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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 1

Produção de hortaliças em ambiente protegido:


uma técnica a ser aprendida
O professor Paulo Cezar Rezende Fontes é titular
no departamento de Fitotecnia da Universidade Federal
de Viçosa (UFV) e leciona Olericultura e Nutrição Mineral
de Plantas. É engenheiro agrônomo e mestre
em Fitotecnia pela UFV e PhD pela Purdue University (EUA),
tendo trabalhado como pesquisador e coordenador
do Programa Estadual de Pesquisas em Olericultura da
EPAMIG. Atualmente trabalha como consultor de diversos
periódicos e instituições brasileiras para assuntos ligados
à olericultura e desenvolve pesquisas como bolsista do CNPq.

IA - Quais os aspectos positivos e ne- com seriedade, houve pessoas com con- Brasil. Apesar de alguns tímidos esforços
gativos da introdução do sistema de clusões predeterminadas. E o pior, disse- do ensino, pesquisa, extensão, firmas
produção de hortaliças em ambiente minaram a falsa idéia da produção prote- produtoras, há problemas técnicos não-
protegido (PHAP) para a olericultura gida como um processo quase milagroso, resolvidos em diversos aspectos das áreas
nacional? salvador, sem limitações e melhor, mais tecnológica, gerencial e de mercado. O
rentável, mais fácil, capaz de substituir e crescimento da PHAP será acentuado,
Paulo Fontes - O sistema de produção
mesmo contrapor ao processo de produção quando forem desenvolvidos sistemas de
de hortaliças em ambiente protegido tem
tradicional. produção simples, adaptados e compe-
para a olericultura nacional alguns aspectos
Contudo, o destaque mais negativo foi titivos em custos com aqueles a céu aberto.
positivos, dentre eles: fortalecimento dos
a indução de pessoas não-familiarizadas Também, há problemas na área de con-
conceitos de qualidade total, intensidade,
com as hortaliças, ou seja, curiosos, a en- sumo. O brasileiro tem ainda o hábito de
escala, competência, competitividade,
trarem no negócio, utilizando técnicas e consumir pequena quantidade de horta-
precisão, custo, oferta programada e
procedimentos sofisticados, na maioria das liças. Porém, acreditamos que as maiores
produtos diferenciados, personalizados, com
vezes inadaptados ao sistema de produção dificuldades estão ligadas ao custo para
sabor, grau de maturação e valor agrega-
vigente. investimento fixo e ao poder de compra
do; introdução de técnicas culturais mais
da população, o que acarreta, pelo menos
refinadas e precisas, com conseqüente va- IA - Quais benefícios os produtores momentaneamente, baixa rentabilidade à
lorização do conhecimento. Vale ressaltar podem esperar da PHAP em relação atividade. Esperamos que estas dificuldades
ainda que este método levou o produtor de ao sistema tradicional a céu aberto? sejam passageiras e possíveis de serem
hortaliças a entender que não pode agir
Paulo Fontes - Com os conhecimentos solucionadas.
como um executor de práticas culturais, mas
deve dispor de uma visão clara de todo o existentes e pelas peculiaridades do siste-
ma, intensividade em tecnologia e capital, IA - Por que a PHAP ainda não “deco-
sistema de produção, especialmente o que
alguns benefícios podem ser conseguidos, lou” conforme previsto?
o mercado quer e pode comprar, ou o que
compraria e com qual custo. como: precocidade da produção, maior Paulo Fontes - Acreditamos que as
A introdução deste sistema poderá aju- produtividade, produtos mais limpos, me- razões mais fortes têm sido: economia em
dar a expandir a olericultura nas atividades nor lixiviação de adubos, maiores eficiên- recessão; alto custo; insumos com os preços
de lazer, socialização, treinamento, pro- cias nos usos da água e dos fertilizantes altos; pequeno estoque de conhecimento
dução da própria hortaliça e como terapia e, às vezes, decréscimo na incidência de sobre as interações genótipos x técnicas
em locais pouco convencionais como ho- doenças. culturais x ambiente protegido x localidades
téis-fazenda, presídios, apartamentos, brasileiras; despreparo/desconhecimento/
IA - Quais as dificuldades e/ou pro-
chácaras, orfanatos, escolas, fundo de mau uso de técnicas e princípios já conhe-
blemas que têm impedido maiores
quintal, entre outros. cidos; desilusão com o “milagroso processo
eficácia e expansão da PHAP?
O maior problema foi a sua irrespon- de produção” por parte de alguns produ-
sável introdução. Apesar da existência de Paulo Fontes - Há dificuldades em tores e, praticamente, por todos os “aven-
alguns profissionais que estudam o tema diversas áreas, pois é atividade recente no tureiros” ou amadores.

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2 Cultivo de Hortaliças em Solo e Hidroponia em Ambiente Protegido

IA - Quais produtores estariam aptos à va com outras localidades de produção a de estrutura de proteção e de equipamen-
utilização desta técnica? céu aberto, durante todo o ano. Existem tos terão mais chances de ser viáveis eco-
opções no Brasil. Na região Sudeste, os nomicamente. Estudos terão que mostrar
Paulo Fontes - Aqueles produtores que
locais situados em altitude média, em torno os caminhos.
entenderem ou forem capazes de ser
de 600m, aparentemente são os mais
orientados para 10 pontos básicos:
indicados. IA - Como os produtores de outros paí-
- ser produtor tradicional das espécies
ses têm resolvido esses problemas?
que for plantar sob proteção;
IA - Por que nessa região ? Paulo Fontes - Pela desinfecção do
- ser capaz de oferecer o produto na
hora, na forma e no preço que o mer- Paulo Fontes - Por ser região tradi- solo e pelo plantio em substratos. Ambas
cado quer, atentando para a oferta cional implica em facilidades logísticas, são soluções de custos iniciais altos e
de produtos de visualização e sabor mão-de-obra treinada, conhecimento da sofrem fortes influências ambiental, eco-
apurados; cultura, inclusive oportunidades e dificul- nômica e do sistema de produção utilizado,
dades de comercialização. A proximidade exigindo conhecimentos específicos, pouco
- dispor de mão-de-obra motivada e
dos centros consumidores oferece ao pro- disponíveis para as condições brasileiras.
treinada;
dutor a oportunidade de efetuar a venda Obviamente, nos outros países, a apro-
- ter competência gerencial e admi-
diretamente ao consumidor, trabalhando priação dos procedimentos vem sendo
nistrativa;
com o “preço feito” ao invés da venda por conseguida ao longo de vários anos, por
- entender que a PHAP tem que ser
consignação. Nesses locais, o verão é chu- pesquisas adaptadas às peculiaridades
encarada como um sistema de pro-
voso, com temperaturas não muito altas e regionais, sem mágicas ou milagres.
dução intensivo e harmônico; em que
o inverno é pouco rigoroso. Assim, é pos-
mão-de-obra, genótipo, equipa-
sível utilizar o ambiente protegido o ano IA - Qual a sua opinião sobre o uso de
mentos, estrutura física, bem como
todo, sem custos adicionais altos, bene- substrato ao invés do solo na PHAP?
as práticas de manejo da cultura,
água, planta, solo e insumos neces- ficiando-se dos efeitos guarda-chuva, no Paulo Fontes - Da mesma maneira que
sitam ser realizadas com coerência, verão, e estufa, no inverno. Com isto, consideramos a PHAP em relação à pro-
competência e eficácia para serem aumenta-se a possibilidade de amorti- dução de hortaliças no país: complemen-
otimizadas, obedecendo-se sempre o zação mais rápida do capital investido e tar. Os diversos substratos, água, areia e
conceito de tecnologia apropriada intensifica-se o processo. materiais sintético, natural e orgânico, são
para cada local; usados em diferentes sistemas. Acredita-
- dispor de informação e conhecimento IA - Que problemas podem ocorrer com mos que o esforço da pesquisa, na busca
agronômico sobre a cultura, apro- o uso intensivo do solo sob estufa? de conhecimento para viabilizar a PHAP,
priados para as condições do seu vai passar, em parte, pelo uso adequado
Paulo Fontes - Aparentemente, os
empreendimento; dos substratos. Acreditamos que os natu-
problemas principais são: acúmulos de
rais e orgânicos serão os mais estudados,
- ser criativo e estar disposto a crescer patógenos e de sais no solo. Sem falar na
visto que os demais são mais limitados por
aprendendo; possibilidade de ocorrência de efeitos
razões técnicas ou operacionais ou ambien-
- ser crítico e ter a mentalidade de ex- negativos dos plantios repetidos de
tais ou mesmo sanitárias.
perimentação em relação a mercado, determinada espécie no mesmo local, que
estrutura, fatores de produção e deverão ser resolvidos por técnicos e
IA - E o futuro da PHAP para os técnicos
outros que lhes são oferecidos como pesquisadores.
e produtores ?
“o que há de melhor no mercado”;
Paulo Fontes - Temos muito que
- não acreditar em milagres, mas em IA - Como os produtores brasileiros de
aprender, especialmente porque a PHAP
experiência, conhecimento, compe- hortaliças em ambiente não-prote-
cresceu bastante na China. Nesse país, em
tência e trabalho; gido têm resolvido os problemas
1986, a área para a PHAP foi menos que
- o décimo mandamento fica a critério enumerados?
70 mil ha. Em 1996, atingiu 500 mil ha
do leitor.
Paulo Fontes - Mudando de área, di- ou 14% da área total dedicada à produ-
ferentemente de outros países, onde há ção de hortaliças. Seja na China, seja no
IA - Em termos de localidades, onde o
dificuldades para tal, pois é pequena a Brasil, aprender e crescer não é possível
PHAP é mais viável ?
disponibilidade de áreas novas, ou porque sem a disponibilidade de recursos mate-
Paulo Fontes - Acredito que a locali- os produtores estabeleceram onerosa estru- riais e humanos capazes de desenvolverem
dade deva ter: tradição no cultivo de hor- tura fixa (não somente a estufa, mas depó- e/ou adaptarem tecnologias compatíveis
taliças, alguma condição desfavorável de sitos, moradias, área de pós-colheita etc), com específicas condições edafoclimáticas
clima e proximidade dos centros con- inviável de ser transportada para outros e de mercado e sem considerar os valores
sumidores. Além disso, deverá permitir que locais. Até que tenhamos equacionados e culturais, sociais e, acima de tudo, econô-
no ambiente protegido seja possível resolvidos (técnica e economicamente) mico dos produtores. E a estes, como o fu-
produzir as hortaliças que o mercado quer, aqueles problemas, acreditamos que as turo pertence a Deus, cabe-lhes seguir os
com vantagens comparativa e competiti- concepções mais simples e de baixo custo mandamentos.

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REVISTA BIMESTRAL
ISSN 0100-3364
INPI: 1231/0650500 Cultivo de hortaliças em
COMISSÃO EDITORIAL ambiente protegido exige
Márcio Amaral
Marcos Reis Araújo capacitação técnica do produtor
Marcelo Franco
Antônio M. S. Andrade A produção de hortaliças vem passando por transformações
Luthero Rios Alvarenga
José Braz Façanha em busca da modernização necessária para melhorar sua renta-
Eustáquio da Abadia Amaral
Vânia Lúcia Alves Lacerda bilidade e competitividade, o que tem exigido dos agricultores
esforços no sentido de identificar e eliminar as deficiências
EDITOR
Vânia Lúcia Alves Lacerda tecnológicas, gerenciais e organizacionais que ocorrem nos dis-
tintos elos do agronegócio.
COORDENAÇÃO TÉCNICA
Valter Rodrigues Oliveira e Maria Aparecida Nogueira Sediyama São vários os desafios a enfrentar, sendo alguns deles: melho-
COORDENAÇÃO EDITORIAL rar a eficiência produtiva do sistema, aumentar a competiti-
Marlene A. Ribeiro Gomide vidade dos produtos, reduzir os riscos, reduzir ao mínimo os custos
AUTORIA DOS ARTIGOS unitários da produção e aumentar a receita na venda dos pro-
Adriana Luzia Pontes, Antonio Bliska Júnior, Carlos Alberto Gemeinder de
Moraes, Carlos Alberto Lopes, Denizart Bolonhezi, Flávio Marquini, dutos, agregando-lhes qualidade e valor e eliminando os elos
Francisco Neto de Assis, Francisco Xavier Ribeiro do Vale, Francisval de desnecessários da cadeia de intermediação. Isto só pode ser
Melo Carvalho, Hélcio Costa, Heloísa Santos Fernandes, Henoque Ribeiro
da Silva, Hermínia Emília Prieto Martinez, João Tessarioli Neto, José Geraldo conseguido com o uso de tecnologias geradas e disponibilizadas
Barbosa, José Usan Torres Brandão Filho, Juarez José Vanni Müller, Laércio
Zambolim, Luciano Oliveira Geisenhoff, Luis Cláudio Paterno Silveira, pela pesquisa e aplicadas eficientemente nas diversas etapas
Magno de Souza, Marcelo Picanço, Marta Elena Gonzalez Mendez, Osmar
Alves Carrijo, Osni Callegari, Paulo César Costa, Paulo Cezar Rezende Fontes,
do agronegócio por olericultores profissionais, com capacitação
Paulo Roberto Gomes Pereira, Paulo Sérgio Koch, Paulo Tarcísio Della técnica e intuição empresarial.
Vecchia, Pedro Jacob Christoffoleti, Pedro Roberto Furlani, Roberto Funes
Abrahão, Rumy Goto, Sérgio Roberto Martins, Sylvio Luís Honório, Tadeu A tecnologia do cultivo em solo em ambiente protegido,
Graciolli Guimarães, Valdemar Faquin, Valmir José Vizzotto, Waldir Aparecido
Marouelli
quando introduzida no Brasil, visava o cultivo de hortaliças na
entressafra, época em que os produtos alcançavam preços
REVISÃO LINGÜÍSTICA E GRÁFICA
Marlene A. Ribeiro Gomide, Rosely A. R. Battista Pereira elevados de mercado. Atualmente, é uma tecnologia incorpora-
da ao sistema de produção de hortaliças. Os pontos-chave na
NORMALIZAÇÃO
Fátima Rocha Gomes e Maria Lúcia de Melo Silveira expansão desse novo sistema de produção têm sido o aumento
da competitividade, a internacionalização dos padrões de con-
PRODUÇÃO E ARTE
Digitação: Anderson dos Santos Coelho, Maria Alice Vieira e
sumo, as mudanças no sistema de comercialização e o funda-
Rosangela Maria Mota Ennes mental papel do consumidor no direcionamento do mercado,
Formatação: Maria Alice Vieira, Rosangela Maria Mota Ennes
Capa: Lamounier Lucas Pereira Júnior
no controle de qualidade e na exigência de produtos mais ela-
Programação visual: Lamounier Lucas Pereira Júnior borados.
IMPRESSÃO Com vistas à otimização da produtividade e de cada fator
Gráfica Lítera Maciel
Rua Simão Antonio 1.070 - Cincão - Contagem - Fone: 391-0644 de produção e devido à expansão da demanda por produtos
PUBLICIDADE nobres e de alta qualidade, por consumidores mais exgentes e
Miguel Talini Marques Filho
Assessoria de Marketing
de maior poder aquisitivo, observa-se nos últimos anos, no Brasil,
Av. Amazonas, 115 - CEP 30180-902 - Belo Horizonte-MG associado às estruturas de proteção, crescimento substancial
Fone: (31) 273-3544 e 274-8194 - Fax: (31) 273-3884
do cultivo de hortaliças em sistemas hidropônicos. Embora este
Copyright © - EPAMIG - 1977
É proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sistema esteja voltado principalmente para o cultivo de horta-
sem autorização escrita do editor. Todos os direitos são
reservados à EPAMIG. liças de folhas, ele tem despertado interesse dos produtores para
Informe Agropecuário. - v.3, n.25 - (jan. 1977) - .- a produção de hortaliças de frutos.
Belo Horizonte: EPAMIG, 1977 - .
v.: il. A EPAMIG, na sua missão de produzir e difundir conhecimento
e engajada no processo de modernização da olericultura bra-
Bimestral
Cont. de Informe Agropecuário: conjuntura e estatística. - sileira, traz nesta edição especial de número 200 e 201, informa-
v.1, n.1 - (abr.1975).
ISSN 0100-3364 ções técnicas sobre essas modalidades de cultivo tão impor-
1. Agropecuária - Periódico. 2. Agricultura - Aspecto
tantes para o agronegócio brasileiro.
Econômico - Periódico. I. EPAMIG.
CDD 630.5
Márcio Amaral
ASSINATURAS: SETA/EPAMIG
Amazonas, 115 - 6o andar - Caixa Postal 515 - Fone: (031) 273-3544 Ramais 137/149 Presidente da EPAMIG
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História e perspectivas da produção de hortaliças


em ambiente protegido no Brasil
Paulo Tarcísio Della Vecchia 1
Paulo Sérgio Koch 2

Resumo - O polímero de polietileno, descoberto no final da década de 30 e introduzido


na agricultura no início da década de 50, revolucionou a produção comercial de
algumas hortaliças em diversas regiões do mundo. Nas décadas de 70 e 80, houve
uma grande expansão da área de cultivo de hortaliças em ambiente protegido,
particularmente na Ásia e costa do mar Mediterrâneo. Estima-se que a área de
hortaliças em cultivo protegido (casas de vegetação e túneis altos) no mundo seja de
cerca de 200 mil hectares. No Brasil, esta tecnologia foi introduzida na década de 70.
Observou-se um rápido crescimento do cultivo de hortaliças com essa tecnologia, no
início da década de 90. Estimativas apresentadas em 1994 apontavam para uma área
de cultivo protegido de hortaliças de cerca de 2 mil hectares, com taxa anual de cres-
cimento de 30%. Projeções para a virada do milênio indicavam uma área potencial
de produção de hortaliças em ambiente protegido de cerca de 10 mil hectares. Levan-
tamento realizado em 1999, entretanto, estima a área de produção de hortaliças em
ambiente protegido no Brasil em cerca de 1.390 hectares. Diversos fatores têm sido
apontados como responsáveis pelo não crescimento do cultivo protegido de horta-
liças no país. Entretanto, podem ser apontados como fatores decisivos, a dificuldade
no estabelecimento de uma vantagem comparativa no mercado para as hortaliças
produzidas em ambiente protegido e a competição dos produtos produzidos em
campo aberto. Todavia, existem perspectivas de reversão deste quadro a curto e
médio prazos, considerando-se como fatores indicativos o maior envolvimento da
instituição pública na condução de pesquisas pertinentes à área, a conscientização de
técnicos e produtores em relação às reais potencialidades da nova tecnologia de
produção e as mudanças no cenário de abastecimento dos instrumentos varejistas.
Palavras-chave: Hortaliças; Cultivo protegido; Plasticultura.

INTRODUÇÃO utilizado com um significado amplo. Ele de- HISTÓRIA


A expressão cultivo protegido tem sido fine um sistema de cultivo de plantas, em O descobrimento do polímero de poli-
utilizada, na literatura internacional, com um que um grande benefício é obtido pela utili- etileno, no final da década de 30, e sua
significado bastante amplo. Ela engloba um zação de produtos (filmes plásticos, tubos subseqüente introdução na agricultura,
conjunto de práticas e tecnologias (quebra- de irrigação, telas, etc.) derivados de polí- no início da década de 50, revoluciona-
ventos, mulches de solo, casas de vegetação, meros plásticos (Lamont, 1996). Entretanto, ram a produção comercial de algumas hor-
túneis altos, túneis baixos, irrigação, etc.), neste artigo, a expressão cultivo protegido taliças em diversas regiões do mundo
utilizados pelos produtores para um cultivo e o termo plasticultura são utilizados e (Lamont, 1996). Japão, China, Estados
mais seguro e protegido de suas lavouras referem-se especificamente ao cultivo de Unidos, Inglaterra e Israel lideraram esta
(Wittwer & Castilla, 1995). Da mesma forma, hortaliças em casas de vegetação e/ou tú- introdução na década de 50, seguidos pela
o termo plasticultura também tem sido neis altos cobertos com filmes plásticos. Espanha, França, Grécia, Turquia, Itália e

1
Engo Agro, Ph.D., Diretor Pesq. Agroflora S/A, Caixa Postal 427, CEP 12900-000 Bragança Paulista-SP.
2
Engo Agro, M.Sc., Gerente Pesq. Agroflora S/A, Caixa Postal 427, CEP 12900-000 Bragança Paulista-SP.

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outros países da costa do mar Mediter- Adventista Agroindustrial de Manaus, no da cidade de São Paulo (Kumagaia, 1991).
râneo, na década seguinte (Wittwer, 1993). Amazonas (Martins, 1996), e de cultivo de Uma resenha histórica do desenvolvimen-
No Brasil, a introdução desta tecnologia pepino japonês em ambiente protegido por to do cultivo de hortaliças em ambiente
ocorreu na década de 70, com a instalação produtores cooperados da extinta Coope- protegido no Brasil e no mundo é apresen-
dos projetos pioneiros de cultivo de toma- rativa Agrícola de Cotia - Cooperativa Cen- tada no Quadro 1. A área desse tipo de cul-
te em ambiente protegido pelo Instituto tral (CAC-CC) na região do cinturão verde tivo teve um rápido crescimento, parti-

QUADRO 1 - Resenha histórica do desenvolvimento do cultivo de hortaliças em ambiente protegido com cobertura de filmes plásticos no Brasil e no
mundo
Período Principais acontecimentos
1930 - Cientistas britânicos descobrem o polímero de polietileno (Lamont, 1996).

1950-1960 - Introdução do uso de filmes de polietileno e de outros polímeros de cadeias lineares ou ramificados, para o cultivo de plantas como
mulches, ou para a cobertura de túneis baixos e casas de vegetação. Japão, China, Israel, Estados Unidos e Inglaterra lideram esta
introdução (Wittwer, 1993).

1960-1970 - Introdução do cultivo de hortaliças em ambiente protegido nos países da costa do mar Mediterrâneo: Espanha, França, Grécia, Turquia,
Itália etc. (Wittwer, 1993).
- Rápido crescimento do cultivo de hortaliças em ambiente protegido na China e Japão (Wittwer, 1993).

1970-1980 - Rápido crescimento do cultivo de hortaliças em ambiente protegido nos países da costa do mar Mediterrâneo, principalmente na
Espanha e Itália (Wittwer & Castilla, 1995).
- A China assume a liderança mundial no cultivo de hortaliças em ambiente protegido (Wittwer & Castilla, 1995).
- Introdução do cultivo de hortaliças em ambiente protegido em países da América do Sul, principalmente no Chile em 1975 e Argentina
em 1976 (Cereghino, 1991).
- Instalação do projeto de cultivo de tomate em ambiente protegido pelo Instituto Adventista Agroindustrial de Manaus (Martins, 1996).
- Produtores cooperados da ex CAC-CC iniciam, em 1978, o cultivo de pepino japonês em ambiente protegido na região do cinturão verde
de São Paulo (Kumagaia, 1991).

1980-1990 - A produção de hortaliças em ambiente protegido, nos países da costa do mar Mediterrâneo, passa a ser a mais importante da Europa,
a ponto de a região ser considerada a Horta da Europa. Casas de vegetação do Norte da Europa, anteriormente destinadas à produção de
hortaliças, passam a concentrar-se mais na produção de flores e plantas ornamentais (Wittwer & Castilla, 1995).
- Devido ao sucesso obtido pelos primeiros produtores de pepino japonês, o cultivo de hortaliças em ambiente protegido amplia-se,
inicialmente entre os produtores, cooperados da ex CAC-CC e, posteriormente, entre outros produtores, principalmente nos estados do
Sul e Sudeste do Brasil.
- Em 1984, por iniciativa da Petroquímica Triunfo S/A, é elaborado e desenvolvido o Projeto São Tomé que tem como uma de suas metas,
desenvolver o cultivo de hortaliças em ambiente protegido na Região Sul do Brasil (Sganzerla, 1991).
- Diversas empresas privadas são criadas nos meados da década, visando o desenvolvimento, produção e comercialização de estruturas
metálicas para a construção de estufas. Empresas químicas e petroquímicas envolvem-se mais diretamente com a produção de filmes de
polietileno de melhor qualidade no Brasil. Dentre estas, destacam-se a Politeno, Poliolefinas, Petroquímica Triunfo, Union Carbide do
Brasil, Ciba Geigy e a Cianamid (Araújo, 1991).
- A partir da segunda metade desta década, diversas instituições públicas do Brasil iniciam seus trabalhos de pesquisa visando à melhoria
da produção de hortaliças em ambientes protegidos. Destacam-se como líderes neste trabalho a Faculdade de Ciências Agrárias e
Veterinárias (FCAV) da Unesp - Jaboticabal, SP; a Embrapa Hortaliças - Brasília, DF; o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar),
Curitiba, PR; a Universidade de Passo Fundo (UPF) - Passo Fundo, RS e a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) - Pelotas, RS.

1990-1999 - A exemplo do que ocorreu com as casas de vidro do Norte da Europa, parte da área, anteriormente destinada à produção de hortaliças
nos ambientes protegidos da costa do mar Mediterrâneo, passa a ser destinada à produção de flores e plantas ornamentais (Wittwer &
Castilla, 1995).
- No início da década, impulsionados pelos primeiros resultados alcançados e pelo entusiasmo de técnicos da pesquisa e extensão, alguns
governos estaduais subsidiam programas para instalação de estufas destinadas ao cultivo de hortaliças no Brasil. Dentre estes destaca-
se o programa da Secretaria de Estado de Agricultura e Abastecimento do Paraná (Hamerschmidt, 1996/1997).
- Em 1991, iniciam-se os primeiros cultivos hidropônicos de alface em ambiente protegido na região do cinturão verde de São Paulo.
- Em 1994, a área de produção de hortaliças em ambiente protegido no Brasil é estimada em 2 mil hectares com crescimento anual de 30%
e projeções que apontam para uma área de 10 mil hectares na virada do milênio (Minami, 1995).
- Realização do I Fórum Internacional de Cultivo Protegido em Botucatu, SP, em 1997.
- Instalação do Comitê Brasileiro de Plasticultura, em 1999.

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cularmente na Ásia e costa do mar Medi- QUADRO 2 - Estimativa da área cultivada com hortaliças em casas de vegetação e túneis altos
terrâneo, nas décadas de 70 e 80. O Qua- cobertos com filmes plásticos nos principais países do mundo
dro 2 apresenta uma estimativa da área e Área
País Culturas(1)
das principais hortaliças cultivadas em (ha)
casas de vegetação e túneis altos cobertos China 62.000 Pepino, tomate, morango, pimentão, berinjela,
com filmes plásticos, nos principais países cebola, cebolinha, vagem, couve-chinesa, abóbora.
do mundo. No Brasil, observou-se também Japão 30.000 Pepino, tomate, morango, melão.
um rápido crescimento desse cultivo, no
Espanha 24.000 Melancia, pimentão, melão, morango, tomate,
início da década de 90. Estimativas apre-
pepino, abóbora.
sentadas em 1994 apontavam para uma área
Itália 21.000 Tomate, morango, pimentão, melão, pepino.
de produção de hortaliças em ambiente
protegido de cerca de 2 mil hectares, taxa Grécia 11.000 Tomate, pepino, melão, pimentão, berinjela.
anual de crescimento de 30% e projeções Argélia 10.000 Tomate, pepino, melão.
para uma área de cerca de 10 mil hectares
França 6.000 Tomate, pepino, morango.
na virada do milênio (Minami, 1995).
Egito 6.000 Tomate, pepino, melão.

SITUAÇÃO ATUAL Portugal 5.000 Melão, morango, tomate, pimentão.


Coréia do Sul 4.000 Pepino, tomate, vagem, repolho.
Estimativas da área de produção de hor-
taliças em ambiente protegido no Brasil, Marrocos 3.400 Tomate, pepino, pimentão, berinjela.
para o ano de 1998, não corroboram com as Turquia 3.000 Tomate, pepino, melão, berinjela, pimentão.
expectativas de crescimento do início da
Rússia 3.000 Pepino, cebola, tomate, morango.
década. De acordo com levantamento efe-
tuado em 1999, cerca de 1.390 ha foram Reino Unido, Holanda, Bélgica, 6.000 Tomate, pepino, alface, morango.
Escandinávia e Alemanha
cultivados com hortaliças nesse sistema,
FONTE: Wittwer (1993).
no Brasil, no ano de 1998. São Paulo, Paraná
(1) Culturas em ordem aproximada de importância.
e Rio Grande do Sul foram os estados com
maior área de produção. Dentre as horta-
liças mais utilizadas destacaram-se o pi-
mentão, a alface, o tomate e o pepino (Qua- superação de problemas relacionados com dessa tecnologia em escala comercial no
dro 3). a comercialização diferenciada das hor- Brasil, data de 1985. Durante o período de
Diversos fatores têm sido apontados taliças produzidas em ambientes prote- 1985 a 1994, apenas 47 trabalhos sobre
como responsáveis pelo baixo crescimento gidos de forma que justifiquem e estimulem plasticultura foram apresentados. Destes,
do cultivo protegido de hortaliças no Brasil. o investimento na plasticultura; profunda somente um tratou do aspecto nutrição e
Martins (1996) e Goto (1997) apontaram crise sócio-econômica experimentada pelo adubação de plantas e dois trataram do
como principais os seguintes: equívocos Brasil ao longo das décadas de 80 e 90 com controle de pragas e doenças, aspectos
ou má-fé na divulgação da tecnologia, sem graves conseqüências no crescimento do identificados como críticos no cultivo de
o respaldo de informações adequadas pre- consumo, no custo e disponibilidade de hortaliças em ambiente protegido. O mesmo
viamente geradas e testadas pela pesquisa crédito para investimento agrícola. Alguns pode ser constatado para outras áreas de
agrícola, que resultaram em experiências dos problemas apontados por Martins conhecimento (Quadro 4). Tais dados suge-
negativas para muitos produtores, com (1996) e Goto (1997) são evidentes e de fácil rem que a pesquisa não conseguiu ante-
prejuízos econômicos e conseqüente des- reconhecimento. Outros, porém, merecem cipar-se em relação às necessidades da
crença no uso desse sistema de produção; uma reflexão mais profunda. nova tecnologia de produção de hortaliças,
equívocos no estabelecimento de priori- Em relação à pesquisa sobre o cultivo particularmente durante o período inicial e
dades de pesquisa para o atendimento das de hortaliças em ambiente protegido, uma de crescimento acelerado da plasticultura
demandas reais do setor; falta de integra- análise dos trabalhos apresentados nos no Brasil. A falta de informações da pes-
ção entre instituições públicas de pesqui- congressos da Sociedade de Olericultura quisa pode ter contribuído para dificul-
sa, extensão rural, produtores e empresas do Brasil (SOB) pode ajudar a visualizar dades e experiências negativas de muitos
privadas para a divulgação de resultados melhor a realidade do início da plasticultura produtores, particularmente aqueles mais
de pesquisa, introdução de novas tecno- comercial no país. O primeiro trabalho novos na atividade. Entretanto, não se
logias e fomento da plasticultura; difi- sobre esse sistema de cultivo apresentado acredita que tenha sido um fator relevante
culdades para o estabelecimento e/ou a no congresso da SOB, após a introdução no baixo crescimento do cultivo protegido
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8 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

QUADRO 3 - Estimativa da área cultivada com hortaliças em ambiente protegido no Brasil, para o ano de 1998
Área
Estado Principais culturas(1) Principais regiões/cidades
(ha)
São Paulo 550 Pimentão, tomate, pepino, alface, Mogi das Cruzes, Salesópolis, Itaquaquecetuba, Ibiúna, Vargem Grande, São
folhosas(2) Miguel Arcanjo, Campinas, Salto, Indaiatuba, Jaguariúna, Holambra, Bragança
Paulista, Tuiuti, Pinhalzinho, Sorocaba, Tietê, Boituva, Cerquilho, Itapetininga,
Tatui, Capão Bonito, Guapiara, Araçatuba, Birigui, Marília, Tupã.

Paraná 240 Alface, pepino, tomate, pimentão Curitiba, Santo Antônio da Platina, Londrina, Maringá, Cascavel, Guarapuava,
Campo Mourão, Pato Branco, Cornélio Procópio, União da Vitória, Ponta
Grossa.

Rio Grande do Sul 200 Alface, tomate, pepino, pimentão Porto Alegre, Serra Gaúcha, Depressão Central, Campanha, Santa Rosa,
Planalto, Vale do Taquari, Alto Uruguai, Zona Sul.

Mato Grosso do Sul 100 Alface, melão, pepino, tomate Angélica, Aparecida do Taboado, Bataguassu, Campo Grande, Dourados,
Fátima do Sul, Itaporã, Naviraí, Nova Andradina, Rochedo, Sidrolândia, São
Gabriel do Oeste, Taquarussu.

Rio de Janeiro 100 Pimentão, tomate, alface, jiló Terezópolis, Sumidouro, Paty do Alferes, Itaperuna, São José do Vale do Rio
Preto, Petrópolis, Saquarema, Nova Friburgo, Miguel Pereira, Bom Jardim,
Vassouras, São José de Ubá, Araruama, Cambuci, Varre-Saí, Itaocara.

Distrito Federal 70 Pimentão, folhosas, tomate, pepino Espalhadas por todos os núcleos rurais.

Santa Catarina 50 Tomate, alface, pepino, pimentão Região Oeste, Planalto Alto, Vale do Itajaí, Região Litorânea.

Minas Gerais 20 Alface, pimentão, tomate, folhosas(2) Belo Horizonte, Sete Lagoas, Divinópolis, Araguarí, Uberlândia, Patos de
Minas, Juiz de Fora, Barbacena, Muriaé, Teofilo Otoni, Mucuri, Montes
Claros.

Espírito Santo 10 Pimentão, alface, tomate, pepino Venda Nova, Santa Maria.

