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São Paulo
2018
ANDERSON CARLOS GOMES CARDOSO
São Paulo
2018
C268m Cardoso, Anderson Carlos Gomes
Missőes em Atos dos Apóstolos: do Pentecostes ás propostas
evangelísticas do apóstolos Paulo / Anderson Carlos Gomes
Cardoso – 2018.
120 f.: il.; 30 cm
LC BS2625.5
Registro aqui, minha gratidão a Deus Pai que me elegeu antes da fundação do
mundo para a vida eterna por meio da justificação da Fé em Cristo Jesus, seu único
Filho, recebida através da graça derramada pelo Espírito Santo.
À minha família, a começar pela minha esposa Selma Moura da Silva Cardoso,
amor da minha vida, que está ao meu lado me dando força em todo o momento que
precisei para a realização deste trabalho, à minha mãe, Maria Ruth, peça fundamental
para que eu chegasse até aqui, ao meu saudoso Pai, Paulo Cardoso (in memorian),
um sábio homem de quem sinto muita falta, aos meus saudosos avós (in memorian),
aos meus irmãos, cunhada, sobrinhos, minha sobrinha neta, Helena, aos meus
enteados, e como não poderia deixar de citar o maior presente que Deus me deu,
minha linda filha Caroline Cardoso, meu tesouro.
Ao casal de amigos Rev. Luiz Otavio Nogueira e sua esposa Janete Nogueira
pela recepção em sua casa com todo carinho a mim dispensado durante um ano em
meio as viagens entre Petrópolis e São Paulo.
Ao meu amigo Rev. José Mirabeau que me ajudou num momento impar da
minha caminhada.
Ao Pastor Natalino Rogelio Oliveira Soares, um grande amigo e companheiro
de caminhada.
Aos amigos confrades que sempre me apoiaram neste desafio acreditando que
poderia vencer mais esta etapa da minha vida.
A 2ª Igreja Presbiteriana em Petrópolis que entendeu o meu projeto de vida e
me apoiou quando iniciei o curso de Ciências da Religião.
Aos Casais Lawrence e Hulda Louzada, Luiz e Marcia Firmino que nos últimos
tempos foram e são bênçãos na minha vida e de minha esposa.
Ao Rev. Romer Cardoso, Diretor do Seminário Presbiteriano Rev. Ashbell
Green Simonton do Rio de Janeiro pela a atenção e carinho a mim dispensado.
Aos amigos Pb. Paulo Sá e o Dc. Mauricio de Paula que sempre acreditaram
em mim incentivando-me na vida eclesiástica e acadêmica.
Ao casal de amigos, Rev. Almir Henrique e sua esposa Rosa, pelos conselhos
sábios que sempre me deram nos momentos que mais precisei.
Ao casal de amigos Gilberto Correa e Ludmila Reis pelo apoio que sempre me
deram na minha caminhada, amigos mais chegados do que irmãos.
A Prof.ª Dra. Lidice Meyer Pinto Ribeiro, orientadora, professora, amiga dos
tempos de mocidade, vocacionada para o ensino, fazendo com excelência para o que
foi chamada, tendo na sua genealogia seus pais Rev. Javan Pinto Ribeiro (in
memorian) e Sua Mãe Mathilde Meyer Pinto Ribeiro (in memorian), os quais tive a
honra de conhecer e por ver sua filha dar continuidade ao que ensinaram e praticaram
com seus exemplos de vida.
Ao Corpo Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião
da Universidade Presbiteriana Mackenzie que ampliou com certeza a percepção na
atividade da pesquisa acadêmica, o comprometimento com os referenciais teóricos, o
distanciamento necessário e o envolvimento imprescindível, na busca de excelentes
resultados.
Aos colegas de curso, pela companhia, discussões e incentivos, em meio a
falta de tempo, recursos, distâncias, tornando tudo mais leve e interessante.
Ando devagar porque já tive pressa e levo
este sorriso porque já chorei demais. Hoje
me sinto mais forte, mais feliz quem sabe,
eu só levo a certeza de que muito pouco
sei ou nada sei. [...]É preciso amor para
poder pulsar, é preciso paz para sorrir, é
preciso chuva para florir.
(Almir Sater e Renato Teixeira)
RESUMO
The present work Reflects on the evangelistic proposals of the Apostle Paul, trying to
analyze how these initiatives can apply the contingencies of contemporaneity. This
analysis of the missions in the book of Acts of the Apostles underscored the role of the
greatest New Testament missionary, namely the Apostle Paul. It has its relevance in
the society in which it lives, exercising its protagonism for what it has been called,
fulfilling its missionary mandate through its missionary trips, which were essential for
the expansion of the Gospel in the beginning of the Primitive Church. As a central
problem, the following question was raised: What is the Pauline contribution in Acts
through his evangelistic actions, to the construction of a missiological consciousness
in Christendom? The purpose of the work is to analyze what evangelistic actions used
by Paul can still be used today by Christendom in its Good News announcing mission.
The research qualifies, methodologically, as a bibliographical survey through the
consultation of several bibliographical sources besides the Holy Bible itself. The
research contextualizes itself as contribution and incentive for other works on the
subject, as well as, it serves as contribution to the academic community. In view of the
researcher's proposal, the work indicates that the Pauline evangelistic actions can be
used as a basis for the current mission of the church, serving as a theological
foundation and missionary motivation.
1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 12
2 MISSÕES EM ATOS DOS APÓSTOLOS....................................................... 15
2.1 A GRANDE RELEVÂNCIA DO ESPÍRITO SANTO NA MISSÃO EM ATOS
DOS APÓSTOLOS............................................................................................ 21
2.2 O PROTAGONISMO DE PEDRO COM O SEU DISCURSO NO
CUMPRIMENTO NA MISSÃO EM ATOS DOS APÓSTOLOS........................... 31
2.3 A IMPORTÂNCIA DOS MISSIONÁRIOS E DAS MULHERES NA MISSÃO
EM ATOS DOS APÓSTOLOS............................................................................ 35
3 PAULO E SUA SOCIEDADE ......................................................................... 43
3.1 O PROTAGONISMO DE PAULO EM ATOS DOS APÓSTOLOS................. 50
3.2 AS ESTRATÉGIAS DE PAULO EM ATOS DOS APÓSTOLOS ................... 58
3.3 AS VIAGENS MISSIONÁRIAS DE PAULO EM ATOS DOS APÓSTOLOS. 64
4 AS PROPOSTAS EVANGELÍSTICAS DE PAULO........................................ 79
4.1. A PROPOSTA EVANGELÍSTICA DE PAULO EM TESSALÔNICA............. 88
4.2. A PROPOSTA EVANGELÍSTICA DE PAULO EM ATENAS ....................... 94
4.3. A PROPOSTA EVANGELÍSTICA DE PAULO EM CORINTO ..................... 106
CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 117
REFERÊNCIAS................................................................................................. 118
12
1 INTRODUÇÃO
valer-se das fontes primárias, por sua proximidade dos fatos, e na falta dessas, por
fontes secundárias coerentes com a proposta do assunto.
É importante apontar, reconhecer e valorizar a importância da prática
missionária realizada por Pedro e, principalmente, Paulo, o primeiro missionário da
história da Igreja no Novo Testamento; o apóstolo que transcendeu todas as esferas
da sociedade e que através das estruturas abordadas por ele. A pesquisa em
discussão é realizada na área da Ciências da Religião dialogando com a Teologia
tendo como norte o termo missões, dando destaque a partir do Pentecoste até as
propostas do apóstolo Paulo em Atos 17-18.
Observa-se na primeira seção do trabalho que a missão em Atos dos apóstolos
teve a sua importância dentro do contexto abordado quando através do Pentecostes,
o apóstolo Pedro começa a exercer a sua grande liderança com o seu discurso tendo
um papel de grande relevância no início da Igreja Primitiva, pois nesta etapa da
pesquisa, ressalta-se que o conceito de missão em Atos se deu em função do
cumprimento do mandato missional decorrido de outro evento chamado ressurreição
de Jesus Cristo, pois foi através do evento morte e ressurreição de Cristo Jesus que
foi possível ocorrer o Pentecostes.
Na segunda seção aborda-se o grande protagonismo de Paulo onde seu
trabalho começa a ser observado como um apóstolo nascido fora de tempo tendo a
sua figura ressaltada de perseguidor a perseguido quando a caminho de Damasco
tem um encontro com Cristo tendo a partir deste evento uma mudança radical na sua
história, pois foi através deste encontro que Paulo começou a exercer o seu
protagonismo em meio a missão a ele atribuída, assim tratamos pois esse
protagonismo se dá em meio a sua missão, suas origens. Ainda neste capítulo,
tratamos, principalmente, a sua história, a sociedade a qual ele convive, pois é nesta
sociedade em que Paulo, ao anunciar o evangelho, utiliza-se de algumas estratégias
que abordamos e, dentre os quais, ressalta-se as viagens missionárias na a expansão
do Reino.
Na terceira seção são apresentadas as propostas do apóstolo Paulo na missão
em Atos dos Apóstolos, propostas estas que tem o seu ponto culminante em Atos 17
e 18, onde o Apóstolo Paulo as apresenta em três cidades de muita relevância no
início das comunidades cristãs, a saber Tessalônica, Atenas e Corinto, pois nestas
cidades Paulo sofre perseguição, é contestado, se submete as mais diversas
dificuldades, mas não desiste e caminha sem duvidar do seu chamado missionário,
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triunfante ao Pai será continuado por meio da direção do Cristo ressuscitado e pelo
poder do Espírito na própria história da comunidade.
O Novo Testamento fornece muitos detalhes concernentes ao início,
organização e execução apropriada do ministério da igreja:
Senior afirma que a missão universal foi iniciada pelo ministério de Jesus e
agora deve ser executada pela sua igreja; a liderança apostólica da igreja (os Doze e
Paulo) levarão a missão até as extremidades da terra. (2010, p. 406)
E, como figura predominante na missão de Jerusalém. O evento do Espirito
Santo e o sermão subsequente de Pedro no Pentecostes comovem os judeus de
Jerusalém que se reuniram “de todas as nações que há debaixo do céu” (At. 2,5-11).
Horton afirma que embora os sinais tenham mudado e o Espírito seja
derramado tanto sobre mulheres como sobre homens, o Novo Testamento afirma que
pertencemos à aliança da graça que os crentes usufruíram no Antigo Testamento.
(HORTON, 2014, p. 190)
Senior, porém, afirma que:
Mesmo que a concentração seja ainda sobre judeus e não gentios, a
ênfase de Lucas sobre a diáspora neste texto confirma o fato de que
o evento salvador iniciado aí levará, conforme sugere a citação de
Joel, o Espirito de Deus a “toda carne” conforme Atos 2,17 e que a
dimensão universal análoga e subentendida no discurso de Pedro no
pórtico de Salomão, onde ele lembra aos Jerosolimitamos que “vós
sois os filhos dos profetas e da aliança que Deus estabeleceu com os
vossos pais, quando disse a Abraão: Na tua descendência serão
abençoadas todas as famílias da terra.” (SENIOR, 2010, p. 407)
o discípulo é antes de tudo um aprendiz. É por isso que a igreja primitiva perseverava
“na doutrina dos apóstolos”. (HORTON, 2014, p. 194).
Fica evidente a advertência no tocante ao relacionamento entre espírito e
comunidade por intermédio de movimentos, palavras e do exercício de fé da
comunidade a partir do evento Pentecostes, pois se a fé no Cristo ressuscitado
antecede o nascimento da igreja, a mesma, contudo, é o componente crucial para a
intervenção do Espírito Santo, pois é a manifestação do Espírito Santo que coloca em
atividade a ação de cada pessoa dando um novo rumo e entusiasmo a vida da igreja,
dando a esta a oportunidade de anunciar publicamente aos ouvintes de todos os
povos e nações o Cristo Ressuscitado. .
Ressalta-se aqui que essa experiência torna-se uma experiência coletiva do
Espírito dos “últimos dias” (At. 2,17), criando assim, na comunidade cristã, um ânimo
que possibilitou a cada um, quer sejam homens e mulheres, colocar em pratica a
proclamação da Palavra buscando imaginar que as primeiras comunidades de fé se
caracterizam por serem agradáveis, transmitindo ânimo a seus membros após
assistirem a ação do Espirito Santo. Provavelmente, só mais tarde a comunidade
passa a tomar consciência da missão dada pelo espírito a ela, do impulso para tal
missão e da sua continuidade não como chegada dos “últimos dias”, mas como
começo de uma época mais prolongada de ação pelo Reino a época da igreja. É
importante observar que a missão em Atos dos Apóstolos tem seu início na
comunidade cristã, missão e comunidade caminham lado a lado na proclamação do
evangelho. Lucas está consciente de que a comunidade criada pelo derramamento
do Espírito se inscreve no movimento missionário inaugurado por Cristo Jesus.
