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Já à várias décadas que Haydn compunha sinfonias e já tinha provado ser um

mestre da fuga, contraponto e harmonia, mas foi durante as suas duas digressões
a Londres que compôs as sinfonias que refletem um compositor no pleno domínio
das suas capacidades como compositor de música orquestral.

O seu tipo de escrita ficou caraterizado pelo vasto uso de crescendos,


acentuações, dinâmicas abruptas, modulações, uso de cromatismos que refletem
uma grande capacidade criativa e um grande domínio de toda uma estética
musical capaz de provocar reações e emoções no público. Tendo em conta que o
público alvo pertencia à classe média londrina, passa a por de parte o material
temático mais heróico e passa a utilizar temas mais folclóricos, danças e hinos
mais cativantes para o público - isto acontecia tanto nas secções lentas como em
allegros.

Durante as duas digressões a Londres Haydn compôs 12 sinfonias. Que de um


modo sucinto se podem dividir da seguinte forma a nível estético:

Nº 93,95,96: Procura através da estética cativar o público

Nº 94, 97 e 98: Começa a introduzir uma maior complexidade nas suas


composições.

Nº 99, 100, 101: Combina o popular com um formato mais complexo.

Nº 102,103,104: Atinge a maior complexidade possível dentro deste grupo de


sinfonias e instrumentação.

Um desses exemplos da capacidade de Haydn de provocar reações é uma das


suas sinfonias mais conhecidas, a sinfonia nº94 em sol M, conhecida como a
“sinfonia surpresa”. Haydn começou a aperceber-se que durante os seus
concertos, grande parte do público costumava adormecer durante a performance.
Para resolver esta questão o compositor decidiu escrever uma sinfonia que
incorporava uma secção de metais e tímpanos bastante potente tendo em conta o
contexto orquestral da época. Para criar um efeito surpresa no público ele
escreveu um início da obra bastante calmo e piano e introduz mais tarde uma
mudança abrupta de contexto e dinâmica na tentativa de fazer o público
adormecido acordar. Pode-se considerar que o recurso a dinâmicas abruptas
influenciou a escrita de compositores que o precederam, nomeadamente
Beethoven.

Existem ainda outras sinfonias que também são apelidadas pelo uso de recursos
como estes:

- Sinfonia nº96 “milagre” - o apelido não está relacionado com nenhum recurso
estético. Pensa-se que foi apelidada porque um candeeiro caiu do teto durante a
estreia e o público consegui com sucesso desvia-lo sem haver vítimas.

- Sinfonia nº100 “militar” cujo nome deriva do segundo andamento e do final que
contém fanfarras constituídas por percussão e trompetes em dó.

- Sinfonia nº101 “relógio” devido ao segundo andamento que contém uma


pulsação bastante marcada.

- Sinfonia nº103 “o rufar dos tambores” devido ao grande rufar nos tímpanos com
o qual a peça se inicia.

- A sinfonia nº104, a última das sinfonias de Londres pensa-se que recebe o nome
de forma um pouco arbitrária tendo em conta que todas as sinfonias foram
compostas para as digressões a Londres.

Uma típica sinfonia de Haydn, na forma sonata, contém quatro andamentos.


Geralmente o primeiro andamento é rápido e com caráter vivo mas costuma
conter uma introdução lenta. O segundo andamento costuma ser lento e com um
caráter mais “sombrio”, geralmente um andante ou Alegretto. O terceiro
andamento é geralmente um Minuetto, por vezes com uma secção trio. O quarto
andamento é rápido e de caráter alegre e conclusivo.

Não existem dúvidas que este período das sinfonias londrinas foi fulcral para
demonstrar a sua proficiência como compositor que tinha apenas como rival a do
jovem Mozart que além de ter uma relação de amizade com o compositor chegou
a sugerir e partilhar ideias e técnicas de composição. Haydn chegou a admitir a
superioridade de Mozart no que tocava à escrita operática. A influência de Haydn
é bastante evidente na obra de Mozart, na sua sinfonia K.543 utiliza um tema na
abertura a 3/4 seguido de um tema calmo, leve e vocal raro nas aberturas das
suas sinfonias que é uma das características evidentes da sinfonia de Paris de
Haydn nª85 “La Reine”. Foi o Requiem de Mozart que foi tocado no funeral de
Haydn.

Embora atualmente as obras de Haydn não sejam tão tocadas como as dos seus
contemporâneos talvez devido à sua natureza não tão complexa, no entanto a
originalidade das suas obras é inquestionável tal como todo o caminho, em
termos de estilo, técnicas de composição e uso de instrumentos que deixou,
culminam aqui numa musica instrumental e eminentemente clássica que deixou
em aberto para compositores que o precederam. Pode considerar-se que as
sinfonias de Londres de Haydn assinalam simultaneamente o ponto de partida
para o legado sinfónico de Beethoven sendo que Haydn foi um mentores que mais
influenciou a sua escrita.

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