Outros 50 _ _
(1) Principais culturas em ordem aproximada de importância. (2) Entre as folhosas incluem-se principalmente agrião, almeirão, rúcula, espinafre
japonês e algumas espécies condimentares (cebolinha, salsa, coentro, etc.).

QUADRO 4 - Trabalhos de pesquisa sobre o cultivo de hortaliças em ambiente protegido apresentados nos congressos da SOB no período 1987-
1998
Número
Período de Linhas de pesquisa Culturas Instituições de pesquisa
trabalhos
1987-1990 16 Avaliação de cultivares (8), agroclimato- Tomate (9), pepino (3), EMBRAPA Hortaliças, DF (7), UNESP-FCAV, SP (2),
logia (4), irrigação (1), economia (1), nu- melão (3), hortaliças di- EMBRAPA Clima Temperado, RS (2), UFPEL, RS (1),
trição e adubação (1), filmes plásticos (1) versas (1) UPF, RS (1), UFSM, RS (1), IAPAR, PR (1), UEPAE,
PA (1)

1991-1994 30 Avaliação de cultivares (13), agroclima- Tomate (12), pepino (8), EMBRAPA Hortaliças, DF (10), UNESP-FCAV, SP
tologia (5), práticas culturais (4), hidro- alface (5), pimentão (2), (6), UPF, RS (6), IAPAR, PR (4), EPAGRI, SC (2),
ponia (3), filmes plásticos (3), controle abobrinha (1), vagem (1), UNESP-IS, SP (1), UEL, PR (1)
de pragas e doenças (2), irrigação (1) melão (1)

1995-1998 72 Avaliação de cultivares (21), práticas Tomate (21), alface (20), UNESP-FCAV, SP (13), EMBRAPA-Hortaliças, DF (11),
culturais (20), Hidroponia (11), nutrição pepino (12), melão (5), UNESP-FCA, SP (8), UFPEL, RS (7), UENF, RJ (4),
e adubação (5), tipos de ambiente prote- pimentão (5), abobrinha UFSCAR, SP (4), IAPAR, PR (3), EMBRAPA-Clima
gido (4), irrigação (3), controle de pragas (2), hortaliças diversas Temperado, RS (3), UNB, DF (3), UFV, MG (2), UFLA,
e doenças (3), agroclimatologia (2), filmes (2), morango (1) MG (2), UPF, RS (2), UFSM, RS (2), USP-ESALQ, SP
plásticos (2), economia (1) (2), IAC, SP (1), UNESP-IS, SP (1), UEL, PR (1),
UFAM, AM (1), UFPI, PI (1), UNIMAR, SP (1)
NOTA: O número entre parênteses indica o total de trabalhos apresentados por linhas de pesquisa, culturas e/ou instituições de pesquisa.

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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 9

de hortaliças no Brasil. É característica a curto ou a médio prazo. A seguir são des- possibilidades de sucesso e crescimen-
inerente da pesquisa agrícola trabalhar tacados os fatores indicativos dessa pos- to.
sobre demandas criadas pela adoção de sível mudança.
novos sistemas de produção, particular- Mudanças no cenário do
mente quando estes apresentam um rápido Maior envolvimento da abastecimento dos
crescimento. O exemplo de Almeria, na instituição pública na instrumentos varejistas
Espanha, ilustra bem este fato. Embora a condução de pesquisas Já foi dito que o sucesso do cultivo de
pesquisa espanhola também não tenha pertinentes à área hortaliças em ambiente protegido depende
antecipado às necessidades dos produ- De 1995 a 1998 o número de trabalhos da possibilidade do estabelecimento de
tores no cultivo de hortaliças em ambiente apresentados nos congressos da SOB, uma vantagem comparativa evidente, para
protegido, a falta dela, principalmente no sobre o cultivo de hortaliças em ambiente produtos produzidos sob estas condições,
início do desenvolvimento e adoção da protegido no Brasil foi bastante superior quando comparados aos produzidos em
nova tecnologia de produção, não impediu àqueles apresentados no período de 1985 campo aberto. Para que isto ocorra, é ne-
o crescimento da atividade na região que a 1994. Cerca de 20 instituições públicas cessário obter não só qualidade, mas
veio tornar-se a maior área contínua de de diversos Estados brasileiros estiveram também alta produtividade nos cultivos
produção de hortaliças em ambiente pro- envolvidas com a condução dessas pes- sob ambiente protegido. Nas palavras de
tegido do mundo. quisas (Quadro 4). Desde que estas insti- Martins (1996) será preciso “produzir mais
O que parece ter sido crítico para o tuições sejam capazes de dar continuidade e melhor com menor custo por unidade
baixo crescimento da plasticultura no Brasil ao trabalho já iniciado e que tenham como produzida”. Trabalhos de pesquisa condu-
foi a dificuldade de estabelecimento de uma preocupação constante a identificação zidos no Brasil, como por exemplo o de
vantagem comparativa, em nível de mer- correta das reais necessidades de pesquisa Fontes et al. (1997) e Rodrigues (1997), con-
cado, para as hortaliças produzidas em na área, elas certamente poderão fornecer, firmam a possibilidade de produzir mais e
ambiente protegido. A falta de experiência a partir de agora, o suporte técnico neces- melhor sob ambiente protegido. Parece que
de muitos produtores, particularmente em sário para o desenvolvimento seguro da a maior dificuldade tem sido a comercia-
relação à classificação, embalagem e co- plasticultura no Brasil. lização diferenciada dos produtos, pois,
mercialização diferenciada dos produtos além da excelência na padronização e qua-
produzidos em ambiente protegido, parece Amadurecimento em relação lidade dos produtos, é necessário também
ter sido decisiva para o insucesso e a des- às potencialidades da nova produzir em escala compatível para garantir
crença deles no uso de ambiente protegido tecnologia de produção o atendimento dos instrumentos diferen-
para a produção de hortaliças. Outro fator Cerca de 20 anos se passaram desde o ciados do mercado varejista. Não basta
importante a ser considerado é a com- início da introdução do cultivo protegido produzir qualidade, se não for possível
petição dos produtos cultivados em campo de hortaliças, no Brasil. Durante este pe- produzir também quantidade regularmen-
aberto. Devido às dimensões continentais ríodo, produtores profissionais e amadores, te. Tem-se observado, em particular nos
do Brasil e a sua extraordinária diversidade sem nenhuma experiência, envolveram-se últimos anos, um crescente interesse dos
climática, a produção de hortaliças de no cultivo de hortaliças em ambiente pro- supermercados no segmento dos horti-
qualidade em campo aberto é quase sempre tegido. Se a adoção da nova tecnologia frutigranjeiros. Estes exigem qualidade e
possível, particularmente para algumas já foi difícil para os produtores profissio- escala. Começam a surgir no Brasil as
espécies. Tomando como exemplo o to- primeiras empresas e associações de pro-
nais, ela foi sem dúvida motivo de frus-
mateiro, frutos desta espécie, produzidos dutores interessadas em atender este nicho
tração para muitos amadores. Estes já aban-
em campo aberto, têm sido cuidadosamente de mercado. Acredita-se que o cultivo pro-
donaram a atividade, restaram somente os
classificados e embalados por alguns tegido de hortaliças possa vir a dar gran-
profissionais. Também, já não se observa
produtores e/ou embaladores com qua-
mais a euforia dos primeiros anos. Percebe- de suporte a esta iniciativa, garantindo a
lidade comparável, em aparência, à dos
se, portanto, que houve um amadure- qualidade e os volumes necessários, par-
tomates produzidos em ambiente protegido.
cimento em relação às potencialidades da ticularmente para algumas espécies de
nova tecnologia tanto entre produtores, hortaliças que apresentam dificuldades
PERSPECTIVAS FUTURAS de produção em épocas específicas do
como entre profissionais das esferas pú-
Apesar do baixo crescimento ou mesmo blicas e privadas responsáveis pelo fo- ano. Seria importante considerar as pro-
retrocesso observado nos últimos anos, no mento da atividade. Dentro deste novo duções obtidas em campo aberto e em
uso de ambiente protegido para o cultivo cenário, espera-se que, a partir de agora, ambiente protegido como produções com-
de hortaliças no Brasil, existem perspec- os investimentos na área sejam mais plementares para o atendimento desta
tivas de que esse quadro possa ser alterado conscientes e, portanto, com maiores demanda.

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10 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

AGRADECIMENTOS Technology, Alexandria, v.6, n.3, p.150-154,


1996.
Agradecemos aos profissionais, relacionados a seguir, pelo fornecimento das MARTINS, S.R. Desafios da plasticultura brasileira:
estatísticas referentes à área de produção de hortaliças em ambiente protegido, prin- limites sócio-econômicos e tecnológicos fren-
cipais culturas e regiões ou cidades que utilizam esta tecnologia de produção em seus te as novas e crescentes demandas. Horti-
respectivos Estados de atuação: Engo Agro Jandir Vicentini Esteves (RS); Engo Agro cultura Brasileira, Bra-sília, v.14, n.2, p.133-
Euclides Challenberger (SC); Engo Agro Iniberto Hamerschmidt (PR); Enga Agra Mariana 138, nov. 1996.
Zatarim (MS); Engo Agro Luiz Gomes Correia (MG); Engo Agro Norton Naldi Filho (RJ); Sr. MINAMI, K. Pesquisa em plasticultura no Brasil.
Fernando Cabral Ferraz (ES). In: PROGRAMA de plasticultura para o
Ao Dr. Sylvan H. Wittwer pela autorização para reprodução dos dados do Quadro 2. Esta-do de São Paulo. São Paulo: Associação
dos Engenheiros Agrônomos do Estado de São
Paulo, 1995. Cap.27, p.108-109. Apostila.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 160, mar./abr. 1997.
RODRIGUES, J.L.M.T.C. Projeto, cons-trução
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ARAÚJO, J.A.C.de. Recentes avanços da pesquisa avaliação técnico-econômica. Horticultura
agronômica na plasticultura brasileira. In: dução de alface na região de Viçosa - MG.
Brasileira, Brasília, v.15, p.163-165, 1997. Viçosa: UFV, 1997. 61p. Tese (Mestrado) -
SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE PLASTI-
Suplemento. Universidade Federal de Viçosa, 1997.
CULTURA, 1, 1989, Jaboticabal. Anais...
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SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE PLASTI- KUMAGAIA, P. Plasticultura na Cooperativa 1, 1989, Jaboticabal. Anais... Plasticultura.
CULTURA, 1, 1989, Jaboticabal. Anais... Agrícola de Cotia - Cooperativa Central. In: 2.ed. Jaboticabal: FUNEP, 1991. p.115-116.
Plasticultura. 2.ed. Jaboticabal: FUNEP, 1991. SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE PLASTI- WITTWER, H.S. World-wide use of plastics in
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FINGER, F.L. Produção de cultivares de p.53-55. WITTWER, H.S.; CASTILLA, N. Protected culti-
tomate em estufa coberta com plástico. LAMONT JUNIOR, W.J. What are the components vation of horticultural crops worldwide. Hort
Revista Ceres, Viçosa, v.44, n.252, p.152- of a plasticulturae vegetable system? Hort Technology, Alexandria, v.5, n.1, p.6-23, 1995.

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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 11

Local de instalação e construção de estufas


para cultivo de hortaliças
Antonio Bliska Júnior 1
Sylvio Luís Honório 2

Resumo - Aspectos importantes da aplicação do plástico na agricultura em função das


condições climáticas, sistemas de cultivo, materiais disponíveis para construção e outros
considerados relevantes para o sucesso do cultivo protegido são discutidos. De maneira
especial é abordada a questão da temperatura, o que sem dúvida é o principal problema
da plasticultura brasileira.
Palavras-chave: Cultivo protegido; Plasticultura; Horticultura; Cultivo sem solo.

INTRODUÇÃO lação da estufa. Toda estrutura da estufa e estufa. O conhecimento prévio das condi-
de apoio à atividade hortícola deve resultar ções climáticas é obtido junto aos órgãos
A escolha do local de uma área desti-
de um projeto específico para o local onde competentes que mantêm postos me-
nada ao cultivo intensivo, quer seja em
vai ser construída. teorológicos instalados em todo o país. A
solo, quer seja em hidroponia, deve atender
obtenção de séries climáticas, normalmente,
a critérios técnicos rigorosos para o bom
PARÂMETROS DE PROJETO não integra os projetos de estufas cons-
funcionamento das estufas. Considerando-
truídas no Brasil e, por negligenciar este
se o cultivo em solo, a primeira medida é A localização da estufa em função da aspecto ou relegá-lo a segundo plano, mui-
atestar a sanidade deste, para evitar pro- topografia é que vai determinar a necessi- tos erros de projeto, problemas de manejo
blemas com nematóides e outros fito- dade de realizar uma terraplenagem prévia e até mesmo prejuízos comerciais têm
patógenos, pragas ou plantas daninhas que para sua construção. No caso de instala- ocorrido. Os problemas mais comuns são
possam comprometer a atividade agrícola. ções hidropônicas, tal necessidade visa o excesso de calor no interior da estufa e a
Tal medida é obrigatória, uma vez que as adequar o sistema de distribuição e dre- danificação parcial ou total dos plásticos
estufas, principalmente aquelas de estru- nagem da solução nutritiva, facilitando a de cobertura e da própria estrutura metálica
tura metálica, são fixas e permanecerão no operacionalização do sistema hidráulico. subdimensionada, devido à incidência de
mesmo local por um período não inferior a Neste caso, recomenda-se uma declividade ventos um pouco mais intensos. Vale lem-
20 anos. Feito isto, devem-se considerar de 2 a 3%. Já para o cultivo no solo, a mesma brar que dificilmente uma empresa nacional
aspectos referentes à localização, tais co- declividade pode ser adotada, mas sua dá garantias de suas estufas quanto a
mo: topografia, latitude, altitude, orientação recomendação visa somente facilitar a ocorrências de ordem climática. No entanto,
quanto à insolação, entre outros. drenagem do excesso de água de irrigação, em outros países essas garantias existem e
Antes, porém, vale lembrar que é difícil no interior da estufa, ou da chuva, exter- são, inclusive, exigidas para efeito de
conseguir atender a todas as condições namente. Em terrenos de maiores decli- seguro das estruturas das estufas.
consideradas ideais para a correta insta- vidades (até 15%), as estufas podem ser Outro fator de máxima importância em
lação de uma estufa. A decisão da escolha construídas, mas deve-se ter consciência qualquer projeto de cultivo protegido é a
do local mais adequado deve ser tomada da necessidade de alterações estruturais e água. Esta deve ser previamente analisada
com bom-senso e com base na análise das dificuldades operacionais que tal si- quanto à sua qualidade (físico-química e
conjunta dos fatores descritos a seguir. tuação vai impor. biológica) e mensurada quanto à sua dis-
Além disso, o empresário agrícola/produ- Altitude e latitude devem ser levadas ponibilidade.
tor rural deve recorrer, se possível, a técni- em consideração em função de sua impor- O correto levantamento das infor-
cos com comprovada experiência no cultivo tância com relação ao clima e microclima mações climáticas, aliado ao conhecimento
protegido, para auxiliá-lo no projeto e insta- do local escolhido, para a construção da das condições de crescimento e desenvol-

1
Engo Agro, M.Sc., Prof. UNICAMP-FEAGRI, Caixa Postal 6011, CEP 13083-970 Campinas, SP. E-mail: bliska@agr.unicamp.br
2
Engo Agro, Ph.D., Prof. Assist. UNICAMP-FEAGRI, Caixa Postal 6011, CEP 13083-970 Campinas, SP. E-mail: honório@agr.unicamp.br

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.20, n.200/201, p.11-14, set./dez. 1999


12 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

vimento exigidas pela espécie que se pre-


tende cultivar (temperatura, umidade,
Topt
luminosidade, concentração de dióxido de
carbono e nutrição) em ambiente protegido,

Fotossíntese
vai permitir a otimização dos benefícios que
esta ferramenta chamada estufa pode trazer
ao empresário/produtor agrícola. Para que
se tenha ciência da importância disso,
ressalta-se que profissionais habilitados, Tmín Tmáx.
como engenheiros agrícolas e agrônomos,
são aptos a dimensionar, com precisão de
0,5ºC nos projetos de estufas, as tempe- 0 10 20 30 40
raturas incidentes em seu interior ao longo
Temperatura da folha (oC)
do ano. Isto é possível devido ao chamado
Cálculo de Carga Térmica. Na prática, de-
Gráfico 1 - Relação entre fotossíntese da planta e temperatura da folha
vido à dificuldade de contatar técnicos
capacitados a fazer este tipo de cálculo,
têm-se sugerido aos usuários do cultivo
protegido algumas medidas de bom-senso, menda-se o posicionamento ao longo do ximo a capacidade de ventilação natural,
com base em fórmulas simples, as quais eixo Leste-Oeste da rosa-dos-ventos, si- utilizando-se do efeito chaminé, onde o ar
permitam um dimensionamento adequado tuação que reduz a incidência de radiação quente sobe por si só. Para o cultivo de
e que atenda aos requisitos mínimos de em mais de 20%. plantas, dentro de valores adequados de
ventilação das estufas nas condições bra- No cultivo em estufas, o produtor/em- temperatura, umidade, etc., a estufa precisa
sileiras de clima tropical. presário deve estar consciente da neces- estar equipada com janelas nas laterais e
sidade de possuir pelo menos um termô- no telhado (janela zenital ou lanternim), de
RELAÇÃO ENERGIA - PLANTA - metro de “máxima e de mínima”. Desse mo- acordo com a porcentagem de ventilação
AMBIENTE do, poderá coletar dados de temperatura (V%) descrita na Equação 2, de valor mí-
O sol, fonte primária de energia na for- regularmente no interior da estufa. De posse nimo igual a 30%, chegando a 40% nas
ma de radiação global (calor, raios infra- desses valores de temperatura, poderá regiões de clima mais quente.
vermelhos, luz visível e ultravioleta), aquece aplicá-los à Equação 1 e, com o auxílio do
Equação 2:
durante o dia o ambiente (ar), plantas, Gráfico 1, saber se as plantas estão reali-
estruturas e o solo da estufa. À noite, essa zando fotossíntese, ou seja, trabalho. Superfície das janelas (m2)
V% = x 100
energia é reemitida pela estufa na forma Superfície da estufa (m2)
Equação 1:
de ondas longas ou é dissipada por perdas
de ar quente, vapor de água, etc. Em con- T9 + 2 x T21 + Tmáx. + Tmín. Na Equação 2, por superfície da estufa
dição real, tem-se uma permanente troca Tm = subentende-se a área das paredes frontais,
5
de energia e gases (vapor de água, dióxido laterais e do telhado, ou seja, a superfície
de carbono, etc.) entre a estufa e o ambiente em que: recoberta com plástico.
externo. Na Região Sul do Brasil ou em Além deste, outro critério importante,
Tm = temperatura média (ºC), chamado de volumétrico, também deve ser
climas de altitude, especialmente em re-
giões serranas, o acúmulo de calor viabiliza T9 = temperatura às 9 horas (ºC), observado. Ele consiste na relação prática
a produção fora de época, no inverno prin- T21 = temperatura às 21 horas (ºC), de m3/m2, ou seja, na relação entre o volume
cipalmente, além de abreviar o ciclo da Tmáx. = temperatura máxima (ºC), de ar e a superfície da estufa (neste caso,
cultura. Nestas condições, deve-se orientar piso da estufa). Deve ser no mínimo de 3m3
Tmín. = temperatura mínima (ºC).
a estufa, com a sua maior dimensão (com- de ar por 1m2 de área coberta. Isto equivale
primento) alinhada com o eixo Norte-Sul a dizer que o pé direito de uma estufa, na
VENTILAÇÃO
da rosa-dos-ventos, de maneira a receber a calha, deve ser superior a 2,80m. Atual-
máxima carga de radiação solar. Nas demais Como em grande parte do território na- mente, mesmo em regiões de clima tempe-
regiões, o excesso de calor e as altas tem- cional a insolação é alta, a maior preocu- rado, a tendência tem sido trabalhar com
peraturas alcançadas no interior da estufa pação deve ser com a ventilação, para maiores volumes de ar, que possibilitam
farão com que a planta cesse a atividade eliminar o excesso de calor do interior das menor variação de temperatura com um
fotossintética (Gráfico 1). Por isso, reco- estufas. Para isso, deve-se explorar ao má- manejo adequado.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.20, n.200/201, p.11-14, set./dez. 1999


Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 13

Também o vento local deve ser consi- reforços estruturais para suportar desejado da temperatura por ser um acumu-
derado na localização da estrutura, para que sua carga; lador de energia e, portanto, de calor. A
se utilizem seus efeitos benéficos na reti- sua fixação na lateral da estufa, para impedir
d) carga da cultura. Para suporte de
rada do excesso de calor das estufas. Os a passagem dos insetos, é limitada pelo
plantas em vasos, isto pode repre-
aspectos de proteção contra ventos for- tamanho da trama da tela e mais uma vez
sentar até 1.000N/m2 ou em tomateiro
tes devem ser observados com cuidado, provoca acúmulo de calor, por causa da
tutorado, 150N/m2.
principalmente no que se refere à distância sua coloração, além de impedir uma ven-
mínima do quebra-vento até a estufa. Esta Dentre os materiais estruturais dispo- tilação mais adequada. Nestas situações,
deve ser de 10m e sua altura deve superar a níveis para a construção de estufas, têm- o uso de telas reflexivas, de telas de colo-
parte superior da cumeeira da estufa em se o ferro galvanizado, a madeira, o bambu, ração clara e de janelas escamoteáveis deve
1,5m. o concreto e até o próprio plástico rígido. ser considerado.
Cada um deles vai apresentar caracte- Na cobertura da estufa propriamente
ARQUITETURA DA ESTUFA rísticas técnicas e econômicas que vão dita, além dos tradicionais filmes plásticos
determinar a escolha. No entanto, na ques- transparentes de polietileno, estão dispo-
Com relação à arquitetura da estufa, tão econômica não se pode restringir a uma níveis, ao empresário agrícola, os filmes
deve-se ter em mente sua funcionalidade e análise imediatista. Deve-se ponderar a térmicos coextrudados (multicamadas),
praticidade para o controle do seu ambiente relação custo benefício de cada material ao recomendados para regiões de maior exi-
interno e a manutenção da estrutura como longo do tempo. Neste quesito, normal- gência de retenção de calor; filme difusor
um todo. Estufas em arco podem facilitar a mente, uma estrutura de ferro galvanizado, de luz, recomendado para culturas de porte
colocação do plástico, mas, em compen- apesar de seu custo elevado por metro alto que provocam auto-sombreamento
sação, apresentam o inconveniente de pro- quadrado, leva vantagem, quando consi- como tomate, pepino etc., e filmes coloridos,
porcionar o acúmulo de ar quente e difi- deradas a baixa manutenção e o longo como o vermelho (próprio para o cultivo
cultar a instalação de janelas zenitais (no período de vida útil da estrutura. de rosas e gérberas), que aumentam a taxa
telhado). Por isso, sua construção deve Dentro de uma estufa podem-se alterar fotossintética das plantas, ou o azul, que
restringir-se a culturas de porte baixo, que a quantidade e a qualidade da luz inciden- possui ação inibidora na entrada de insetos
não interferem na movimentação do ar com te sobre as plantas. Isto é possível com a vetores de viroses e no desenvolvimento
o uso exclusivo das janelas laterais. A cons- utilização apropriada dos materiais de de fungos (Botrytis e Pseudoperonospora
trução de estufas com telhado em duas cobertura de estufas de modo que atuem cubensis) no interior da estufa.
águas facilita a instalação de janelas zeni- como verdadeiros filtros de radiação e de Na prática, o uso do plástico ainda re-
tais ou lanternins e permite melhor manejo luz. A escolha adequada de plásticos, telas quer atenção em outros aspectos, como a
do ambiente. de sombreamento e telas reflexivas requer sua fixação sobre a estrutura, que deve ser
Novos modelos de estruturas mais sim- conhecimento das características e fun- de tal forma que não haja contato direto
ples e leves estão sendo projetados por ções de cada um desses materiais. com esta, evitando sua deterioração. O re-
empresas européias, visando o mercado Atualmente, a oferta no mercado de curso da pintura ou do uso de plásticos
tropical de estufas. Para atender a esse diversos materiais de cobertura produzidos velhos “encapando” a estrutura pode ser
segmento crescente, em que o Brasil está no país e a entrada de produtos importados usado, mas deve ser substituído por perfis
incluído, estão surgindo estufas com te- tendem a beneficiar o usuário, não só pelo de design próprio para evitar o apoio do
lhados móveis (tipo cabriolet) e coberturas aspecto econômico, mas também pelo plástico. Outro detalhe é prever a utiliza-
que funcionam como cortinas móveis a técnico. Mais uma vez a perfeita caracte- ção correta do plástico antigotejo (evita
base de poliéster. rização da necessidade de luz pela cultura que a água condensada no interior da es-
Estruturalmente, a estufa deve ser di- vai ser fundamental na escolha do plástico tufa pingue sobre as plantas, trazendo
mensionada para suportar: e/ou tela de sombreamento. Um dos erros problemas fitossanitários), segundo a
a) carga permanente (estrutura e co- mais freqüentes nas condições brasileiras exigência da cultura e estufa projetada, para
bertura plástica) e vertical; de clima tem sido a utilização inadequada escoar a água adequadamente no seu inte-
das telas de sombreamento, principalmen- rior.
b) carga de equipamentos (presentes O correto tensionamento do plástico
te as de coloração preta, para redução da
ou de instalação futura) - sistemas deve mantê-lo firme, para que não vibre com
temperatura e fechamento lateral de estu-
de irrigação, ventiladores, etc.; o vento e tenha a menor movimentação
fas. Como o nome diz, é uma tela de som-
c) carga de vento. Nota-se que o breamento que limita a passagem de luz. possível com a dilatação e contração, de-
principal efeito do vento é exercido Quando usada no interior das estufas, sua vido à variação de temperatura ambien-
no perímetro da estufa, exigindo coloração escura vai provocar aumento in- te.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.20, n.200/201, p.11-14, set./dez. 1999


14 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

MONITORAMENTO DO CONSIDERAÇÕES FINAIS UNICAMP, 1989. 89p. Apostila.


AMBIENTE MASTALERZ, J.W. The greenhouse
Apesar de aparentemente ser uma
O controle do ambiente de um cultivo tecnologia simples, a plasticultura não se environment: the effect of environmental
protegido implica na utilização de instru- resume a esticar um plástico por cima da factors on the growth and development of
mentos para medir as condições climáti- cultura. Requer conhecimentos técnicos e flower crops. New York: John Wiley &
cas interna e externa. Nos países desen- experiência na condução de um ambiente Sons, 1977. 629p.
volvidos isto normalmente é feito por que, apesar de visar à proteção da planta, MOURAD, A.L. Influência de algumas
uma miniestação meteorológica insta- vai provocar reações diferentes na cultura formulações de polietileno de baixa
lada nas casas de vegetação, equipadas em estufa, quando comparada ao cultivo densidade no aquecimento de estufas
com sensores (umidostatos, termostatos tradicional no campo. agrícolas. Campinas: UNICAMP, 1993.
etc.), que permitem a ligação direta com 46p. Dissertação (Mestrado) - Universi-
um computador. De forma geral, isto é dade Estadual de Campinas, 1993.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
feito para medir e coletar dados do am- PEZZOPANE, J.E.M. O uso de estufa com
biente interno (temperatura, umidade re- ALVAREZ, J.R.; PARRA, J.P. Tecnologia de cobertura plástica e de quebra-ventos na
lativa e dióxido de carbono) e do ambien- invernaderos. Almeria: DGIA, 1994. produção de porta-enxertos de serin-
te externo (temperatura, velocidade e di- 352p. gueira, na região de Campinas, SP.
reção do vento, radiação solar e precipi- Piracicaba: ESALQ, 1994. 87p. Dissertação
BAKKER, J.C.; BOT, G.P.A.; CHALLA, H.;
tação). (Mestrado) - Escola Superior de Agricultura
BRAAK, N.J. van de. Greenhouse
Esta realidade ainda está distante, uma “Luiz de Queiroz”, Universidade de São
climate control: an integrated approach.
vez que poucos produtores/empresários Paulo, 1994.
Wageningen: Wageningen Pers, 1995.
têm acesso a essa tecnologia. Por isso, tra- SENTELHAS, P.C.; SANTOS, A.O. Cultivo
279p.
balhamos com equipamentos mais simples, protegido: aspectos microclimáticos. In:
tais como: BLISKA JÚNIOR, A. Uso de CO2 em es-
CONGRESSO BRASILEIRO DE FLO-
tufa. In: CONGRESSO BRASILEIRO
a) termômetro de máxima e de míni- RICULTURA E PLANTAS ORNA-
DE FLORICULTURA E PLANTAS
ma: é um tubo de vidro fino com um MENTAIS, 10, 1995, Campinas.
ORNAMENTAIS, 10, 1995, Campinas.
fluido sensível ao calor, normalmente Resumos... Campinas, 1995.
Resumos... Campinas, 1995.
o mercúrio, que tem seu volume SGANZERLA, E. Nova agricultura: a
BLISKA JÚNIOR, A.; HONÓRIO, S.
alterado com as variações de tempe- fascinante arte de cultivar com plásticos.
L. Características óticas de materiais
ratura. Possui um marcador ou índi- 2.ed. Porto Alegre: Petroquímica Triunfo,
de cobertura de viveiros e estufas.
ce, para facilitar a leitura e registro 1990. 303p.
In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
dos dados; SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE PLASTI-
ENGENHARIA AGRÍCOLA, 23, 1994,
b) termômetro de bulbo seco e bul- Campinas. Programas e resumos... CULTURA, 1, 1989, Jaboticabal. Anais...
bo úmido ou psicrômetro: além da Campinas: SBEA/UNICAMP, 1994. Plasticultura. 2.ed. Jaboticabal: FUNEP,
medição da temperatura, permite a p.284. 1991. 154p.
determinação das condições de umi- BLISKA JÚNIOR, A.; HONÓRIO, S.L. SIQUEIRA, C.E.M. Propriedades óticas dos
dade relativa. É um termômetro co- Cartilha tecnológica de hidroponia. 3.ed. filmes agrícolas. São Paulo: AEASP, 1994.
mum, de dois bulbos, sendo um Campinas: UNICAMP, 1996. 51p. 36p.
deles envolto em material permanen-
BLISKA JÚNIOR, A.; HONÓRIO, S.L. VILLA NOVA, N.A.; GHELFI FILHO, H.;
temente umedecido.
Cartilha tecnológica de plasticultura OMETTO, D.A.; JANUÁRIO, M. Estu-
Com a tomada diária dos dados de tem- e estufa. Campinas: UNICAMP, 1996. do da influência da locação de uma edifica-
peratura e umidade relativa do ar, o pro- 85p. ção rural na carga térmica solar recebida
dutor/empresário vai começar a se familia- pelas paredes. Anais da Escola Superior
SERRANO CERMEÑO, Z. Estufas: ins-
rizar com as variações microclimáticas do de Agricultura “Luiz de Queiroz”,
talação e manejo. Lisboa: Litexa, 1990.
ambiente da estufa e poderá aprender, gra- Piracicaba, v.45, part. 1, p.109-124,
353p.
dativamente, como alterá-las em função 1988.
DUBOIS, P. Plastics in agriculture. London:
do manejo de abertura e fechamento de YOSHIMURA, A.; YOSHIDA, A.;
Applied Science, 1978. 176p.
janelas, irrigação, disposição das linhas de JAMPANI, M.G. “Plasticultura” uma
plantio, densidade de plantio e outras ope- LEAL, P.A.M.; TERESO, M.J.A. Fun- nova tecnologia. Biritiba-Mirim: Yoshida
rações. damentos de ambiência. Campinas: & Hirata, 1994. 79p.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.20, n.200/201, p.11-14, set./dez. 1999


Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 15

Caracterização climática e manejo de ambientes


protegidos: a experiência brasileira 1

Sérgio Roberto Martins 2


Heloisa Santos Fernandes 2
Francisco Neto de Assis 2
Marta Elena Gonzalez Mendez 2

Resumo - O cultivo em ambiente protegido é uma importante alternativa para


superar limitações climáticas, especialmente considerando sua eficiência quanto à
captação da energia radiante e aproveitamento pelas plantas da temperatura, água
e nutrientes disponíveis. São relatadas de forma resumida, as principais caracterís-
ticas climáticas de ambientes protegidos, com ênfase na realidade brasileira, a
partir de informações geradas nas principais instituições de ensino e pesquisa do
país. São abordados os parâmetros radiação solar, temperatura do ar e do solo,
umidade do ar e evapotranspiração, considerando diferentes peculiaridades quan-
to a estruturas, orientação solar, plásticos, cobertura do solo, espécies cultivadas
etc.
Palavras-chave: Plásticos; Estufa; Radiação solar; Umidade; Temperatura;
Evapotranspiração.

