Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O que chamamos ‘acento’ numa palavra ou frase resulta da intensidade de uma vogal que, em determinado ponto da sequência,
apresenta valores relativamente mais elevados e marca uma sílaba mais “forte” ou proeminente na palavra. A intensidade de que
o falante tem percepção é uma propriedade física inerente aos sons e está relacionada com a amplitude da onda sonora: quanto
maior for a amplitude de vibração das partículas, maior é a quantidade de energia transportada por estas e maior é a sensação
auditiva de intensidade do som.
Dado que o acento envolve toda a palavra – porque ao incidir numa sílaba tem consequências nas outras que não são acentuadas
– e dado que ele contribui para o ritmo de uma língua marcando as sílabas acentuadas e os espaços entre elas, o acento é
estudado na prosódia, tal como a entoação e a duração dos sons.
A gramática tradicional classifica as palavras do Português, relativamente ao acento tónico, com base na sílaba em que incide o
acento no nível fonético: ‘agudas’ ou ‘oxítonas’ quando a sílaba tónica está em último lugar (como papel
, romã , calhau , café ou herói ), ‘graves’ ou ‘paroxítonas’ quando se encontra em penúltimo
(como casa ou casinha ) e ‘esdrúxulas’ ou ‘proparoxítonas’ quando se encontra em antepenúltimo lugar
(como dúvida ). Existe, porém, uma regularidade de incidência do acento tónico em Português que relaciona a sílaba
em que ele ocorre com a estrutura morfológica das palavras, e mostra que as palavras agudas e graves se incluem no mesmo
grupo, sendo as esdrúxulas as únicas excepções ao lugar da sílaba tónica do Português. Essa regularidade é a da ocorrência do
acento tónico na última vogal do radical das palavras da língua portuguesa.
Na verdade, se considerarmos que uma palavra é constituída por um radical seguido, ou não, de sufixos, verificamos que na
palavra casa, por exemplo, uma parte é comum a outras da mesma família (casinha, casota, casebre etc.). Essa parte comum é o
radical, e as partes diferentes são os sufixos. Estes podem formar derivados (cas-inha) ou podem simplesmente marcar o grupo a
que pertence a palavra (cas-a). Os nomes e adjectivos que têm estes ‘marcadores’ dividem-se em três grupos, em Português: os
terminados em –a (como casa), os terminados em –o (como quadro) e os terminados em –e (como fome). A separação entre o
radical e os sufixos ‘marcadores’ representa-se com o sinal [+]
Vejamos agora as palavras de (1-2) que, tradicionalmente, são denominadas palavras ‘graves’. Se utilizarmos o sinal [+] para
separarmos o radical do sufixo marcador, vemos que o acento incide na última vogal do radical embora, no nível fonético seja a
penúltima da palavra (nos exemplos, a sílaba acentuada está precedida do diacrítico ['] embora este diacrítico não faça parte da
ortografia das palavras).
1) 'cas+a 2) ca'sinh+a
fanta'si+a fantasi'os+o
'leit+e leita'ri+a
'caix+a cai'xot+e
'lind+o lin'dez+a
Os nomes leite e caixa têm o acento na última vogal do radical que, com a semivogal que se lhe segue, constitui um ditongo
(respectivamente, e [aj]). O acento tónico incide, portanto, na última vogal do radical.
Além destas, também as palavras de (3-7), consideradas tradicionalmente ‘agudas’, têm o acento na última vogal do radical que é,
igualmente, a última da palavra no nível fonético.
3) pa'pel 4) ro'mã 5) ca'lhau
lu'gar jar'dim ju'deu
alti'vez a'tum la'drão
portu'guês bom'bom
cangu'ru
6) ca'fé 7) he'rói
a'vó cara'cóis
pa'pá cha'péu
'baú pa'péis
Nas palavras destes grupos, o radical não está seguido do sufixo ‘marcador’ As palavras de (6) (terminadas em <á>, <é>, <ó>
<aú>) e as de (7) (terminadas nos ditongos <ói>, <éu> e <éis>) têm acento gráfico na vogal tónica.
As palavras do grupo (8), tradicionalmente ‘esdrúxulas’, são a excepção, por razões históricas, à regularidade indicada, pois têm
o acento na penúltima vogal do radical. Dado o seu carácter excepcional, essas palavras têm acento gráfico na vogal tónica.
Vejam-se os exemplos de (8).
8) dúvida
ágape
aeródromo
bígamo
catástrofe
catastrófico
cáfila
etíope
hipódromo
lindíssimo
ovíparo
ómega
público
zéfiro
Existe ainda um outro grupo de excepções, também historicamente motivadas, que não têm sufixo ‘marcador’ e são acentuadas
na penúltima vogal do radical. Nestas palavras a sílaba tónica está igualmente marcada por um acento gráfico. Veja-se (9).
9) órfão
açúcar
automóvel
lápis
fútil
frágil
Algumas palavras que poderiam ser incluídas no grupo (8) têm pronúncia variável: a sílaba tónica é a penúltima do radical (a) ou
a última (b)
9) rúbrica b) ru'brica
boémia boe'mia
logótipo logo'tipo
hieróglifo hiero'glifo
túlipa tu'lipa
Pode-se concluir, portanto, que em Português o acento está relacionado com a estrutura morfológica das palavras e que a vogal
tónica nas palavras regulares é a vogal que está incluída na última sílaba do radical. Nas excepções à acentuação regular, que
têm causas históricas, a vogal tónica está incluída na penúltima sílaba do radical.