55 Os r esu lt a dos pa ssa r a m por ligeir a r evisã o, t en do sido in cor por a da s (1) u m a m odifica çã o
n o pr ocedim en t o de t r a ba lh o da Ca r t eir a de Com pen sa çã o em n ovem br o de 1932, qu e
a u m en t ou o volu m e t ot a l de su a s oper a ções em cer ca de 2%, (2) u m a m odifica çã o n o escopo
da s con t a s cor r en t es em ja n eir o de 1938, qu e pr ovocou u m a u m en t o de cer ca de 2%.

96
KALECKI

Gr á fi co 4. Velocid ad e d e circu lação e taxa sobre letras d o T esou ro,


R ein o Un id o, 1930/ 38.

deduzido a priori na parte anterior. O ano de 1931 está bem acima da


curva, o que pode ser explicado pela crise financeira ocorrida no segundo
sem estre daquele ano, que provocou um deslocamento da curva para cima,
isto é, aum entou a quantidade de dinheiro líquido necessária para um
dado volum e de negócios a um a dada taxa de juros a curto prazo.56
I. N. Beh r m a n r ea lizou , n a m esm a lin h a , u m a a n á lise da r ela çã o
en t r e a t a xa de ju r os a cu r t o pr a zo e a velocida de de cir cu la çã o dos
sa ldos de ca ixa de gr a n des em pr esa s m a n u fa t u r eir a s dos E st a dos Un i-
dos pa r a o per íodo de 1919/40,57 obt en do r esu lt a dos sem elh a n t es.
Mo d ific a ç õ e s n a o fe rta m o n e tá ria p o r p a rte d o s ba n c o s

Con clu i-se da equ a çã o (11) qu e


M V (ρ) = T

Sob essa for m a , essa equ a çã o é n a r ea lida de a equ a çã o da qu a n -


t ida de de m oeda .58 Seu sign ifica do a qu i, con t u do, é m u it o difer en t e do
da t eor ia qu a n t it a t iva da m oeda . E la dem on st r a qu e, com u m da do
va lor de t r a n sa ções, T , u m a u m en t o n a ofer t a de m oeda , M , por pa r t e
do sist em a ba n cá r io, pr ovoca u m a qu eda n a t a xa de ju r os a cu r t o
pr a zo.
O pr ocesso por m eio do qu a l os ba n cos eleva m a ofer t a m on et á r ia
m er ece ser t r a t a do em det a lh e. P a r a sim plifica r , va m os su por qu e os
depósit os ba n cá r ios con sist a m a pen a s em con t a s cor r en t es. Im a gin em os

56 O pon t o r efer en t e a o a n o de 1938 t a m bém foi levem en t e desloca do pa r a cim a pelo a u m en t o


da t a xa a cu r t o pr a zo n o ou t on o, em vist a de cer t os a con t ecim en t os polít icos.
57 "Th e Sh or t -Ter m In t er est Ra t e a n d t h e Velocit y of Cir cu la t ion ". In : E con om etrica. Abr il de
1948.
58 T é o m on t a n t e do valor da s t r a n sa ções e, por t a n t o, equ iva le a PT n a equ a çã o F ish er .

97
OS ECON OMIS TAS

qu e os ba n cos decida m r edu zir su a r a zã o de ca ixa (ist o é, a r a zã o en t r e


a qu a n t ia de n ot a s e con t a s n o Ba n co Cen t r a l e os depósit os) e com pr a r
let r a s. O pr eço da s let r a s ir á a u m en t a r e a ssim a t a xa de ju r os a cu r t o
pr a zo ir á ca ir a o n ível em qu e o “pú blico” est a r á pr on t o a som a r à s
su a s con t a s cor r en t es a qu a n t ia qu e os ba n cos ga st a m em let r a s.
É in t er essa n t e n ot a r qu e a com pr a de t ít u los de cr édit o pelos
ba n cos t er á r eper cu ssões sem elh a n t es. É ver da de qu e in icia lm en t e o
pr eço dos t ít u los se eleva r á e o r en dim en t o dos t ít u los ir á ca ir a u m
n ível qu e leva r á o “pú blico” a a ba n don a r os a t ivos r ea lizá veis a lon go
pr a zo e pr efer ir a t ivos r ea lizá veis a cu r t o pr a zo e din h eir o líqu ido.
Ma s h a ver á t a m bém u m a t en dên cia por pa r t e do “pú blico” a in vest ir
em let r a s o din h eir o a dicion a l r ecebido pela ven da dos t ít u los a os ba n -
cos; desse m odo, o pr eço dos t ít u los ir á su bir e a t a xa a cu r t o pr a zo
ir á ca ir a t é o n ível em qu e o “pú blico” est iver dispost o a r et er o din h eir o
a dicion a l a o in vés de in vest i-lo n a com pr a de let r a s.
Mo d ific a ç õ e s c íc lic a s n a ta x a d e ju ro s a c u rto p ra zo

De a cor do com o qu e se disse a cim a , a s flu t u a ções cíclica s n a


t a xa de ju r os a cu r t o pr a zo podem ser explica da s em t er m os da ofer t a
de din h eir o por pa r t e dos ba n cos r efer ida à s flu t u a ções do va lor da s
t r a n sa ções, T. P a r ece qu e em ger a l essa ofer t a de din h eir o flu t u a m en os
qu e o va lor da s t r a n sa ções, de for m a qu e a velocida de de cir cu la çã o e
a t a xa de ju r os a cu r t o pr a zo a u m en t a m n a fa se de pr osper ida de e
ca em n a depr essã o.

TABE LA 17. T axa d e J u ros a Cu rto Prazo n o R ein o Un id o e n os E stad os


Un id os, 1929/ 40.

*An os de Gu er r a .

98
KALECKI

É pr eciso a cr escen t a r qu e os m ovim en t os da t a xa de ju r os a cu r t o


pr a zo n a déca da de 1930 t a n t o n o Rein o Un ido com o n os E st a dos
Un idos n ã o r epr esen t a m pr opr ia m en t e u m pa dr ã o t ípico.
Ta n t o n o Rein o Un ido com o n os E st a dos Un idos h á u m a qu eda
a br u pt a n os a n os de depr essã o (com u m a r ever sã o t em por á r ia em 1931
n o Rein o Un ido e em 1932 n os E st a dos Un idos, com o r eflexo do pâ n ico
fin a n ceir o). Con t u do, n os a n os de r ecu per a çã o, a t a xa a cu r t o pr a zo
con t in u a a ca ir , r eflet in do a ssim u m a t en dên cia bá sica da polít ica ba n -
cá r ia , volt a da pa r a o “din h eir o fá cil”.

99
7

A Ta x a d e J u ro s a Lo n g o P ra zo

A ta x a a c u rto p ra zo e a ta x a a lo n g o p ra zo
O ca pít u lo pr eceden t e dem on st r ou qu e a t a xa de ju r os a cu r t o
pr a zo é det er m in a da pelo volu m e de n egócios e pela ofer t a de m oeda
por pa r t e do sist em a ba n cá r io. Agor a exa m in a r em os o pr oblem a da
det er m in a çã o da t a xa de ju r os a lon go pr a zo.
A fim de est a belecer u m a liga çã o en t r e a t a xa de ju r os a cu r t o
e a lon go pr a zos, exa m in a r em os o pr oblem a da su bst it u içã o en t r e u m
a t ivo r ea lizá vel a cu r t o pr a zo qu e seja r epr esen t a t ivo, diga m os u m a
let r a de câ m bio, e u m a t ivo r ea lizá vel a lon go pr a zo qu e seja t a m bém
r epr esen t a t ivo, diga m os u m a Obr iga çã o do Tesou r o.59 Im a gin em os u m a
pessoa ou u m a em pr esa pen sa n do em com o in vest ir su a s r eser va s. O
in vest idor t en der á a com pa r a r os r esu lt a dos obt idos a pa r t ir do in ves-
t im en t o n os diver sos t ipos de t ít u los n o decor r er de a lgu n s a n os. Assim ,
a o fa zer a com pa r a çã o dos r en dim en t os obt idos, ele leva em con side-
r a çã o a m édia da t a xa de descon t o esper a da pa r a esse per íodo, qu e
in dica r em os por ρe , e a t a xa a t u a l de ju r os a lon go pr a zo (r en dim en t o
da s Obr iga ções), r. P odem os a gor a exa m in a r a s va n t a gen s e desva n -
t a gen s de a m bos os t ipos de t ít u los, cu jo r esu lt a do líqu ido explica a
difer en ça r – ρe .
P odem os em pr im eir o lu ga r con sider a r a possibilida de de u m a
per da de ca pit a l. A posse de let r a s ga r a n t e a in t egr ida de do pr in cipa l.
P or ou t r o la do, t ít u los de r en da fixa podem sofr er u m a depr ecia çã o de
seu va lor du r a n t e o per íodo con sider a do. O in vest idor pode despr eza r

59 O a u t or a qu i se r efer e a CONSOLS, n om e a br evia do de GOVE R N M E N T CON S OL IDAT E D


S T OCK. Tr a t a -se de t ít u los n ã o r esga t á veis qu e o Gover n o br it â n ico t em em it ido em diver sa s
oca siões, desde m ea dos do sécu lo XVIII, a pr eço va r iá vel em fu n çã o da t a xa de ju r os em
vigor n a época . (N. do T.)

101
OS ECON OMIS TAS

flu t u a ções a cu r t o pr a zo do va lor d os t ít u los qu e p ossu i, m a s se a


per da de ca pit a l a pr esen t a u m ca r á t er m a is p er m a n en t e, t em qu e
ser con sid er a da com o t a l. 60 P or t a n t o, d ever á ser feit a u m a pr evisã o
pa r a o r isco de depr ecia çã o n o va lor , γ, qu a n do se com pa r a r em os
r en dim en t os r e ρ.
P or ou t r o la do, h á cer t a s va n t a gen s qu e a posse de t ít u los de
r en da fixa t r a z sobr e a de let r a s. A t a xa de descon t o esper a da , ρe ,
est á su jeit a a in cer t eza s, en qu a n t o a t a xa de ju r os dos t ít u los, r, n ã o
est á . Adem a is, a posse de let r a s qu e t êm qu e ser r ecom pr a da s ca da
t r im est r e a ca r r et a vá r ios in con ven ien t es e cu st os. Con t u do, essa s con -
sider a ções n ã o sã o de gr a n de im por t â n cia e a s va n t a gen s, ε, da posse
de t ít u los desse pon t o de vist a pr ova velm en t e n ã o ser ã o a va lia da s a cim a
de, diga m os, 1%.
Se con sider a r m os o efeit o líqu ido da s desva n t a gen s, γ, e da s va n -
t a gen s, ε, em se possu ir u m t ít u lo, t em os:

r – ρe = γ – ε . (12)

P odem os con sider a r em m a is det a lh e o va lor de γ. Se o pr eço


a t u a l da s obr iga ções é p e o pr opr iet á r io t em u m a cer t a idéia , m a is
ou m en os defin ida , ba sea da em su a exper iên cia a n t er ior a r espeit o do
m ín im o qu e o pr eço pode a t in gir em su a qu eda P m in , ser á pla u sível
p – P m in
su por qu e γ seja a pr oxim a da m en t e pr opor cion a l a , ist o é, à
p
por cen t a gem m á xim a em qu e se ca lcu la pr ová vel qu e o pr eço da s obr i-
ga ções ca ia . Tem os, en t ã o,

p – p m in p m in
γ = g = g (1 – ). (13)
p p

Se o per íodo pa r a o qu a l foi feit o o cá lcu lo for de u m a n o e a


depr ecia çã o do va lor do ca pit a l for con sider a da cer t a , g ser á igu a l a
100. Ma s, u m a vez qu e o per íodo é n or m a lm en t e m a ior e qu e a de-
pr ecia çã o m á xim a n ã o é m u it o pr ová vel, pode-se esper a r qu e g seja
m u it o m en or qu e 100.
Com o o pr eço da s obr iga ções se a ch a em pr opor çã o in ver sa a os
seu s r en dim en t os, a expr essã o (13) pode ser escr it a :

60 Deve-se sa lien t a r qu e a per da se deve à depr ecia çã o do t ít u lo per se e n ã o à n ecessida de


de con ver t ê-lo em din h eir o líqu ido n u m a oca siã o em qu e a posiçã o do m er ca do seja desfa -
vor á vel. O din h eir o líqu ido n ecessá r io em u m a em er gên cia sem pr e pode ser obt ido por
m eio de cr édit o ba n cá r io con cedido con t r a a ga r a n t ia de t ít u los a t é u m a eleva da por cen t a gem
de seu va lor .

102
KALECKI

r
γ = g (1 – ) (13′)
r m ax

on de r m ax é o r en dim en t o cor r espon den t e a o “pr eço m ín im o”, p m in . Su bs -


t it u in do γ por essa expr essã o n a equ a çã o (12), obt er em os, depois de
t r a n sfor m a ções sim ples:
ρe g – ε
r = + . (14)
g g
1 + 1 +
r m ax r m ax

Se os coeficien t es g, ε e r m ax for em est á veis, essa equ a çã o expr i-


m ir á a t a xa a lon go pr a zo, r, com o fu n çã o lin ea r da t a xa a cu r t o pr a zo
esper a da , ρe. P oder á pa r ecer qu e (g, ε e rm ax sen do est á veis) r sem pr e
se m odifica em pr opor çã o m en or qu e ρe, u m a vez qu e

g
1 + > 1.
r m ax

Isso decor r e de n ossa su posiçã o de qu e qu a n do r a u m en t a , o r isco da


depr ecia çã o da s Obr iga ções decr esce (equ a çã o 13′).
Tem os pois dois fa t or es qu e explica m a est a bilida de da t a xa a
lon go pr a zo em com pa r a çã o com a t a xa a cu r t o pr a zo. (1) As m odifi-
ca ções de cu r t a du r a çã o n a t a xa de ju r os, a cu r t o pr a zo, ρ, r eflet em -se
a pen a s em pa r t e n a est im a t iva de ρe . (2) A t a xa a lon go pr a zo, r ,
m odifica -se em pr opor çã o m en or qu e ρe , qu e é a t a xa m édia a cu r t o
pr a zo esper a da pa r a os pr óxim os a n os.
É im portante salientar que o “coeficiente de risco” pode aumentar
não só quando a depreciação dos títulos for considerada m ais provável,
mas também quando se eleva a proporção da posse de ativos realizáveis
a longo prazo em comparação com a posse de ativos realizáveis a curto
prazo m ais num erário. É que, então, com igual probabilidade de depre-
ciação no valor dos títulos, um a queda real significar á uma perda maior
relativamente ao valor de todos os ativos disponíveis. Esse “risco crescente”
é explicado por um valor m ais elevado de g. Assim, coeteris paribus, se
o valor dos ativos realizáveis a longo prazo relativamente a todos os ativos
disponíveis em posse do público se eleva, g tende a aumentar.
Adem a is, o coeficien t e g t a m bém depen de da t a xa de im post os
sobr e a r en da (da qu a l fizem os a bst r a çã o a t é a qu i). De fa t o, a difer en ça
en t r e os r en dim en t os a lon go pr a zo e os r en dim en t os a cu r t o pr a zo
est á su jeit a a t r ibu t a çã o, m a s a depr ecia çã o n o va lor dos t ít u los em
ger a l n ã o é com pu t a da — ou pelo m en os n ã o é com pu t a da in t egr a lm en t e
— qu a n do se fa z o cá lcu lo dos im post os. Isso a pr esen t a u m a desva n -
t a gem a dicion a l pa r a a posse de t ít u los em com pa r a çã o com a de let r a s,
de for m a qu e o coeficien t e g sofr e u m a u m en t o cor r espon den t e.

103
OS ECON OMIS TAS

Ap lic a ç ã o a o s re n d im e n to s d e Obrig a ç õ e s d o
Te s o u ro B ritâ n ic o , 1849-1938
Aplicarem os agora os resultados obtidos na parte anterior à análise
dos rendim entos das Obrigações no período 1849-1938. O gráfico 5 apre-
senta um a curva de tem po representando os rendimentos das Obriga ções.
Veremos que é possível subdividir-se esse período em dez intervalos bas-
tante desiguais e que dentro de cada um deles a taxa a longo prazo sofre
flutuações relativam ente pequenas em torno da m édia em com paração
com as m odificações de um intervalo para o outro: 1849/80, 1881/87,
1888/93, 1894/1900, 1901/09, 1910/14, 1915/18, 1919/21, 1922/31, 1932/38.
Isso pode ser explicado pela hipótese de que dentro de cada um desses
intervalos a taxa a curto prazo esperada, ρe e os coeficientes g, r m ax e ε
flutuaram bem pouco em torno de certos valores, enquanto sofreram m o-
dificações de caráter m ais básico de intervalo para intervalo.

Gr á fi co 5. R en d im en tos d e Obrigações d o T esou ro, R ein o Un id o, 1849-


1938.

Volt em os n ossa a t en çã o pa r a essa s m odifica ções n a t a xa de des-


con t o m édia esper a da , ρe . Den t r o de ca da u m de n ossos in t er va los, a
t a xa de descon t o ρ de fa t o sofr eu flu t u a ções dist in t a s, a s qu a is, con t u do,
n ã o pr ovoca r a m flu t u a ções im por t a n t es em ρe . Isso pode ser explica do
pela segu in t e h ipót ese: os in vest idor es, em su a est im a t iva de ρe , em
gr a n de pa r t e deixa r a m de leva r em con sider a çã o os n íveis “a lt os” e
“ba ixos” da t a xa de descon t o den t r o dos in t er va los, t om a n do-os com o
t em por á r ios, e ba sea n do su a expect a t iva pr in cipa lm en t e n a posiçã o
“m édia ” m a is r ecen t e; esses “va lor es m édios” se a ch a va m dist r ibu ídos
den t r o de u m a fa ixa m u it o est r eit a n o in t er ior de ca da per íodo. Se

104
KALECKI

essa h ipót ese for cor r et a , segu e-se qu e a m édia ρe em ca da per íodo
n ã o difer e m u it o da m édia da t a xa de descon t o r ea l ρ n a qu ele per íodo.
A pa r t ir dessa su posiçã o, podem os t om a r a t a xa de descon t o m édia de
ca da per íodo com o n ossa pr im eir a a pr oxim a çã o de m édia ρe , poden do
dessa for m a cor r ela cion a r os r en dim en t os m édios da s Obr iga ções e a s
t a xa s de descon t o m édia s den t r o dos per íodos selecion a dos e a n a lisa r
a s equ a ções de r egr essã o por m eio da fór m u la (14).
O rendim ento m édio das Obrigações e a taxa m édia de desconto
para os períodos selecionados entre 1849 e 1938 aparecem na tabela 18.
Os m esm os da dos a pa r ecem n o gr á fico 6, n u m dia gr a m a de dis-
per sã o. P ode-se n ot a r qu e a m a ior pa r t e dos pon t os ca i bem pr óxim o
de du a s r et a s, AB e A 1 B 1 . Os pon t os cor r espon den t es a os in t er va los
a n t er ior es à P r im eir a Gu er r a Mu n dia l ca em per t o da lin h a A B m en os
os qu e r epr esen t a m 1881/87 e 1910/14. Os pon t os cor r espon den t es a os
per íodos do pós-gu er r a ca em per t o da lin h a A 1B 1 , qu e fica con sider a -
velm en t e a cim a de AB . F in a lm en t e, o per íodo de gu er r a (1915/18) é
r epr esen t a do por u m pon t o sit u a do en t r e A B e A 1B 1 . Deve-se sa lien t a r
qu e a posiçã o do pon t o 1881/87 a cim a de A B é explica da pelo fa t o de
qu e os r en dim en t os da s Obr iga ções n esse per íodo n ã o r eflet em o n ível
da “t a xa pu r a a lon go pr a zo”, m a s est a va m “a lt o dem a is”, devido a
u m a con ver sã o esper a da .61

TABE LA 18. R en d im en to M éd io d as Obrigações d o Govern o B ritân ico


e T axa M éd ia d e Descon to, Períod os S elecion ad os, 1849-1938.

F on t es: WIL L IAM S , T . T . “T h e R ate of Discou n t an d th e Price of Con sols”. In : J ou r n a l of Th e


Roya l St a t ist ica l Societ y. Fevereiro d e 1912; R ein o Un id o. Su m á r io E st a t íst ico An u a l; B an co d a
In glaterra. Su m á r io E st a t íst ico.

61 Ver H E WTRE Y, R. G. A Cen tu ry of B an k R ate. Lon dr es, 1938.

105
OS ECON OMIS TAS

Os r esu lt a dos obt idos podem ser in t er pr et a dos de for m a pla u sível
em t er m os da fór m u la (14). No per íodo 1849/1909, os coeficien t es g,
r m ax e ε per m a n ecer a m m a is ou m en os est á veis, e por t a n t o t em os u m a
r ela çã o fu n cion a l lin ea r en t r e r e ρe , r epr esen t a da por AB . Depois
desse per íodo, esses coeficien t es sofr er a m u m a m u da n ça r a dica l, pr in -
cipa lm en t e du r a n t e a P r im eir a Gu er r a Mu n dia l, t or n a n do-se est á veis
de n ovo n o pós-gu er r a , de for m a qu e os pon t os ρe e r desse per íodo
ca em sobr e a r et a A 1B 1 .

Gr á fi co 6. T axa d e d escon tos e ren d im en tos d e Obrigações d o T esou ro,


R ein o Un id o, 1849-1938.

Os pontos de 1910/14 e 1915/18, caindo entre AB e A 1 B 1 , representam


o período durante o qual se deu o deslocamento de AB para A 1B 1 .
A pa r t ir da s equ a ções da s r et a s A B e A 1 B 1, p odem os a gor a
obt er os coeficien t es g e ε p a r a os per íodos de 1849/1909 e 1919/1938,
r espect iva m en t e.
A equ a çã o de AB (1849/1909) é
r = 0,550 ρe + 1,17 .

Se a com pa r a r m os com a fór m u la (14),


ρe g–ε
r= +
g g
1+ 1+
r m ax r m ax

obt em os du a s equ a ções

106
KALECKI

1 g–ε
= 0,550 e = 1,17 .
g g
1+ 1+
r m ax r m ax

Com r ela çã o à t a xa m á xim a esper a da a lon go pr a zo, podem os su por


qu e seja a pr oxim a da m en t e de 3,4, por qu e essa er a a t a xa m á xim a n o
per íodo em qu est ã o e o n ível de r n o in ício do per íodo n ã o er a m u it o
in fer ior . E n t ã o, ser á possível det er m in a r , a pa r t ir da s ú lt im a s equ a ções,
os coeficien t es g e ε. Obt em os: g = 2,78, ε = 0,65.
A equ a çã o pa r a o per íodo 1919/38 é
r = 0,425 ρe + 2,90

e con seqü en t em en t e
1 g–ε
= 0,425 e = 2,90 .
g g
1+ 1+
r m ax r m ax

P odem os su por a qu i qu e r m ax seja igu a l a 5,1, sen do est e o n ível a l-


ca n ça do n o in ício do per íodo e qu e n u n ca foi su per a do post er ior m en t e.
Assim , obt em os: g = 6,9, ε = 0,07.
P odem os a gor a ju n t a r os r esu lt a dos de n ossos cá lcu los:

Períod o g r m ax ε

1849/1909 2,78 3,40 0,65


1919/1938 6,90 5,10 0,07

Do pon t o de vist a da con fir m a çã o de n ossa t eor ia , o r esu lt a do


m a is im por t a n t e é qu e ε (a va n t a gem , a bst r a in do o r isco de depr ecia çã o,
dos t ít u los em com pa r a çã o com a s let r a s) é pequ en o, con for m e espe-
r á va m os a pa r t ir de r a zões a priori. Se o coeficien t e de ρe n o per íodo
do pós-gu er r a t ivesse sido n ã o 0,425, m a s, diga m os, 0,25, dever ía m os
coeteris paribu s t er obt ido o va lor 3,7 pa r a ε, o qu e obvia m en t e ser ia
a bsu r do e por t a n t o n ega r ia n ossa t eor ia .62
O coeficien t e g é pequ en o em com pa r a çã o com 100, t a n t o n o pe-
r íodo qu e a n t ecedeu a gu er r a com o n o qu e lh e su cedeu — n ova m en t e
de a cor do com n ossa a r gu m en t a çã o a priori. A eleva çã o con sider á vel
de g (cer ca de du a s vezes e m eia ) en t r e esses dois per íodos é explica da

62 A t eor ia n ã o ser ia n ega da , con t u do, se ε fosse pequ en o e n ega t ivo, a pesa r de qu e de a cor do
com n ossa t eor ia dever ia ser posit ivo. A pesqu isa em pír ica a qu i esboça da é n ecessa r ia m en t e
de ca r á t er a pr oxim a t ivo, de for m a qu e pode fa cilm en t e a pr esen t a r u m va lor pequ en o e
n ega t ivo de ε a o in vés de u m va lor pequ en o e posit ivo.

107
OS ECON OMIS TAS

pela s flu t u a ções m u it o m a ior es de r depois de 1914 e pela eleva çã o do


im post o de r en da e de sobr et a xa s. A pr on u n cia da eleva çã o de g, em
con ju n t o com o a u m en t o de r m ax , explica o desloca m en t o da r et a AB
pa r a a posiçã o A 1 B 1 .

Es ta bilid a d e d a ta x a d e ju ro s a lo n g o p ra zo d u ra n te
o c ic lo e c o n ô m ic o

Um a olh a da n o gr á fico 5 r evela r á qu e a s m odifica ções m a is im -


por t a n t es da t a xa a lon go pr a zo n ã o segu em u m pa dr ã o cíclico de seis
a dez a n os. F or a flu t u a ções m en or es, h á com o qu e u m a on da de 1849
a 1914. E sse per íodo é segu ido pelo da gu er r a e pela in fla çã o do pós-
gu er r a . Depois da qu eda a pa r t ir do pon t o m á xim o a lca n ça do n o in ício
da déca da de 1920, a t a xa a lon go pr a zo se est a biliza a t é a Gr a n de
Depr essã o, qu a n do su r ge u m a t en dên cia decr escen t e qu e con t in u a a t é
den t r o da segu n da m et a de da déca da de 1930. A r ever sã o dessa t en -
dên cia n os dois ú lt im os a n os a n t es da Segu n da Gu er r a Mu n dia l se
deve à sit u a çã o polít ica .
A t a bela 19 dá o r en dim en t o da s Obr iga ções do Gover n o br it â n ico
pa r a o per íodo 1929/38 e os r en dim en t os da s Obr iga ções do Tesou r o
dos E st a dos Un idos pa r a 1929/40.
E m a m bos os pa íses, a ca r a ct er íst ica p r in cipa l é a t en d ên cia
decr escen t e qu e r esu lt a da qu eda — a lon go pr a zo — da t a xa a
cu r t o pr a zo. Con t u do, a sér ie a m er ica n a difer e em d ois pon t os: (a)
h á u m a u m en t o sign ifica t ivo n a t a xa a lon go pr a zo dos E st a dos
U n idos em 1932, r eflet in do a in t en sida d e do pâ n ico fin a n ceir o; (b)
n ã o h á eleva çã o em 1937 e 1938, em con t r a st e com o Rein o U n ido,
on de a t a xa a lon go pr a zo foi a fet a d a pela sit u a çã o polít ica m u n dia l.
N en h u m a da s du a s sér ies a pr esen t a u m pa dr ã o cíclico defin id o. P a r -
t icu la r m en t e n ã o h á u m a qu ed a sign ifica t iva com o a d a t a xa a cu r t o
pr a zo a t é 1934.
O fa t o de qu e a t a xa a lon go pr a zo n ã o a pr esen t a flu t u a ções
cíclica s m a r ca n t es só ser ve pa r a con fir m a r a t eor ia a cim a expost a . A
t a xa a cu r t o pr a zo n or m a lm en t e ca i n u m per íodo de depr essã o e sobe
n u m de pr osper ida de, por qu e a ofer t a m on et á r ia sofr e flu t u a ções m e-
n or es qu e a s do va lor da s t r a n sa ções. Ma s a t a xa a lon go pr a zo r eflet e
essa s flu t u a ções a pen a s em cer t a m edida . De fa t o, a t a xa a lon go pr a zo
se ba seia n a t a xa m édia a cu r t o pr a zo esper a da pa r a os pr óxim os a n os,
e n ã o n a t a xa a cu r t o pr a zo cor r en t e; a dem a is, a t a xa a lon go pr a zo
se m odifica bem m en os qu e a t a xa a cu r t o pr a zo esper a da , por qu a n t o
su a eleva çã o, ist o é, a qu eda n os pr eços dos t ít u los, t or n a m en os pr o-
vá vel o r isco de u m a su a depr ecia çã o a dicion a l (ver p. 103).

108
KALECKI

TABE LA 19. A T axa d e J u ros a L on go Prazo n o R ein o Un id o e n os


E stad os Un id os Du ran te a Gran d e Depressão.

F on t es: B an co d a In glaterra. Su m á r io E st a t íst ico; Con selh o d e Govern ad ores d o S istem a d e R eserva
Fed eral. E st a t íst ica s Ba n cá r ia s e Mon et á r ia s.

