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Programas de código aberto são softwares que qualquer programador pode fuçar,

mexer, revirar. Quando são programas populares – o sistema operacional Linux é o


exemplo mais evidente –, existem muitos programadores trabalhando e checando uns os
trabalhos dos outros o tempo todo. O resultado é que tornam-se programas mais seguros
por terem sido melhor testados.

Para programas populares, é uma fórmula eficiente. Para softwares de código aberto que
contam com poucos programadores empenhados no desenvolvimento, isso já não é tão
verdade. A publicação do código fonte, portanto, pode trazer segurança. Mas não é
garantia.

O Microsoft Windows não é um programa de código aberto. Ao contrário: seu código


fonte é secretíssimo. Também é um software mais mal do que bem escrito. É injusto que
ponham a culpa da insegurança do Windows no fato de ser código proprietário. É
código ruim porque os padrões de qualidade da Microsoft são notadamente frouxos.

Outras software houses produzem bons programas fechados.

O código do Windows pode ser fechado. Mas a plataforma é aberta. Ou seja: qualquer
um pode escrever programas para o universo Windows. Alguns bons, outros nem tanto.
Alguns de código aberto, outros fechados.

O Google está construindo para si uma plataforma aberta.

Muito se pode fazer usando ferramentas livres da trupe de Mountain View – seja com o
Google Maps, com o Gmail cada vez mais incrementado, com a suíte de programas
Docs. O Google usa em seus servidores o sistema livre Linux muito adaptado para
aguentar o tranco de acesso vindo de todas as partes do mundo. Se o Linux não fosse
aberto, os engenheiros do Google não poderiam tê-lo adaptado para suas necessidades
particulares.

Mas isso não quer dizer que tudo no Google seja aberto.

Pergunte qual a fórmula de sua busca e a resposta será: segredo de Estado. Pergunte
quais critérios decidem a escolha de manchetes e subs no GoogleNews e os engenheiros
de Mountain View farão ouvidos moucos. O que determina quais imagens vêm do
Google Images? Silêncio. Seus algoritmos são fechados. Não temos a liberdade de dar
uma olhada para dizer se os critérios são justos ou não.

É um bocado de poder para uma empresa só: os critérios fechados do Google decidem
quem é visto e quem não é visto na internet.

O argumento do Google é, de certa forma, um argumento que apela para a segurança.


Se seus critérios forem abertos – conhecidos por todos – qualquer um poderá manipular
seus sites para ganhar relevância, deturpando os resultados. Um algoritmo fechado dá
‘segurança’ para os usuários de que ninguém manipulará o sistema. (O raciocínio não
funciona de todo: por experiência e erro, um bocado já foi aprendido e muitos sites já
manipulam os resultados de busca.)

O que é ser aberto e ser fechado?


A base do sistema operacional da Apple tem o código aberto. Um Unix como o Linux.
A camada da interface gráfica por cima, fechada.

Quando a Apple sugere que sua plataforma móvel será fechada, não se refere apenas aos
códigos. É mais que isso: nem todo mundo poderá colocar um software ali. Eles serão
previamente avaliados pela Apple. É fechado em todos os sentidos.

A web é aberta. Qualquer um pendura um computador nela, constrói um sistema, usa


seus cabos como bem entende. Há mecanismos de segurança robustos o suficiente para
mantê-la no ar. Há uma vantagem clara: cria-se, e cria-se muito na internet. Porque ela é
livre. Mas como quem cria tem intenções às mais variadas e capacitação técnica das
mais diversas, a segurança na rede varia.

Dentre seus pontos frágeis estão as botnets. Redes de robôs. Aproveitando-se de


fragilidades do Windows, sites com más intenções implantam em computadores
programas espiões. Sua missão é ficar ocultos. Quando ativados remotamente, em
bando, podem desferir um ataque a um site. Ou tentar burlar a segurança de outro. O
pobre dono do computador contaminado sequer desconfia que seu computador
conectado à rede faz parte de uma ação criminosa. Mas ele apenas acha que comanda
seu computador. Alguém a continentes de distância tem o controle.

No momento em que a rede for para o celular de todos, e não estamos a muita distância
disto, há um dilema sob a mesa.

De um lado, uma plataforma aberta. Todo mundo instala o que quiser. A vantagem é
criativa.

Do outro, uma plataforma fechada. Uma empresa, uma organização, decide o que entra
e o que não entra. A vantagem é um filtro contra, por exemplo, botnets.

Só porque a plataforma é fechada, não quer dizer que nela não possa entrar um software
de código aberto. Coisas distintas.

Mas há um raciocínio que não fiz no último post e que aponta para uma terceira via.
Uma solução que não polariza.

Boa parte da fragilidade da internet está concentrada na plataforma Windows. Mas o


Windows não é ruim por ser fechado. Tampouco é ruim porque os engenheiros da
Microsoft sejam incompetentes. (Não são.) É ruim porque as prioridades da Microsoft
têm mais a ver com marketing e vendas de produto do que com acabamento de
software.

Isto tampouco quer dizer que o sistema da Apple ou o Linux sejam seguros. (Se é
digital, por definição terá falhas de segurança.) Eles são apenas menos atacados. O
Windows é mais atacado, e o Explorer é mais atacado, porque são mais comuns.

Não é diferente com biologia.

Se, numa floresta, um vírus que ataca micos varre boa parte da população destes, araras,
capivaras ou jaguatiricas continuam de pé. Variedade de espécies mantém a vida.
Biodiversidade é bom. Se tivéssemos uma população de browsers e de sistemas
operacionais mais variada, teríamos uma internet mais segura. Uma fragilidade
descoberta num sistema não poria a rede em risco, afetaria menos máquinas.

A monocultura contribui para a insegurança.

Se a plataforma móvel da Apple for bastante forte, e a do Google também, se RIM (do
Blackberry) conseguir se sustentar importante e, de repente, até o Windows Mobile se
segurar num ambiente em que cada um tem mais ou menos um quarto do mercado,
talvez aí tenhamos uma rede móvel mais segura.

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