INTRODUÇÃO ressaltam que o cultivo de flores em estufa mente, os produtos colhidos apresentam
consome 5,4 vezes mais energia que no melhor qualidade; as plantas consomem
A eficiência fotossintética depende da
campo; entretanto, 80% desta energia menos água; diminui-se a lixiviação dos
capacidade da planta em captar a energia
utilizada é devida ao uso de combustível nutrientes; melhora-se o aproveitamento da
solar e transformá-la em biomassa apro-
para aquecimento. Fora isto, o consumo radiação solar; há um aumento significativo
veitável. Nos agrossistemas, também é
energético poderia ser o mesmo que no cam- da temperatura interna do ar e do solo; os
importante considerar a energia comple-
mentar em função das tecnologias utiliza- po. Estes autores observam que em países patógenos do solo, nematóides e plantas
das: o balanço energético será positivo, europeus, a calefação de estufas é respon- daninhas, podem ser controlados com
quando a energia produzida, expressa atra- sável por grande parte do consumo ener- aplicação de filmes plásticos. A melhoria
vés da biomassa, superar o total da energia gético da agricultura (42% na Bélgica, 25% da eficiência fotossintética das plantas é o
consumida. no Reino Unido e 30% na Alemanha). grande desafio para a produção agrícola.
Os ambientes protegidos podem apre- Em contrapartida, Slater (1983) destaca Tanto no campo como em ambientes
sentar balanço energético negativo, es- os ambientes protegidos dentre as estraté- protegidos, é desejável condições ideais
pecialmente em locais que utilizam alto gias para superar limitações climáticas, para a expressão do genótipo quanto a sua
consumo de energia não-renovável no especialmente considerando a sua eficiên- capacidade fotossintética, que depende da
aquecimento para superar as limitações cia na captação da energia radiante e melhor disponibilidade de água e nutrientes, clima,
climáticas, mão-de-obra de custo elevado aproveitamento pelas plantas da tempera- idade da planta, área foliar, sanidade, etc.
e alto índice de mecanização. Na Europa, tura, água disponível e nutrientes, propor- Caballero (1980) recomenda aumentar o
Fernández Gonzalez (1981) exemplifica este cionando rendimentos oito a dez vezes rendimento das culturas por meio de alter-
aspecto, referindo-se ao cultivo de alface maiores que no campo. No Brasil, diversas nativas tais como: desenvolvimento de va-
em estufa que consome 55.000kcal/kg, nu- pesquisas têm confirmado esta hipótese, riedades adaptáveis a ambientes especí-
ma proporção de 12 vezes mais energia que indicando que mesmo em estufas não- ficos (estufas); plantas com alta saturação
o cultivo em campo (4.500kcal/kg). Matal- climatizadas, os rendimentos superam luminosa; interação entre aplicação de
lana Gonzalez & Marfa I Pages (1980) aqueles obtidos no campo. Adicional- nitrogênio, radiação solar e características

1
Trabalho realizado com o apoio do CNPq/FAPERGS.
2
Engo Agro, D.Sc., Prof. UFPel - Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel - Depto Agronomia, Caixa Postal 354, CEP 96077-170 Pelotas-RS. E-mail:
martinss@ufpel.tche.br
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16 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

fotossintéticas das plantas e; aumento de dispersão por partículas (gases, poeiras, e solo) e, dos fatores intrínsecos da planta
concentração de CO2 no ambiente (aplicá- aerossóis). (características morfológicas e fisiológicas,
vel principalmente em estufas). Na superfície das plantas, a radiação que influenciam na utilização da luz: arqui-
As condições ambientais durante o global sofre uma segunda série de redu- tetura da planta, capacidade de persis-
período reprodutivo das plantas deter- ções. Somente 50% têm capacidade fotos- tência, transporte e armazenamento de
minam a velocidade de diferenciação floral sintética (radiação fotossinteticamente fotossintatos etc.). No caso de estufas
e a duração do período vegetativo. Afetam ativa (PAR)). Uma fração é utilizada para plásticas, há que se considerar a redução
principalmente o desenvolvimento da inflo- o processo de evapotranspiração (calor de entrada de radiação solar (aproxima-
rescência e a capacidade potencial de arma- latente de evaporação), outra aquecerá o damente 20%), devido ao material plástico,
zenamento de substâncias de reservas nos ar e o perfil do solo (calor sensível), outra que depende, por sua vez, de fatores, tais
órgãos reprodutivos. Esta, por sua vez, é refletida novamente para a atmosfera como, componentes químicos do filme plás-
depende das dimensões do sistema fotos- (20% da global) e, a restante, é absorvida tico, espessura, grau de envelhecimento
sintetizador (índice de área foliar) e sua pelos pigmentos fotossintéticos e xanto- etc.
duração. São questões fundamentais no filas (10%). Considere-se ainda que as Finalmente, é importante considerar as
cultivo em estufa em função das condições espécies cultivadas apresentam distinta características da biomassa colhida, que
ambientais que afetam o crescimento e proporção de superfície fotossintetica- geralmente é apenas uma fração da bio-
desenvolvimento das plantas e das prá- mente ativa ao longo do ciclo, não cobrem massa total produzida (na beterraba açuca-
ticas fitotécnicas empregadas (sistemas de totalmente o solo e desperdiçam luz quando reira quase o total da biomassa colhida é
condução de plantas, desbastes, podas maturam, deixando de crescer e formar ma- aproveitada), bem como as perdas na co-
etc.). téria seca. O saldo final deste fluxo de ener- lheita (≅ 10%).
O efeito estufa, isto é, o incremento de gia é o que a planta utilizará para formar os Toda esta contabilidade indica que a
calor no interior dos ambientes protegidos, compostos orgânicos (assimilação de CO2 eficiência energética final da fixação da
depende do balanço de energia, determi- em carboidratos) da biomassa. radiação PAR, na maioria das espécies
nado pelos processos de reflexão, absorção Na agricultura a eficiência fotossin- cultivadas, ainda é muito pequena (≅ 1%).
e transmitância em ambas as faces da cober- tética tem enfoque produtivo, ou seja, re- Entretanto, sob condições ótimas (níveis
tura plástica utilizada. Os fluxos de energia laciona a fração de energia radiante que adequados de radiação e grau de saturação
resultantes destes processos dependem recebe uma determinada área de cultivo e a de luz para cada espécie) e durante perío-
das características óticas, térmicas e mecâ- biomassa formada, que inclui os efeitos das dos curtos e intensos de crescimento, este
nicas do plástico; do ângulo de incidência características fisiológicas específicas, valor pode aproximar-se dos valores máxi-
da radiação solar; da superfície exposta, ambientais, ontogênicas, genéticas etc. mos teóricos já descritos.
do volume e das condições internas da es- (Caballero, 1980).
tufa (tipo de solo, culturas etc.) e externas O processo fotossintético é avaliado A RADIAÇÃO SOLAR
(características climáticas, época do ano, por sua eficiência quântica, ou seja, a rela-
hora solar). ção entre a energia necessária para reduzir A radiação solar é o principal fator que
Com o objetivo de caracterizar o clima um determinado número de moléculas de limita o rendimento das espécies tanto no
de ambientes protegidos, com ênfase na CO2 a carboidratos (112 a 118kcal/mol, campo, como em ambientes protegidos,
realidade brasileira, utilizaram-se infor- sendo que a luz possui um conteúdo de especialmente nos meses de inverno e em
mações geradas nas principais instituições energia de 40 a 44kcal/mol e a exigência altas latitudes, por causa da escassa dispo-
de ensino e pesquisa do país. Referem-se quântica total é de 8 a 12 quanta de luz nibilidade de energia radiante. Para as
tão-somente a publicações em revistas e visível por molécula de CO2 fixada) e a que culturas do tomate e pepino, redução de
congressos científicos, deixando de men- se pode obter dos fotossintatos produzidos 1% de iluminação supõe redução de 1% na
cionar uma série de trabalhos, não menos (entre 25 e 35%). Destes, considere-se a produção. Assim, mesmo em regiões que
importantes, realizados em diversas regiões energia consumida pela respiração e pela dispõem de abundante radiação solar,
do país pelos organismos de extensão rural fotorrespiração, que, apesar de ser pratica- como o sudeste espanhol, próximo ao sols-
e pelos agricultores. mente inexistente nas plantas C4, representa tício de inverno e ao meio-dia solar, a densi-
quase 50% da fotossíntese líquida nas dade de fluxo quântico é de 900µmol.q/m2/s,
plantas C3. A contabilidade final desses ou seja, aquém do ponto lumínico superior
EFICIÊNCIA FOTOSSINTÉTICA E
processos indica um consumo de energia (1.000µmol.q/m2/s) das principais espécies
ENERGIA FIXADA PARA A
de 20 a 26%, para plantas C3 e 36 a 40%, hortícolas produzidas em estufa: tomate,
PRODUÇÃO
para plantas C4 (Caballero, 1980). pimentão, feijão-vagem e pepino (Cocksull,
Da radiação solar incidente na superfície Considerando todos estes fluxos, a 1989, 1998, citado por Lorenzo Mínguez,
atmosférica (constante solar = 2cal/cm2/min), eficiência líquida teórica da conversão da 1998). Portanto, é evidente a necessidade
somente pouco mais da metade chega à radiação solar global e da PAR seria para de garantir o limite trófico das distintas es-
superfície do solo (radiação solar global), as plantas C3 de 4,8 e 11%, e para as plantas pécies e assim a produção de assimilados
por causa das perdas sofridas através da C4 de 6,1 e 14%, respectivamente. Porém, necessários para manter a cultura; ou seja,
atmosfera: reflexão por nuvens, absorção na prática isto não ocorre, por causa das uma energia radiante disponível de, aproxi-
por gases (vapor d’água, CO2, ozônio) e limitações ambientais (elementos do clima madamente, 200kcal/cm2/dia ou 8,4MJ/m2/dia.
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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 17

As distintas regiões do Brasil, em geral, em comparação com as localizadas no sen- avaliadas, seis apresentaram maior rendi-
mostram uma redução da radiação solar tido norte-sul (valor máximo de 60%). Esta mento em estufa (média de 52%), em compa-
incidente no interior da estufa com relação maior eficiência na captação e no arma- ração com cultivo no campo, e a maioria
ao meio externo, de 5 a 35%. Estes valores zenamento de energia das estufas orienta- das cultivares teve melhor desempenho
variam com o tipo de plástico (composição das no sentido leste-oeste foi comprovada sob o filme plástico que interceptou menos
química e espessura), com o ângulo de ele- por Galvani et al. (1997), quanto aos valores radiação solar global incidente.
vação do sol (estação do ano e hora do dia) médios de saldo de radiação e fluxo con- Para a região Nordeste, em Rio Largo
e também dependem dos demais fluxos vectivo de calor latente. Para estas mesmas (AL), a radiação solar excessiva chega a
sobre o filme: reflexão e absorção. Os maio- condições, Assis & Escobedo (1997) desta- ser mais limitante para a produção de olerí-
res valores de transmitância para a radiação cam a importância da cobertura plástica na colas do que a precipitação (Souza et al.,
global, saldo de radiação, PAR e lumi- fração difusa da radiação solar, o que ame- 1995). Esses autores verificaram que o uso
nosidade têm sido observados para o niza os efeitos do albedo da cultura da de tela plástica (sombrite) sobre estrutura
polietileno de baixa densidade (PEBD), ho- alface no interior da estufa em relação ao de madeira, disposta no sentido norte-sul,
ras centrais do dia e estações mais quentes ângulo de elevação solar quanto à sazo- diminuiu a incidência da radiação solar
do ano. nalidade e às distintas horas do dia, diferen- global interna em 34%, especialmente nos
Em Pelotas (RS), Farias et al. (1993) citam temente do meio externo em que os menores horários em que o sol encontrava-se próxi-
valores médios de transmitância de 70 a valores foram observados ao meio-dia e no mo ao zênite do local. Observaram, ainda,
90% (93 a 95% próximo ao meio-dia), em período do verão. Em Arthur Nogueira (SP), que a maior transmissividade da cobertura
PEBD, com 150µ de espessura, tanto para Folegatti et al. (1997) mostraram que no plástica à radiação solar ocorreu das 10 às
radiação global como para a radiação di- período de primavera, em estufa exposta 14 horas, diminuindo com a inclinação dos
fusa. Estes dados foram confirmados por no sentido noroeste-sudeste coberta com raios solares. Pezzopane et al. (1997) encon-
Camacho et al. (1995), para PEBD, com 100µ, PEBD de 150µ, a transmitância variou de traram resultados similares em Alegre (ES),
que observaram os maiores valores nos 48 a 71% (média de 63%). para o período de setembro a dezembro,
meses mais quentes do ano e maiores valo- Com relação ao material plástico, Sen- quando a atenuação média proporcionada
res médios da fração difusa no ambiente telhas et al. (1997), em Piracicaba (SP), pela tela de sombreamento foi de 42 e 45%
interno da estufa (55%) do que externo verificaram no período de verão melhor de- para as radiações solar global e PAR, res-
(45%). Resultados semelhantes foram sempenho do PEBD na redução da radiação pectivamente; com os maiores valores nas
obtidos por Buriol et al. (1995b), no período solar global (20,3%), PAR (13,3%), saldo horas centrais do dia. Em Pelotas (RS), em
de julho a janeiro em Santa Maria (RS), em de radiação (22,6%) e luminosidade (23,4%) túneis baixos, verificou-se maior atenua-
estufa coberta com filme plástico de 100µ: no interior da estufa, do que o policloreto ção da PAR com uso de diferentes tipos de
maior valor médio de transmitância nas de vinila (PVC), com respectivamente 35%, telas de sombreamento em dias limpos
horas centrais do dia (81,3%), em compa- 29,9%, 39,6% e 26,7%. (35,2; 54,1 e 77%), em comparação aos dias
ração às primeiras horas da manhã (56,2%); Ricieri & Escobedo (1996), em Botucatu nublados (39,7; 63,2 e 81,4%), com os fluxos
nos dias limpos, em comparação aos nu- (SP), mostraram que a transmitância de filme máximos às 12 horas (Voltolini et al., 1997).
blados e nos dias sem condensação de plástico (100µ) à radiação solar global em A atenuação da radiação solar também
vapor d’água sob o plástico, em compara- estufa colocada no sentido norte-sul foi pode ser alcançada com o uso de pintura
ção aos com condensação. Observaram maior em dias limpos (91,6%) do que em de cal no filme plástico. Entretanto, inde-
também que a fração difusa da radiação dias nublados (87,3%). Para o mesmo perío- pendentemente da técnica utilizada, é im-
solar foi maior no interior da estufa do que do, estes valores foram bastante supe- portante considerar o efeito negativo do
no meio externo, especialmente nos dias riores, quando comparados à transmitância sombreamento sobre o comportamento das
límpidos e com condensação, evidenciando de filmes com 150µ em estufa com orien- culturas, como por exemplo o estiolamento
o efeito dispersante do plástico e do vapor tação nordeste, embora mantendo a mesma e o pegamento de frutos.
d’água na superfície interna do filme. tendência: 65,34% (dias limpos) e 55,23%
Na região Sudeste, em Botucatu (SP), (dias nublados). Para as duas estufas, em
TEMPERATURA DO AR
Souza & Escobedo (1995) observaram em dias nublados, o valor da transmitância da
estufa plástica cultivada com feijão-vagem, radiação difusa foi muito similar ao da radia- No Rio Grande do Sul, Farias et al.
transmitância de 66% para a radiação glo- ção global. Para os dias limpos observou- (1991), em Pelotas, e Buriol et al. (1993), em
bal e saldo de radiação, com os maiores se um maior ganho da fração difusa interna Santa Maria, estudaram o efeito estufa em
valores nas horas centrais do dia. Neste (9,1%) na estufa coberta com filme de maior distintos tipos de estufas cobertas com
mesmo local, Figueiredo et al. (1995) obser- espessura, em comparação à outra (7,8%). PEBD de 100µ de espessura. Em Santa
varam em estufa com PEBD de 100µ cul- Em Brasília (DF), houve maior inter- Maria, nos meses de inverno, o gradiente
tivada com alface, transmitância de radiação ceptação da PAR (79%), em estufa tipo vertical médio das temperaturas mínimas
global entre 63 e 81% ao longo do ciclo da guarda-chuva (sem proteção lateral), co- do ar no interior da estufa (5 e 150cm de
cultura. Assis & Escobedo (1998) encon- berta com PEBD de 50µ, do que em estufa altura) foi menor que no ambiente externo,
traram, os maiores valores de transmitância coberta com filme de 100µ (71% de inter- especialmente nos dias mais frios (tem-
da radiação global em estufas com orien- ceptação) (Reis et al., 1991). Verificou-se, peratura interna mais uniforme no interior
tação leste-oeste (valor máximo de 69%) ainda, que das nove cultivares de tomate da estufa), quando se obteve maior efeito
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18 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

estufa - a 5cm de altura, o ganho alcançou túneis ocorreram nas noites frias e límpidas associadas à imensa costa oceânica e gi-
o valor máximo de 2,3oC e a 150cm de 3,1oC, e de calmaria, quando houve uma renova- gantesca floresta tropical, conferem uma
sendo afetado pelo manejo da ventilação ção constante do ar na superfície do am- extraordinária diversidade climática (Mar-
da estufa. Ainda em Santa Maria, Buriol et biente externo pela ação dos ventos. tins, 1996). São questões importantes que
al. (1997) verificaram que em estufas Na região Sudeste, Faria Júnior et al. dificultam a generalização de técnicas
cultivadas com alface (pequeno porte) e (1993) não encontraram diferenças entre capazes de permitir o ótimo biológico para
tomate (grande porte), diferentemente do estufa tipo capela e tipo teto em arco, ambas as plantas cultivadas, em termos de tempe-
meio externo, durante o período diurno cobertas com PEBD de 75µ, quanto às ratura. Nas regiões mais frias e especial-
ocorreu um aumento da temperatura do ar, temperaturas média, mínima e máxima, que mente durante à noite, o desafio está em
concentrando a camada de ar mais quente foram em média 32,2, 21,8 e 40,7oC, respec- dispor de temperaturas que atendam as
no topo da estufa, o que não foi observado tivamente. Entretanto, chamam a atenção exigências das espécies hortícolas, cujas
no período noturno. Em Pelotas, verificou- para o fato de as estufas terem propor- temperatura-base inferior e temperatura
se que o efeito benéfico da cobertura plás- cionado maiores temperaturas máximas em ótima situam-se entre 7 e 14oC e 15 e 20oC,
tica esteve intimamente relacionado com comparação com o meio externo. Pezzopane respectivamente.
as condições do ambiente externo, com et al. (1992), citados por Sentelhas & Santos Espécies termófilas apresentam redução
maior ganho nos meses de primavera nos (1995) também verificaram, no inverno, no crescimento e desenvolvimento, quan-
valores decendiais da temperatura máxima maiores temperaturas máximas no interior do a temperatura do ar é inferior a 10 - 12oC,
absoluta do ar (0,5 a 6,4oC), em comparação da estufa, com amplitude térmica entre o devido à redução da absorção de água e
com a temperatura mínima (0 a 4,6oC). interior e o exterior de, aproximadamente, nutrientes pelas raízes, à diminuição da taxa
Em ambos os locais foi observado o 6oC. Folegatti et al. (1997) observaram que, de assimilação líquida, à redução do trans-
fenômeno da inversão térmica no interior na primavera, os valores das temperaturas porte e distribuição de assimilados, à re-
das estufas. Em Santa Maria, as diferenças máxima, média e mínima do ar dentro da dução da expansão foliar e a alterações
de temperaturas negativas para o meio in- estufa (14,8%, 8,5% e 5,9%, respectiva- anatômicas e morfológicas nas folhas,
terno em comparação com o externo variou mente) foram sempre superiores aos do tornando-as mais curtas, largas e grossas,
de -0,2 a -2,6oC. Em Pelotas, em dias enco- exterior, com o menor valor das mínimas de com pecíolos de menor longitude (Lorenzo
bertos, variou de 0 a -4,5oC, o que foi con- 12,2ºC e o maior valor das máximas de
Mínguez, 1998). A redução da absorção em
firmado por Camacho et al. (1995), que 42,2oC.
conseqüência de temperaturas baixas ocor-
observaram valores de temperatura no in- Reis (1997) relata que em Brasília (DF),
re por causa do aumento da viscosidade
terior da estufa de até -5oC inferiores ao estufa tipo teto em arco, coberta com filme
da água e da diminuição da permeabilidade
meio externo, durante o outono. PEBD de 150µ, apresentou ganho de tem-
da membrana celular. Tais efeitos implicam
Tanto para temperaturas máximas como peratura com relação ao meio externo de
em alterações fenológicas nas espécies
mínimas, Buriol et al. (1995a) ressaltam a até 8,7oC (às 14 horas), que permaneceu
cultivadas em ambientes protegidos. Schie-
importância do manejo dos túneis baixos maior que 7oC até às 2 horas da manhã e
de PEBD. Estes autores observaram que, diminuiu gradativamente até às 8 horas, deck et al. (1997), em trabalho realizado em
em Santa Maria (RS), no início da primavera, quando se observou a menor diferença Bento Gonçalves (RS), observaram uma
houve um maior efeito estufa para as tem- (4,7oC). Em Alagoas (RN), Nascimento Filho antecipação do ciclo da videira Niágara
peraturas máximas, especialmente quando et al. (1997) verificaram menores valores de Rosada, em 25 dias (uva com 18oBrix),
os túneis eram abertos às 8 horas da manhã temperaturas tanto em estufa tipo túnel quando cultivada em estufa plástica co-
e fechados nas horas centrais do dia, permi- alto, coberta com PEBD com 100µ e dis- berta com PEBD de 100µ de espessura,
tindo este manejo, os menores decréscimos posta no sentido leste-oeste, quanto em independente da época da poda.
da temperatura mínima no interior do túnel. estufa coberta com tela de sombreamento Em regiões com temperaturas noturnas
Com relação ao tipo de material plástico, com 50% de atenuação de radiação solar, inferiores a 10-12oC, evidencia-se a neces-
Heldwein et al. (1995) destacam que para em comparação com o meio externo, espe- sidade de adição de calor, por meio de sis-
os meses de inverno em Santa Maria (RS), cialmente em dias ensolarados. Verificaram temas de calefação. Soma-se a este fator, o
praticamente não houve diferença nos va- que, principalmente após às 13 horas, a fenômeno da inversão térmica que ocorre,
lores de temperatura mínima a 5cm do solo temperatura sob PEBD foi menor que sob especialmente em noites límpidas e sem
desnudo no interior de estufas cobertas sombrite. Nos dias nublados, ambos os turbulência no interior das estufas e que
com filmes de PEBD e acetato de vinil etile- materiais de cobertura proporcionaram tem- exige atenção especial quanto às exigên-
no (EVA). Quanto aos diferentes tipos de peraturas similares, mas as temperaturas cias térmicas das plantas. Nas regiões mais
túneis, Cunha et al. (1997) relatam que aque- internas das estufas mantiveram-se meno- quentes o excesso de calor diurno também
les perfurados ou com aberturas laterais, res que no meio externo. é limitante - as plantas tendem a assumir a
como o túnel guarda-chuva, proporciona- São muitos os fatores que influenciam temperatura do ar - o que exige a adoção de
ram temperaturas mínimas do ar superiores o acúmulo e a disponibilidade de calor para métodos de redução de calor desde os mais
ao ambiente externo e que as temperaturas as plantas cultivadas em ambientes protegi- rudimentares e simples, como o branquea-
mais elevadas ocorreram em túnel conven- dos, especialmente no Brasil. As dimen- mento da superfície do plástico, até os mais
cional. Verificaram ainda, que as maiores sões continentais do país, que abrangem sofisticados e eficientes como os sistemas
diferenças na temperatura do ar entre os amplos limites longitudinais e de relevo, automáticos de resfriamento.
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UMIDADE DO AR e 5,78% superior a do meio externo, respec- evitar o gotejo sobre as plantas (efeito que
tivamente, atingindo valores de 100% entre em parte pode ser conseguido com um de-
A umidade relativa do ar no interior de
4 e 6 horas da manhã e 32% às 14 horas. senho de cumeeira, que favoreça o es-
uma estufa está determinada diretamente
Pezzopane et al. (1995), em Campinas (SP), corrimento da água condensada para as
pela temperatura, numa relação inversa entre
estudaram o efeito da umidade relativa do laterais da estufa). Cabe salientar, ainda, a
ambas: diminui durante o dia e aumenta
ar no interior das estufas, por meio da du- necessidade de ter plantas bem vigoro-
durante a noite (a umidade relativa do ar,
ração do período de molhamento (DPM), sas e com bom equilíbrio entre parte aérea
no período de 24 horas pode variar de 30 a
durante 78 dias (junho a setembro). Veri- e raiz, para superar os efeitos fisiológicos
100%). Representa a retenção de vapor
ficaram que, na estufa o DPM nunca foi causados pelos elevados valores de DPV,
d’água do ar, cujo déficit de pressão está
menor que 15 horas diárias, com valor mé- isto é, a baixa umidade relativa do ar; e
intimamente vinculado ao processo da
dio de 17,6 horas, enquanto que a céu riscos de incidência de patógenos nos mo-
evapotranspiração, afetando o equilíbrio
aberto a média foi de 7 horas. mentos de baixo DPV, ou seja, de alta
hídrico das plantas e provocando um des-
Ainda na região Sudeste, Folegatti et umidade relativa do ar.
compasso entre demanda evaporativa e
al. (1997), utilizando estufa tipo capela
capacidade do sistema radicular em ab- coberta com PEBD de 150µ e localizada no
sorver água e nutrientes. Nas estações e TEMPERATURA DO SOLO
sentido noroeste - sudeste, observaram pa-
períodos mais quentes do dia, as plantas, ra o período de primavera, nos dias com A utilização de material inerte sobre o
especialmente aquelas com baixo índice de baixa umidade, maiores valores de umidade solo, que altere suas propriedades físicas,
área foliar, diminuem a transpiração, sendo do ar no interior da estufa em comparação químicas e biológicas, com objetivo de in-
assim impedidas de aproveitar a energia com o meio externo, ao contrário do que crementar a produção agrícola, é uma
disponível (Lorenzo Mínguez, 1998). Outro aconteceu em dias com muita umidade. Es- prática bastante difundida no mundo e
efeito da umidade do ar no interior dos tes autores verificaram, ainda, uma menor conhecida como: cobertura do solo, mul-
ambientes protegidos é sua condensação amplitude de umidade relativa do ar no ching, acolchado, enarenado, paillage,
na face interna do filme plástico de cobertu- interior da estufa, devido ao manejo das paiacciuto. Dentre os materiais utilizados
ra e conseqüente redução na transmitância cortinas e à baixa renovação do ar interior. destacam-se os restos vegetais, a areia e
da radiação solar, afetando negativamente A importância do manejo em túneis os filmes plásticos.
a disponibilidade de energia para as plantas. baixos cobertos com PEBD de 100µ, no Em virtude das suas vantagens, a técni-
A alta umidade do ar também influi no início da primavera, também é evidenciada ca de cobertura do solo com filmes plás-
aparecimento de desordens fisiológicas e por Buriol et al. (1997), no sul do Brasil. A ticos é responsável por dois terços da área
de doenças criptogâmicas nas plantas cul- umidade relativa mínima absoluta e a média agrícola mundial sob plástico e metade da
tivadas em estufas. Em situação de exces- dos valores mínimos foram superiores ao área agrícola também sob plástico da
siva higrometria, ou seja, de baixo déficit meio externo, tendo sido atribuídas ao alto Europa. O plástico sobre o solo conserva a
de pressão de vapor - DPV (0,1kPa), pode valor da pressão parcial de vapor em fun- sua umidade (diminui a evaporação e a lixi-
ocorrer deficiência de Ca em folhas jovens ção da pouca renovação de ar e à maior umi- viação, proporcionando economia de água
em expansão, devido ao deficiente trans- dade do solo no interior dos túneis. Assim, e nutrientes) e a sua temperatura (diminui a
porte deste elemento em função da restri- esses autores recomendam que a abertura amplitude térmica), diminui a umidade
ção evapotranspirativa (Lorenzo Mínguez, e o fechamento dos túneis sejam feitos de relativa do ar e favorece o metabolismo da
1998). Sentelhas & Santos (1995) destacam acordo com as condições meteorológicas planta e a precocidade do ciclo vegetativo.
a relação da umidade relativa do ar com o de cada dia. Outras vantagens do uso do plástico: me-
orvalho e sua duração sobre as plantas, Quanto às soluções para superar os lhora a estrutura física do solo, pois impede
devido a sua importância nos processos problemas relacionados com a umidade a erosão e diminui a compactação; aumenta
epidemiológicos, que favorecem a ger- relativa do ar no interior das estufas, espe- a porosidade; favorece a fertilidade natural
minação de esporos de fungos e sua pene- cialmente o excesso de vapor d’água, é (maior nitrificação e solubilidade de sais) e
tração nas folhas através dos estômatos. necessário um adequado manejo da estufa. os microorganismos benéficos e ainda
Menzies (1967), citado por Pezzopane et al. Este compreende, no caso de estufas não- possibilita maior quantidade de P assimi-
(1995), relata que, em geral, os fitopató- climatizadas, aberturas (em 30% da superfí- lável nos horizontes superiores e o melhor
genos requerem para infecção, de 6 a 12 cie total) que proporcionem uma ventilação aproveitamento dos fertilizantes. Além
horas ou mais de presença de água livre na natural eficiente e, nas estufas climatizadas, disso, o plástico pode ser utilizado na téc-
superfície das folhas. o uso de ventiladores e desumidificadores. nica de solarização, no controle de fitopa-
No Brasil, diversos trabalhos têm mos- Os mecanismos de ventilação, especial- tógenos de solo, nematóides e plantas
trado as variações diárias da umidade mente os naturais, não dispensam o manejo daninhas.
relativa do ar em ambientes protegidos. Em adequado de abertura e fechamento das Estes efeitos dependem das proprie-
Pelotas (RS), Farias et al. (1991), trabalhan- estufas, pois dependerão das condições dades dos diferentes tipos de filmes plás-
do em estufa tipo capela não-climatizada e climáticas e meteorológicas locais. Os filmes ticos. Os filmes transparentes, em geral,
coberta com PEBD de 100µ, observaram na plásticos, no que pese sua eficiência no apresentam alta transmitância e baixa absor-
primavera, média dos valores máximos e aproveitamento da radiação solar, devem ção de calor em comparação com os filmes
mínimos de umidade relativa do ar de 2,19% ser capazes de reduzir a condensação e pretos (Quadro 1). Se, por um lado, incre-
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QUADRO 1 - Refletividade e transmitância de solo desnudo e de filmes preto e transparente e externo da estufa.
Entretanto, cabe ressaltar que o tipo de
Propriedades Solo desnudo Filme preto Filme transparente material de cobertura empregado é fun-
damental nestas interações. Por exemplo,
Refletividade Souza et al. (1995), em Rio Largo (AL),
observaram em cultivo de pimentão, que a
Onda curta 0,24 0,09 0,25
temperatura do solo a céu aberto foi supe-
Onda longa - 0,01 0,03 rior a do solo sob plástico, independente
da profundidade, da medida e do horário,
Transmitância quando da utilização de tela plástica preta
com 50% de sombreamento, onde apenas
Onda curta - 0,02 0,93 34% da radiação solar global penetrou no
Onda longa - 0,14 0,78 ambiente da cultura. Em Santa Maria (RS),
Streck et al. (1996), utilizando plástico preto
FONTE: Dados básicos: Liakatas et al. (1986). em cobertura do solo, concluíram que, tanto
no campo como no interior de estufa, os
mentam a entrada de calor no solo, por estufa, a temperatura do solo - função das valores estimados de densidade de fluxo
outro, favorecem o desenvolvimento de propriedades térmicas e da densidade do de calor no solo e os valores de temperatura
plantas daninhas. Os filmes pretos apre- fluxo de radiação solar global incidente na mínima, média e máxima foram superiores
sentam transmitância quase nula e maior estufa - deveria ser menor que no ambiente em comparação com o solo desnudo e que
absorção de calor, assim como um maior externo, uma vez que a energia solar dispo- o polietileno preto diminuiu a amplitude
efeito no rendimento que na precocidade nível no interior é menor que no meio exter- máxima da onda diária de temperatura do
das culturas e, podem ser utilizados no no. Porém, o efeito é inverso, pois, existem solo. Para o mesmo local, Buriol et al. (1996)
controle de plantas daninhas. Além desses, menor volume de ar e menor renovação do compararam polietileno e polipropileno,
outros tipos de materiais têm sido uti- ar junto à superfície do solo, havendo menor ambos transparentes e com 50µ de espes-
lizados, tais como, os filmes dupla face transferência de energia na forma de calor sura, e verificaram, nos dois casos, que o
(branco/negro), fotoseletivos, alumini- latente e sensível em comparação com o solo conservou a umidade por mais tempo
zados, etc. meio externo, o que provoca maior fluxo de e apresentou maior valor de temperatura
O efeito térmico dos filmes plásticos calor para o solo e, consequentemente, mínima em comparação com o solo desnu-
sobre o solo é o resultado do balanço de maior aquecimento do solo no interior da do. Observaram também que o solo sob
energia que resulta da interação dos fluxos estufa. Assim, em Santa Maria (RS), em cobertura de polietileno apresentou densi-
de radiação de onda curta (do sol) e de on- duas estufas (tipo capela e tipo túnel) co- dade de fluxo de calor mais elevada, mos-
da longa (do solo) incidentes em ambas as bertas com PEBD de 100µ de espessura, trando o melhor desempenho deste material.
faces do filme plástico, dependente de suas cultivadas com alface e pimentão por dois Ainda quanto a diferentes tipos de
características óticas: transmitância, albedo anos, observou-se que, em média, os valo- materiais de cobertura, Martins et al. (1997),
e absorção (Quadro 1). res de temperatura do solo no interior das para o cultivo de pimentão em estufa co-
Em comparação com um solo desnudo, estufas sempre foram mais elevados (entre berta com PEBD de 100µ, compararam
a maior parte da energia disponível na su- 1,7 e 6,3oC), em comparação com o solo cobertura do solo com areia, usando polie-
perfície de um filme plástico é utilizada no externo a elas, independente da profundi- tileno transparente e polietileno preto, com
fluxo de calor sensível para o solo. Na me- dade medida, ano e horário de observação. o solo desnudo (sem cobertura). Todos os
dida que este esteja bem suprido de água, Nos dias mais frios, estas diferenças foram tipos de cobertura do solo resultaram em
melhora sua condutividade térmica e calor mais elevadas às 9 e 21 horas. Às 15 horas, melhor desempenho agronômico das plan-
específico e, como conseqüência, melhora coincidente com o período de ventilação, tas, com destaque para o plástico preto.
a distribuição do calor no seu perfil. A con- houve uma maior renovação de ar junto à Com relação à temperatura, o melhor de-
densação na face interna do filme reduz sua superfície do solo, determinando uma maior sempenho foi observado no solo coberto
transmitância à onda longa do solo, dimi- transferência de energia do solo para o ar com filme plástico transparente. As cober-
nuindo as trocas convectivas com a atmos- e, conseqüentemente, um menor aqueci- turas apresentaram idêntico comportamen-
fera. mento do solo no interior da estufa. Este to quanto à manutenção da água no solo,
No Brasil, desde meados deste século, efeito também foi observado nos dias mais especialmente até seis dias após a irrigação,
diversas pesquisas têm sido realizadas para quentes, quando foram verificadas as me- em comparação com o solo desnudo.
o estudo dessas interações em distintos nores diferenças entre as temperaturas do Castellane (1996), em Jaboticabal (SP),
tipos de materiais de cobertura do solo, solo do meio interno e externo, associado comparou o efeito de polietileno preto,
tanto em culturas extensivas como em horti- à maior ventilação nestes dias. Assim, des- branco/preto e vermelho durante os meses
cultura (Araújo, 1991 e Araújo & Castel- taca-se a importância do manejo da estufa de junho a setembro, na cultura do pi-
lane, 1996). tanto no que diz respeito a sua ventilação, mentão. Os resultados mostraram que às 8
Schneider et al. (1993) chamam atenção como à vedação, já que ambas determinam horas a temperatura do solo a 5cm de pro-
para o fato de que, à primeira vista numa os fluxos energéticos entre o meio interno fundidade foi maior em todos os trata-
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mentos, comparada com solo desnudo, com tante manter o potencial hídrico das plantas vado em estufa plástica, na primavera e no
melhor desempenho para o filme vermelho em níveis que facilitem a abertura estomáti- outono, um consumo hídrico de 38 e 53%,
e pior para o filme preto. Às 14 horas, o me- ca; garantir bom armazenamento de água respectivamente, menor que os 400mm in-
lhor desempenho ocorreu sob o filme preto no solo; facilitar a absorção de água pelas dicados em climas úmidos para o cultivo
(1,94oC a 5,0oC) e vermelho (1,54oC a 4,73oC). raízes e proporcionar uma demanda eva- no campo. Gomide et al. (1996) destacam
Verificou ainda, que com o desenvol- porativa adequada do ambiente interno da que o conhecimento da demanda hídrica
vimento da cultura, as diferenças entre as estufa, quanto à radiação solar, tempe- das culturas envolve a relação de vários
temperaturas do solo desnudo e dos ratura, umidade relativa e conteúdo de CO2. fatores ligados à planta, solo e atmosfera,
cobertos com filmes plásticos diminuíram, Segundo Villa Nova (1987), citado por que juntos permitem estabelecer o uso e o
atribuindo este efeito ao sombreamento Folegatti et al. (1997), embora seja difícil manejo adequados da irrigação e propõem
provocado pelo desenvolvimento da cul- separar cada um dos elementos meteoro- um protótipo de lisímetro de pesagem com
tura. Devido a uma certa transparência do lógicos na evapotranspiração, pois, de monitoramento automático, para avaliar as
filme vermelho, o desenvolvimento de maneira geral, eles agem simultaneamente, necessidades hídricas de culturas em casas
plantas daninhas impediu o contato do numa dada região, a evapotranspiração é de vegetação. Entretanto, Folegatti et al.
plástico com o solo, reduzindo a condução diretamente proporcional à disponibilidade (1997), em estudo com crisântemos, também
do calor, razão pela qual na primeira quin- de energia solar, temperatura e velocidade
utilizando lisímetro de pesagem com célula
zena de agosto, a temperatura do solo sob do vento e inversamente proporcional à
de carga, chamam a atenção para o fato de
este material foi inferior a do solo desnudo. umidade relativa do ar.
que os elementos meteorológicos determi-
Streck et al. (1997) comparam diversos Um dos principais efeitos dos filmes
nados no interior da estufa são os que
filmes opacos: preto, branco, azul, verde, plásticos colocados sobre as estufas é a
permitem uma melhor estimativa da evapo-
amarelo e vermelho, em cobertura de solo diminuição da demanda evaporativa em
transpiração por meio de modelos de re-
no cultivo do tomateiro. Concluíram que função da diminuição da radiação solar e
gressão.
não houve diferença entre eles, quanto ao do vento, que são os principais determi-
rendimento da cultura, embora se tenha nantes da evapotranspiração. Diversos
observado maior relação entre a biomassa trabalhos de pesquisa realizados em outros CONSIDERAÇÕES FINAIS
seca de frutos e a biomassa seca total da países mostram que o consumo hídrico de Conforme foi exposto no presente ar-
parte aérea com o uso de plásticos de maior espécies cultivadas em ambientes prote- tigo, no que diz respeito aos aspectos agro-
refletividade (branco, verde e amarelo) e gidos é 20 a 40% inferior, em relação ao climáticos, a pesquisa agrícola brasileira
que as temperaturas máximas do solo e do cultivo a céu aberto. tem abordado os principais pontos ineren-
ar foram maiores com os plásticos preto, De maneira análoga, estes valores tes ao universo dos cultivos em ambientes
azul e vermelho. também têm sido verificados no Brasil. No protegidos: tipos de túneis, de estufas e
Rio Grande do Sul, Reisser Júnior (1991)
de distintas orientações solar; tipos de
EVAPOTRANSPIRAÇÃO concluiu que a evapotranspiração máxima
filmes plásticos; caracterização da ambiên-
da cultura da alface em estufa coberta com
Sabe-se que a evapotranspiração é um cia interna; interações entre parâmetros
PEBD foi inferior ao cultivo no campo, in-
processo físico e fisiológico desejável nas climáticos; solo e espécies cultivadas; rela-
dicando uma menor demanda atmosférica,
plantas cultivadas. Por um lado, enseja a ções hídricas etc. Entretanto, há necessi-
devido à atenuação da radiação pelo filme
abertura estomática das plantas e conse- dade de compreender cada vez mais e com
plástico e à ausência de vento. No verão e
qüente absorção de CO2 para a produção maior profundidade possível as interações
no inverno, os valores totais de evapo-
de biomassa; por outro, é responsável pelo transpiração máxima em cultivo no campo entre o meio interno dos ambientes pro-
consumo de grande parte do calor latente foram, respectivamente, 27,13 e 33,83% tegidos e o meio externo, considerando o
de evaporação, favorecendo o resfriamento maiores do que os registrados no interior continuum solo-planta-atmosfera. Tais in-
do ambiente e da própria planta. da estufa. Além disso, o curso da evapo- formações permitirão um manejo adequado
O grande problema é que as plantas são transpiração ao longo do dia mostrou que das práticas fitotécnicas de produção e dos
conservadoras quanto ao consumo hí- esta é bastante influenciada pela radiação diferentes tipos de agrossistemas - estufas,
drico, especialmente quando submetidas a solar global incidente: os maiores valores túneis, cobertura do solo - otimizando o
estresses ambientais e particularmente de evapotranspiração coincidiram com os balanço energético destes; especialmente
diante do estresse hídrico (Lorenzo Mín- picos máximos de temperatura e de radiação em função das novas demandas que desa-
guez, 1998). Esta questão é mais relevante global. Farias et al. (1994) cultivaram feijão- fiam tanto os agrossistemas não-climatizados
em ambientes protegidos, onde a reação vagem em estufa tipo capela coberta com (também denominados passivos), como os
ao estresse hídrico é facilmente observada: PEBD de 100µ, na primavera, e verificaram de clima controlado: produtos sadios pro-
enrolamento, amarelecimento e queda das que a evapotranspiração média diária duzidos com tecnologias limpas, com baixo
folhas. O desafio, portanto, é conseguir um estimada pelo método de Penman, para o custo energético, de alta qualidade, que
equilíbrio constante entre perdas (trans- interior da estufa, foi em média 71% da permitam agregar valor, que facilitem as
piração) e ganhos (absorção) de água, verificada no meio externo. tarefas do produtor (sistemas automa-
durante o ciclo das plantas (Stanghellini, Em Santa Maria (RS), Dalsasso et al. tizados), gerem oportunidades de trabalho
1998). Para amenizar o problema, é impor- (1997) verificaram para o tomateiro culti- e favoreçam o reparto da riqueza.
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24 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

