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ASSUNTOS GERAIS

DIRETRIZES CURRICULARES PARA OS CURSOS DE QUÍMICA*

César Zucco
Departamento de Química - Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) - Campus Universitário -Trindade - 88.040-900 -
Florianópolis - SC
Francisco B. T. Pessine
Instituto de Química - Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) - CP 6154 - 13.083-970 - Campinas - SP
Jailson B. de Andrade
Instituto de Química - Universidade Federal da Bahia (UFBA) - Campus Universitário de Ondina - 40.170-290 - Salvador - BA

Recebido em 8/4/99

CURRICULAR DIRECTIONS FOR UNDERGRADUATE CHEMISTRY COURSES. As a result of


a number of discussions on the quality of undergraduate courses in Brazilian universities, curricu-
lar directions have been proposed. We present herein the curricular directions for the Chemistry
courses with respect to basic, professional and complementary contents and extra-class activities.

Keywords: undergraduate chemistry; undergraduate courses in Brazil.

APRESENTAÇÃO vivencial, veloz e mutante, a universidade brasileira precisa


repensar-se, redefinir-se, instrumentalizar-se para lidar com um
As discussões e diretrizes contidas neste texto foram elabora- novo homem de um novo mundo, com múltiplas oportunidades
das em atendimento à nova Lei de Diretrizes e Bases da Educa- e riscos ainda maiores. Precisa, também, ser instrumento de
ção Nacional promulgada em 1996 (Lei 9.394/96) e do Edital no ação e construção desse novo modelo de país.
04/97 da Secretaria de Educação Superior do MEC, os quais A percepção desta nova realidade – hoje freqüentemente
estabelecem que os currículos dos cursos superiores precisam retratada pela mídia – evidencia-se pelas questões e discussões
ser revistos, considerando o fim da exigência de currículo míni- em curso no seio das próprias universidades, nas entidades li-
mo e a necessidade de uma flexibilização curricular que, sem gadas à educação e nos setores de absorção do conhecimento e
prejuízo de uma formação didática, científica e tecnológica só- dos profissionais gerados pela universidade. É consenso entre
lida, avance também na direção de uma formação humanística professores, associações científicas e classistas, dirigentes de
que dê condições ao egresso de exercer a profissão em defesa da políticas educacionais e mesmo no geral da população instruí-
vida, do ambiente e do bem estar dos cidadãos. da que, diante da velocidade com que as inovações científicas
e tecnológicas vêm sendo produzidas e necessariamente absor-
1. INTRODUÇÃO vidas, o atual paradigma de ensino – em todos os níveis, mas
sobretudo no ensino superior – é inviável e ineficaz.
No limiar deste novo século – e novo milênio – emerge Os currículos vigentes estão transbordando de conteúdos
uma nova subjetividade, um sentimento coletivo, generalizado, informativos em flagrante prejuízo aos formativos, fazendo com
mundializado, traços de uma nova cultura em formação, de um que o estudante saia dos cursos de graduação com “conheci-
novo momento histórico – a que muitos denominam pós-mo- mentos” já desatualizados e não suficientes para uma ação
dernidade – caracterizado pela economia pós-industrial, pela interativa e responsável na sociedade, seja como profissional,
compreensão do homem como um ser pluridimensional, pelo seja como cidadão.
estabelecimento de novas concepções de limites, distâncias e Diante dessa constatação, advoga-se a necessidade de criar
tempo, pelo sentimento de responsabilidade em relação aos um novo modelo de curso superior, que privilegie o papel e a
recursos naturais, pela busca de qualidade de vida. E repetin- importância do estudante no processo da aprendizagem, em que
do, em outra dimensão, os movimentos de vanguarda do início o papel do professor, de “ensinar coisas e soluções”, passe a
do século XX, também agora, na base desta nova realidade, ser “ensinar o estudante a aprender coisas e soluções”. Mas
está a velocidade (não mais a mecânica, mas a eletrônica) com como materializar este “ensinar a aprender”?
que têm sido gerados novos conhecimentos científicos e tecno- Nas discussões de diretrizes curriculares, em decorrência das
lógicos, rapidamente difundidos e absorvidos pelo setor produ- mudanças encetadas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educa-
tivo e pela sociedade em geral. ção Nacional (Lei 9.394/96), observam-se tendências que de-
Como produtora de saber e formadora de intelectuais, do- monstram preocupação com uma formação mais geral do estu-
centes, técnicos e tecnólogos, a universidade contribui para a dante, com a inclusão, nos currículos institucionais, de temas
construção contínua do mundo e sua configuração presente. que propiciem a reflexão sobre caráter, ética, solidariedade,
Por outro lado, sua amplitude e abrangência organizacional e responsabilidade e cidadania. Prega-se, igualmente, a abertura
possibilidade de ação resultam do modelo de país no qual se e flexibilização das atuais grades curriculares, com alteração
insere e das respectivas políticas educacionais. Assim, verifi- no sistema de pré-requisitos e redução do número de discipli-
cado este novo momento histórico, esta nova complexidade nas obrigatórias e ampliação do leque de possibilidades a par-
tir do projeto pedagógico da instituição que deverá, necessari-
amente, assentar-se sobre conceitos de “matéria” e “interdisci-
* Elaboradas pela Comissão de Especialistas de Ensino de Química, de- plinaridade”. Pensa-se, igualmente, em fazer uso responsável
signada pelo Secretário de Ensino Superior do Ministério da Educação da autonomia acadêmica, flexibilizando os currículos às
e do Desporto através da Portaria 146 de 10 de março de 1998. especificidades institucionais e regionais e permitindo que cada
czucco@qmc.ufsc.br; fpessine@iqm.unicamp.br; jailsong@ufba.br estudante possa fazer escolhas para melhor aproveitar suas

