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fonte
Folha de S. Paulo
Cada colunista tem seu dia. O meu é segunda. Dia considerado meio frio para
notícias, grandes debates. As pessoas vêm de um fim-de-semana, ainda
querem estender um pouco essa sensação, revendo os principais lances
esportivos do domingo.
A história do povo Na, que vive na China, nos confins do Himalaia, talvez não
seja ideal para uma segunda-feira. São apenas 30 mil pessoas, que vivem na
bacia do Yongning, a 2.760 metros de altitude, num lugar com estradas
precárias e telefones inaudíveis.
Acaba de ser lançado na França um livro sobre os Na, feito por um estudioso
que viveu com eles. O nome do livro é "Uma Sociedade sem Pai nem Marido".
Seu autor é Cai Hua.
De fato, uma sociedade que não tem sequer palavra correspondente para "pai"
nos aparece como estranha e, certamente, subversiva.
Nela, os filhos são criados pela mãe e convivem com seus irmãos de sangue,
num clima onde apenas o incesto é proibido. As meninas podem ter quantos
namorados quiserem e há casos de adolescentes que tiveram mais de cem
relações diferentes.
Dentro dos costumes Na, as mulheres de uma casa podem receber visitas
noturnas, e elas são protegidas pela família. Há tanto respeito pelos encontros
amorosos que o autor do livro chega a temer que ladrões possam usá-los como
álibi, ao serem descobertos roubando uma casa, o que é absolutamente
incomum entre os Na.
Para o autor de "Sociedade sem Pai nem Marido", Cai Hua, só há dois
caminhos: a lei do desejo ou a lei da posse.