Produção de mudas para o cultivo de hortaliças


em solo e hidroponia
Paulo Roberto Gomes Pereira 1
Hermínia Emília Prieto Martinez 2

Resumo - Os principais métodos que podem ser usados na produção de mudas para
o cultivo de hortaliças em ambiente protegido, são descritos, com suas vantagens e
desvantagens. Considerando a impossibilidade de ter uma receita, salienta-se a neces-
sidade de otimizar o fornecimento dos fatores genótipo, água, O2, luz, CO2, tempera-
tura e nutrientes para a obtenção de mudas de alta qualidade. Apresentam-se tam-
bém informações e conceitos básicos atuais sobre esses fatores que são necessários ao
entendimento, planejamento e realização de testes pelo próprio produtor, e de traba-
lhos de pesquisa científicos para otimizar cada um deles. Quanto ao transplantio das
mudas, é dada ênfase para eliminação ou redução dos possíveis estresses hídrico,
nutricional e físico.
Palavras-chave: Cultivo sem solo; Cultivo protegido; Produção de mudas.

INTRODUÇÃO é uma alternativa tecnológica que objetiva necessários para se realizar o transplante
otimizar o fornecimento desses fatores para para o solo ou solução nutritiva em am-
O transplante de mudas é uma prática
a expressão da máxima potencialidade biente protegido.
muito utilizada no cultivo da maioria das
hortaliças, particularmente daquelas com genética das plantas. Para que isto se torne
sementes muito pequenas, com germinação possível, é fundamental que sejam utili- MÉTODOS DE PRODUÇÃO DE
zadas mudas de ótima qualidade, cuja MUDAS DE HORTALIÇAS
lenta ou difícil e de altos custos. A utili-
zação de mudas permite um maior controle produção também depende da otimização São vários os métodos de produção de
do espaçamento, garante a população de- do fornecimento desses fatores e da qua- mudas para o cultivo protegido que podem
sejada e plantas uniformes e ainda facilita lidade das sementes. Portanto, indepen- ser utilizados. A escolha dependerá da
o controle de plantas daninhas na cultura. dente do método a ser adotado para a avaliação da relação entre o custo e o bene-
Outro fator muito importante é a necessi- produção de mudas de ótima qualidade, é fício; da disponibilidade de materiais e mão-
dade de maximizar a utilização de áreas de fundamental que se utilize o ambiente de-obra necessários para cada método; do
tamanho reduzido e de custo mais elevado, protegido. sistema de cultivo a ser usado, se em solo
como é o caso do cultivo protegido, tor- Considerando a impossibilidade de pa- ou substrato sólido, ou se em hidroponia;
nando-se possível a obtenção de um maior dronizar o fornecimento daqueles fatores, da espécie de hortaliça; da disponibilida-
número de colheitas no ano. Para o cultivo bem como a complexa interação entre eles, de, qualidade e custo de mudas prontas
em hidroponia, torna-se obrigatória a uti- não existe receita única e infalível para a adquiridas de empresas especializadas.
lização de mudas. produção de mudas. Assim, são apresen- Na relação custo/benefício, deve-se le-
O crescimento e o desenvolvimento das tados os principais métodos que podem var em consideração, entre outras carac-
plantas são funções dos fatores água, luz, ser utilizados para a produção de mudas e terísticas, o alto custo da área sob cultivo
temperatura, nutrientes, oxigênio, CO2 e as bases para a escolha de materiais e mé- protegido, escolhendo-se métodos que
genótipo. Outros fatores, bem como pra- todos, e discutidos os fatores que influen- permitam a produção de mudas, que após
gas e doenças, influenciarão direta ou ciam a germinação das sementes, o esta- transplantadas tenham alta taxa de cres-
indiretamente na disponibilidade ou na belecimento, o crescimento e o desenvol- cimento, e assim se possa obter um maior
utilização deles. Assim, o cultivo protegido vimento das mudas, bem como os cuidados número possível de colheitas no ano, com

1
Engo Agro, D.Sc., Prof. Adj. UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36571-000 Viçosa-MG. E-mail: ppereira@mail.ufv.br
2
Enga Agra, D.Sc., Prof. Adj. UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36571-000 Viçosa-MG. E-mail: herminia@mail.ufv.br

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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 25

alta produtividade e qualidade. recomendado. Entretanto, não tendo alter- sego, Pinus e cana-de-açúcar. As de 128
Para o sistema de cultivo em hidroponia, nativas, essas mudas poderão ser usadas células com 12cm de altura podem ser
não se devem usar métodos que aumentam com alto risco de contaminação com pa- usadas para café, citros, eucalipto, mara-
a probabilidade de contaminação do siste- tógenos de todo o sistema hidropônico. cujá, plantas ornamentais, pêssego, Pinus
ma hidropônico com patógenos, como é o Para reduzir este risco, deve-se fazer um e seringueira. As de 72 células com 12cm
caso do uso de canteiros, ou de métodos tratamento do sistema radicular com fun- de profundidade podem ser usadas para
que dificultam a lavagem das raízes, re- gicidas o mais eficiente possível. algaroba, cacau, jojoba, mamão, plantas
tendo substrato aderido que pode causar ornamentais, seringueira e urucum. Entre-
entupimento do sistema hidropônico ou da- Recipientes tanto, atualmente tem sido muito comum
nos mecânicos ao sistema radicular. Quan- entre os produtores o uso de bandejas
São muitos os métodos de produção
to maior o estresse, maior o tempo para se de 200 células com 6,0cm de altura, em
de mudas que variam o recipiente e o
restabelecer a razão raiz/parte aérea própria substituição à bandeja de 288 células, por
substrato de enchimento. Estes métodos
da espécie para aquele ambiente, e assim, permitir o transplante de mudas mais de-
são os mais utilizados para o cultivo em
maior o tempo de recuperação após o trans- senvolvidas sem causar estresse e reduzir
ambiente protegido, em razão da maior
plante. o tempo até a colheita. Em 100 metros
uniformidade das mudas, maior sanidade,
Atualmente, muitos produtores têm-se quadrados de estufa, admitindo uma área
menor estresse durante o transplante e da
especializado na produção de mudas, tor- útil de 75% e germinação de 95%, é possível
disponibilidade de diferentes substratos
nando-se um rentável negócio. Avanços colocar 322 bandejas, que possibilitarão a
que podem ser produzidos pelo produtor
tecnológicos têm contribuído para o cres- formação de 89 mil mudas em bandejas de
ou adquiridos prontos no mercado.
cimento desta indústria. A disponibilidade 288 células e 64.400 mudas em bandejas de
Os recipientes podem ser individuais
de bandejas de diferentes materiais e 200 células.
ou multicelulares e de tamanhos variados.
tamanho de células, de substratos artificiais Deve-se considerar para definir o ta-
Os individuais têm a vantagem de permitir
ou naturais prontos para a utilização e a manho da bandeja a ser utilizada para a
que se varie o espaçamento entre mudas,
possibilidade de automação de muitas produção de mudas que, variando o ta-
embora dificultem o manuseio, sendo mais
operações como semeadura, irrigação, manho do recipiente, altera-se o volume de
utilizados os tubetes plásticos, sacos plás-
adubação, controle fitossanitário e manejo enraizamento das plantas, o qual afeta o
ticos, copos plásticos e de papel de jornal.
do ambiente têm reduzido os custos e crescimento da parte aérea (Leskovar, 1998).
Os multicelulares são as bandejas de diver-
aumentado a qualidade das mudas produ- As raízes recebem fotoassimilados e hor-
sos materiais como plástico, poliestireno
zidas. Em razão desta redução de custos, mônios e fornecem para a parte aérea água,
expandido, fibras vegetais prensadas e resi-
muitas vezes é mais econômico para o nutrientes e hormônios, além de dar suporte
nadas. As bandejas devem ser de fácil
produtor adquirir a muda pronta, ao invés à planta. O crescimento e partição de ma-
limpeza e desinfecção e de maior durabi-
de investir em materiais, equipamentos e téria seca entre parte aérea e raízes, a fotos-
lidade.
mão-de-obra necessários para a produção síntese, o teor de clorofila nas folhas, a
Quanto ao tamanho dos recipientes,
própria. O produtor deve estar atento absorção de nutrientes e água, a respiração,
deve-se usar aquele que permita a oti-
quanto ao estádio de desenvolvimento, o florescimento, bem como a produção das
mização do fornecimento de água, luz e
qualidade geral das raízes, parte aérea e plantas, são afetados pela restrição das raí-
nutrientes até a muda atingir o tamanho
principalmente quanto ao aspecto fitos- zes e, portanto, pelo tamanho do recipiente
necessário para o transplante.
sanitário das mudas adquiridas. Assim (Nesmith & Duval, 1998). Maior massa de
É comum o uso de bandejas de isopor
sendo, a idoneidade do produtor de mudas raízes em recipientes pequenos contribui
com tamanho e número diferentes de
é fundamental. para redução do espaço poroso e maior
células. Em geral, as bandejas de isopor
Os métodos de produção de mudas competição por oxigênio. Mudas com sis-
possuem 67,5cm de comprimento, 34,5cm
podem ser divididos em três segmentos tema radicular restrito, quando transplan-
de largura e altura que pode variar de 4,8cm
distintos: canteiros, recipientes e blocos tadas para o campo, são freqüentemente
em badejas de 288 células a 6,3cm na ban-
de materiais porosos. incapazes de compensar a evapotrans-
deja de 128 células e 12cm em bandejas de
72 e 128 células. Minami (1995) recomenda piração, mesmo se bem irrigadas após o
Canteiros transplante. A taxa de crescimento de mu-
bandejas de 288 células para acelga, alface,
Os métodos de produção de mudas em almeirão, beterraba, brócolos, chicória, das em geral é proporcional ao volume do
canteiros são pouco utilizados para o cul- couve, couve-chinesa, couve-flor, mos- recipiente, e a produção inicial de tomate
tivo protegido em solo, principalmente em tarda, repolho e fumo. Bandejas de 128 cé- foi maior em plantas originadas de mudas
razão da maior probabilidade de conta- lulas com 6,3cm de altura são recomen- produzidas em recipientes maiores, embora
minação das mudas com patógenos, maior dadas para abóbora, salsão, beringela, ervi- a produção total não tenha sido influen-
desuniformidade, maior dano mecânico e lha, espinafre, feijão-vagem, jiló, melancia, ciada (Wien, 1997b). Assim sendo, onde a
dificuldades de manuseio das mudas du- melão, moranga, morango, pepino, pimenta, produção inicial obtiver maiores preços,
rante o transplante. O uso de mudas prove- pimentão, quiabo, tomate, citros, fumo, poderá ser interessante produzir mudas em
nientes de canteiros para hidroponia não é maracujá, várias plantas ornamentais, pês- recipientes maiores.
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26 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