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habilidades, sanar deficiências e realizar desejos pessoais. Além 2.1. Bacharelado
disso, já não se pensa em integralização curricular apenas como
resultado de aprovação em disciplinas que preencham as fases • Bacharelado em Química
ou horas-aulas destinadas ao curso. O estudante deve ter tempo • Bacharelado em Química Industrial
e ser estimulado a buscar o conhecimento por si só, deve par- • Bacharelado em Química Tecnológica
ticipar de projetos de pesquisa e grupos transdisciplinares de
trabalhos, de discussões acadêmicas, de seminários, congressos 2.1.1. Competência formal
e similares; deve realizar estágios, desenvolver práticas exten-
sionistas, escrever, apresentar e defender seus achados. E mais: O Decreto-lei no 5.452/43 (CLT), nos art. 325 a 351 dis-
aprender a “ler” o mundo, aprender a questionar as situações, corre sobre o exercício da profissão de Químico, direitos e
sistematizar problemas e buscar criativamente soluções. Mais deveres. O exercício da profissão do Bacharel em Química é
do que armazenar informações, este novo profissional precisa regulamentado pelo Decreto no 85.877 de 07/04/1981 que es-
saber onde e como rapidamente buscá-las, deve saber como tabeleceu normas para a execução da Lei no 2.800 de 18/06/
“construir” o conhecimento necessário a cada situação. Assim, 1956 (que cria o CFQ e os CRQs e dispõe sobre a regulamen-
as diretrizes curriculares devem propiciar às instituições a ela- tação da profissão do Químico). A Resolução Normativa CFQ
boração de currículos próprios adequados à formação de cida- n o 36 de 25/04/74, publicada no DOU de 13/05/74, “dá atri-
dãos e profissionais capazes de transformar a aprendizagem buições aos profissionais da Química” e elenca as atividades
em processo contínuo, de maneira a incorporar, reestruturar e desses profissionais:
criar novos conhecimentos; é preciso que tais profissionais 1. direção, supervisão, programação, coordenação, orientação
saibam romper continuamente os limites do “já-dito”, do “já- e responsabilidade técnica no âmbito de suas atribuições
conhecido”, respondendo com criatividade e eficácia aos desa- respectivas;
fios que o mundo lhes coloca. 2. assistência, assessoria, consultoria, elaboração de orçamen-
Mas para que esses novos currículos, montados sobre este tos, divulgação e comercialização no âmbito das atribui-
novo paradigma educacional, sejam eficazes, há que haver, ções respectivas;
igualmente, uma mudança de postura institucional e um novo 3. vistoria, perícia, avaliação, arbitramento de serviços técni-
envolvimento do corpo docente e dos estudantes. Já não se cos, elaboração de pareceres, laudos e atestados, no âmbito
pode aceitar o ensino seccionado, departamentalizado, no qual das atribuições respectivas;
disciplinas e professores se desconhecem entre si. As ativida- 4. exercício do Magistério respeitada a legislação específica;
des curriculares dependerão da ação participativa, consciente e 5. desempenho de cargos e funções técnicas, no âmbito das
em constante avaliação de todo o corpo docente. A qualifica- atribuições respectivas;
ção científica tornar-se-á inoperante se não for acompanhada 6. ensaios e pesquisas em geral, pesquisas e desenvolvimento
da atualização didático-pedagógica, sobretudo no que se refere de métodos e produtos;
ao melhor aproveitamento do rico instrumental que a 7. análises química e físico-química, químico-biológica, bro-
informática e a tecnologia renovam incessantemente. As insti- matológica, toxicológica, biotecnológica e legal, padroni-
tuições precisam compreender e avaliar seu papel social; pre- zação e controle de qualidade.
cisam redefinir e divulgar seu projeto pedagógico. Aos estu- O Bacharel com formação em Química Tecnológica, além das
dantes caberá buscar um curso que lhes propicie, com qualida- atribuições arroladas acima possui, também, as que se seguem:
de, a formação desejada. 8. produção, tratamentos prévios e complementares de produ-
Estariam estas discussões no caminho certo? Se assim mol- tos e resíduos;
dados, estariam os novos cursos aptos à formação deste novo 9. operação e manutenção de equipamentos e instalações; exe-
homem para atuar neste novo mundo? Estariam as IES e seus cução de trabalhos técnicos;
docentes instrumentalizados para preparar o estudante a estar 10. condução e controle de operações e processos industriais,
intelectual e politicamente sintonizado com a sua realidade, de trabalhos técnicos, reparos e manutenção;
articulado com os problemas mais urgentes da sociedade, mu- 11. pesquisa e desenvolvimento de operações e processos in-
nido de conhecimentos e habilidades para a utilização das fer- dustriais;
ramentas intelectuais disponíveis a serviço do bem comum? 12. estudo, elaboração e execução de projetos de processamento;
Na tentativa de conciliar as preocupações e sugestões apre- 13. estudo da viabilidade técnica e técnico-econômica no âm-
sentadas pelos cursos de Química1,2 – de nível superior – em bito das atribuições respectivas.
atendimento à solicitação da SESu/MEC, a Comissão de Espe- A profissão de Químico, quando voltada às indústrias e a
cialistas de Ensino de Química elaborou o presente documento áreas correlatas, é regulamentada pelo Conselho Federal de
que, sintonizado com o perfil, a competência e as habilidades Química/CFQ, que estabelece as competências para o exercí-
desejadas do profissional de Química em todas as suas habili- cio profissional como resultado da preparação adequada em
tações, busca definir as Diretrizes Curriculares para esses cursos distintos e caracterizados pela natureza e pela extensão
cursos, que será submetido ao Conselho Nacional de Educa- de seus currículos. Às instituições de ensino cabe estabelecer
ção, nos termos da legislação vigente. Nesta proposta preten- seus currículos próprios para bem formar profissionais. Aos
deu-se apresentar diretrizes curriculares que se prestem à for- conselhos profissionais cabe: i) a descrição de competências
mação de cidadãos e profissionais de Química capazes de pro- básicas atualizadas diante das necessidades do mercado de tra-
duzir novas idéias, novos saberes, capazes de lidar com confli- balho e ii) a fiscalização do exercício da profissão.
tos e responder positivamente aos desafios do “novo” a que
estarão constantemente submetidos. 2.1.2. Habilidades a serem desenvolvidas durante o curso
de graduação
2. PERFIS PROFISSIONAIS
Para que se prepare um bom profissional da Química, os
Os cursos de Química das IES têm-se destinado à formação cursos precisam se estruturar de forma a possibilitar a forma-
de profissionais para atuar no ensino fundamental, médio e su- ção interdisciplinar requerida do profissional/cidadão. Para tan-
perior, na indústria química e de áreas correlatas e na pesquisa. to, o estudante deverá ter a oportunidade, durante sua estada
Assim, os cursos de nível superior, respeitada a autonomia na IES, de vivenciar experiências de ensino/aprendizagem, atra-
curricular e as normas legais vigentes, têm formado profissionais vés de contato com docentes, palestrantes e fontes bibliográfi-
em Química em suas várias habilitações, inclusive licenciados. cas. Deverá, igualmente, participar de atividades de pesquisa,