Ao falar da vida, da obra e do mistério de Cristo Jesus, ele fala também da
comunidade dos discípulos que o acompanharam, pois Lucas ao falar no seu
Evangelho, falou da missão de Cristo Jesus como proclamação e exercício nos Atos
dos Apóstolos, sendo assim, esta comunidade representa o início das futuras
comunidades cristãs, cuja completude só acontecerá com a vinda do Espírito Santo.
A igreja que nasce no período pré-pascal, nasce de todo o mistério de Cristo Jesus,
ou seja, da Mensagem do Reino, das obras, da morte-ressurreição e do envio do
Espírito Santo.
Lucas não só apresenta o testemunho e o anúncio da comunidade primitiva a
todos os ouvintes, mas também fala de seus trabalhos e de sua prática para tornar o
evangelho conhecido de todos. Desta forma, ao relatar sobre essa comunidade, o
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autor de Atos apresenta em seus destaques alguns pontos que afloram da vida e da
lida missionária de seus membros: a identidade, a fidelidade e a unidade. Enfim, o que
o autor dos Atos apresenta uma espécie de “carta de identidade” da igreja primitiva,
ou seja, uma comunidade inspirando outras comunidades que se formam depois dela,
sendo assim, apresenta-se um estilo de vida cristã aberto ao mundo, independente
das várias diferenças nas quais vive e das muitas interseções que se dão entre elas.
Assim, podemos afirmar que todo o livro dos Atos oferece vários modelos de formação
das comunidades cristãs como o evento do Pentecostes. Elas só se tornam “modelo”
das comunidades cristãs com o evento do Espírito, ou seja, quando oferecem
subsídios básicos que têm sua fonte no mistério de Cristo Jesus. E, assim, dois
aspectos importantes a destacam-se, a saber: a identificação com o Espírito e a
identificação com a prática de Cristo.
O primeiro aspecto faz da comunidade um lugar onde o Espírito desenvolve
sua atividade na história, culturas, religiões e no mundo. Assim, podemos observar
que quando o evangelista Lucas retrata a vida diária da primeira comunidade, ele a
faz pela prática e seu testemunho mesmo tendo uma realidade diferente. Assim
sendo, esta comunidade de fé guiada pelo espírito refaz os atos de Cristo Jesus
quando o mesmo realizava os seus sinais e prodígios; anunciando com intrepidez a
palavra quando essas eram ensinadas em recintos fechados como em casas e nas
sinagogas, afirmando ser Cristo o Filho de Deus, anunciando aos gregos e judeus o
significado da ação de graças, do partir do pão, buscando manter comunhão uns com
os outros, na comunhão e na fé com um só coração e uma só alma adequando o
mistério de Cristo.
O segundo aspecto a ser abordado é que a comunidade cristã retratada por
Lucas assemelha-se a uma grande quantidade de pessoas que são conhecidas por
suas experiências de fé no mistério da vida de Jesus. Tendo inclusive os apóstolos
conhecidos de todos contando com Tiago, os discípulos, Matias, alguns diáconos,
Paulo, Maria, a mãe de Jesus e as mulheres mais próximas, ou seja, em palavras
mais simples, conclui-se que a comunidade de fé descrita no Livro dos Atos apresenta
dois aspectos que nascem do Espírito de Jesus e da sua missão no meio dos povos
e do mundo.
Conforme observa-se aqui, os escolhidos são pessoas próximas de Jesus,
pessoas que foram testemunhas de sua vida e de sua prática missionária, pois com
ele comeram juntos e neste momento através do Espirito Santo garantem o
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Outro ponto importante a ser abordado era como se atuava e se decidia com
o Espírito Santo, pois, na teologia lucana não concebe o Espírito separado da
comunidade, mas o coloca como o motor, a energia e a luz que sustentam cada
membro da comunidade de fé. (COMBLIN, 1975, p.140). É na força do Espírito que
se dá o testemunho cristão. (LATOURELLE apud. BOFF, 1995, p.137).
1
Joel 2,28-32.
27
Assim, nessa carta oficial, Boff afirma ser a consciência da comunidade que
age com o Espírito Santo é expressa na seguinte fórmula cf. Atos 15,28: “De fato,
pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor a nenhum outro peso além
destas coisas necessárias.” (BOFF, 1995, p.138).
Não é a comunidade, nem quem a preside, que dispõem do Espírito Santo,
mas é o Espírito que guia a comunidade por caminhos novos e impensados, desde
que cada membro se abra à ação do Espírito e conforme suas decisões ás exigências
desse Espírito. É assim que a comunidade de Jerusalém modifica sua interpretação
da lei, na difícil questão dos judaizantes. (At 15). (STÄHLIN,1974, p.352).
Depois de chegar à conclusão na discussão, a igreja toma decisões sobre a
forma de ensinar de Jesus sem obrigar outras formas, resguardando assim o princípio
dos ensinamentos. Ficando estabelecido nesses textos que o espírito e a igreja
constituem os dois elementos do “nós comunitário”. (COMBLIN, 1989, p.56).
E, finalizando este assunto, aplica à comunidade de fé cristã àquilo que santo
Irineu diz da Igreja: “Lá onde está a Igreja, lá está também o Espírito de Deus; e lá
onde está o Espírito de Deus, lá está a Igreja e toda a graça.” (CONGAR,1984, p. 14-
15).
28
Boff afirma não se querer intervir nos comentários críticos dos exegetas e
teólogos com respeito à diversidade das manifestações do Espírito que se dá no Livro
dos Atos, porem a atenção devida é voltada para visão que Lucas afirma sobre a
missão do Espírito, cuja atuação determina e regula a expansão do anúncio pois, os
apóstolos, por ocasião do primeiro concílio realizado em Jerusalém sentem-se unidos
com o Espírito Santo e se pronunciam formando como que uma só pessoa com ele.
(BOFF, 1995, p. 115)
A parte descritiva da carta desse chamado Primeiro Concílio é introduzida por
uma fórmula solene. “De fato pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor
nenhum outro peso além destas coisas necessárias... Passai Bem”. (At. 15,28-29)
Segundo Fabris, os Atos dos Apóstolos também afirmam que: O
reconhecimento do Papel decisivo do Espírito Santo na comunidade primitiva
corresponde a concepção lucana na qual ele não separa o testemunho do Espírito do
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exaltado por Deus, Jesus recebe o Espírito e o derrama com efusão (BOFF, 1995, p.
113) cf. (At 2,33): “Exaltado, pois, à destra de Deus, tendo recebido do Pai a promessa
do Espírito Santo, derramou isto que vedes e ouvis”.
E, assim, se pode observar Pedro sair de cena para dar lugar a figura
predominante de Paulo na missão em Atos dos Apóstolos. Porém, Pedro é o primeiro
a fazer o discurso referente a ação do Espírito Santo no nascimento da missão em
Atos dos Apóstolos. A comunidade de Jerusalém permanece para Lucas o lugar onde
os apóstolos moram.
Essa comunidade exerce o serviço de presidir, assegurando a unidade das
demais comunidades que se formam em outros lugares, como se dá com a
evangelização da Samaria, sendo ainda à comunidade de Jerusalém que Pedro
presta contas da iniciativa assumida em Cesaréia de haver se sentado à mesa com
os incircuncisos; é dessa comunidade que Antioquia aguarda uma decisão a fim de
resolver o conflito criado pelos judaizantes vindos de Jerusalém.
Os protagonistas da missão Lucas priorizam a iniciativa divina, mas realçam
também os protagonistas da missão. Na primeira parte dos Atos dos Apóstolos, Lucas
dá grande destaque a Pedro e na segunda parte dá destaque à Paulo. Pedro atua no
ambiente judaico de Jerusalém e da Judéia e presença de João ao seu lado confirma
e reconhece a sua autoridade de representante dos Doze. Trata-se de uma
responsabilidade eclesial que deve ser exercida em sintonia com a comunidade em
que residem os outros apóstolos.
O grupo dos “Sete” também possui seus representantes na figura de Estêvão
e de Filipe. Depois da morte de Estêvão, Filipe evangeliza a Samaria, a costa ao longo
do Mediterrâneo até se estabelecer em Cesaréia, onde anima uma comunidade
contando com a ajuda de suas 4 filhas “profetisas”.
É claro que Filipe não tem a envergadura nem de Pedro, nem de Paulo, mas
Lucas não quer deixar cair no esquecimento este missionário de segundo plano, e lhe
atribui o título de “evangelista”. Cristãos Helenistas e que atuam de forma anônima,
percorrem as cidades da Fenícia e anunciam o Evangelho aos pagãos de Antioquia.
Também esta experiência missionária iniciada casualmente recebe o reconhecimento
da igreja de Jerusalém mediante o envio de Barnabé como delegado oficial.
Segundo esta trajetória a afirmação de Pedro no seu discurso em Cesaréia
ocupa realmente um lugar central: “Na verdade estou me dando conta de que Deus
não é parcial, mas em toda nação, quem o teme e pratica a justiça lhe é aceito”. Na
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base de tudo está o Ressuscitado, o Senhor de todos; é ele que provoca a superação
das barreiras nacionais judaicas. É a fé nele que dá novo alento à missão que tem
sua referência principal na missão histórica de Jesus de Nazaré.
Tais atitudes, peculiares ás primeiras comunidades cristãs, são assim
resumidas por Lucas: os membros eram perseverantes no ensinamento dos
apóstolos, na partilha do pão, na oração e na comunhão fraterna. E assim abordamos
como se deu a importância dos missionários enviados e das mulheres na missão em
Atos dos Apóstolos.
De acordo com o que vimos até aqui sobre a relevância do Espírito Santo nos
Atos dos Apóstolos, não podemos deixar de observar esta relevância missionária do
Espírito Santo na vida dos discípulos.
Greenway apresenta cinco argumentos para corroborar essa relevância.
Nos dois primeiros argumentos, Greenway, afirma que o Espírito Santo
desperta um interesse em missões nos corações dos discípulos. Pois o zelo
missionário, em seu nível mais profundo, é um santo ciúme pela honra e glória de
Jesus Cristo. Plantando nas mentes nas mentes dos discípulos uma compaixão pelas
pessoas que estão perecendo. (GREEMWAY, 2001, p.66).
Nos três argumentos restantes, Greenway, continua a afirmar que o Espirito
Santo constrói a fé na promessa de Deus de que a pregação do evangelho não será
em vão criando nos discípulos um desejo de obedecer ao mandamento missionário
de Cristo quebrando os nossos preconceitos sociais e raciais e nos tornando pessoas
amorosas aos que são diferentes, os quais são acolhidos no reino de Cristo.
(GREENWAY, 2001, p.67).
É importante ressaltar que é desejo de todas as pessoas exaltar o único e
verdadeiro Deus na atividade missionária a que a cristandade foi chamada por meio
da ação do Espírito Santo.
Deus ama os pecadores e para alcança-los usa os seus fiéis através de meios
de proclamar o evangelho às pessoas de todos os confins da terra através das
missões em busca de um reavivamento da Igreja. Sem esta ação do Espírito anunciar
a Boa Nova seria impossível, pois a promessa de Deus é que a sua palavra através
dos seus discípulos nunca voltaria vazia. “Assim será a palavra que sair da minha
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boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para
que a designei”. (Isaias 55.11).
Portanto, a obediência gerada pelo Espirito pode levar homens e mulheres a
arriscar suas vidas sofrendo sendo perseguidos por ataques preconceituosos de
origem racial e social existente entre os primeiros fiéis, desta forma, é observado que
na ação missionária dos homens e mulheres escolhidos para esta obra o elo entre os
cristãos com o seu coração direcionado as missões é realizado através de uma
experiência ímpar, pois seja qual fosse o lugar onde eles se encontravam, a sua
comunhão lhes fazia entender e sentir que eram uma “família” entendendo que o
espírito missionário os unia em torno de interesses comuns abrindo-lhes passagem
onde ninguém podia imaginar, ou seja, o Espírito Santo propicia o intelecto dos
descrentes para almejarem Cristo em suas vidas deixando de duvidar da fé em Cristo
Jesus sendo persuadido sobre o pecado entendendo que é necessário ser salvo em
Cristo Jesus.
E, em função disso é importante entender o que significa, de fato, o trabalho
missionário dos discípulos realizado através do Espírito Santo, pois entendemos que
só Ele é capaz de convencer o homem do pecado fazendo entender que precisam
confessar Jesus Cristo como seu único Salvador oferecendo a esse homem uma nova
vida através da fé em Cristo. Sempre houve resistência e frustações nas ações dos
missionários, porém nunca foram em vão.