As empresas produtoras de mudas pre- Os materiais que têm sido mais utili- 4cm de aresta, recomendados para a pro-
ferem os recipientes menores, para otimi- zados na preparação dos substratos para dução de mudas de tomate, pepino e pimen-
zar a utilização da área e reduzir o gasto de produção de mudas, para o cultivo em solo tão, e de 2cm de aresta, para a produção de
substrato, e assim os custos da muda. O ou substrato sólido são a vermiculita, o mudas de hortaliças de menor porte, como
produtor, consumidor da muda, entretanto, composto orgânico, as cascas de árvores alface e agrião.
está interessado em tamanho de recipiente e a casca de arroz carbonizada. Para a hidro- Em espuma fenólica, a semeadura pode
que proporcione ótimo crescimento após ponia, a inclusão de materiais orgânicos ser executada com o auxílio de qualquer
o transplante e menor tempo até a colheita. aumenta a probabilidade de contaminação objeto pontiagudo para a abertura de orifí-
Deve-se procurar minimizar o tempo no qual com patógenos e dificulta a lavagem das cios, colocando-se uma semente por cubo
as mudas têm o sistema radicular restrin- raízes, pois estes mantêm-se aderidos nelas, a aproximadamente 0,5cm de profundidade
gido, determinando a época para o trans- aumentando o dano mecânico promovido no caso de hortaliças folhosas e 1,0cm de
plante. A empresa quer vender mudas mais para sua total retirada do sistema radicular. profundidade no caso de hortaliças de fru-
novas e o produtor quer uma muda mais Assim sendo, tem sido muito utilizada a tos, dependendo do tamanho da semente.
desenvolvida, que ocupará um menor tem- vermiculita isoladamente ou em cubos de Para que a semente não saia do orifício e a
po da área de preço elevado. Neste caso, a materiais porosos, para fornecer nutrientes radícula não se volte para fora do substrato,
relação custo/benefício resultante do ta- via solução nutritiva. deve-se fechá-lo escarificando os bordos
manho do recipiente deve ser levada em Para a hidroponia, além da vermiculita, ou com uma fina camada de vermiculita.
consideração pelo produtor na hora de podem ser empregados outros substratos, Alguns produtores têm perfurado o cubo
comprar ou produzir sua própria muda. como algodão hidrófilo, areia lavada ou a de um lado a outro para melhor direcionar
Como substratos, podem ser utilizados perlita. O importante é que o substrato uti- as raízes.
diversos materiais, que na maioria das lizado se destaque com facilidade das As placas de espuma fenólica, do mes-
vezes são em mistura de dois ou mais, raízes, por ocasião da lavagem que ante- mo modo que as bandejas de isopor, podem
objetivando otimizar o fornecimento de cede o transplante. ser dispostas em tanques rasos e mantidas
água, oxigênio, nutrientes, características úmidas por subirrigação, empregando-se
físicas e facilidade no manuseio durante a Cubos de materiais porosos água até a emergência e solução nutritiva
produção e o transplante das mudas. Como diluída a 50% em seguida. Na construção
Atualmente estão disponíveis no mer-
exemplos desses materiais podem-se citar dos tanques, deve-se considerar a necessi-
cado cubos de espuma fenólica e de lã de
o próprio solo, areia, diversos tipos de com- dade de alterar o espaçamento entre cubos
rocha com diferentes tamanhos, fornecidos
posto orgânico, cascas de árvores com à medida em que as mudas se desenvolvem.
em placas. Os nutrientes são ministrados
diferentes granulometrias e estado de Os cubos são relativamente pequenos,
adicionando-se uma fina camada de solu-
decomposição, casca de arroz carbonizada, devendo ser destacados e distanciados uns
ção nutritiva no fundo das placas. Como
casca de coco, bagaço de cana, turfa, vermi- dos outros sempre que necessário.
culita, algodão, carvão vegetal moído etc. vantagens destes materiais, podem-se ci-
A mistura de dois ou mais materiais tar: isenção de patógenos e pragas, fácil
FATORES QUE INFLUENCIAM A
deve resultar em substrato uniforme, de manuseio e, principalmente, podem ser
GERMINAÇÃO DAS SEMENTES,
baixo custo, leve; com alta capacidade de mantidos aderidos às raízes após o trans-
ESTABELECIMENTO,
troca de cátions; ausentes ou com baixo plante para a solução nutritiva em hidro-
CRESCIMENTO E
teor de elementos químicos tóxicos para as ponia. Por esta razão, tem aumentado muito
DESENVOLVIMENTO DAS
plantas; com alta retenção de umidade e a sua utilização por hidroponistas. Segun-
MUDAS
boa aeração; de fácil manuseio no preparo do Furlani (1998), o Instituto Agronômico
e enchimento dos recipientes; com alta de Campinas (IAC) iniciou estudos com A otimização do fornecimento destes
capacidade de agregação e aderência às espuma fenólica na produção de mudas fatores que influenciam a germinação das
raízes, mantendo-se intactos durante o para hidroponia, obtendo resultados alta- sementes, o estabelecimento, o crescimen-
transplante; isentos de patógenos ou de mente vantajosos, o que levou muitos pro- to e o desenvolvimento das mudas começa
fácil desinfecção etc. A mistura pode ser dutores a adotarem esta técnica. com a escolha do local de produção de mu-
feita manualmente com pás e enxadas ou Para a utilização da espuma fenólica, das. Este local deve ter boa drenagem do
usando misturadores, como por exemplo deve-se fazer uma lavagem prévia das pla- solo, pouca declividade, boa luminosida-
as betoneiras. Dependendo dos materiais cas utilizando água corrente abundante, em de, evitando sombreamento já no início da
utilizados para fazer o substrato pode ser tempo suficiente para eliminar todos os tarde, disponibilidade de água de boa
necessária a desinfecção. Segundo o ma- resíduos ácidos resultantes do processo qualidade, longe de fonte de inóculo de
nual do Centro de Pesquisa e Desenvol- de fabricação. Caso estes resíduos perma- patógenos, sem ventos fortes e sem forma-
vimento de Hortaliças Asiático (Vege- neçam, prejudicarão a germinação, a emer- ção de neblina. Oliveira et al. (1997) apre-
table..., 1990), a desinfecção pode ser feita gência e o crescimento das mudas. sentam os fatores a serem considerados
utilizando-se compostos químicos líquidos Os cubos de materiais porosos apre- na escolha do local da estufa.
ou gasosos, aquecimento a vapor, a seco sentam tamanho variável. São encontrados Para que um determinado método de
ou solarização. no mercado cubos de espuma fenólica com produção de mudas adotado seja otimizado,
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é fundamental o conhecimento dos proces- miculita ou do próprio substrato. Tem-se cimento da muda, a deficiência de oxigênio
sos fisiológicos e dos fatores genótipos e procurado colocar uma semente em cada reduzirá a própria absorção de água,
de qualidade da semente, água, oxigênio, célula para evitar o desbaste, que exige causando murcha, afetando a membrana
temperatura, luz, CO2 e nutrientes. Con- muita mão-de-obra e cuidado, e para redu- celular, as relações de água, a nutrição mi-
trolando o fornecimento desses fatores, zir o gasto de sementes que em geral são neral, a produção e transporte de regu-
podem-se controlar a taxa de crescimento muito caras. Como dificilmente ocorre 100% ladores de crescimento, a fotossíntese, a
e a morfologia da muda, assim como a de germinação e crescimento uniforme, respiração e o transporte de carboidratos
altura, o sistema radicular e a relação raiz/ deve-se determinar o número médio de (Pezeshki, 1994). Além da deficiência de
parte aérea, facilitando a obtenção da mu- mudas de boa qualidade em cada bandeja. oxigênio, o excesso de água promoverá
da na época pretendida e a operação de lixiviação de nutrientes do substrato. Um
transplante, sem afetar a produção após o Água e oxigênio outro estresse também é causado pelo
transplante. A germinação das sementes inicia-se déficit de água.
com a absorção de água que ocorre tipica- Em um substrato, a distribuição de ar,
Qualidade da semente mente em três fases. Tem-se a fase inicial água e sólidos depende de vários fatores,
Nesse artigo, assume-se que sementes de rápida absorção (Fase I), seguida por incluindo espaço poroso, densidade, ta-
de genótipos selecionados em empresas uma fase lag (Fase II) e então finalizando manho e acomodação das partículas do
e instituições de pesquisas tenham sido com um lento aumento da absorção, le- substrato e altura do recipiente. O espaço
corretamente colhidas, beneficiadas, arma- vando à emissão da radícula e crescimento poroso total é inversamente proporcional
zenadas, tratadas e embaladas, estando da parte aérea (Fase III). Na fase I, tem-se a à densidade do substrato. Brent (1983),
disponíveis para o cultivo em ambiente embebição que ocorre rapidamente devido citado por Argo (1998), observou em 32
protegido. A isenção de patógenos é uma ao potencial mátrico negativo da semente, combinações de turfa, vermiculita e argila
característica fundamental à qualidade da estando completa para a maioria das espé- calcinada ou areia com densidades varian-
semente. cies em 4 a 8 horas. Sementes de alface do de 90 a 1.500kg/m3 que Poros Totais
Embora não se tenham disponíveis no completam a fase I em 1 a 2 horas (Cantliffe, (% do volume) = 98,39 (± 0,26) - 0,03655
mercado sementes peletizadas de todas as 1998). Na fase II, tem-se pouca absorção (± 0,00036) x densidade (kg/m 3). Em
espécies e variedades, esta tecnologia é de água, ocorrendo metabolismo normal das substrato isento de solo e com base em
desejável para se aumentar a precisão e células completamente hidratadas. A du- turfa, o espaço poroso pode representar
exatidão da semeadura e a aderência de ração é variável, podendo ser de 6 a 24 ho- de 85 a 93% do volume total. A altura do
aditivos para proteger a semente e a qua- ras em repolho e de 6 a 48 horas em tomate. recipiente também afeta a razão entre ar
lidade da muda. Na fase III, a semente torna-se um seedling e água no espaço poroso do substrato.
A manutenção da qualidade da semen- e perde sua capacidade de tolerar a des- Fonteno (1988), citado por Argo (1998),
te depende do período, da temperatura e secação. observou que em um substrato na capa-
da umidade de armazenamento (Taylor, Até a fase II a semente pode ser des- cidade de campo, a concentração de água
1997). Dessa forma, as condições em que secada novamente sem perder a viabili- aumentou de 64% para 82%, quando a altu-
as sementes são armazenadas pelo comer- dade. Algumas empresas produtoras de ra do recipiente respectivamente aumentou
ciante e posteriormente pelo produtor, de- sementes estão promovendo o priming de 5cm para 15cm.
terminarão a manutenção da sua qualidade. osmótico ou mátrico dessas sementes, ou O tamanho das partículas e a distri-
Considerando que atualmente não se po- seja, promovem as fases I e II da germinação buição de poros influenciam a proporção
dem comercializar sementes a granel, e não em solução com baixo potencial hídrico ar/água no substrato após a drenagem.
estão disponíveis embalagens de tamanhos devido ao potencial osmótico ou mátrico e Prenstjarvi & Robertson (1975), citados por
variados, o produtor deve ter condições desidratação a seguir, tornando as semen- Argo (1998), observaram que em turfa com
adequadas para armazenamento de maior tes não sensíveis a altas temperaturas e partículas menores que 0,01mm, o diâmetro
quantidade durante longos períodos, para fotoblásticas negativas (Wien, 1997a). dos poros mantinha a água não-disponí-
evitar a perda, já que, em geral, as sementes Para o fornecimento de água, deve-se vel. Partículas entre 0,01 e 0,8mm retinham
têm custos muito elevados. Para isso, as evitar estresse na semente e na muda, que muito da água aplicada. Entre 0,8 e 6,0mm,
empresas produtoras de sementes devem pode ser causado tanto por falta quanto aumentaram a proporção de poros não-
dar informações específicas aos comer- por excesso. Em condições de excesso, a capilares e assim o espaço com ar após a
ciantes e produtores sobre a forma mais água ocupa todo o espaço poroso e reduz irrigação. Acima de 6mm predominaram
adequada para o armazenamento, de modo a troca gasosa, que é mais prejudicial nas grandes poros não-capilares. Os compo-
que mantenha e expresse as características fases II e III da germinação. Sob altas nentes do substrato casca de arroz carbo-
selecionadas e divulgadas sobre cada ge- temperaturas, o excesso de água é mais nizada e vermiculita com maior granu-
nótipo. problemático, tornando as sementes mais lometria teriam a função de aumentar o
No método de bandejas, a semente deve sensíveis à indução da dormência secun- tamanho dos poros e assim o arejamento.
ser colocada no centro da célula, cobrindo- dária e, aumentando a taxa respiratória da A redução do volume do substrato no
a com uma camada de 0,5 a 0,7cm de ver- raiz e a demanda de água. Durante o cres- recipiente ou o encolhimento que ocorre
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principalmente após a primeira irrigação, das células. Esta poda estimula o enraiza- mente água no centro das células até
é resultante do ângulo de deposição ou mento secundário que contribui para maior iniciar o escorrimento causado pela
acomodação das partículas e também aderência do substrato à muda durante o força da gravidade, e anota-se o vo-
influencia a proporção ar/água. A redução transplante. lume gasto. Este procedimento deve
no volume ocorre quando pequenas partí- Para a otimização do fornecimento de ser repetido em várias células para
culas acomodam-se dentro de grandes po- água, devem-se responder às perguntas se obter a média.
ros não-capilares. Nash & Pokorny (1990), qual, quanto, quando e como, conforme a c) o quando irrigar, determinado pela
citados por Argo (1998), observaram que seguir: freqüência, pode ser por vários mé-
quanto maior a diferença de tamanho en- a) o qual diz respeito à qualidade da todos, tais como: tensiômetro para
tre as partículas de dois componentes do água, que é determinada pela isen- recipientes maiores e predição de
substrato, principalmente em proporções ção de patógenos e composição perda de água usando dados expe-
iguais, maior é o encolhimento. Assim química. Argo (1998) e Biernbaum & rimentais de temperatura, radiação,
sendo, a mistura de materiais com tamanho Versluys (1998) citam várias referên- umidade relativa e perda de peso.
de partículas similares reduz ou elimina esta cias que caracterizam a qualidade A água disponível pode ser deter-
redução no volume após a irrigação. química da água quanto à alcalini- minada pesando-se por exemplo a
Outro ponto a considerar na mistura de dade, pH, condutividade elétrica bandeja, o substrato e a planta após
materiais é a capacidade de reumedeci- (CE) e concentração de nutrientes. a irrigação; subtraindo-se o peso,
mento do substrato após a secagem e arma- A alcalinidade máxima admitida varia quando a planta iniciar o murcha-
zenamento por longos períodos. Materiais de 40 a 200mg/l de carbonato e bi- mento. A irrigação geralmente é feita
orgânicos tendem a se tornarem hidro- carbonato na água, dependendo quando 75 a 85% da água dispo-
fóbicos a partir de determinado teor de dos fertilizantes usados na adubação nível é perdida. Este método pode
umidade, que pode ser atingido após lon- a ser feita e do tamanho do reci- ser usado para regular outros siste-
gos períodos de armazenamento (Argo, piente. Quanto menor o recipiente, mas de controle como por exemplo
1998). Quanto mais seco e maior o estado menor deve ser a alcalinidade má- o da “folha mágica”. Neste sistema,
de decomposição do material orgânico, xima admitida. Valores maiores que descrito por Sgarzela (1997), um tipo
maior é a dificuldade de reumedecimento. 80mg/l são considerados críticos e, de raquete feita com sombrite rece-
A adição de materiais grosseiros como ver- neste caso, o uso de fertilizantes con- be água na mesma proporção das
miculita, areia ou casca de arroz carbonizada tendo amônio para suprir parte do mudas. Quando recebe um volume
diminui o problema. nitrogênio (N) ou a acidificação da predeterminado, a raquete abaixa
A partir destas considerações podem- água é recomendado. O pH da água devido ao peso e desliga a bomba
se entender melhor as recomendações de seria o método de rotina mais indi- de irrigação. Com a perda de peso
irrigação e procurar otimizar o fornecimento cado para monitorar a alcalinida- causado pela evaporação, a raquete
de água e oxigênio para a produção de de, podendo variar de 5,0 a 7,0. A CE sobe e liga novamente a bomba. Este
mudas de alta qualidade. admitida, determinada pela con- sistema deve ser regulado continua-
centração de íons, pode ser de até mente para cada estádio de desen-
Irrigação 1,3dS/m, se a concentração de sódio volvimento da muda.
A irrigação do leito de sementeira deve (Na) e cloro (Cl) não for maior que A irrigação não deve ser feita no
ser feita com muito cuidado, especialmente 60mg/l. Para o Na, o valor limite seria final da tarde, pois as superfícies
quando as sementes são muito pequenas. de 40mg/l. A presença de elementos do substrato e da folha permane-
Grandes gotas de água podem descobrir fitotóxicos como boro (B) e flúor (F) cendo molhadas durante à noite,
as sementes e prejudicar a germinação. deve ser observada, não devendo favorecem a ocorrência de doen-
Como uma regra, o substrato deve ser man- ultrapassar de 1mg/l. ças.
tido úmido, evitando-se excessos ou falta b) o quanto de água a ser aplicada em O estádio de desenvolvimento da
de água. Para maior uniformidade da ger- cada irrigação dependerá do volume muda também influenciará no manejo
minação, logo após a semeadura, deve-se de substrato, do formato do reci- da água. Segundo Biernbaum &
cobrir a superfície do substrato com mate- piente, do tamanho das partículas do Versluys (1998), a produção de mu-
rial que reduz a evaporação e evita danos à substrato etc. A quantidade total das é dividida em quatro estádios. O
superfície causados pela irrigação. A irriga- não deve ultrapassar a capacidade estádio I vai da semeadura até a
ção deve ser efetuada imediatamente após de retenção e nem promover a lixi- emissão da radícula; o estádio II
a semeadura para maior uniformidade da viação. Grosseiramente é possível abrange a emissão da radícula até a
germinação. Em bandejas, é comum o determinar também a capacidade de formação de folhas cotiledonares; o
empilhamento até o início da emergência, campo de um substrato contido em estádio III é o desenvolvimento das
quando são distribuídas e podem ser man- uma célula de uma bandeja. Após o folhas verdadeiras e o estádio IV é a
tidas suspensas em bancadas para que enchimento das bandejas com subs- finalização ou o endurecimento. Em
ocorra a poda natural das raízes que saem trato seco, adiciona-se bem lenta- geral, a medida que a muda vai-se
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desenvolvendo, os níveis de umida- nutritiva com a luz propicia o desen- por alta temperatura pode ser devido ao
de são reduzidos para promover o volvimento de algas. Bandejas com esgotamento (respiração maior que fotos-
seu endurecimento e assim aumentar células de pequeno volume são sa- síntese), toxidez (produção de etanol e
a tolerância ao estresse ou choque turadas rapidamente e, estando em acetaldeído devido à respiração anaeróbica
de transplante. O crescimento da contato direto com o fundo do tan- quando falta oxigênio para suprir a alta
muda pode ser eficientemente con- que, não permitem a poda natural das respiração) e desnaturação de proteínas
trolado pela irrigação, desde que de- raízes, como acontece nas bandejas (destruição de proteínas). Membranas de
vidamente manejada (Liptay et al., suspensas. Quando se têm células células estressadas pelo calor tornam-se
1998). maiores, as bandejas podem perma- mais permeáveis ao citosol, tornado-se mais
d) o como efetuar a irrigação, têm-se necer suspensas e, assim, tem-se a susceptíveis a doenças, pois as substân-
basicamente cinco métodos: asper- poda, quando se retira a água perio- cias liberadas servem como alimento para
são manual, aspersores estacio- dicamente. microrganismos. Sintomas de estresse de
nários ou móveis, fog e subirrigação. Pelo processo descrito, dependendo da alta temperatura em mudas são redução na
O método de irrigação a ser utilizado temperatura, obtêm-se mudas de alface com taxa de crescimento e áreas com tecidos
dependerá do método de produção cerca de 8cm de altura e quatro a seis folhas mortos nas folhas e caule.
da mudas e de recursos disponíveis. em 21 a 25 dias. A temperatura é uma das ferramentas
A aspersão manual demanda mais que podem ser usadas para controlar a
mão-de-obra. É difícil uniformizar a Temperatura altura de mudas produzidas em ambiente
distribuição da água e a obtenção A temperatura influencia todas as ati- protegido (Berghage, 1998). Em geral a
de gotas pequenas, resultando em vidades fisiológicas durante a germinação temperatura em ambiente protegido tende
mudas desuniformes e de pior qua- da semente, crescimento e desenvolvi- a ser menor mais próximo do solo. Assim
lidade. mento da planta, controlando a taxa das sendo, a conveniência de se usar bancadas
Para a irrigação por aspersores, reações químicas. As temperaturas indica- mais baixas deve ser considerada.
usam-se em geral microaspersores das para cada espécie podem variar com a
que podem ser estacionários ou mó- Luz
cultivar e com a temperatura efetiva do
veis. Devem-se usar uma distribui- substrato utilizado, que é influenciada pelo Para a otimização no fornecimento de
ção de aspersores e pressão de água teor de umidade, cor e materiais presentes. luz, deve-se atentar para as características:
que garantam a uniformidade de Considerando que a taxa de crescimento duração, intensidade e qualidade da luz. A
irrigação. depende da temperatura no ponto de cres- qualidade da luz torna-se importante sob
No sistema fog, gotas de água cimento, tem sido observada em alface uma condições de luz artificial, tipo de filme
muito pequenas (5mm) são produ- maior correlação positiva entre crescimento plástico e cobertura usada para reduzir a
zidas para manter altos níveis de e temperatura do solo do que temperatura temperatura. Por exemplo, a colocação de
umidade relativa. Para isso, exige-se do ar. telas de sombreamento inapropriadas e/ou
água pura ou de alta qualidade. Deve- A temperatura do ambiente protegido a pintura excessiva da cobertura com cal
se evitar que neste sistema se forme usado para a produção da muda deve-se reduzirão a intensidade luminosa, onde
água de condensação no teto da es- aproximar o máximo possível da tempe- predomina luz no comprimento de onda
trutura de proteção, o que poderá ratura ótima para cada espécie e cultivar. vermelho, e causarão maior auto-som-
danificar plantas e causar a disper- Quando se têm temperaturas subótimas ou breamento entre mudas e uma redução na
são do substrato. supra-ótimas para uma determinada espé- relação raiz/parte aérea, tornando as mudas
A subirrigação permite maior cie, um estresse pode ser induzido, cujos menos tolerantes ao transplante para a área
uniformidade de aplicação de água efeitos dependerão da magnitude da tem- definitiva. Nesta condição, as plantas tam-
ou solução nutritiva, não molha as peratura. bém tornam-se mais suculentas e estio-
folhas e, assim, reduz as doenças e Em condições tropicais, o estresse cau- ladas, sendo mais susceptíveis a doenças
tem menor custo. As bandejas são sado por alta temperatura é mais comum. e ataques de insetos.
agrupadas em tanques rasos sobre Por exemplo, sementes de alface quando A energia luminosa total recebida pela
bancadas, fornecendo-se água ou submetidas à temperatura de 30ºC ou mais, planta depende do comprimento do dia e
solução nutritiva por subirrigação durante as fases I e II da germinação, en- da intensidade de luz. Assim, a luz do sol
sempre que necessário, mantendo- tram em dormência secundária. Algumas excessiva pode causar danos às plântulas
se o substrato úmido, mas não en- cultivares que em condições normais não logo após a emergência. Por esta razão,
charcado. Emprega-se água até a necessitam de luz durante a germinação, deve-se promover o sombreamento, por
emergência das plântulas e solução tornam-se fotoblásticas positivas após exemplo usando um sombrite, que deve ser
nutritiva a 50% após essa fase. É in- indução de dormência secundária por alta retirado tão logo a plântula esteja estabe-
teressante que toda a superfície do temperatura (Taiz & Zeiger, 1991). Esta seria lecida. Para as espécies insensíveis ao
tanque fique recoberta pelas ban- a razão da necessidade de semeadura rasa fotoperíodo na fase de muda, quanto mais
dejas, pois o contato da solução de sementes de alface. A injúria da planta prolongada a exposição à luz, maior a
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fotossíntese e maior o crescimento. e concentrações ótimas aproximadas de e freqüência de aplicação dos nutrientes,
Dependendo do comprimento do dia e cada nutriente para espécies olerícolas deve-se calcular a demanda de nutrientes
da intensidade de luz, a suplementação de podem ser encontradas em publicações por dia com base na taxa de crescimento e
luz pode aumentar o peso das raízes e da como as de Haag & Minami (1981), Reuter concentração ótima de cada nutriente no
parte aérea de mudas de tomate, brócolos, & Robinson (1986), Jones et al. (1991), tecido da planta.
alface e pimentão (Tremblay & Cosselin, Bergmann (1992) e Ferreira et al. (1993). Considerando a diversidade das fontes
1998), reduzindo assim o tempo para o As recomendações para o forneci- de variação para nutrição, crescimento e
transplante e aumentando a eficiência de mento de nutrientes variam com o método desenvolvimento da muda, é fundamental
uso do espaço mais caro. utilizado de produção de muda. Em can- que cada produtor faça pequenos testes,
teiros, a forma mais eficiente é a aplicação objetivando a otimização de seu sistema e
Nutrientes dos fertilizantes e homogeneização no solo da qualidade das mudas obtidas.
O estado nutricional ótimo da muda é antes da semeadura. Neste sistema, a adu-
fundamental para o seu crescimento, de- bação com base em análise de solo e crité- TRANSPLANTE DE MUDAS
senvolvimento e potencial de produção no rios de interpretação atuais pode ser adota-
A operação de transplante, que consiste
campo após o transplante. Entretanto, em da (Raij, 1993), fazendo-se adaptações
na transferência da muda do local de pro-
razão da interação entre um grande número locais fundamentadas em observações
dução para a área definitiva, é uma etapa
de fatores que influenciam o crescimento e anteriores. A adição de adubos orgânicos
fundamental para a sobrevivência e de-
a composição mineral das mudas, é impos- decompostos e bem curtidos constitui
sempenho da muda. Para se proceder ao
sível ter uma recomendação única e segura importante fonte de nutrientes com libe-
transplante, alguns cuidados devem ser to-
para o fornecimento de nutrientes. Em ração lenta. Entretanto, apenas a matéria
mados a fim de evitar ou reduzir o estresse
olericultura, a adubação, em geral, repre- orgânica não é suficiente para fornecer
hídrico, nutricional ou físico durante e após
senta pouco no custo total de produção. todos os nutrientes, especialmente fósforo
essa operação.
Por esta razão, é mais comum o problema (P) e cálcio (Ca). Neste caso, a incorporação
A quantidade de água disponível é fun-
de toxidez que a deficiência. Assim, para de fontes destes nutrientes, em todo o vo-
ção principalmente do teor de água e volu-
otimizar o fornecimento dos nutrientes para lume do leito da sementeira, é fundamental.
me do substrato que se mantém aderido ao
as mudas é fundamental que se considere O P, em razão de sua mobilidade no solo
sistema radicular. O estresse nutricional
os seguintes fatores: espécie; cultivar; por difusão, deve estar presente em maior
ocorrerá quando a demanda metabólica for
híbridos; concentração ótima de cada nu- concentração, para maior absorção pelas
maior que a reserva interna e a quantidade
triente; taxa de crescimento; demanda de mudas que têm sistema radicular com
absorvida. O estresse físico ocorre quando
nutrientes entre semeadura e transplante; pequena superfície de absorção. Devido à
são ocasionados danos mecânicos nas
luz; temperatura; umidade relativa; água; imobilidade do Ca no floema, ele deve ser
raízes ou na parte aérea. Em geral, quanto
CO2; método de produção da muda; dis- fornecido no ponto de crescimento da raiz.
maior o volume de substrato que se mantém
ponibilidade de nutrientes; capacidade de A aplicação de algum micronutriente aderido à muda durante e após o trans-
troca de cátions (CTC); pH; soma e satu- específico via foliar poderá ser feita em plante, menores serão os estresses.
ração de bases; salinidade e volume do última opção, apenas corretiva, se o solo Reduzindo-se estes estresses, menor
substrato; tipo de recipientes; fontes, con- ou substrato não foi devidamente corri- será o chamado choque de transplante. Para
centrações, formas e freqüência de apli- gido. Neste caso, devem-se tomar cuidados isso, deve-se levar em consideração o mé-
cação de fertilizantes. para evitar a toxidez. O molibdênio (Mo) todo de produção da muda, a idade, o
Os poucos trabalhos científicos publi- pode ser aplicado via foliar obtendo-se volume e o formato do recipiente, tipo de
cados com nutrição de mudas, especial- respostas positivas em muitos casos e com substrato, estado nutricional, teor de
mente em periódicos nacionais, apresentam pequeno risco de toxidez. O B aplicado via matéria seca, bem como as condições climá-
uma diversidade grande na metodologia e foliar é pouco eficiente em razão de sua ticas e horário de transplante, ventos, técni-
nos resultados e falta uma descrição mais baixa mobilidade no floema da planta cas e distância de transporte e condições
detalhada da metodologia, tornando-se (Marschner, 1995), exigindo assim um de preparo da área definitiva.
difícil uma interpretação, que objetiva grande número de aplicações, com risco No sistema de produção de mudas em
adaptação e recomendação sob uma base de causar toxidez. canteiros, onde se procede a desinfecção,
comercial. Além disso, são poucos os tra- O fornecimento de macronutrientes via o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento
balhos que relacionam nutrição da muda foliar não é eficiente, por causa da quan- de Hortaliças Asiático (Vegetable..., 1990)
com a produção após o transplante. Raij tidade exigida pela planta, tornando-se ne- recomenda cortar a raiz pivotante da muda
(1993), Carmello (1995), Dufault (1998) e cessário um grande número de aplicações. usando uma faca, uma semana antes do
Argo (1998) tornam clara esta dificuldade Nos métodos de produção de mudas transplantio, para estimular a ramificação e
para a interpretação dos trabalhos cien- em recipientes e blocos porosos, os nutri- formação de raízes novas junto à raiz
tíficos de otimização da nutrição das mu- entes podem ser fornecidos por fertirri- principal. Este procedimento contribui para
das. gação, aspersão ou subirrigação. Para a reter maior volume de solo e melhorar a
As informações sobre nutrição mineral definição de doses, composição da solução relação raiz/parte aérea. Efeito semelhante
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ocorre no sistema de produção de mudas objetivo de gerar conhecimentos básicos higher plants. 2.ed. New York: Academic
em bandejas suspensas, onde ocorre a po- para otimizar o fornecimento destes fato- Press, 1995. 889p.
da natural devido ao contato da raiz com o res. Nestes trabalhos deve-se relatar de MINAMI, K. Produção de mudas de alta
ar atmosférico. Nicola (1998) cita que mudas forma clara e mais informativa possível a qualidade em horticultura. São Paulo:
de alface com arquitetura do sistema radi- metodologia, para que se possa repeti-la T.A. Queiroz, 1995. 128p.
cular com maior número de raízes laterais ou adaptá-la comercialmente. NESMITH, D.S.; DUVAL, J.R. The effect of
são mais eficientes para a absorção de água container size. Hort Technology, Alexan-
e nutrientes da camada superficial do solo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS dria, v.8, p.495-498, 1998.
Quanto ao horário de transplante, deve- NICOLA, S. Understanding root systems to
se procurar fazê-lo quando a transpiração ARGO, W.R. Root medium physical properties. improve seedling quality. Hort Technology,
é menor, mais ao final da tarde, para que Hort Technology, Alexandria, v.8, p.481- Alexandria, v.8, p.544-549, 1998.
seja restabelecida a absorção de água e nu- 485, 1998.
OLIVEIRA, C.R. de; BARRETO, E.A.;
trientes no período noturno. Se o ambiente BERGHAGE, R. Controlling height with FIGUEIREDO, G.J.B. de; NEVES, J.P. de
protegido possuir sistema de controle da temperature. Hort Technology, Alexandria, S.; ANDRADE, L.A. de; MAKIMOTO,
insolação e temperatura, o transplante v.8, p.535-539, 1998. P.; DIAS, W.T. Cultivo em ambiente pro-
poderá ser feito a qualquer hora do dia. BERGMANN, W. Nutritional disorders of tegido. Campinas: CATI, 1997. 31p.
O transplante para o sistema hidropô- plants: development, visual and analytical (CATI. Boletim Técnico, 232).
nico pode provocar maior estresse mecâ- diagnosis. New York: Gustav Fischer Verlag PEZESHKI, S.R. Plant response to flooding.
nico quando a muda é produzida com Jena, 1992. 741p. In: WILKSON, R.E. (Ed.) Plant-envi-
substrato, que deve ser lavado antes da BIERNBAUM, J.A.; VERSLUYS, N.B. Water ronment interactions. New York: Marcel
transferência para a solução nutritiva. management. Hort Technology, Alexandria, Dekker, 1994. p.289-322.
Neste caso, especialmente com a muda v.8, p.504-509, 1998. RAIJ, B. van. Princípios de correção e de
mais velha, o dano ao sistema radicular será CANTLIFFE, D.J. Seed germination for
adubação para mudas e para produção
maior e o tempo para recuperação também. comercial. In: FERREIRA, M. E.;
transplants. Hort Technology, Alexandria,
Quando se usam blocos porosos este CASTELLANE, P. D.; CRUZ, M. C. P.
v.8, p.499-503, 1998.
problema deixa de existir. da. (Ed.). Nutrição e adubação de horta-
CARMELLO, Q.A. de C. Nutrição e adubação liças. Piracicaba: POTAFOS, 1993. p.75-
Finalmente, o uso do bom-senso e a
de mudas hortícolas. In: MINAMI, K. (Ed.) 84.
imaginação para resolver problemas locais Produção de mudas de alta qualidade em
permitirão realizar o transplante em con- REUTER, D.J.; ROBINSON, J.B. Plant
horticultura. São Paulo, 1995, p.27-37.
dições que permitam à muda de ótima analysis: an interpretation manual. Mel-
DUFAULT, R.J. Vegetable transplant nutrition. bourne: Inkata Press, 1986. 218p.
qualidade expressar todo seu potencial pro-
Hort Technology, Alexandria, v.8, p.515-
dutivo em ambiente protegido. SGARZELA, E. Nova agricultura: a fascinante
523, 1998.
arte de cultivar com os plásticos. 5.ed.
FERREIRA, M.E.; CASTELLANE, P. Guaíba: Agropecuária, 1997. 372p.
CONSIDERAÇÕES FINAIS D.; CRUZ, M.C.P. da. (Ed.). Nutrição e
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Plant physiology.
O cultivo protegido é uma alternativa adubação de hortaliças. Piracicaba:
Redwood City, California: The Benjamin/
POTAFOS, 1993. 487p.
para aumentar a produção por área durante Cummings, 1991. 565p.
todo o ano e melhorar a qualidade dos pro- FURLANI, P.R. Instruções para o cultivo de
TAYLOR, A. G. Seed storage, germination
dutos. A utilização de mudas de alto padrão hortaliças de folhas pela técnica de
and quality. In: WIEN, H.C. (Ed.). The
de qualidade para a implantação da cultura hidroponia-NFT. Campinas: IAC, 1998.
physilogy of vegetables crops. New York:
30p. (IAC. Boletim Técnico, 168).
é fundamental. Considerando que são CAB International, 1997. p.1-36.
vários os métodos que podem ser utilizados HAAG, H.P.; MINAMI, K. Nutrição mine-
TREMBLAY, N.; COSSELIN, A. Effect of
para a produção destas mudas, deve-se ral em hortaliças. Campinas: Fundação
carbon dioxide enrichment and light. Hort
Cargill, 1981. 631p.
escolher, após criteriosa avaliação, aquele Technology, Alexandria, v.8, p. 524-528,
de melhor relação custo/benefício para as JONES, B.J.; WOLF, B.; MILLS, H.A. Plant 1998.
condições consideradas. analysis handbook: a practical sampling,
VEGETABLE production training manual.
Os conhecimentos básicos disponíveis preparation, analysis and interpretation
Taipei: AVRDC, 1990. 447p.
guide. Athens: Micro-Macro, 1991. 213p.
sobre o fornecimento de água, O2, CO2, luz, WIEN, H.C. Lettuce. In: WIEN, H.C. (Ed.).
temperatura e nutrientes permitem ao pro- LESKOVAR, D.I. Root and shoot modification
The physiology of vegetables crops. New
dutor direcionar e planejar seus testes, uma by irrigation. Hort Technology, Alexandria,
York: CAB International, 1997a. p. 479-
v.8, p.510-514, 1998.
vez que é impossível ter-se uma receita 510.
única, objetivando otimizar estes fatores LIPTAY, A.; SIKKEMA, P.; FONTENO, W.
WIEN, H.C. Transplanting. In: WIEN, H.C.
para cada genótipo e condições locais. De- Hort Technology, Alexandria, v.8, p.540-
(Ed.). The physiology of vegetables
ve ser conduzido um maior número de 543, 1998. crops. New York: CAB International,
trabalhos de pesquisa científica, com o MARSCHNER, H. Mineral nutrition of 1997b. p. 37-68.

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32 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

Manejo do solo para a produção de hortaliças


em ambiente protegido
Juarez José Vanni Müller 1
Valmir José Vizzotto 1

Resumo - É relativamente recente a utilização do solo em ambiente protegido


para o cultivo de hortaliças no Brasil. Dados relativos ao manejo do solo nesta
condição são praticamente inexistentes. Os aspectos abordados têm como base o
conhecimento do uso do solo na forma tradicional e a experiência recente adqui-
rida em cultivo protegido.
Palavras-chave: Cultivo protegido; Hortaliças; Matéria orgânica; Rotação; Con-
sorciação; Manejo do solo.

INTRODUÇÃO A fertilidade natural do solo está relacio- matéria orgânica, atuarão na estruturação
nada com a rocha de origem. Solos originários do solo e na sua porosidade. Os poros no
No Brasil, o cultivo protegido condu-
de material vulcânico geralmente têm boa solo são fundamentais na aeração e no
zido em abrigos fixos é realizado em con-
fertilidade natural, enquanto os originados fornecimento de oxigênio, que são indis-
dições naturais de solo, o que não acontece
de arenitos são de baixa fertilidade natural, pensáveis para a absorção de nutrientes e,
na quase totalidade dos países que adotam
em função da elevada porcentagem de conseqüentemente, para o desenvolvimen-
este sistema de cultivo, onde o solo provêm
de substratos minerais ou orgânicos, que quartzo, mineral praticamente insolúvel. to das plantas.
são colocados no interior do abrigo e uti- Em cultivos intensivos, como ocorre em
lizados por um determinado espaço de MATÉRIA ORGÂNICA ambientes protegidos, as condições físicas
tempo. Após esta utilização são substituí- do solo geralmente são deficientes, prin-
A matéria orgânica no solo tem várias cipalmente por causa da baixa atividade
dos ou passam por um processo de lava- funções benéficas. Do ponto de vista físico,
gem/desinfecção, para serem novamente biológica, que ocorre em função da deficiente
destacam-se os aumentos da porosidade, energia para a ação e crescimento dos micro-
reutilizados. infiltração, retenção de água e da resis- organismos, isto é, biomassa. Portanto, é
tência à erosão, redução do período de fundamental o fornecimento contínuo de
SOLO encharcamento, compactação do solo e va- biomassa para a recuperação física desses
O solo é um meio complexo, constituído riações de umidade e temperatura do solo. solos.
de resíduos da decomposição de rochas Do ponto de vista biológico também No cultivo de hortaliças, geralmente de
através do processo de intemperismo, ma- há vários aspectos positivos, entre eles au- espécies de ciclo relativamente curto e com
terial orgânico em vários estádios de degra- mento da vida no solo, maior enraizamento altas produções por área, a demanda por
dação, organismos, ar e água. das plantas, maior resistência das plantas biomassa no solo é muito mais intensa.
A composição de um solo virgem é o a secas, doenças e pragas, e aumento do Embora a matéria orgânica seja a for-
resultado da ação conjunta do clima, relevo sabor e período de conservação dos alimen- necedora natural de micronutrientes, indis-
e da atuação dos microorganismos sobre a tos produzidos, além de constituir numa pensáveis para as plantas, além de outros
rocha que lhe originou. Em relação ao clima, fonte de nutrientes para o solo. elementos, ela não é essencialmente um
destacam-se as chuvas, que lentamente vão No aspecto químico, a matéria orgânica adubo e sim um condicionador do solo.
lixiviando os elementos mais solúveis. No aumenta a capacidade de troca de cátions, Deve-se fazer uma análise química do
corpo do solo vão ficando compostos quí- favorecendo o aproveitamento de adubos material orgânico, principalmente quando
micos progressivamente mais estáveis, mas minerais e diminuindo o risco de salinização. for compostado, para, em função das ne-
menos ricos em nutrientes minerais e com A intervenção no solo, através das prá- cessidades da cultura, ser realizada uma
menor capacidade de retê-los. Esta ação é ticas de preparo, deve ser a menor possível, adubação equilibrada, evitando-se excesso
mais rápida nos trópicos, porque as reações pois sua estrutura está intimamente rela- ou falta de nutrientes. Quando ocorre uma
químicas são favorecidas pelas tempe- cionada com a atividade biológica. Os mi- nutrição desequilibrada, a planta fica mais
raturas mais elevadas. croorganismos, através do suprimento de susceptível ao ataque de doenças e pragas.

1
Engo Agro, M.Sc., Pesq. EPAGRI - Escritório Municipal de Pirabeirada, Rua Georg Burger, 179, Bairro Pirabeirada, CEP 89239-30 Joinville-SC.
E-mail: jmuller@epagri.rct-sc.br

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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 33

Vários resíduos orgânicos podem ser Recomenda-se que os solos, Com o uso contínuo da mesma área de
utilizados. Deve-se ter o cuidado de evitar dentro dos abrigos/estufas, se- solo, a salinização poderá atingir valores que
materiais contaminados com patógenos, jam mantidos com um teor de se tornarão fitotóxicos para a maioria das
pragas, sementes, metais pesados e subs- matéria orgânica em torno de 5%. culturas, reduzindo a produção e favo-
tâncias fitotóxicas (fenóis, resinas, terpenos, recendo a ocorrência de pragas e doenças.
taninos etc.), tendo maior atenção, quando ROTAÇÃO E CONSORCIAÇÃO
este material vier de fora da propriedade. À Adubação
exceção dos metais pesados, os problemas A rotação e a consorciação de culturas,
Na adubação das culturas olerícolas são
com os demais contaminantes podem ser além de favorecerem um melhor aprovei-
utilizados vários tipos de adubos, especial-
resolvidos, quando o material sofre um bom tamento dos nutrientes e água, diminuem a
mente os nitrogenados e potássicos. Os
processo de compostagem. A ação dos me- ocorrência de pragas e doenças.
nitrogenados, tais como, os nitratos de amô-
tais pesados pode ser reduzida ou eliminada A utilização de plantas com sistemas
nio, de cálcio e de potássio apresentam um
através de: radiculares diferentes deixa no solo canais
índice de salinidade relativamente elevado
de diferentes espessuras e comprimentos que
a) calagem: com pH próximo da neu- (superior a 50%). Por sua vez, no grupo dos
favorecerão o seu arejamento.
tralidade, a disponibilidade dos me- potássicos, à exceção do cloreto de potássio
Tanto a rotação quanto a consorciação
tais pesados é reduzida; (109,4%), os demais (sulfatos de potássio e
de culturas devem ser bem planejadas, le-
b) capacidade de troca de cátions (CTC): de potássio + magnésio) apresentam índices
vando-se em consideração os seguintes
quanto maior for a CTC, mais metais inferiores a 50%. Os fosfatados são os de
aspectos:
pesados serão removidos da solu- menor índice de salinidade, entre 8 e 30%.
a) rotação: escolher plantas que sejam Em função do uso de doses elevadas de
ção do solo; companheiras, utilizar aquelas de fa- fertilizantes no cultivo protegido, torna-se
c) matéria orgânica: quanto maior for o mílias diferentes, usar leguminosas evidente a necessidade de realizar análises
teor de matéria orgânica no solo, para repor o nitrogênio do solo, consi- periódicas do solo, para controlar o efeito
menor será a disponibilidade dos me- derar o tipo de irrigação das culturas; prejudicial deste insumo pelo aumento do
tais pesados para as raízes. b) consorciação: definir qual cultura é a índice de salinidade. No Quadro 1 é mostrado
Alguns materiais orgânicos que mais importante; associar plantas que
podem ser utilizados no solo são: têm muitas folhas, com outras de pou-
- restos vegetais: folhas, ramas, cas; combinar plantas de ciclo longo QUADRO 1 - Tolerância relativa de algumas cul-
caules, palhas, cascas, talos, ba- com as de ciclo curto; utilizar plantas turas à salinidade do solo
gaços, sabugos e polpas. Estes com diferentes arquiteturas e formas Limite máximo da
materiais podem ser colocados de crescimento; combinar plantas Cultura
salinidade (dS/m)(1)
sobre o solo ou incorporados su- com exigências diferentes de água e
perficialmente. Também poderão nutrição; associar plantas com siste- Sensíveis
ser compostados previamente; mas radiculares de diferentes profun- Feijão 1,0
- estercos de animais: antes da uti- didades; combinar plantas sombrea- Cenoura 1,0
lização, o esterco deve passar pe- doras com aquelas pouco exigentes Morango 1,0
lo processo de fermentação ou em luminosidade. Cenoura 1,2
ser compostado com restos Moderadamente sensíveis
vegetais; ADUBAÇÃO VERDE
Nabo 0,9
- resíduos industriais sólidos de Recomenda-se, a cada dois anos, realizar
Rabanete 1,2
origem vegetal: bagaço de frutas uma adubação verde dentro dos abrigos, com
Alface 1,3
e de cana, bagacinho de cana, a posterior incorporação das plantas ao solo.
Pimentão 1,5
tortas oleaginosas, polpa de sisal Esta técnica fornecerá matéria orgâni-
Batata-doce 1,5
e raspas de mandioca. Utilizar ca e nutrientes ao solo, auxiliará na recicla-
Fava 1,6
estes produtos, de preferência, gem dos nutrientes não utilizados nos
Milho doce 1,7
após passarem pelo processo de cultivos anteriores e diminuirá a ocorrên-
Batata 1,7
compostagem, que pode ser rea- cia de doenças de solo.
Couve 1,8
lizado com a adição de outros
produtos orgânicos. As tortas SALINIZAÇÃO DO SOLO Espinafre 2,0
Pepino 2,5
podem ser usadas diretamente A salinização é o acúmulo de cátions Tomate 2,5
no solo; (sódio, potássio, magnésio e cálcio) e ânions Brócolos 2,8
- resíduos industriais sólidos de (nitratos e cloretos) no solo.
origem animal: farinhas de san- No cultivo em estufas, por causa da não Moderadamente tolerantes
gue, de peixe, de ossos, de casco ocorrência de chuvas, da utilização de adu- Beterraba 4,0
e de chifres, pó de couro curtido bação mineral elevada e do acentuado uso Abobrinha 4,7
e resíduos intestinais. As fari- da irrigação por gotejamento, há uma ten- FONTE: Dados básicos: Lorenz & Maynard (1988).
nhas podem ser usadas direta- dência de acúmulo de sais na parte super- (1) 1 decisiemen por metro (dS/m) = 1mmho/cm
mente no solo. ficial do solo. = ±640mg de sal/L.