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com formulação de problemas e busca de soluções, e da trans- na área de Química, condições que poderão ser exercidas na
ferência desses conhecimentos especializados à sociedade. indústria, no comércio, nos institutos de pesquisa e no ensino
Os cursos devem promover, através de seus planos de ensi- superior – é imprescindível que o Bacharel em Química mani-
no, condições reais e quantitativamente significativas de ativi- feste ou reflita, na sua prática como profissional e cidadão, as
dades e experiências práticas em laboratórios e estágios. É in- seguintes habilidades pessoais e profissionais básicas:
dispensável que as experiências de aprendizagem ultrapassem
as tradicionais técnicas usadas em aula e que prevejam o me- 1. Com relação à sua formação pessoal
lhor aproveitamento possível das horas/atividades programa-
das, criando condições e incentivo para que os estudantes par- • Possuir conhecimento sólido e abrangente na área de atuação
ticipem, ainda, de programas de iniciação científica, estágios e (competência profissional garantida pelo domínio do saber
intercâmbios. As experiências que objetivam a formação sistematizado dos conteúdos nos diversos campos da Quími-
humanística devem, igualmente, ser planejadas com criativida- ca, em Processos e Operações Industriais e em áreas correlatas:
de, evitando-se o simples acúmulo de disciplinas distanciadas Matemática, Física e Biotecnologia, etc.), com domínio das
da realidade e das expectativas dos estudantes, os quais aca- técnicas básicas de utilização de laboratórios e equipamentos
bam cursando-as sem entusiasmo, por “pura obrigação” e qua- necessárias para garantir a qualidade dos serviços prestados e
se sem aproveitamento. Mais que as quantidades de horas de para desenvolver e aplicar novas tecnologias de modo a ajus-
aulas, estágios, etc., é preciso analisar a qualidade das ativida- tar-se à dinâmica do mercado de trabalho.
des que serão proporcionadas aos estudantes. • Possuir habilidade suficiente em Matemática para compre-
Ao estudante de Bacharelado em Química deve ser ofereci- ender conceitos de Química e de Física, para desenvolver
da formação generalista, com domínio das técnicas básicas de formalismos que unifiquem fatos isolados e modelos quan-
utilização de laboratórios e equipamentos, com condições de titativos de previsão, com o objetivo de compreender mo-
atuar nos campos de atividades socioeconômicas que envol- delos probabilísticos teóricos, no sentido de organizar, des-
vam as transformações da matéria; direcionando essas trans- crever, arranjar e interpretar resultados experimentais, in-
formações, controlando os seus produtos, interpretando critica- clusive com auxílio de métodos computacionais.
mente as etapas, efeitos e resultados; aplicando abordagens • Possuir capacidade crítica para analisar de maneira conve-
criativas à solução dos problemas e desenvolvendo novas apli- niente os seus próprios conhecimentos; assimilar os novos
cações e tecnologias. conhecimentos científicos e/ou tecnológicos e refletir sobre
A este profissional deve ser possibilitado, durante o curso de o comportamento ético que a sociedade espera de sua atu-
graduação, (i) buscar uma formação ampla e multidisciplinar ação e de suas relações com o contexto cultural, socioeco-
fundamentada em sólidos conhecimentos de Química, que lhe nômico e político.
possibilite atuar em vários setores; (ii) desenvolver metodologia
e senso de responsabilidade que lhe permita uma atuação cons- • Saber trabalhar em equipe (inter e multidisciplinar) e ter
ciente; (iii) exercitar sua criatividade na resolução de proble- uma boa compreensão das diversas etapas que compõem
mas; (iv) trabalhar com independência; (v) desenvolver iniciati- um processo industrial ou uma pesquisa, sendo capaz de
vas e agilidade no aprofundamento constante de seus conheci- planejar, coordenar, executar ou avaliar atividades relacio-
mentos científicos para que possa acompanhar as rápidas mu- nadas à Química ou a áreas correlatas.
danças da área em termos de tecnologia e mercado globalizado • Saber treinar e orientar seus subordinados de modo que
e deve, ainda, (vi) aprender a tomar decisões, levando em conta possam realizar seus trabalhos com eficiência e segurança.
os possíveis impactos ambientais ou de saúde pública, quando • Ser capaz de exercer atividades profissionais autônomas na
atuar na implantação de novos processos industriais para a pro- área da Química ou em áreas correlatas.
dução de substâncias de uso em larga escala. • Ter interesse no auto-aperfeiçoamento contínuo, curiosida-
Como os profissionais formados em Química podem atuar de e capacidade para estudos extra-curriculares individuais
em diversos setores, é desejável que seja oferecida aos estu- ou em grupo, espírito investigativo, criatividade e iniciati-
dantes, ao lado de uma formação sólida em conteúdos básicos va na busca de soluções para questões individuais e coleti-
e conteúdos profissionais essenciais, formação complementar vas relacionadas com a Química.
específica e humanística diferenciadas, que contemplem as
opções individuais, as necessidades regionais e, em alguns • Ter interesse em prosseguir seus estudos em cursos de Pós-
casos, até mesmo as características das instituições onde se graduação lato ou stricto sensu ou em programas de educa-
formam. Esta diferenciação deverá propiciar a formação de ção continuada.
profissionais mais habilitados à inserção no mundo do traba- • Ter fundamentos e prática interdisciplinar para acompanhar
lho. Portanto, durante sua formação, ao bacharelando deve ser as rápidas mudanças tecnológicas, como forma de garantir
oferecida a oportunidade de expandir suas possibilidades de a qualidade dos serviços prestados e de adaptar-se à dinâ-
atuação e de exercer plenamente sua cidadania, incutindo-se, mica do mercado de trabalho.
ainda, no profissional, o respeito ao direito à vida e ao bem- • Ter formação humanística – conhecimentos básicos de His-
estar dos cidadãos que direta ou indiretamente possam ser atin- tória, Filosofia, Sociologia, Economia, História da Ciência,
gidos pelo resultado de suas atividades. dos Movimentos Educacionais, etc – que lhe permita exercer
É preciso ressaltar que o momento histórico, caracterizado plenamente sua cidadania e, enquanto profissional, respeitar
por profundas mudanças tecnológicas, sociais, econômicas, o direito à vida e ao bem-estar dos cidadãos que direta ou
políticas e culturais, impõe desafios para a profissão e para o indiretamente são alvo do resultado de suas atividades.
ensino de Química. Assim, um novo ensino deve enfatizar
• Interessar-se pelos aspectos sociais, culturais, políticos e
questões como globalização, ética, flexibilidade intelectual, trei-
econômicos da vida da comunidade a que pertence.
namento para o trabalho em equipe interdisciplinar, necessida-
de de atualização e ampliação constante dos conhecimentos, • Estar engajado na luta pela cidadania como condição para a
incluindo aspectos regionais. construção de uma sociedade justa, democrática e responsável.