Nas atividades missionárias, o evangelista evidencia as instruções dadas aos
apóstolos, a ordem de não se afastarem de Jerusalém e a recomendação de que
aguardem o cumprimento da promessa do Pai, a de serem batizados com o Espírito
Santo. (COMBLIN,1989 ,p.83).
Em seguida Lucas se refere aos componentes deste núcleo originário: os
apóstolos, as mulheres, Maria, a mãe de Jesus e os “irmãos” de Jesus.
(KÜRZINGER,1984, p. 38)
Para Boff, a fé no Senhor Ressuscitado e a adesão ao seu projeto de vida são
o princípio que cria esta comunidade de fé constituída por mulheres e por homens.
A comunhão que une os membros não é simplesmente uma realidade
querida por eles, mas é, antes de tudo, obra do Espírito atuante em
cada membro, que, ao comunicar o evento da ressurreição, determina
profundamente o perfil da pessoa que anuncia e daquela que escuta
e acolhe o anúncio. (BOFF, 1995, p. 118-119).
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carismático, Lucas transmite a Paulo a notícia de que Filipe tinha quatro filhas virgens
que profetizavam, sem nada mais dizer a respeito.
Neste caso, a função de profetizar exercida por mulheres era um ministério
importante na comunidade primitiva, que guarda íntima relação com o ministério da
didáskalos. Esta é a função de quem instrui na ciência sagrada é abrir a mente da
mulher e do homem e iluminar os fatos concretos da história com a fé. A função de
quem profetiza é deixar que o Espírito de Deus fale pela boca da profetisa ou do
profeta, das coisas antigas que Deus quer lembrar à comunidade, no que diz respeito
ao seu plano salvifíco.
Lucas não discorre a ação que essas mulheres sentiram diante dos
acontecimentos sucedidos pela resposta de fé dada mediante as situações que
exigiram delas, ou seja, mulheres com personalidade firme e determinada.
Boff, de acordo com o texto acima afirma que:
A ação do Espírito pode nos parecer até “ignota” ou invisível dentro do
contexto descritivo feito por Lucas, onde enfatiza a sua tangibilidade.
Mas é próprio da missão do Espírito permanecer invisível para exaltar
a personalidade humana. Com isto se afirma a pessoa como
manifestação daquele Espírito doado por Jesus Cristo. As primeiras
testemunhas de Jesus na manhã da páscoa são as Mulheres, que
acreditaram no Senhor Ressuscitado como o “vivente” de Deus. Pela
sua fé são acreditadas por muitos, e pela sua participação na vida e
no mistério pascal de Jesus são colocadas na medida das “grandes
obras de Deus”, nas quais elas mesmas se tornam testemunhas
insubstituíveis. (BOFF, 1995, p. 124-125)
Sênior, porém, aborda este assunto através do ponto e vista em que a função
das Mulheres que testemunham a ressurreição do Senhor é colocada em evidência
no Livro dos Atos, quando estas enfrentam perseguição e cativeiro junto com os
homens por aderirem à pregação do ministério de Jesus, que é o ministério do Cristo
morto e glorificado. (SENIOR, 2010. p. 379)
Contudo, o testemunho de fé dessas mulheres adota uma expressão ainda
mais notória quando, juntamente com os homens, encaram o plano de sofre o risco
de arcar com a própria liberdade por se apresentarem fiéis ao encontro do Senhor
Jesus, fator importante atentado por Paulo em sua mensagem de defesa pessoal a
frente dos judeus de Jerusalém. E, tão somente, por ensinar as pessoas a irem de
encontro consoante ao chamado e o envio do Espírito Santo.
Boff, portanto, afirma ser:
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Neste capítulo foram abardadas as missões em Atos dos Apóstolos onde teve
início o grande evento histórico chamado Pentecostes onde é observado a grande
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relevância da descida do Espírito Santo na terra onde pode-se entender que este
evento marca de forma convincente o início do místico na humanidade trazendo um
diálogo inter-religioso transcendendo todas religiões.
É ressaltado neste capítulo a importância do protagonismo de Pedro e o seu
discurso no cumprimento da missão dos Atos dos Apóstolos, Pedro hoje considerado
o primeiro grande líder da Igreja teve o seu papel preponderante nesta história.
Não menos importante, os missionários juntamente com as mulheres tiveram
o seu papel na expansão do evangelho na sociedade da época enfrentando todo tipo
de embate com os defensores das outras religiões,
Esses personagens antecederam o Apóstolo Paulo que teve um papel de
extrema importância como o grande missionário no início da Igreja no primeiro século
d.C.
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“Paulo, porém, lhes replicou: Sem ter havido processo formal contra
nós, nos açoitaram publicamente e nos recolheram ao cárcere, sendo
nós cidadãos romanos; querem agora, às ocultas, lançar-nos fora? Não
será assim; pelo contrário, venham eles e, pessoalmente, nos ponham
em liberdade, (At 21,39) “Respondeu-lhe Paulo: Eu sou judeu, natural
de Tarso, cidade não insignificante da Cilícia; e rogo-te que me permitas
falar ao povo”. e (At 22,25) “Quando o estavam amarrando com
correias, disse Paulo ao centurião presente: Ser-vos-á, porventura, lícito
açoitar um cidadão romano, sem estar condenado?” (At 16, 37).
Considerando todos estes aspectos, pode-se afirmar que sua família possuía
alguns recursos e desfrutava de posição proeminente na sociedade.
É importante observar que que não existe uma forma de começar a escrever
sobre um assunto que envolva a trajetória de Paulo na sociedade a qual ele, nasceu,
cresceu e conviveu sem debruçar sobre a literatura disponível, e, perceber os muitos
desafios enfrentados diante de sua mudança de vida após o seu encontro com Cristo
a caminho de Damasco. Pois foi nesta sociedade que Paulo exerceu o seu
protagonismo na expansão missionária usando seus métodos através do ensino e de
suas viagens missionárias.
Assim algumas experiências vividas por Paulo narradas no Novo Testamento
através de conceitos referentes a pregação do evangelho mostram como a missão
acontecia de forma concreta entendendo que sua estratégia missionária podia ser
realizada de várias maneiras. Portanto, o primeiro ambiente para o desenvolvimento
de uma estratégia missionária em Paulo se insere no contexto das Igrejas conhecidas
como primitivas. Pois nelas deu-se o início a missão Paulina que foi através da
proclamação do evangelho para os gentios.
Importante destacar como se dava esse ambiente para a inserção dos cristãos
através da anunciação da Palavra. Estes cristãos se reuniam no templo para orar e
adorar ao Senhor. (At 2, 46).
“Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa
e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração” (At 2, 42-46) e,
também começaram a partilhar a Ceia do Senhor em seus próprios lares
Falavam com as pessoas e aprendiam sobre elas. E, assim iam de casa em
casa anunciando o Evangelho de Cristo, sendo esta uma estratégia da pregação da
Palavra de Deus. É interessante observar que antes de tudo, os cristãos aprendiam
os costumes locais e se adaptavam à nova cultura, adequando sua mensagem para
45
É importante ressaltar também que o livro dos Atos pode dar a impressão de
que Paulo seja quase exclusivamente um pregador itinerante, mas levando em conta
46
também as informações das cartas paulinas, ele não só funda, mas também
acompanha o crescimento cristão das comunidades. E, assim como método
missionário ele escolhe os grandes centros urbanos onde se desenvolve a cultura, o
comércio, a religião, e onde se formam as opiniões e as filosofias.
Nesses centros Paulo funda comunidades cristãs, e dentro delas suscita as
lideranças de modo que o evangelho se irradie pelas redondezas alcançando os
povoados vizinhos. A partir dos centros de Corinto e de Éfeso funda as comunidades
de Cencréia “Recomendo-vos a nossa irmã Febe, que está servindo à igreja de
Cencréia, para que a recebais no Senhor como convém aos santos e a ajudeis em
tudo que de vós vier a precisar; porque tem sido protetora de muitos e de mim
inclusive.” (Rm16,1-2).
E aquelas de Colossos e de Laodicéia no vale do Lico,
“Segundo fostes instruídos por Epafras, nosso amado conservo e, quanto a vós
outros, fiel ministro de Cristo.... E, uma vez lida esta epístola perante vós,
providenciai por que seja também lida na igreja dos laodicenses; e a dos de
Laodicéia, lede-a igualmente perante vós”. (Cl 1,7; 4,16).
A missão de Paulo é abrangente e quer alcançar a todos. Para não criar
problemas aos outros ele faz questão de trabalhar com as próprias mãos conforme
está escrito em 1ª Coríntios: “E nos afadigamos, trabalhando com as nossas próprias
mãos. Quando somos injuriados, bendizemos; quando perseguidos, suportamos”
(4,12) e “Porque, vos recordais, irmãos, do nosso labor e fadiga; e de como, noite e
dia labutando para não vivermos à custa de nenhum de vós, vos proclamamos o
evangelho de Deus.” (1ª Ts 2,9).
Nisso ele encontra um ponto de apoio para a difusão da mensagem cristã, mas
leva adiante a sua missão inclusive no lugar de trabalho,
Ele ensinou que o governo civil foi ordenado por Deus para "castigar o que
pratica o mal”; “Visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem. Entretanto,
se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro
de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal” (Rm 13, 4).
É inegável que a referência de Paulo sobre o mal é aquilo que é contrário à lei
moral de Deus (1 Tm 1:8-11).
É claro que Paulo não sabia os detalhes do que aconteceria nos anos
seguintes. No entanto, não é anacrônico dizer que Paulo procurava ver nações
transformadas. Afinal de contas, seu Senhor e Salvador ordenou aos cristãos a "Ide,
pois, ensinai todas as nações" (Mt 28, 19) “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as
nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.” Não só Paulo
tentou transformar a sociedade, ele foi realmente bem-sucedido como evidenciado
pela notável transformação da cultura que tem ocorrido desde o tempo de Cristo até
hoje. Paulo não estava sozinho; a transformação inspirou-se em muitos outros
trabalhadores. Deus tem usado cristãos para proclamar fielmente a verdade e ensinar
todas as nações a obedecer. Há mais trabalho a ser feito.
No entanto, o argumento de que Paulo não tentou transformar a sociedade
deve ser silenciado por uma consideração cuidadosa das implicações da sua doutrina
e a irrefutavelmente enorme influência do cristianismo na cultura ocidental.
Ao ensinar isso, Paulo estava tentando mudar a opinião de que o governo civil
não é necessário para governar de acordo com o padrão de Deus sobre o bem e o
mal. Portanto, quando Paulo ensina sobre o governo civil ele está tentando
transformar a visão da sociedade. Cada nível da sociedade dirigido por Paulo foi
realizado por ele tentando mudar a sociedade através do indivíduo, da família, da
Igreja e do governo civil e, com certeza não se pode mensurar o sucesso de Paulo
apenas em termos de resultados imediatos durante sua vida. Quando se aplica uma
visão de longo prazo sobre a missão e a mensagem paulina, no que se refira a
civilização ocidental, é inegável que Paulo, através do poder do Espírito Santo, foi
bem-sucedido em transformar drasticamente a sociedade de sua época.
“A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei,
estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim
está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. 45 Então,
lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras; 46 e lhes
disse: Assim está escrito que o Cristo havia de padecer e ressuscitar
51
iniciativa divina. Segundo Paulo, a partir da soberania divina conforme ele afirma em
(Rm 10,12) “Não há distinção entre judeu e grego, uma vez que o mesmo é o Senhor
de todos, rico para com todos os que o invocam”.
E, para corroborar com o texto acima, Senior afirma que:
Mesmo que a concentração seja ainda sobre judeus e não gentio, a
ênfase de Lucas sobre a diáspora neste texto confirma o fato de que
o evento salvador iniciado aí levará, conforme sugere a citação de
Joel, o Espirito de Deus a “toda carne” (At 2,17), “E acontecerá nos
últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda
a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão
visões, e sonharão vossos velhos,” esta Dimensão universal análoga
e subentendida no discurso de Pedro no pórtico de Salomão, onde ele
lembra aos Jerosolimitamos que “vós sois os filhos dos profetas e da
aliança que Deus estabeleceu com os vossos pais, quando disse a
Abraão: Na tua descendência serão abençoadas todas as famílias da
terra” (At 3,25), “Vós sois os filhos dos profetas e da aliança que Deus
estabeleceu com vossos pais, dizendo a Abraão: Na tua
descendência, serão abençoadas todas as nações da terra.”
(SENIOR, 2010, P. 407).