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34 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

o índice máximo de salinidade do solo QUADRO 2 – Valores da condutividade elétrica da água de irrigação para perdas de 10, 25 e 50%
supor-tado por algumas culturas, sem perdas de produtividade de algumas hortaliças
da produtividade.
Porcentagem de perda de produtividade
Irrigação Cultura
O consumo de água pelas plantas cul- 10 25 50
tivadas em abrigo é, normalmente, mais
elevado do que quando realizado ao ar livre.
dS/m dS/m dS/m
Em média, estima-se uma necessidade em
torno de 600 a 900l/m2, dependendo das Feijão 1,0 1,5 2,4
condições edafoclimáticas e do tipo de Alface 1,4 2,1 3,4
cultura. Considerando que o conteúdo de Pimentão 1,5 2,2 3,4
sais na água de irrigação varia de 100 a Melão 2,4 3,8 6,1
1.000mg/l, um consumo de 500l/m2 adiciona
Pepino 2,2 2,9 4,2
ao solo 500 a 5.000kg de sais por hectare. O
teor de sais na água pode, portanto, atingir Tomate 2,3 3,4 5,0
níveis que levem à restrição do seu uso. Pa- Cenoura 1,1 1,9 3,1
ra valores de até 0,7dS/m (decisiemen por Morango 0,9 1,2 1,7
metro), pode-se utilizar a água de irrigação Cebola 1,2 1,8 2,9
sem problemas; de 0,7 a 3,0dS/m, começa- Rabanete 1,3 2,1 3,4
se a ter problemas e, para valores superiores
Batata 1,7 2,5 3,9
a 3,0, deve-se restringir ou mesmo evitar o
seu uso. No Quadro 2, resumem-se os va- Espinafre 2,2 3,5 5,7
lores da condutividade elétrica da água de Brócolos 2,6 3,7 5,5
irrigação para perdas de 10, 25 e 50% de Beterraba 3,4 4,5 6,4
produtividade de algumas culturas.
FONTE: Dados básicos: Lorenz & Maynard (1988).
Dessalinização do solo
No caso de um índice de salinização
cia à salinidade, o alho, a beterraba, a abo- os. Com a elevação da temperatura e a dispo-
prejudicial ao desenvolvimento normal de
brinha, o trigo e o azevém. Dentre as espé- nibilidade de umidade e de luminosidade
determinada cultura, a lixiviação é um mal
cies não cultivadas destacam-se Paspalum (filme plástico transparente), haverá germi-
necessário. Consiste em irrigar a área com
vaginatum (gramão) que suporta índices nação das sementes de plantas daninhas,
o equivalente a dez vezes a capacidade de de salinidade de até 35dS/m; Triplex com posterior morte delas sob esta condi-
retenção do solo até a drenagem completa. portucaloides L. e Limonium vulgare Miller. ção de estufa.
Para a obtenção de uma lixiviação eficaz, Outra espécie com boa tolerância é Solanum Para que seja eficiente, a solarização
recomenda-se o seguinte esquema de irri- muricatum, que apresenta elevada pro- deverá ser realizada nos períodos de maior
gação: irrigar durante 15 a 20 minutos; 6 dutividade mesmo em solo com condu- intensidade solar. Em regiões de clima sub-
horas mais tarde repetir a irrigação; 24 horas tividade elétrica de 8dS/m (Ruiz & Nues, tropical, o período mais propício é o verão.
após, aplicar mais 200mm; finalmente deixar citados por Rosas, 1997). A inativação térmica de diversos patóge-
drenar totalmente. Como recomendação nos dependerá da temperatura do solo.
adicional sugere-se uma adubação orgâ-
SOLARIZAÇÃO Quanto menor a temperatura, maior deverá
nica, para aumentar o teor de húmus estável ser o tempo de exposição. Nas camadas mais
do solo. Em função da utilização intensiva do profundas do solo, onde as temperaturas
solo em ambientes protegidos, haverá a não são muito elevadas, ocorrem rachadu-
Culturas com mais tolerância tendência de aumento das doenças de solo. ras nos escleródios (estrutura de resistência
à salinidade Além das práticas de utilização de matéria de alguns tipos de fungos), permitindo a
Em áreas com problemas de salinidade, orgânica, rotação e consorciação de culturas ação de microorganismos antagonistas. Em
o uso intercalar de espécies mais tolerantes e adubação verde, é importante a solarização estufas, recomenda-se a solarização por pe-
pode reduzir a condutividade elétrica do solo do solo dos abrigos. ríodos de 20 a 30 dias.
para valores aceitáveis por culturas menos A solarização consiste na utilização da Na escolha do plástico a ser utilizado, o
tolerantes e de maior rendimento. Experimen- energia solar para a desinfestação do solo. aspecto mais importante é que este seja
to com cevada semeada numa densidade de Esta técnica favorece a eliminação de fitopa- transparente, pois permite uma melhor pas-
20g/m2, reduziu a condutividade elétrica do tógenos (fungos, bactérias e nematóides), sagem da radiação solar e, conseqüente-
solo, após 46 dias, de 4,77 para 1,54dS/m, na plantas daninhas e pragas. mente, um efeito estufa mais eficiente,
camada de solo de 0 a 20cm, e de 4,46 para Com a cobertura do solo úmido com fil- dando condições, através da luminosidade,
1,44dS/m, na camada de 20 a 40cm (Gomes, mes plásticos transparentes, haverá ele- para a germinação das sementes de plantas
1996, citado por Rosas, 1997). Rosas (1997) vação da temperatura do solo, que atuará daninhas. A espessura do filme plástico está
indica também como espécies com tolerân- sobre os fitopatógenos e pragas, eliminando- relacionada com sua vida útil e custo. Filmes
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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 35

plásticos com maior espessura poderão ser produzem satisfatoriamente numa faixa de LORENZ, O.A.; MAYNARD, D.N. Knott’s
utilizados várias vezes, porém são de custo pH entre 5,5 e 6,5 e com ausência de alu- handbook for vegetable growers. 3.ed. New
mais elevado. mínio trocável. Quando o solo encontra-se York: John Wiley, 1988. 456p.
O processo de solarização deve seguir a numa faixa de pH abaixo ou acima destes ROSAS, E.A.S. Salinização em ambiente protegido.
seguinte seqüência: valores, ocorrem sintomas drásticos de de- In: FORO INTERNACIONAL DE CULTIVO
ficiência de grande parte dos nutrientes do PROTEGIDO, 1997, Botucatu. Anais...
a) preparar o solo de modo conven- Botucatu: UNESP/FAPESP, 1997. p.226-
solo, além da toxidez de alumínio e manganês
cional; 262.
(pH baixo).
b) molhar o solo, deixando-o bem úmido; Portanto, recomenda-se aplicar o cal-
c) colocar o filme plástico transparente cário com três meses de antecedência ao BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
sobre toda a área. Nas bordas, o filme plantio, em duas vezes, sendo a metade an- AMMA, A.T.; MITIDIERI, I. de; BIMBONI,
deverá ser enterrado, para evitar a tes de lavrar o solo e a outra metade após a H. Curso a distância: producción de hor-
perda de calor; lavração, seguida de uma a duas gradagens, taliças en invernaculo. San Pedro: INTA/
E.E.A., 1994. 80p. Módulo 3: Aspectos
d) manter o abrigo/estufa todo fechado; com a finalidade de distribuir o calcário
generales del cultivo.
uniformemente numa camada de aproxima-
e) após o período de solarização, retirar CADAHIA LOPEZ, C. Fertilización en riego
damente 20cm de profundidade, área que
o plástico e realizar o plantio. localizado: metodos de evaluacion y control. In:
será intensamente explorada pelas raízes.
LOPEZ BELLIDO, L.; CASTILLO GARCIA,
Em Devay et al. (1991) e Souza (1994), ci-
J.E., (Coord.). Nuevas tecnologias en cultivos
tados por Katan & Devay (1991) e Ghini PLANTIO de invernadero. Cordoba: Universidad de
(1997) é relatada a ação da solarização sobre Cordoba - Escuela Tecnica Superior de Ingenieros
fitopatógenos, tais como: Antes da semeadura ou plantio, efetuar
Agronomos, 1987. p.98-113.
uma ou mais gradagens segundo as neces-
a) fungos: Bipolaris sorokiniana, sidades, a fim de que o solo fique em con- KHATOUNIAN, C.A.; SANTOS, L.G. de; ALTÉIA,
Didymella licopersici, Fusarium spp., dições de receber a cultura. A.A.K. Produção orgânica de hortaliças.
Phytophthora spp., Plasmodiophora Londrina: IAPAR, 1996. 98p. Apostila.
Havendo necessidade de construção de
spp., Pyrenochaeta spp., Pythium spp., canteiros, recomenda-se o uso de encan- KIEHL, E.J. Manual de compostagem: ma-
Rhizoctonia solani, Sclerotinia spp., teirador ou equipamento similar disponível turação e qualidade do composto. Piracicaba:
Sclerotium spp., Thielaviopsis Agronômica Ceres, 1998. 171p.
na propriedade. Deixar aproximadamente
basicola, Verticillium spp.; 50cm entre os canteiros para facilitar os MEDINA SAN JUAN, J.A. Riego por goteo:
b) bactérias: Agrobacterium tumefaciens, tratos culturais. teoria y prática. 3.ed. Madrid: Mundi-Prensa,
Streptomyces scabies; Nestas operações, deve-se evitar ao 1988. 256p.
máximo a utilização de enxada rotativa, pelo MOYA TALENS, J.A. Riego localizado y fer-
c) nematóides: Criconella, Ditylenchus,
fato de destruir totalmente a estrutura ori- tirrigación. Madrid: Mundi-Prensa, 1994.
Globodera, Helicotylenchus,
ginal do solo, compactando-o, o que impede 363p.
Heterodera, Meloidogyne,
a infiltração normal da água. Além disso, MÜLLER, J.J.V. Curso profissionalizante de
Paratrichodorus, Pratylenchus,
esta prática provoca a formação de uma floricultura: solos e substratos. In: FLO-
Xiphinema.
crosta superficial que, no caso de semea- RICULTURA: programa catarinense de
O uso de produtos químicos para tra- dura, impede a germinação normal das profissionalização de produtores rurais.
tamento do solo, além do alto custo finan- sementes, causando morte das plântulas.
Joinville, SC: EPAGRI, 1996. p.20-52.
ceiro, geralmente cria um vácuo biológico, Apostila.
como o caso do brometo de metila, que CONSIDERAÇÕES FINAIS MÜLLER, J.J.V.; REBELO, J.A.; GONÇALVES,
elimina a vida do solo. Este vácuo biológico P.A. de S. Efeito da solarização de substrato na
favorece o estabelecimento posterior de O ambiente dentro do abrigo/estufa é produção de mudas de tomateiro. Horticultura
fitopatógenos, que em razão da eliminação muito precioso, pois é difícil e oneroso mudar Brasileira, Brasília, v.13, n.1, p.98, maio
dos microorganismos antagônicos, propor- a estrutura de local. Em função disso, todos 1995. Resumo.
cionarão, cada vez mais, maior ocorrência e os cuidados devem ser tomados para manter PASCHOAL, A.D. Produção orgânica de
problemas mais severos. o solo, nesses ambientes, com as melhores alimentos: agricultura sustentável para os
A solarização também atua em diversos características físicas, químicas e biológicas. séculos XX e XXI. Piracicaba: Agronômica
processos do solo, como na liberação de ni- Portanto, o manejo correto do solo, adu- Ceres, 1994. 191p.
trogênio (amônia e nitrato), cálcio e magné- bação equilibrada, rotação e consorciação de PRIMAVESI, A. Agricultura sustentável:
sio; mudanças na composição do solo, me- culturas e adubação orgânica e verde são manual do produtor rural. São Paulo: Nobel,
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lhorando a sua estrutura e favorecendo um
maior desenvolvimento e produtividade das PRIMAVESI, A. Manejo ecológico de pragas e
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36 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

Manejo dos fertilizantes nas culturas de hortaliças


cultivadas em solo, em ambiente protegido
Paulo Cezar Rezende Fontes 1
Tadeu Graciolli Guimarães 2

Resumo - O manejo dos fertilizantes na produção de hortaliças em ambiente protegido


é um desafio para técnicos e produtores que dispõem de escassas informações sobre
o tema. Enfatiza-se, a existência de relação funcional ótima entre dose do fertilizante
(mineral + orgânico) e produtividade das hortaliças, havendo a necessidade de adequar
a dose a ser aplicada em complementaridade à capacidade do solo em suprir de nu-
trientes as plantas. São propostos critérios para o parcelamento do nitrogênio e do
potássio na fertirrigação por gotejamento e teores críticos de nutrientes na planta,
para efeito de diagnóstico do seu estado nutricional e avaliação do programa de
adubação utilizado. Também é proposto um programa de adubação do tomateiro
em ambiente protegido e, acima de tudo, enfatizada a necessidade de o responsável
pela cultura ter informação e conhecimento dos princípios, procedimentos, técnicas
e avanços relacionados e ser capaz de ajustá-los a sua situação específica.
Palavras-chave: Fertilização; Adubação; Plasticultura; Nutrição mineral.

INTRODUÇÃO na produção de hortaliças, utilizando-se de na produção de hortaliças necessita ser


A produção de hortaliças em solo, em exemplos na cultura do tomateiro, com a conseguido em cada situação específica,
ambiente protegido, é um importante de- qual se tem trabalhado mais. A maioria das ensejando e mesmo condicionando o
culturas em ambiente protegido pode ser produtor ou o responsável técnico pela
safio para técnicos, pesquisadores e pro-
conduzida como plantas de ciclo normal cultura a ser um experimentador in loco.
dutores que dispõem de recentes e raras
informações sobre o tema, em condições ou expandir-se por semanas e meses. A
brasileiras. O sucesso do empreendimen- expansão do ciclo da cultura implica, quase RELAÇÃO ENTRE DOSES
to depende da otimização de diversas sempre, em maiores produtividades e, nem DE FERTILIZANTES E
variáveis, dentre as quais o programa de sempre, em necessidade de maiores quan- PRODUTIVIDADE
fertilização da cultura. É difícil utilizar a tidades de fertilizantes. Serão salientados A relação entre as doses de um nu-
tecnologia de outros países, onde é comum alguns princípios e experiências dos auto- triente aplicadas ao solo (abscissa) e as
o uso de substratos, na maioria das vezes res na tentativa de subsidiar o racional uso produtividades da cultura (ordenada) pode
inertes e removíveis, ao invés do solo. Nes- dos fertilizantes nas culturas de hortaliças. ser representada graficamente por uma
te, é um desafio otimizar a produção e não Devido ao relativamente reduzido custo curva. Usualmente, três regiões desta cur-
salinizar as áreas pelas doses, habitual- dos fertilizantes, é mais oportuno errar para va podem ser destacadas: a primeira, de
mente elevadas, utilizadas na produção mais do que pela falta de adubo. Entretanto, sensível aumento na produtividade com o
tradicional das hortaliças. No cultivo a céu é necessário incorporar nos procedimen- aumento nas doses. A segunda, em que
aberto, a chuva, as perdas e as trocas fre- tos utilizados no processo produtivo os para pequenos aumentos da produtividade
qüentes de áreas encarregam-se de desali- conhecimentos existentes sobre análises são necessárias doses altas do nutriente.
nizar o solo. de solo e planta. Finalmente, enfatiza-se Finalmente, a terceira, em que há decrésci-
Neste artigo enfocam-se alguns concei- que a sintonia fina ou o refinamento das mo na produtividade com o aumento das
tos envolvidos no manejo dos fertilizantes recomendações de manejo dos fertilizantes doses. Os aspectos matemático e estatís-

1
Engo Agro, Ph.D., Prof. Tit. UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36571-000 Viçosa-MG. E-mail: pacerefo@mail.ufv.br
2
Engo Agro, D.Sc., Prof. Adj. UFU, Campus de Umuarama, Av. Amazonas s/n, CEP 38400-902 Uberlândia-MG.

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38 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

tico sobre os ajustes de curvas de produti- culturais, os híbridos de tomate Sunny e volume, grandes quantidades de fertili-
vidade em função de doses dos fertilizan- EF-50, que se desenvolveram entre meados zantes os quais ficam à disposição, quase
tes são complexos e levam, quase sempre, do outono e primavera, em Viçosa (MG), em contato direto, do ainda reduzido siste-
à obtenção de diferentes doses ótimas de em condições protegidas, produziram em ma radicular. Nesta situação, o nível dos
fertilizantes. Porém, nem sempre a relação média 140% mais frutos comerciais que no nutrientes no meio, principalmente do
entre doses de um nutriente e a produti- campo (Fontes et al., 1997). Do mesmo fósforo (P), é alto. Porém, com o progres-
vidade será representada por uma curva, modo, no inverno, foi verificado aumento sivo crescimento do sistema radicular,
como descrita anteriormente. Se o teor do médio de 207% na produtividade da alface ocupando significativo volume do recipi-
nutriente no solo é adequado para a pro- em relação àquela obtida no campo sem ente e posterior transplantio para o campo,
dução máxima, a curva de resposta da pro- proteção (Rodrigues, 1997). a capacidade de absorção aumenta, pro-
dução é horizontal ou paralela à abscissa. As maiores produtividades, normal- vavelmente reduzindo o nível considerado
Isto pode ser o caso de solos que vêm mente obtidas em ambientes protegidos, crítico. Se os teores de nutrientes no solo
recebendo adições freqüentes de fertili- podem induzir ao conceito da necessidade são suficientemente altos, acima de níveis
zantes, tornando os teores dos nutrientes de serem aplicadas maiores doses de fer- considerados críticos, de tal modo que a
disponíveis elevados, como é o caso das tilizantes para as culturas que se desen- aplicação de fertilizantes não correspon-
áreas sob estufas. volvem nesse ambiente. Não é um conceito derá a aumento econômico da produti-
Não são freqüentes os estudos relacio- sempre correto, pois, a combinação de fato- vidade, o produtor estará perdendo dinhei-
nando o teor disponível do nutriente no res, dentre os quais o cultivo em ambiente ro. Adicionalmente, estará correndo o risco
solo e a produtividade de hortaliças. Mais aberto, época chuvosa do ano, solos areno- de acentuar a concentração de determi-
comuns são os estudos que relacionam sos, irrigação por sulcos e parcelamentos nados nutrientes no solo, causando desba-
doses do nutriente e a produtividade da mais espaçados das doses, acarreta perdas lanços e efeito salino, os quais poderão
cultura, sem considerar o teor do nutriente elevadas de nutrientes, principalmente ni- influenciar negativamente a produtividade
no solo. Adubar com doses elevadas, sem trogênio (N) e potássio (K). Em contraste, e a rentabilidade da cultura. Obviamente,
considerar o teor existente no solo, na o cultivo em ambiente protegido e fertirri- poder-se-ia considerar a possibilidade de
maioria das vezes funciona, pois a planta gações diárias ou semanais, embora o vo- o excesso de fertilizantes tornar-se poluidor
tem mecanismos seletivos na absorção lume de solo explorado pelas raízes seja do meio ambiente, em analogia às atuais
iônica até que concentrações desbalan- menor, concorrem para maior eficiência do preocupações existentes nos países mais
ceadas ou tóxicas sejam atingidas, quando uso dos fertilizantes. A quase ausência de desenvolvidos.
então ocorrerá decréscimo na produtivi- dados comparativos entre ambos os siste- Os critérios para a interpretação da aná-
dade. Ademais, em condições protegidas, mas dificulta a racional extrapolação da lise do solo (Quadro 1) e recomendação de
a demanda por nutrientes é alta, pois a pro- experiência acumulada pelos produtores adubação para os cultivos nos moldes tra-
dução de matéria seca também é alta. Por tradicionais a céu aberto para as condições dicionais são publicados por diversos Esta-
exemplo, com 115t/ha de frutos, o tomatei- protegidas. dos brasileiros e estrangeiros (Quadro 2).
ro acumulou na parte aérea 8.850kg de ma- É imperioso que estes valores sejam utili-
téria seca (67% nos frutos), no período de ANÁLISE DE SOLO zados apenas como balizadores ou refe-
135 dias no campo, isto é, a taxa média de A aplicação de fertilizantes com base rências. Na Flórida, Estados Unidos, os
66kg/ha/dia, embora tenha atingido o va- na disponibilidade dos nutrientes existe- produtores de hortaliças, geralmente, colo-
lor máximo de 5.710mg/planta/dia corres- ntes no solo é a forma mais apropriada de cam mais adubo do que as quantidades
pondentes a 127kg/ha/dia (Fayad, 1998). evitar acúmulo excessivo de sais, mesmo recomendadas pelos testes de calibração
Em outras condições, valores máximos considerando os problemas inerentes à (Hanlon & Hochmuth, 1992). Este fato
de 8.552mg/planta/dia (Fayad, 1998) e utilização da análise de solo, como critério também deve estar ocorrendo no Brasil.
9.500mg/planta/dia (Heuvelink, 1995) têm de recomendação de adubação. A gene- É difícil imaginar que o universo de
sido encontrados para o tomateiro. O máxi- ralizada idéia de que as hortaliças neces- variações existentes em todo o processo
mo de 6.000mg/planta/dia foi encontra- sitam de quantidades elevadas de nutri- produtivo, incluindo genótipo, ambiente,
do para a cultura do pimentão (Negreiros, entes no solo (nível crítico alto), nem sem- solo e manejo cultural, estará contemplado
1995). As taxas médias raramente ultra- pre é verdadeira, embora a maioria das naqueles critérios. Mesmo em países de
passam de 45 para o feijão e 150kg/ha/dia cultivares tenha sido selecionada em extensões territoriais reduzidas, com safras
para o milho. condições de alta disponibilidade de nu- em períodos definidos, maior homoge-
Em condições protegidas, comparada trientes, visando produtividades elevadas neidade na tecnologia de produção, com
com o campo, as culturas podem ser con- em curtos períodos. As hortaliças, quase disponibilidade de recursos para a pes-
duzidas por maior período, sendo as pro- sempre, são propagadas por mudas pro- quisa, associações organizadas e atuantes
dutividades, normalmente, maiores. Por duzidas em recipientes preenchidos com de produtores de alface, tomate, pimentão
exemplo, utilizando as mesmas práticas substrato que recebem, por unidade de ou outras olerícolas, os estudos de calibra-

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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 39

QUADRO 1 - Escalas para a interpretação de análise de solo no estado de Minas Gerais (Brasil) do solo. A alta salinidade no meio pode
e na Flórida (Estados Unidos) provocar diversos problemas na planta,
Textura Teores no solo(1) inclusive a morte.
Nutriente do Muito Muito Portanto, quando os teores de sais no
solo Baixo Médio Alto
baixo alto solo tornam-se elevados, precisam ser
Minas Gerais(A) (mg/dm3) removidos ou lixiviados pela aplicação de
Fósforo Argilosa – 0-5 6 - 10 11 - 20 > 20 água ou pela chuva sobre o solo da estufa
Fósforo Média – 0 - 10 11 - 20 21 - 40 > 40 descoberta. A quantidade de água é
variável em função da textura do solo e dos
Fósforo Arenosa – 0 - 20 21 - 30 31 - 60 > 60
teores de sais no solo. Assim, solos areno-
Potássio Qualquer – 0 - 45 46 - 80 81 - 120 > 120
sos e não-arenosos com 5dS/m podem
Flórida(B) (mg/kg) necessitar de 70 e 100l/m2, respectiva-
Fósforo – < 10 10 - 15 16 - 30 31 - 60 > 60 mente, aplicados em dois a cinco dias
Potássio – < 20 20 - 35 36 - 60 61 - 125 > 125 (Papadopoulos, 1994). Esta operação, nor-
Fósforo-critério antigo – < 16 16 - 33 34 - 66 67 - 132 > 132 malmente, reduz a condutividade elétrica e
Potássio-critério antigo – < 25 25 - 50 51 - 100 101 - 200 > 200 os teores de nitrato e de K do solo. Tem-se
FONTE: Dados básicos: (A) Fontes (no prelo) e (B) Hanlon & Hochmuth (1992). usado, na Universidade Federal de Viçosa
(1) Extrator Mehlich 1. (UFV), este artifício para executar expe-
rimentos, nos quais é necessário baixo teor
de N no solo.
QUADRO 2 - Recomendações de doses de P2O5 e K2O (kg/ha) para algumas culturas em ambiente Estudos de Rhoades & Miyamoto
não-protegido e ciclos normais das plantas, no estado de Minas Gerais (Brasil) e na (1990) indicam a tolerância das espécies à
Flórida (Estados Unidos), em função dos teores no solo condutividade elétrica do solo, sendo as
Teor no solo culturas de alface, pimentão, pepino e to-
Cultura Nutriente Muito Muito mate, consideradas moderadamente sen-
Baixo Médio Alto síveis. Estes autores citam que os limites
baixo alto(1)
Pimentão de salinidade para estas culturas são 1,3;
Flórida P 2O 5 183 149 115 0 0 1,5; 2,5 e 2,5dS/m, respectivamente. En-
K2O 179 145 112 0 0 tretanto, esses limites devem ser consi-
derados com reservas, quando as plantas
Minas Gerais P 2O 5 - 300 240 100 50
têm constante disponibilidade de água,
K2O - 240 180 80 0 (80)
como no caso da irrigação por gotejamento.
Alface P 2O 5 - 400 300 100 50 Trabalhos de calibração das análises
Minas Gerais K2O - 120 90 60 0 (60) de nutrientes e de condutividade elétrica
do solo e a conseqüente utilização dos
Melão P 2O 5 183 149 115 0 0 resultados, principalmente em ambiente
Flórida K2O 179 145 112 0 0 protegido e irrigação por gotejamento, são
escassos. A alternativa é utilizar os critérios
Feijão de Vagem P 2O 5 92 92 69 0 0 atualmente existentes para as culturas nos
Flórida K2O 89 89 67 0 0 moldes tradicionais, buscando-se infor-
mações mais concretas sobre os possíveis
Tomate P 2O 5 183 149 115 0 0 índices críticos de salinidade no solo. Os
Flórida K2O 179 145 112 0 0 resultados da análise do solo podem ser
utilizados para o estabelecimento das doses
FONTE: Dados básicos: Fontes & Monnerat (1984), Hanlon & Hochmuth (1992), Casali &
Fontes (no prelo) e Fontes (no prelo). referenciais de calcário, P e K, podendo ser
(1) Apenas reposição. usada, com mais restrições, para os micro-
nutrientes. Para o N, na UFV, há primórdios
de trabalhos tentando apropriar critérios
ção, que visam o estabelecimento de doses análise de solo tradicional, a utilização da ou índices no solo para a sua recomen-
dos fertilizantes, com base na análise do análise da condutividade elétrica do extrato dação em olerícolas.
solo, fornecem indicações gerais ou refe- de saturação do solo é prática aconselhável, Entretanto, para haver a sintonia fi-
renciais, as quais necessitam sofrer ajustes pois, dependendo da qualidade da água na, sinônimo de ajuste das informações
locais. de irrigação e do excesso de fertilizantes, obtidas pelos pesquisadores em situação
Em condições protegidas, além da pode ter havido acúmulo de sais no perfil específica, da recomendação da dose ade-
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40 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

quada dos nutrientes, dentre eles P, K e QUADRO 3 - Concentrações críticas de N e K na seiva e nas matérias secas de folhas, pecíolos
micronutrientes, com base na análise do ou limbos foliares, em função do estádio de desenvolvimento de algumas culturas
solo, é prudente não esperar pelos resul- Concentração de nutrientes
tados advindos das instituições de pes- Cultura Estádio de N-NO 3 N-NO 3 N K
quisas ou das universidades públicas ou desenvolvimento Seiva Matéria Seca Matéria Seca Matéria Seca
privadas. Mesmo nos países que dedicam (mg/l) (dag/kg) (dag/ka) (dag/kg)
maiores recursos à pesquisa, dispondo de Alface 8a folha – 0,64 (F) 4,27 (F) 7,00 (F)
grande volume de informações publicadas, Final do ciclo – – 3,75 (F) 5,00 (F)
a sintonia fina do programa de fertilização,
como de quase todas as demais práticas Pimentão Início de frutificação – 1,00 (P) 4,00 (F) 6,00 (F)
no sistema produtivo, inclusive a análise Intensa frutificação – – 3,50 (F) 4,00 (F)
foliar, dependerá da participação do pro-
dutor, na sua situação específica. A sin- Tomate 2o cacho 2959 (P) 0,97 (P) 5,86 (L) 10,30 (P)
tonia fina das recomendações geradas pela 4o cacho 1409 (P) 0,29 (P) 4,37 (L) 7,30 (P)
pesquisa, escassa no Brasil, deve começar 6o cacho 1175 (P) 0,14 (P) 2,91 (L) 3,00 (P)
com a seleção de um critério para esta- FONTE: Dados básicos: Sampaio et al. (1995), Sampaio (1996), Fontes et al. (1995, 1997) e
Guimarães (1998).
belecer o programa de fertilização da
NOTA: F - Folhas; P - Pecíolos; L - Limbos foliares.
cultura. Este critério poderia ser usado em
pequeno percentual da área plantada, para
servir como testemunha para a prática
normalmente adotada pelo produtor. Ade- MATÉRIA ORGÂNICA
substituição dos estercos de animais, den-
quando-se procedimentos, após certo É pouco provável a obtenção de produ- tre as quais o húmus de minhoca, o com-
período, pode-se otimizar a utilização dos tividade máxima de qualquer hortaliça sem posto orgânico de resíduos vegetais e, com
fertilizantes com base nas análises do solo a adição de matéria orgânica, principal- restrições à presença de metais pesados, o
e da planta. Agrônomos são capazes de mente em solos com baixo ou médio teor composto de lixo urbano. O efeito da adição
orientar os produtores nesta tarefa de de matéria orgânica (< 3dag/kg). Esta, além deste ao solo sobre a produção de cultiva-
ajuste local. de melhorar algumas características físicas res de alface foi estudado por Costa (1998).
do solo, incorpora razoáveis quantidades As produtividades das cultivares aumen-
ANÁLISE FOLIAR de nutrientes biodisponíveis. Segundo taram com o aumento das doses aplicadas,
Kiehl (1985), os teores de N nos estercos sendo 30 t/ha a maior dose aplicada (em
A avaliação do estado nutricional da
de bovinos e de galinhas isentos de água toda a superfície do canteiro). Além disso,
planta, como ferramenta de diagnose e
estão em torno de 1,67 e 3,99%; os teores houve aumento dos teores dos metais pe-
prognose, é útil e importante, desde que
de P2O5, de 0,86 e 4,74%, e os teores de sados zinco (Zn), cobre (Cu), chumbo (Pb)
todas as etapas do processo sejam execu-
K2O, de 1,37 e 2,0%, respectivamente. Por- e cádmio (Cd) nas folhas.
tadas corretamente, precisando ser incor-
tanto, a adição de 30 t/ha de esterco de A adição nos sulcos de transplantio de
porada aos procedimentos utilizados na
bovinos com 30% de matéria seca incorpora 30 t/ha de esterco de bovinos, contendo
produção de hortaliças em ambiente pro- ao solo, aproximadamente, 150kg de N, 80kg 70% de umidade, corresponderia à apli-
tegido, principalmente no manejo da fertili- de P2O5 e 120kg de K2O. A adição de 5 t/ha cação de 9 t/ha de matéria seca (cerca de
zação com N e K. Tanto a análise de tecidos de cama de aves (três lotes), cujo teor de 15.000dm3). Supondo que os sulcos de
secos (análise foliar tradicional), como a matéria seca é alto, em torno de 70%, pode transplantio sejam espaçados de 1m e te-
da seiva (elementos solúveis) são possí- incorporar ao solo 110kg de N, 120 de P2O5 nham 0,15m de largura e 0,20m de profun-
veis de ser utilizadas com os microelétrodos e 90 de K2O. Se é difícil a quantificação dos didade, haverá a formação de uma faixa de
portáteis, disponíveis no mercado. Teores nutrientes incorporados ao solo pela adi- substrato. Esta faixa conterá o esterco
de nutrientes em tecidos de alface, pimen- ção de matéria orgânica, mais difícil é definir misturado ao solo em proporções que po-
tão e tomate considerados adequados, índices de suas disponibilidades às plantas. dem variar de 100:0 (somente esterco no
utilizando como exemplos resultados de Normalmente, pode ser aceito que metade sulco), até 0:100 (somente solo no sulco).
experimentos desenvolvidos na UFV, são do N, 30% do P e 70% do K adicionados A faixa de substrato conterá então: solo,
mostrados no Quadro 3. Indicações de como estercos estejam disponíveis para as esterco, fertilizantes (normalmente, uma
níveis críticos dos nutrientes para as hor- plantas. Portanto, a adição de 30 t/ha de fonte de fósforo, o sulfato de magnésio e
taliças mais importantes podem ser encon- esterco de bovinos pode disponibilizar para os micronutrientes) e, em alguns casos, o
trados em Mills & Jones Júnior (1996), as plantas 75kg de N, 25kg de P2O5 e 80kg praguicida de solo. Além disso, receberá a
Hartz & Hochmuth (1996) e Huett et al. de K2O. água, o N e o K via gotejamento. Este tipo
(1997). Existem algumas alternativas para a de prática cultural não poderia ser consi-