2.1.3. Habilidades pessoais e profissionais esperadas 2. Com relação à compreensão da Química

Para o bom exercício de suas atribuições profissionais – seja • Compreender os conceitos, leis e princípios da Química.
na pesquisa, na aplicação de processos e na solução de problemas • Conhecer as propriedades físicas e químicas principais dos

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elementos e compostos químicos que possibilitem entender de poluentes e/ou rejeitos químicos industriais, possuindo
e prever o seu comportamento físico-químico e aspectos de conhecimento da utilização de processos de manuseio e
reatividade, mecanismos e estabilidade. descarte de materiais e de rejeitos, tendo em vista a preser-
• Acompanhar e compreender os avanços científico-tecnoló- vação da qualidade do ambiente.
gicos. • Possuir conhecimento, analisar e utilizar os procedimentos
• Reconhecer a Química como uma construção humana com- éticos na pesquisa e no trabalho de rotina.
preendendo os aspectos históricos de sua produção e suas re- • Saber planejar e desenvolver processos e operações indus-
lações com os contextos cultural, socioeconômico e político. triais.
• Saber atuar em laboratório químico, sendo capaz de: sele-
3. Com relação à busca de informação, comunicação cionar, comprar e manusear equipamentos e reagentes.
e expressão
5. Com relação à aplicação do conhecimento em Química
• Saber identificar e fazer busca nas fontes de informações
relevantes para a Química, inclusive as disponíveis nas • Saber realizar avaliação crítica da aplicação do conheci-
modalidades eletrônica e remota, que possibilitem a contí- mento em Química tendo em vista o diagnóstico e o
nua atualização técnica, científica e humanística. equacionamento de questões sociais e ambientais.
• Ler, compreender e interpretar os textos científico-tecnoló- • Saber reconhecer os limites éticos envolvidos na pesquisa
gicos em idioma pátrio e estrangeiro (especialmente inglês e na aplicação do conhecimento científico e tecnológico.
e/ou espanhol).
• Ter curiosidade intelectual e interesse pela investigação ci-
• Saber interpretar e utilizar as diferentes formas de repre- entífica e tecnológica, de forma a utilizar o conhecimento
sentação (tabelas, gráficos, símbolos, expressões, etc.). científica e socialmente acumulado na produção de novos
• Saber comunicar corretamente os projetos e resultados de conhecimentos.
pesquisa na linguagem científica, oral e escrita (textos, re- • Ter consciência da importância social da profissão como
latórios, pareceres, “posters”, internet, etc.) em idioma possibilidade de desenvolvimento social e coletivo.
pátrio e estrangeiro (especialmente inglês e/ou espanhol).
• Saber identificar e apresentar soluções criativas para pro-
blemas relacionados com a Química ou com áreas correlatas
4. Com relação ao trabalho de investigação científica na sua área de atuação.
e produção/controle de qualidade
• Ter capacidade de assessorar o desenvolvimento e a im-
• Saber investigar os processos naturais e tecnológicos, con- plantação de políticas ambientais.
trolando variáveis, identificando regularidades, interpretan- • Saber realizar estudos de viabilidade técnica e econômica
do e procedendo a previsões. no campo da Química.
• Possuir domínio das técnicas básicas de utilização de labo- • Saber planejar, supervisionar e realizar estudos de caracte-
ratórios e equipamentos necessários para garantir a quali- rização de sistemas de análise.
dade dos serviços prestados e para desenvolver e aplicar
novas tecnologias de modo a ajustar-se à dinâmica do • Saber planejar a instalação de laboratórios químicos, espe-
mercado de trabalho. cificando e supervisionando a instalação de equipamentos.
• Saber realizar o controle de operações ou processos quími-
• Saber conduzir análises químicas, físico-químicas e quími-
cos no âmbito de atividades de indústria, vendas, marketing,
co-biológicas qualitativas e quantitativas e a determinação
segurança, administração pública e outras nas quais o co-
estrutural de compostos por métodos clássicos e instrumen-
nhecimento da Química seja relevante.
tais, bem como conhecer os princípios básicos de funciona-
mento dos equipamentos utilizados e as potencialidades e
limitações das diferentes técnicas de análise. 6. Com relação à profissão
• Saber realizar síntese de compostos, incluindo macromolé- • Ter capacidade de disseminar e difundir e/ou utilizar o
culas e materiais poliméricos. conhecimento relevante para a comunidade.
• Ter noções de classificação e composição de minerais. • Ter capacidade de vislumbrar possibilidades de ampliação
• Ter noções de Química do estado sólido. do mercado de trabalho, no atendimento às necessidades da
sociedade, desempenhando outras atividades para cujo su-
• Ser capaz de efetuar a purificação de substâncias e materi- cesso uma sólida formação universitária seja um importan-
ais; exercendo, planejando e gerenciando o controle quími- te fator.
co da qualidade de matérias-primas e de produtos.
• Saber adotar os procedimentos necessários de primeiros
• Saber determinar as características físico-químicas de subs-
socorros, nos casos dos acidentes mais comuns em labora-
tâncias e sistemas diversos.
tórios químicos.
• Ter noções dos principais processos de preparação de ma- • Conhecer aspectos relevantes de administração de organi-
teriais para uso da indústria química, eletrônica, óptica, zação industrial e de relações econômicas.
biotecnológica e de telecomunicações modernas
• Saber exercer atividades de direção, supervisão, responsa-
• Saber elaborar projetos de pesquisa e de desenvolvimento bilidade técnica, assistência técnica, consultoria, assessoria
de métodos, produtos e aplicações em sua área de atuação. e perícia no âmbito das atribuições do Químico.
• Possuir conhecimentos básicos do uso de computadores e • Saber atuar no magistério superior, de acordo com a legis-
sua aplicação em Química. lação específica.
• Possuir conhecimento dos procedimentos e normas de segu- • Ser capaz de atender às exigências do mundo do trabalho,
rança no trabalho, inclusive para expedir laudos de seguran- com visão ética e humanística, tendo capacidade de vis-
ça em laboratórios, indústrias químicas e biotecnológicas. lumbrar possibilidades de ampliação do mesmo, visando
• Saber atuar na área de controle ambiental e de tratamento atender às necessidades atuais.