*An os de gu er r a

Alguns autores têm atribuído um papel im portante à taxa de juros


entre as forças subjacentes às flutuações econômicas. Com o é a taxa a
longo prazo que é relevante no que diz respeito à determinação do inves-
timento e portanto ao mecanismo do processo cíclico, os resultados acim a
obtidos são bastante significativos. E fetivam ente, em vista do fato de que
a taxa de juros a longo prazo, pelas razões acima expostas, não apresenta
flutuações cíclicas pronunciadas, dificilmente poderia ser considerada um
elemento importante no mecanismo do ciclo econôm ico.63

63 Cf. p. 120 et seq.

109
P ARTE Q U ARTA

A D e te rm in a ç ã o d o In v e s tim e n to
8

O Ca p ita l d a Em p re s a e o In v e s tim e n to

O ta m a n h o d a firm a e o c a p ita l d a e m p re s a

Q u a n d o s e fa la d a lim it a çã o d o t a m a n h o d e u m a fir m a ,
d ois fa t or es em ger a l sã o a p on t a d os: (1 ) a s d e se con om ia s d e gr a n -
d e es ca la ; (2 ) a s lim it a ções d o m e r ca d o, cu ja e xp a n sã o exigir ia a
r ed u çã o d os p r e ços a n íve is q u e n ã o s er ia m lu cr a t ivos ou en t ã o
a eleva çã o d os cu s t os d e ven d a s. O p r im eir o d e ss es fa t or e s n ã o
p a r ece m u it o r e a l, s en d o d e sp r ovid o d e fu n d a m en t a çã o t e cn oló-
gica , p or qu e, a p es a r d e t od a fá br ica t e r u m t a m a n h o ót im o, a in d a
é p oss ível t e r -s e d u a s , t r ê s ou m a is fá br ica s. O a r gu m e n t o r ela t ivo
à s d ificu ld a d es a d m in is t r a t iva s t r a zid a s p or u m a e m p r e sa d e
gr a n d e es ca la t a m b ém p a r e ce d u vid oso, já qu e s em p r e s e p od e
t r a t a r d e r es olver es s e p r oblem a r ecor r en d o à d es cen t r a liza çã o.
A lim it a çã o d o t a m a n h o d a fir m a p elo m er ca d o p a r a se u s p r od u t os
é be m r e a l, m a s a in d a a s sim n ã o exp lica a exist ê n cia d e fir m a s
gr a n d es e p eq u en a s d e n t r o d o m es m o r a m o.
H á , con t u do, u m ou t r o fa t or de im por t â n cia d ecisiva n a lim i-
t a çã o do t a m a n h o d e u m a fir m a : o ca pit a l da em pr esa , ist o é, a
qu a n t ida d e de ca pit a l qu e a fir m a p ossu i. O a cesso d e u m a fir m a
a o m er ca d o de ca pit a is, ou , em ou t r a s pa la vr a s, o volu m e de ca pit a l
qu e pode esper a r obt er d e in vest idor es, é det er m in a do em gr a n de
pa r t e p elo volu m e d o ca pit a l dessa em p r esa . S er ia im p ossível u m a
fir m a t om a r em pr est a do ca pit a l a cim a de u m cer t o lim it e d et er m i-
n a do pelo volu m e de seu ca pit a l de em pr esa . S e, p or exem p lo, u m a
fir m a t en t a sse r ecor r er à em issã o de t ít u los, sen do essa em issã o
despr opor cion a l a o ca pit a l da em p r esa , n ã o con segu ir ia su bscr içã o
t ot a l. Mesm o qu e a fir m a pr ocu r a sse em it ir os t ít u los a u m a t a xa
de ju r os a cim a do n or m a l, a ven da d os t ít u los pod er ia se ben eficia r

113
OS ECON OMIS TAS

com isso, u m a vez qu e a pr ópr ia t a xa m a is eleva da poder ia leva n t a r


dú vida s qu a n t o à solvên cia da fir m a n o fu t u r o.
Além d isso, m u it a s fir m a s n ã o se disp õem a r ecor r er a o u so
de t od a s a s pot en cia lida des d o m er ca d o de ca pit a is, devido a o “r isco
cr escen t e” qu e a exp a n sã o en volve. N a ver da d e, a lgu m a s fir m a s po-
der ã o m esm o m a n t er seu in vest im en t o a u m n ível a ba ixo do qu e
ser ia per m it id o p elo ca pit a l d a em pr esa , pa r t e do qu a l poder á est a r
sob a for m a d e t ít u los. U m a fir m a qu e pen se em expa n d ir -se deve
en ca r a r o fa t o de qu e, da do o volu m e do ca pit a l da em p r esa , o r isco
a u m en t a com a qu a n t ia in vest ida . Qu a n t o m a ior o in vest im en t o com
r ela çã o a o ca pit a l da em pr esa , m a ior ser á a r edu çã o da r en da do
em p r ést im o em ca so de fr a ca sso n os n egócios. Su pon h a m os, por
exem plo, qu e u m em pr esá r io deixe de t er qu a lqu er lu cr o n os n egó-
cios. Or a , se só u m a pa r t e de seu ca pit a l est iver in vest ida n os n e-
gócios e u m a pa r t e est iver r et ida sob for m a de t ít u los de boa qu a -
lida de, ele a in da obt er á a lgu m a r en d a líqu id a de seu ca pit a l. Se
t odo o seu ca pit a l est iver in vest id o, en t ã o seu r en dim en t o ser á igu a l
a zer o e se ele t iver r ecor r ido a em p r ést im os fica r á em débit o —
se essa sit u a çã o con t in u a r por u m cer t o t em po, a fir m a t er á qu e
fech a r a s p or t a s. É cla r o qu e, qu a n t o m a ior o volu m e dos em pr és-
t im os t om a dos, m a ior ser á o r isco de u m a con t in gên cia dessa s.
O t a m a n h o de u m a fir m a por t a n t o pa r ece a ch a r -se cir cu n scr it o
pelo volu m e do ca pit a l da em pr esa t a n t o a t r a vés de su a in flu ên cia n a
ca pa cida de de con segu ir ca pit a l em pr est a do com o a t r a vés de seu efeit o
n o gr a u de r isco. A va r ieda de de t a m a n h o da s em pr esa s de u m m esm o
r a m o em u m a da da oca siã o pode ser fa cilm en t e explica da em t er m os
do ca pit a l da s em pr esa s. Se for eleva do, fa cilit a r á a obt en çã o de fu n dos
pa r a u m in vest im en t o de vu lt o, o qu e n ã o ser á con segu ido por u m
n ível ba ixo do ca pit a l da em pr esa . As difer en ça s n a posiçã o r ela t iva
da s fir m a s det er m in a da s pelo ca pit a l da s em pr esa s sã o a pr ofu n da da s
pelo fa t o de qu e a s fir m a s a ba ixo de u m cer t o t a m a n h o sim plesm en t e
n ã o t êm a cesso a o m er ca do de ca pit a is.
Decor r e do a cim a exp ost o qu e a expa n sã o de u m a fir m a de-
pen de de su a a cu m u la çã o de ca pit a l a pa r t ir dos lu cr os cor r en t es.
Isso per m it ir á à fir m a r ea liza r n ovo in vest im en t o sem d efr on t a r -se
com os obst á cu los r epr esen t a dos por u m m er ca do d e ca pit a is lim it a do
ou pelo “r isco cr escen t e”. N ã o só a pou p a n ça feit a a pa r t ir dos lu cr os
cor r en t es poder á ser in vest id a dir et a m en t e n os n egócios, com o t a m -
bém esse a u m en t o do ca pit a l da fir m a ir á possibilit a r -lh e con t r a ir
n ovos em pr ést im os.
O p ro ble m a d a s s o c ie d a d e s a n ô n im a s

P oder em os t er dú vida s ju st ifica da s qu a n t o a sa ber se a s lim i-


t a ções a cim a se a plica m n o ca so de socieda des a n ôn im a s. Se u m a
com pa n h ia em it ir t ít u los ou debên t u r es, a sit u a çã o n ã o se a lt er a r á

114
KALECKI

de m odo sign ifica t ivo. Qu a n t o m a ior a em issã o, m a is os dividen dos


ser ã o pr eju dica dos n a even t u a lida de de os n egócios fr a ca ssa r em . A
posiçã o ser á sem elh a n t e n o ca so de u m a em issã o de a ções pr efer en cia is
(cu jos dividen dos sã o pa gos do lu cr o a n t es do pa ga m en t o de dividen dos
a os por t a dor es de a ções or din á r ia s). Ma s se se t r a t a r de u m a em issã o
de a ções or din á r ia s? Prim a facie, pa r ece qu e n ã o h a ver ia lim it es
est a belecidos pa r a a em issã o, m a s n a ver da d e h á diver sa s lim it a ções.

(a) É pr eciso em pr im eir o lu ga r dizer qu e u m a socieda de a n ôn im a


n ã o é u m a “ir m a n da de de a cion ist a s”, m a s qu e é con t r ola da por u m
gr u po de gr a n des a cion ist a s, en qu a n t o os dem a is em n a da difer em de
por t a dor es de t ít u los com t a xa de ju r os flexível. Or a , esse gr u po, a fim
de con t in u a r a exer cer o con t r ole da socieda de, n ã o pode ven der u m
n ú m er o ilim it a do de a ções a o “pú blico”. É ver da de qu e essa “dificu lda de”
pode ser r esolvida em pa r t e, por exem plo, pelo sist em a de h old in gs.64
Nã o obst a n t e, o pr oblem a da m a n u t en çã o do con t r ole pelos a cion ist a s
m a jor it á r ios exer ce algu m a in flu ên cia n o sen t ido da lim it a çã o de em is-
sões a o “pú blico”.

(b) H á u m r isco de qu e o in vest im en t o fin a n cia do por u m a em issã o


de a ções n ã o a u m en t e os lu cr os da com pa n h ia pr opor cion a lm en t e t a n t o
qu a n t o a em issã o a u m en t ou o ca pit a l a cion á r io e de r eser va . Se a t a xa
de r en dim en t o do n ovo in vest im en t o n ã o igu a la r , pelo m en os, à a n t iga
t a xa de lu cr os, en t ã o os dividen dos dos a n t igos a cion ist a s em ger a l e
do gr u po con t r ola dor em pa r t icu la r ir ã o se “espr em er ”. É cla r o qu e,
qu a n t o m a ior for a n ova em issã o, m a ior t a m bém ser á o r isco desse
t ipo. É m a is u m ca so, por t a n t o, de “r isco cr escen t e”.

(c) As e m iss õe s d e a ções s ã o r e st r in gid a s p e lo m er ca d o li-


m it a d o q u e exis t e p a r a a s a çõe s d e u m a d a d a com p a n h ia . O “p ú -
blico” t en d e a d is t r ib u ir se u r isco com p r a n d o a ções d e d iver s a s
com p a n h ia s d ifer en t e s. S er á im p os s ível, p or t a n t o, coloca r m a is
qu e u m a q u a n t id a d e lim it a d a d e n ova s a çõe s a u m p r eço qu e
s er ia r a zoá vel d o p on t o d e vis t a d os velh os a cion is t a s . P a r a es t es
ú lt im os , o p r e ço a o q u a l a s n ova s a çõe s s ã o v e n d id a s é d e e x -
t r e m a im p or t â n cia . D e fa t o, s e o p r e ço for “b a ixo d e m a is ” com
r e la çã o a os lu cr os e s p e r a d os , s u r gir á u m a s it u a çã o s e m e lh a n t e
à q u e d e s cr e ve m os e m (b). E ss a n ova em is s ã o n ã o ir á a u m en t a r
a ca p a cid a d e d e ga n h o d a com p a n h ia p r op or cion a lm en t e t a n t o

64 Um gr u po qu e possu i 51% da s a ções de u m a com pa n h ia for m a ou t r a com pa n h ia , qu e ser á


a h old in g. O gr u po fica com 51% da s a ções da n ova com pa n h ia e ven de 49% a o “pú blico”.
Dessa for m a , o gr u po pa ssa a con t r ola r a com pa n h ia h old in g e a t r a vés dela a com pa n h ia
velh a a pen a s com 26% do ca pit a l dest a ú lt im a , fica n do com cer ca de 25% desse ca pit a l em
din h eir o líqu ido, qu e pode ser in vest ido em u m a n ova em issã o de a ções da com pa n h ia
velh a .

115
OS ECON OMIS TAS

qu a n t o o seu ca pit a l a cion á r io e de r eser va e isso fa r á com qu e os


dividen dos dos a n t igos a cion ist a s seja m “espr em id os”.

Tu do isso a pon t a pa r a o fa t o de qu e u m a socieda de a n ôn im a


t a m bém t em lim it a ções exa t a s à su a expa n sã o. E ssa expa n sã o depen de,
da m esm a for m a qu e ocor r ia com u m a em pr esa fa m ilia r , da a cu m u la çã o
de ca pit a l a pa r t ir dos lu cr os cor r en t es. E sse a u m en t o do ca pit a l de
em pr esa , con t u do, n ã o se lim it a a os lu cr os n ã o dist r ibu ídos da com -
pa n h ia . A su bscr içã o de a ções pelo gr u po con t r ola dor , est r it a m en t e
liga da à pou pa n ça “pessoa l” do gr u po, deve ser con sider a da ou t r a for m a
de a cu m u la çã o de ca pit a l da em pr esa .
A a cu m u la çã o “in t e r n a ” d e ca p it a l for n ece r ecu r s os qu e p o-
d em s er ca n a liza d os d e volt a p a r a os n egócios . Ad em a is, es s a
a cu m u la çã o fa cilit a n ova s em is s ões d e a ções a o “p ú blico”, p or qu e
a ju d a a s u p e r a r os obs t á cu los qu e h á p ou co en u m e r a m os . (a )
Qu a n d o a a cu m u la çã o t om a a for m a d e s u b scr içã o d e em is s ões
d e a ções p or p a r t e d o gr u p o con t r ola d or , p er m it e a cir cu la çã o d e
u m a ce r t a qu a n t id a d e d e a ções a o “p ú blico” se m p r e ju d ica r o con -
t r ole d o gr u p o s obr e a m a ior ia d a s a çõe s. (b) O cr e scim e n t o d o
t a m a n h o d a fir m a a t r a vé s d a a cu m u la çã o “in t er n a ” d o ca p it a l
d im in u i o r is co en volvid o n a em is s ã o d e u m a d a d a qu a n t id a d e
d e a ções a o “p ú blico” p a r a fin a n cia r n ovos in ves t im en t os . (c) U m
a u m en t o d o ca p it a l d a com p a n h ia s em r ecu r so a o “p ú blico” t en -
d er á a a m p lia r o m er ca d o d e ca p it a is p a r a a s a ções d a qu ela com -
p a n h ia , u m a vez q u e, em ge r a l, qu a n t o m a ior for a com p a n h ia ,
m a is im p or t a n t e s er á s eu p a p el n o m e r ca d o d e a ções .
Co n c lu s ã o

A lim it a çã o do t a m a n h o da fir m a pela dispon ibilida de de ca pit a l


da em pr esa ch ega a o â m a go do sist em a ca pit a list a . Mu it os econ om ist a s
su põem , pelo m en os em su a s t eor ia s a bst r a t a s, u m est a do de dem o-
cr a cia econ ôm ica on de qu a lqu er pessoa com o dom da h a bilida de em -
pr esa r ia l pode obt er ca pit a l pa r a in icia r u m n egócio. E sse qu a dr o da s
a t ivida des do em pr esá r io “pu r o” n ã o é, pa r a pôr a coisa em t er m os
m odest os, r ea list a . O pr é-r equ isit o m a is im por t a n t e pa r a a lgu ém se
t or n a r em pr esá r io é a propried ad e de ca pit a l.
As con sider a ções a cim a sã o de gr a n de im por t â n cia pa r a a t eor ia
da det er m in a çã o do in vest im en t o. Um dos fa t or es im por t a n t es com
r ela çã o à s decisões de in vest ir é a a cu m u la çã o do ca pit a l da s fir m a s
a pa r t ir dos lu cr os cor r en t es. Tr a t a r em os desse a ssu n t o em det a lh e
n o pr óxim o ca pít u lo.65

65 Os pr oblem a s a qu i discu t idos sã o t a m bém de ba st a n t e im por t â n cia pa r a a t eor ia da con -


cen t r a çã o do ca pit a l. Cf. STE INDL, J . “A E m pr esa Ca pit a list a e o Risco”. In : Oxford E co-
n om ic Papers. Ma r ço de 1945.

116
9

Os D e te rm in a n te s d o In v e s tim e n to

Os d e te rm in a n te s d a s d e c is õ e s d e in v e s tir e m c a p ita l fix o


O n osso pr oblem a a qu i con sist e em a ch a r os det er m in a n t es da
taxa de decisões de in vest ir , ist o é, a qu a n t ida de de decisões de in vest ir
por u n id ad e d e tem po. Às decisões de in vest ir em u m da do per íodo de
t em po, det er m in a da s por cer t os fa t or es qu e oper a m du r a n t e esse m esm o
per íodo, segu em -se, com u m h ia t o t em por a l, in vest im en t os efet ivos. O
h ia t o t em por a l é devido em gr a n de pa r t e a o per íodo de con st r u çã o,
m a s t a m bém r eflet e fa t or es com o decisões em pr esa r ia is r et a r da da s.
Se in dica r m os a qu a n t ida de de decisões de in vest im en t o em ca pit a l
fixo por u n ida de de t em po por D, e o in vest im en t o em ca pit a l fixo por
F, t er em os a r ela çã o:
Ft + τ = Dt

on de o h ia t o, τ, é a dist â n cia h or izon t a l en t r e a cu r va t em por a l da s


decisões de in vest im en t o por u n ida de de t em po, D, e a cu r va t em por a l
do in vest im en t o em ca pit a l fixo, F.66
Abor da r em os o pr oblem a dos det er m in a n t es da s decisões de in -
vest ir em ca pit a l fixo da segu in t e for m a : se con sider a r m os a t a xa de
decisões de in vest ir em u m per íodo cu r t o de t em po, poder em os su por
qu e n o in ício desse per íodo a s fir m a s t en h a m eleva do seu s pla n os de
in vest im en t o a u m pon t o t a l em qu e deixa m de ser lu cr a t iva s, qu er
por m ot ivo da s lim it a ções do m er ca do pa r a os pr odu t os da fir m a , qu er
devido a o “r isco cr escen t e” e à lim it a çã o do m er ca do de ca pit a is. As

66 Deve-se sa lien t a r qu e a s decisões de in vest im en t o n ã o sã o est r it a m en t e ir r evogá veis. O


ca n cela m en t o de or den s de in vest im en t o, a pesa r de pr ovoca r per da s con sider á veis, pode
ocor r er e de fa t o ocor r e. Con t u do, t r a t a -se de u m fa t or qu e per t u r ba a r ela çã o en t r e decisões
de in vest ir e o in vest im en t o con for m e descr it o pela equ a çã o (15).

117
OS ECON OMIS TAS

decisões de n ovos in vest im en t os, por t a n t o, só ser ã o t om a da s se n o pe-


r íodo con sider a do ocor r er em m odifica ções n a sit u a çã o econ ôm ica qu e
a la r gu em a s fr on t eir a s delim it a da s pa r a os pla n os de in vest im en t o por
esses fa t or es. Tom a r em os em con sider a çã o t r ês ca t egor ia s a m pla s de
m odifica ções dessa espécie n o per íodo da do: (a) a cu m u la çã o br u t a de
ca pit a l pela s fir m a s a pa r t ir dos lu cr os cor r en t es, ist o é, su a pou pa n ça
br u t a cor r en t e; e (b) m odifica ções n os lu cr os e m odifica ções n o est oqu e
de ca pit a l fixo, os qu a is, con ju n t a m en t e, det er m in a m m odifica ções n a
t a xa de lu cr os. E xa m in em os m a is det a lh a da m en t e esses fa t or es.
O pr im eir o fa t or foi t r a t a do de m a n eir a gen ér ica n o ca pít u lo a n -
t er ior . As decisões de in vest im en t o a ch a m -se in t im a m en t e liga da s à
a cu m u la çã o in t er n a de ca pit a l, ist o é, à pou pa n ça br u t a da s fir m a s.
H a ver á u m a t en dên cia a em pr ega r essa pou pa n ça em in vest im en t os,
e, a lém disso, o in vest im en t o pode ser fin a n cia do por din h eir o vin do
de for a , a t r a ído pela a cu m u la çã o do ca pit a l da em pr esa . A pou pa n ça
br u t a da s fir m a s por t a n t o expa n de os lim it es im post os a os pla n os de
in vest im en t o pela s r est r ições do m er ca do de ca pit a is e pelo fa t or do
“r isco cr escen t e”.
E m sen t ido r est r it o, a pou pa n ça br u t a da s fir m a s con sist e n a
depr ecia çã o e n os lu cr os n ã o dist r ibu ídos. J u n t a r em os m a is u m it em ,
con t u do, a “pou pa n ça pessoa l” qu e os gr u pos con t r ola dor es in vest ir a m
n a s su a s com pa n h ia s por m eio da su bscr içã o de a ções. E sse con ceit o
de pou pa n ça br u t a da s fir m a s fica por t a n t o u m pou co va go. Con t or -
n a r em os essa dificu lda de su pon do qu e a pou pa n ça br u t a da s fir m a s
con for m e a cim a defin ida se r ela cion a com o t ot a l da pou pa n ça pr iva da
br u t a (in ter alia com o r esu lt a do da cor r ela çã o en t r e os lu cr os e a r en da
r a cion a l, ver p. 79). Segu in do essa su posiçã o, a t a xa de decisões de
in vest ir em ca pit a l, D, é fu n çã o cr escen t e do t ot a l da pou pa n ça br u t a ,
S . (Im a gin em os qu e a s decisões de in vest ir e os in vest im en t os se a pr e-
sen t em em t er m os r ea is — ist o é, a seu s va lor es foi a plica do o defla t or
con st it u ído pelo ín dice dos pr eços dos ben s de ca pit a l. Assim , con clu i-se
dir et a m en t e qu e a pou pa n ça br u t a t a m bém t em qu e ser defla cion a da
pelo ín dice de pr eços dos ben s de ca pit a l.)
Ou t r o fa t or qu e in flu en cia a t a xa de decisões de in vest im en t o é
a eleva çã o dos lu cr os por u n ida de de t em po. Um a u m en t o dos lu cr os
do com eço a o fim do per íodo con sider a do t or n a a t r a en t es cer t os pr ojet os
a n t er ior m en t e con sider a dos n ã o lu cr a t ivos, per m it in do dessa for m a a
a m plia çã o dos lim it es dos pla n os de in vest im en t o n o decu r so do per íodo.
O va lor da s decisões de r ea liza r n ovos in vest im en t os r esu lt a n t es divi-
dido pela ext en sã o do per íodo n os dá a m edida da con t r ibu içã o da
m odifica çã o dos lu cr os por u n ida de de t em po à t a xa de decisões de
in vest im en t os n o per íodo con sider a do.
Qu a n do se pesa a lu cr a t ivida de dos n ovos pr ojet os de in vest i-
m en t o, os lu cr os esper a dos sã o con sider a dos com r ela çã o a o va lor do
n ovo ca pit a l em equ ipa m en t o. Assim , os lu cr os sã o t om a dos com r ela çã o

118
KALECKI

a os pr eços cor r en t es dos ben s de ca pit a l. P odem os leva r em con t a esse


fa t or a plica n do a os lu cr os u m defla t or con st it u ído pelo ín dice de pr eços
dos ben s de ca pit a l. E m ou t r a s pa la vr a s, se in dica r m os o m on t a n t e
dos lu cr os br u t os depois dos im post os, defla cion a do pelos pr eços dos
ben s de in vest im en t o, por P,67 podem os dizer qu e coeteris paribu s a
P
t a xa de decisões de in vest im en t o, D, é fu n çã o cr escen t e de ∆K .
∆t
F in a lm en t e, o in cr em en t o líqu ido de ca pit a l em equ ipa m en t o por
u n ida de de t em po a fet a de m odo a dver so a t a xa de decisões de in ves-
t im en t o, ist o é, sem esse efeit o a t a xa de decisões de in vest im en t o
ser ia m a ior . De fa t o, u m a u m en t o n o volu m e de ca pit a l em equ ipa m en t o
— se os lu cr os, P, se m a n t iver em con st a n t es — sign ifica u m a r edu çã o
da t a xa de lu cr os. Da m esm a for m a qu e u m a eleva çã o dos lu cr os den t r o
do per íodo con sider a do t or n a con vida t ivos pr ojet os de in vest im en t o a di-
cion a l, a a cu m u la çã o de ca pit a l em equ ipa m en t o t en de a r est r in gir os
lim it es dos pla n os de in vest im en t o. E sse efeit o pode ser vist o com m a is
fa cilida de qu a n do n ova s em pr esa s en t r a m n o r a m o e dessa for m a fa zem
com qu e os pla n os de in vest im en t o da s fir m a s est a belecida s h á m a is
t em po fiqu em m en os a t r a en t es. Se in dica r m os o va lor do est oqu e de
ca pit a l em equ ipa m en t o defla cion a do pelos pr eços a pr opr ia dos por K,
poder em os dizer qu e a t a xa de decisões de in vest im en t o, D, é coeteris
paribu s fu n çã o decr escen t e de ∆K .
∆t
E m r esu m o: a t a xa de decisões de in vest im en t o, D, é, com o pr i-
m eir a a pr oxim a çã o, fu n çã o cr escen t e da pou pa n ça br u t a , S , e da t a xa
de m odifica çã o do m on t a n t e dos lu cr os, ∆P , e fu n çã o decr escen t e da
∆t
∆K
t a xa de m odifica çã o do est oqu e de ca pit a l em equ ipa m en t o, . Su -
∆t
pon do, a dem a is, u m a r ela çã o lin ea r , t er em os:

∆P ∆K
D = aS + b – c + d (16)
∆t ∆t

on de d é u m a con st a n t e su jeit a a m odifica ções a lon go pr a zo.


Com o, de a cor do com a equ a çã o (15):

Ft + τ = Dt

t em os, t a m bém pa r a o in vest im en t o em ca pit a l fixo a o t em po t – τ:

∆P t ∆K t
Ft + τ = aS t + b – c + d (16′)
∆t ∆t

67 O con ceit o de lu cr os br u t os “r ea is”, P, u t iliza do n os ca ps. 3, 4 e 5, difer e do qu e or a em -


pr ega m os, n a m edida em qu e lá o ín dice de pr eço im plícit o n a defla çã o do pr odu t o br u t o
do set or pr iva do foi em pr ega do com o defla t or .

119
OS ECON OMIS TAS

F a to re s n ã o le v a d o s e m c o n s id e ra ç ã o
P ode-se per gu n t a r por qu e a s m odifica ções n a t a xa de ju r os, qu e
t êm efeit o opost o a o da s m odifica ções dos lu cr os, n ã o for a m con sider a da s
codet er m in a n t es da s decisões de in vest ir . E ssa sim plifica çã o ba seou -se
n o fa t o de qu e, de a cor do com o qu e foi dit o a cim a (ver p. 109), a t a xa
de ju r os a lon go pr a zo (t om a n do com o m edida os r en dim en t os dos t ít u los
do Gover n o) n ã o a pr esen t a flu t u a ções cíclica s n ít ida s.
É ver da de qu e os r en dim en t os de debên t u r es à s vezes a u m en t a m
a pr ecia velm en t e du r a n t e u m a fa se de depr essã o, devido a cr ises de
con fia n ça . A om issã o desse fa t or n ã o in va lida a t eor ia a cim a , u m a vez
qu e a eleva çã o n os r en dim en t os dos t ít u los em qu est ã o la bor a n o m esm o
sen t ido da qu eda dos lu cr os (a pesa r de ser m u it o m en os sign ifica t iva ).
Assim , esse efeit o pode ser com pu t a do de for m a a pr oxim a da n a dis-
cu ssã o do ciclo econ ôm ico por m eio de u m coeficien t e b ligeir a m en t e
m a is eleva do n a equ a çã o (16).
Ain da é n ecessá r io, con t u do, a t en t a r m os p a r a o pr oblem a le-
va n t a d o pela s flu t u a ções dos r en d im en t os d a s a ções, ist o é, pela
r a zã o en t r e os dividen dos cor r en t es e os pr eços da s a ções. O m ovi-
m en t o dos r en dim en t os da s a ções pr efer en cia is a pr esen t a u m pa d r ã o
bem sem elh a n t e a o dos r en dim en t os de d ebên t u r es e pode ser leva do
em con t a da m esm a for m a . N ã o é isso, con t u d o, ou pelo m en os n ã o
é isso com plet a m en t e, qu e su cede com a s a ções or din á r ia s. Ap esa r
de, em ger a l, p a r ecer t r a t a r -se d e u m fa t or de im p or t â n cia lim it a da ,
n ã o se n ega qu e possa vicia r em cer t a m ed ida a a p lica çã o da t eor ia
a cim a .
Ver em os a gor a r a pida m en t e u m fa t or com plet a m en t e difer en t e
e qu e n ã o h a via sido leva do em con t a n a for m u la çã o da equ a çã o (16),
a sa ber , a s in ova ções. Su pon h a m os qu e a s in ova ções, en t en dida s n o
sen t ido de a ju st es gr a du a is do equ ipa m en t o de u m a fir m a a o est a do
a t u a l da t ecn ologia , com põem u m a pa r t e n ecessá r ia do in vest im en t o
de r eposiçã o “n or m a l” con for m e det er m in a do por essa fór m u la . O efeit o
im edia t o de u m a n ova in ven çã o é a ssu n t o t r a t a do n o ca pít u lo 15 em
con ju n çã o com a t eor ia do desen volvim en t o econ ôm ico. Ir em os ver a li
qu e esses efeit os se r eflet em a o n ível de d. O m esm o se pode dizer
da s m odifica ções a lon go pr a zo n a t a xa de ju r os ou n os r en dim en t os
da s a ções.

D o is c a s o s e s p e c ia is d a te o ria

P ode-se dem on st r a r qu e a equ a çã o (16) en globa , com o ca sos es-


pecia is, a lgu m a s da s t eor ia s exist en t es sobr e decisões de in vest im en t o.
Va m os su por em pr im eir o lu ga r qu e os coeficien t es a e c sã o
igu a is a zer o, de m odo qu e a equ a çã o fica r edu zida a

120
KALECKI

∆P
D = b + d
∆t

Vam os supor, além disso, que d é igual à depreciação. Segue-se que


os novos investimentos são determinados pela taxa de modificação dos
lucros “reais”. E sse caso corresponde aproximadam ente ao assim chamado
princípio de aceleração. É verdade que esse princípio estabelece um a re-
lação entre o investimento líquido e a taxa de m odificação da produção
e não dos lucros e que sua fundam entação teórica é diversa da que demos
acima, mas os resultados finais são os m esm os devido ao inter-relaciona-
mento entre lucros “reais” e o montante da produção (ver capítulo 5).
Com r espeit o a o pr oblem a t eór ico, pa r ecer ia m a is r ea list a fu n da r
o “pr in cípio de a celer a çã o” n a s ba ses su ger ida s a cim a (ver p. 118) do
qu e dedu zi-lo, a pa r t ir da n ecessida de de ca pa cida de de expa n sã o pa r a
a u m en t a r a pr odu çã o. É bem sa bido qu e exist e ca pa cida de ociosa em
eleva do gr a u , pelo m en os du r a n t e boa pa r t e do ciclo, e qu e a pr odu çã o,
por t a n t o, pode a u m en t a r sem u m a u m en t o r ea l da ca pa cida de exist en t e.
Ma s, qu a lqu er qu e seja a ba se do “pr in cípio de a celer a çã o”, é in su fi-
cien t e, n ã o só por qu e n ã o leva em con sider a çã o a s ou t r a s det er m in a n t es
da s decisões de in vest im en t o exa m in a da s a cim a , com o t a m bém por qu e
n ã o se coa du n a com os fa t os. No decu r so do ciclo econ ôm ico, a m a ior
t a xa de eleva çã o da pr odu çã o est a r á a lgo per t o da posiçã o m edia n a
(ver gr á fico 7). Con clu ir ía m os a pa r t ir do “pr in cípio de a celer a çã o” qu e
o n ível m a is eleva do de decisões de in vest im en t o a pa r ecer ia n essa oca -
siã o. Isso, con t u do, va i con t r a a r ea lida de. De fa t o, isso sign ifica r ia
qu e o h ia t o t em por a l en t r e a s decisões de in vest ir e o m on t a n t e da
pr odu çã o ser ia de cer ca de 1/4 do ciclo econ ôm ico, ou de 1,5 a 2,5 a n os.

Gr á fi co 7. Decisões d e in vestir em capital fixo, D, e m on tan te d a pro-


d u ção O (red u zid os à m esm a am plitu d e) d e acord o com o “prin cípio
d e aceleração”.

121
OS ECON OMIS TAS

Com o é difícil su por qu e o h ia t o t em por a l en t r e a s decisões de in vest ir


e o in vest im en t o n a pr á t ica seja su per ior a u m a n o,68 isso sign ifica r ia
qu e o in vest im en t o r ea l em ca pit a l fixo “pr eceder ia ” a pr odu çã o em
0,5 a 1,5 a n os. Os da dos dispon íveis n ã o cor r obor a m esse h ia t o. Isso
pode ser vist o, por exem plo, n o gr á fico 8, on de a pa r ecem a s cu r va s
t em por a is do in vest im en t o em ca pit a l fixo e da pr odu çã o (pr odu t o br u t o
do set or pr iva do) pa r a os E st a dos Un idos n o per íodo 1929/40.69

Gr á fi co 8. Flu tu ações n os in vestim en tos em capital fixo e n o prod u to


bru to d o setor privad o (red u zid os à m esm a am plitu d e e d epois d a eli-
m in ação d a ten d ên cia in terven ien te), E stad os Un id os, 1929/ 40.