Além dos evangelhos e dos Atos dos Apóstolos, o Novo Testamento contém
uma série de escritos em forma de carta, e o Apocalipse de João. As cartas que
iniciam com o nome de Paulo como autor totalizam quase três quintos dessa parte,
não narrativa do Novo Testamento. Essa simples relação numérica já desperta no
leitor a impressão de que Paulo foi o mais importante e influente pensador do
cristianismo primitivo. A impressão é aumentada pelo fato de Paulo ser o único dos
autores de escritos neo-testamentários de cuja pessoa e história temos maiores
informações também de fora dos seus escritos. No entanto as cartas paulinas
permitem-nos conhecer um importante período da atuação de Paulo como
missionário. Assim a amplitude do acervo das epistolas paulinas e o caráter único de
nosso conhecimento a respeito da pessoa de Paulo faz ressaltar as cartas paulinas
do restante do Novo Testamento e provocam a opinião de que o pensamento teológico
de Paulo constitui não apenas o centro do Novo Testamento, mas também determina
decisivamente a evolução do pensamento cristão primitivo. É este o “Evangelho” que
Paulo anuncia em sua atividade missionária: a graça de Deus é a fundamento da
missão,
“Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu
por todos; logo, todos morreram. 15 E ele morreu por todos, para que
os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que
por eles morreu e ressuscitou. 16 Assim que, nós, daqui por diante, a
ninguém conhecemos segundo a carne; e, se antes conhecemos
Cristo segundo a carne, já agora não o conhecemos deste modo. 17 E,
53
primitivo tardio. Não obstante, é indubitável que Paulo exerceu uma função
fundamental na evolução do cristianismo primitivo. Isso é válido sem restrições para
a atividade missionária de Paulo, porque, ainda que o cristianismo tenha se propagado
em muitas partes do Império Romano independente de Paulo, ele foi, o missionário
do cristianismo primitivo.
Numa resolução clara, trouxe o Evangelho aos não-judeus, tirando dessa tarefa
as consequências teológicas e práticas. Caso pudermos levar a sério o princípio
missionário externado por ele, a saber, de pregar apenas em lugares em que Cristo
ainda não foi mencionado “esforçando-me, deste modo, por pregar o evangelho, não
onde Cristo já fora anunciado, para não edificar sobre fundamento alheio”, (Rm 15,20),
foi ele o primeiro a fundar comunidades cristãs na Ásia Menor, Macedônia e Grécia.
Preocupou-se com o crescimento correto dessas comunidades também depois de sua
partida, enviando cartas e, em parte, seus companheiros.
Paulo foi capaz desse feito decisivo para a história da Igreja, porque - e isso é
o ponto mais importante neste contexto - havia sido um aluno de rabinos judaicos,
razão pela qual se tornou o primeiro pensador teológico do cristianismo. Se, pois, o
significado de Paulo no contexto da evolução dos pensamentos do cristianismo
primitivo reside em que ele foi o primeiro teólogo cristão, tal fato inegável, no entanto,
não deve fazer com que leiamos as cartas paulinas como textos dogmáticos e as
abordemos com perguntas teológicas que lhes são estranhas. Paulo foi um teólogo,
mas como missionário. Por isso seu pensar teológico é determinado em grande escala
pela confrontação com suas comunidades e com opiniões divergentes que se faziam
ouvir nas comunidades. Para nosso conhecimento do pensamento de Paulo,
acrescenta-se a isso que sua reflexão não nos foi conservada numa apresentação
sistemática, mas em cartas escritas para determinados leitores e para dentro de
determinada situação. Por um lado, isso significa que Paulo conta com leitores que
conhecem as premissas da argumentação apresentada, sendo por isso também
capazes de entender alusões que não é possível aos leitores de hoje interpretar com
suficiente exatidão.
Os protagonistas da missão são apresentados por Lucas e são priorizados
pela iniciativa divina. Na primeira parte de Atos, Lucas dá grande destaque a Pedro e
na segunda parte dá destaque a Paulo. Pedro atua no ambiente judaico de Jerusalém
e da Judéia e tem a presença de João ao seu lado confirmando e reconhecendo a sua
56
“Mas levanta-te e firma-te sobre teus pés, porque por isto te apareci,
para te constituir ministro e testemunha, tanto das coisas em que me
viste como daquelas pelas quais te aparecerei ainda, 17 livrando-te do
povo e dos gentios, para os quais eu te envio, 18 para lhes abrires os
olhos e os converteres das trevas para a luz e da potestade de
Satanás para Deus, a fim de que recebam eles remissão de pecados
e herança entre os que são santificados pela fé em mim”. (At 26,16-
18).
Aqui consiste em anunciar a salvação entendida como passagem das trevas à
luz, da idolatria à fé, do poder de Satanás à soberania de Deus. Pela fé em Jesus se
obtém a remissão dos pecados e a herança eterna.
O método evangelístico apresentado por Lucas, e utilizado por Paulo, é antes
de tudo, o anúncio da Palavra que parte de fatos e expectativas das pessoas ouvintes,
57
em seguida elas interpretam estes fatos à luz do evento chamado Cristo. Tudo isso
ajuda a construir uma comunidade que seja estável e sólida em sua adesão de fé.
Este método missionário em que Paulo revela ser eficaz, cria uma sintonia com as
expectativas e os problemas das pessoas e do ambiente de modo que a proposta da
mensagem cristã dá um novo significado à vida humana. Nesse sentido o estilo de
vida dos missionários e das comunidades se caracteriza como o caminho que oferece
uma nova esperança a todos os homens.
Com diferentes protagonistas e campos de ação missionária. Não se pode
deixar de destacar ao longo de dois capítulos a figura de Estevão, um líder dos sete
diáconos, eleitos como grupo dirigente dos judeu-cristãos de língua grega. Animado
pela força do Espírito e por uma extraordinária capacidade dialética. Estevão debate
seus ex-colegas judeu-helenistas, acusando as instituições sagradas do templo e da
lei de Moisés com o seu conjunto de observâncias judaicas. O confronto entre Estevão
e o judaísmo institucional conclui-se com a supressão violenta do primeiro líder cristão
e a dispersão do seu grupo, obrigado a deixar Jerusalém. Com a onda de
“perseguição” e com a fuga dos cristãos helenistas, se relaciona a missão de Felipe,
um dos “Sete”, que leva com êxito o anuncio do evangelho aos samaritanos. Sua
missão é o início da nova Igreja na Samaria e são oficialmente reconhecidos pela
Igreja-mãe de Jerusalém, mediante o envio de dois delegados, Pedro e João, e a nova
efusão do Espírito. Depois, Felipe prossegue sua atividade missionária ao longo da
costa mediterrânea, onde batiza o primeiro pagão, o eunuco etíope. O episódio de
Estevão está relacionado também com a conversão de Saulo, que, de inquisidor dos
cristãos, é chamado a ser testemunha de Cristo, que lhe apareceu no caminho de
Damasco, suas primeiras experiências missionárias em Damasco e Jerusalém
desencadeiam violentas reações dos judeus. Esta é somente a antecipação daquilo
que será a grande aventura missionaria de Paulo. Mas, o primeiro gesto de abertura
oficial ao mundo pagão, é Pedro quem o faz, guiado pelo Espirito a Cesaréia, até a
casa do oficial romano Cornélio. A este ele anuncia o evangelho e reconhece a ação
do Espírito Santo descendo aos pagãos como acontecera no início da Igreja em
Jerusalém.
É o nascimento da primeira Igreja entre os gentios, por iniciativa de Deus, como
devem reconhecer Pedro, os outros apóstolos e os primeiros cristãos de Jerusalém.
Com este gesto programático de Pedro, ou melhor, do Espirito Santo, a missão está
58
aberta oficialmente: de fato, agora se narra a missão cristã em Antioquia, onde surge
a primeira comunidade cristã mista, formada de ex-pagãos.
O autor apresenta a cisão definitiva com autoridade judaica através de uma
“perseguição” desencadeada em Jerusalém por Herodes Agripa I fazendo o segundo
mártir cristão, agora entre os “doze”, Tiago, irmão de João. Pedro que consegue fugir
da prisão e esconder-se em lugar seguro; e após uma rápida aparição no concilio de
Jerusalém, desaparece definitivamente de cena, para deixar o campo livre ao novo
protagonista chamado Paulo.
Em função disso, Paulo tinha muito cuidado em pregar as Boas Novas onde o
nome de Cristo ainda não era conhecido e, assim sendo, não evangelizava em cima
de palavras ditas por outros pregadores. Ele não media esforços para cumprir o “indo”
de Jesus.
Allen afirma que Paulo estabelece algumas características na abordagem dos
judeus na pregação na sinagoga. (ALLEN, apud GREEN, 2000, p. 241).
Green afirma que,
É possível ver em Paulo a simpatia e a conciliação com as
sensibilidades dos ouvintes, conforme afirma ele: A apresentação é
clara, ele está disposto a aceitar o que há de bom na posição deles,
simpatiza com suas dificuldades, mostrando que ele os aborda com
sabedoria e tato; reconhece abertamente as dificuldades, de
proclamar verdades não sendo muito fáceis de engolir, e de recusar-
se inapelavelmente a fazer coisas difíceis parecerem fáceis;
respeitando os seus ouvintes, suas capacidades intelectuais e suas
necessidades espirituais; e, mantendo uma confiança inabalável na
verdade e no poder da mensagem do evangelho. Assim, ele diz que
não estaremos longe da verdade ao supormos que estas eram
características típicas da pregação na sinagoga, nos primeiros tempos
da missão, em que as oportunidades ainda estavam abertas. (GREEN,
2000, p. 241).
evangelho. Porém, Paulo não se dava por vencido e, em função de sua coragem, não
deixava de cumprir sua missão. Além disso, investia na evangelização através do
ensino, pois entendia que a pregação da palavra e o ensino tinham que andar juntos,
num trabalho bem prático - visitar prisioneiros, animar os que estavam condenados à
morte por sua fé e prover o sustento de uma vida muito abstinente em termos de
comida, bebida, sono, dinheiro e roupas, supervisionar escolas onde os cristãos se
ocupavam do ensino e da filosofia. (GREEN, 2000, p. 249-250).
Paulo era um visionário e não media esforços para evangelizar nas cidades.
Ele conseguia ver o que as outras pessoas não viam, conseguindo obter resultados
de maneira bem expressiva, com suas abordagens, revolucionários para a época. Ele
também gostava de interagir com as questões evangelísticas de sua época, não
admitia deixar de se envolver com as questões do evangelho e não se acovardava
com suas posições teológicas. Ele, também, obtinha muitas vantagens, o número
relativamente pequeno de pessoas envolvidas tornava possível uma troca de ideias
proveitosa e um debate geral entre os participantes. O pregador não era isolado
artificialmente dos seus ouvintes.
A atmosfera informal e descontraída do lar, sem esquecer a hospitalidade
desfrutada, tudo contribuía para fazer com que este tipo de evangelização baseada
na empatia e na convivência, tivesse um sucesso especial. É importante ressaltar que,
na antiguidade, a casa - como o lugar central da vida religiosa, tinha uma longa
tradição. As associações culticas privadas, os círculos de mistério e escolas filosóficas
escolhiam esse lugar como referência para a anunciação de suas verdades. Além
disso, as comunidades judaicas também se encontravam em sinagogas domésticas.
Foi assim que a missão cristã teve início no âmbito da sinagoga.
Green concorda com esta afirmação destacando a importância do significado
sociológico da casa. A ênfase no lar como unidade fundamental da sociedade tinha
uma história longa, tanto na cultura israelita como na romana. (GREEN, 2000, p. 253).
Não se sabe de nenhuma influência exercida sobre um lar através da
conversão de crianças, mas, certamente, a convivência com escravos e libertos
evangelizados era uma maneira de penetrar nas grandes famílias da aristocracia
romana. No tempo em que o Ap. Paulo escreveu aos Filipenses havia membros da
casa de César que eram cristãos: “Todos os santos vos saúdam, especialmente os
da casa de César”. (Fl 4, 22).
62
Parece que Paulo havia causado uma forte impressão entre os membros da
guarda pretoriana, destacados em grupos de quatro para guardá-lo durante seu
período de prisão. Os seus testemunhos e suas pregações eram suas principais
credenciais, pois, o Cristianismo penetrou no mundo romano através de cinco vias
principais: a pregação e o ensino dos missionários, o testemunho pessoal dos crentes,
atos de bondade e caridade, a fé mostrada na perseguição e morte e o raciocínio
intelectual dos primeiros apologistas.