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2.2. Licenciado indiretamente possam vir a ser atingidos pelos resultados de
suas atividades.
2.2.1. Competência formal É preciso ressaltar que o momento histórico, caracterizado
por profundas mudanças tecnológicas, sociais, econômicas,
O curso de Licenciatura se destina a formar professores para políticas e culturais, impõe desafios para a profissão e para o
a educação básica – o ensino médio e as últimas quatro séries ensino de Química. Assim, a nova formação do licenciando
do ensino fundamental, cuja formação deverá incluir “prática deve enfatizar questões como globalização, ética, flexibilidade
de ensino” com carga didática definida pela LDB (Lei 9.39496, intelectual, treinamento para o trabalho em equipe, necessida-
Art. 65), de no mínimo 300 horas”. de de atualização e ampliação constante dos conhecimentos,
incluindo aspectos regionais, e da dinâmica educativa.
2.2.2. Habilidades a serem desenvolvidas durante o curso O licenciado é um profissional que deve ter formação
de graduação generalista, mas sólida e abrangente em conteúdos dos diver-
sos campos da Química, preparação adequada à aplicação pe-
Para que se prepare um bom professor de Química, os cur- dagógica do conhecimento e experiências de Química e de áre-
sos precisam se estruturar de forma a possibilitar a formação as afins, na atuação profissional como educador nos ensinos
abrangente e interdisciplinar requerida educador/cidadão. Para fundamental e médio.
tanto, o licenciando deverá ter a oportunidade, durante sua
estada na escola de ensino superior, de vivenciar experiências 2.2.3. Habilidades pessoais e profissionais esperadas
de ensino/aprendizagem, através do contato com docentes,
palestrantes e fontes bibliográficas. Deverá, igualmente, parti- Para o bom exercício de suas atribuições profissionais – no
cipar de atividades de planejamento e ensino com formulação ensino fundamental e médio e em outras atividades educacio-
de problemas e busca de soluções, e avaliação de situações de nais que a legislação lhe faculta – é imprescindível que o li-
ensino/aprendizagem. cenciado em Química manifeste ou reflita, na sua prática como
Os cursos devem promover, através de seus planos de ensi- profissional e como cidadão, as seguintes habilidades pessoais
no, condições reais e quantitativamente significativas de ativi- e profissionais básicas:
dades e experiências práticas em laboratórios e estágios. É in-
dispensável que as experiências de aprendizagem ultrapassem 1. Com relação à sua formação pessoal
as tradicionais técnicas usadas em sala de aula ou em labora-
tórios de demonstração e que prevejam o melhor aproveita- • Possuir conhecimento sólido e abrangente na área de atua-
mento possível das horas/atividades programadas, criando con- ção (competência profissional garantida pelo domínio do
dições e incentivo para que os estudantes participem, ainda, de saber sistematizado dos conteúdos da Química e áreas afins:
programas de iniciação científica, estágios e intercâmbios. As Matemática, Física, Computação e Biologia, por exemplo),
experiências que objetivam a formação humanística devem, com domínio das técnicas básicas de utilização de labora-
igualmente, ser planejadas com criatividade, evitando-se o sim- tórios bem como dos procedimentos necessários de primei-
ples acúmulo de disciplinas distanciadas da realidade e das ros socorros, nos casos dos acidentes mais comuns em la-
expectativas dos estudantes. Mais que as quantidades de horas boratórios de Química.
de aula, estágio, etc., é preciso analisar a qualidade das ativi- • Possuir capacidade crítica para analisar de maneira conveniente
dades que serão proporcionadas aos estudantes. os seus próprios conhecimentos; assimilar os novos conheci-
Durante sua formação, ao licenciando deverá ser, antes de mentos científicos e/ou educacionais e refletir sobre o compor-
tudo, favorecida a aquisição de sólidos conhecimentos do con- tamento ético que a sociedade espera de sua atuação e de suas
teúdo de Química no nível do ensino médio; conhecimentos de relações com o contexto cultural, socioeconômico e político.
Química superior que, ultrapassando os conteúdos ensinados no • Identificar os aspectos filosóficos e sociais que definem a
ensino médio, permitam ao futuro professor ter uma visão da realidade educacional.
importância dos tópicos que esteja ensinando no contexto geral
da Química e de outras áreas afins, além da possibilidade de • Identificar o processo de ensino/aprendizagem como pro-
ingressar em cursos de pós-graduação, lato e stricto sensu. Os cesso humano em construção.
currículos institucionais de licenciatura em Química deverão • Ter uma visão crítica com relação ao papel social da Ciên-
prever, igualmente, que o licenciando comprove e/ou obtenha cia, a sua natureza epistemológica, compreendendo o seu
conhecimentos de disciplinas afins (por exemplo, Física, Mate- processo histórico-social de construção.
mática e Biologia) como instrumento de compreensão e utiliza- • Saber trabalhar em equipe e ter uma boa compreensão das
ção da Química. O licenciando deverá ser desafiado a exercitar diversas etapas que compõem uma pesquisa educacional.
sua criatividade na resolução de problemas, a trabalhar com in- • Ter interesse no auto-aperfeiçoamento contínuo, curiosida-
dependência e em equipe, a transmitir claramente conteúdos e de e capacidade para estudos extra-curriculares individuais
dificuldades, e a desenvolver iniciativas e agilidade na atualiza- ou em grupo, espírito investigativo, criatividade e iniciati-
ção e aprofundamento constante de seus conhecimentos para que va na busca de soluções para questões individuais e coleti-
possa acompanhar as rápidas mudanças da área em termos de vas relacionadas com o ensino de Química, bem como para
tecnologia e mundo globalizado. Para isso, torna-se indispensá- acompanhar as rápidas mudanças tecnológicas oferecidas
vel que de sua formação faça parte treinamento em informática, pela interdisciplinaridade, como forma de garantir a quali-
necessário para o acompanhamento tecnológico da informática dade do ensino de Química.
educacional e instrucional, e o desenvolvimento de habilidade
no uso do acervo existente em bibliotecas, inclusive nas moda- • Ter interesse em prosseguir seus estudos em cursos de pós-
lidades eletrônica e remota para contínua atualização técnica e graduação lato ou stricto sensu ou em programas de educa-
científica. Seu treinamento pedagógico procurará desenvolver ção continuada.
sobretudo a capacidade de identificar o nível de desenvolvimen- • Ter formação humanística – conhecimentos básicos de His-
to cognitivo dos estudantes e adequar metodologias e material tória, Filosofia, Sociologia, Economia, História da Ciência,
instrucional a esta realidade. dos Movimentos Educacionais, etc. – que permita exercer
A formação do licenciado deve dar-lhe condições de exer- plenamente sua cidadania e, enquanto educador, buscar
cer plenamente sua cidadania e, enquanto profissional, respei- sempre melhor qualidade de vida para todos os que serão
tar o direito à vida e ao bem-estar dos cidadãos que direta ou alvo do resultado de suas atividades.