P a r ece qu e n ã o se pode per ceber u m h ia t o t em por a l discer n ível. A


equ a çã o de r egr essã o, ba sea da em n ossa equ a çã o (16′), qu e obt em os
m a is a dia n t e (ver p. 132) pa r a o in vest im en t o em ca pit a l fixo n os E s-
t a dos Un idos n esse per íodo, t a m bém n ã o se coa du n a com o “pr in cípio
de a celer a çã o”.
Obt em os o segu n do ca so especia l de n ossa t eor ia su pon do qu e
u m a da da qu a n t ida de de pou pa n ça n ova a fet a a s decisões de in vest ir
n a m esm a m edida , ist o é, su pon do qu e a é igu a l a 1. Su pom os t a m bém
qu e a con st a n t e d seja igu a l a 0. Assim , t em os:

∆P ∆K
D = S + b – c .
∆t ∆t

68 Cf. p. 129, a dia n t e.


69 As cu r va s de t em po a ch a m -se r edu zida s à m esm a a m plit u de e a t en dên cia in t er ven ien t e
foi elim in a da . (P a r a m a is det a lh es, ver o Apên dice E st a t íst ico, Not a 10.)

122
KALECKI

S e, a lé m d iss o, s u p u s er m os qu e os es t oqu es p e r m a n ecem es t á veis


d u r a n t e t od o o ciclo e qu e o sa ld o d a b a la n ça com er cia l e o d é ficit
or ça m en t á r io s ã o a m bos igu a is a 0 , s egu e-s e qu e a p ou p a n ça , S ,
é igu a l a o in ves t im en t o em ca p it a l fixo, F (p or qu e a p ou p a n ça é
igu a l a o in ves t im en t o em ca p it a l fixo e e st oqu es , m a is o s a ld o
d e b a la n ça com er cia l, m a is o d éficit or ça m en t á r io). Des s a for m a ,
obt e m os:
∆P ∆K
D = F + b – c
∆t ∆t

e leva n do em con sider a çã o qu e F t = D t – τ

∆P t ∆K t
Dt = Dt – τ + b + c
∆t ∆t

ou
∆P t ∆K t
Dt – Dt – τ = b – c .
∆t ∆t

F ica cla r o a gor a , a pa r t ir da ú lt im a equ a çã o, qu e se os lu cr os,


P, e o est oqu e de ben s de ca pit a l, K, sã o con st a n t es, t a m bém o ser á
a t a xa de decisões de in vest im en t o, D (por qu e D t = Dt – τ ). Qu a n do os
lu cr os a u m en t a m a u m n ovo n ível, t a m bém D o fa z (por qu e du r a n t e
o per íodo em qu e P est á a u m en t a n do D t > D t -– τ). Qu a n do o est oqu e
de ca pit a l em equ ipa m en t o, K, sobe a u m n ovo n ível, D declin a (por qu e
du r a n t e o per íodo em qu e K est á a u m en t a n do, D t < D t – τ). Segu e-se
qu e a t a xa de decisões de in vest im en t o é fu n çã o cr escen t e do n ível de
lu cr os e fu n çã o decr escen t e do est oqu e de ben s de ca pit a l. E ssa r ela çã o
foi a ba se da t eor ia do ciclo econ ôm ico a pr esen t a da em m eu s E ssays
on th e T h eory of E con om ic Flu ctu ation s. Assim , a qu ela t eor ia t a m bém
a pa r ece com o u m ca so especia l da pr esen t e.
Su põe-se à s vezes qu e a r ela çã o obt ida a qu i com o ca so especia l
fu n cion e em t oda s a s cir cu n st â n cia s, pelo segu in t e: pode-se su por qu e
a t a xa de lu cr os esper a da seja fu n çã o cr escen t e dos lu cr os cor r en t es
“r ea is” e decr escen t e do est oqu e de ca pit a l em equ ipa m en t o. Ou t r ossim ,
con sider a -se óbvio qu e qu a n t o m a is eleva da a t a xa de lu cr os esper a da ,
m a is a lt o ser á o n ível de in vest im en t o em ca pit a l fixo.70 E st a ú lt im a

70 E u t a m bém a dot a va essa con cepçã o em m eu s a n t igos t r a ba lh os pu blica dos n a R evu e d ’E co-
n om ie Politiqu e e E con om etrica , r efer idos a n t er ior m en t e.

123
OS ECON OMIS TAS

su posiçã o, con t u do, é pla u sível a pen a s à pr im eir a vist a . A r ela çã o deixa
de ser óbvia qu a n do lem br a m os qu e con sider a m os a qu i a qu a n t ida de
de decisões de in vest im en t o por u n id ad e d e tem po. Se é m a n t ido u m
cer t o n ível da t a xa de lu cr os por a lgu m t em po, en t ã o a fir m a t om a r ia
t oda s a s decisões de in vest im en t o qu e cor r espon dem à qu ela t a xa de
lu cr os, de m odo qu e depois disso, a m en os qu e en t r a ssem em cen a
n ovos fa t or es, n ã o ser ia m t om a da s n ova s decisões. É o r ein vest im en t o
com plet o da pou pa n ça , liga do à igu a lda de en t r e pou pa n ça e in vest i-
m en t o em ca pit a l fixo, qu e a ssegu r a , n o ca so especia l em qu est ã o, a
m a n u t en çã o do n ível de decisões de in vest ir por u n ida de de t em po
qu a n do a t a xa de lu cr os per m a n ece con st a n t e. Ma s u m a vez qu e se
a ba n don em essa s su posições ba st a n t e r ígida s, o t eor em a deixa de ser
ver da deir o e t or n a -se n ecessá r ia u m a a bor da gem m a is ger a l ba sea da
n a equ a çã o
∆P ∆K
D = aS + b – c + d.
∆t ∆t

Ex a m e d a e qu a ç ã o fu n d a m e n ta l

An t es de pa ssa r m os a dia n t e com o exa m e dos coeficien t es da


equ a çã o (16′), ser á con ven ien t e a lt er á -la u m pou co. Tom em os pr im ei-
r a m en t e o fa t o de qu e a t a xa de m odifica çã o do ca pit a l em equ ipa m en t o
fixo é igu a l a o in vest im en t o em ca pit a l fixo a n t es da depr ecia çã o n o
m esm o per íodo:
∆K
= F – δ
∆t

on de δ é a depr ecia çã o do ca pit a l em equ ipa m en t o devida a desga st e


e obsolescên cia . Assim , a equ a çã o (16′) pode ser escr it a da segu in t e
for m a :
∆P t
Ft + τ = aS t + b – c (F t – δ) + d .
∆t

Tr a n sfir a m os a gor a – cF t do segu n do pa r a o pr im eir o m em br o da equ a -


çã o e divida m os a m bos os m em br os da equ a çã o por 1 + c:
Ft + τ+ cF t a F t + τ ∆P t cδ + d
= S + + .
1 + c 1 + c t 1 + c ∆t 1 + c

O pr im eir o m em br o da equ a çã o en t ã o é a m édia pon der a da de F t + τ e


F t . P odem os su por com o u m a boa a pr oxim a çã o qu e seja igu a l a u m
va lor in t er m ediá r io F t + θ , on de θ é u m h ia t o t em por a l m en or qu e τ.

124
KALECKI

Com o c pr ova velm en t e ser á u m a fr a çã o m u it o pequ en a , (As flu t u a ções


cíclica s do est oqu e de ca pit a l K, em t er m os de por cen t a gem , sã o ba s-
t a n t e pequ en a s. Assim , a s m odifica ções n a t a xa de lu cr os r esu lt a n t es
desse fa t or sã o pequ en a s t a m bém . Con seqü en t em en t e, a s flu t u a ções
do in vest im en t o em ca pit a l fixo sã o explica da s em m a ior m edida pela s
∆p ∆k
m odifica ções de S e do qu e pela s de (a pesa r de est a s ú lt im a s
∆t ∆t
ser em de sign ificâ n cia con sider á vel em cer t a s fa ses do ciclo, com o ve-
r em os n o ca p. 11). E m ou t r a s pa la vr a s, a a m plit u de da s flu t u a ções de
∆k ∆k
é m u it o m en or qu e a de F. Ma s com o é o in vest im en t o líqu ido
∆t ∆t
em ca pit a l fixo (e a depr ecia çã o δ sofr e a pen a s flu t u a ções cíclica s leves)
isso sign ifica qu e c é pequ en o em com pa r a çã o com 1.) θ é da m esm a
or dem qu e τ. P odem os a gor a escr ever :

a b ∆P t cδ + d
Ft = S + + .

1 + c t 1 + c ∆t 1 + c

Os det er m in a n t es do in vest im en t o em ca pit a l fixo fica m a ssim r edu -


zidos à pou pa n ça pa ssa da e à t a xa pa ssa da de m odifica çã o dos lu cr os.
O efeit o n ega t ivo de u m a u m en t o do est oqu e de ben s de ca pit a l se
r eflet e n o den om in a dor 1 + c. P a r a sim plifica r a for m a da equ a çã o,
in dica r em os:
b cδ + d
= b′e = d′
1 + c 1 + c
a
Nã o ir em os, con t u do, u t iliza r u m a a br evia çã o desse t ipo pa r a por -
1+c
qu e su a depen dên cia de a e c (o coeficien t e de pou pa n ça , S , e a t a xa
de m odifica çã o do est oqu e de ben s de ca pit a l, ∆K , r espect iva m en t e, n a
∆t
equ a çã o in icia l) é sign ifica t iva pa r a a discu ssã o post er ior . P odem os
en t ã o escr ever n ossa equ a çã o, a fin a l, n a for m a a ba ixo:

a ∆P t
Ft = S + b′ + d′ . (17)
+ θ
1 + c t ∆t

E xa m in em os a gor a os coeficien t es dessa equ a çã o. A con st a n t e


cδ + d
d ′ se a ch a su jeit a a m odifica ções a lon go pr a zo. (d ’ r epr esen t a .
1+c
Na pá gin a 119 su pu sem os qu e d er a u m a con st a n t e su jeit a a m odifi-
ca ções a lon go pr a zo. A depr ecia çã o, δ, flu t u a m u it o pou co a pen a s n o
decu r so do ciclo econ ôm ico, m a s a lon go pr a zo va r ia em lin h a com o
volu m e de equ ipa m en t os.) O ca pít u lo 15 a pr esen t a u m a a n á lise dos

125
OS ECON OMIS TAS

fa t or es de qu e depen dem essa s m odifica ções. Con t u do, com o ver em os


a dia n t e, seu va lor n ã o é r eleva n t e n u m a discu ssã o do ciclo econ ôm ico.
Na da pode ser dit o a priori sobr e o coeficien t e b′, a pesa r de, com o
ir em os ver , seu va lor ser d e im p or t â n cia decisiva n a d et er m in a çã o
do ca r á t er da s flu t u a ções cíclica s. Ser á n ecessá r io con sider a r m os
a lgu n s ca sos a lt er n a t ivos com va lor es difer en t es desse coeficien t e.
O ú n ico coeficien t e sobr e o qu a l fa r em os su posições p r ecisa s a est a
a
a lt u r a é .
1 +c
O coeficien t e a, qu e in dica em qu a n t o a s decisões de in vest ir , D,
a u m en t a m devido a in cr em en t os n o t ot a l da pou pa n ça cor r en t e, S ,
ser ia in flu en cia do por vá r ios fa t or es. P r im eir o, o in cr em en t o n a pou -
pa n ça “in t er n a ” da s fir m a s, qu e é r eleva n t e pa r a a s decisões de in vest ir ,
é m en or qu e o in cr em en t o n a pou pa n ça t ot a l. E sse fa t or em si t en der ia
a fa zer com qu e a fosse m en or qu e 1. Ou t r o fa t or la bor a n o m esm o
sen t ido. O r ein vest im en t o da pou pa n ça em ba se coeteris paribu s, ist o
é, sen do con st a n t e o m on t a n t e dos lu cr os, pode defr on t a r -se com difi-
cu lda des por m ot ivo de o m er ca do pa r a os pr odu t os da fir m a ser lim it a do
e, por ou t r o la do, a expa n sã o pa r a n ova s esfer a s de a t ivida de en volver
u m r isco con sider á vel. Ou t r ossim , u m in cr em en t o da pou pa n ça “in t er -
n a ” per m it e à fir m a a bsor ver din h eir o vin do de for a a u m a t a xa m a ior
se o in vest im en t o for con sider a do desejá vel. E sse fa t or t en de a a u m en -
t a r a s decisões de in vest ir em m edida m a ior qu e o in cr em en t o da pou -
pa n ça “in t er n a ”. E sses fa t or es con flit a n t es n os deixa m a in da in cer t os
qu a n t o a sa ber se a ser á m a ior ou m en or qu e 1.
a
O coeficien t e é m en or qu e a, por qu e c é posit ivo. De a cor do
1+c
com o qu e se disse a cim a , isso r eflet e a in flu ên cia n ega t iva sobr e a s
decisões de in vest im en t o qu e t em u m est oqu e cr escen t e de ca pit a l em
equ ipa m en t o. Su por em os qu e esse coeficien t e é m en or qu e 1 pela s se-
gu in t es r a zões: ver em os m a is a dia n t e qu e, com a > 1, n a ver da de
1+c
n ã o h a ver ia ciclo econ ôm ico a lgu m (ver ca pít u lo 11), e o desen volvi-
m en t o a lon go pr a zo da econ om ia ca pit a list a t a m bém ser ia difer en t e
do pr ocesso qu e con h ecem os (ver ca pít u lo 14). Adem a is, a a n á lise dos
da dos dos E st a dos Un idos pa r a o per íodo de 1929/40 in dica pa r a
a
u m va lor sign ifica t iva m en t e m en or qu e 1. Um a vez qu e o coeficien t e
1+c
a
c é u m a fr a çã o m u it o pequ en a (ver p. 124), <
> 1 sign ifica qu e a
1+c
n ã o pode ser m u it o m a ior qu e 1 (e, cla r o, pode ser ≤ 1).
In v e s tim e n to e m e s to qu e s

E m n ossa a n á lise do in vest im en t o em ca pit a l fixo ch ega m os à

126
KALECKI

equ a çã o (17), qu e a pon t a ser em a s decisões de in vest im en t o em ca pit a l


fixo fu n çã o t a n t o do n ível de a t ivida des econ ôm ica s com o da t a xa de
m odifica çã o desse m esm o n ível. De fa t o, o va lor da pou pa n ça , S , n a
equ a çã o se a ch a a ssocia do a o n ível de a t ivida des econ ôm ica s, en qu a n t o
∆P
a t a xa de eleva çã o dos lu cr os, , se a ch a liga da à taxa d e m od ificação
∆t
desse n ível. É por essa r a zã o qu e o “pr in cípio de a celer a çã o”, qu e se
ba seia a pen a s n a t a xa de m odifica çã o, é in su ficien t e pa r a explica r o
in vest im en t o em ca pit a l fixo. Con t u do, n o qu e diz r espeit o a o in vest i-
m en t o em est oqu es, o “pr in cípio de a celer a çã o” pa r ece ser u m a su posiçã o
r a zoá vel.
É de fa t o pla u sível su por qu e a t a xa de m odifica çã o do n ível dos
est oqu es seja m a is ou m en os pr opor cion a l à t a xa de m odifica çã o da
pr odu çã o ou do n ível da s ven da s. Con t u do, a in vest iga çã o em pír ica
da s m odifica ções dos est oqu es dem on st r a qu e t a m bém n esse pon t o pode-
se dist in gu ir cla r a m en t e u m h ia t o t em por a l sign ifica t ivo en t r e ca u sa
e efeit o. Isso se explica pelo fa t o de qu e u m a eleva çã o n a pr odu çã o e
n a s ven da s n ã o cr ia n en h u m a n ecessida de im edia t a de u m a eleva çã o
dos est oqu es, por qu e u m a pa r t e dos est oqu es ser ve de r eser va e, por -
t a n t o, é possível a u m en t a r t em por a r ia m en t e a velocida de da r en ova çã o
do t ot a l dos est oqu es. É só depois de a lgu m t em po qu e os est oqu es se
a ju st a m a o n ovo n ível — m a is eleva do — da pr odu çã o. Da m esm a
for m a , qu a n do a pr odu çã o ca i, o n ível dos est oqu es se r edu z, m a s só
depois de u m a cer t a dem or a e, en t r em en t es, h á u m a dim in u içã o de
su a velocida de de r en ova çã o.
Su r ge en t ã o a qu est ã o de sa ber se a dispon ibilida de de ca pit a l
n ã o desem pen h a u m pa pel sign ifica t ivo n o in vest im en t o em est oqu es,
da m esm a for m a com o a con t ece com o in vest im en t o em ca pit a l fixo.
E m ou t r a s pa la vr a s, se devem os ou n ã o su por qu e o in vest im en t o em
est oqu es depen de n ã o só da t a xa de m odifica çã o da pr odu çã o com o
t a m bém do in flu xo de n ova pou pa n ça . Isso, con t u do, n ã o pa r ece ser o
qu e su cede em ger a l, u m a vez qu e os est oqu es sã o a t ivos sem idispo-
n íveis (r ea lizá veis a cu r t o pr a zo) e pode-se r ecor r er a em pr ést im os a
cu r t o pr a zo pa r a fin a n cia r u m a expa n sã o pr opor cion a l à pr odu çã o e
à s ven da s.
À lu z do qu e foi dit o a cim a , podem os r ela cion a r o in vest im en t o
em est oqu es, J , à t a xa de m odifica çã o da pr odu çã o do set or pr iva do,
∆O
, com u m cer t o h ia t o t em por a l. De a cor do com a s in for m a ções dis-
∆t
pon íveis, esse h ia t o t em por a l pa r ece ser de u m a or dem sem elh a n t e à
do qu e su r gia n o ca so do in vest im en t o em ca pit a l fixo, τ. P a r a sim pli-
fica r , su pon h a m os qu e o h ia t o t em por a l dos est oqu es seja igu a l a θ

127
OS ECON OMIS TAS

qu e é da m esm a or dem qu e τ (ver p. 124). P odem os por t a n t o dizer


com r ela çã o a o in vest im en t o em est oqu es:

∆O t
Jt + θ = e . (18)
∆t

H á qu e sa lien t a r qu e o coeficien t e e e o h ia t o t em por a l θ sã o de fa t o


m édia s. A r ela çã o en t r e a s a lt er a ções dos est oqu es e a s m odifica ções
da pr odu çã o va r ia m u it o de u m pr odu t o pa r a ou t r o, a s a lt er a ções dos
est oqu es n ã o a pr esen t a m u m a r ela çã o dir et a com a s a lt er a ções da pr o-
du çã o de ser viços (qu e t a m bém se a ch a in clu ída em O t). Se pu der m os
esper a r a lgu m a est a bilida de de e, ser á som en t e com ba se n a cor r ela çã o
en t r e a s flu t u a ções de diver sos com pon en t es da pr odu çã o t ot a l do set or
pr iva do, O.
Deve-se sa lien t a r qu e o fen ôm en o da a cu m u la çã o de m er ca dor ia s
n ã o ven dida s se explica pelo m en os pa r cia lm en t e pelo h ia t o t em por a l
θ da equ a çã o (18). De fa t o, qu a n do o n ível da s ven da s cessa de su bir
e com eça a descer , os est oqu es, segu n do a n ossa fór m u la , con t in u a r ã o
a su bir du r a n t e a lgu m t em po. Nã o se n ega con t u do qu e, em t a is cir -
cu n st â n cia s, a a cu m u la çã o de m er ca dor ia s n ã o ven dida s possa con t i-
n u a r n u m a esca la m a is a m pla do qu e a su ger ida por essa fór m u la .
E sse desvio da fór m u la pr ova velm en t e n ã o t em u m efeit o m u it o sér io
sobr e a t eor ia ger a l do ciclo econ ôm ico, por qu e essa a cu m u la çã o “a n or -
m a l” de est oqu es é fr eqü en t em en t e liqu ida da em u m espa ço de t em po
r ela t iva m en t e cu r t o.

A fó rm u la d o in v e s tim e n to to ta l

Obt ivem os a cim a a s segu in t es fór m u la s pa r a o in vest im en t o em


ca pit a l fixo, F, e pa r a o in vest im en t o em est oqu es, J :

a ∆P t
Ft = S + b′ + d′ (17)
+ θ
1 + c t ∆t

∆O t
Jt + θ = e (18)
∆t

Som a n do essa s du a s equ a ções, obt em os a fór m u la do in vest im en t o


t ot a l, I:

a ∆P t ∆O t
It = S + b′ + e + d′ . (19)

1 + c t ∆t ∆t
128
KALECKI

S t , n o segu n do m em br o, depen de do n ível da s a t ivida des econ ôm ica s


∆P t ∆O t
a o t em po t, en qu a n t o e depen dem da taxa d e m od ificação
∆t ∆t
desse n ível. O in vest im en t o t ot a l a ssim depen de, de a cor do com n ossa
t eor ia , t a n t o do n ível da s a t ivida des econ ôm ica s com o da t a xa de m o-
difica çã o desse n ível em a lgu m a oca siã o a n t er ior .

129
10

Ilu s tra ç ã o Es ta tís tic a

O p ro ble m a d o h ia to te m p o ra l
A plica r em os a gor a a equ a çã o do in vest im en t o a os da dos dos E s-
t a dos Un idos r efer en t es a o per íodo de1929/40. Um pr oblem a im por t a n t e
a esse r espeit o é a escolh a do h ia t o t em por a l θ.
Nã o pa r ece r a zoá vel su por qu e esse h ia t o t em por a l seja m a ior
qu e u m a n o ou m en or qu e u m sem est r e, qu er pa r a o in vest im en t o em
ca pit a l fixo, qu er pa r a o in vest im en t o em est oqu es. Algu n s t a lvez su -
pon h a m u m h ia t o t em por a l m a is lon go pa r a o in vest im en t o em ca pit a l
fixo. Deve-se sa lien t a r , con t u do, qu e a s est a t íst ica s dos E st a dos Un idos
r efer en t es a o in vest im en t o em ca pit a l fixo se ba seia m n o qu e se r efer e
a o r a m o da con st r u çã o, n os em ba r qu es de equ ipa m en t os e n o “va lor
post o n o loca l”. Nest e ú lt im o ca so, on de h ou ver difer en ça n o a n da m en t o
da obr a de vá r ia s est r u t u r a s, o h ia t o t em por a l ser á m a is ou m en os
m et a de do qu e ocor r e en t r e os in ícios e os t ér m in os. Isso, é cla r o, r edu z
con sider a velm en t e a possibilida de de o h ia t o t em por a l a plicá vel à a n á -
lise dos da dos dos E st a dos Un idos ser de m a is de u m a n o. (O set or
da con st r u çã o é on de se fa zem cer ca de 50% do in vest im en t o em ca pit a l
fixo.) P or ou t r o la do, é difícil im a gin a r qu e esse h ia t o seja in fer ior a
u m sem est r e, pr in cipa lm en t e se lem br a r m os qu e θ t a m bém in clu i a
r ea çã o r et a r da da dos em pr esá r ios per a n t e os fa t or es qu e det er m in a m
a s decisões de in vest ir . P a r ece qu e o m esm o se pode dizer com r ela çã o
a os est oqu es. À lu z do qu e se sa be sobr e seu m ovim en t o, é difícil su por
u m h ia t o t em por a l in fer ior a u m sem est r e. P or ou t r o la do, u m h ia t o
t em por a l de m a is de u m a n o pa r ece com plet a m en t e for a de pr opósit o
n o ca so.
Ten do fixa do os lim it es do h ia t o t em por a l, θ, a in da fica m os com
o pr oblem a da escolh a do θ “cer t o” den t r o desses lim it es. Isso, con t u do,
pa r ece ser u m a t a r efa im possível. No ca so do in vest im en t o em ca pit a l

131
OS ECON OMIS TAS

fixo, obt em os com u m h ia t o t em por a l de u m a n o u m a cor r ela çã o du pla


r a zoá vel do in vest im en t o com a pou pa n ça e com a t a xa de m odifica çã o
dos lu cr os. Com u m h ia t o t em por a l de u m sem est r e obt em os u m eleva do
gr a u de cor r ela çã o do in vest im en t o com a pou pa n ça , m a s a t a xa de
m odifica çã o dos lu cr os pa r ece n ã o t er in flu ên cia . O coeficien t e de cor -
r ela çã o sim ples é m u it o m a is eleva do n esse ca so qu e o coeficien t e de
cor r ela çã o du pla n o ca so do h ia t o t em por a l de u m a n o. Con t u do, a pesa r
do bom a ju st a m en t o, essa r ela çã o n ã o pa r ece m u it o r a zoá vel. Afor a o
fa t o de qu e de a cor do com a t eor ia a cim a a t a xa de m odifica çã o dos
lu cr os dever ia exer cer pelo m en os a lgu m a in flu ên cia , n ã o pa r ece pla u -
sível qu e u m fen ôm en o t ã o com plexo com o o in vest im en t o em ca pit a l
fixo possa ser det er m in a do a pen a s por u m a va r iá vel. (O per igo da
a plica çã o do cr it ér io de “qu a lida de do a ju st a m en t o” à det er m in a çã o do
h ia t o t em por a l en t r e a s decisões de in vest ir e o in vest im en t o r ea l pode
ser exem plifica do por u m ca so ext r em o. Im a gin em os qu e o com ér cio
ext er ior e o or ça m en t o est eja m equ ilibr a dos e qu e o volu m e dos est oqu es
seja est á vel du r a n t e vá r ios a n os. E n t ã o, a pou pa n ça é igu a l a o in ves-
t im en t o em ca pit a l fixo pa r a t odo esse per íodo. Assim , o “m elh or a ju s-
t a m en t o” pa r a a equ a çã o (17) ser ia obt ido pa r a θ = 0. A “equ a çã o de
a
r egr essã o” ser ia en t ã o F t = S t , com = 1, b′ = 0, e d′ = 0. O
1+4
“coeficien t e de cor r ela çã o”, é cla r o, ser ia igu a l a 1.)
A cor r ela çã o en t r e in vest im en t o em est oqu es e a t a xa de a lt er a çã o
do m on t a n t e da pr odu çã o pa r ece ser m u it o m a is eleva da pa r a u m h ia t o
t em por a l de u m a n o qu e pa r a u m h ia t o t em por a l de u m sem est r e.
Ver em os, con t u do, qu e o ba ixo coeficien t e de cor r ela çã o n o ca so do
h ia t o t em por a l de u m sem est r e se deve pr in cipa lm en t e a o fa t o de qu e
o investim ento em estoques de 1930 se encontra bastante acima da linha
de regressão. Com o esse foi o primeiro ano de depressão, isso pode ser
interpretado com o um a demora inusitadamente longa no ajuste dos es-
toques im ediatam ente após o ponto de inflexão da produção (ver p. 127).
Assim é n ova m en t e difícil dizer se u m h ia t o t em por a l de u m sem est r e
é m en os a pr opr ia do do qu e u m h ia t o t em por a l de u m a n o, a pesa r de
o coeficien t e de cor r ela çã o n o pr im eir o ca so ser m u it o m a is ba ixo.
A discu ssã o a cim a expost a in dica qu e a “qu a lida de do a ju st a -
m en t o” n ã o é n esse ca so u m cr it ér io a dequ a do pa r a a escolh a do h ia t o
t em por a l. Den t r o da s cir cu n st â n cia s pr esen t es, a ú n ica solu çã o pa r ece
ser a pr esen t a r du a s va r ia n t es da equ a çã o do in vest im en t o, ba sea n do
u m a dela s n o h ia t o t em por a l de u m a n o e ou t r a n o de u m sem est r e.

In v e s tim e n to e m c a p ita l fix o

E xa m in a r em os pr im eir a m en t e a s du a s va r ia n t es pa r a o in vest i-
m en t o em ca pit a l fixo. Aplica m os, en t ã o, a equ a çã o

132
KALECKI

a ∆P t – θ
Ft = S + b′ + d′ (17)
1 + c t – θ
∆t

pr im eir a m en t e n a su posiçã o de qu e θ = 1, em segu n do lu ga r , n a su -


1
posiçã o de qu e θ = .
2
A tabela 20 apresenta os dados relevantes para a variante θ = 1. O
período em foco é 1930/40, porque a poupança, S , e os lucros, P, são contados
com relação ao ano anterior, de forma que o ano de 1929 “se perde”.
Ta n t o o va lor do in vest im en t o em ca pit a l fixo, F t , com o o va lor
do t ot a l da pou pa n ça br u t a pa r a o a n o a n t er ior , S t – 1 , for a m ca lcu la dos
u sa n do com o defla t or o ín dice dos pr eços dos ben s de in vest im en t o.71
∆P
A m a ior dificu lda de su r giu n a det er m in a çã o da sér ie . Isso foi feit o
∆t
do segu in t e m odo: est im a m os o va lor dos lu cr os br u t os depois dos im -
post os, a plica do o defla t or con st it u ído pelo ín dice dos pr eços dos ben s

TABE LA 20. Determ in ação d o In vestim en to em Capital Fixo n os E s-


tad os Un id os, 1930/ 40.

F on t e: Departam en to d e Com ércio d os E stad os Un id os. Su plem en t o Sobr e a Ren da Na cion a l de


Su r vey of Cu r r en t Bu sin ess, 1951. Para m ais d etalh es, ver o Apên d ice E statístico, N otas 10, 11,
12 e 13.

1
O ín dice dos pr eços dos ben s de ca pit a l foi em pr ega do com o defla t or .

71 Não incluímos a com issão dos corr etores na poupa nça br uta com o havía mos feito na pá gina
77, já que, apesa r de se tra tar de um tipo de dispêndio de capita l, não eleva o total do ativo
dos ca pitalista s e, porta nto, nã o cr ia ca pital em presa ria l disponível pa ra r einvestimento. P or
esse m otivo, S na tabela 20 nã o é igual a I′ na tabela 13. Outra ra zã o par a essa discr epância
é que S a qui tem como deflator os pr eços dos bens de ca pital, enqua nto I′ na tabela 13 é
deflacionado pelo índice im plícito na deflação da r enda br uta do setor pr ivado.