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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 41

derado um cultivo quase em substrato? Na as plantas estejam mais bem nutridas. máximas produtividades total, comercial e
UFV, utilizando a técnica de cultivo em Em cultivo protegido, o tomateiro fer- ponderada de 155, 136 e 126 t/ha, respecti-
substrato acondicionado em saco plástico, tirrigado (híbrido EF-50, 22.200 plantas/ha, vamente, as quais corresponderam a 1.168,
foi possível maximizar a produtividade do ciclo de 135 dias após o transplantio, pro- 1.025 e 950kg/ha/dia de permanência da
tomateiro (165 t/ha), adicionando-se até dutividade comercial de 109 t/ha corres- cultura no campo (133 dias após o trans-
15% de esterco seco de suínos à mistura pondentes a 807kg/ha/dia de permanência plantio). Ao invés de aplicar semanalmente
de solo + substrato comercial (Loures, 1997 da cultura no campo) extraiu, pela parte as quantidades de N e K, estas poderiam
e Loures et al., 1998). aérea, 264, 211, 195, 49, 40 e 30kg/ha de K, ser divididas por sete e aplicadas diaria-
Apesar de difícil manuseio, produtores N, Ca, enxofre (S), Mg e P, respectivamente mente, esquema mais apropriado em siste-
de hortaliças, principalmente em ambientes (Fayad, 1998). Neste trabalho, as taxas de mas automatizados. Resultados com outras
protegidos, não devem deixar de aplicar absorção de N e K acompanharam a taxa espécies precisam ser estabelecidos e ava-
matéria orgânica ao solo. Tal prática irá de crescimento da cultura (Gráfico 1), sendo liados em condições protegidas.
proporcionar economia de nutrientes, prin- que as quantidades percentuais de N e K Muitas vezes, em sistemas automa-
cipalmente de N, adição de micronutrientes, acumuladas pela planta ao longo do ciclo tizados, para evitar cálculos, é possível, ao
maiores retenção de umidade e aeração do encontram-se no Quadro 4, podendo servir integrar informações, desenvolver pro-
solo, facilidade de crescimento radicular e, como cronograma referencial para a aplica- gramas de computador que gerem reco-
acima de tudo, efeitos biológicos positivos, ção de ambos via água de irrigação. Assim, mendações de parcelamento da adubação,
porém pouco conhecidos e difíceis de ser baseando-se parcialmente nestes resul- como por exemplo o citado por Breimer et
estudados. tados foram definidas as porcentagens das al. (1988). Entretanto, os programas apenas
quantidades totais de N e K a ser aplicadas executam tarefas ou rotinas que precisam
DINÂMICA DE ABSORÇÃO DO N por semana, ao longo do ciclo do tomateiro ser preestabelecidas e validadas por tra-
E DO K COMO CRITÉRIO PARA (Quadro 4). A sugestão foi utilizada por balhos apropriados de pesquisas.
OS SEUS PARCELAMENTOS Camargos (1998), para o parcelamento das
doses de N e K via irrigação por goteja-
A extração de nutrientes pelas partes MODO DE APLICAR OS
mento, em experimento com a cultura do
da planta (análises das quantidades de FERTILIZANTES
tomateiro ‘Carmen’. Neste experimento foi
matéria seca e de nutrientes) é indicativo
utilizada a suspensão do nitrocálcio e do No cultivo de hortaliças em ambien-
da eficiência dos processos envolvidos na
cloreto de potássio, tendo sido obtidas as te protegido, os nutrientes podem ser
produção e partição de assimilados e nos
seus acúmulos nos órgãos da planta. As
quantidades retiradas de nutrientes ao
longo do ciclo da cultura, principalmente
N e K, proporcionam indicativos para as 6000 210
doses e parcelamento dos adubos a serem
utilizados. Entretanto, as quantidades
removidas dependem de diversos fatores, 5000 175
entre os quais a produtividade de matéria Taxa de absorção de N e K
seca e a disponibilidade dos nutrientes para 4000 140
G (mg/planta/dia)

as raízes (quantidades existentes no solo


(mg/planta/dia)

mais as adicionadas como fertilizantes


orgânicos e minerais). Se a disponibilidade 3000 105
for alta, a planta absorverá quantidades
excessivas de nutrientes (consumo de 2000 70
luxo), principalmente K, resultando em GMS
menores absorções de cálcio (Ca) e magné- GN
sio (Mg) (Sampaio, 1996 e Fontes et al., 1000 GK 35
1996), não resultando em aumentos de
quantidade e qualidade do produto colhido, 0 0
podendo haver decréscimos nas mesmas. 15 30 45 60 75 90 105 120 135
Dose excessiva de N proporciona aspec- Dias após o transplantio
to luxuriante da vegetação do tomateiro,
porém com menor partição de assimilados Gráfico 1 - Taxas de produção de matéria seca (GMS) e de absorções de N (GN) e
para os frutos (Guimarães, 1998), podendo K (GK) pela parte aérea do tomateiro cultivado em condições protegidas,
provocar, às vezes, a falsa impressão que ao longo do seu ciclo cultural

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42 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

QUADRO 4 - Estimativa da absorção de N e K (valores acumulados em %) na parte aérea das 1983, 1984ab, Fontes et al., 1984, 1986,
cultivares de tomate EF-50 e Santa Clara e sugestão das porcentagens das doses Fontes, 1987 e Fontes & Fontes, 1992).
de N e K a ser utilizadas na fertirrigação, em função da idade da planta
Os demais nutrientes, principalmente
Idade da planta Nutriente % das doses N e K, têm sido colocados via água de irri-
(dias após o N K sugeridas de gação, por gotejamento, utilizando-se o
transplantio) EF-50 Santa Clara EF-50 Santa Clara N e K(1) injetor Venturi (Denículi et al., 1992) ou o
7 2,9 4,6 2,4 1,7 5 tanque de derivação de fluxo. Sistema de
14 4,3 7,6 3,6 4,3 5 fertirrigação, em escala comercial, pode ser
21 6,3 12,4 5,4 9,4 5 totalmente automatizado usando timers ou
28 9,2 19,5 8,1 16,6 8 controladores para regular o volume a ser
35 13,3 (2)
29,3 11,9 25,4 8 aplicado da solução contendo os fertili-
42 18,8 41,6 17,2 35,3 8 zantes. Existem diversos tipos de injetores
49 25,9 55,0 24,3 45,9 8 com diferentes capacidades para injetar
56 (2)
34,5 67,7 33,1 56,7 8 fertilizantes. Esta capacidade, normalmente,
63 44,4 78,4 43,3 67,2 8 é fornecida pelo fabricante ou calculada
70 54,8 86,2 54,2 77,1 8
pelo usuário, sendo expressa pela razão
77 64,9 91,6 64,8 85,7 8
entre a vazão succionada pelo injetor e a
vazão dos tubogotejadores. Assim, por
84 74,0 95,1 74,3 92,7 8
exemplo, 1:100 significa que a concentração
91 81,5 97,2 82,0 97,7 8
da solução no tanque de fertilizante será
98 87,5 98,5 88,0 100 –
diluída por 100. Basicamente, para aplicar
105 91,9 99,2 92,4 – –
fertilizantes ao tomateiro em estufas de
112 95,1 99,7 95,5 – –
400m2 tem-se usado: tomada de água (cota
119 97,4 100 97,6 – –
alta), filtros, válvula reguladora de pressão,
126 98,9 – 99,0 – –
um tanque para solução nutritiva acopla-
133 100 – 100 – –
do ao injetor Venturi e os tubogotejadores
FONTE: Dados básicos: Fayad (1998).
(Loures et al., 1998 e Camargos, 1998). Para
(1) Aplicar 5% das doses de N e de K no sulco, antes do transplantio. (2) Aparecimento dos
frutos nas plantas. a aplicação dos fertilizantes nos trabalhos
de Sampaio (1996) e Guimarães (1998), foi
utilizado o tanque de derivação de fluxo
aplicados ao solo de três formas: substrato com baixa ou nula capacidade em substituição ao sistema Venturi. Uma
de adsorção. O P é, praticamente imóvel no possibilidade mais simples e funcional, em
a) manual ou mecânica; caso de número não muito alto de plantas,
solo e a sua disponibilidade e eficácia são
b) via água de irrigação, normalmente dependentes, em grande parte, de sua che- é a colocação da dose desejada do fertili-
por gotejamento; gada às raízes. Em culturas nas quais o espa- zante diretamente em um tanque grande,
c) de forma mista, vias manual e água. çamento entre sulcos é mais amplo, como contendo o volume total de água que será
por exemplo tomate e pimentão, a locali- utilizado na irrigação. Outros equipa-
A primeira é o método tradicional, mentos, procedimentos e automação po-
comumente utilizado na produção de hor- zação do P é facilitada. Porém, para culturas
como a alface, cujo espaçamento entre mu- dem ser utilizados na aplicação de fertili-
taliças, em condições não-protegidas. Na zantes na água de irrigação. Frizzone &
segunda, todos os nutrientes são aplicados das transplantadas é pequeno, geralmente
25 a 35cm, a localização do adubo fosfatado Botrel (1994) fornecem algumas infor-
via água, normalmente por gotejamento mações sobre a aplicação de fertilizantes
superficial, embora seja possível utilizar o torna-se mais difícil. Nesse caso, o adubo
geralmente é colocado a lanço e incorpo- via água de irrigação. Detalhamentos de
sistema de gotejamento subterrâneo. Am-
sistemas de irrigação por gotejamento, em
bas admitem formas simples e sofisticadas rado em toda a área do canteiro, implicando,
ambiente protegido, para áreas com grande
de controle das doses dos fertilizantes, quase sempre, na necessidade de dose
número de estufas, podem ser feitos por
inclusive com a utilização de computado- maior de P e no cuidado dele não ser incor-
técnicos especializados.
res. O terceiro método é o que mais se tem porado muito profundamente, dando-lhe a
usado. oportunidade de encontrar as raízes das
FONTES DOS NUTRIENTES
Por este método, após a calagem, todo mudas recém-transplantadas. A probabi-
o fertilizante contendo P é colocado no so- lidade disso ocorrer dependerá de diversos Na produção de hortaliças em solo, em
lo, nos sulcos antes do transplantio das fatores, dentre os quais as quantidades de ambiente protegido, diversas fontes de
mudas. Poderia talvez ser colocado via go- raiz e de P existentes nas mudas e da concen- fertilizantes podem ser utilizadas. Assim,
tejamento, principalmente em solo ou tração de P na rizosfera (Fontes & Wilcox, podem ser citadas: uréia (45% de N), sulfato
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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 43

de amônio (20% de N), nitrato de amônio água. sugestão do Quadro 4. Amostrar as folhas
(34% de N), nitrocálcio (22% de N, 10% de Os micronutrientes podem ser forneci- opostas ao segundo e quarto cachos, no
CaO e 7% de MgO), nitrato de potássio dos sob a forma inorgânica (óxidos e sul- florescimento deles. Analisar os teores de
(14% de N e 46% de K2O), monoamônio fatos de cobre e zinco, bórax, ácido bórico, N e K e utilizar o Quadro 3 como referência
fosfato (11% de N e 50% de P2O5), diamônio molibidato de sódio), de quelatos orgânicos para a interpretação dos resultados.
fosfato (18% de N e 46% de P2O5), cloreto ou sintéticos (principalmente EDTA) e de A presente sugestão considera que o
de potássio (60% de K2O e 47% de Cl), sul- fritas (silicatos) ou FTE. Alguns aspectos ciclo do tomateiro será em torno de 135 dias,
fato de potássio (50% de K2O e 17% de S), relacionados com as fontes de nutrientes após o transplantio ou até a planta atin-
sulfato duplo de potássio e magnésio (22% são discutidos em Coutinho et al. (1993), gir sete cachos. Se a cultura for conduzida
de S e 15% de MgO) e nitrato de potássio Boas et al. (1994) e Vitti et al. (1994). com maior número de cachos é recomen-
(44% de K2O e 14% de N). Como fonte Na UFV, tem-se usado na cultura do dável a adição de mais 20kg de N e 30kg de
fosfatada, podem ser citadas: superfosfato tomateiro, em ambiente protegido, a apli- K2O/ha, para cada cacho deixado na planta
simples (20% de P2O5, 26% de CaO e 12% cação nos sulcos, antes do transplantio após o sétimo. Na decisão de ampliar o ciclo
de S), superfosfato triplo (42% de P2O5 e das mudas, 10 t/ha de esterco de galinha, o do tomateiro sugere-se consultar Fontes
18% de CaO), termofosfato magnesiano superfosfato simples ou triplo, 200kg/ha de (1997), que é também válido para as culturas
(19% de P2O5, 30% de CaO e 18% de MgO), sulfato de magnésio, 5 a 10kg/ha de bórax, de pepino, berinjela, pimentão, enfim para
mono e diamônio fosfatos e ácido fosfórico 5 a 10kg/ha de sulfato de zinco e 200g/ha todas aquelas que podem ser exploradas
(54% de P2O5), sendo os três últimos os de molibidato de sódio. Alternativamente, como plantas quase perenes.
mais usados na água de irrigação. os micronutrientes também têm sido apli-
É aceito que ambas as formas de N cados diluídos na água de irrigação, via CONSIDERAÇÕES FINAIS
(NH4+ e NO3-) podem ser perdidas pelo solo gotejamento, juntos ao N (nitrocálcio, uréia
Para a obtenção de alta produção de
por diversos processos dentre os quais a e/ou sulfato de amônio) e K (cloreto de
uma cultura por unidade de área protegida,
erosão, percolação, denitrificação (perdas potássio). A aplicação do nitrocálcio via
é necessário adequado programa de ferti-
de moléculas de gás nitrogênio em ambiente gotejamento fica facilitada, utilizando-se
lização. O manejo dos fertilizantes na pro-
de deficiência de aeração a partir do nitrato), apenas o sobrenadante da solução do
dução de hortaliças em ambiente protegido
volatilização (formação de amônia a partir fertilizante preparada com antecedência.
é um desafio para técnicos e produtores
de NH4+ em condições alcalinas), fixação à
SUGESTÃO DE PROGRAMA que dispõem de escassas informações so-
argila do solo, entre outros. É difícil ima-
DE ADUBAÇÃO DO TOMATEIRO bre o tema. A determinação das quanti-
ginar, por peculiaridades do sistema, perdas
EM ESTUFA dades exatas dos nutrientes a aplicar é
significativas de N em ambiente protegido.
tarefa difícil, principalmente para o N,
Além dos enumerados, existem os ferti- Para a cultura do tomateiro plantado no
devido às dificuldades nas determinações
lizantes de liberação lenta mais usados em solo, no espaçamento de 1,0 x 0,5m, em am-
de sua demanda pelas plantas e das
outros países. Também existem as apro- biente protegido e fertirrigado, com poten-
quantidades disponibilizadas às plantas
priadas fórmulas completas (NPK) que cialidade de produzir em torno de 100 t/ha,
podem ser utilizadas via água de irrigação, pelo solo e pela adição de fertilizantes quí-
sugere-se analisar o solo e usar o Quadro 1
sendo porém menos flexíveis para o for- micos e orgânicos. Apesar das dificuldades
como referência para interpretação dos re-
necimento de quantidade precisa de de- e dos limitados resultados experimentais
sultados dos teores de P e K. Aplicar cal-
terminado nutriente. nas condições brasileiras, há disponi-
cário caso o pH do solo for menor que 6,0.
bilidade de informações sobre princípios,
Normalmente, os nutrientes são comer- Aplicar nos sulcos, antes do transplantio
procedimentos, técnicas e avanços sobre
cializados na forma sólida, embora exis- das mudas, bem misturados com o solo,
o tema abordado no artigo. Entretanto, as
tam os fertilizantes líquidos que não são toda a dose de P, utilizando como referên-
informações disponíveis necessitam ser
comuns entre os produtores brasileiros cia o Quadro 2; 30 t de esterco de bovinos
ajustadas ou submetidas à sintonia fina
de hortaliças. Boas et al. (1994) e Berjon & bem decomposto ou 8 t de cama de frangos;
para cada situação específica. Isto demanda
Murray (1998) mencionam valores apro- 200kg de sulfato de magnésio; 5kg de
conhecimento atualizado e postura inves-
priados de condutividade elétrica da solu- bórax; 5kg de sulfato de zinco e 0,5kg de
tigativa in loco dos produtores e dos res-
ção nutritiva a ser empregada na fertirri- molibidato de amônio, por hectare (apli-
ponsáveis pela produção de hortaliças em
gação, normalmente expressos em dS/m. cando os micronutrientes a cada três ou
ambiente protegido.
Embora este valor não seja transformável, quatro anos). Definir a dose de K pelo
multiplicando-o por 680 ou 700 obtem-se, Quadro 2 ou utilizar 230kg de K2O/ha, caso
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
empiricamente, a concentração de nutrien- o teor no solo for baixo. Aplicar 180kg de
tes na solução, em mg/l. Entretanto, mais N/ha, caso tenha sido adicionada a matéria BERJON, M.A.; MURRAY, P.N. Substratos para
apropriado é expressar a concentração de el cultivo sin suelo y fertirrigacion. In:
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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 45

Manejo da água do solo na produção de hortaliças


em cultivo protegido
Osmar Alves Carrijo 1
Waldir Aparecido Marouelli 2
Henoque Ribeiro da Silva 1

Resumo - Cultivos protegidos se distinguem dos sistemas de produção a céu aberto


pelo uso intensivo do solo e controle parcial de fatores ambientais. Na irrigação
desses cultivos devem-se levar em consideração aspectos de solo, água, planta, mi-
croclima, retenção de água no solo, qualidade da água, métodos de irrigação, volume
de água a ser aplicado e freqüência de irrigação. O sistema por gotejamento é o mais
utilizado, pois proporciona redução de custos de manutenção do sistema e de mão-
de-obra; proporciona alta eficiência de aplicação de água à cultura; possibilita
aplicação uniforme dos adubos minerais através da água de irrigação e o uso de água
e de solos salinos para a produção das culturas por propiciar irrigações mais freqüentes
e a manutenção de condições de alta umidade no solo. O manejo da irrigação pode ser
realizado com o uso de tensiômetros, com o tanque classe A ou com ambos e o tempo
de irrigação pode ser calculado, usando-se os mesmos parâmetros para cálculo do
volume de água e freqüência de irrigação. O tempo de irrigação é importante para a
automação do sistema com temporizador e válvulas solenóides.
Palavras-chave: Irrigação; Casa de vegetação; Tensiômetro; Tanque Classe A.

INTRODUÇÃO água, planta, microclima e equipamentos e ar (vazios ou poros). Devido a este volu-
A água é um dos fatores mais impor- utilizados, para se obter o máximo rendi- me poroso ser limitado e ao fato de cada
tantes para a produção das culturas. Além mento das culturas, tais como: retenção de solo também apresentar uma capacidade
da sua participação na constituição celular água no solo; qualidade da água; métodos limitada de retenção ou armazenamento,
e nos diversos processos fisiológicos na de irrigação (como irrigar); volume de água toda água aplicada em excesso no solo é
planta, ela está diretamente relacionada aos a ser aplicado (quanto irrigar) e freqüência drenada para camadas mais profundas.
processos de absorção de nutrientes e de irrigação (quando irrigar). O solo é o reservatório de água para as
resfriamento da superfície vegetal. As seções a seguir pretendem abordar plantas, e sua capacidade de armazenar
Cultivos realizados em ambiente pro- cada um destes aspectos, visando propor- água apresenta um limite superior (capa-
tegido distinguem-se dos demais sistemas cionar um melhor entendimento dos pro- cidade de campo) e um limite inferior (ponto
de produção a céu aberto, principalmente cessos envolvidos e servir como fonte de de murcha permanente). A diferença entre
pelo uso intensivo do solo e controle parcial referência, de forma clara, simples e atuali- esses limites fornece o que se denomina
de fatores ambientais. Assim, o manejo zada, para o manejo adequado da irrigação de “água disponível” para a planta ou
adequado do sistema solo-água-planta- em cultivos sob proteção. capacidade de retenção de água no solo,
ambiente é de fundamental importância pa- comumente expressa em milímetros de água
ra o sucesso de empreendimentos neste RETENÇÃO DE ÁGUA NO SOLO retidos por centímetro de solo (mm/cm de
sistema de produção. O solo é um meio poroso composto por solo). Os diversos tipos de solos retêm
Na irrigação desses cultivos, devem- uma combinação de partículas sólidas (or- quantidades diferentes de água conforme
se levar em consideração aspectos de solo, gânicas e minerais), água (solução do solo) mostra o Quadro 1.

1
Engo Agro, Ph.D., Pesq. Embrapa Hortaliças, Caixa Postal 218, CEP 70359-970 Brasília, DF. E-mail: carrijo@cnph.embrapa.br
2
Engo Agric., Ph.D., Pesq. Embrapa Hortaliças, Caixa Postal 218, CEP 70359-970 Brasília, DF.

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QUADRO 1 - Teores médios de argila e areia, limite superior de retenção de água e água disponível pensão podem restringir o uso da água para
em diferentes tipos de solos irrigação, visto que podem interferir na
Teor de Teor de Limite Água uniformidade de distribuição de água em
Tipo de solo argila areia superior disponível sistemas de microirrigação (gotejamento e
(%) (%) (cm3/cm3) (mm/cm)(1) microaspersão). Para evitar problemas de
Argiloso 60 20 0,53 1,3 entupimento e de má-distribuição, a água
Argilo-siltoso 45 8 0,49 1,6 utilizada, especialmente em se tratando de
Franco-argilo-siltoso 35 10 0,45 1,7 microirrigação, deve ser previamente fil-
Franco-argiloso 35 35 0,39 1,3 trada.
Os filtros mais utilizados para filtragem
Franco-siltoso 15 20 0,39 1,8
de água, para fins de irrigação, são os de
Franco 18 40 0,33 1,4
areia (ou qualquer meio poroso), de tela,
Franco-argilo-arenoso 28 60 0,30 0,9
de anéis e de ação centrífuga. Filtros de
Franco-arenoso 10 65 0,26 1,1
tela e de anéis removem com eficiência par-
Areia franca 6 82 0,21 0,9 tículas inorgânicas como areia (fina a muito
Arenoso 5 92 0,18 0,8 fina), mas entopem facilmente com águas
FONTE: Dados básicos: Saxton et al. (1986). que contêm matéria orgânica e algas. Filtros
(1) milímetro de água por centímetro de solo. de areia são recomendados para remoção,
tanto de algas e partículas de maior diâ-
metro, quanto de partículas finas e de ma-
Aqueles valores não são afetados com industriais ou agrícolas. O principal pro- terial orgânico. Entretanto, filtros de areia
um aumento de 3 a 4% no teor de matéria blema causado na água pela poluição com devem ser seguidos por um filtro de tela ou
orgânica do solo, porque os limites inferior esgotos urbanos é a presença de micror- anéis, para evitar que partículas do filtro
e superior são afetados proporcionalmen- ganismos transmissores de doenças, tais adentrem o sistema de irrigação. Filtros de
te. O grau de agregação das partículas do como Escherichia coli, vibrião colérico, ação centrífuga são indicados para remo-
solo, sua estrutura, pode afetar a capa- salmonelas e diversos parasitas intestinais. ção de partículas notadamente mais pe-
cidade de retenção de água. Por exemplo, Hortaliças, em especial aquelas con- sadas que a água, tais como a areia.
solos franco argilosos sob cerrado apre- sumidas cruas, quando irrigadas com tais O tamanho máximo de partícula que
sentam um grau de agregação de partícu- águas, podem servir de veículo de trans- pode ser tolerado no sistema de irrigação
las tal que a sua capacidade de retenção de missão de uma série de doenças aos con- depende das características de construção
água é semelhante à de um solo franco sumidores como esquistossomose, ame- do emissor. Para a maioria dos gotejadores
arenoso, ou seja, 1,1mm/cm de solo (Carrijo bíase, giardíase, verminoses, febre tifóide é recomendada a remoção de partículas
& Oliveira, 1997). e cólera. Assim, o controle sanitário das maiores que 0,075mm, podendo este limite
águas utilizadas para irrigação é de grande chegar a 0,6mm, para alguns tipos espe-
QUALIDADE DA ÁGUA DE importância em saúde pública. O trata- cíficos.
IRRIGAÇÃO mento de água é geralmente um processo
Aspectos químicos
A água encontrada na natureza pode dispendioso e não é ainda utilizado pelos
conter impurezas que inviabilizam seu uso agricultores no Brasil. A cloração é uma A concentração de sais, metais pesados
para a irrigação, a menos que seja devida- opção de fácil adoção e custo moderado, e outros elementos químicos nocivos à
mente tratada. As impurezas contidas que pode reduzir sensivelmente a pressão cultura, na água de irrigação, não é
dependem da procedência da água, po- infectante de patógenos na água de irri- normalmente suficiente para prejudicar
dendo estar em suspensão (silte, argila, gação. diretamente as plantas. Os danos são de-
matéria orgânica ou organismos vivos) ou Limites de contaminação da água para vidos, quase sempre, à acumulação des-
dissolvidas (sais, metais pesados, pesti- fins de irrigação foi regulamentado pela ses elementos químicos no solo, em razão
cidas e gases). A quantidade e tipo dessas resolução no 20/86, do Conselho Nacional do manejo inadequado da irrigação e/ou
impurezas determinam se a fonte de água do Meio Ambiente, que estabelece a clas- de drenagem deficiente do solo. Esses
existente é de boa qualidade para uso em sificação das águas, segundo seus usos elementos químicos podem ser advindos
irrigação. predominantes (Marouelli et al., 1998). de sais normalmente encontrados no solo
e/ou de resíduos industriais e agrícolas que
Aspectos sanitários Aspectos físicos apresentam uma maior complexidade, pois
A fonte de água (rios, córregos, poços As características físicas da água in- diversos produtos químicos podem estar
ou açudes) se diz poluída, quando é con- cluem sólidos em suspensão e substâncias envolvidos.
taminada por esgotos urbanos, resíduos orgânicas dissolvidas. Partículas em sus- Os resíduos industriais contaminam as
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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 47

fontes de água, principalmente pelo lança- ma de 1,5mS pode causar danos e redução cie do solo e incorporado à semelhança do
mento maciço de metais pesados e outros de produtividade na maioria das hortaliças calcário. Após a aplicação do gesso, o
íons tóxicos que podem causar distúrbios plantadas em estufa (Hochmuth, 1991). perfil do solo deve ser lavado por meio da
e doenças, tanto nas plantas cultivadas Quando a salinidade da solução do solo irrigação.
como no homem. Esse é um problema bas- aumenta, mais água necessita ser aplicada O sistema de irrigação e a freqüência
tante sério e exige monitoramento cons- para se obter uma mesma produtividade de aplicação da água são fatores impor-
tante, principalmente nas águas próximas (Letey, 1993). A salinidade do solo pode tantes no manejo de solos e águas salinas.
de áreas industriais. Os resíduos de inse- reduzir o desenvolvimento das culturas, Irrigações freqüentes possibilitam manter
ticidas, fungicidas, herbicidas e adubos na devido à competição no processo de absor- o solo com alta umidade, facilitam a absor-
água de irrigação podem causar toxicidade ção pelas plantas entre os sais dissolvidos ção de água pelas plantas e podem reduzir
às plantas, além de distúrbios nos animais, na solução do solo e os nutrientes. o efeito indesejável do excesso de sais, ca-
inclusive, no homem. Quanto ao grau de tolerância à salini- so ocorra.
A influência dos sais solúveis sobre o dade, as culturas normalmente plantadas O sistema de irrigação por gotejamento
desenvolvimento e a produção das plan- sob cultivo protegido obedecem à seguin- é um dos mais recomendados para uso em
tas manifesta-se por meio do aumento da te seqüência: melão > brócolos > tomate > solos e águas salinas, pois propicia irriga-
pressão osmótica da solução do solo, pepino > pimentão > alface. ções freqüentes e condições de alta umi-
reduzindo a disponibilidade de água à O uso de cobertura do solo ou mulching dade no solo sem problemas de saturação,
planta; do desbalanceamento nutricional pode diminuir a salinização, principalmente promovendo a diluição dos sais e um ade-
da planta; da modificação da estrutura do próximo à superfície, pois reduz a evapo- quado potencial osmótico da solução do
solo e da toxicidade causada por certos ração da água do solo e a conseqüente de- solo. Em gotejamento, a área superficial e o
íons. A salinização ocorre, principalmente posição de sais na camada superficial. volume molhado é também reduzido o que
nas regiões de clima árido e semi-árido, A lixiviação forçada desses sais, por diminui a área salinizada.
onde os baixos índices de precipitações e meio de irrigação por aspersão, é outra
ocorrência de altas temperaturas, provocam prática usada no controle da salinização Temperatura da água
uma intensa evaporação da água e a de- dos solos de estufa. Para uso dessa prática, Em algumas situações, a água de irri-
posição de sais na superfície do solo ao porém, o solo deve possuir boa capacidade gação pode permanecer relativamente fria
longo dos anos. Um processo semelhante de infiltração e drenagem pois, geralmente, e ocasionar uma diferença considerável de
pode ocorrer dentro das estruturas plás- são aplicadas altas lâminas de irrigação. temperatura entre o solo e a água. Há um
ticas em uso para o cultivo protegido, se Para os solos de cerrado, normalmente a desequilíbrio hídrico nas plantas e inter-
medidas preventivas não forem tomadas, capacidade de retenção máxima de água rupção temporária na absorção de água
pois o uso intensivo de adubação, a falta está em torno de 1,1mm/cm de solo, então, pelas raízes, quando a temperatura da so-
de chuvas ou irrigação para drenar o exces- deve-se aplicar uma lâmina equivalente a lução do solo cultivado sob proteção está
so de fertilizantes e a contínua evaporação no mínimo duas vezes a profundidade do elevada e é reduzida bruscamente, por meio
da água do solo pode aumentar o teor de perfil, em milímetros de água. Exemplo: em da irrigação. O continuar da transpiração
sais na solução do solo. um perfil de 50cm, a ser lavado, basta multi- provoca a desidratação dos tecidos folia-
Quanto à presença de sais dissolvidos plicar 1,1 vezes 100 para se obter a lâmina a res, podendo levá-los à morte. Este proble-
na água ou solução do solo, deve-se obser- ser aplicada de 110mm de água. ma pode-se tornar sério nas regiões frias,
var a concentração total de sais solúveis, Ao invés da irrigação por aspersão para como também no período de inverno nas
que determina o seu grau de salinidade, e se promover a lavagem dos sais, pode-se regiões quentes, onde há uma intensa ra-
também a possibilidade de sodificação do retirar a cobertura de plástico da estufa e diação dentro da estufa e aquecimento do
solo, caracterizada pela proporção de sódio permitir chuvas pesadas no seu interior. solo, especialmente para intervalos mais
(Na+) em relação a outros cátions, princi- Esta prática promove a lixiviação dos sais espaçados entre uma e outra irrigação. Tais
palmente cálcio e magnésio, e expressa pela e a quantidade de chuva a ser permitida problemas advindos de diferenças térmicas
sigla RAS (razão ou relação de adsorção deve situar-se em torno do valor calculado entre as temperaturas da água de irrigação
de sódio). A concentração de sódio no solo anteriormente. e do solo podem ser evitados ou reduzidos,
afeta também a sua permeabilidade. Produtos químicos ou minerais podem quando se faz a irrigação ao amanhecer ou
A condutividade elétrica (CE) é utiliza- também ser utilizados no controle da sa- ao anoitecer e com maiores freqüências.
da para expressar a concentração total de linização, visando substituir os cátions
sais, tanto para a classificação como para a adsorvidos à matriz do solo, como o sódio, MÉTODOS DE IRRIGAÇÃO
diagnose das águas usadas na irrigação e o cálcio, os nitratos e os sulfatos. Entre os Os métodos de irrigação passíveis de
das condições de salinidade do solo. Con- produtos químicos, merece destaque o ser utilizados sob estufas são: sulcos, as-
dutividade elétrica da solução do solo aci- gesso agrícola que é aplicado na superfí- persão e sistemas localizados.
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Irrigação por sulcos siste de mangueiras de polietileno de baixa reduz a produtividade e a qualidade da
A irrigação por sulcos é geralmente a densidade e espessura, bastante delgada produção, pode provocar o crescimento
de menor custo de instalação por unida- e com microperfurações feitas geralmente, excessivo da planta, o retardamento da
de de área. Apesar disso, esse sistema é à laser e a distâncias pré-determinadas. maturação dos frutos, a lixiviação de nu-
pouco utilizado em cultivos sob proteção, Apresentam uma vazão relativamente uni- trientes solúveis (N e K), queda de flores,
principalmente porque requer superfície do forme dos microfuros, mas devido ao seu maior ocorrência de doenças de solo e
terreno mais uniforme, mais mão-de-obra minúsculo diâmetro necessitam de um bom distúrbios fisiológicos, maiores gastos com
(horas/homem) por unidade irrigada, maior sistema de filtragem da água. energia e o desgaste do sistema de irri-
movimentação no interior da estufa, utiliza Gotejamento é a irrigação mais co- gação.
um volume de água de irrigação muito nhecida e recomendada para o cultivo pro- A quantidade de água a ser aplicada
maior, aumenta a umidade relativa do ar no tegido. As linhas de gotejamento po-dem por irrigação deve ser igual àquela neces-
interior das estufa e pode provocar erosão ser instaladas, tanto sobre a superfície do sária para repor a umidade do solo junto às
e lixiviação dos nutrientes solúveis. solo (caso mais comum), como abaixo da raízes das plantas. A quantidade de água
superfície do solo (irrigação subsuper- pode ser estimada com base na evapo-
Irrigação por aspersão ficial) ainda pouco utilizada no país. Os transpiração da cultura (ETc) ou a partir do
Devido às características próprias dos gotejadores são inseridos sobre ou no in- déficit de água do solo. A evapotrans-
cultivos sob proteção (áreas e dimensões terior do tubo de polietileno ou entre duas piração da cultura é calculada multipli-
relativamente pequenas), os tipos de asper- seções do tubo. Um tipo comum no merca- cando-se a evapotranspiração de referên-
são mais utilizados são a microaspersão e do são os chamados tubos gotejadores, cia (ET0) pelo coeficiente da cultura (Kc),
a aspersão de baixa pressão. São utilizados em que os orifícios de saída e o sistema de ETc = ET0.Kc.
somente no cultivo de hortaliças folhosas dissipação de energia são colocados no O coeficiente Kc varia principalmente
e na formação de mudas. Os sistemas por próprio tubo. em função das características da cultura,
aspersão apresentam algumas desvan- O sistema por gotejamento é o mais traduzindo em menor escala a variação dos
tagens em relação a outros sistemas, quais utilizado nos cultivos sob proteção, pois fatores climáticos. Isto faz com que valores
sejam: aumenta muito a umidade relativa com ele pode-se obter economia de custeio padrões de Kc possam ser transferidos de
do ar no interior das estufas, necessita, na da irrigação e de mão-de-obra, alta economia um local para outro, mesmo sob condições
maioria dos casos, de um sistema de bom- e eficiência de aplicação da água no solo, climáticas diversas como as observadas em
beamento maior (aumento da pressão de boa uniformidade de aplicação dos adubos cultivos realizados dentro e fora de es-
serviço), molha toda a área da estufa e parte minerais através da água de irrigação e po- truturas de proteção de plástico. Quando
aérea das plantas, ocasionando um aumen- de-se utilizar água e solos salinos para a as irrigações são diárias ou freqüentes,
to da ocorrência de doenças de solo e folha, produção das culturas. como via de regra ocorre em cultivos prote-
e de plantas daninhas. A grande desvantagem do gotejamento gidos irrigados por sistemas de gotejamen-
é o relativo elevado custo inicial de implan- to, é necessário estimar a ETc diariamente.
Microirrigação tação em relação aos demais sistemas, pois Isto implica que os valores de Kc deveriam
necessita de um cabeçal de controle com- ser obtidos utilizando-se do conceito de
Diversos tipos deste sistema podem ser
pleto (30 a 40% do custo total) e uma rede coeficientes basais ou de base, K cb ,
utilizados como o xique-xique, fitas e go-
de tubos de polietileno de baixa densidade conforme preconizado por Wright (1982), e
tejamento.
com os gotejadores (60 a 70% do custo não pelo conceito de coeficientes médios
O xique-xique é um sistema simples,
total). O cabeçal de controle deve dispor (Allen et al., 1996). No entanto, devido à
fabricado pelo próprio produtor. Consiste
de filtros, para evitar o entupimento dos facilidade de uso optou-se pelo conceito
de um tubo de polietileno preto, com peque-
gotejadores, além de manômetros, regu- de coeficientes médios.
nas perfurações espaçadas de 30 a 60cm.
ladores da pressão, injetor de fertilizantes
As perfurações são cobertas com uma lu- Os coeficientes da cultura (Quadro 2)
e registros, para controle da entrada da
va de mangueira, de diâmetro maior que a para hortaliças conduzidas sob proteção
água. A irrigação pode ser automatizada,
mangueira de irrigação, que serve para que de plástico, foram adaptados para três
neste caso o cabeçal deve dispor de vál-
a água escorra sem formar um jato. Devido períodos de desenvolvimento da cultura,
vulas solenóides e temporizador.
à falta de uniformidade no tamanho das ou seja, período inicial e de crescimento
perfurações feitas no tubo de polietileno, rápido, período de crescimento reduzido e
MANEJO DA IRRIGAÇÃO
este sistema apresenta a desvantagem de período final, respectivamente. A duração
uma grande desuniformidade na aplicação Um dos aspectos mais importantes da destes estádios varia com as condições
de água e adubos fornecidos em fertirri- irrigação é a reposição da água ao solo em climáticas, cultura e cultivares, e seus valo-
gação. quantidade adequada e na ocasião opor- res respectivos de Kc podem ser estimados
O sistema de fitas (tipo Santeno) con- tuna. O excesso de irrigação geralmente a partir de três valores basicos deste coe-
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QUADRO 2 - Coeficientes de cultura médios inicial (Kci), intermediário (Kcm) e final (Kcf) pro- Por exemplo: considerando-se uma área
postos para diferentes estádios de desenvolvimento da cultura coberta com oito linhas laterais de gote-
Valores do coeficiente de cultura jamento de 48m de comprimento, espaçadas
Hortaliças
Kci(1) Kcm Kcf entre si de 1,0m, com espaçamento entre
Alface 0,7 - 0,9 1,1 - 1,2 1,0 gotejadores de 0,30m e com vazão média
Melão 0,6 - 0,8 1,1 - 1,2 1,0 do gotejador de 1,7l/h. Pode-se efetuar o
Pepino 0,7 - 0,8 1,0 - 1,1 0,9 cálculo da taxa de aplicação como se segue:
Pimentão 0,6 - 0,8 1,1 - 1,2 0,9 - o número de gotejadores por linha é
Tomate 0,7 - 0,8 1,1 - 1,2 0,8 igual a 160, resultado da divisão do
Vagem 0,6 - 0,8 1,0 - 1,1 0,9 comprimento da linha pelo espaça-
FONTE: Dados básicos: Doorenbos & Pruitt (1977), Marouelli et al. (1996) e Carrijo & Oliveira mento, ou seja, 48 / 0,3 = 160 goteja-
(1997). dores por linha;
(1) Na irrigação por gotejamento, o Kci assume valores maiores que os normalmente encontrados na
literatura, pois as irrigações são normalmente realizadas em regime de alta freqüência, e a evaporação - o total de gotejadores é obtido multi-
do solo é significativamente elevada. O primeiro valor é para irrigações de dois em dois dias e o plicando 160 gotejadores por linha por
segundo para irrigações diárias. oito linhas, que nos dá um total de
1.280 gotejadores;
- a taxa de aplicação de água resulta do
ficiente, a saber: coeficiente inicial e de c deve ser determinado localmente. Mas, para produto entre o total de gotejadores
escimento rápido (Kci) que vai da semea-du orientação, na maioria dos solos agrícolas vezes a vazão média do gotejador, ou
ra ou transplante até a máxima cobertura d W tem o valor de 0,50m para solos are- seja, 1.280 x 1,7 l/h, que dá uma taxa
solo, coeficiente intermediário (Kcm) d nosos, de 0,90 para solos francos e 1,10m de 2.176l/h;
sde que ocorreu a máxima cobertura do s para solos argilosos (Keller & Bliesner, - para se obter o tempo de irrigação,
lo até o início do período final, próximo às 1990). Como os diversos sistemas de irri- basta dividir o volume de 4.200l,
últimas colheitas e coeficiente final (Kcf), gação por gotejamento apresentam uma calculado anteriormente, por 2.176l/h
até a última colheita ou completa senes- eficiência de irrigação média de 80 a 90%, o que fornece 1,93h (≅ 116min).
cência da planta. volume de água deverá ser aumentado para
Este tempo de irrigação pode ser divi-
O volume de água a aplicar em uma compensar esta deficiência do sistema, ou
dido em mais de um ciclo diário de irrigação,
irrigação (V) é calculado multiplicando-se seja, para o exemplo considerado e um
dependendo de limitações impostas pelo
a quantidade de água (ETc em altura equi- espaçamento entre as linhas de goteja-
sistema de irrigação e pelo sistema solo-
valente de água, lâmina) ocorrida a partir dores de 1m e solo franco argiloso basta
planta, como por exemplo dois ciclos diá-
da última irrigação, pela área a ser irrigada multiplicar os 4m3 pela Am estimada e o re-
rios de aplicação de água com duração de
(A). Por exemplo: Se desde a última irrigação sultado deve ser dividido por 0,85 (assu-
58min. Ciclos de aplicação de água mais
a evapotranspiração acumulada da cultura mindo uma eficiência de aplicação de 85%):
curtos podem evitar perdas por percola-
(ETc) foi de 10mm e deseja-se irrigar uma Vl = V ..( W / dl) / Efi = 4m3 x (0,9m / 1m) /
ção profunda e aumentar a superfície de
área (A) de 400m2, com área coberta de 8m 0,85 = 4,2m3 ou 4.200l. área molhada pelo gotejador, sem acarre-
de largura por 50m de comprimento, o vo- As irrigações por gotejamento podem tar maiores perdas por evaporação.
lume de água (V) a aplicar na irrigação é: ser facilmente automatizadas com o uso de Para o manejo racional da irrigação, há
V = ETc . A = 10mm x (1m / 1000mm) x 400m2 temporizador (controladores de irrigação) necessidade de estabelecer uma freqüên-
= 4m3 ou 4.000l de água. e válvulas solenóides. O temporizador cia de irrigação, calcular o volume de água
No cálculo do volume de água na irri- controla a irrigação usando o tempo de e tempo de irrigação. Para plantios em solo
gação por gotejamento, deve-se estimar irrigação. Portanto, a determinação do tem- sob cultivo protegido, podem ser utiliza-
qual a fração da área efetivamente irrigada po de irrigação é de suma importância, dos turnos de rega fixos, duas vezes ao
e reduzir o valor de V, multiplicando-o por quando se pretende automatizar o sistema dia, diariamente ou de dois em dois dias.
esta fração. Para a maioria dos cultivos de irrigação. Para uma indicação da adequação da irri-
protegidos, a fração da área irrigada por Para se calcular o tempo de irrigação gação, o uso de tensiômetros ou outro equi-
gotejamento pode variar entre 50 e 100%. necessário para aplicar o volume de água pamento que avalie a umidade do solo é
A fração de área molhada a 30cm abaixo da de irrigação, basta dividir este volume pela desejável.
superfície do solo (Am) pode ser calculada taxa de aplicação das linhas laterais (vazão No cultivo no solo, o manejo da irriga-
por Am = W / dl, em que, dl é a distância média do gotejador vezes o número de ção por gotejamento pode ser criterio-
entre as linhas de gotejamento e W é a gotejadores existentes na área coberta a samente estabelecido, baseando-se nas
largura da faixa ou diâmetro molhado, que ser irrigada) instaladas na área. leituras de tensiômetros ou no cálculo da
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50 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