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• Ter formação pedagógica para exercer a profissão de professor, • Conhecer e vivenciar projetos e propostas curriculares de
com conhecimentos em História e Filosofia da Educação, His- ensino de Química.
tória e Filosofia da Ciência, Didática, Psicologia da Educação, • Ter atitude favorável à incorporação, na sua prática, dos
Estrutura e Funcionamento do Ensino e Prática de Ensino. resultados da pesquisa educacional em ensino de Química,
• Ter habilidades que o capacitem para a preparação e desen- visando solucionar os problemas relacionados ao ensino/
volvimento de recursos didáticos e instrucionais relativos à aprendizagem.
sua prática e avaliação da qualidade do material disponível
no mercado, além de ser preparado para atuar como pes- 5. Com relação à profissão
quisador no ensino de Química.
• Interessar-se pelos aspectos culturais, políticos e econômi- • Ter consciência da importância social da profissão como
cos da vida da comunidade a que pertence. possibilidade de desenvolvimento social e coletivo.
• Estar engajado na luta pela cidadania como condição para a • Ter capacidade de disseminar e difundir e/ou utilizar o
construção de uma sociedade justa, democrática e responsável; conhecimento relevante para a comunidade.
• Atuar no magistério, em nível de ensino fundamental e
2. Com relação à compreensão da Química médio, de acordo com a legislação específica, utilizando
metodologia de ensino variada, contribuindo para o desen-
• Compreender os conceitos, leis e princípios da Química. volvimento intelectual dos estudantes e para despertar o
• Conhecer as propriedades físicas e químicas principais dos interesse científico em adolescentes; organizando e usando
elementos e compostos, que possibilitem entender e prever laboratórios de Química; escrevendo e analisando critica-
o seu comportamento físico-químico, aspectos de reativida- mente livros didáticos e paradidáticos e indicando biblio-
de, mecanismos e estabilidade. grafia para o ensino de Química; analisando e elaborando
• Acompanhar e compreender os avanços científico-tecnoló- programas para esses níveis de ensino.
gicos e educacionais. • Exercer a sua profissão com espírito dinâmico, criativo, na
• Reconhecer a Química como uma construção humana, com- busca de novas alternativas educacionais, enfrentando como
preendendo os aspectos históricos de sua produção e suas re- desafio as dificuldades do magistério.
lações com os contextos cultural, socioeconômico e político. • Conhecer criticamente os problemas educacionais brasilei-
ros, a partir da análise da História da Educação Brasileira
3. Com relação à busca de informação e à comunicação e da Legislação.
e expressão • Identificar no contexto da realidade escolar os fatores de-
terminantes no processo educativo, tais como o contexto
• Saber identificar e fazer busca nas fontes de informações socioeconômico, política educacional, administração esco-
relevantes para a Química, inclusive as disponíveis nas mo- lar e fatores específicos do processo de ensino-aprendiza-
dalidades eletrônica e remota, que possibilitem a contínua gem de Química.
atualização técnica, científica, humanística e pedagógica.
• Assumir conscientemente a tarefa educativa, cumprindo o
• Ler, compreender e interpretar os textos científico-tecnoló- papel social de preparar os alunos para o exercício consci-
gicos em idioma pátrio e estrangeiro (especialmente inglês ente da cidadania
e/ou espanhol).
• Desempenhar outras atividades na sociedade, para cujo suces-
• Saber interpretar e utilizar as diferentes formas de repre- so uma sólida formação universitária seja importante fator.
sentação (tabelas, gráficos, símbolos, expressões, etc.).
• Saber escrever e avaliar criticamente os materiais didáti- 3. CONTEÚDOS CURRICULARES
cos, como livros, apostilas, “kits”, modelos, programas
computacionais e materiais alternativos. 3.1. Preliminares
• Demonstrar bom relacionamento interpessoal e saber co-
Parte dos problemas associados à formação/evasão, em ní-
municar corretamente os projetos e resultados de pesquisa
vel superior, dos estudantes de Química começa no ensino
na linguagem educacional, oral e escrita (textos, relatórios,
médio, onde os currículos são inadequados, os professores, na
pareceres, “posters”, internet, etc.) em idioma pátrio
maioria, despreparados, desatualizados, mal remunerados e
desenvolvendo carga horária semanal elevada; em geral, as
4. Com relação ao trabalho em ensino de Química condições de trabalho nas escolas são inapropriadas, principal-
• Refletir de forma crítica a sua prática em sala de aula, iden- mente com relação a trabalhos experimentais.
tificando problemas de ensino/aprendizagem. De outro lado, a menor ênfase na formação dos profissio-
nais de Química recai nos estudantes de Licenciatura a quem
• Compreender e avaliar criticamente os aspectos sociais, ou é oferecida formação básica de Química precária ou é ne-
tecnológicos, ambientais, políticos e éticos relacionados às gligenciada sua formação pedagógica. Também, devido ao de-
aplicações da Química na sociedade. sinteresse pelo magistério no ensino médio, o número de licen-
• Saber trabalhar em laboratório e saber usar a experimenta- ciados formados é inexpressivo quando comparado com o dos
ção em Química como recurso didático. demais profissionais ou com as oportunidades de trabalho.
• Possuir conhecimentos básicos do uso de computadores e Os currículos dos cursos de Química em suas diversas habi-
sua aplicação em ensino de Química. litações foram modificados várias vezes, nos últimos 20 anos,
à luz da legislação em vigor, objetivando sempre formar pro-
• Possuir conhecimento dos procedimentos e normas de se-
fissionais sintonizados com as necessidades atuais da socieda-
gurança no trabalho.
de. Entretanto, as modificações eram superficiais, limitando-se
• Conhecer teorias psicopedagógicas que fundamentam o pro- à inclusão de novas disciplinas, extinção de outras ou apenas
cesso de ensino-aprendizagem, bem como os princípios de realizando remanejamentos nas respectivas grades curriculares.
planejamento educacional. C onstata-se que os currículos vigentes na maioria das IES brasi-
• Conhecer os fundamentos, a natureza e as principais pes- leiras formam químicos para o setor industrial e/ou estudantes
quisas de ensino de Química. de pós-graduação. Com a crescente escassez de emprego nas