133
OS ECON OMIS TAS

de ca pit a l pa r a os a n os 1928/29, 1929/30, 1930/31 et c., de m eio de a n o


a m eio de a n o.72 A t a xa de eleva çã o dos lu cr os em 1939 foi ca lcu la da
com a difer en ça en t r e os lu cr os em 1929/30 e 1928/29 et c. Ou , em
∆P t – 1
ou t r a s pa la vr a s, t a xa da a lt er a çã o dos lu cr os n o a n o a n t er ior , ,
∆t
foi ca lcu la do com o P t – – P t – .
1 3
2 2
A cor r ela çã o en t r e o in vest im en t o em ca pit a l fixo, F t , com a pou -
pa n ça do a n o a n t er ior , S t – 1 , e a t a xa de eleva çã o dos lu cr os t a m bém
do a n o a n t er ior , P t – 1 — P t – 3 pode ser est a belecida fa cilm en t e a gor a .
2 2
A equ a çã o de r egr essã o é a segu in t e:

F t = 0,634 S t – 1 + 0,293 (P t –
1
– Pt –
3) + 1,76 .
2 2

O coeficien t e de cor r ela çã o du pla é igu a l a 0,904. O coeficien t e de


cor r ela çã o pa r cia l en t r e F t e S t – 1 é 0,888 e en t r e F t e
P t – 1 — P t – 3 é 0,684. O in vest im en t o F t ca lcu la do a pa r t ir dessa
2 2
equ a çã o a pa r ece n a ú lt im a colu n a da t a bela 20 pa r a com pa r a çã o com
o F t r ea l. 73 O coeficien t e de S é 0,634 e a ssim se a p r esen t a de a cor do
a
com n ossa su posiçã o de qu e n a equ a çã o (17) é m en or qu e 1
1+c
(cf. p . 126).
Con sider em os a gor a a va r ia n t e θ = 12 . Com o dissem os, pa r ece qu e
n esse ca so a cor r ela çã o pa r cia l com a m odifica çã o dos lu cr os pode ser
desca r t a da . Assim , n a t a bela 21, da m os a pen a s F t e S t – 1 , qu e é ca l-
2
cu la do a pr oxim a da m en t e com o

St – 1 + St
.
2

A equ a çã o de r egr essã o é

F t = 0,762 S t –
1 + 0,29 .
2

O coeficien t e de cor r ela çã o é 0,972, m u it o m a is eleva do qu e o coeficien t e


da cor r ela çã o du pla da va r ia n t e θ = 1. O va lor de F t ca lcu la do a pa r t ir

72 Ver o Apên dice E st a t íst ico, Not a s 12 e 13.


73 P a r ece n ã o se a ch a r en volvida u m a t en dên cia defin ida . P or esse m ot ivo n ã o con sider a m os
u m a t en dên cia a o fa zer a a n á lise da cor r ela çã o.

134
KALECKI

a
da equ a çã o de r egr essã o é da do n a t a bela 21. O coeficien t e a qu i
1+c
é igu a l a 0,762, qu e m a is u m a vez con cor da com a su posiçã o a r espeit o
a
de qu e h a vía m os feit o a n t er ior m en t e.
1+c
O F t r ea l e os va lor es ca lcu la dos a pa r t ir da s equ a ções de r egr essã o
pa r a a m ba s a s va r ia n t es a pa r ecem t r a n spost os em dia gr a m a s de dis-
per sã o n o gr á fico 9, t om a n do-se os va lor es ca lcu la dos com o o eixo da s
a bscissa s e os va lor es r ea is com o a or den a da . A lin h a de r egr essã o é
u m a r et a cor t a n do a or igem com u m a in clin a çã o de 45º.

TABE LA 21. Determ in ação d o In vestim en to em Capital Fixo n os E s-


tad os Un id os, 1930/ 40.

F on t e: Departam en to d e Com ércio d os E stad os Un id os. Su plem en t o Sobr e a Ren da Na cion a l de


Su r vey of Cu r r en t Bu sin ess. 1951. Para m ais d etalh es, ver o Apên d ice E statístico, N otas 10 e 11.

Algu n s a u t or e s (p or exem p lo, K a ld or e eu m es m o) su p u s er a m


qu e d ep ois d e o in ves t im en t o e m ca p it a l fixo t er a lca n ça d o u m
cer t o n ível n o p er íod o d e p r osp e r id a d e p a s s a a r e sp on d er a os d e -
t er m in a n t es m a is len t a m en t e qu e n a et a p a in icia l d a fa s e d e p r os -
p er id a d e 74 e qu e n a fa s e d e d ep r e ss ã o ocor r er ia u m fen ôm en o
a n á logo. Os n os sos d ia gr a m a s d e d isp e r sã o n ã o p a r ece m con fir m a r
es s a h ip ót es e.

74 Su pu n h a -se qu e essa t en dên cia a pa r ecesse a in da a n t es da fa se de est r a n gu la m en t o n o


r a m o da in dú st r ia de ben s de ca pit a l.
OS ECON OMIS TAS

In v e s tim e n to e m e s to qu e s

P odem os con sider a r pr im eir a m en t e a va r ia n t e θ = 1. Na t a bela


22 a pa r ecem a s a lt er a ções qu a n t it a t iva s dos est oqu es, J , e a s t a xa s
de m odifica çã o do pr odu t o br u t o ou pr odu çã o do set or pr iva do n o a n o

Gr á fi co 9. Diagram a d e d ispersão d o in vestim en to em capital fixo,


calcu lad o e real, para os E stad os Un id os, 1930/ 40, em bilh ões d e d ólares
a preços d e 1939. Os valores calcu lad os estão n o eixo d os abscissas e
os reais n o d as ord ean d as.

∆O t – 1
a n t er ior , ,75 ca lcu la da s (com o foi feit o com a t a xa de eleva çã o
∆t
dos lu cr os n a t a bela 20) com o O t – 1 – O t – 3 .
2 2

75 Ta n t o a m odifica çã o dos est oqu es, J , com o a m odifica çã o do pr odu t o br u t o do set or pr iva do,
O, sã o a qu i t om a da s com exclu sã o da s m odifica ções dos est oqu es a gr ícola s, pelo segu in t e
m ot ivo: os est oqu es a gr ícola s sã o a fet a dos pela s m odifica ções da s colh eit a s, qu e sã o in -
flu en cia dos por con dições do clim a qu e n a da t êm a ver com a s m odifica ções da pr odu çã o
t ot a l do set or pr iva do. Com o o peso da a gr icu lt u r a n a pr odu çã o t ot a l do set or pr iva do é
m u it o m en or qu e o peso dos est oqu es a gr ícola s n o t ot a l dos est oqu es n o fim do a n o, qu a n do
boa pa r t e da s colh eit a s a in da est á por ven der , isso r epr esen t a u m fa t or de per t u r ba çã o.
E lim in a m os de for m a a pr oxim a da esse fa t or exclu in do a s m odifica ções n os est oqu es a gr ícola s
t a n t o da pr odu çã o t ot a l com o do t ot a l da s m odifica ções dos est oqu es. A in flu ên cia da s
m odifica ções n a pr odu çã o a gr ícola sobr e a s m odifica ções da pr odu çã o t ot a l fica dessa for m a
ba st a n t e r edu zida , e, em vist a do pou co peso da pr odu çã o a gr ícola n a pr odu çã o t ot a l, a s
m odifica ções n a pr odu çã o t ot a l depois do a ju st e a cim a dã o u m a boa a pr oxim a çã o da s m o-
difica ções da pr odu çã o n ã o a gr ícola . E sse t r a t a m en t o cor r espon de a u m m odelo de econ om ia
n o qu a l a s flu t u a ções cíclica s da pr odu çã o a gr ícola n ã o sã o de gr a n de im por t â n cia , o qu e
é r a zoá vel do pon t o de vist a m et odológico.
KALECKI

TABE LA 22. Determ in ação d o In vestim en to em E stoqu es n os E stad os


Un id os, 1930/ 40.

F on t e: Departam en to d e Com ércio d os E stad os Un id os. Su plem en t o Sobr e a Ren da Na cion a l de


Su r vey of Cu r r en t Bu sin ess. 1951. Para m ais d etalh es, ver o Apên d ice E statístico, N otas 14 e 15.
1
Sem con sider a r os est oqu es a gr ícola s.

A equ a çã o d e r egr essã o do in vest im en t o em est oqu es, J , com


r ela çã o à t a xa d e m odifica çã o da pr odu çã o n o a n o pr eced en t e é a
segu in t e:

J t = 0,215(O t –
1 – Ot –
3) – 0,08 .
2 2

O coeficien t e de cor r ela çã o é 0,913. (A pr esen ça da con st a n t e –0,08


sign ifica qu e os est oqu es est ã o se m odifica n do m esm o qu a n do a pr o-
du çã o n ã o est á . Den t r o de u m a u n ida de de t em po, os est oqu es se m o-
difica r ã o em –0,08 a lém da m odifica çã o pr ovoca da pelo m ovim en t o da
pr odu çã o. E m ou t r a s pa la vr a s, –0,08 é o coeficien t e da t en dên cia dos
est oqu es. Ver em os qu e n o per íodo con sider a do a t en dên cia foi in sign i-
fica n t e em com pa r a çã o com a s m odifica ções in du zida s pela s flu t u a ções
da pr odu çã o.) Os va lor es de J t ca lcu la dos a pa r t ir da equ a çã o sã o
da dos n a t a bela 22 pa r a com pa r a çã o com a sér ie r ea l.
Com r ela çã o à va r ia n t e θ = 12 , ir em os cor r ela cion a r o in vest im en t o
em est oqu es, J t , com O t – O t – 1 . De fato, O t – O t – 1 dá a t a xa de eleva çã o
do m on t a n t e da pr odu çã o du r a n t e u m per íodo cu jo pon t o cen t r a l é o
fim do a n o a n t er ior . Assim , o h ia t o t em por a l en t r e J t e O t – O t – 1 é o
m eio a n o. A t a bela 23 a pr esen t a os da dos r eleva n t es.

137
OS ECON OMIS TAS

A equ a çã o de r egr essã o é


J t = 0,194 (O t – O t – 1) – 0,13.

O coeficien t e de cor r ela çã o a qu i é a pen a s 0,828, m u it o m a is ba ixo,


por t a n t o, qu e n a va r ia n t e θ = 1. (A sign ificâ n cia do m em br o con st a n t e,
qu e n esse ca so é –0,13, já foi deba t ida a cim a .) A com pa r a çã o de J t ,
com o va lor ca lcu la do a pa r t ir da equ a çã o (ver t a bela 23) dem on st r a
u m a discr epâ n cia con sider á vel pa r a 1930. É essa discr epâ n cia a r es-
pon sá vel em gr a n de pa r t e pelo coeficien t e de cor r ela çã o r ela t iva m en t e
ba ixo. Con for m e foi su ger ido a cim a , o n ível de in vest im en t o a n or m a l-
m en t e a lt o r egist r a do pa r a 1930 n ã o deixa de ser n a t u r a l, já qu e foi
o pr im eir o a n o depois do pon t o de in flexã o da pr odu çã o.
In v e s tim e n to to ta l

P odem os a gor a for m u la r u m a equ a çã o pa r a o in vest im en t o t ot a l,


1
I t , qu a n do θ = 1 ou , som a n do a s r espect iva s equ a ções de r egr essã o
2
pa r a o in vest im en t o em ca pit a l fixo e in vest im en t o em est oqu es. Ob-
t em os pa r a θ = 1:
I t = 0,634S t – 1 + 0,293(P t –
1 – Ot –
3) + 0,215(O t –
1 – Ot –
3) + 1,68
2 2 2 2

1
e pa r a θ = :
2
I t = 0,762S t –
1 + 0,194(O t – O t – 1) + 0,16
2

138
KALECKI

TABE LA 23. Determ in ação d as Alterações d os E stoqu es d os E stad os


Un id os, 1930/ 40.

F on t e: Departam en to d e Com ércio d os E stad os Un id os. Su plem en t o Sobr e a Ren da Na cion a l de


Su r vey of Cu r r en t Bu sin ess. 1951. Para m ais d etalh es, ver o Apên d ice E statístico, N ota 14.
1
Sem con sider a r os est oqu es a gr ícola s.

De a cor do com essa s equ a ções, o in vest im en t o t ot a l é det er m in a do


t a n t o pelo n ível da s a t ivida des econ ôm ica s com o pela t a xa de m odifi-
ca çã o desse n ível em u m a oca siã o a n t er ior .

139
P ARTE Q U IN TA

O Cic lo Ec o n ô m ic o
11

O Me c a n is m o d o Cic lo Ec o n ô m ic o

As e qu a ç õ e s qu e d e te rm in a m o p ro c e s s o d in â m ic o

T r a ba lh a r em os n est e ca pít u lo n a su posiçã o de qu e t a n t o a ba -


la n ça com er cia l com o o or ça m en t o do gover n o sã o equ ilibr a dos e qu e
os t r a ba lh a dor es n ã o pou pa m . Dem on st r ou -se n o ca pít u lo 5 qu e, da da
essa su posiçã o, o n ível da s a t ivida des econ ôm ica s é det er m in a do pelo
in vest im en t o. Adem a is, dem on st r ou -se n o ca pít u lo 9 qu e o in vest im en t o
é det er m in a do, com u m cer t o h ia t o t em por a l, pelo n ível da s a t ivida des
econ ôm ica s e pela t a xa de m odifica çã o desse n ível. Con clu i-se qu e o
in vest im en t o a u m da do t em po é det er m in a do pelo n ível e pela t a xa
de m odifica çã o do n ível de in vest im en t o n u m a oca siã o a n t er ior . Ver e-
m os a dia n t e qu e isso n os for n ece a ba se pa r a u m a a n á lise do pr ocesso
econ ôm ico din â m ico e em pa r t icu la r n os per m it e dem on st r a r qu e esse
pr ocesso en volve flu t u a ções cíclica s.
Além de su por m os o equ ilíbr io da ba la n ça com er cia l e do or ça -
m en t o, su por em os t a m bém qu e o ín dice de pr eços qu e defla cion a o
in vest im en t o é idên t ico a o qu e é em pr ega do com o defla t or do pr odu t o
br u t o do set or pr iva do. E ssa su posiçã o n ã o é ext r a va ga n t e, em vist a
da s flu t u a ções cíclica s ser em m u it o pequ en a s n a r a zã o en t r e os pr eços
dos ben s de ca pit a l e dos ben s de con su m o (ver p. 48). Ao m esm o
t em po, con segu e-se u m a sim plifica çã o con sider á vel. De fa t o, pa r ecia
n ecessá r io a cim a r ecor r er a o em pr ego de defla t or es difer en t es em con -
t ext os difer en t es pa r a os m esm os it en s. Assim , o in vest im en t o, a pou -
pa n ça e os lu cr os for a m defla cion a dos n os ca pít u los 4 e 5 pelo m esm o
ín dice de pr eços qu e foi em pr ega do com o defla t or do pr odu t o br u t o do
set or pr iva do. Ma s n o ca pít u lo 9, o in vest im en t o em ca pit a l fixo, a
pou pa n ça e os lu cr os for a m t odos defla cion a dos pelo ín dice de pr eços
dos ben s de ca pit a l. Con t u do, a gor a qu e pa ssa m os a su por a iden t ida de

143
OS ECON OMIS TAS

dos defla t or es, o in vest im en t o “r ea l”, a pou pa n ça e os lu cr os t êm u m


só sign ifica do.
Con sider em os a gor a a s equ a ções qu e sã o r eleva n t es pa r a n osso
est u do do ciclo econ ôm ico. Da su posiçã o do equ ilíbr io do com ér cio ex-
t er n o e do or ça m en t o, con clu i-se qu e a pou pa n ça é igu a l a o in vest im en t o:
S = I .

Ain da n a m esm a su posiçã o, podem os t om a r do ca pít u lo 4 (ver p. 74)


a equ a çã o qu e r ela cion a os lu cr os depois dos im post os, P, com u m
cer t o h ia t o t em por a l, a o in vest im en t o:
It – ω + A
Pt = (8′)
1 – q

E ssa equ a çã o se ba seia : (a) n a igu a lda de en t r e os lu cr os e o in vest im en t o


m a is o con su m o dos ca pit a list a s; e (b) n a r ela çã o en t r e o con su m o dos
ca pit a list a s e os lu cr os em a lgu m a oca siã o a n t er ior . (A é a pa r t e est á vel
do con su m o dos ca pit a list a s e q é o coeficien t e do con su m o sobr e u m
in cr em en t o dos lu cr os.)
Além disso, dedu zim os da s equ a ções (10) e (9′′) a pr esen t a da s n o
ca pít u lo 5 (ver pp. 87-8) a r ela çã o en t r e o pr odu t o br u t o, O, e os lu cr os
depois dos im post os, P:
Pt + B ′
Ot = + E. (10′)
1 – α′

E ssa equ a çã o r eflet e: (a) os fa t or es det er m in a n t es da dist r ibu içã o da


r en da n a cion a l; (b) o sist em a de im post os sobr e os lu cr os; e (c) o n ível
dos im post os in dir et os (A con st a n t e B ′ e o coeficien t e α′ r eflet em os
“fa t or es de dist r ibu içã o da r en da ” e o sist em a de im post os sobr e os
lu cr os; a con st a n t e E r epr esen t a o m on t a n t e dos im post os in dir et os).
F in a lm en t e, o ca pít u lo 9 n os d á a equ a çã o qu e det er m in a o
in vest im en t o:

a ∆P t ∆O t
It = S + b′ + e + d′ . (19)

1 + c t ∆t ∆t

E ssa equ a çã o expr im e: (a) a r ela çã o, com u m h ia t o t em por a l, en t r e o


in vest im en t o em ca pit a l fixo, de u m la do, e a pou pa n ça , a t a xa de
m odifica çã o dos lu cr os e a t a xa de m odifica çã o n o est oqu e de ca pit a l
em equ ipa m en t o de ou t r o (o efeit o da m odifica çã o do est oqu e de ca pit a l
a
se r eflet e n o den om in a dor do coeficien t e ); e (b) a r ela çã o en t r e o
1+c
in vest im en t o em est oqu e e a t a xa de m odifica çã o da pr odu çã o.
Dessa ú lt im a equ a çã o e da su post a igu a lda de en t r e a pou pa n ça
e o in vest im en t o, con clu i-se qu e:

144
KALECKI

a ∆P t ∆O t
It = I + b′ + e + d′ . (20)
+ θ
1 + c t ∆t ∆t

A e qu a ç ã o d o c ic lo e c o n ô m ic o

As equ a ções (8′), (10′) e (20) se a plica m a o pr ocesso din â m ico em


ger a l. Na et a pa a t u a l, con t u do, pr et en dem os n os con cen t r a r n o pr ocesso
do ciclo econ ôm ico con sider a do com o difer en t e do desen volvim en t o a
lon go pr a zo. P a r a esse fim con sider a r em os u m sist em a qu e n ão se
a ch e su jeit o a o desen volvim en t o a lon go pr a zo, ist o é, u m sist em a qu e
seja est á vel excet o n o qu e diz r espeit o à s flu t u a ções cíclica s. Dem on s-
t r a r em os n o ca pít u lo 14 qu e o pr ocesso din â m ico r ea l pode ser a n a lisa do
do pon t o de vist a de (a) flu t u a ções cíclica s, cu jo pa dr ã o é o m esm o do
sist em a est á t ico descr it o m a is a dia n t e; e (b) u m a t en dên cia con t ín u a
a lon go pr a zo.
P a r a t r a n sfor m a r n osso sist em a em “est á t ico”, pr opor em os qu e
os pa r â m et r os A, B ′ e E qu e sem pr e su pu sem os est a r su jeit os a m o-
difica ções a lon go pr a zo, seja m est r it a m en t e con st a n t es. Con clu i-se en -
t ã o dir et a m en t e da equ a çã o (8′) qu e:
∆P t
= 1 ∆I t – ω
+
∆t 1 – q ∆t

e da equ a çã o (10′) qu e:
∆O t 1 ∆P t
=
∆t 1 – α′ ∆t

ou :
∆O t 1 ∆I t – ω
= .
∆t (1 – q) (1 – α′) ∆t

Ta n t o a t a xa de m odifica çã o dos lu cr os com o a t a xa de m odifica çã o


da pr odu çã o a qu i se en con t r a m expr essa s em t er m os da t a xa de
m od ifica çã o d o in vest im en t o (com u m cer t o h ia t o t em por a l). F a zen do
a su bst it u içã o de ∆P e ∆O por essa s expr essões n a equ a çã o (20),
∆t ∆t
obt em os:

a b ∆I t – ω e ∆I t – ω
It = I + + + d′

1 + c t 1 – q ∆t (1 – q) (1 – α′) ∆t

ou

a 1 e ∆I t – ω
It = I + (b′ + ) + d′ . (21)

1 + c t 1 – q 1 – α′ ∆t
145
OS ECON OMIS TAS

Assim , o in vest im en t o a o t em po t + θ é fu n çã o do in vest im en t o a o


t em po t e da t a xa de m odifica çã o do in vest im en t o a o t em po t – ω. O
pr im eir o t er m o do segu n do m em br o da equ a çã o r epr esen t a a in flu ên cia
sobr e a s decisões de in vest ir exer cida pela pou pa n ça cor r en t e (coefi-
cien t e a) e t a m bém o efeit o n ega t ivo do a u m en t o dos equ ipa m en t os
1 1
(coeficien t e ). Devem os lem br a r qu e < 1. O segu n do t er m o
1 +c 1+c
r epr esen t a a in flu ên cia da t a xa de m odifica çã o dos lu cr os (coeficien t e
b′ e
) e da pr odu çã o [coeficien t e ].
1–q (1 – q) (1 – α′)
Na m esm a lin h a de n ossa a bst r a çã o pr ovisór ia da s m odifica ções
a lon go pr a zo, su pu sem os a cim a qu e A, B ′ e E sã o est r it a m en t e con s-
t a n t es. Devem os su por o m esm o com r ela çã o a d ′, m a s ver em os qu e
a lém disso o n ível de d′ deve est a r de a cor do com ou t r a con diçã o pa r a
qu e o sist em a possa ser “est á t ico”. De fa t o, t a l sist em a deve ser ca pa z
de per m a n ecer em r epou so a o n ível do in vest im en t o qu e é igu a l à
depr ecia çã o, δ. P a r a esse est a do do sist em a , o in vest im en t o, I, é per -
∆I
m a n en t em en t e est á vel n o n ível δ e , é cla r o, é igu a l a zer o. A equ a çã o
∆t
(21) fica dessa for m a r edu zida a :

a
δ = δ + d′
1 + c

qu e vem a ser a con diçã o qu e d ’ t em qu e pr een ch er pa r a qu e o


sist em a seja est á t ico n o sen t ido de qu e n ã o se oper em m odifica ções
a lon go pr a zo. P or m eio d a su bt r a çã o da equ a çã o (22) da equ a çã o
(21), obt em os:

a 1 e ∆I t – ω
It –δ = (I – δ) + (b′ + ) .
+ θ
1 + c t 1 – q 1 – α′ ∆t

Repr esen t em os por i o desvio do in vest im en t o com r ela çã o à depr ecia -


∆i ∆I
çã o, I – δ. Com o δ é u m a con st a n t e,76 1 = e t em os:
∆t ∆t

a 1 e ∆i t – ω
it = i + (b′ + ) (23)

1 + c t 1 – q 1 – α′ ∆t

E ssa é a equ a çã o qu e ser vir á de ba se pa r a n ossa a n á lise do m eca n ism o


do ciclo econ ôm ico. P a r a fa cilit a r , r epr esen t a r em os

76 Na ver da de, a depr ecia çã o flu t u a ligeir a m en t e n o decu r so do ciclo, m a s δ pode ser t om a do
com o sen do o n ível m édio da depr ecia çã o.

146
KALECKI

1 e
(b′ + )
1 – q 1 – α′

por µ. A equ a çã o (23) pode ser escr it a a ssim :

a ∆i t – ω
it = i + µ . (23′)
+ θ
1 + c t ∆t

O c ic lo e c o n ô m ic o a u to m á tic o

Discu t ir em os a gor a a t en dên cia cíclica in er en t e à equ a çã o (23′).


a
E m t oda essa discu ssã o, a su posiçã o de qu e o coeficien t e é m en or
1+c
qu e 1 é de im por t â n cia cr u cia l.
Im a gin em os qu e pr in cipia m os da posiçã o on de i t = 0, ist o é, do
pon t o A on de o in vest im en t o é igu a l à depr ecia çã o (ver gr á fico 10).
∆i t – ω
Im a gin em os a in da qu e > 0. Isso qu er dizer qu e a n t es de A ser
∆t
a lca n ça do o in vest im en t o est a va a ba ixo do n ível de depr ecia çã o m a s
su bin do em su a dir eçã o. Agor a fica cla r o qu e i t + θ é posit ivo, por qu e
o pr im eir o com pon en t e do segu n do m em br o da equ a çã o (23′) a i t =
1+c
∆i t – ω
0 e o segu n do, µ > 0. E m ou t r a s pa la vr a s, i a u m en t ou a ssim
∆t
a t é ch ega r a o pon t o B a cim a do n ível da depr ecia çã o.

Gr á fi co 10. Cu rva tem poral h ipotética d o in vestim en to.

Con t u do, depois de i t er -se t or n a do posit ivo, o pr oblem a de su a


con t ín u a eleva çã o, ist o é, se i t + θ é m a ior qu e i t , depen de do va lor dos
a
coeficien t es e µ. De fa t o, o pr im eir o com pon en t e de i t + θ, ist o é,
1+c
a
i , é m a is ba ixo qu e i,t por qu e su pu sem os qu e o coeficien t e
1 + c t′
147
OS ECON OMIS TAS

a
er a m en or qu e 1; e isso t en de a r edu zir i t + θ a ba ixo do n ível de
1+c
∆i t – ω
i t . P or ou t r o la do, o segu n do com pon en t e µ é posit ivo, por qu e i
∆t
est a va se eleva n do a n t es de a lca n ça r o n ível de i t , e isso t en de a a u -
m en t a r i t + θ a cim a do n ível de i t. H á , por t a n t o, du a s a lt er n a t iva s n o
ca so: qu e os coeficien t es a e µ sã o t a is qu e a eleva çã o do in vest im en t o
1+c
a fin a l se det ém n o pon t o C; ou qu e a eleva çã o con t in u a a t é qu e a s
a t ivida des econ ôm ica s ch egu em a u m n ível on de u m a u m en t o a dicion a l
n ã o seja m a is per m it ido por esca ssez da ca pa cida de pr odu t iva exist en t e
ou da m ã o-de-obr a dispon ível.
Tom em os a pr im eir a a lt er n a t iva . Depois de o in vest im en t o t er -se
det ido em C, n ã o pode ser m a n t ido n esse n ível, m a s t em qu e ca ir de
D pa r a E . De fa t o, r epr esen t a n do o n ível m á xim o de i por i top , t em os
pa r a o pon t o D:

∆i t – ω
i t = i top ; = 0.
∆T

∆i t – ω
Assim , pa r a i t + θ a o pon t o E , o com pon en t e µ é igu a l a zer o e
∆t
a a
o com pon en t e i é m en or qu e i top por qu e < 1. Con seqü en -
1 + c top 1 +c
t em en t e, i t + θ é m en or qu e i top e o in vest im en t o ca i de seu n ível m a is
a lt o a t é o pon t o E .
Da li pa r a dia n t e o in vest im en t o se desloca r á pa r a ba ixo, ist o é,
a
i t + θ ser á m a is ba ixo qu e it , por du a s r a zões: o com pon en t e i ser á
1+c t
∆i t – ω
m en or qu e i t , e o com pon en t e µ ser á n ega t ivo. Dessa for m a , i
∆t
fin a lm en t e ca ir á a zer o, ist o é, o in vest im en t o ch ega r á a o n ível da
depr ecia çã o.
Desse pon t o em dia n t e, o pa dr ã o da fa se de pr osper ida de se r e-
pet ir á de m odo in ver so n a fa se de depr essã o. Depois de o n ível de
depr ecia çã o t er sido cr u za do n o sen t ido descen den t e n o pon t o A′, o
declín io do in vest im en t o con t in u a r á a t é fin a lm en t e det er -se em C′.
Con t u do, o in vest im en t o n ã o se m a n t er á n essa posiçã o, eleva n do-se
de D′ pa r a E ′ e ch ega n do de n ovo a o n ível da depr ecia çã o.
E ssa s flu t u a ções do in vest im en t o ser ã o a com pa n h a da s por flu -
t u a ções da s r en da s, da pr odu çã o e do n ível de em pr ego. A n a t u r eza
da r ela çã o en t r e o in vest im en t o, de u m la do, e o m on t a n t e da r en da
r ea l e da pr odu çã o do set or pr iva do, do ou t r o, se a ch a explicit a da n o
ca pít u lo 5 (ver t a m bém a s pá gin a s 152-154 do pr esen t e ca pít u lo).

148
KALECKI

O m eca n ism o dos ciclos econ ôm icos a cim a r efer ido ba seia -se em
dois elem en t os: (a) qu a n do o in vest im en t o a lca n ça o n ível da depr e-
cia çã o vin do de ba ixo (n o pon t o A), n ã o se det ém n esse pon t o, m a s
cr u za -o, desloca n do-se pa r a cim a . Isso por qu e a eleva çã o do in vest i-
m en t o, e con seqü en t em en t e o a u m en t o dos lu cr os e do m on t a n t e da
pr odu çã o a n t es de se a lca n ça r o n ível da depr ecia çã o, fa z com qu e o
in vest im en t o seja su per ior à qu ele n ível n o per íodo su bseqü en t e. O equ i-
líbr io est á t ico só pode ocor r er se o in vest im en t o est iver n o n ível da
depr ecia çã o e se, a lém disso, seu n ível n ã o se t iver m odifica do n o pa s-
sa do r ecen t e. A segu n da con diçã o n ã o é pr een ch ida em A e essa é a
r a zã o pela qu a l o m ovim en t o a scen den t e con t in u a . Qu a n do o in vest i-
m en t o a t in ge o n ível da depr ecia çã o vin do de cim a (n o pon t o A′), a
sit u a çã o é a n á loga , ist o é, o in vest im en t o n ã o pá r a , m a s cr u za o n ível
da depr ecia çã o a o descer .
(b) Qu a n do o m ovim en t o a scen den t e do in vest im en t o se det ém ,
n ã o per m a n ece n esse n ível, m a s pr in cipia a declin a r . Isso a con t ece
a
por qu e o coeficien t e é m en or qu e 1, o qu e r eflet e a in flu ên cia
1+c
n ega t iva sobr e o in vest im en t o exer cida pela a m plia çã o do ca pit a l em
equ ipa m en t o (c > 0). P ossivelm en t e t a m bém o fa t or r epr esen t a do pelo
r ein vest im en t o in com plet o da pou pa n ça (se a < 1). Se h ou vesse o r ein -
vest im en t o com plet o da pou pa n ça (ist o é, a = 1) e se a a cu m u la çã o de
ben s de ca pit a l pu desse ser desca r t a da (ist o é, se c fosse despr ezível),
o sist em a se m a n t er ia em seu n ível m á xim o. Ma s, de fa t o, a a cu m u la çã o
de ben s de ca pit a l, qu e com a s a t ivida des econ ôm ica s a u m n ível est á vel
det er m in a u m a t a xa de lu cr os decr escen t es, t em u m efeit o a dver so
t a n gível sobr e o in vest im en t o (ist o é, c n ã o é despr ezível). Adem a is, o
r ein vest im en t o da pou pa n ça pode ser in com plet o (ist o é, a < 1).77 Con -
seqü en t em en t e, o in vest im en t o declin a e a ssim a fa se de depr essã o.
começa a
(E ssa a n á lise dem on st r a cla r a m en t e qu e a su posiçã o < 1 é con -
1 +c
diçã o n ecessá r ia pa r a a exist ên cia do ciclo econ ôm ico (cf. p. 126).)
A posição no ponto mais baixo da depressão é análoga à do ponto
mais alto da fase de prosperidade. Enquanto a taxa de lucros cai no ponto
mais alto da fase de prosperidade devido a adições ao estoque de capital
em equipamento, ela se eleva no ponto mais baixo da fase de depressão
porque a depreciação dos equipam entos não se está realizando.78

77 A im por t â n cia do fa t or de “r ein vest im en t o in com plet o” pa r a a explica çã o do pon t o de in flexã o


da fa se de pr osper ida de foi sa lien t a da pela pr im eir a vez pelo fin a do E . Rot h ba r t lh , n u m a
con fer ên cia pr on u n cia da em 1939 per a n t e a Associa çã o E con ôm ica da Lon don Sch ool of
E con om ics.
78 Se a < 1, esse ser á um fa tor a diciona l par a a recupera çã o do investimento a par tir do ponto
m áxim o da depr essão. Neste contexto, a condição a < 1 significa que a s decisões de investimento
em capita l fixo caem , na depr essão, menos que a poupança, se fizerm os abstra çã o da influência
exer cida pela taxa de m odificação dos lucr os e do capita l em equipa mentos.