Uma forma muito importante para a propagação do evangelho da época cristã
era a visitação, pois segundo a história de Ananias, por exemplo, mostra este tipo de
método utilizado pelos cristãos da época, em muitos sentidos Ananias foi o resumo
do visitar relutante, e mesmo assim foi muito útil. Deus queria usar Ananias para esta
tarefa, e o chamou. Ele deveria ir a certa casa, porém Deus lhe deixou claro que o
homem a quem ele deveria visitar era Saulo de Tarso, que precisava de algo de que
Ananias poderia dar-lhe, mas ele obedeceu, sua conversa foi simples, amiga e direta.
Ele o chamou de irmão Saulo, numa atitude impressionante de fé. Sua mensagem era
clara e adequada a situação de Saulo. Ele falou do Senhor Jesus, que poderia abrir
seus olhos cegos para preencher sua vida vazia, e sua obediência foi recompensada
com a adesão de um convertido notável a Igreja.
Neste ponto abordamos vários métodos de Paulo na pregação do evangelho,
mostrando a diversidade e criatividade dos missionários da época e as formas simples
empregadas, expandindo a Palavra para todos os lugares. Assim, veremos a seguir
os métodos de evangelismo através do ensino, um grande pilar na pregação do
Evangelho de Cristo Jesus, realizado pelos primeiros missionários.
Paulo também usava o ensino como forma de anunciar sua mensagem. Para
Paulo, o ensino também teve fundamental importância na proclamação da palavra de
Deus. Ele é parte inerente da grande Comissão, “Ensinando-os a guardar todas as
coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até a
consumação do século.” (Mt 28, 20). E, assim, o ensino serviu para incentivar e
motivar os missionários que pregavam a Palavra de Deus e tinham essa forma de
pregação. Por isso, a pesquisa destaca, nessa parte, o presente método. Desta forma,
o evangelismo realizado através do ensino, demonstra o quanto o mesmo foi de vital
importância no processo de evangelização e para o seu êxito. Isso causava nos
cristãos da época um forte sentimento de gratidão e não poderia haver dúvidas de que
a principal motivação para a evangelização era teológica.
63
Diante da recusa dos judeus, Fabris também afirma que Paulo faz amadurecer
a decisão de dirigir-se aos pagãos que gravitam em torno da sinagoga judaica como
convertidos ou simpatizantes.
A reação violenta dos judeus obriga os missionários a se dirigirem para
outras localidades como Icônio, Listra e Derbe; aí eles tem a
possibilidade de reunir alguns grupos de convertidos, na maioria
pagãos. Essa primeira missão conclui-se em Antioquia da Síria, na
comunidade de onde haviam partido, e agora retornam relatando o
que Deus fez, “abrindo a porta da fé aos gentios” conforme Atos 14,27.
Desta forma, prepara-se o terreno para nova grande missão de Paulo
nas cidades da bacia oriental do mediterrâneo. (FABRIS, 1984, p.38-
39)
Fabris também afirma que esta nova grande missão é denominada a grande
viagem missionária de Paulo, sendo realizada em duas etapas sucessivas.
Levando em primeiro lugar a Macedônia-Grécia; ficando em Corinto
durante um ano e meio; depois segue para a Ásia, onde permanece
por cerca de três anos, fazendo sede em Éfeso. Ou seja, uma rápida
interrupção não marca propriamente um rompimento nessa grande
missão extrapalestinense entre os gentios. Assim idealmente a viagem
missionária de Paulo se inicia em Jerusalém e termina no areópago
de Atenas, Paulo desmascara o caminho errado da idolatria, e ao
66
pequeno grupo de cinco líderes, porque isso significaria três deles sendo instruídos a
respeito dos outros dois.
De acordo com a citação acima referente aos cinco líderes, o autor dos Atos,
que na tradição é considerado originário de Antioquia, fala da presença na
comunidade de Antioquia de “profetas e mestres”, e assim, Fabris elenca um grupo
de cinco, são eles:
Barnabé, Simeão, chamado o Negro, Lucio, da cidade de Cirene,
Manaém, companheiro de infância do governador Herodes e Saulo cf.
Atos 13,1. “Havia na igreja de Antioquia profetas e mestres: Barnabé,
Simeão, por sobrenome Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de
Herodes, o tetrarca, e Saulo”. O primeiro e o ultimo nome desse grupo,
Barnabé e Saulo, são duas personagens conhecidas por sua atividade
de anúncio, instrução e animação da comunidade cristã de Antioquia.
Isso poderia contribuir para dar o significado mas preciso e concreto
aos dois títulos “profetas e mestres”, que servem de cabeçalho para a
lista dos cinco nomes. Trata-se de pessoas que, por suas qualidades
carismáticas, como Barnabé, ou por sua competência doutrinal, como
Paulo, são capazes de estimular o crescimento e a expansão da Igreja
local de Antioquia. (FABRIS, 2008, p.197).
É mais provável que o texto se refira aos membros da Igreja como um todo,
uma vez que tanto eles quanto os líderes são mencionados juntamente no verso um.
Da mesma forma, quando Paulo e Barnabé retornaram, eles reuniram a Igreja.
Prestaram contas a Igreja, pois haviam sido comissionados pela Igreja. E, assim,
Rinaldo Fabris continua afirmando que os outros três são cristãos de Antioquia
representativos do ambiente compósito e rico da comunidade cristã.
Segundo Fabris:
Stott afirma que Lucas chegou a um ponto decisivo em sua narrativa. Segundo
ele, Paulo ao cumprir a profecia do Senhor ressurreto, seu nome foi testemunhado em
Jerusalém e toda Judeia e Samaria.
O propósito dessa viagem, conforme o próprio Paulo, era visitar os irmãos por
todas as cidades em que a Palavra do Senhor já havia sido anunciada “Alguns dias
depois, disse Paulo a Barnabé: Voltemos, agora, para visitar os irmãos por todas as
cidades nas quais anunciamos a palavra do Senhor, para ver como passam. ” (At
15,36).
Paulo, que está em Antioquia, tem o desejo de visitar as cidades em que eles
pregaram durante a primeira viagem missionária. Ele chama Barnabé novamente para
ir, e esse aconselha Paulo a chamar João Marcos também para a viagem com eles.
Porém, Paulo, receoso, não aceita, pois na primeira missão, João Marcos voltou para
casa no meio da viagem. Desse modo, Barnabé não aceita ir com Paulo e decide
pregar a Palavra de Deus com João Marcos, e eles vão para Chipre. Já Paulo escolhe
Silas, também chamado de Silvano, para o acompanhar na viagem, e os primeiros
lugares que eles vão são a Síria e a Cilícia. Depois, Paulo e Silas partem para Derbe
e Listra; ali os dois encontram um discípulo de Paulo chamado Timóteo, que dava bom
testemunho de fé.
Segundo Fabris, nesta segunda viagem após uma divergência com Barnabé
por causa de João Marcos, Paulo leva consigo Silas e, futuramente, Timóteo, segundo
ele:
Depois da assembleia de Jerusalém, que restabelece a paz na Igreja
Antioquena, o autor dos Atos retorna a narrativa da atividade
missionária itinerante de Paulo. Após a separação de Barnabé, por
causa de João Marcos, Paulo escolhe Silas como um novo
colaborador que fora um dos dois delegados da Igreja de Jerusalém
encarregados de levar a carta do concílio a Igreja de Antioquia. Lucas
o apresenta como uma pessoa muito estimada na Igreja de Jerusalém
e dotada de carisma profético, capaz de falar com eficácia para animar
as comunidades cristãs. O seu nome Silás é transcrição grecizada do
original Shei’la, forma aramaica do nome hebraico Sha’ul. Essa
afinidade com o nome hebraico-aramaico de Paulo já o predispõe a
colaboração com o Apóstolo dos pagãos. Em suas cartas, Paulo o
menciona com o nome latinizado Silouanôs, “Silvanus/Silvano” (2ª Co
1,19) “Porque o Filho de Deus, Cristo Jesus, que foi, por nosso
intermédio, anunciado entre vós, isto é, por mim, e Silvano, e Timóteo,
não foi sim e não; mas sempre nele houve o sim.” e, (2ª Ts 1.1) “Paulo,
Silvano e Timóteo, à igreja dos tessalonicenses, em Deus, nosso Pai,
e no Senhor Jesus Cristo.” (FABRIS, 2008, p. 277)
Desta forma, Paulo junto com Silas, deixa Antioquia da Síria e segue em
direção a Cílicia. Eles atravessam a planície de Cilícia e chegam a Tarso. E, assim,
efetivamente o percurso da nova viagem pode ser reconstruído porque a intenção de
Paulo era fazer uma visita aos irmãos em todas as cidades. “Alguns dias depois, disse
72
Paulo a Barnabé: Voltemos, agora, para visitar os irmãos por todas as cidades nas
quais anunciamos a palavra do Senhor, para ver como passam” (At 15,36). Onde
havia anunciado anteriormente, junto com Barnabé, a Palavra do Senhor. As únicas
localidades que Lucas informa são Derbe e Listra.
Em Listra, onde Paulo correu o risco de ser agredido a ponto de ser dado como
morto após ter realizado a cura de um coxo de nascença, ele resolve escolher mais
um colaborador, a saber, Timóteo. Timóteo é um cristão da Igreja local de Listra,
nascido de um matrimônio misto. É importante ressaltar que a mãe de Timóteo é uma
judia que se tornou cristã, e o pai é grego, isto é, um pagão (At 16,1) “Chegou também
à Derbe e a Listra. Havia ali um discípulo chamado Timóteo, filho de uma judia crente,
mas de pai grego; essa informação é confirmada pelo que se diz na segunda carta
pastoral, colocada sob o nome de Paulo e endereçada ao “amado filho Timóteo”. O
Apóstolo se lembra dele com grande afeto e recorda a fé sincera de seu discípulo, “a
mesma que havia antes na sua vó Loide, depois em sua mãe Eunice”, (2 Tm 1,5) “pela
recordação que guardo de tua fé sem fingimento, a mesma que, primeiramente,
habitou em tua avó Lóide e em tua mãe Eunice, e estou certo de que também, em ti;
Ele sabe que Timóteo, desde menino, foi educado no conhecimento das Escrituras
judaicas (2ª Tm 3,14-15) “Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que
foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste 15 e que, desde a infância, sabes as
sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus;
Segundo o autor dos Atos, “os irmãos de Listra e Icônio davam bom testemunho de
Timóteo” (At 16,2) “dele davam bom testemunho os irmãos em Listra e Icônio”; assim
como Silas era muito respeitado pelos irmãos em Jerusalém (At 15,22) “Então,
pareceu bem aos apóstolos e aos presbíteros, com toda a igreja, tendo elegido
homens dentre eles, enviá-los, juntamente com Paulo e Barnabé, a Antioquia: foram
Judas, chamado Barsabás, e Silas, homens notáveis entre os irmãos”;
Para Fabris “o fato de que Timóteo seja conhecido e estimado não só em Listra,
onde vive com sua família, mas também pelos cristãos de Icônio, leva a supor que ele
tenha uma função de animador, ou seja, coordenador dos diversos grupos cristãos
das localidades da licaônia. (FABRIS, 2008, p.279)
Após esses acontecimentos, eles vão para Trôade, onde Paulo tem uma visão:
“um homem macedônio pede ajuda”. Então Paulo percebe que o Senhor mostrava
que deveria anunciar o evangelho na Macedônia. E, a partir deste evento, eles
decidem ir para lá, mas antes passam por Filipos, uma colônia que fazia parte da
73
Macedônia. Ao anunciarem a Palavra de Deus lá, certa mulher, chamada Lídia, abre
o coração e se atenta às palavras de Paulo. Ela se converte e é batizada, sendo assim
a primeira pessoa da Europa, conforme a Bíblia, convertida ao Evangelho,
“Tendo, pois, navegado de Trôade, seguimos em direitura a
Samotrácia, no dia seguinte, a Neápolis 12 e dali, a Filipos, cidade da
Macedônia, primeira do distrito e colônia. Nesta cidade,
permanecemos alguns dias. 13No sábado, saímos da cidade para junto
do rio, onde nos pareceu haver um lugar de oração; e, assentando-
nos, falamos às mulheres que para ali tinham concorrido. 14 Certa
mulher, chamada Lídia, da cidade de Tiatira, vendedora de púrpura,
temente a Deus, nos escutava; o Senhor lhe abriu o coração para
atender às coisas que Paulo dizia. 15 Depois de ser batizada, ela e toda
a sua casa, nos rogou, dizendo: Se julgais que eu sou fiel ao Senhor,
entrai em minha casa e aí ficai. E nos constrangeu a isso”. (At 16,11-
15)
Ainda em Filipos, uma jovem com um espírito de adivinhação que dava muito
lucro aos seus senhores passa a perturbar Paulo e Silas afirmando a todo momento
que eram servos do Deus Altíssimo. Em uma ocasião, Paulo, já enfadado com a
situação, expulsa o demônio da menina, e quando os seus senhores descobrem que
ela não podia adivinhar mais, mandam açoitá-los e prendê-los. Na prisão, mesmo
feridos, Paulo e Silas oram e louvam ao Senhor, e até os outros prisioneiros ouvem.