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grandes empresas e com a implantação de novos modelos de Experimentos que enfatizem os conceitos básicos e auxiliem o
desenvolvimento, torna-se urgente, também, dirigir a formação aluno a entender os aspectos fenomenológicos da Física.
dos profissionais da Química no sentido de atribuir-lhes com- Química Teoria e Laboratório: estrutura atômica; periodici-
petência técnica para poder empreender o seu próprio negócio dade química; ligações químicas; forças intermoleculares; áci-
e/ou atuar de forma criativa em seu trabalho. dos e bases; planejamento experimental (quimiometria); equilí-
Dentro do espírito da LDB e demais dispositivos que a re- brios de íons em solução; metodologias de análise (amostra-
gulamentaram, os currículos dos cursos de Química, sintoniza- gem, tratamento da amostra, avaliação e interpretação de resul-
dos com o mundo de hoje e do futuro, devem possibilitar a tados analíticos); análise qualitativa e quantitativa (volumetria,
contínua “construção” de um profissional com as competências gravimetria, métodos eletroanalíticos, espectroscópicos, por
e habilidades descritas anteriormente. exemplo, UV/VIS, IV, RNM, e EM, análise térmica, cromato-
grafia e eletroforese); teoria cinética e gases reais; termodinâ-
3.2. Estrutura curricular mica e termoquímica; mudanças de estado (potencial químico,
misturas binárias e ternárias); propriedades coligativas; cinética
Os currículos dos cursos de Química, a partir das diretrizes química e catalise; fenomenos de superfície; eletroquímica;
aqui propostas, terão como princípio que o professor não é a elementos e compostos químicos (ocorrência, propriedades,
fonte principal de informações para os estudantes, mas sim um obtenção e aplicações); sólidos (parâmetros reticulares, estru-
sistematizador e facilitador de idéias. Em resumo, o professor tura cristalina); compostos de coordenação, organometálicos,
deve ensinar o estudante a aprender. Além disso, deve ser evi- macro e biomoléculas; mecanismos de reação; operações bási-
tado o simples fornecimento de um número elevado de infor- cas de laboratório no contexto de experimentos envolvendo a
mações e com pouca ênfase no raciocínio. É importante para o preparação e caracterização de substâncias.
profissional de Química ter uma visão crítica ampla, especial- ii) conteúdos profissionais essenciais para o desenvolvimen-
mente dos roteiros experimentais. to de competências e habilidades.
Os módulos e conteúdos curriculares serão organizados de
Nesta parte residirá a essência diferencial de cada curso.
forma a refletir as características das IES, os interesses e as
Diante das especificidades regionais e institucionais, a IES
capacidades dos estudantes, bem como as características regi-
estabelecerá seu currículo com vistas ao perfil do profissional
onais. Neste ponto, as linhas de pesquisa existentes na institui-
que deseja formar, priorizando a aquisição das habilidades mais
ção, o parque industrial regional e os programas de pós-gradu-
necessárias e adequadas àquele perfil. Além disso, ao oferecer
ação podem contribuir para o direcionamento dos cursos. As-
conteúdos variados, o estudante poderá, também, selecionar
sim, os currículos dos cursos de Química devem ser dinâmi-
aqueles que mais atendam a suas escolhas pessoais dentro da
cos, flexíveis e adaptados às necessidades e interesses institu-
carreira profissional de Químico, em qualquer das suas habili-
cionais e regionais, desenvolvendo-se, entretanto, a partir de
tações. Além de conteúdos teóricos mais aprofundados, estági-
um conjunto básico de conteúdos.
os curriculares, projetos de iniciação científica, participação
O mais importante num currículo não é a quantidade de
em projetos de pesquisa, conteúdos de legislação (exercício da
conteúdo, mas sua articulação em torno de uma proposta de
profissão, segurança e meio ambiente), dentre outros, poderão
ensino que:
constar deste segmento curricular.
a) defina, claramente, os objetivos do curso; Para a Licenciatura em Química, a carga horária de prática
b) estabeleça os conteúdos que delimitem o raio de ação do curso; de ensino - no mínimo 300 horas - será incluída no cômputo
c) evidencie equilíbrio entre atividades teóricas e práticas; e dos conteúdos profissionais, juntamente com outros conteúdos
d) contribua para o desenvolvimento crítico-reflexivo dos alunos. de formação pedagógica.
Na elaboração de seus currículos, os cursos devem evitar iii) conteúdos complementares essenciais para a formação
pulverizá-los com exagerado número de disciplinas que humanística, interdisciplinar, gerencial.
compartimentalizam o conhecimento da área e deixam de res-
As IES poderão oferecer um leque abrangente de conteúdos
saltar o essencial do campo de conhecimento. Além disso, a
e atividades comuns a outros cursos da instituição. Sugere-se,
compartimentalização leva à repetição de conteúdos de manei-
para este segmento curricular, conteúdos de filosofia, história,
ra desnecessária. Mais do que o domínio cognitivo do conteú-
administração, informática, instrumental de língua portuguesa
do de Química, os currículos devem contemplar atividades que
e línguas estrangeiras, dentre outros, assim como a elaboração
visem estabelecer correlações entre a Química e áreas conexas,
de monografia de conclusão do curso.
ampliando o caráter interdisciplinar. Os currículos buscarão,
pois, integração entre os conteúdos básicos e os conteúdos iv) atividades extra-classe.
profissionais essenciais e promoverão, também, através de seus As IES deverão estimular o estudante a buscar atividades
planos de ensino, condições reais e quantitativamente signifi- acadêmicas e de prática profissional alternativas, atribuindo-lhe
cativas de integração de atividades e experiências práticas em créditos curriculares à participação e à apresentação de trabalhos
laboratórios e estágios. e/ou resumos em seminários, conferências, semanas de estudos
O quadro curricular deverá ser composto de: e similares, à publicação de artigos em revistas ou outros meios
i) conteúdos básicos essenciais, envolvendo teoria e labora- bibliográficos e/ou eletrônicos especializados, à realização de
tório. Dos conteúdos básicos deverão fazer parte: Matemá- estágios não curriculares e de atividades de extensão.
tica, Física e Química.
O detalhamento dos conteúdos curriculares, relacionado a 4. DURAÇÃO
seguir, referente aos conteúdos básicos essenciais deve servir
como orientação, considerando-se a autonomia da instituição e A duração mínima de um curso de Química - em qualquer
o perfil desejado para o profissional a ser formado: de suas habilitações - será de 2.400 horas-atividade, distribuí-
das harmonicamente ao longo dos semestres ou anos; aos cur-
Matemática: Álgebra, funções algébricas de uma variável, sos noturnos ou aos que desenvolvem atividades em apenas
funções transcendentais, cálculo diferencial e integral, seqüên- um período diário, recomenda-se o estabelecimento de mais
cias e séries, funções de várias variáveis, equações diferenciais semestres ou anos de duração. Em qualquer das opções, o tem-
e vetores. po máximo fixado para a integralização não deverá ultrapassar
Física: Leis básicas da Física e suas equações fundamentais. 50% do tempo mínimo estabelecido para o curso.
Conceitos de campo (gravitacional, elétrico e magnético). Os conteúdos básicos devem corresponder a, no mínimo,