149
OS ECON OMIS TAS

P ode-se per gu n t a r se essa sit u a çã o é sim ét r ica de fa t o à qu e


pr eva lece n o pon t o m a is a lt o da fa se de pr osper ida de. P ode-se r ea lm en t e
a r gu m en t a r qu e o efeit o da dest r u içã o de ca pit a l sobr e a s decisões de
in vest ir du r a n t e a fa se de depr essã o é m u it o m a is fr a co qu e o da
a cu m u la çã o de ca pit a l n a fa se de pr osper ida de, por qu e o equ ipa m en t o
“dest r u ído” n a fa se de depr essã o est á ocioso, de qu a lqu er for m a . Con -
seqü en t em en t e, a depr essã o poder ia ser ba st a n t e lon ga . Nã o se exclu i,
de fa t o, essa possibilida de do sist em a est á t ico qu e est a m os delin ea n do.
a
(Nesse ca so, c é m en or , de for m a qu e é m a ior , n a fa se de depr essã o
1+c
qu e n a de pr osper ida de.) Ma s é pr eciso n ot a r qu e a sit u a çã o é difer en t e
n u m a econ om ia qu e goze de cr escim en t o a lon go pr a zo. Dem on st r a r e-
m os a dia n t e qu e n u m a econ om ia a ssim o ciclo econ ôm ico con for m e foi
descr it o a cim a é su per post o sobr e a t en dên cia con t ín u a a lon go pr a zo.
(Ver gr á fico 18.) No pon t o D′, qu e cor r espon de a o pon t o m a is ba ixo da
depr essã o, o n ível da s a t ivida des econ ôm ica s de fa t o a u m en t a à t a xa
de cr escim en t o a lon go pr a zo, en qu a n t o qu e a expa n sã o de ca pit a l em
equ ipa m en t o n ã o a lca n ça essa t a xa , de m odo qu e a t a xa de lu cr os
a u m en t a .

O “te to ” e o “fu n d o ”

As con sider a ções a cim a ba sea va m -se n a su posiçã o de qu e os coe-


ficien t es de a e µ sã o de m olde a pr ovoca r a det en çã o a u t om á t ica
1+c
da eleva çã o do in vest im en t o n a fa se de pr osper ida de e a det en çã o da
qu eda do in vest im en t o n a fa se de depr essã o. No ca so a lt er n a t ivo, a
eleva çã o do in vest im en t o n a fa se de pr osper ida de só se det er á a o sen t ir
os da n os pr ovoca dos pela esca ssez de equ ipa m en t o e de m ã o-de-obr a .
Qu a n do se ch ega r a essa posiçã o, os pedidos em a ber t o ir ã o se a cu m u la r
r a pida m en t e e a s en t r ega s sofr er ã o a t r a sos dr á st icos. Isso fa r á com
qu e a eleva çã o se det en h a ou m esm o com qu e se pr odu za u m a qu eda
do in vest im en t o em est oqu es. O in vest im en t o em ca pit a l fixo pode ser
a fet a do de m odo sem elh a n t e pela ocor r ên cia de esca ssez n esse set or .
O per íodo de execu çã o da s or den s de in vest im en t o se pr olon ga r á e a
eleva çã o do in vest im en t o em ca pit a l fixo t er á qu e dim in u ir .
Depois qu e a eleva çã o da t a xa de in vest im en t o se t iver det ido e
o n ível da s a t ivida des econ ôm ica s se t iver m a n t ido por a lgu m t em po
n esse “t et o”, o m eca n ism o do ciclo econ ôm ico pr in cipia a oper a r . Os
in vest im en t os com eça m a ca ir , com o n o ca so a pr esen t a do a cim a , devido
a o a u m en t o do est oqu e de ca pit a l em equ ipa m en t o e t a m bém , pr ova -
incompleto
velm en t e, devido a o r ein vest im en t o com plet o da pou pa n ça (fa t or es esses
a
qu e t or n a m < 1). Ten do com eça do desse m odo, a depr essã o con t in u a
1+c
da m esm a for m a qu e o ciclo econ ôm ico “a u t om á t ico”.
Su r ge a qu est ã o de sa ber se exist e u m “fu n do” pa r a a depr essã o,

150
KALECKI

da m esm a for m a qu e h á “t et o” pa r a a fa se de pr osper ida de. Cer t a m en t e


exist e esse “fu n do” n o ca so do in vest im en t o em ca pit a l fixo, u m a vez
qu e o seu va lor br u t o n ã o pode ca ir a ba ixo de zer o. Con t u do, n ã o exist e
u m lim it e a n á logo pa r a o desin vest im en t o em est oqu es. Assim , qu a n do
o in vest im en t o br u t o em ca pit a l fixo ch ega a o n ível zer o, a fa se de
depr essã o pode t or n a r -se m a is len t a ; m a s n ã o det er -se, u m a vez qu e
o desin vest im en t o em est oqu es pode ga n h a r im pu lso. Se, con t u do, a
depr essã o de fa t o se det ém , o pr ocesso de r ecu per a çã o é ba st a n t e se-
m elh a n t e a o qu e foi descr it o n a secçã o a n t er ior .
F lu tu a ç õ e s e x p lo s iv a s e a m o rte c id a s

Volt em os a o ca so do ciclo econ ôm ico a u t om á t ico. P a r ece qu e a s


flu t u a ções cíclica s in er en t es à equ a çã o

a ∆i t – ω
it = i + µ (23′)
+ θ
1 + c t ∆t

podem ser est á veis, explosiva s ou a m or t ecida s (ver gr á fico 11), depen -
a
den do do va lor dos coeficien t es, e µ, e dos h ia tos tem pora is
1+c
θ e ω. Da do u m cer t o con ju n t o desses va lor es, a a m plit u de da s flu t u a -
a
ções ser á con st a n t e. Ma s se o coeficien t e µ a u m en t a r en qu a n t o ,
1+c
θ e ω per m a n ecem in a lt er a dos, a s flu t u a ções se t or n a m explosiva s; e
se µ r edu zir -se, ela s se t or n a m a m or t ecida s.

Gr á fi co 11. Flu tu ações estáveis, am ortecid as e explosivas.

Tom em os p r im eir a m en t e o ca so da s flu t u a ções explosiva s. É


eviden t e qu e, devido à a m p lit u d e cr escen t e da s flu t u a ções, o in ves-
t im en t o, d u r a n t e a fa se de p r osp er ida de, t er á qu e, m a is cedo ou
m a is t a r d e, a t in gir o “t et o”. Dep ois disso, con for m e foi d em on st r a do
a cim a , vir á u m a depr essã o, cu ja r ecu per a çã o leva r á de n ovo o in -
vest im en t o a o n ível d o “t et o”, e a ssim por dia n t e. (Ver gr á fico 12.)
O fu n d o da d epr essã o é m a n t ido n o m esm o n ível, por qu e o decu r so
da con t r a çã o é t ot a lm en t e det er m in a d o, d e a cor do com a equ a çã o

151
OS ECON OMIS TAS

(23′), pelo n ível i n o p on t o m á xim o da fa se de pr osper ida de, pelos


a
coeficien t es e µ, e pelos h ia tos θ e ω.
1+c

Gr á fi co 12. Flu tu ações explosivas com “teto”.

No ca so da s flu t u a ções a m or t ecida s, a a m plit u de ir á declin a r


con t in u a m en t e, de for m a qu e n esse ca so poder ia pa r ecer qu e o ciclo
va i dim in u in do a t é t or n a r -se in sign ifica n t e. Con t u do, isso n ã o est á cor -
r et o, pela segu in t e r a zã o: a s r ela ções en t r e o in vest im en t o, os lu cr os
e a pr odu çã o, sobr e a s qu a is se ba seia a equ a çã o (23′) sã o “est ocá st ica s”,
ist o é, su jeit a s a per t u r ba ções a lea t ór ia s. (Os desvios dos va lor es r ea is
com r ela çã o a os va lor es ca lcu la dos a pr esen t a dos n a s ilu st r a ções est a -
t íst ica s a cim a podem ser in t er pr et a dos com o per t u r ba ções desse gên e-
r o.) Assim , a equ a çã o (23′) dever ia ser escr it a r ea lm en t e com o:

a ∆i t – ω
it = i + µ + ε (23′′)
+ θ
1 + c t ∆t

on de ε é u m a p er t u r ba çã o a lea t ór ia . Or a , pa r ece qu e o efeit o dos


“ch oqu es ir r egu la r es”, ε n a equ a çã o (23′′) con t r a ba la n ça o a m or t e-
cim en t o in er en t e a o m eca n ism o bá sico. O r esu lt a do é qu e se ger a
u m a espécie de m ovim en t o cíclico sem i-r egu la r , cu ja a m plit u de é
det er m in a da p ela m a gn it u de e p elo p a dr ã o dos ch oqu es, ε, e pelos
pa r â m et r os da equ a çã o (23′). 79
E sse r esu lt a do é de im por t â n cia con sider á vel, já qu e dem on st r a
a possibilida de de ocor r er em flu t u a ções cíclica s qu e n ã o t oca m o “t et o”,
a ju da n do a ssim a explica r o fa t o de qu e esse fr eqü en t em en t e é o pa dr ã o
segu ido pela s flu t u a ções r ea is. Su r ge u m a dificu lda de sér ia , con t u do,
com r ela çã o à a plica çã o da t eor ia . As exper iên cia s r ea liza da s pa r ecem
su ger ir qu e, se o a m or t ecim en t o n ã o for for t e, o ciclo r esu lt a n t e ser á
m u it o ir r egu la r e su a a m plit u de ser á da m esm a or dem de m a gn it u de

79 P a r ece t a m bém qu e, se o m eca n ism o t en de a pr odu zir flu t u a ções de a m plit u de con st a n t e,
os ch oqu es ir r egu la r es fa zem com qu e o ciclo se t or n e explosivo. Con seqü en t em en t e, m a is
cedo ou m a is t a r de ch ega -se a o “t et o” e da li por dia n t e a a m plit u de n ã o va r ia .

152
KALECKI

dos ch oqu es. Um a vez qu e n ã o exist e u m fu n da m en t o r a zoá vel pa r a


a su posiçã o de qu e a s in t er -r ela ções en t r e o in vest im en t o, os lu cr os e
a pr odu çã o devem n ecessa r ia m en t e ser de m olde a pr odu zir u m a m or -
t ecim en t o fr a co, o va lor da t eor ia t or n a -se qu est ion á vel. Tr a t a m os dessa
dificu lda de n o ca pít u lo 13, on de se dem on st r a qu e, se fizer m os cer t a s
su posições ju st ificá veis a r espeit o do ca r á t er dos ch oqu es, a pa r ecer á
u m ciclo ba st a n t e r egu la r com u m a a m plit u de r ela t iva m en t e gr a n de,
m esm o qu a n do o a m or t ecim en t o for su bst a n cia l.

O c ic lo e c o n ô m ic o e a u tiliza ç ã o d o s re c u rs o s

J á a fir m a m os a cim a (ver p. 148) qu e a s flu t u a ções do in vest im en t o


pr ovoca r ã o flu t u a ções cor r espon den t es n a s a t ivida des econ ôm ica s com o
u m t odo. De fa t o, o m on t a n t e da pr odu çã o se r ela cion a com o in ves-
t im en t o a t r a vés da s equ a ções (8′) e (10′). Afir m a m os t a m bém qu e o
m on t a n t e da pr odu çã o e do con su m o a pr esen t a m flu t u a ções r ela t iva s
m en or es qu e o in vest im en t o (ver p. 83).
Con t u do, a in da n ã o exa m in a m os o pr oblem a da s flu t u a ções da
u t iliza çã o do ca pit a l em equ ipa m en t os. Ver em os a dia n t e qu e o n ível
de ca pit a l fixo va r ia r ela t iva m en t e pou co n o decu r so do ciclo, de m odo
qu e a s flu t u a ções da pr odu çã o r eflet em pr in cipa lm en t e a s m odifica ções
do gr a u de u t iliza çã o do equ ipa m en t o.
Isso pode ser dem on st r a do pelo segu in t e exem plo, qu e é r eleva n t e
pa r a econ om ia s ca pit a list a s desen volvida s. Su pon do qu e o n ível de de-
pr ecia çã o seja 5% a o a n o sobr e o n ível m édio de equ ipa m en t os de
ca pit a l fixo e qu e o in vest im en t o br u t o em ca pit a l fixo flu t u e en t r e
7,5% e 2,5% desse n ível, o in vest im en t o ca ir á n a fa se de depr essã o a
1/3 do n ível da fa se de pr osper ida de. Su pon h a m os, a dem a is, qu e n o
pon t o m á xim o da fa se de pr osper ida de o in vest im en t o em ca pit a l fixo
con st it u a 20% do m on t a n t e da pr odu çã o (ist o é, o pr odu t o br u t o do
set or pr iva do). Assim , u m a vez qu e o in vest im en t o ca i do pon t o m a is
a lt o da fa se de pr osper ida de a t é o pon t o m a is ba ixo da fa se de depr essã o,
em 2/3, a qu eda do in vest im en t o r epr esen t a r á cer ca de 13% do m on t a n t e
da pr odu çã o da fa se de pr osper ida de. Su pon h a m os a in da qu e a m odi-
fica çã o da pr odu çã o, ∆O, seja igu a l a du a s vezes e m eia a m odifica çã o
do in vest im en t o, ∆I.80 Segu e-se qu e a qu eda da pr odu çã o, do pon t o
m a is a lt o da fa se de pr osper ida de a o pon t o m a is ba ixo da fa se de
depr essã o, é igu a l a du a s vezes e m eia 13%, ist o é, 33% do n ível de
pr odu çã o da fa se de pr osper ida de. Assim , a pr odu çã o ca i em cer ca de
1/3 do pon t o m a is a lt o da fa se de pr osper ida de a o pon t o m a is ba ixo

80 De a cor do com a p. 87, u m a m odifica çã o n o in vest im en t o de ∆I n os E st a dos Un idos n o


per íodo de 1929/40 foi a com pa n h a da por u m a m odifica çã o n a r en da r ea l do set or pr iva do
de 2,72 ∆I.

153
OS ECON OMIS TAS

da fa se de depr essã o. P ode-se ver fa cilm en t e qu e a a m plit u de da s flu -


1 1 1 1 1
t u a ções é de cer ca de 20% do n ível m édio.  × :(1 – ⋅ ) = 
 2 3 2 3 3
Ca lcu lem os a gor a a a m plit u de da s flu t u a ções do est oqu e de equ i-
pa m en t os. O a cr éscim o m a ior de ca pit a l fixo ocor r e n o per íodo M N
(ver gr á fico 13), por qu e essa é a fa ixa de t em po em qu e o in vest im en t o
br u t o em ca pit a l fixo se a pr esen t a a cim a do n ível da depr ecia çã o.
Or a , su pu sem os qu e o n ível m a is eleva do do in vest im en t o br u t o
n a fa se de pr osper ida de er a de 7,5% do n ível m édio de ca pit a l em
equ ipa m en t os; por t a n t o, com a depr ecia çã o igu a l a 5%, o in vest im en t o
líqu ido m a is eleva do ser á de 2,5%.81 Su pon do qu e a du r a çã o do ciclo
seja de dez a n os, o per íodo M N ser á de cin co a n os. Se du r a n t e esse
per íodo o in vest im en t o em ca pit a l fixo est ivesse em seu n ível m a is
eleva do, o a cr éscim o t ot a l a o n ível de ca pit a l em equ ipa m en t o ser ia
de 12,5% da m édia desse n ível. De fa t o, con t u do, com o se pode ver
pelo gr á fico 13, esse a cr éscim o ser á de som en t e cer ca de 2/3 de 12,5%,
ist o é, 8%. Con seqü en t em en t e, a a m plit u de da s flu t u a ções do est oqu e
de ca pit a l fixo com r ela çã o a seu n ível m édio ser á de cer ca de 4%, em
com pa r a çã o com os 20% da pr odu çã o.
F ica cla r o dessa for m a qu e a s flu t u a ções do gr a u de u t iliza çã o
do equ ipa m en t o sã o de u m a or dem sem elh a n t e à s do m on t a n t e da
pr odu çã o. Um a pr opor çã o con sider á vel dos equ ipa m en t os fica ociosa
n a depr essã o. Mesm o em t er m os m édios, o gr a u de u t iliza çã o du r a n t e
o ciclo econ ôm ico ser á su bst a n cia lm en t e in fer ior a o m á xim o a t in gido
du r a n t e o per íodo de pr osper ida de. As flu t u a ções da u t iliza çã o da m ã o-
de-obr a dispon ível ocor r em pa r a lela s à s da u t iliza çã o do equ ipa m en t o.

Gr á fi co 13. E feito d as flu tu ações d o in vestim en to em capital fixo, F ,


sobre o estoqu e d e equ ipam en tos.

81 O in vest im en t o m á xim o em ca pit a l fixo é a pr oxim a da m en t e igu a l a o in vest im en t o m á xim o


t ot a l. De fa t o, o in vest im en t o em est oqu es n o pon t o m á xim o da fa se de pr osper ida de é
pequ en o, devido a o n ivela m en t o do m on t a n t e da pr odu çã o.

154
KALECKI

N ã o só ocor r e desem pr ego em m a ssa d u r a n t e a depr essã o, com o


t a m bém o n ível de em pr ego m édio d u r a n t e o ciclo se a pr esen t a con -
sid er a velm en t e a ba ixo do m á xim o a t in gido n a fa se de pr osper id a de.
A r eser va de equ ipa m en t os e o exér cit o in du st r ia l de r eser va sã o
ca r a ct er íst ica s t ípica s d a econ om ia ca pit a list a d u r a n t e u m a pa r t e
con sider á vel do ciclo.

155
12

Ilu s tra ç ã o Es ta tís tic a

D e d u ç ã o d a “e qu a ç ã o d o c ic lo e c o n ô m ic o ”
T r a t a r em os a gor a de ilu st r a r a t eor ia do ciclo econ ôm ico a cim a
expost a , r ecor r en do a u m m odelo ba sea do n os da dos dos E st a dos Un idos
r efer en t es a o per íodo 1929/40. E sse m odelo, con t u do, n ã o a pr esen t a
u m a im a gem exa t a dos a con t ecim en t os n os E st a dos Un idos du r a n t e o
per íodo em foco. Um a vez qu e ele se ba seia em equ a ções cor r espon -
den t es à qu ela s qu e est a va m su bja cen t es à t eor ia desen volvida n o ca -
pít u lo a n t er ior , a s su posições sim plifica dor a s a li feit a s t er ã o qu e ser
m a n t ida s. Assim , con t in u a r em os a su por qu e o com ér cio ext er ior e o
or ça m en t o do gover n o per m a n ecem equ ilibr a dos, em bor a cer t a m en t e
n ã o t en h a sido isso o qu e su cedeu n os E st a dos Un idos n o per íodo
1929/40. Con t in u a r em os t a m bém a su por qu e o ín dice de pr eços u t i-
liza do com o defla t or do in vest im en t o é idên t ico a o em pr ega do pa r a
defla cion a r o pr odu t o br u t o do set or pr iva do. F in a lm en t e, deixa r em os
de con sider a r os elem en t os de t en dên cia da s equ a ções r eleva n t es, pa r a
poder m os obt er flu t u a ções cíclica s pu r a s.
De a cor do com o qu e se disse a cim a , su pom os a igu a lda de da
pou pa n ça e do in vest im en t o:
S = I.

A equ a çã o qu e r ela cion a os lu cr os depois dos im post os, P, com


o in vest im en t o, I, se ba seia n a equ a çã o qu e for m u la m os n a pá gin a 79.
Na ver da de, est a ú lt im a r ela cion a os lu cr os, P, a I′, qu e é a som a do
in vest im en t o, do sa ldo da ba la n ça com er cia l e do déficit or ça m en t á r io.82
Con t u do, dedu z-se da a r gu m en t a çã o a pr esen t a da n o ca pít u lo 4 qu e

82 Na ver da de, em I′ se a ch a m in clu ída s t a m bém a s t a xa s de cor r et a gem .

157
OS ECON OMIS TAS

essa r ela çã o n ã o depen de do segu in t e: se I′ é com plet a m en t e explica do


pelo in vest im en t o I ou se o sa ldo da ba la n ça com er cia l e o déficit
or ça m en t á r io t a m bém exer cem in flu ên cia . Con seqü en t em en t e, u m a vez
qu e su pom os qu e est es ú lt im os it en s sã o igu a is a zer o, podem os escr ever
en t ã o essa r ela çã o pa r a os lu cr os depois dos im post os, P, e o in vest i-
m en t o, I.83 Tem os a ssim (despr eza n do a t en dên cia ):
P t = 1,34I t –
1 + 13,4 .
4

A r ela çã o en t r e a r en da br u t a do set or pr iva do, Y , e os lu cr os


depois dos im post os, P, pode ser expr essa com o (ver p. 85):
Y t = 2,03P t + 10,4.

Su pom os, d a m esm a for m a com o fizem os a n t er ior m en t e (ver


p. 87), em bor a t a m bém a qu i seja ver d a de com r ela çã o a o per íodo
con sider a do, qu e a difer en ça , E , en t r e o p r od u t o br u t o, O, e a r en da
br u t a do set or pr iva d o, Y , qu e é d evid a a os im post os in dir et os, é
con st a n t e:
O = Y + E.

A pa r t ir dessa s equ a ções obt em os a r ela çã o en t r e a t a xa de m odifica çã o


dos lu cr os e a do in vest im en t o:
∆I t – 1
∆P t 4
= 1,34 (24)
∆t ∆t

e a r ela çã o en t r e a t a xa de m odifica çã o da r en da br u t a e a dos lu cr os


e do in vest im en t o:
∆I t – 1
∆Y t ∆P t 4
= 2,03 = 2,72 .
∆t ∆t ∆t

F in a lm en t e, sen do E con st a n t e, a t a xa de m odifica çã o da pr odu çã o é


igu a l à da r en da br u t a e por t a n t o se a ch a r ela cion a da com a t a xa de
m odifica çã o do in vest im en t o:
∆I t – 1
∆O t ∆Y t 4
= = 2,72 (25)
∆t ∆t ∆t

Tem os du a s va r ia n t es pa r a a equ a çã o da det er m in a çã o do in ves-

83 Deve-se a cr escen t a r qu e, en qu a n t o n o ca pít u lo a n t er ior , pa r a sim plifica r a a pr esen t a çã o,


su pú n h a m os qu e os t r a ba lh a dor es n ã o pou pa m , a pr esen t e equ a çã o é a fet a da em cer t a
m edida pela pou pa n ça dos t r a ba lh a dor es. Isso, con t u do, a lt er a a pen a s a in t er pr et a çã o dos
coeficien t es da equ a çã o (8’) n a pá gin a 144, sem a lt er a r o pa dr ã o do ciclo econ ôm ico.

158
KALECKI

t im en t o, cor r espon den t e à s su posições de u m h ia t o t em por a l de u m


a n o e de u m sem est r e en t r e o in vest im en t o e seu s det er m in a n t es (ver
p. 135). P a r a o h ia t o t em por a l θ = 1, t em os

I t = 0,634S t – 1 + 0,293(P t –
1 –P t –
3) + 0,215 (O t –
1 – Ot –
3) + 1,68 (26)
2 2 2 2

on de S é a pou pa n ça , P, os lu cr os depois dos im post os e O, o m on t a n t e


da pr odu çã o.
1
A equ a çã o cor r espon den t e a o h ia t o t em por a l θ = a n o é:
2
I t = 0,762S t –
1 + 0,194(O t – O t – 1) + 0,16 (27)
2

Na for m u la çã o dessa s ú lt im a s equ a ções n o ca pít u lo 10, o in ves-


t im en t o em ca pit a l fixo, a pou pa n ça e os lu cr os for a m defla cion a dos
pelo ín dice de pr eços dos ben s de ca pit a l, en qu a n t o o in vest im en t o e
os lu cr os n a s equ a ções pr eceden t es for a m defla cion a dos pelos ín dices
de pr eços u t iliza dos com o defla t or do pr odu t o br u t o. J á n o pr esen t e
m odelo n ã o h a ver á n en h u m a com plica çã o, por qu a n t o se su põe qu e o
ín dice de pr eços dos ben s de ca pit a l seja igu a l a o ín dice de pr eços do
pr odu t o br u t o.
P odem os a gor a su bst it u ir n a s du a s ú lt im a s equ a ções a pou pa n ça ,
S , pelo in vest im en t o, I. Adem a is, de a cor do com a s equ a ções (24) e
(25), t em os:
Pt –
1 –P t –
3 = 1,34 (I t –
3 – It –
7)
2 2 4 4

Ot –
1 –O t –
3 = 2,72 (I t –
3 – It –
7)
2 2 4 4

Ot – Ot – 1 = 2,72 (I t –
1 – It –
5) .
4 4

Assim , a s equ a ções (26) e (27) a gor a podem ser expr essa s em
t er m os a pen a s do in vest im en t o I:

I = 0,634I t – 1 + 0,978 (I t –
3 – It –
7) + 1,68 (28)
4 4

I = 0,762I t –
1 + 0,528 (I t –
1 – It –
5) + 0,16 . (29)
2 4 4

P a r a fa cilit a r a a n á lise qu e ir em os em pr een der em segu ida , m odifica -


r em os u m pou co a pr im eir a dessa s equ a ções, fa zen do u m a a pr oxim a çã o:

159
OS ECON OMIS TAS

3 1
It –
1 = I + I .
4 4 t 4 t – 1

Con seqü en t em en t e, a equ a çã o (28) pode ser for m u la da :


3 1 3 1
I t = 0,634I t – 1 + 0,978 ( I 1 + I 3 – I 3 – I 5) + 1,68
4 t –
2 4 t –
2 4 t –
2 4 t –
2

ou
I t = 0,634I t – 1 + 0,734I t –
1 – 0,489 I t –
3 – 0,245I t –
5 + 1,68⋅ (28′)
2 2 2

D e d u ç ã o d a s flu tu a ç õ e s c íc lic a s

Va m os escr ever a s equ a ções (28′) e (29) a cim a obt ida s, a ba n do-
n a n do a con st a n t e e coloca n do i, qu e é o desvio do n ível a lon go pr a zo,
em lu ga r de I.84 Tem os en t ã o pa r a a va r ia n t e θ = 1:
i t = 0,634i t – 1 + 0,734i t –
1 – 0,489i t –
3 – 0,245i t –
5 (28′′)
2 2 2

1
e pa r a a va r ia n t e θ = :
2
i t = 0,762i t –
1 + 0,528i t –
1 – 0,528i t –
5⋅ (29′)
2 4 4

E xa m in em os a pr im eir a va r ia n t e, it é fu n çã o lin ea r de i t –
5 ,
2
it – 3 , it – 1 e it – 1 ⋅ P odem os a in da a dicion a r i t – 2 , su pon do qu e seu
2 2
coeficien t e seja zer o. Assim , se dividir m os o t em po em in t er va los se-
m est r a is, i ser á fu n çã o lin ea r dos cin co va lor es pr eceden t es de i. E s-
colh a m os com o os cin co pr im eir os va lor es i 0 = –2; i 1 = –1; i 2 = 0;
i 3 = +1 e i 4 = +2 . A pa r t ir da equ a çã o (28′′) a gor a é fá cil det er m in a r o
va lor de i 5 . Ba sea n d o-n os em i 1 , i 2 , i 3 , i 4 , e i 5 , p odem os det er m in a r i6
e a ssim p or dia n t e. Os r esu lt a dos podem ser vist os n o gr á fico 14.
Obt em os u m ciclo ligeir a m en t e a m or t ecido (em cer ca d e 1,5% a o
a n o). O per íodo de du r a çã o do ciclo é de 17 in t er va los sem est r a is,
ist o é, 8 a n os e m eio. 85

84 Só se o sist em a fosse de fa t o est á t ico é qu e i ser ia o desvio do n ível de depr ecia çã o com o
n o ca p. 10.
85 Se os cin co pr im eir os va lor es de i fossem escolh idos de m a n eir a difer en t e, isso por cer t o
a fet a r ia os va lor es su bseqü en t es de i, m a s o ciclo a fin a l se “a com oda r ia ” a o per íodo de
du r a çã o e à t a xa de m odifica çã o de a m plit u de in dica dos n o gr á fico.

160
KALECKI

Gr á fi co 14. Flu tu ações d o in vestim en to in eren tes ao m od elo d os E stad os


Un id os para 1929/ 40, varian te υ = 1.

Na segu n da va r ia n t e, i t , é fu n çã o lin ea r de i t –
5, it – 1, it –
3,
4 4
it –
1, e it –
1, sen do os coeficien t es de i t –
1, e it – 1, igu ais a zero. Assim ,
2 4 4
se dividim os o t em po em in t er va los t r im est r a is, i é fu n çã o lin ea r dos
cin co va lor es pr eceden t es de i. Su pon do qu e os cin co va lor es in icia is
sã o –1, –0,5, 0, +0,5 e +1, podem os ca lcu la r , a pa r t ir da equ a çã o (29′),
a s or den a da s da cu r va t em por a l. É o qu e a pa r ece n o gr á fico 15. Obt em os
u m ciclo ligeir a m en t e explosivo (o a cr éscim o da a m plit u de é de cer ca
de 3% a o a n o). O per íodo de du r a çã o do ciclo é de cer ca de 25 t r im est r es,
ist o é, 6,3 a n os.86

Gr á fi co 15. Flu tu ações d o in vestim en to in eren tes ao m od elo d os E stad os


Un id os para 1929/ 40, varian te υ = 1/ 2.

Acr edit a -se em ger a l qu e a du r a çã o dos ciclos m a is lon gos seja


de 6 a 10 a n os. O per íodo de du r a çã o de qu a lqu er da s du a s va r ia n t es
se en qu a dr a den t r o desses lim it es, m a s o da pr im eir a va r ia n t e (8,5

86 Ver a n ot a a n t er ior .

161
OS ECON OMIS TAS

a n os) é m a is t ípico. O ciclo dessa va r ia n t e é ligeir a m en t e a m or t ecido.