Perto da meia-noite, um terremoto atinge o lugar, os alicerces se movem e as portas
dos cárceres se abrem. O carcereiro acorda assustado com a situação, mas Paulo o
74
acalma. Então ele se prostra perante Paulo e Silas e decide crer no Senhor Jesus.
Anuncia aos seus familiares e todos se convertem e são batizados no nome de Jesus
Cristo. Diante disso, Paulo e Silas se recusam a sair secretamente como criminosos
comuns. Nisso, pela manhã, os magistrados mandam soltá-los.
De Filipos, os missionários vão para Tessalônica, onde fundam uma Igreja. Eles
expõem, explicam e demonstram a Palavra de Deus, principalmente sobre o plano de
salvação de Cristo. De Tessalônica para Beréia, as pessoas recebem a Palavra de
Deus de bom grado e examinam tudo o que os missionários dizem sobre as Escrituras.
Muitas pessoas passam a crer nas palavras de Paulo e Silas, mulheres gregas da
classe nobre e homens. De Beréia, os dois partem para Atenas, onde Paulo vê que o
povo se encontra entregue à idolatria. Ele decide ir ao Areópago, onde vê um santuário
dedicado “Ao Deus Desconhecido”; Paulo afirma ser esse o Deus que prega. Em
seguida, inicia um sermão, dizendo que Deus fez o mundo, e tudo o que nele há.
Combate a idolatria dos atenienses e afirma que Deus não habita em templos feitos
por mãos humanas. Alguns são tocados e creem nas palavras de Paulo, entre eles
Dionísio e Dâmaris. De Atenas, Paulo vai para Corinto, e ali conhece um judeu
chamado Áquila e sua mulher, Priscila. Eles, todos os sábados, iam nas sinagogas
combater os antigos costumes dos judeus e convenciam muitos judeus e gregos.
Diante disso, alguns judeus que não aceitam as palavras de Paulo o prendem e o
levam a Gálio, o procônsul da Grécia, porém este manda soltarem-no. De Corinto,
Paulo vai para Éfeso, onde prega e deixa Áquila e Priscila cuidando dos irmãos.
Paulo vai à Jerusalém para saudar a igreja de lá e, em seguida volta para
Antioquia, terminando assim a chamada segunda viagem missionária. Essa segunda
viagem alcançou os povos da Europa, principalmente Filipos, Tessalônica e Atenas.
Ali ele pregou o Evangelho e exerceu sua atividade profissional de fazer tendas.
Foi dessa cidade que ele enviou a Epístola aos Gálatas e, provavelmente, um pouco
depois, também enviou as Epístolas aos Tessalonicenses. Paulo também parou
brevemente em Éfeso, e ao partir prometeu retornar em outra ocasião, “Rogando-lhe
eles que permanecesse ali mais algum tempo, não acedeu. 21 Mas, despedindo-se,
disse: Se Deus quiser, voltarei para vós outros. E, embarcando, partiu de Éfeso.” (At
18:20,21)
75
regressando logo depois para Éfeso. Quando deixou Éfeso, Paulo partiu para a
Macedônia. Sendo assim, o resultado das viagens missionárias de Paulo foi
extraordinário. O Evangelho se espalhou consideravelmente. Estima-se que perto do
final do período apostólico, o número total de cristãos no mundo era em torno de
quinhentos mil. Apesar de esse resultado ter sido fruto de um árduo trabalho que
envolveu um enorme número de pessoas, conhecidas e anônimas, o obreiro que mais
se destacou nessa missão certamente foi o Apóstolo Paulo.
Paulo quando chega em Éfeso com seus colaboradores Áquila e Priscila para
continuar a sua viagem, pois, não havia dúvida que Paulo realmente visitou Éfeso e é
altamente impossível que não houvesse aproveitado a oportunidade para a
evangelização.
Segundo Marshall:
Esta visita, porém, foi rápida, e Paulo recusou-se a estendê-la em
função da recepção favorável dada a sua mensagem. Pois Paulo
queria chegar em Jerusalém a tempo para a festa, cf. Atos 20,16;
“Porque Paulo já havia determinado não aportar em Éfeso, não
querendo demorar-se na Ásia, porquanto se apressava com o intuito
de passar o dia de Pentecostes em Jerusalém, caso lhe fosse
possível”. É possível que tenha acertado a verdade. Se a festa era a
páscoa, Paulo deve ter se apressado, pois era curto o período entre o
recomeço da navegação após o inverso e o festival. Desta forma,
Paulo despediu-se com uma promessa no sentido de que voltaria, se
fosse esta a vontade de Deus. às palavras refletem uma formula pagã
retomada pelos cristãos conforme Atos 21,14; “Como, porém, não o
persuadimos, conformados, dissemos: Faça-se a vontade do Senhor!”
e Tiago 4,15; “Em vez disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, não só
viveremos, como também faremos isto ou aquilo.” (MARSHAL, 1999,
p, 283-284)
“Mas Paulo, havendo permanecido ali ainda muitos dias, por fim,
despedindo-se dos irmãos, navegou para a Síria, levando em sua
companhia Priscila e Áqüila, depois de ter raspado a cabeça em
Cencréia, porque tomara voto. 19Chegados a Éfeso, deixou-os ali; ele,
porém, entrando na sinagoga, pregava aos judeus. 20Rogando-lhe eles
que permanecesse ali mais algum tempo, não acedeu. 21 Mas,
despedindo-se, disse: Se Deus quiser, voltarei para vós outros. E,
embarcando, partiu de Éfeso”. (At 18,18-21)
E, desta forma, a missão de Paulo foi muito mais aceita pelos judeus em Éfeso
do que em Corinto a ponto de lhe pedirem para ficar. Rogando-lhe eles que
permanecessem ali mais algum tempo, porque precisava ele de participar da próxima
festa em Jerusalém de qualquer forma, pois se entendia ser esta festa a festa da
Páscoa. Qualquer que fosse o motivo da pressa de Paulo, despedindo-se disse: se
Deus quiser, voltarei para vós outros. E, embarcando, partiu de Éfeso (At 18,21) “Mas,
despedindo-se, disse: Se Deus quiser, voltarei para vós outros. E, embarcando, partiu
de Éfeso”. E, chegando a Cesaréia, o porto principal da Palestina, desembarcou
subindo a Jerusalém e, tendo saudado a Igreja, desceu para Antioquia. “Chegando a
Cesaréia, desembarcou, subindo a Jerusalém; e, tendo saudado a igreja, desceu para
Antioquia.” (At 18,22)
Desta forma, Stott faz suas considerações dizendo que:
A Igreja que saudou ao desembarcar certamente não foi a de
Cesaréia, mas a de Jerusalém, a cerca de cento e quatro quilômetros
o litoral, pois “os termos subir e descer são usados com tanta
frequência para indicar uma viagem para dentro e para fora de
Jerusalém, que esse uso se consagrou” pois, havendo passado algum
tempo em Antioquia, provavelmente do início do verão doa no 52 ao
início da primavera do ano 53, e tendo, sem dúvida, relatado a Igreja
toda a sua segunda viagem missionária, saiu, iniciando aquela que
seria sua terceira e última viagem. Primeiro, ele deve ter ido em
direção ao norte, depois para o oeste, passando pelos Portões da
Cilícia, vencendo a cordilheira de Taurus, atravessando
sucessivamente a região da Galácia e Frígia, confirmando todos os
discipulos cf. Atos 18,23; “Havendo passado ali algum tempo, saiu,
atravessando sucessivamente a região da Galácia e Frígia,
confirmando todos os discípulos”. Isso significa que ele revisitou as
Igrejas de Antioquia da Psídia, Icônio, Listra e Derbe, que ele havia
restabelecido em sua primeira viagem missionária e consolidado na
segunda. (STOTT, 1994, p. 339).
E, Fabris, faz suas afirmações a respeito da terceira viagem de Paulo com sua
chegada a Éfeso, O novo centro da missão de Paulo, depois de Corinto, é a cidade
de Éfeso.
Essa metrópole, capital da província da Ásia Menor e sede do
procônsul romano, devia ser a meta da primeira viagem missionária
78
E Fabris continua afirmando que Paulo, dirigindo-se para a Síria, deixa Corinto
em Companhia de Aquila e Priscila, faz escala no porto Éfeso e ai se detém por alguns
dias. Vai à sinagoga e se põe a discutir com os judeus, que pedem para que fique
mais tempo com eles. Paulo, contudo, se despede da comunidade judaica de Éfeso,
prometendo voltar “se Deus quiser”. (FABRIS, 2008, p. 387)
Em seguida, continua sua viagem até Cesaréia, o porto da Judeia e da Samaria.
Daí sobe para saudar a Igreja de Jerusalém e, depois, desce para Antioquia da Síria.
Entretanto, o casal cristão Áquila e Priscila, permanece é Éfeso, preparando assim de
algum modo o terreno para a próxima missão de Paulo na província da Ásia. De fato,
tendo passado certo tempo na Igreja de Antioquia, ele se pôe de novo em viagem
“percorrendo sucessivamente as regiões da Galácia e da Frígia fortalecendo todos os
discípulos” conforme Atos 18,23: “Havendo passado ali algum tempo, saiu,
atravessando sucessivamente a região da Galácia e Frígia, confirmando todos os
discípulos”. Tem assim a oportunidade de rever e confirmar na fé os pequenos grupos
cristãos que se formaram nas localidades da Anatólia central durante a missão
anterior. Depois de atravessar essas regiões do planalto, Paulo chega finalmente a
Éfeso. (FABRIS, 2008, p. 387)
Não é possível deixar de falar da, importante, figura de Apolo na terceira viagem
de Paulo, pois antes de Lucas retomar a história da volta de Paulo a Éfeso, e da sua
obra ali, inclui um relato da chegada de Apolo naquele cenário.
79
Segundo Marshall, com a ausência de Paulo em Éfeso, Apolo viria a ser uma
figura importante na Igreja em Corinto, e, na realidade, ficou sendo ponto focal
dalguma rivalidade contra Paulo.
lagrimas a cada um de vós”. (At 20,31). É também suposto que, durante este período,
ele tenha feito uma rápida visita e tenha escrito a Primeira Epístola aos Coríntios.
A proposta evangelística de Paulo tinha como objetivo a aplicação de suas
estratégias e metodologias pastorais nos grandes centros urbanos do seu tempo. E,
desta forma, ao abordarmos suas estratégias e seus métodos evangelísticos,
podemos ver o seu entusiasmo, sonho e seu amor pela missão, pois tudo isso tinha
relação com a forma com que Paulo se relacionava com as pessoas e como as
cativava com a sua prática e a sua forma de ensinar. Paulo, não anunciava a si
mesmo, pelo contrário, anunciava a Jesus Cristo, o ressuscitado dentre os mortos.
Para Paulo, ser um seguidor de Jesus era um privilégio e não via isso como mérito,
pois para ele seguir e falar de Jesus exigia abnegação, clareza e coesão.
Segundo Sayão, o Apóstolo Paulo é, sem dúvida, o maior teólogo do
cristianismo:
A sistematização fundamental da fé cristã primitiva tem na figura de
Paulo seu modelo mais importante. Apesar de ter sido um Apóstolo
tardio. E de não ser o autor mais prolífico do Novo Testamento, Paulo
é de fato o primeiro teólogo sistemático cristão, o sentido básico da
palavra. Estamos seguros de que não é demais afirmar que ele foi a
pessoa mais importante da história da fé cristã depois do próprio Jesus
Cristo. Todavia, uma avaliação do pensamento paulino não é tarefa
nada fácil. Muitas questões devem ser enfrentadas no trabalho de tal
envergadura. (SAYÃO, 2009, p.97)
As ações pastorais de Paulo podem ser definidas através da forma como ele
utilizava o seu tempo e se relacionava com as pessoas que colaboravam com ele,
como ele as admirava, incentivavas e as honrava. Seus colaboradores faziam parte
integral dos seus planos em suas propostas evangelísticas, pois Paulo dedicava a sua
vida às missões, ele respirava missões, era um apaixonado pela proclamação da
Palavra de Cristo Jesus
Sayão descreve o que foi a relevância de Paulo dentro da proposta
evangelística a partir de sua conversão,
digna diante de Deus. Desta forma, Paulo nos apresenta sua conduta que é
considerada digna diante de Deus dentro da situação concreta de sua proposta
evangelística em Atos dos Apóstolos.