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1200 horas-atividade. Recomenda-se que os conteúdos teóricos Grossa, Universidade Estadual Paulista/UNESP-Araraqua-
e experimentais de química correspondam, respectivamente, a, ra, Universidade Estadual de Campinas, Universidade de
no mínimo, 540 e 420 horas-atividade. Recomenda-se, igual- São Paulo/São Paulo, Universidade de São Paulo/São
mente, que a carga horária dedicada aos conteúdos básicos (te- Carlos, Universidade de São Paulo/Ribeirão Preto, Uni-
óricos e experimentais) de Matemática e Física não seja infe- versidade Federal de São Carlos, Faculdade “Auxilium”
rior a 240 horas-atividade. de Filosofia, Ciências e Letras/Lins-São Paulo, Universi-
Os conteúdos profissionais, complementares e as atividades dade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Federal de
extra-classe corresponderão a 50% da carga horária total do cur- Minas Gerais, Universidade Federal de Viçosa, Fundação
so, envolvendo atividades delineadas em 3.2, itens ii), iii) e iv). de Ensino Superior de São João Del Rei, Universidade
Federal do Espírito Santo, Universidade Estadual de Feira
REFERÊNCIAS E NOTAS de Santana, Universidade Federal de Sergipe, Universida-
de Federal da Paraíba, Universidade Federal do Rio Gran-
1. Trinta e uma Instituições apresentaram propostas em aten- de do Norte, Universidade Federal do Ceará, Universida-
ção ao Edital 04/97: Universidade Federal do Rio Grande de Federal do Maranhão, Universidade Federal de Mato
do Sul, Fundação Universidade Federal do Rio Grande do Grosso, Universidade Federal do Mato Grasso do Sul,
Sul, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Fundação Universidade de Brasília, Conselho Regional de
Sul, Universidade de Santa Cruz do Sul, Universidade do Química-IV Região.
Sul de Santa Catarina, Universidade Federal de Santa 2. Faljoni-Alario, A.; Rossi, A. V.; Jorge, R. A.; da Silva,
Catarina, Universidade Federal do Paraná, Universidade A. B. F.; de Oliveira, J. E.; Ferreira, L. H.; Rodrigues, R.
Estadual de Londrina, Universidade Estadual de Ponta M. B.; Quim. Nova 1998, 21, 674.

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