Sob o efeit o dos ch oqu es, ele se t r a n sfor m a r ia em u m ciclo ba st a n t e
“n or m a l”, de a m plit u de con st a n t e (ver ca pít u lo 13). O ciclo da segu n da
va r ia n t e é explosivo. De a cor do com o qu e se disse a cim a (ver p. 150),
ele se t r a n sfor m a r ia , depois de a lgu m t em po, em u m ciclo de a m plit u de
con st a n t e, a lca n ça n do o “t et o”.
P ode-se per gu n t a r com o é possível qu e os a con t ecim en t os da dé-
ca da de 1930 n os E st a dos Un idos seja m r epr esen t a dos por u m ciclo
a m or t ecido em u m a da s va r ia n t es e por u m ciclo explosivo n a ou t r a .
Deve-se sa lien t a r qu e, com o foi dit o n o in ício dest e ca pít u lo, os m odelos
em qu est ã o n ão r epr esen t a m os a con t ecim en t os r ea is dos E st a dos Un i-
dos du r a n t e o per íodo con sider a do, por qu e a s equ a ções a cim a r eflet em
a pen a s a lgu n s elem en t os desses a con t ecim en t os, ba sea n do-se pa r cia l-
m en t e em su posições sim plifica dor a s qu e n ão cor r espon dem a os fa t os
r ea is. P or ou t r o la do, h á qu e lem br a r qu e o per íodo con sider a do cobr e
m en os qu e dois ciclos com plet os.
Com o já foi dit o n a In t r odu çã o, a a n á lise est a t íst ica a qu i em -
pr een dida n ã o t em por objet ivo a obt en çã o dos coeficien t es m a is pr o-
vá veis pa r a a s r ela ções con sider a da s, m a s pr ocu r a sim plesm en t e a pr e-
sen t a r ilu st r a ções pa r a a s t eor ia s desen volvida s a cim a .

162
13

O Cic lo Ec o n ô m ic o e o s Ch o qu e s

Ilu s tra ç ã o d o p ro ble m a

F oi dit o n o ca pít u lo 10 qu e a in flu ên cia de ch oqu es, ist o é, m o-


vim en t os ir r egu la r es, evit a o a m or t ecim en t o da s flu t u a ções do in ves-
t im en t o. Qu er dizer , se u m ciclo a m or t ecido é in er en t e à equ a çã o

a ∆i t – θ– ω
it = i + µ (23′)
1 + c t – θ
∆t

en t ã o, qu a n do εt é o ch oqu e ir r egu la r a o t em po t, a equ a çã o:

a ∆i t – θ – ω
it = i + µ + εt (23′′)
1 + c t + θ
∆t

r epr esen t a r á flu t u a ções n ã o a m or t ecida s sem i-r egu la r es. No exa m e fei-
t o do a ssu n t o, pa r ecia , con for m e foi dit o a cim a , qu e esse ciclo er a ba s-
t a n t e r egu la r e de a m plit u de a pr ecia velm en t e m a ior qu e a dos ch oqu es
ir r egu la r es se o a m or t ecim en t o er a de pou ca in t en sida de. Com u m
a m or t ecim en t o m a is sign ifica t ivo, o ciclo ger a do t or n a va -se ir r egu la r
e su a a m plit u de a ssu m ia a m esm a or dem de m a gn it u de da dos ch oqu es.
Isso pode ser ilu st r a do pelo segu in t e exem plo. A pr im eir a va r ia n t e do
m odelo de ciclo econ ôm ico, obt ida a cim a a pa r t ir dos da dos dos E st a dos
Un idos pa r a o per íodo de 1929/40, en volve flu t u a ções ligeir a m en t e
a m or t ecida s. O a m or t ecim en t o é de cer ca de 1,5% a o a n o e o per íodo
é de 8,5 a n os. Se in t r odu zir m os os ch oqu es ir r egu la r es n o m odelo,
ver em os qu e a pa r ecem flu t u a ções cíclica s ba st a n t e r egu la r es.
A n ossa equ a çã o é:
i t = 0,734i t –
1 + 0,634i t –
1 – 0,489i t –
1 – 0,245i t –
5 + εt (28′′)
2 2 2 2

163
OS ECON OMIS TAS

P a r a pr odu zir os ch oqu es ir r egu la r es ext r a ím os 160 a lga r ism os


a lea t ór ios, de 0 a 9, da tabela d e n ú m eros aleatórios, de Tippet t . 87 Os
desvios desses a lga r ism os da m édia a r it m ét ica , ist o é, de 4,5, sã o t o-
m a dos com o sen do os ch oqu es ir r egu la r es, ε.
Aba ixo a pa r ece o cá lcu lo de i a pa r t ir da equ a çã o a cim a pa r a
a lgu n s per íodos:

Os cin co pr im eir os ch oqu es, ε0, ε1, ε2, ε3, e ε4,, sã o t om a dos t a m bém com o
os va lor es in icia is de i. Dessa for m a a pa r ecem t a n t o n a segu n da com o
n a t er ceir a colu n a . P a r a o per íodo 5, de a cor do com a equ a çã o a cim a ,
i 0 , i 1 , i 2 , i 3 e i 4 sã o m u lt iplica dos pelos coeficien t es 0,734, 0,634, –0,489,
0 e 0,245, r espect iva m en t e, e som a dos. E st a som a , m a is o ch oqu e ε5
n os dá i 5 . Da m esm a for m a , m u lt iplica m os i 1 , i 2 , i 3 , i 4 e i 5 pelos m esm os
coeficien t es e a dicion a m os ε6 a essa som a pa r a obt er i 6 , e a ssim por
dia n t e. O i t obt ido cor r espon de a os in t er va los sem est r a is. A cu r va A
do gr á fico 16 r epr esen t a os da dos a n u a is pa r a i, ist o é, a s m édia s
i5 + i6 i7 + i8
a r it m ét ica s , et c., n u m er a da s 1, 2 et c.
2 2
Ver em os qu e a s flu t u a ções obt ida s exibem u m ciclo ba st a n t e r e-
gu la r com u m per íodo m édio de cer ca de 8 a n os. (O per íodo do ciclo
a m or t ecido or igin a l é de 8,5 a n os). A a m plit u de dos ciclos va i de 12 a
25 a n os e, por t a n t o, é a pr ecia velm en t e m a is a lt a qu e o m á xim o a bsolu t o
da m a gn it u de dos ch oqu es, qu e é de a pen a s 4,5.
É eviden t e qu e o ciclo ligeir a m en t e a m or t ecido de n osso m odelo
pa r a os E st a dos Un idos n ã o pode ser a pr esen t a do com o o pa dr ã o do

87 As t a bela s de Tippet t con sist em em colu n a s de n ú m er os de 4 a lga r ism os. Tom a m os os


a lga r ism os do pr im eir o n ú m er o, depois os do segu n do n ú m er o et c., da pr im eir a colu n a .
Ut iliza m os os pr im eir os 40 n ú m er os, obt en do a ssim 160 a lga r ism os.

164
KALECKI

ciclo econ ôm ico em ger a l. P oder ia t er h a vido u m a m or t ecim en t o m u it o


m a is for t e. Va m os, por t a n t o, ca lcu la r o efeit o de u m a m or t ecim en t o
m a ior , por exem plo, qu a n do t odos os coeficien t es, excet o o de i t – 1 , da
equ a çã o (28′′′) sã o r edu zidos em 20%. A n ova equ a çã o (com os coefi-
cien t es a r r edon da dos) fica sen do en t ã o:

i t = 0,6i t –
1 + 0,6i t – 1 – 0,4i t –
3 – 0,2i t –
5 + εt
2 2 2

O ciclo ba sea do n essa equ a çã o é ba st a n t e a m or t ecido, sen do o


a m or t ecim en t o de cer ca de 14% a o a n o. O per íodo de du r a çã o é de
cer ca de 8 a n os. In t r odu zim os en t ã o n esse m odelo a m esm a sér ie de
ch oqu es qu e foi em pr ega da a cim a . Os r esu lt a dos est ã o r epr esen t a dos
pela cu r va B n o gr á fico 16. A cu r va B en t ã o é o equ iva len t e da cu r va
A com u m a m or t ecim en t o m u it o m a ior .

Gr á fi co 16. Ciclos ligad os a ch oqu es irregu lares.

A m odifica çã o do pa dr ã o qu e r esu lt a do a m or t ecim en t o m a is for t e


é fá cil de se obser va r . Nu m a secçã o da cu r va n ã o é discer n ível ciclo
r egu la r a lgu m . A a m plit u de é de, n o m á xim o, 12, m a s em ger a l é
m u it o m a is ba ixa , ca in do fr eqü en t em en t e a ba ixo do va lor m á xim o a b-
solu t o dos ch oqu es (ist o é, 4,5).
Isso dem on st r a cla r a m en t e a s dificu lda des in er en t es à t eor ia a ci-
m a expost a . É im possível su por qu e os coeficien t es da “equ a çã o do
ciclo econ ôm ico” seja m n ecessa r ia m en t e de m olde a pr odu zir a m or t e-
cim en t os su a ves (com o foi o ca so do m odelo dos E st a dos Un idos pa r a
o per íodo de 1929/40). P or ou t r o la do, u m a m or t ecim en t o for t e leva a
u m ciclo ba st a n t e ir r egu la r e de pequ en a a m plit u de. Isso t em ser vido
de ba se pa r a vá r ios a u t or es t en t a r em a a r r isca da su posiçã o de qu e os
ciclos econ ôm icos or igin a is n ã o sã o a m or t ecidos e qu e con seqü en t e-
m en t e se t r a n sfor m a m , m a is cedo ou m a is t a r de, em ciclos de a m plit u de
con st a n t e, a t in gin do o “t et o”. Con t u do, n ã o h á con fir m a çã o pa r a a t eor ia
segu n do a qu a l o “t et o” ser ia em ger a l a t in gido n a fa se de pr osper ida de.
Ch ega m os, por t a n t o, a u m a espécie de im pa sse.

165
OS ECON OMIS TAS

A p r óxim a p a r t e su ger e u m a s olu çã o p a r a e ss e p r ob lem a .


Ali p r ocu r a m os d em on st r a r qu e a s d ificu ld a d es e n con t r a d a s s e
d evia m a o t ip o d e ch oqu es con sid er a d os e q u e ou t r os p a d r ões d e
ch oq u es , qu e e n t en d e m os e st a r m a is p r óxim os à r e a lid a d e, t e n d em
a ger a r ciclos e con ôm icos qu e n ã o se “d es in t e gr a m ” com u m a m or -
t ecim en t o m a ior .

A n o v a p e rs p e c tiv a

Os m ovim en t os ir r egu la r es u t iliza d os a cim a a p r esen t a va m dis-


t r ibu içã o d e fr eqü ên cia h a r m ôn ica , ist o é, os ch oqu es com o m a ior
ou com o m en or desvio da m édia er a m igu a lm en t e fr eqü en t es. (P or
exem plo, a fr eqü ên cia de 5 com o desvio da m édia de +0,5 er a a
m esm a de 9 com o desvio da m éd ia de +4,5.) Ta m bém for a m u sa dos
ch oqu es d e dist r ibu içã o de fr eqü ên cia h a r m ôn ica n a s exper iên cia s
com flu t u a ções cíclica s ger a d a s por ch oqu es, qu e for a m feit a s pela
pr im eir a vez por Slu t sk y, 88 e n a a plica çã o específica a os ciclos eco-
n ôm icos r ea liza da por F r isch . 89
Con t u d o, su põe-se em ger a l qu e os er r os a lea t ór ios est ã o su -
jeit os a u m a dist r ibu içã o d e fr eqü ên cia n or m a l. Isso se ba seia n a
h ipót ese de qu e eles pr ópr ios con st it u em a som a de n u m er osos er r os
elem en t a r es e n o t eor em a de La p la ce-Lia pou n off, segu n do o qu a l
essa s som a s obed ecem a u m a dist r ibu içã o d e fr eqü ên cia n or m a l.
Isso, n a ver da de, con st it u i a ba se t eór ica p a r a a a p lica çã o do m ét odo
dos m ín im os qu a dr a dos.
Or a , qu er os ch oqu es ir r egu la r es en con t r a dos n os fen ôm en os eco-
n ôm icos possa m ou n ã o ser con sider a dos a som a de n u m er osos ch oqu es
a lea t ór ios elem en t a r es, pa r ece r a zoá vel su por qu e os ch oqu es m a ior es
a pr esen t a m fr eqü ên cia m en or qu e os ch oqu es pequ en os. Assim , a su -
posiçã o da dist r ibu içã o de fr eqü ên cia n or m a l pa r ece ser m a is r a zoá vel
qu e a da dist r ibu içã o de fr eqü ên cia h a r m ôn ica . Com o ver em os a segu ir ,
for a m obt idos r esu lt a dos m u it o in t er essa n t es de u m a exper iên cia qu e
fizem os segu in do essa lin h a .
P a r a obt er u m a sér ie de ch oqu es com dist r ibu içã o de fr eqü ên cia
a pr oxim a da m en t e n or m a l, ca lcu la m os som a s de cin qü en t a a lga r ism os
ca da , a lga r ism os esses r et ir a dos da t a bela de Tippet t a cim a r efer ida .90

88 "A som a t ór ia da s ca u sa s a lea t ór ia s com o fon t e dos pr ocessos cíclicos". In : Problem as E co-
n ôm icos. In st it u t o da Con ju n t u r a . Moscou , 1927.
89 E n saios E con ôm icos em H om en agem a Gu stav Cassel. Lon dr es, 1933.
90 Ca da pá gin a dessa s t a bela s com pr een de 8 colu n a s de 50 n ú m er os de 4 a lga r ism os. P ode-se
lê-la s com o 32 colu n a s de 50 a lga r ism os. Ca da u m a dessa s colu n a s foi som a da ver t ica lm en t e,
obt en do-se 32 som a s de 50 a lga r ism os a lea t ór ios. As 4 pr im eir a s pá gin a s for a m pr ocessa da s
dessa m a n eir a , obt en do-se u m a sér ie de 128 ch oqu es com dist r ibu içã o a pr oxim a da m en t e
n or m a l.

166
KALECKI

Os desvios dessa s som a s de su a m édia (ist o é, de 4,5 x 50 = 225) for a m


su bm et idos à m esm a oper a çã o r ea liza da em n ossa pr im eir a exper iên cia .
i t foi ca lcu la do pr im eir a m en t e por m eio da equ a çã o:
i t = 0,734i t –
1 + 0,634i t – 1 – 0,489i t –
3 – 0,245i t –
5 + εt (28′′)
2 2 2

a qu a l en volve u m a m or t ecim en t o su a ve; e a segu ir a t r a vés da equ a çã o:


i t = 0,6i t –
1 + 0,6i t – 1 – 0,4i t –
3 – 0,2i t –
5 + εt
2 2 2

à qu a l é in er en t e u m a m or t ecim en t o m a is for t e. No gr á fico 17 a pa r ecem


a s r espect iva s cu r va s C e D.
P ode-se ver im edia t a m en t e qu e a qu i a posiçã o é m u it o difer en t e
da de n ossa exper iên cia a n t er ior . A cu r va D, qu e cor r espon de a u m
a m or t ecim en t o m u it o m a ior , a pr esen t a u m pa dr ã o bem sem elh a n t e a o
da cu r va C. Am ba s t êm u m per íodo m édio ba st a n t e defin ido, de cer ca
de 8 a n os pa r a a cu r va C e de a pr oxim a da m en t e 7,5 a n os pa r a a cu r va
D. (O per íodo de du r a çã o dos ciclos or igin a is é de 8,5 e 8 a n os, r es-
pect iva m en t e.) A a m plit u de da cu r va D é a pen a s u m pou co m en or qu e
a da cu r va C.
Apesa r de esses r esu lt a dos a in da est a r em a exigir u m a explica çã o
m a t em á t ica , o fen ôm en o em si é vir t u a lm en t e cer t o: o ciclo ger a do
pelos ch oqu es com dist r ibu içã o de fr eqü ên cia n or m a l a pr esen t a u m a
est a bilida de con sider á vel com r ela çã o a m odifica ções n a equ a çã o bá sica
qu e en volve a cr éscim os su bst a n cia is do a m or t ecim en t o. Assim , m esm o
com u m a m or t ecim en t o r ela t iva m en t e for t e, esses ch oqu es ger a m ciclos
ba st a n t e r egu la r es.
E sse r esu lt a do é de im por t â n cia con sider á vel. Dem on st r a qu e
u m ciclo sem i-r egu la r pode ocor r er m esm o qu e a “equ a çã o do ciclo
econ ôm ico” en volva u m a dose su bst a n cia l de a m or t ecim en t o. F ica a ssim
elim in a da a n ecessida de de a ceit a r m os o ciclo explosivo com o sen do o
pa dr ã o ger a l da s flu t u a ções econ ôm ica s, o qu e h a vía m os con sider a do
em desa cor do com a r ea lida de.
P oder á ser in t er essa n t e com pa r a r a s flu t u a ções econ ôm ica s r ea is
n o decu r so de vá r ios a n os com a sér ie a r t ificia l con st r u ída a cim a . No
gr á fico 17 o leit or en con t r a r á a cu r va M r epr esen t a n do o desvio r ela t ivo
da t en dên cia do ín dice com bin a do dos E st a dos Un idos pa r a os set or es

167
OS ECON OMIS TAS

Gr á fico 17. Ciclos provocados por choques irregulares de distribuição nor-


m al (C e D), e flutuações cíclicas reais nos Estados Unidos, 1866-1914 (M).

m a n u fa t u r eir os, dos t r a n spor t es e do com ér cio pa r a o per íodo de 1866-


1914, de a cor do com F r ickey.91 As flu t u a ções r ea is diver gem de n ossa s
flu t u a ções ger a da s pelos ch oqu es som en t e n a m edida em qu e sã o li-
geir a m en t e m en os r egu la r es.

91 F RICKE Y, E . E con om ic Flu ctu ation s in th e Un ited S tates. Ca m br idge, Ma ss., 1942.

168
P ARTE S EXTA

O D e s e n v o lv im e n to Ec o n ô m ic o a Lo n g o P ra zo
14

O P ro c e s s o d e D e s e n v o lv im e n to Ec o n ô m ic o

A te n d ê n c ia a lo n g o p ra zo e o c ic lo e c o n ô m ic o
E st a belecem os a cim a u m a sér ie de r ela ções en t r e o in vest im en t o,
os lu cr os e o m on t a n t e da pr odu çã o. Sa lien t a m os, em diver sos pon t os,
qu e cer t a s con st a n t es dessa s r ela ções se a ch a m su jeit a s a m odifica ções
econ ôm ica s a lon go pr a zo, a pesa r de a s t er m os su post o com o sen do
est á veis pa r a fin s da a n á lise do ciclo econ ôm ico. Ver em os a dia n t e qu e
a s m odifica ções sofr ida s por essa s con st a n t es n o decu r so do desen vol-
vim en t o a lon go pr a zo da econ om ia ca pit a list a pr opicia m a con t in u a çã o
desse m esm o desen volvim en t o. Isso por su a vez pr ovoca n ova s m odi-
fica ções n a s con st a n t es em qu est ã o e a ssim por dia n t e.
Da m esm a for m a qu e n a a n á lise do ciclo econ ôm ico, su pom os
a qu i qu e a ba la n ça com er cia l e o or ça m en t o gover n a m en t a l sã o equ i-
libr a dos e qu e os t r a ba lh a dor es n ã o pou pa m . Con t in u a m os t a m bém a
su por qu e os ín dices de pr eços u sa dos com o defla t or do in vest im en t o
e do m on t a n t e da pr odu çã o sã o igu a is. Assim , t oda s a s equ a ções u sa da s
com r ela çã o a o ciclo econ ôm ico (ver pp. 143-44) con t in u a m vá lida s,
a pesa r de qu e a gor a ir em os en fa t iza r a s m odifica ções a lon go pr a zo
sofr ida s por cer t a s con st a n t es. P or esse m ot ivo, a s con st a n t es em qu es-
t ã o pa ssa m a ser escr it a s com o ín dice t. Tem os por t a n t o: (a) a igu a lda de
da pou pa n ça e do in vest im en t o,
S = I;
(b) a r ela çã o en t r e os lu cr os e o in vest im en t o feit o n o pa ssa do,
It – ω+ At
Pt = ;
1 – q
(c) a r ela çã o en t r e a pr odu çã o e os lu cr os,

171
OS ECON OMIS TAS

P t + B ′t
Ot = + E t;
1 – α

e, fin a lm en t e, (d ) a equ a çã o da det er m in a çã o do in vest im en t o,

a ∆P t ∆O t
It = S + b′ + e + d′t .
+ θ
1 + c t ∆t ∆t

Con for m e foi in dica do a cim a , n ã o se su põe m a is qu e A, qu e é a pa r t e


est á vel do con su m o dos ca pit a list a s, B ′, qu e r eflet e pr in cipa lm en t e o
ca r á t er de cu st os in dir et os qu e os sa lá r ios a pr esen t a m , e E , o m on t a n t e
dos im post os in dir et os, seja m con st a n t es com o foi o ca so du r a n t e a
a n á lise do ciclo econ ôm ico, m a s os en t en dem os com o su jeit os a m odi-
fica ções a lon go pr a zo. Dessa for m a , sã o a gor a in dica dos por A t ,
B ′t e E t .
Dedu z-se da s equ a ções a cim a qu e:

a 1 e ∆I t – ω
It = I + (b′ + ) + L t + d t′ (30)

1 + c t 1 – q 1 – α ∆t

on de L t é a a br evia çã o da expr essã o:

1 e ∆A t e ∆B ′t ∆E t
(b′ + ) + + e ⋅
1 – q 1 – α ∆t 1 – α′ ∆t ∆t

Da m esm a forma que na equação do ciclo econômico (p. ???), indicaremos


147
1 e
(b′ + )
1 – q 1 – α′

por µ. Dessa for m a , t em os:

a ∆I t – ω
It = I + µ + L t + d t′ (30′)
+ θ
1 + c t ∆t

on de
∆A t e ∆B ′t ∆E t
Lt = µ + + e (31)
∆t 1 – α′ ∆t ∆t

L t + d ′t n a equ a çã o (30′) est á su jeit o a m odifica ções r esu lt a n t es da


t en dên cia a lon go pr a zo do in vest im en t o, m odifica ções est a s qu e por
su a vez a ju d a m a per pet u a r a t en dên cia d o in vest im en t o. A m odi-
fica çã o a lon go p r a zo de I pr ovoca r á u m a m odifica çã o a lon go pr a zo
em L t + d ′t ; isso, através da equação (30′), provocará uma nova m odifica çã o
a lon go pra zo em I, e a ssim por dia n t e. In diqu em os a or den a da da
cu r va t em p or a l a ju st a d a qu e r ep r esen t a esse m ovim en t o a lon go

172
KALECKI

pr a zo do in vest im en t o por y t . Dedu z-se do qu e se d isse a cim a qu e y t


é u m a va r iá vel qu e sa t isfa z a equ a çã o (30′). Con seqü en t em en t e:

a ∆y t – ω
yt + θ = yt + µ + L t + d t′⋅ (32)
1 + c ∆t

Se su bt r a ir m os a gor a a equ a çã o (32) da equ a çã o (30′) e in dica r m os


I t – y t por i t, t er em os:

a ∆i t – θ
it = i + µ ⋅ (23′)
+ θ
1 + c t ∆t

E ssa equ a çã o é idên t ica à “equ a çã o do ciclo econ ôm ico” do ca pít u lo


10 (ver p. 147). Ali i t in dica va o desvio do in vest im en t o do n ível da
depr ecia çã o de for m a est á t ica . F oi dem on st r a do qu e, de a cor do com a
equ a çã o (23′), i t flu t u a em t or n o do n ível zer o, o qu e qu er dizer qu e o
in vest im en t o flu t u a em t or n o do n ível de depr ecia çã o. No con t ext o
a t u a l i t é o desvio de I t do n ível da t en dên cia y e por t a n t o o fa t o de
qu e i t sa t isfa z a equ a çã o (23′) sign ifica qu e o in vest im en t o flu t u a em
t or n o da lin h a da t en dên cia a lon go pr a zo (ver gr á fico 18).

Gr á fi co 18. Ilu stração d os com pon en tes cíclicos e d a ten d ên cia d o in -


vestim en to bru to.

E m ou t r a s pa la vr a s, a n a lisa m os o in vest im en t o n o qu e diz r espeit o à


t en dên cia e a seu s com pon en t es cíclicos:
I t = yt + i t

on de y t se a ch a su jeit o a u m m ovim en t o h om ogên eo a lon go pr a zo


r ela cion a do com a s m odifica ções a lon go pr a zo de L t + d ′t , e on de i t
flu t u a em t or n o do n ível zer o.
An t es de pa ssa r m os à a n á lise do pr ocesso de desen volvim en t o a
lon go pr a zo r eflet ido n o m ovim en t o de y, é pr eciso sa lien t a r qu e esse
pr ocesso t a m bém a fet a a a m plit u de da s flu t u a ções de i. Con for m e m os-

173
OS ECON OMIS TAS

t r a m os a cim a , essa a m plit u de ou é pr opor cion a l à m a gn it u de dos m o-


vim en t os ir r egu la r es ou é det er m in a da pelo “t et o” da ofer t a de r ecu r sos
pr odu t ivos. A m a gn it u de dos ch oqu es se a ch a n it ida m en t e r ela cion a da
com o t a m a n h o da econ om ia , cu jo cr escim en t o a lon go pr a zo t en de
dessa for m a a a u m en t a r a m a gn it u de desses ch oqu es. O “t et o” t a m bém
se desloca r á m a is ou m en os pr opor cion a lm en t e à t en dên cia de y, de
m odo qu e a dist â n cia en t r e a “lin h a do t et o” e a lin h a da t en dên cia
a u m en t a r á t a m bém com o cr escim en t o ger a l da econ om ia .
S u p o s iç ã o s o bre a s a lte ra ç õ e s a lo n g o p ra zo d e L

Do qu e foi dit o a cim a r esu lt a qu e o m ovim en t o do n ível de in -


vest im en t o a lon go pr a zo, y, é det er m in a do som en t e se for em feit a s
su posições defin ida s sobr e o im pa ct o desse m ovim en t o sobr e L e d′.
Tr a t a r em os pr im eir o do pr oblem a da s a lt er a ções a lon go pr a zo de L ,
o qu e é det er m in a do pela equ a çã o:
∆A t e ∆B ′t ∆E t
Lt = µ + + e ⋅
∆t 1 – α′ ∆t ∆t

Su por em os, com o h ipót ese de t r a ba lh o, qu e A, B ′ e E a lon go


pr a zo va r ia m pr opor cion a lm en t e a o n ível de in vest im en t o a lon go pr a zo,
∆y
y; e con seqü en t em en t e qu e L va r ia pr opor cion a lm en t e a . As r a zões
∆t
pa r a se a dot a r essa h ipót ese de t r a ba lh o sã o da da s em segu ida .
Com o ficou dit o n a pá gin a 170, A é a pa r t e do con su m o dos
ca pit a list a s qu e per m a n ece est á vel a cu r t o pr a zo. A lon go pr a zo, con -
t u do, pode-se su por qu e o con su m o dos ca pit a list a s dem on st r a u m a
t en dên cia a a da pt a r -se de m odo pr opor cion a l a o va lor dos lu cr os. P ode-
se su por qu e A a lon go pr a zo va r ie pr opor cion a lm en t e a os lu cr os. Con -
clu i-se en t ã o dir et a m en t e da equ a çã o
It – ω+ At
Pt =
1 – q

qu e t a n t o os lu cr os P t com o A t a lon go pr a zo va r ia m pr opor cion a lm en t e


a o n ível de in vest im en t o a lon go pr a zo, y t – ω . 92
Com o t a m bém foi lem br a do n a pá gin a 170, B ′ r eflet e o ca r á t er
de cu st o in dir et o de qu e se r evest em os sa lá r ios, o qu e a lon go pr a zo
t en de a fa zer seu m on t a n t e m a is est á vel qu e o da pr odu çã o. E r epr e-
sen t a o m on t a n t e dos im post os in dir et os, qu e su pu sem os ser est á vel
n o decu r so do ciclo econ ôm ico. A lon go pr a zo podem os su por qu e B′ e

92 Lem br em os qu e ω é o h ia t o t em por a l en t r e o in vest im en t o e os lu cr os, r esu lt a n t e do h ia t o


t em por a l en t r e os lu cr os e o con su m o dos ca pit a list a s.

174
KALECKI

E va r ia m pr opor cion a lm en t e a o m on t a n t e da pr odu çã o O. Dedu z-se


en t ã o da equ a çã o

P t + B ′t
Ot = + Et
1 – α′

qu e O t , B ′t e E va r ia m a lon go pr a zo pr opor cion a lm en t e a os lu cr os, P t .


Um a vez qu e os lu cr os a lon go pr a zo va r ia m , de a cor do com a h ipót ese
a cim a , pr opor cion a lm en t e n o n ível de in vest im en t o a lon go pr a zo,
y t – ω, o m esm o se a plica a B ′t , e a o m on t a n t e da pr odu çã o O t . Su pom os
en t ã o qu e A t , B ′t e E t va r ia m t odos pr opor cion a lm en t e, a lon go pr a zo,
a y t – ω ou , o qu e dá n a m esm a , qu e o in vest im en t o, os lu cr os e o
m on t a n t e da pr odu çã o va r ia m pr opor cion a lm en t e a lon go pr a zo. (Ape-
n a s, con t u do, se os coeficien t es q e α′ per m a n ecer em in a lt er a dos.)
Con clu i-se en t ã o dir et a m en t e da equ a çã o (31) qu e L t va r ia pr o-
por cion a lm en t e com a taxa d e alteração do n ível de in vest im en t o a
lon go pr a zo, y t – ω:

∆y t – ω
Lt = σ ⋅
∆t

Nossa equ a çã o (32) t or n a -se en t ã o:

a ∆y t – ω
yt = y + (µ + σ) + d ′t ⋅ (33)
+ θ
1 + c t ∆t

∆i t – ω
O fa t o de o coeficien t e de ser a gor a n ã o m a is µ m a s µ + σ de-
∆t
m on st r a a in flu ên cia da a da pt a çã o a lon go pr a zo dos lu cr os e do m on -
t a n t e da pr odu çã o n o n ível de in vest im en t o a lon go pr a zo.

S u p o s iç ã o s o bre a s a lte ra ç õ e s a lo n g o p ra zo d e d′

a
A fim de sim plifica r a equ a çã o (33), va m os in dica r por n e
1 +c
µ + σ por m . Tem os en t ã o:

∆y t – ω
yt + θ = n yt + m + d ′t ⋅ (33′)
∆t

Lem br em o-n os de qu e n se en t en dia com o m en or do qu e 1 (ver p. 126).


Um ca so especia l dessa equ a çã o cor r espon de à “posiçã o de equ i-
líbr io” do sist em a est á t ico con sider a do n o ca pít u lo 11 (ver p. 146). P a r a
esse sist em a , o n ível de in vest im en t o a lon go pr a zo, y, é est á vel e igu a l
à depr ecia çã o δ, de m odo qu e t em os:

175
OS ECON OMIS TAS

∆y t – ω
yt + θ = yt = δ e = 0⋅
∆t

Resu lt a da equ a çã o (33′) qu e


δ = nδ + d′

e por t a n t o
d ′ = (1 – n ) δ⋅

Adem a is, r epr esen t a n do a r a zã o en t r e a depr ecia çã o e o est oqu e de


ca pit a l K por β, t em os:
d ′ = (1 – n ) βK .