Paulo se apresenta como modelo para os cristãos. Fabricava tendas deixando
muito clara a sua intenção de não viver às custas dos outros. Seu bem-estar não
deveria ser resultado ou produto da miséria de outros. Isso não precisa ser dito, mas
é evidente que as comunidades, em suas análises, perceberão e saberão dar valor
àqueles que na sociedade vivem assim. Paulo mostra, com isso, o conflito existente
entre trabalho e vida digna, entre a falsa ética do trabalho, patrocinada pelo império,
e a vida reclamada pelo Evangelho. Paulo não quer ser um peso para com os que
convivem com ele. E, assim se prontifica a trabalhar com afinco, propondo assim uma
mudança de paradigma clerical.
Devido ao embate em Atenas, Paulo passa ver a missão a partir de outro prisma
e assim propõe solidariedade uns para com os outros, ou seja, na prática afirma a
necessidade de exercer o amor de um pelo outro e um trabalho construído em novas
relações, isto é, não depender de ninguém. Paulo sabia, por experiência própria, o
que isso significava. Agora aconselhava os seus ouvintes a buscar e praticar uma vida
com base no relacionamento uns com os outros. Pois, a pratica missionária de Paulo
é posicionada através de uma estrutura em que através das dificuldades em algumas
situações vivida por ele em alguns centros urbanos, Paulo, usa sua sabedoria e seu
conhecimento para proclamar o evangelho aos gentios exercendo o seu papel de
ministro dos a estes cuidando para que os gentios, através da mensagem do
evangelho, suas ofertas fossem aceitáveis. Pois à maioria dos interpretes considera
Paulo missionário tanto dos judeus como dos gentios, em parte baseando-se nas
descrições da sua atividade missionária.
É importante ressaltar que Paulo usou em suas ações evangelísticas, algumas
estratégias essenciais na proclamação da mensagem de Cristo Jesus. E, para o uso
destas estratégias ele dirigiu-se aos grandes centros urbanos de sua época, sendo
esses centros situados junto as principais vias comerciais, marítimas e terrestres, pois
grande parte desses centros localizavam-se nas zonas portuárias viabilizando assim
o abastecimento destes centros urbanos. O que movia essas cidades era o fator
econômico, ou seja, o livre comércio e a intensificação do uso da moeda como
elemento de troca que permitiu esse sistema.
83
Paulo nos apresenta uma forma digna, de viver, diante de Deus e resistir às
pressões socioeconômicas. Entre as muitas pressões recebidas, Paulo menciona
aqui, de forma mais acentuada, a de seus concidadãos, os judeus. Um grupo elitizado,
ligado a Jerusalém e à sinagoga. Muitos são comerciantes e consequentemente
detentores de poder e influência. É compreensível que queriam a continuidade e a
manutenção de todo o sistema político, econômico e religioso que os favorecia. Paulo
não esconde o conflito, que já é velho enfrentando-os ao dizer que é uma questão de
raciocínio afirmando que quem foi capacitado para matar Jesus Cristo e os profetas,
é lógico e claro que o perseguirá e, também, os seus seguidores. Desta forma, as
pressões recebidas não são uma novidade. Já vêm de longa data. Por isso, não são
recebidas com surpresa. Antes, podem ser recebidas como consequência do
testemunho dado. Afinal, é natural esperar oposição à nova proposta de vida que
nasce a partir do confronto com o Evangelho.
Paulo também apresenta alguns pontos importantes em suas ações
evangelísticas em Atos dos Apóstolos e, assim se pode começar a abordar o Mistério
da Graça do Evangelho no serviço, ou seja, o que conduzia e mantinha Paulo na
missão era a sua paixão pela mensagem da graça. Ele era um apaixonado pelo
evangelho, e um apaixonado não mede esforços. É capaz de ir até onde for preciso
para alcançar almas sofrendo privações, fome, frio, humilhações e prisões. Paulo
amava o fazia, estava absolutamente certo de sua missão, não exigia qualquer tipo
de pagamento, nem sequer quando estava em situações de dificuldade extrema ele
permitia que as comunidades o ajudassem, exceto quando os irmãos de Filipos, uma
de suas comunidades predileta,
“Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em
todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de
fome; assim de abundância como de escassez; 13 tudo posso naquele
que me fortalece. 14Todavia, fizestes bem, associando-vos na minha
tribulação. 15 E sabeis também vós, ó filipenses, que, no início do
evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja se associou
comigo no tocante a dar e receber, senão unicamente vós outros; 16
porque até para Tessalônica mandastes não somente uma vez, mas
duas, o bastante para as minhas necessidades.” (Fl.4, 12-16).,
É importante entender que a comunidade de Filipos passa por uma tensão
interna. Esse era um problema comum nas primeiras comunidades cristãs. Porém, no
caso de Filipos, acontecia principalmente pela influência externa. A competição em
função do nível social estava em voga. Pois, essa dinâmica era introduzia na
comunidade cristã de Filipos, que não conseguia deixar de ser influenciada pelo
84
Paulo, porém, ao perceber que seu trabalho não avançava, direcionou sua estratégia
começando a reunir pessoas nas suas casas. Jesus gostava de frequentar as casas,
pois às sinagogas e aos templos ia para denunciar e enfrentar as autoridades para
depois se retirar e entrar nas casas, onde ensinava, curava, comia e celebrava com
os excluídos. É numa casa onde Jesus celebra a última ceia, na parte superior dela:
No primeiro dia da Festa dos Pães Asmos, vieram os discípulos a
Jesus e lhe perguntaram: Onde queres que te façamos os preparativos
para comeres a Páscoa? 18 E ele lhes respondeu: Ide à cidade ter com
certo homem e dizei-lhe: O Mestre manda dizer: O meu tempo está
próximo; em tua casa celebrarei a Páscoa com os meus discípulos. 19
E eles fizeram como Jesus lhes ordenara e prepararam a Páscoa. 20
Chegada a tarde, pôs-se ele à mesa com os doze discípulos. (Mt 26,
17-20)
Nas casas as relações não passam necessariamente pelo poder clerical, mas
pela fraternidade, pela irmandade e pela filiação. Paulo gosta de usar a linguagem da
casa quando se dirige às comunidades. É comum vê-lo chamar as pessoas de irmãos,
irmãs, filhos e pais, assim como o próprio Cristo cf. (Jo 13,33): “Filhinhos, ainda por
um pouco estou convosco; buscar-me-eis, e o que eu disse aos judeus também agora
vos digo a vós outros: para onde eu vou, vós não podeis ir”. É também comum vê-lo
pedir que todos se tratem como irmãos e irmãs. Entre os primeiros cristãos, casa, lar
e Igreja se misturavam.
Paulo também apresenta em suas propostas evangelísticas a participação de
leigos na liderança das primeiras comunidades. O cristianismo nascente, na sua
essência, é leigo, nasce dentro do judaísmo como uma seita. Os primeiros seguidores
de Cristo não pertencem ao clero do judaísmo. São pescadores, em sua maioria.
Quando a Igreja primitiva começa a surgir no seu embrião, tendo a sua frente os
apóstolos, entre eles Tiago, Pedro e João, estes não são as autoridades eclesiásticas
responsáveis pela propagação do evangelho. Segundo o livro dos Atos dos Apóstolos
houve uma divergência entre as duas comunidades cristãs em Jerusalém, a dos
hebreus e a dos helenistas. Estes reclamavam que suas viúvas estavam sendo
esquecidas na distribuição diária
“Entretanto, os que haviam sido dispersos iam por toda parte anunciando à
Palavra” (At 8,4). E, assim, segundo os Atos dos Apóstolos, com os cristãos helenistas
nascem às comunidades cristãs. E as comunidades vão dando o contorno à Igreja.
Ou seja, os cristãos que se dispersaram, encontraram culturas e religiosidades
diferentes. Isto é, a mensagem de Jesus não veio pronta, mas foi sendo gerada, de
acordo, com as culturas aonde os dispersos chegavam. Sendo assim, as lideranças
leigas tiveram papel decisivo na formação da Igreja primitiva. Paulo foi um dos seus
principais promotores. Pode-se afirmar que contar com leigos e leigas foi uma de suas
principais estratégias pastorais. Paulo andava sempre com muitas pessoas, deixava-
se ajudar por elas na missão, valorizava seu trabalho, incentivava-as e dividia as suas
responsabilidades. Silas, Barnabé, Timóteo, Dâmaris, Tabita e Lídia e o casal Priscila
e Áquila estão entre os seus principais companheiros e companheiras de caminhada.
Em suas cartas, sempre faz questão de saudar muitas lideranças, mencionando seus
nomes. A carta aos Romanos apresenta uma lista de trinta pessoas saudadas por
Paulo (Rm. 16,1-16).
elas uma mulher de nome Febe. Ela é diaconisa da Igreja de Cencreia e é enviada
por Paulo para expor e debater, em seu lugar, o conteúdo da carta com a comunidade.
Na lista ainda chama a atenção um casal, Andrônico e Júnia. Eles são os apóstolos
que antecederam Paulo na fé e foram seus companheiros de prisão.
Paulo ainda apresenta em suas ações evangelísticas em Atos um projeto
alternativo a comunidade cristã, sendo um divisor de águas na ação pastoral de Paulo
e em suas propostas, ou seja, Paulo insiste que no que a comunidade cristã deve
construir um projeto alternativo. Pois, enquanto o modelo do império exclui,
marginaliza, escraviza, divide a sociedade em classes, prioriza o lucro, a luta pelo
poder e o nível social, a comunidade cristã deveria inserir, integrar, partilhar, promover
a igualdade social, a fraternidade, a solidariedade e o amor.
Para Paulo, está muito óbvio que a proposta alternativa do evangelho do Cristo
Crucificado por essas novas relações sociais. Paulo, inclusive, exige uma ruptura com
a sociedade opressora e corrupta. A comunidade de Corinto passava por rixas
internas, e por isso alguns membros denunciavam os seus próprios irmãos nos
tribunais injustos da cidade. “Entretanto, vós, quando tendes a julgar negócios
terrenos, constituís um tribunal daqueles que não têm nenhuma aceitação na igreja.”
(Co 6, 4). Como um tribunal corrupto pode julgar a causa dos santos? Paulo diz à
comunidade que rompa com esses tribunais e ela mesma escolha pessoas entre os
seus para julgar as causas da comunidade.
Por fim, Paulo apresenta a comunidade cristã e parte da sociedade a Ceia do
Senhor, concluindo assim as suas ações de evangelismo em Atos dos Apóstolos, pois,
na Ceia do Senhor todos os membros da comunidade participavam sem distinção e
preferência. Mesmo os que não tinham com que contribuir, como os mais pobres, os
escravos, também sentavam à mesa e partilhavam do alimento, pois por influência de
parte desta sociedade, algumas pessoas da comunidade, que tinham melhores
condições, não queriam participar com os demais e comiam sua própria ceia à parte.
Paulo critica duramente essa atitude, pois a Ceia do Senhor é o momento alto em que
a comunidade vive já a plenitude da fraternidade, da partilha e da fé e todas as
diferenças sociais que devem desaparecer. Por isso Paulo insiste para que os cristãos
não participem dos banquetes oferecidos aos ídolos (1ª Cor.10,14-22).
Para Paulo, se a Ceia do Senhor é a expressão máxima do projeto da
solidariedade e do amor anunciado por Jesus Cristo, os banquetes aos ídolos são a
expressão máxima do sistema opressor que matou Jesus Cristo e persegue às
88
Para Paulo e Silas, Tessalônica parece ser um terreno fértil para o Evangelho.
O cristianismo cresce e se desenvolve. Ali os extremos coexistem. Produzem-se
muitas riquezas, que têm como consequência muita pobreza e marginalização. A
proposta cristã não defende e nem reproduz esta lógica. Nesse sentido, ela é
alternativa. Parece que está exatamente ali o grande desafio dos cristãos: levar uma
proposta alternativa para além dos próprios muros. Pois, na luta para pregar as boas
novas em Tessalônica, Paulo e seu companheiro de viagem Silas ao chegarem a
Tessalônica estavam na segunda viagem missionária de Paulo, e essa era a primeira
oportunidade que tinham de levar as boas novas de Cristo à região hoje conhecida
como Europa.
89
Paulo e Silas não param nem em Anfípolis e nem em Apolônia. Pois eles não
encontraram ali um ponto de apoio como um local para se reunirem onde poderiam
se encontrar com os pagãos adeptos e apreciadores do judaísmo.