Im a gin em os a gor a qu e n ovos fa t or es, in ova ções, por exem plo, ele-
vem d ′ a cim a do n ível cor r espon den t e a o est a do est á t ico. Im a gin em os
t a m bém qu e o efeit o desses fa t or es seja , coeteris paribu s, t a n t o m a ior
qu a n t o m a is eleva do for o est oqu e de ca pit a l. E scr evem os en t ã o pa r a
o ca so ger a l:
d′t = (1 – n) βK t + γK t

on de γ, qu e é u m va lor posit ivo, m ede a in t en sida de dos “fa t or es de


desen volvim en t o”.
P odem os en t ã o escr ever a equ a çã o (33′) com o segu e:
∆y t – ω
yt + θ = n yt + m + (1 – n ) βK t + γK t . (34)
∆t

A te n d ê n c ia a lo n g o p ra zo

É eviden t e qu e a equ a çã o a cim a é in com pa t ível com u m sist em a


est á t ico se γ for posit ivo. De fa t o, su pon do qu e y t seja igu a l à depr ecia çã o,
∆y t – ω
βK t , e = 0, obt em os:
∆t
yt + θ = βK t + γK t

o qu e qu er dizer qu e o in vest im en t o n ã o pode ser m a n t ido n o n ível


da depr ecia çã o, βK t, m a s t en der á a ser m a is a lt o.
Dessa for m a , a equ a çã o (34) r epr esen t a u m sist em a n o qu a l o
n ível do in vest im en t o a lon go pr a zo é m a is eleva do qu e o da depr ecia çã o.
Con seqü en t em en t e, o est oqu e de ca pit a l, K t , a u m en t a ; o m esm o ocor r e,
é cla r o, com (1 – n )βK t – γK t qu e r eflet e u m a depr ecia çã o, βK t , e u m
“efeit o de in ova çã o”, γK t , pr opor cion a lm en t e m a is a lt os. Isso dá u m

176
KALECKI

est ím u lo a dicion a l a o in vest im en t o, e a ssim por dia n t e. Com o o in ves-


∆y t – ω
t im en t o est á su bin do, m é posit ivo, o qu e a u m en t a a t a xa de
∆t
eleva çã o de y t . E st e ú lt im o r eflet e o efeit o da t a xa de eleva çã o dos
lu cr os sobr e o in vest im en t o em ca pit a l fixo e o efeit o da t a xa de eleva çã o
do m on t a n t e da pr odu çã o sobr e o in vest im en t o em est oqu es.
E m ou t r a s pa la vr a s, os “fa t or es de desen volvim en t o”, t a is com o
a s in ova ções, n ã o per m it em qu e o sist em a se a ssen t e n u m a posiçã o
est á t ica , ger a n do u m a t en dên cia a scen den t e a lon go pr a zo. A a cu m u -
la çã o de ca pit a l, qu e r esu lt a do fa t o de qu e o in vest im en t o a lon go
pr a zo se en con t r a a cim a do n ível da depr ecia çã o, por su a vez a u m en t a
a a m plit u de da in flu ên cia dos “fa t or es de desen volvim en t o”, con t r i-
bu in do dessa m a n eir a pa r a a m a n u t en çã o da t en dên cia a lon go pr a zo.
A eleva çã o dos lu cr os e da pr odu çã o qu e r esu lt a do m ovim en t o a scen -
den t e do in vest im en t o pr ovoca u m a t a xa de cr escim en t o m a is eleva da .
O p ro c e s s o d e a ju s te

Devem os n ot a r qu e a tran sição de u m a sit u a çã o est á t ica pa r a a


da t en dên cia a scen den t e a lon go pr a zo n ã o é r epr esen t a da de for m a
a dequ a da pela equ a çã o (34). De fa t o, essa t r a n siçã o se r eflet e pr im ei-
r a m en t e em u m dist ú r bio da s flu t u a ções cíclica s; e é a t r a vés dessa
m odifica çã o n o cu r so da s flu t u a ções qu e se pr ocessa o a ju st e. A fa se
de pr osper ida de é m a is pr on u n cia da qu e a da depr essã o e, con seqü en -
t em en t e, a t in ge-se u m a n ova posiçã o a lon go pr a zo, com u m n ível de
in vest im en t o m a is eleva do.
A pa ssa gem da sit u a çã o est á t ica à t en dên cia a scen den t e a lon go
pr a zo cor r espon de à a lt er a çã o do va lor da in t en sida de dos “fa t or es de
desen volvim en t o”, γ, de zer o pa r a u m va lor posit ivo det er m in a do. Or a ,
o m esm o pa dr ã o se a plica a qu a lqu er a lt er a çã o de γ, ou de ou t r o pa -
r â m et r o da equ a çã o (34). P or exem plo, u m a r edu çã o da in t en sida de
da s in ova ções r eflet ida em u m a qu eda de γ in icia lm en t e ir á t a m bém
pr ovoca r u m dist ú r bio da s flu t u a ções cíclica s, e, por m eio de u m a de-
pr essã o m a is pr on u n cia da qu e a fa se de pr osper ida de, pr odu zir á u m
n ível de in vest im en t o a lon go pr a zo m a is ba ixo.
A “equ a çã o da t en dên cia ” com pa r â m et r os da dos r epr esen t a , à
lu z do qu e foi expost o a cim a , a t en dên cia a lon go pr a zo n a qu a l o
sist em a a ssen t ou d epois do pr ocesso de a ju st e. Ver em os a dia n t e qu e,
em cer t a s con dições, essa equ a çã o r epr esen t a o cr escim en t o a u m a
t a xa per cen t u a l con st a n t e, ist o é, u m a t en dên cia u n ifor m e.
A te n d ê n c ia u n ifo rm e

A fim de fa cilit a r o est u do desse pr oblem a , va m os pr im eir o dividir


os dois m em br os da equ a çã o (34) por y t :

177
OS ECON OMIS TAS

yt + θ m ∆y t – ω Kt Kt
= n + + (1 – n ) β + γ (34′)
yt yt ∆t yt yt

Se o sist em a estiver su jeit o a u m a t en dên cia u n ifor m e a u m a


t a xa de cr escim en t o v, t er em os a s segu in t es r ela ções. O in vest im en t o
líqu ido a o t em po t ser á igu a l a vK t , por qu a n t o o ca pit a l cr esce à t a xa
de v. Com o a depr ecia çã o é βK t, o in vest im en t o br u t o y t é igu a l a
(β + υ) K t . Tem os, por t a n t o:

Kt 1
= ⋅
yt β + υ

P odem os con clu ir , a dem a is, qu e o in vest im en t o br u t o y t t a m bém


a u m en t a à t a xa v por qu e va r ia pr opor cion a lm en t e com o est oqu e de
ca pit a l K t.
P or t a n t o:

1 ∆y t
= υ⋅
y t ∆t

Se su pu ser m os qu e a t a xa de cr escim en t o é pequ en a (t a n t o por


cen t o), despr eza n do os in fin it ésim os da segu n da or dem , ir em os obt er :

1 ∆y t – ω
= υ.
yt ∆t

F in a lm en t e, t em os:
yt + θ
= 1 + θυ
yt

sen do θυ o cr escim en t o r ela t ivo do per íodo θ. 93


P odem os por t a n t o escr ever a equ a çã o (34′), u t iliza n do a s r ela ções
a cim a est a belecida s, da segu in t e for m a :
(1 – n)β + γ
1 + θυ = n + m υ +
β + υ

ou
γ
β +
θ – m 1–n
1 + υ= (35)
1 – n β+υ

93 Na ver da de, a qu i h á t a m bém u m a a pr oxim a çã o ba sea da n o desca r t e dos in fin it ésim os de


segu n da or dem .

178
KALECKI

Um a vez qu e n é m en or qu e 1, 1 – n é posit ivo. A in t en sida de


dos “fa t or es de desen volvim en t o”, υ, é t a m bém posit ivo.
E xa m in em os a equ a çã o (35) em t er m os de gr á fico. Tom a m os com o
eixo da s a bscissa s a t a xa de cr escim en t o v e t r a ça m os a s lin h a s cor -
r espon den t es a a m bos os m em br os da equ a çã o (35):
γ
γ +
θ – m 1 – n
z = 1 + υ e z′ =
1 – n γ + υ

O pon t o de in t er seçã o dessa s lin h a s, se h ou ver , t er á com o a bscissa


o va lor de υ qu e sa t isfa z a equ a çã o (35). P or t a n t o, a exist ên cia do
pon t o de in t er seçã o ser á decisiva pa r a det er m in a r se ser á possível ou
n ã o u m a t en dên cia u n ifor m e.

z é u m a r et a qu e cor t a o eixo da s or den a da s n o pon t o 0, 1 (ver


n o gr á fico 19 a s t r ês va r ia n t es da posiçã o da r et a ); z′ é u m a h ipér bole
com a s segu in t es ca r a ct er íst ica s: (a) cor t a o eixo da s or den a da s a cim a
do pon t o 0, 1, por qu e, pa r a υ = 0,
γ
β +
1 – n
z′ =
β

de m odo qu e z′ > 1, já qu e γ e 1 – n sã o posit ivos; (b) desce e se


a pr oxim a do eixo da s a bscissa s de for m a a ssin t ót ica , por qu e z’ ca i
qu a n do v se eleva , e se a pr oxim a de zer o qu a n do υ a ssu m e va lor es
su ficien t em en t e a lt os.

Gr á fi co 19. T en d ên cia u n iform e: d eterm in ação d a taxa d e crescim en to.

No gr á fico 19 a pa r ecem t r ês posições possíveis da r et a z, obt ida s

179
OS ECON OMIS TAS

m edia n t e a va r ia çã o de m . No ca so em qu e m < θ, a in clin a çã o da


θ–m
r et a é posit iva . No ca so II, on de m > θ, a lin h a se in clin a pa r a
1–n
ba ixo. Su cede o m esm o n o ca so III, m a s com o se su põe qu e m – θ seja
m a ior qu e n o ca so II, a in clin a çã o pa r a ba ixo é m a is pr on u n cia da .
No ca so III, on de a r et a n ã o cor t a a h ipér bole, n ã o pode a pa r ecer
cla r a m en t e u m a t en dên cia u n ifor m e, por qu a n t o n en h u m va lor da t a xa
de cr escim en t o υ ir á sa t isfa zer a equ a çã o (35). E xist em va lor es de υ
n essa s con dições, con t u do, n os ca sos I e II, on de h á , r espect iva m en t e,
u m e dois pon t os de in t er seçã o. Tr a t a r em os pr im eir a m en t e do ca so II.
No ca so II, a r et a cor t a a h ipér bole n os pon t os A e B . As a bscissa s
de a m bos os pon t os sa t isfa zem a equ a çã o (35). H á , con t u do, ba st a n t e
difer en ça n a sign ificâ n cia da s t a xa s de cr escim en t o υA e υB . Su pon h a -
m os, de fa t o, qu e a in t en sida de dos “fa t or es de desen volvim en t o”, γ,
decr esça u m pou co. Isso se r eflet ir á (ver gr á fico 20) n u m pequ en o des-
loca m en t o pa r a ba ixo da h ipér bole z.
Ir em os ver qu e o pon t o de in t er seçã o A′ n a n ova posiçã o ca i à
esqu er da do pon t o A. P or t a n t o, a t a xa de cr escim en t o υA ′ é m a is ba ixa
qu e υA devido à r edu çã o da in t en sida de dos “fa t or es de desen volvi-
m en t o”, γ. Con t u do, o segu n do pon t o de in t er seçã o B ′ ca i à d ireita do
pon t o B e por t a n t o é m a is eleva do qu e υB . Or a , é eviden t e qu e se o
sist em a est ivesse su jeit o à t a xa de cr escim en t o υB , u m a red u ção da
in t en sida de dos “fa t or es de desen volvim en t o” n ã o poder ia t er leva do
o sistem a a uma posição em que a taxa de crescim ento fosse m ais elevada.
De fato, haveria então um deslocam ento da posição B para a posição
A′. Verem os, portanto que somente a taxa υA corresponde a um equilíbrio
móvel estável e que o crescimento à taxa υB é de natureza efêmera.

Gr á fi co 20. T en d ên cia u n iform e: an álise d a estabilid ad e.

No ca so I, é fá cil ver qu e o ú n ico pon t o de in t er seçã o, C, é da

180
KALECKI

m esm a n a t u r eza qu e A n o ca so II (ver gr á fico 19). P ode-se, por t a n t o,


con clu ir qu e n os ca sos I e II ger a -se u m a t en dên cia u n ifor m e “est á vel”
(à s t a xa s de cr escim en t o υC e υA , r espect iva m en t e), en qu a n t o n o ca so
III n ã o pode a pa r ecer u m a t en dên cia u n ifor m e.
Se δ = 0, ist o é, se o efeit o dos “fa t or es de desen volvim en t o” é
n u lo, z = 1, de m odo qu e a h ipér bole pa ssa a t r a vés do pon t o 0, 1.
Som en t e os ca sos I e II ser ã o r eleva n t es en t ã o. No ca so I, υC , e n o
ca so II υA é igu a l a zer o. υB n o ca so II é posit ivo, m a s de ca r á t er
efêm er o, com o vim os a cim a . P ode-se con clu ir por t a n t o qu e n a a u sên cia
dos “fa t or es de desen volvim en t o”, o sist em a desca m ba pa r a o est a do
est a cion á r io. P a r ece por t a n t o qu e esses fa t or es sã o n ecessá r ios pa r a o
cr escim en t o con t in u a do.
Cre s c im e n to u n ifo rm e e re ta rd a d o

No ca so do cr escim en t o u n ifor m e, t a n t o o in vest im en t o cor r en t e


com o o est oqu e de ca pit a l a u m en t a m à m esm a t a xa con st a n t e. Se,
a lém disso, su pu ser m os com o fizem os a n t es (ver p. 172) qu e os lu cr os
e a pr odu çã o m a n t ém a lon go pr a zo u m a r ela çã o con st a n t e com o
in vest im en t o, dedu z-se qu e o in vest im en t o, os lu cr os, a pr odu çã o e o
ca pit a l, t odos se expa n dem a lon go pr a zo à m esm a t a xa . A t a xa de
lu cr os e a r a zã o en t r e a pr odu çã o e o ca pit a l por t a n t o per m a n ecem
est á veis a lon go pr a zo.
E sse é o qu a dr o cost u m eir o de u m a econ om ia cr escen do em ta-
m an h o sem m odifica çã o da s proporções de su a s va r iá veis bá sica s. Na
ver da de, m u it os a u t or es su põem qu e u m a t en dên cia u n ifor m e seja in e-
r en t e à econ om ia ca pit a list a . Con t u do, o pr ocesso de cr escim en t o u n i-
for m e qu e a pa r ece de n ossa a r gu m en t a çã o se ba seia em “fa t or es de
desen volvim en t o” t a is com o a s in ova ções, em cu ja a u sên cia a econ om ia
ca pit a list a per m a n ecer ia est á t ica . É por esse m ot ivo qu e dedica m os o
pr óxim o ca pít u lo a o est u do desses fa t or es.
Con vém lem br a r n est e pon t o qu e a t en dên cia u n ifor m e a cim a
a lu dida depen de de u m a in t en sida de est á vel dos “fa t or es de desen vol-
vim en t o” γ, ist o é, do a u m en t o pr opor cion a l da a m plit u de da in flu ên cia
desses fa t or es com r ela çã o a o est oqu e de ca pit a l. É eviden t e qu e, se
essa in t en sida de t en de a declin a r , o pr ocesso de cr escim en t o econ ôm ico
ir á ser r et a r da do. O ca pit a l ir á a cu m u la r -se a u m a t a xa decr escen t e
ou , em ou t r a s pa la vr a s, a r a zã o en t r e o in vest im en t o e o ca pit a l ir á
deca ir . O m esm o se poder á dizer qu a n t o a o in vest im en t o br u t o. A pa r t ir
da su posiçã o de qu e os lu cr os e a pr odu çã o va r ia m a lon go pr a zo pr o-
por cion a lm en t e a o in vest im en t o, podem os con clu ir qu e t a n t o a t a xa
de lu cr os com o a r a zã o en t r e a pr odu çã o e o ca pit a l ir ã o declin a r .
P or t a n t o, o cr escim en t o r et a r da do r eper cu t e de for m a a m pla n a eco-
n om ia ca pit a list a : a dim in u içã o da t a xa de pr ogr essã o se liga a o de-

181
OS ECON OMIS TAS

cr éscim o da t a xa de lu cr os e à r edu çã o do gr a u de u t iliza çã o do ca pit a l


em equ ipa m en t o.94
Se esse pr ocesso for a com pa n h a do por u m desloca m en t o da r en da
n o sen t ido dos sa lá r ios pa r a os lu cr os, por exem plo, devido à eleva çã o
do gr a u de m on opólio, isso n ã o ir á det er o declín io da t a xa de lu cr os
m a s t or n a r á a eleva çã o da su bu t iliza çã o dos equ ipa m en t os m a is a gu da
(cf. pp. 80-81). De fa t o, a eleva çã o da pa r cela r ela t iva dos lu cr os n a
r en da n a cion a l sign ifica qu e o m on t a n t e da pr odu çã o cr escer á a u m a
t a xa m en or qu e o in vest im en t o e os lu cr os. P or t a n t o, a pr odu çã o ca ir á
a in da m a is com r ela çã o a o ca pit a l qu e, n o ca so do cr escim en t o r et a r da do
vist o a cim a , se su pu n h a qu e o in vest im en t o, os lu cr os e a pr odu çã o
va r ia ssem pr opor cion a lm en t e, a pesa r de t odos eles est a r em a u m en -
t a n do a u m a t a xa m en or qu e o est oqu e de ca pit a l.

94 Con t u do, se a in t en sida de de ca pit a l, ist o é, a r a zã o en t r e o va lor r ea l do ca pit a l e a


ca pa cida de in du st r ia l, a u m en t a o ba st a n t e, o gr a u de u t iliza çã o poder á n ã o ca ir . O declín io
da r a zã o en t r e a pr odu çã o e o ca pit a l en t ã o r eflet ir ia sim plesm en t e a eleva çã o do ca pit a l-
in t en sida de.

182
15

Os F a to re s d e D e s e n v o lv im e n to

Re c a p itu la ç ã o d a te o ria d o in v e s tim e n to

A fim de en ca r a r n a per spect iva a dequ a da os fa t or es qu e det er -


m in a m o desen volvim en t o econ ôm ico da econ om ia ca pit a list a , é pr eciso
r epet ir r a pida m en t e n ossa t eor ia bá sica do in vest im en t o. De a cor do
com essa t eor ia , o in vest im en t o em ca pit a l fixo por u n ida de de t em po
é det er m in a do (com u m h ia t o t em por a l) por t r ês fa t or es: (1) pela pou -
pa n ça br u t a “in t er n a ” cor r en t e da s fir m a s; (2) pela t a xa de eleva çã o
dos lu cr os; e (3) pela t a xa de eleva çã o do volu m e de ca pit a l em equ i-
pa m en t os. As du a s pr im eir a s in flu ên cia s sã o posit iva s e a t er ceir a é
n ega t iva . E n t en de-se qu e o in vest im en t o em est oqu es é det er m in a do
pela t a xa de eleva çã o da pr odu çã o.
Veja m os de n ovo por u m m om en t o o ca so da econ om ia est á t ica .
Im a gin em os qu e qu a n do a pou pa n ça br u t a t ot a l se igu a la com a de-
pr ecia çã o ela seja r ea liza da t ot a lm en t e pela s fir m a s e fa ça m os a bst r a -
çã o de fa t or es “ext er n os” com o a s in ova ções. (Con t in u em os t a m bém a
su por a est a bilida de da ba la n ça com er cia l e do or ça m en t o do gover n o.)
É eviden t e qu e a econ om ia pode ser m a n t ida n u m a sit u a çã o est á t ica
e qu e os dist ú r bios só pr ovoca r ã o flu t u a ções cíclica s. De fa t o, se o
in vest im en t o br u t o em ca pit a l fixo est iver n o n ível da depr ecia çã o, ir á
ger a r u m a pou pa n ça br u t a igu a l, e com o essa pou pa n ça ben eficia ex-
clu siva m en t e a s fir m a s, t en der á a ser r ein vest ida . Adem a is, o volu m e
do ca pit a l em equ ipa m en t os ser á m a n t ido con st a n t e; os lu cr os e a
pr odu çã o per m a n ecer ã o sem a lt er a çã o por qu e sã o det er m in a dos pelo
n ível do in vest im en t o; e, u m a vez qu e a pr odu çã o é est á vel, n en h u m a
a lt er a çã o dos est oqu es ir á se ver ifica r . E n qu a n t o a s con dições a cim a
se m a n t iver em , o sist em a per m a n ecer á est á t ico, excet o n o qu e diz r es-
peit o à s flu t u a ções cíclica s em t or n o do n ível on de o in vest im en t o se
igu a la à depr ecia çã o.

183
OS ECON OMIS TAS

Con t u do, a posiçã o ir á se m odifica r se a ba n don a r m os a lgu m a s


da s su posições feit a s. Su st en t a m os qu e a s in ova ções t en dem a eleva r
o n ível de in vest im en t o a lon go pr a zo e por t a n t o pr odu zem u m a t en -
dên cia a scen den t e a lon go pr a zo. P or ou t r o la do, a exist ên cia de pou -
pa n ça cor r en t e ext er n a à s fir m a s, r ea liza da pela s pessoa s qu e vivem
de r en dim en t os, t en de a depr im ir o in vest im en t o e por t a n t o a dim in u ir
o desen volvim en t o a lon go pr a zo.
In o v a ç õ e s

As in ova ções qu e su r gem n o decor r er de u m da do per íodo t or n a m


m a is a t r a en t es os n ovos pr ojet os de in vest im en t o. A in flu ên cia desse
fa t or é a n á loga à de u m a cr éscim o do m on t a n t e dos lu cr os qu e, n o
decor r er de u m da do per íodo, t or n a os pr ojet os de in vest im en t o em
ger a l m a is a t r a en t es do qu e er a m n o pr in cípio desse m esm o per íodo.
Ca da n ova in ven çã o, da m esm a for m a qu e ca da a cr éscim o dos lu cr os,
pr ovoca cer t a s decisões a dicion a is de in vest im en t o. Um flu xo con st a n t e
de in ven ções — n o qu e diz r espeit o a o efeit o sobr e o in vest im en t o —
é com pa r á vel a u m a t a xa con st a n t e de a cr éscim o dos lu cr os. Assim ,
esse flu xo fa z su bir o n ível de in vest im en t o por u n ida de de t em po qu e
se t er ia sem ele. E sse é o im pa ct o im edia t o da s n ova s in ven ções sobr e
o in vest im en t o. Su põe-se qu e a s in ova ções, n o sen t ido de a ju st es gr a -
du a is dos equ ipa m en t os a o est a do cor r en t e da t ecn ologia , seja m pa r t e
in er en t e do in vest im en t o “or din á r io”, con for m e det er m in a do pelos fa -
t or es “n or m a is” a cim a descr it os.
Agor a est á cla r o qu e u m flu xo con st a n t e de in ven ções pr ovoca
a cr éscim os de in vest im en t o a u m pon t o a cim a do n ível r esu lt a n t e de
n ossos det er m in a n t es bá sicos. As in ven ções, por t a n t o, t r a n sfor m a m o
sist em a est á t ico em ou t r o, su jeit o a u m a t en dên cia a scen den t e. Deve-se
a cr escen t a r qu e se pode su por coeteris paribu s qu e o efeit o da s in ova ções
sobr e o n ível do in vest im en t o ser á t a n t o m a is for t e qu a n t o m a ior for
o n ível dos equ ipa m en t os. De a cor do com isso, su pom os em n osso m odelo
da t en dên cia qu e esse efeit o é pr opor cion a l a o est oqu e de ca pit a l (ver
p. 174). Ao en fr a qu ecer -se a in t en sida de da s in ova ções, m a n ifest ou -se
u m declín io desse efeit o com r ela çã o a o est oqu e de ca pit a l. Com o vim os
a cim a , h a ver á en t ã o u m r et a r da m en t o do pr ocesso de desen volvim en t o
a lon go pr a zo.
E m bor a a qu i t en h a m os iden t ifica do a s in ova ções com a s cr ia ções
da t ecn ologia , a defin içã o da s in ova ções pode ser fa cilm en t e a m plia da ,
pa ssa n do a en globa r fen ôm en os cor r ela t os com o a in t r odu çã o de n ovos
pr odu t os qu e exigem n ovos equ ipa m en t os pa r a su a fa br ica çã o, a a ber -
t u r a de n ova s fon t es de m a t ér ia s-pr im a s qu e exigem n ovos in vest i-
m en t os em in st a la ções pr odu t iva s e de t r a n spor t e et c. A a r gu m en t a çã o
a cim a desen volvida se a plica com plet a m en t e t a m bém a esses ca sos.

184
KALECKI

O en fr a qu ecim en t o do cr escim en t o da s econ om ia s ca pit a list a s n os


ú lt im os est á gios de seu desen volvim en t o se explica pr ova velm en t e, pelo
m en os em pa r t e, pelo declín io da in t en sida de da s in ova ções. P odem -se
a pr esen t a r t r ês r a zões ger a is pa r a essa t en dên cia . A m a is eviden t e é
a im por t â n cia decr escen t e da a ber t u r a de n ova s fon t es de m a t ér ia s-
pr im a s et c. Ou t r a é a dificu lda de de a plica çã o de n ova s in ven ções qu e
r esu lt a do ca r á t er ca da vez m a is m on opolist a do ca pit a lism o. F in a l-
m en t e, a s “in dú st r ia s de m on t a gem ”, com o a s fá br ica s de a u t om óveis,
de a pa r elh os de r á dio e ou t r os ben s du r á veis de con su m o de m a ssa ,
est ã o con t in u a m en t e cr escen do em im por t â n cia e n essa s in dú st r ia s o
pr ogr esso t ecn ológico se con cen t r a em gr a n de m edida n a “or ga n iza çã o
cien t ífica ” do pr ocesso de m on t a gem , o qu e n ã o im plica em in vest im en t o
sign ifica t ivo.
A p o u p a n ç a e x te rn a à s firm a s

Su pon h a m os qu e, qu a n do o t ot a l da pou pa n ça br u t a é igu a l à


depr ecia çã o, su r ja a lgu m a pou pa n ça ext er n a qu e é r ea liza d a pela s
pessoa s qu e vivem de r en d a s. Dessa for m a , a pou pa n ça “in t er n a ”
da s fir m a s (igu a l à d epr ecia çã o m en os a pou p a n ça ext er n a ) est á
a ba ixo do n ível de d epr ecia çã o, o qu e t en de a dep r im ir o in vest im en t o
pa r a ba ixo da qu ele n ível t a m bém . Isso in t r odu z u m a t en d ên cia n e-
ga t iva n o sist em a m a is ou m en os da m esm a for m a qu e a s in ova ções
in jet a m u m a t en dên cia a scen den t e a lon go pr a zo. N a m esm a lin h a
de a r gu m en t a çã o qu e desen volvem os n o ca pít u lo 14, a pou pa n ça
ext er n a t en der á a ger a r u m a t en dên cia n ega t iva u n ifor m e se o seu
va lor r ea l con st it u ir u m a pr opor çã o con st a n t e do va lor r ea l do es-
t oqu e de ca pit a l. Se a p ou pa n ça ext er n a a u m en t a r com r ela çã o a o
ca pit a l, a t en dên cia n ega t iva se a celer a r á .
F ica eviden t e qu e se o efeit o da s in ova ções com bin a r -se com o
da pou pa n ça ext er n a , ser á o seu efeit o líqu ido qu e det er m in a r á o de-
sen volvim en t o a lon go pr a zo. A t en dên cia ser á posit iva som en t e se a s
in ova ções exer cer em u m a in flu ên cia m a is for t e qu e a pou pa n ça ext er n a .
É eviden t e t a m bém qu e u m a dim in u içã o da in t en sida de da s in ova ções
ou u m a eleva çã o da pou pa n ça ext er n a com r ela çã o a o est oqu e de ca pit a l
pr odu zir á u m r et a r da m en t o dessa t en dên cia .
O c re s c im e n to p o p u la c io n a l

É fr eqü en t e su por -se qu e o cr escim en t o popu la cion a l seja u m


est ím u lo im por t a n t e a o desen volvim en t o econ ôm ico. É ver da de qu e, se
o n ível popu la cion a l se m a n t iver in a lt er a do, a pr odu çã o poder á a u -
m en t a r som en t e por m eio de u m a eleva çã o da pr odu t ivida de do t r a ba lh o
ou do a pr oveit a m en t o do exér cit o in du st r ia l de r eser va . P or t a n t o, o
cr escim en t o da popu la çã o a m plia a s poten cialid ad es da expa n sã o da

185
OS ECON OMIS TAS

pr odu çã o a lon go pr a zo. Rest a ver , con t u do, se u m a u m en t o da popu -


la çã o t a m bém pr opicia u m est ím u lo a o desen volvim en t o a lon go pr a zo,
con t r ibu in do pa r a o u so efet ivo dessa s pot en cia lida des.
P a r a en con t r a r u m a r espost a a essa qu est ã o, va m os con sider a r
u m sist em a est á t ico e su por n ele u m a u m en t o popu la cion a l. Um a vez
qu e a pr odu çã o in icia lm en t e per m a n ece est á vel, a lon go pr a zo h a ver á
u m a u m en t o do desem pr ego. Isso pr ession a os sa lá r ios pa r a ba ixo, de
m odo qu e n os defr on t a m os en t ã o com a qu est ã o de sa ber se a qu eda
dos sa lá r ios a lon go pr a zo est im u la o desen volvim en t o de u m a econ om ia
ca pit a list a .
E m pr im eir o lu ga r , con vém sa lien t a r qu e u m a qu eda dos sa lá r ios
a lon go pr a zo — o qu e est á liga do a o en fr a qu ecim en t o dos sin dica t os
— ir á , de a cor do com n osso r a ciocín io con t ido n o ca pít u lo 1 (p. 40),
t en der a eleva r o gr a u de m on opólio e por t a n t o a pr ovoca r u m a t r a n s-
fer ên cia dos sa lá r ios pa r a os lu cr os. Lon ge de est im u la r a eleva çã o da
pr odu çã o a lon go pr a zo, isso, com o já foi vist o (pp. 80-81), t en der á a
a fet á -la desfa vor a velm en t e.
E xist e, con t u do, u m ca n a l a t r a vés do qu a l a qu eda dos sa lá r ios
poder ia , pelo m en os t eor ica m en t e, est im u la r a t en dên cia a scen den t e
a lon go pr a zo da econ om ia ca pit a list a . Um a qu eda dos sa lá r ios a lon go
pr a zo pr ovoca u m a qu eda dos pr eços e, dessa for m a , com a pr odu çã o
est á vel, u m a qu eda do volu m e em din h eir o dos n egócios. Se a ofer t a
m on et á r ia por pa r t e dos ba n cos n ã o for r edu zida pr opor cion a lm en t e,
isso leva r á por su a vez a u m a qu eda a lon go pr a zo da t a xa de ju r os
a cu r t o pr a zo e con seqü en t em en t e a u m a qu eda da t a xa de ju r os a
lon go pr a zo. E ssa qu eda ser ia equ iva len t e, em t er m os de im pa ct o sobr e
o in vest im en t o, a u m a eleva çã o dos lu cr os a lon go pr a zo e por t a n t o
pr ovoca r ia u m m ovim en t o de t en dên cia a scen den t e. Ma s a eleva çã o
da pr odu çã o n esse ca so n ã o pode ser su ficien t em en t e gr a n de pa r a evit a r
o a u m en t o a lon go pr a zo do desem pr ego; n esse ca so a pr ópr ia ca u sa
da t en dên cia desa pa r ecer ia .
É m u it o du vidoso, con t u do, qu e o m eca n ism o descr it o fu n cion e
n o sen t ido de a u m en t a r a pr odu çã o. A liga çã o en t r e a qu eda do volu m e
dos n egócios e a qu eda da t a xa de ju r os a cu r t o pr a zo é n a ver da de
ba st a n t e in cer t a a lon go pr a zo. Se a qu eda do volu m e dos n egócios
con t in u a r du r a n t e u m per íodo de t em po lon go, a polít ica ba n cá r ia pode
fa cilm en t e a da pt a r -se a essa qu eda secu la r , de for m a a r edu zir a ofer t a
de sa ldos pari passu com o volu m e dos n egócios, su st en t a n do a ssim a
t a xa de ju r os a cu r t o pr a zo.
É pr eciso sa lien t a r qu e a lgu n s a u t or es leva m em con sider a çã o
ou t r os ca n a is a t r a vés dos qu a is o cr escim en t o popu la cion a l pode est i-
m u la r o desen volvim en t o econ ôm ico. E les a fir m a m qu e u m a cr éscim o
da popu la çã o est im u la o in vest im en t o por qu e os em pr esá r ios podem
en t ã o esper a r com a lgu m a cer t eza u m a a m plia çã o do m er ca do pa r a
seu s pr odu t os. O qu e im por t a , con t u do, n esse con t ext o, n ã o é u m a cr és-

186
KALECKI

cim o da popu la çã o e sim u m a cr éscim o do poder a qu isit ivo. Um a ele-


va çã o do n ú m er o de m iser á veis n ã o a m plia o m er ca do. P or exem plo,
o a u m en t o da popu la çã o n ã o im plica n ecessa r ia m en t e n u m a dem a n da
m a ior de h a bit a ções — sem u m a u m en t o do poder a qu isit ivo, o r esu lt a do
poder á ser qu e m a is gen t e ven h a a se a pin h a r n o espa ço h a bit á vel
exist en t e.
Co n c lu s ã o
Com o já a pon t a m os, n ossa a n á lise dem on st r a qu e o desen volvi-
m en t o a lon go pr a zo n ã o é in er en t e à econ om ia ca pit a list a . Dessa for m a ,
t or n a -se n ecessá r ia a pr esen ça de “fa t or es de desen volvim en t o” espe-
cíficos pa r a su st en t a r u m m ovim en t o a scen den t e a lon go pr a zo. E n t r e
esses fa t or es a pon t a m os a s in ova ções em seu sen t ido m a is a m plo com o
o fa t or m a is im por t a n t e pa r a pr om over o desen volvim en t o. Ver ifica m os
qu e ou t r a in flu ên cia a lon go pr a zo, a pou pa n ça ext er n a à s fir m a s, é
u m obst á cu lo e n ã o u m est ím u lo a o desen volvim en t o.
Um declín io da in t en sida de da s in ova ções n a s ú lt im a s et a pa s do
desen volvim en t o ca pit a list a r esu lt a em u m r et a r da m en t o do a u m en t o
do ca pit a l e da pr odu çã o. Adem a is, se o efeit o da eleva çã o do gr a u de
m on opólio sobr e a dist r ibu içã o da r en da n a cion a l n ã o for con t r a ba la n -
ça do por ou t r os fa t or es, h a ver á u m a t r a n sfer ên cia r ela t iva dos sa lá r ios
pa r a os lu cr os e isso con st it u ir á ou t r o m ot ivo pa r a o r et a r da m en t o da
eleva çã o da pr odu çã o a lon go pr a zo.
Se a t a xa de expa n sã o da pr odu çã o ca ir a ba ixo da t a xa de eleva çã o
com bin a da da pr odu t ivida de do t r a ba lh o e da popu la çã o, o desem pr ego
a pr esen t a r á u m a u m en t o a lon go pr a zo. De a cor do com o qu e foi dit o
a cim a , n ã o é pr ová vel qu e isso pon h a em a çã o for ça s qu e possa m a u -
t om a t ica m en t e m it iga r o a u m en t o do desem pr ego m edia n t e u m a t a xa
m a is a lt a de eleva çã o da pr odu çã o.