Sem dúvida, os dois missionários, ainda se lembravam bem de seu
espancamento e prisão em Filipos, principal cidade da Macedônia. De fato, Paulo mais
tarde disse aos tessalonicenses que, depois do que haviam passado em Filipos,
pregar as boas novas de Deus na cidade deles exigiu muita luta. Mas vamos nos
concentrar agora na visita de Paulo, quando a luta para pregar as boas novas nessa
cidade começou. Mas como os seus ouvintes poderiam aprender esta nova
mensagem que era muito profunda? Através de uma produtiva pregação, certo de
algumas dificuldades que apareceriam durante a caminhada.
90
Marshall também corrobora com o texto acima dizendo que mesmo com a
missão sendo bem-sucedida em Tessalônica, quando estes pregavam nas sinagogas
judaicas ganhando convertidos judeus e os aderentes gentios, porém, quando
apareceram os problemas que originaram da inveja dos judeus não se referia ao
sucesso de Paulo entre os gentios, e, por não conseguirem prender Paulo por esta
acusação levaram seus amigos diante das autoridades e o acusaram de traição.
Marshall confirma que:
Fabris volta a repetir o que outrora havia ocorrido nas outras cidades da
diáspora judaica, volta a acontecer em Tessalônica,
92
Esta acusação feita a esses homens foi realizada, de certa forma, perigosa,
pois adquiria uma conotação política como aquela que levou Jesus a condenação
diante de Pilatos.
A mensagem de Paulo na sinagoga, dizendo que o Messias é aquele Jesus
que foi condenado a morte e ressuscitado por Deus, pode derivar para uma acusação
com conotações suspeitas em relação a autoridade romana.
É interessante abordar como Paulo encerra sua carta, pois além da oração da
bênção, Paulo exorta os destinatários cristãos a se cumprimentarem mutuamente:
“Saúdem todos os irmãos com o beijo santo”. E antes da tradicional despedida, faz
um último e caloroso convite: “Peço-lhes encarecidamente que esta carta seja lida a
todos os irmãos” (1 Ts 5.26-27). Essas palavras de Paulo abrem uma fresta sobre a
organização e os relacionamentos internos daquela que é chamada de “a Igreja dos
tessalonicenses que está em Deus Pai e no Senhor Jesus Cristo.” (1ª Ts 1.1).
Segundo Fabris, para eles terem à disposição a carta ou várias pequenas
cartas enviadas por Paulo, talvez já tenham sido feitas cópias em Tessalônica. Elas
estão na origem do processo que levará à formação do epistolário paulino. (2008,
p.325)
apresentar a sua nova doutrina no areópago, que em outras épocas foi o tribunal de
Atenas, mas nesse momento, ao que parece, se tornou um espaço de debates
filosóficos e religiosos. Paulo, fundamentando bem os seus argumentos, inicia o seu
discurso diante dos magistrados. No entanto, sua estratégia de convencer os cidadãos
atenienses em seu terreno e fazendo uso de suas convicções filosóficas não dá
resultado. Nem lhe permitem terminar o discurso.
Foi um fracasso. Frustrado com Atenas, Paulo se dirige à cidade de Corinto e
vai morar com o casal Priscila e Áquila, exercendo a mesma profissão que eles:
Em Atenas, Paulo queria ser filósofo; em Corinto, vai ser fabricante de tendas.
E, desta forma, Paulo tendo aprendido a lição em Atenas, em Corinto ele não se
apresenta com o domínio da oratória ou da sabedoria para proclamar a Boa Nova do
Evangelho. Sua mensagem nada tinha a ver com o discurso persuasivo da sabedoria
que quis usar em Atenas a fim de que a fé da comunidade não se fundasse sobre a
sabedoria dos homens, mas sobre o poder de Deus. Em Corinto, diferentemente do
ocorrido em Atenas, muitos acolhem e entendem a mensagem de Jesus crucificado.
Ali, Paulo consegue organizar uma grande comunidade, algo que não conseguiu em
Atenas. Obviamente, nessa comunidade, não há muitos sábios segundo a carne, nem
muitos poderosos ou de famílias de prestígio, pois, diz Paulo, o que é loucura no
mundo Deus escolheu para confundir os sábios, e o que é fraqueza no mundo Deus
escolheu para confundir os fortes.
Segundo Bosch:
Da Macedônia a Acaia, Paulo empreende uma longa viagem por mar
de mais de quinhentos quilômetros sem evangelizar em nenhum lugar.
Ia em busca dos grandes centros, a partir dos quais a Boa Nova
irradiaria quase automaticamente por todo o território. Deve ter
chegado a Atenas, cansado e ansioso de conseguir êxitos apostólicos
que compensassem tanto esforço. (BOSH, 1997, p. 133)
O Areópago de Atenas era um lugar a céu aberto num topo rochoso onde o
senado se reunia. Paulo, enquanto aguardava a chegada de Silas e Timóteo; seus
colaboradores de evangelização; passou a reparar os inúmeros templos, estátuas e
altares que o rodeavam, e não pôde se conter: tratou de ir à sinagoga local, e à praças,
onde procurava oportunidade para pregar, pois os frequentadores do Areópago eram
nobres intelectuais chamados areopagitas. É surpreendente imaginar como o Espírito
Santo capacitou Paulo a discursar no Areópago diante de um povo tão ligado à
idolatria. Havia também na cidade, supersticiosos, intelectuais, poetas, e seguidores
de várias correntes filosóficas e éticas dos quais se destacavam os epicureus e
estoicos com quem Paulo teve que se confrontar.
Porém, Bruce, afirma que alguns temas desse discurso já apareceram num
resumo do protesto de Barnabé e Paulo perante os moradores de Listra que se
preparavam para lhes prestar honras divinas, mas a Areopagítica é mais completa,
mais detalhada e adaptada ao ambiente intelectual de Atenas. (BRUCE, 2008, p.230)
Paulo tinha pleno entendimento de que o evangelho não deveria ser pregado à
toa, mas a todos. Mais tarde, Paulo mesmo escreveu aos colossenses: “Portai-vos
com sabedoria para com os que são de fora; aproveitai as oportunidades. A vossa
palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para saberdes como deveis
responder a cada um” (Cl 4:5-6).
Segundo Bruce, Lucas conta que Paulo viu os templos, altares e imagens de
Atenas com os olhos de alguém que foi criado no espírito do monoteísmo judaico e
do princípio de não fazer imagens, do segundo mandamento do decálogo. Para ele:
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No segundo aspecto, Carson afirma que, assim como nós, Paulo não estava
lhe dando com pessoas que, pelo fato de serem analfabetos em Bíblia, não tinha
nenhuma cosmovisão, e sim com pessoas que argumentava veementemente em
100
E, assim, Carson faz uma análise de nove características dessa estrutura que
Paulo estabelece.
Primeira característica, Deus é o criador do “mundo e [de] tudo que nele há”
(v.24). Até que ponto ele se estendeu sobre essa questão não podemos dizer com
certeza, mas sabemos por seus outros escritos como sua mente funcionava. Segundo
Carson:
A Criação estabelece que Deus é diferente da ordem criada; o
panteísmo está descartado. Estabelece também a responsabilização
humana; devemos tudo ao nosso Criador, e desafiá-lo e colocarmo-
nos como centro do Universo é o cerne de todo pecado. Pior, estimar
e adorar coisas criadas em vez do Criador é a essência da idolatria.
(CARSON, 2016, p. 427)
O Deus que ele tem em mente “não está longe de cada um de nós”
(v.27). Ele é imanente. Paulo não aceitará nenhuma desconfiança de
que Deus seja displicente ou indiferente em relação as pessoas; ele
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nunca está longe de nós. Mas ainda, o apóstolo reconhece que parte
dessa verdade é reconhecida por algumas religiões pagãs. Quando o
pensamento grego (ou grande parte dele) falava em um “Deus” em
oposição a muitos deuses, com grande frequência a hipótese era mais
ou menos panteística. Essa estrutura de pensamento Paulo já
descartou. Mesmo assim, algumas de suas ênfases não estavam,
erradas, se consideradas dentro de uma estrutura melhor. Nós
vivemos, nos movemos e temos nosso ser neste Deus, e somos sua
geração (v.28) – para Paulo, não em um sentido panteístico qualquer,
mas como expressão da preocupação pessoal e imediata de Deus
com o nosso bem-estar. (CARSON, 2016, p. 429)
ciência, de modo semelhante a meta narrativa é a grande história que explica todas
as outras.
que, não podendo suportar mais o cuidado por vós, pareceu-nos bem ficar sozinhos
em Atenas;” (1ª Ts 3,1), o autor dos Atos dos Apóstolos foi o primeiro a amplificar a
recordação da estadia do apóstolo em Atenas, decorando-a com a grandiosa em bem
conhecida cena que culmina com o discurso no Areópago e que devia representar, de
maneira digna do nome ilustre da cidade, coração do espírito grego, o encontro solene
da mensagem cristã com os representantes do saber e cultura da Antiguidade.
Lucas soube dar expressão também ao genius loci da cidade e transmitir ao
leitor uma vívida impressão da atmosfera cultural e religiosa que ali reinava: dos seus
templos e imagens divinas, das suas escolas filosóficas e do seu público
proverbialmente curioso, ávido de saber, amante da discussão, mas também
sarcástico e petulante. (BORNKAMM, 2009, p.130)
Atenas ele não sofrera violência, mas a gentileza divertida com que
tinham recebido o seu testemunho lá, talvez tivesse sido mais difícil de
aceitar do que a violência; pelo menos a violência demonstrava que
algum impacto fora causado. No que dizia respeito aos efeitos
positivos da sua pregação, Atenas fora bem menos encorajadora do
que as cidades da Macedônia. Assim ele chegou a Corinto, diz ele,
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“em fraqueza, temor e grande tremor” cf. 1ª Coríntios 2,3. Não havia
motivos para supor que Corinto lhe oferecia menos problemas do que
as cidades da Macedônia. Qualquer viajante no mundo egeu daqueles
dias devia saber da reputação da cidade; ela, certamente, não era um
solo preparado para a semente do evangelho. No fim, Paulo passou
dezoito meses em Corinto – mais tempo do que em qualquer outra
cidade, desde que partira em companhia de Barnabé de Antioquia da
Síria – e, quando partiu, havia ali uma Igreja grande e forte, apesar de
instável. (BRUCE, 2008, p. 241)
Para Fabris, com exceção de um pequeno grupo de convertidos, que se reúne
em torno de Dionísio e da senhora Dâmaris, não surgiu em Atenas nenhuma
comunidade cristã organizada.
decretado que todos os judeus saíssem de Roma” cf. Atos 18, 2: “Lá,
encontrou certo judeu chamado Áquiila, natural do Ponto,
recentemente chegado da Itália, com Priscila, sua mulher, em vista de
ter Cláudio decretado que todos os judeus se retirassem de Roma.
Paulo aproximou-se deles.” (FABRIS, 2008, p. 358).
Desta forma, Paulo encontra o casal romano Áquila e Priscila em Corinto e
hospeda na casa deles, sendo este o primeiro contato com o casal judeu-cristão em
Corinto, pois esse contato acontece graças ao trabalho que permite a Paulo se
sustentar. Segundo Fabris:
Segundo Bruce a primavera de 52 d.C. Paulo saiu de Corinto com seus amigos
Priscila e Áquila e atravessou o mar Egeu até Éfeso. Segundo Bruce:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BÍBLIA de estudo de Genebra - São Paulo: Editora Cultura Cristã; Sociedade Bíblica
do Brasil, 2009.
BOFF, Lina. Espírito e Missão na Obra de Lucas - Atos. - São Paulo : Paulinas, 1996.
BORNKAMM, Günther. Paulo, Vida e Obra. Santo André : Academia Cristã, 1997.
BOSCH, Jordi Sánchez. Nascido a Tempo, Vida de Paulo, o Apóstolo. São Paulo :
Ave Maria Edições, 1997.
BRUCE, F.F. Paulo, O Apostolo da Graça, sua Vida, Cartas e Teologia. São Paulo :
Ed. Shedd, 2003.
CONGAR, Y. Credo nello Spirito Santo. Egli è Il Signore E Dà La Vita. Lo Spirito come
Vita. Brescia : Queriniana , 1982. - Vol. I.
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DUPONT, J. Estudos Sobre os Atos dos Apóstolos. Col. Bíblica, São Paulo : Ed.
Paulinas, 1974.
__________. Teologia della Chiesa Negli atti degli Apostoli. Coll. Studi
Biblici. Bolonha : Dehoniane, 1984.
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STÄHLIN, G. Gli Atti Delli Apostoli, Ediz. Italiana a Cura di Enzo Gatti. Brescia :
Paideia, 1973.