187
AP ÊN D ICE E S TATÍS TICO

N o ta s à P a rte P rim e ira


N ota 1. Da m os a ba ixo os da dos r efer en t es a o per íodo de 1899-
1914 pa r a : (a) o va lor do ca pit a l fixo n o r a m o m a n u fa t u r eir o dos E UA
de a cor do com P a u l H . Dou gla s, A T eoria d os S alários; (b) a pr odu çã o
do set or m a n u fa t u r eir o dos E UA de a cor do com o Na t ion a l Bu r ea u of
E con om ic Resea r ch ; e (c) o va lor a gr ega do m en os os sa lá r ios n o set or
m a n u fa t u r eir o dos E UA de a cor do com o Cen so dos F a br ica n t es.

N ota 2. A r a zã o en t r e r en dim en t os e cu st os dir et os, a r a zã o en t r e


o cu st o da s m a t ér ia s-pr im a s e o cu st o da m ã o-de-obr a e a pa r cela
r ela t iva dos sa lá r ios n o va lor a gr ega do do set or m a n u fa t u r eir o a bor -
da dos n os ca pít u los 1 e 2 ba seia m -se n o Cen so dos F a br ica n t es dos
E st a dos Un idos. O Cen so sofr eu m odifica ções con sider á veis t a n t o n o
qu e diz r espeit o a escopo com o a m ét odo. A fim de per m it ir u m a com -
pa r a çã o em ba ses r a zoá veis pa r a o per íodo con sider a do (1899-1937),

189
OS ECON OMIS TAS

a s sér ies for a m “en ca dea da s” n os a n os em qu e se der a m m odifica ções.


O a n o-ba se escolh ido foi 1899. Ocor r er a m m odifica ções n o escopo do
Cen so n esse a n o e em 1914. Um a vez qu e pa r a esses dois a n os h a via
da dos dispon íveis t a n t o n a ba se “velh a ” com o n a “n ova ”, foi possível
“en ca dea r ” t odos os a n os a o a n o-ba se de 1899. H ou ve t a m bém diver sa s
m odifica ções n o m ét odo do Cen so: (a) E m 1929, 1931 e 1933, os a ssim
ch a m a dos m a t er ia is in dir et os for a m in clu ídos n o va lor a gr ega do, em
vez de con st a r n o cu st o da s m a t ér ia s-pr im a s com o ocor r eu em ou t r os
a n os. E sse it em , de a cor do com o Cen so de 1904, on de a pa r ece em
sepa r a do, foi r espon sá vel por cer ca de 0,9% do cu st o da s m a t ér ia s-pr i-
m a s. A fim de leva r em con t a , de for m a a pr oxim a da , essa m odifica çã o,
os cu st os de m a t ér ia s-pr im a s de 1929, 1931 e 1933 for a m r edu zidos
pr opor cion a lm en t e e o va lor a gr ega do foi a u m en t a do. (b) An t es de 1931,
o im post o sobr e a fa br ica çã o de ciga r r os er a in clu ído n o va lor a gr ega do,
en qu a n t o de 1931 em dia n t e esse it em pa ssou a ser in cor por a do n o
cu st o de m a t ér ia s-pr im a s. Um a vez qu e, pa r a o a n o de 1931, sã o da da s
a m ba s a s va r ia n t es, foi possível “en ca dea r ” 1931 e os a n os post er ior es
a o a n o-ba se de 1899. (c) An t es de 1935 o cu st o de ser viços pr est a dos
er a in clu ído n o va lor a gr ega do, en qu a n t o de 1935 em dia n t e esse it em
pa ssou a ser in clu ído n o cu st o da s m a t ér ia s-pr im a s. Um a vez qu e a m ba s
a s va r ia n t es sã o da da s pa r a o a n o de 1935, foi possível “en ca dea r ”
1935 e os a n os post er ior es a o a n o-ba se de 1899. Os n ú m er os obt idos
m edia n t e esses a ju st es sã o da dos, com r ela çã o a a n os selecion a dos, n a
t a bela a ba ixo.

N ota 3. A sér ie da r a zã o en t r e os r en dim en t os e os cu st os dir et os


do set or m a n u fa t u r eir o dos E UA, su pon do-se u m a com posiçã o in du st r ia l
est á vel, foi ca lcu la da em pr ega n do-se u m sist em a de en ca dea m en t o.

190
KALECKI

P or exem plo, a r a zã o en t r e os r en dim en t os e os cu st os dir et os em 1889


foi ca lcu la da su pon do-se qu e pr eva lecessem a s pa r cela s r ela t iva s dos
gr u pos in du st r ia is pr in cipa is n o m on t a n t e dos r en dim en t os de 1879;
esse n ú m er o dividido pela r a zã o r ea l en t r e os r en dim en t os e os cu st os
dir et os de 1879 deu o “elo” 1889/1879. O “elo” 1899/1889 foi in fer ido
da m esm a for m a , su pon do-se qu e a s pa r cela s r ela t iva s de 1889 pr e-
va lecia m , e a ssim por dia n t e. O a n o de 1899 foi escolh ido com o ba se
por qu e pa r a a qu ele a n o a r a zã o “a ju st a da ” en t r e os r en dim en t os e os
cu st os dir et os é idên t ica à r a zã o r ea l. A sér ie “a ju st a da ” pode ser con s-
t r u ída en t ã o com ba se n os “elos”.
A sér ie da r a zã o en t r e o cu st o da s m a t ér ia s-pr im a s e o cu st o da
m ã o-de-obr a , su pon do u m a com posiçã o in du st r ia l est á vel do cu st o da s
m a t ér ia s-pr im a s, foi obt ida de m a n eir a sem elh a n t e. Ma is u m a vez,
1899 foi escolh ido com o a n o-ba se pelo m esm o m ot ivo.
A sér ie “a ju st a da ” da pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios n o va lor a gr e-
ga do, w ′, foi ca lcu la da a pa r t ir da r a zã o “a ju st a da ” en t r e os r en dim en t os
e os cu st os dir et os, k ′, e a r a zã o “a ju st a da ” en t r e o cu st o de m a t ér ia s-
pr im a s e o cu st o da m ã o-de-obr a , j′ por m eio da fór m u la :

1
w′ = (3′)
1 + (k ′ – 1) (j′ + 1)

(ver p. 49). Um a vez qu e k ′ é ca lcu la do su pon do-se a com posiçã o in -


du st r ia l est á vel dos r en dim en t os e j′ su pon do-se a com posiçã o in du st r ia l
est á vel d o cu sto d as m atérias-prim as, w ′ é a pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios
su pon do-se a com posiçã o in du st r ia l est á vel do va lor agregad o (sen do
est e ú lt im o a difer en ça en t r e os r en dim en t os e o cu st o da s m a t ér ia s-
pr im a s). As sér ies k ′, j′ e w ′ a pa r ecem n a s t a bela s 6 e 8.

N ota 4. Da m os a ba ixo os segu in t es ín dices pa r a os E UA du r a n t e


o per íodo 1929/41: (a) O ín dice de sa lá r ios n o set or m a n u fa t u r eir o de
a cor do com a pu blica çã o do Depa r t a m en t o de Com ér cio dos E st a dos
Un idos, Su r vey of Cu r r en t Bu sin ess, qu e con cor da com o Cen so dos
F a br ica n t es n o qu e diz r espeit o a os a n os do Cen so. (b) O ín dice de
sa lá r ios e or den a dos n a a gr icu lt u r a , m in er a çã o, con st r u çã o, t r a n spor t e
e ser viços de a cor do com a pu blica çã o do Depa r t a m en t o do Com ér cio
dos E st a dos Un idos, N ation al In com e S u pplem en t to S u rvey of Cu rren t
B u sin ess, 1951. (c) O ín dice com bin a do dessa s du a s sér ies é en t en dido
com o a pr oxim a do do ín dice do m on t a n t e dos sa lá r ios (ver p. 59). Os
pesos a dot a dos sã o 1:1; os sa lá r ios e or den a dos n o set or m a n u fa t u r eir o,
de u m la do, e dos r a m os da in dú st r ia en u m er a dos n o t ópico (b) de
ou t r o, er a m a pr oxim a da m en t e igu a is em 1929 e pode-se su por qu e os
r espect ivos sa lá r ios t a m bém n ã o diver gia m m u it o. (d ) O ín dice da r en da

191
OS ECON OMIS TAS

br u t a do set or pr iva do de a cor do com o N ation al In com e S u pplem en t


(S u plem en to d a R en d a N acion al).

N ota 5. Os sa lá r ios m a is os or den a dos e a r en da br u t a do set or


pr iva do n os E UA n o per íodo de 1929/41 de a cor do com o S u plem en to
d a R en d a N acion al a pa r ecem n est a pá gin a . (É n esses da dos qu e se
ba seia a pr im eir a colu n a da t a bela 12.) Con vém sa lien t a r qu e n o ba -
la n ço n a cion a l qu e a pa r ece n o S u plem en to h á u m a discr epâ n cia est a -
t íst ica en t r e o n a cion a l do la do da r en da e do la do da s despesa s. O
n ú m er o da r en da br u t a n a segu n da colu n a foi r et ir a do da est a t íst ica
da r en da . A fim de se obt er em da dos con sist en t es, esse n ú m er o a ch a -se
a ju st a do de m odo a com pen sa r a discr epâ n cia est a t íst ica . (Dessa for m a ,
la n ça m os o er r o est a t íst ico t odo n o la do da r en da , o qu e se ju st ifica
pelo fa t o de qu e os da dos da s despesa s sã o em ger a l m a is fidedign os
qu e os da r en da .) A r en da br u t a a ju st a da do set or pr iva do a pa r ece n a
t er ceir a colu n a . Su põe-se qu e os or den a dos m a is sa lá r ios a ju st a dos
seja m pr opor cion a is à r en da br u t a a ju st a da , de for m a qu e a pa r cela
r ela t iva da qu eles n est a n ã o se a lt er a pelo a ju st e.

192
KALECKI

N ota 6. A r en da br u t a a ju st a da do set or pr iva do a ch a -se defla -


cion a da a ba ixo pelo ín dice im plícit o n a defla çã o do pr odu t o br u t o do
set or pr iva do. (E sse ín dice foi obt ido dividin do-se o va lor cor r en t e do
pr odu t o br u t o do set or pr iva do por seu va lor a pr eços con st a n t es con -
for m e da do pelo S u plem en to.)

N o ta s à P a rte S e g u n d a 95

N ota 7. Aba ixo a pa r ecem os lu cr os a ju st a dos a n t es e depois dos


im post os em dóla r es cor r en t es e de 1939, r efer en t es a o per íodo 1929/40.
Os lu cr os a ju st a dos a n t es dos im post os em dóla r es cor r en t es sã o ca l-
cu la dos com a difer en ça en t r e a r en da br u t a a ju st a da do set or pr iva do
e os sa lá r ios e or den a dos a ju st a dos do set or pr iva do con for m e a pa r ecem
n a Not a 5. Obt êm -se os lu cr os a ju st a dos depois dos im post os dedu zin do
tod os os im post os dir et os, a plica dos t a n t o a pessoa s física s com o pessoa s
ju r ídica s. (Os im post os dir et os a plica dos a os t r a ba lh a dor es for a m pe-
qu en os n o per íodo de t em po con sider a do.) F in a lm en t e, os lu cr os a ju s-
t a dos a n t es e depois dos im post os sã o defla cion a dos pelo ín dice de
pr eços im plícit o n a defla çã o do pr odu t o br u t o do set or pr iva do con for m e
a pa r ece n a Not a 6.
N ota 8. A som a do in vest im en t o pr iva do br u t o, do sa ldo da ba la n ça
com er cia l do déficit or ça m en t á r io e da s despesa s de cor r et a gem a pa r ece
n est a pá gin a . E ssa som a é igu a l à pou pa n ça br u t a m a is a s despesa s
de cor r et a gem (ver p. 77). Os va lor es “r ea is” cor r espon den t es sã o obt idos
u sa n do-se com o defla t or o ín dice im plícit o n a defla çã o do pr odu t o br u t o
do set or pr iva do (ver Not a 6).

95 F on t e u t iliza da : Depa r t a m en t o de Com ér cio dos E st a dos Un idos. S u plem en to d a R en d a


N acion al de S u rvey of Cu rren t B u sin ess, 1951.

193
OS ECON OMIS TAS

N ota 9. Cor r ela cion a n do-se os lu cr os r ea is a ju st a dos depois e a n -


t es dos im post os, P e π, con for m e a pa r ecem n a Not a 7, obt em os a
segu in t e equ a çã o de r egr essã o:

P = 0,86 π + 0,9.

O coeficien t e de cor r ela çã o é igu a l a 0,991.

N o ta s à P a rte Qu a rta 96

N ota 10. Aba ixo a pa r ecem os da dos a r espeit o do volu m e de in -

96 F on t e u t iliza da : Depa r t a m en t o de Com ér cio dos E st a dos Un idos. S u plem en to d a R en d a


N acion al de S u rvey of Cu rren t B u sin ess, 1951.

194
KALECKI

vest im en t o br u t o em ca pit a l fixo e o volu m e do pr odu t o do set or pr iva do.


O gr á fico 8, qu e foi em pr ega do pa r a o deba t e do “pr in cípio de a cele-
r a çã o”, ba seia -se n esses da dos.

Cor r ela cion a n do o in vest im en t o br u t o com o pr odu t o e com o


t em po, t, obt em os a segu in t e equ a çã o de r egr essã o:
in vest im en t o = 0,306 (pr odu t o – 1,45t) – 14,5

on de t é con t a do em a n os desde o in ício de 1935. No gr á fico 8, a pa r ecem


os desvios de a m bos os m em br os da equ a çã o da m édia . Desse m odo,
a s flu t u a ções do in vest im en t o br u t o em ca pit a l fixo e a s flu t u a ções n o
pr odu t o br u t o sã o com pa r a da s depois de t er em sido r edu zida s à m esm a
a m plit u de e de t er sido elim in a da a t en dên cia in t er ven ien t e.

N ota 11. E m segu ida a pa r ece a pou pa n ça br u t a em va lor es


a t u a is e a p r eços de 1939. E st a sér ie d ifer e da qu e se en con t r a n a
N ot a 8 n a m ed ida em qu e a s despesa s de cor r et a gem n ã o se en con -
t r a m in clu ída s. Ad em a is, o va lor “r ea l” é obt ido a qu i m edia n t e a
defla çã o d e ín dice d e p r eços d os ben s de ca pit a l em vez de pelo
ín dice de pr eços im plícit o da defla çã o d o pr odu t o br u t o n o set or
pr iva do. (O ín dice de pr eços dos ben s d e ca pit a l foi ca lcu la do divi-
din do-se o va lor a t u a l do in vest im en t o em ca pit a l fixo p or seu va lor
a pr eços con st a n t es.)

N ota 12. P a r a ilu st r a çã o est a t íst ica da t eor ia de det er m in a çã o


do in vest im en t o em ca pit a l fixo em pr ega m -se os lu cr os dos a n os

195
OS ECON OMIS TAS

1928/29, 1929/30, 1930/31 et c., con t a n do de m eio de a n o a m eio de a n o


(ver p. 131). P odem -se t om a r a s m édia s dos lu cr os em 1928 e 1929,
em 1929 e 1930, em 1930 e 1931 et c. com o u m a pr im eir a a pr oxim a çã o.
Ma s essa a pr oxim a çã o n ã o ser ve n o ca so por qu e a sér ie deve fu n cion a r
com o ba se pa r a o cá lcu lo da s t a xa s de a lt er a ções dos lu cr os. É eviden t e
qu e com ba se n u m a a pr oxim a çã o com o essa a t a xa de eleva çã o dos
lu cr os em 1930 ser ia a m et a de da difer en ça en t r e os n íveis de 1931 e
1929, o qu e obvia m en t e pode r evela r -se in sa t isfa t ór io. Con t u do, pode-se
ch ega r a u m a segu n da a pr oxim a çã o do segu in t e m odo: pr opom os u m a
r ela çã o en t r e os lu cr os e os sa lá r ios m a is or den a dos do set or pr iva do,
a qu i dem on st r a da u t iliza n do os da dos de 1929/30 com o exem plo:

Lu cr os 1929/30 1/2 (Lu cros 1929 + Lu cr os 1930)


Sa lá r ios e or den a dos = 1/2 (Sa lá r ios e or den a dos 1929 +
1929/30 Sa lá r ios e or den a dos 1930)

E st a h ipót ese se ba seia n o fa t o de qu e a r ela çã o dos lu cr os com os


sa lá r ios m a is or den a dos se m odifica m u it o len t a m en t e (ver t a bela 12).
Con clu i-se dir et a m en t e dessa equ a çã o qu e:

Lu cr os 1929/30 Sa lá r ios e ordena dos 1929/30


1/2 (Lu cr os 1929 = 1/2 (Sa lá r ios e or den a dos 1929 +
+ Lu cr os 1930) Sa lá r ios e or den a dos 1930)

Agor a , a r a zã o do segu n do m em br o pode ser ca lcu la da com ba se n os


da dos m en sais r efer en t es a sa lá r ios e or den a dos qu e a pa r ecem n a fon t e

196
KALECKI

cit a da . Aplica n do esse “fa t or de cor r eçã o” à m édia dos lu cr os em dois


a n os su cessivos, obt em os u m a segu n da a pr oxim a çã o pa r a os lu cr os do
a n o, in do do m eio do pr im eir o a t é o m eio do segu n do a n o. E sse cá lcu lo
é dem on st r a do n a t a bela a ba ixo.

1
Con for m e a pa r ece n a Not a 7.
2
E st im a do gr osseir a m en t e; m a s n ã o pode h a ver er r o sign ifica t ivo, em vist a da len t idã o da s
a lt er a ções dos lu cr os n o per íodo em qu est ã o.

N ota 13. Os lu cr os dos a n os qu e vã o de m eio de a n o a m eio de


a n o discr im in a dos n a Not a a n t er ior a gor a sã o defla cion a dos pelo ín dice
de pr eços dos ben s de ca pit a l (ver Not a 11). Com o esse ín dice se m ove
len t a m en t e, a s m édia s de dois a n os su cessivos t in h a m qu e ser a de-
qu a da s com o defla t or es pa r a os lu cr os de m eio de a n o a m eio de a n o.
O cá lcu lo a pa r ece n a t a bela da p. 196.

N ota 14. P elos m ot ivos a pr esen t a dos n a n ot a de r oda pé da p.


136. su pom os em n osso est u do qu e a s m odifica ções dos est oqu es a gr í-
cola s est ã o for a t a n t o da s a lt er a ções do t ot a l dos est oqu es com o do
pr odu t o do set or pr iva do. E ssa elim in a çã o a pa r ece n a t a bela da p. 199.

N ota 15. O pr odu t o do set or pr iva do dos per íodos qu e vã o de


m eio de a n o a m eio de a n o fa z-se n ecessá r io pa r a a ilu st r a çã o est a t íst ica
da t eor ia da det er m in a çã o do in vest im en t o em est oqu es (ver p. 134).
P a r a su a est im a t iva r ecor r em os a u m m ét odo sem elh a n t e a o qu e foi
a plica do a os lu cr os n a Not a 12. A r a zã o en t r e o m on t a n t e dos sa lá r ios
e or den a dos e o pr odu t o br u t o do set or pr iva do pa r ece m odifica r -se n o
per íodo con sider a do m u it o len t a m en t e (cf. a ú lt im a colu n a da t a bela

197
OS ECON OMIS TAS

1
E st im a do gr osseir a m en t e; m a s n ã o pode h a ver er r o sign ifica t ivo, em vist a da len t idã o da s
a lt er a ções dos pr eços dos ben s de ca pit a l n o per íodo em qu est ã o.

da Not a 5 com a ú lt im a colu n a da pr im eir a t a bela da p. 197). Con clu i-se


a pa r t ir da a r gu m en t a çã o desen volvida n a Not a 12 qu e podem os u sa r
pa r a o cá lcu lo do pr odu t o br u t o do set or pr iva do pa r a per íodos de m eio
de a n o a m eio de a n o o “fa t or de cor r eçã o” da do n a qu ela Not a . O
cá lcu lo em si a pa r ece n a p. 197

1
Idên t ica à sér ie da da n a Not a 10.

198
KALECKI

1
E xclu sive os est oqu es a gr ícola s con for m e a t a bela a n t er ior .
2
E st im a do gr osseir a m en t e; m a s n ã o pode h a ver er r o sign ifica t ivo, em vist a da len t idã o da s
a lt er a ções do pr odu t o br u t o n o per íodo em qu est ã o.

199
Í N D ICE

MICH AL KALE CKI


Apresen tação de J or ge Miglioli . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

TE ORIA DA DINÂMICA E CONÔMICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

P a r t e P r im eir a : Gr a u de Mon opoliza çã o e Dist r ibu içã o


da Ren da . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

1 — Cu st o e P r eços . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
Preços “d eterm in ad os pelo cu sto” e preços “d eterm in ad os pela
d em an d a” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
Fixação d o preço por u m a firm a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
Form ação d e preços n u m ram o d a in d ú stria: u m caso
especial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Form ação d e preços n u m ram o d a in d ú stria:
o caso geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Cau sas d e m od ificação d o grau d e m on opolização . . . . . . . . . . . . 38
As relações cu sto-preço a lon go e a cu rto prazo . . . . . . . . . . . . . . . 40
Aplicação às m u d an ças a lon go prazo n o ram o
m an u fatu reiro d os E UA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
Aplicação ao ram o m an u fatu reiro e ao d o
com ércio varejista d os E UA d u ran te a Gran d e
Depressão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
Flu tu ações d os preços d e m atérias-prim as . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
Form ação d e preços d e prod u tos acabad os . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

2 — Dist r ibu içã o da Ren da Na cion a l . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49


Os d eterm in an tes d a parcela relativa d os salários n a ren d a . . . . 49

201
OS ECON OMIS TAS

M u d an ças a lon go e a cu rto prazo n a d istribu ição


d a ren d a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
M u d an ças a lon go prazo n a parcela relativa d os salários n o
valor agregad o d o setor m an u fatu reiro d os E stad os
Un id os e n a ren d a n acion al d o R ein o Un id o . . . . . . . . . . . 53
M u d an ças n a parcela relativa d os salários n o valor agregad o
d o setor m an u fatu reiro d os E stad os Un id os d u ran te a
Gran d e Depressão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
M od ificações n a parcela relativa d os salários n a ren d a
n acion al n os E stad os Un id os e n o R ein o Un id o
d u ran te a Gran d e Depressão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
M u d an ças cíclicas n a parcela relativa d os salários e
ord en ad os n a ren d a bru ta d o setor privad o . . . . . . . . . . . . 61

P a r t e Segu n da : A Det er m in a çã o dos Lu cr os e da


Ren da Na cion a l . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63

3 — Os Det er m in a n t es dos Lu cr os . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
A teoria d os lu cros em u m m od elo sim plificad o . . . . . . . . . . . . . . 65
O caso gen érico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
Pou pan ça e in vestim en to . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
O efeito d o sald o d a balan ça com ercial e d o d éficit
orçam en tário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70

4 — Os Lu cr os e o In vest im en t o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
Os lu cros e o in vestim en to d en tro d e su posições
sim plificad oras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
O caso gen érico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
Ilu stração estatística . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76

5 — Det er m in a çã o da Ren da Na cion a l e do Con su m o . . . . . . . . . 79


In trod u ção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
Prod u to n acion al, lu cros e in vestim en to em u m m od elo
sim plificad o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
M od ificações n o in vestim en to e n o con su m o em u m
m od elo sim plificad o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
O caso gen érico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
Ilu stração estatística . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
Prod u to bru to d o setor privad o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
M od ificações a lon go prazo n o in vestim en to e
n a ren d a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88

202
KALECKI

P a r t e Ter ceir a : A Ta xa de J u r os . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91

6 — A Ta xa de J u r os a Cu r t o P r a zo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
In trod u ção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
Velocid ad e d e circu lação e a taxa a cu rto prazo . . . . . . . . . . . . . . 93
Ilu stração estatística . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
M od ificações n a oferta m on etária por parte d os ban cos . . . . . . . . 97
M od ificações cíclicas n a taxa d e ju ros a cu rto prazo . . . . . . . . . . 98

7 — A Ta xa de J u r os a Lon go P r a zo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
A taxa a cu rto prazo e a taxa a lon go prazo . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
Aplicação aos ren d im en tos d e obrigações d o T esou ro
B ritân ico, 1849-1938 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
E stabilid ad e d a taxa d e ju ros a lon go prazo d u ran te o
ciclo econ ôm ico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108

P a r t e Qu a r t a : A Det er m in a çã o do In vest im en t o . . . . . . . . . . . . . . 111

8 — O Ca pit a l da E m pr esa e o In vest im en t o . . . . . . . . . . . . . . . . 113


O tam an h o d a firm a e o capital d a em presa . . . . . . . . . . . . . . . . . 113
O problem a d as socied ad es an ôn im as . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114
Con clu são . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116

9 — Os Det er m in a n t es do In vest im en t o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117


Os d eterm in an tes d as d ecisões d e in vestir em
capital fixo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
Fatores n ão levad os em con sid eração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
Dois casos especiais d a teoria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
E xam e d a equ ação fu n d am en tal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124
In vestim en to em estoqu es . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126
A fórm u la d o in vestim en to total . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128

10 — Ilu st r a çã o E st a t íst ica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131


O problem a d o h iato tem poral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
In vestim en to em capital fixo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132
In vestim en to em estoqu es . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 136
In vestim en to total . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 138

P a r t e Qu in t a : O Ciclo E con ôm ico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141

11 — O m eca n ism o do Ciclo E con ôm ico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143

203
OS ECON OMIS TAS

As equ ações qu e d eterm in am o processo d in âm ico . . . . . . . . . . . . 143


A equ ação d o ciclo econ ôm ico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145
O ciclo econ ôm ico au tom ático . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147
O “teto” e o “fu n d o” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 150
Flu tu ações explosivas e am ortecid as . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151
O ciclo econ ôm ico e a u tilização d os recu rsos . . . . . . . . . . . . . . . . 153

12 — Ilu st r a çã o E st a t íst ica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157


Ded u ção d a “equ ação d o ciclo econ ôm ico” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157
Ded u ção d as flu tu ações cíclicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 160

13 — O Ciclo E con ôm ico e os Ch oqu es . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163


Ilu stração d o problem a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163
A n ova perspectiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 166

P a r t e Sext a : O Desen volvim en t o E con ôm ico a


Lon go P r a zo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 169

14 — O P r ocesso de Desen volvim en t o E con ôm ico . . . . . . . . . . . . . 171


A ten d ên cia a lon go prazo e o ciclo econ ôm ico . . . . . . . . . . . . . . . . 171
S u posição sobre as alterações a lon go prazo d e L . . . . . . . . . . . . . 174
S u posição sobre as alterações a lon go prazo d e d′ . . . . . . . . . . . . 175
A ten d ên cia a lon go prazo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 176
O processo d e aju ste . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177
A ten d ên cia u n iform e . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177
Crescim en to u n iform e e retard ad o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 181

15 — Os F a t or es de Desen volvim en t o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183


R ecapitu lação d a teoria d o in vestim en to . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183
In ovações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 184
A pou pan ça extern a às firm as . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 185
O crescim en to popu lacion al . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 185
Con clu são . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 187

Apên dice E st a t íst ico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 189


N otas à Parte Prim eira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 189
N otas à Parte S egu n d a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 193
N otas à Parte Qu arta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 194

204

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