evapotranspiração da cultura que pode, por gravimétrica (decimal), que é a máxima umi- de do sistema radicular é de 30cm. Ele está
exemplo, ser estimada através da evapo- dade que não causa problema de aeração e usando um tubo gotejador com vazão de
ração de um tanque classe A. pode ser obtida de uma curva característica 1,7l/h por emissor; o espaçamento entre
de umidade do solo (Gráfico 1) - para orien- gotejadores é 0,3m e entre linhas é de 1,0m.
Manejo da irrigação por tação geral, podem-se assumir valores de Calcula-se o tempo de irrigação para repor
gotejamento com uso de umidade a 3kPa para solos arenosos, a 5kPa a quantidade de água evapotranspirada no
tensiômetros para solos francos e a 10kPa para solos período da seguinte maneira:
O tensiômetro é indicado para a deter- argilosos; Li é o limite inferior de umidade solução: para solo franco argiloso, a largura
minação do momento adequado da irrigação gravimétrica (decimal), ou seja, é a umidade da faixa molhada (W) é de 0,90 m (Keller &
em plantios em solo sob cultivo protegido. correspondente à tensão de umidade em Bliesner, 1990).
Recomenda-se a utilização de tensiômetros que se pretende reiniciar as irrigações, já
providos de vacuômetros, pela simpli- mencionadas anteriormente; Ds é a densi- 600 . (Ls - Li) . Ds . Z . dg . W
cidade de uso. Em áreas cobertas apresen- dade do solo, em g/cm3; Z é a profundi- Ti = =
tando um mesmo tipo de solo, devem ser dade do perfil de solo a ser irrigado (pro- Efi . Qg
instalados no mínimo quatro tensiômetros fundidade do sistema radicular) em cm; dg
por área coberta, sendo dois instalados na é a distância entre os gotejadores, em m; dl 600 x (0,40 - 0,37) x 1,05 x 30 x 0,30 x 0,90
=
profundidade de maior concentração das é o espaçamento entre as linhas de go- 0,85 x 1,7
raízes e os outros dois, no limite inferior do tejadores, em m; Am é a fração de área mo- 106 min
sistema radicular e dentro do bulbo mo- lhada (decimal); W é a faixa ou diâmetro
lhado. Para os solos cultivados em estufa molhado a 30cm de profundidade, em m; A quantidade de água aplicada deve
pode-se considerar: 10-15cm e 20-30cm de Qg é a vazão do gotejador, em l/h e; Efi é a ser ajustada, se após quatro a seis horas a
profundidade, respectivamente. Para solos eficiência da irrigação por gotejamento, que tensão de umidade do solo não estiver
de textura média (franco argiloso ou franco é variável, mas na maioria dos sistemas bem dentro do intervalo recomendado. Para este
arenoso), irrigar quando o tensiômetro indi- dimensionados possuem um valor entre 90 ajuste e usando as leituras dos tensiô-
car tensões entre 10 a 15kPa (0,10 a 0,15bar), a 95%. metros, deve-se proceder da seguinte
para solos de textura fina (argilosos) entre Exemplo: um produtor deseja irrigar maneira:
15 a 20kPa (0,15 a 0,2bar) e para solos de uma cultura de pimentão já em plena pro- a) se a tensão medida pelo tensiômetro
textura grossa (arenosos) entre 5 e 10kPa dução (80 dias) dentro de uma estufa plás- instalado a 15cm de profundidade
(0,05 a 0,10bar). tica. O solo é franco argiloso e para este estiver maior que o nível máximo
Em estufas com infestação com pató- tipo de solo Ls = 0,40 para uma tensão de recomendado (10kPa no exemplo
genos de solo, como fungos (Fusarium sp., 5kPa; Li = 0,37 para uma tensão de 10kPa acima), aumentar a quantidade de
Rizoctonia sp., etc.), bactérias (Ralstonia (Gráfico 1); Ds = 1,05g/cm3 e a profundida- água aplicada;
solanacearum spp., Erwinia sp., etc.) ou
nematóides, recomenda-se manter o solo
com menor teor de umidade, para minimizar
o desenvolvimento desses microorganis-
mos indesejáveis. A irrigação, neste caso, 60
deve ser menos freqüente, de dois em dois
dias ou a intervalos maiores, para propor- 55
Teor de Umidade (%)

cionar tensões máximas em torno de 20 a


30kPa para solos arenosos e 40 a 50kPa 50
para solos francos a argilosos.
45
O tempo de irrigação pode ser calculado
usando, a seguinte equação: 40
600 . (Ls - Li) . Ds . Z . dg . dl . Am
Ti = = 35
Efi . Qg
30
600 . (Ls - Li) . Ds . Z . dg . W 0 2 4 6 8 10 20 30 50 70 100
;
Efi . Qg Tensão (kPa)
em que: Ti é o tempo de irrigação em mi-
nutos; Ls é o limite superior de umidade Gráfico 1 - Curva de retenção de umidade do solo

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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 51

b) se a tensão da água do solo medida ser utilizada a seguinte equação para cal- se A ou ainda a combinação dos dois. Na
pelo tensiômetro a 30cm de profun- cular o tempo de irrigação: combinação dos dois métodos, o tensiôme-
didade estiver menor que a mínima tro é usado para determinar o momento da
recomendada (5kPa no exemplo aci- 60 . ETcg . dg . dl irrigação e checar as condições de umidade
Ti = ;
ma), reduzir a quantidade de água a Efi . Qg do solo e o tanque classe A para determinar
ser aplicada. a lâmina de água de reposição.
em que: ETcg é a evapotranspiração entre
Manejo da irrigação por duas irrigações consecutivas, em mm. As REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
gotejamento com uso do demais variáveis já foram especificadas
ALLEN, R.G.; SMITH, M.; PEREIRA, L.S.;
tanque classe A anteriormente.
PRUITT, W.O. Modifications to the FAO
Para este método, o momento de irriga- Exemplo: usando os dados do exemplo crop coefficient approach. In: INTER-
ção pode ser determinado com o uso de anterior em que o produtor deseja irrigar NATIONAL CONFERENCE ON EVAPO-
uma cultura de pimentão já em plena TRANSPIRATION AND IRRIGATION
tensiômetros como no método anterior ou
SCHEDULING, 1996, San Antonio, Tx.
usar turno de regas fixo, que para o sistema produção (80 dias) dentro de uma estufa
Proceedings... San Antonio: ASAE, 1996.
de irrigação por gotejamento deve ser de plástica. A percentagem de sombreamento p.124-132.
um a dois dias. da cultura ao meio dia, foi estimada em 50%. CARRIJO, O.A.; OLIVEIRA, C.A. da S. Irrigação
Para se determinarem o tempo e a quan- As irrigações são diárias e a evaporação de hortaliças em solos cultivados sob
do tanque classe A colocado no interior proteção de plástico. Brasília: EMBRAPA-
tidade de água de irrigação, usando o tan- CNPH, 1997. 19p. (EMBRAPA-CNPH.
que classe A, há necessidade de determinar da casa de vegetação foi 10mm e ele está Circular Técnica, 10).
a evapotranspiração de referência (ET0), usando o mesmo tubo gotejador. Calcula- DOORENBOS, J.; PRUITT, W.O. Guidelines
que é calculada multiplicando a evapora- se o tempo de irrigação para repor a for predicting crop water requirements.
ção total do tanque classe A (EVA), no quantidade de água evapotranspirada no Rome: FAO, 1977. 179p. (FAO. Irrigation
período da seguinte maneira: and Drainage Paper, 24).
intervalo entre duas irrigações consecuti-
KELLER, J.; BLIESNER, R.D. Sprinkle and
vas, pelo Kp do tanque (ET0 = Kp . EVA). O a) primeiro deve-se calcular a ETc da trickle irrigation. New York: Nostrand
Kp do tanque é função da cobertura do solo, cultura Reinhold, 1990. 652p.
onde é instalado o tanque, da velo-cidade ETc = Kc . (EVA . Kp) = 1,1 x (10 x 1) = LETEY, J. Relationship between salinity and
do vento e da umidade relativa média do ar, 11,0mm efficient water use. Irrigation Science, New
variando, grosso modo, de 0,6 a 0,8 para York, v.14, p.75-84, 1993.
b) depois a evapotranspiração da cul- HOCHMUTH, G.J. Greenhouse vegetable
tanques instalados fora das estruturas de
tura para a irrigação por gotejamento production handbook. Gainesville: Uni-
proteção. Os valores de Kp propostos pela versity of Florida-Cooperative Extension
(ETcg)
Food and Agriculture Organization of the Service, 1991. 15p. (University of Florida.
United Nations (FAO) podem ser encon- ETcg = ETc . 0,1 . (As)1/2= 11,0 x 0,1 x Circular, 48).
trados em Marouelli et al. (1996). Para (60)1/2 = 8,5mm MAROUELLI, W.A.; SILVA, H.R. Aspectos
tanques instalados no interior de estufas c) e finalmente o tempo de irrigação (Ti) sanitários da água para fins de irrigação.
Brasília: EMBRAPA-CNPH, 1998. 8p.
(velocidade do vento zero e umidade Ti = (ETcg . 60 . dg . dl) / (Efi . Qg) (EMBRAPA-CNPH. Comunicado Técni-
próxima de 100%), o Kp se aproxima de 1,00 Ti = (8,5 x 60 x 1 x 0,3) / (0,85 x 1,7) = co, 5).
(Prados et al., 1986). 106min MAROUELLI, W.A.; SILVA, W.L. de C; SILVA,
A evapotranspiração da cultura na irri- H.R. da. Manejo da irrigação em hor-
Deve-se, portanto, irrigar a cultura do taliças. 5.ed. Brasília: EMBRAPA-CNPH/
gação por gotejamento (ETcg) é menor que
exemplo por 106 minutos, para repor ao solo EMBRAPA-SPI, 1996. 72p.
em outros métodos de irrigação, pois nem
a água evapotranspirada. PRADOS, N.C.; CAMACHO, J.I.M.; CASTILLO,
toda a superfície do solo é molhada, o que F.B.; GONZÁLES, M.J.; GUTIERREZ DE
significa que há uma perda menor de água RAVÉ, E.; RAYA, A.M.; CASTIEL, E.F.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
por evaporação. Desta maneira, a evapo- Necessidades de riego en los inverna-
transpiração da cultura (ETc) deve ser ajus- Para a irrigação em solos sob estruturas deiros de Almeria. Província de Almeria:
Caja Rural, 1986, 12p.
tada para compensar essa menor perda por de proteção, a fonte de água deve ser de
SAXTON, K.E.; RAWLS, W.J.; ROMBERGER,
evaporação, o que pode ser feito usando a boa qualidade, usar preferencialmente a
J. S.; PAPENDICK, R. I. Estimating
relação ETcg= ETc . 0,1(As)1/2, em que As é a irrigação por gotejamento com cabeçal de generalized soil-water characteristics from
estimativa da percentagem de área som- controle dotado de um bom sistema de texture. Soil Science Society of America
breada pela cultura ao meio dia (Keller & filtragem e injetor de fertilizantes, sendo Journal, Madison, v.50, n.4, p.1031-1036,
July/Aug. 1986.
Bliesner, 1990). recomendável o uso de temporizador e vál-
WRIGHT, J. L. New evaporation crop
No manejo da irrigação por goteja- vulas solenóides para automação do sis-
coefficients. Journal of Irrigation and
mento, usando a ET cg estimada com o tema. O controle da irrigação dever ser Drainage Division, New York, v.108, p.57-
tanque classe A ou outro método, pode realizado com tensiômetros ou tanque clas- 74, 1982.

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52 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

Manejo de plantas daninhas em culturas protegidas


Pedro Jacob Christoffoleti 1
Adriana Luzia Pontes 2
João Tessarioli Neto 3

Resumo – Descrevem-se as técnicas de manejo das plantas daninhas em culturas


protegidas, relacionando medidas preventivas de erradicação e de controle. São
discutidas desde as medidas preventivas relacionadas com a escolha da semente,
substrato e local de produção, até os cuidados com a água de irrigação, para que
se possa ter um controle satisfatório, principalmente das plantas daninhas pere-
nes como a tiririca e a grama-seda, de difícil controle. Alguns herbicidas podem
ser utilizados no manejo de vegetação externa às estufas. A solarização (plástico
transparente) e a vaporização do solo são métodos de controle, eficientes e não-
tóxicos, mas são trabalhosos e pouco viáveis economicamente. A utilização de
plásticos opacos, por impedir a penetração de luz e resultar em bom controle de
plantas, é uma opção para o manejo de plantas daninhas em culturas protegidas,
principalmente em substituição à fumigação que, em breve, será banida, devido
à proibição dos produtos utilizados.
Palavras-chave: Plantas daninhas; Prevenção; Controle; Herbicidas.

INTRODUÇÃO mecânico por meio de equipamentos tra- MEDIDAS PREVENTIVAS


torizados. Sendo assim, o manejo de plan-
As plantas, definidas como daninhas, Impedir a entrada e a disseminação de
tas daninhas em ambientes controlados fica sementes e de outros órgãos de reprodução
são aquelas que estão desenvolvendo na- limitado a métodos mais trabalhosos e
turalmente em um ambiente, em tal inten- de espécies de plantas daninhas é a melhor
caros, utilizados em pequena escala. e mais eficaz forma de evitar a infestação
sidade, que interferem com os objetivos do
O manejo de plantas daninhas em qual- de áreas limpas, isentas de plantas dani-
homem, principalmente na agricultura. Elas
quer sistema agrícola, incluindo, portanto, nhas. Algumas medidas preventivas im-
sobrevivem naturalmente no ambiente em
culturas protegidas, deve ser feito de forma portantes serão descritas a seguir.
função de características de agressividade,
integrada, ou seja, desde a compra da se-
como alta produção de dissemínulos, os
quais apresentam dormência e grande ca- mente até os cuidados no local definitivo Aquisição de sementes
pacidade de sobrevivência às condições de plantio. Devem-se incluir medidas pre- registradas ou certificadas
adversas, dentre outras. Estas plantas sur- ventivas de erradicação e de manejo, sendo A aquisição de sementes para o plantio
giram e evoluíram com a agricultura e encon- que, nas medidas de manejo, estão os méto- em ambientes controlados é importante que
tram-se, ainda, em um processo evolutivo dos culturais, mecânicos, físicos e quími- seja feita de empresas idôneas, garantindo
com as mudanças das práticas culturais. cos. O sucesso de um empreendimento com assim um produto livre de sementes de
Existem plantas daninhas que também se culturas protegidas depende de um pla- plantas daninhas. Existe uma legislação
adaptaram em ambientes controlados e nejamento prévio que envolva todas as eta- (Brasil, 1989) que classifica as sementes de
que, portanto, necessitam de controle. pas do processo produtivo, integrado às plantas daninhas em lotes de sementes
Este controle é muito mais complexo que medidas de manejo de plantas daninhas. comerciais como: sementes proibidas, que
em sistemas produtivos não-controlados, O objetivo deste artigo é descrever as nunca devem estar presentes em um lote
pois limita-se ao uso dos métodos de con- técnicas de manejo das plantas daninhas de sementes e sementes toleradas até certo
trole disponíveis. Na agricultura extensiva em culturas protegidas, relacionando me- nível de infestação. Sendo assim, é neces-
existe um grande desenvolvimento do con- didas preventivas, de erradicação e de con- sária a aquisição de sementes certificadas,
trole químico e a possibilidade do cultivo trole. registradas ou fisca-lizadas que obedeçam

1
Engo Agro, D.Sc. Prof. ESALQ - Depto Produção Vegetal, Caixa Postal 09, CEP 13418-900 Piracicaba-SP. E-mail: pjchrist@carpa.ciagri.usp.br
2
Enga Agra, Mestranda em Fitotecnia, Caixa Postal 09, CEP 13418-900 Piracicaba – SP. E-mail: alpontes@carpa.ciagri.usp.br
3
Engo Agro, D.Sc., Prof. ESALQ - Depto Produção Vegetal, Caixa Postal 09, CEP 13418-900 Piracicaba-SP. E-mail: jtessari@carpa.ciagri.usp.br

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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 53

padrões da legis-lação de comercialização uso de herbicidas, com muita cautela, para plantação das instalações, é recomendável
de sementes. que não entrem em contato com o sistema, que nova aração seja feita, com o objetivo
o que poderia ser muito prejudicial ao cul- de trazer para a superfície os tubérculos
Uso de substratos livres da tivo. enterrados e que estavam em estado de dor-
contaminação com plantas mência durante a primeira aplicação de
daninhas Cuidados na produção de herbicida. Espera-se que as plantas emer-
mudas gidas atinjam o estado de pré-floração e
O uso de substratos para a produção
de mudas ou mesmo para a produção comer- Um outro problema que as plantas da- assim faz-se uma nova aplicação do her-
cial em recipientes em ambientes con- ninhas de propagação vegetativa repre- bicida sistêmico.
trolados é muito comum. A escolha deste sentam para a agricultura protegida é a
contaminação de mudas com os propá- Manejo e erradicação da planta
substrato é função de uma série de fatores
gulos vegetativos. Caso o objetivo do em- daninha grama-seda
sendo, no entanto, comum o uso de matéria
orgânica de origem animal ou vegetal, po- preendimento seja a produção de mudas, A grama-seda é uma planta daninha
segundo a legislação vigente do comércio perene que se propaga por sementes, es-
dendo também ser utilizado matéria-prima
de mudas e sementes (Brasil, 1989), é proibi- tolhos e rizomas. Seu controle deve ser feito
de origem mineral ou sintética, a qual sofre
da a presença de propágulos vegetativo antes da implantação das instalações, por
um processo de fermentação antes de seu
de plantas, tais como, tiririca (Cyperus meio de controle mecânico na época de
uso. É necessário que todos os componen-
rotundus), grama-seda (Cynodon baixa precipitação pluvial, integrado ao uso
tes do substrato estejam livres de conta-
dactylon), capim-massambará (Sorghum de herbicida sistêmico durante a primavera/
minação com plantas daninhas perenes,
halepense), dentre outras. verão, quando a planta inicia o processo
observando para tanto a origem do material
Se, no entanto, não for possível encon- de translocação de fotossintetizados para
e o local do seu armazenamento e mani-
trar na propriedade uma área isenta destas o sistema subterrâneo de propagação ve-
pulação. No caso da utilização da matéria
plantas daninhas, é importante que antes getativa.
orgânica, o período de fermentação neces-
da construção das instalações seja feita
sário para destruir o poder germinativo de
uma erradicação das plantas daninhas pe- Uso de água de irrigação
todos os dissemínulos de plantas daninhas renes da área. livres de contaminação com
é em torno de três meses. A seguir é descrito um sistema de mane- plantas daninhas
Escolha de local para as jo e erradicação de duas plantas daninhas Uma das principais formas de dissemi-
instalações perenes (tiririca e grama-seda); sendo que,
nação das plantas daninhas na agricultura
para as demais plantas perenes, é importan-
O local onde serão instaladas as estu- irrigada é por meio da água de irrigação. A
te que o agricultor procure um especialista
fas, seja para produção de mudas ou para maioria das sementes das plantas daninhas
no assunto ou mesmo consulte publicações
o cultivo definitivo, e outras instalações flutua sobre a água, enquanto outras con-
especializadas.
necessárias para a implantação do sistema seguem sobreviver submersas por um pe-
de culturas protegidas deve ser criteriosa- Manejo e erradicação da planta ríodo prolongado. A água usada na irriga-
mente escolhido. A presença de plantas daninha tiririca ção das plantas cultivadas em estufas pode
daninhas perenes é sem dúvida um dos fa- A tiririca deve ser controlada antes mes- conter sementes de plantas daninhas, que
tores que limitam a escolha do local. Áreas mo da implantação de qualquer instalação são incorporadas a partir daquelas que
infestadas com plantas daninhas, que se agrícola para cultura protegida. Seu manejo crescem ao redor dos depósitos de água e
propagam vegetativamente, devem ser evi- deve iniciar-se no inverno, quando se en- canais abertos. É importante, portanto, que
contra com seus órgãos de propagação a água usada em estufas seja mantida em
tadas, pois estas plantas constituirão um
vegetativa dormentes. Deve ser feito um depósitos, cujas margens sejam mantidas
problema de manejo, principalmente se a
preparo do solo com arado ou grade de isentas de plantas daninhas nocivas à ati-
intenção for a utilização direta do solo para
disco, com a finalidade de individualizar vidade, e que, se canais abertos de irrigação
o cultivo no interior das estufas. Em outros
todos os tubérculos que estão interligados forem usados para a condução da água,
sistemas de cultivo como a hidroponia, por
no solo. Desta forma, na primavera/verão, estes sejam mantidos limpos e livres de
exemplo, as plantas daninhas acabam-se quando as condições de temperatura e plantas daninhas, principalmente nas suas
tornando menos problemáticas pois, como umidade do solo são favoráveis para a margens.
o solo não será usado diretamente para o brotação dos tubérculos, haverá o mínimo
cultivo, mas sim apenas para a sustentação possível de tubérculos dormentes. O revol-
da estrutura hidropônica, ocorre uma ten- CONTROLE DA VEGETAÇÃO
vimento mecânico do solo tem também, por
dência de esterilização deste solo, para DANINHA NAS ÁREAS
finalidade, expor alguns tubérculos à des-
posterior recobrimento com algum tipo de ADJACENTES ÀS INSTALAÇÕES
secação pela luz solar.
material inerte como pedrisco, que permite Durante a primavera/verão, quando a As áreas circunvizinhas das instalações
que o local permaneça com maior higiene tiririca encontra-se vegetando e em fase de para culturas protegidas devem ser mantidas
por um tempo mais prolongado. No caso pré-floração, deve-se aplicar um herbicida com a vegetação controlada. O manejo des-
de aparecimento de plantas daninhas com de ação sistêmica, como o glyphosate e ou sa vegetação pode ser feito com o uso de
a estrutura já implantada, recomenda-se o sulfosate. Se houver tempo, antes da im- gramados ou por meio de herbicidas.
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54 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

Uso de gramados QUADRO 1 - Principais herbicidas utilizados no manejo da vegetação externa às instalações
Uma das formas bastante utilizadas Dose do
pelos produtores é a manutenção da área Herbicida
Concentração Formulação produto
vegetada com grama-batatais (Paspalum
Nome comercial (g/kg ou g/l) (tipo) comercial
notatum). Este tipo de vegetação impede a Nome comum
(kg ou l/ha)
(marca)
proliferação de plantas daninhas e princi-
palmente a multiplicação de seus dissemí-
Glyphosate Direct 720 GRDA 0,5 - 3,4
nulos. O uso de gramados ao redor das
instalações é bastante conveniente, pois Glifosato Nortox 360 SA 1,0 - 6,0
facilita a movimentação dos operadores e Glion 360 SA 1,0 - 6,0
máquinas, mesmo durante o período chu- Trop 360 SA 1,0 - 6,0
voso. Os gramados também evitam que a Roundup 360 SA 1,0 - 6,0
água acumulada ao redor das instalações
durante uma chuva iniciem um processo
erosivo, principalmente em áreas decli- Sulfosate Touchdown 480 SA 1,0 - 6,0
vosas. Zaap 480 SA 1,0 - 6,0
O uso desse tipo de cobertura vegetal
ao lado das instalações deve ser feito ape-
2,4-D + glyphosate Command 160 + 120 CE 4,0 - 7,0
nas em áreas onde se planeja um longo
período de utilização da área e das instala-
ções na sua forma original, principalmente Paraquat Gramoxone 200 CE 1,5 - 3,0
quanto à sua disposição no terreno. A
manutenção dos gramados deve ser feita Diquat Reglone 200 SA 1,0 - 2,0
através do uso de roçadeiras. A implanta-
ção das áreas gramadas entre as insta-
lações deve ser criteriosamente planejada Diquat + paraquat Smash 75 + 125 SA 2,0
para a passagem de máquinas, de tal forma
que a mecanização das roçagens seja o mais Gluphosinate Finale 200 SA 2,5 - 3,0
racional possível, principalmente quando
tratorizada. NOTA: GRDA - Grânulos dispersíveis em água; SA - Solução aquosa; CE - Concentrado
emulsionável.
Uso de herbicidas
A aplicação de herbicidas dessecantes
entre as instalações deve ser feita com processo de deriva do herbicida para as efeito sobre o controle das plantas da-
cautela, pois, se as plantas daninhas, no instalações. ninhas é considerado altamente positivo.
momento da aplicação, estiverem muito Herbicidas residuais de ação total tam- Este aquecimento é obtido com a colocação
desenvolvidas, haverá a formação de uma bém podem ser usados nesta situação. O de plástico transparente na superfície do
palhada. Esta palhada pode representar herbicida imazapyr, por exemplo, é usado solo durante o verão, quando a temperatura
risco de fogo para as instalações que nor- em áreas não agrícolas para eliminação total ambiente é mais elevada. Normalmente, a
malmente são feitas de material altamente da vegetação, com efeito residual. Neste temperatura abaixo do plástico fica em torno
inflamável. Por outro lado, quando bem caso, deve existir um planejamento de não- de 10oC mais elevada que acima dele. Este
manejada, a cobertura morta significa uma utilização da área por um determinado pe- efeito é proporcionado pela retenção de
proteção do solo contra a erosão provoca- ríodo. ondas de determinado comprimento, que é
da pela água acumulada ao redor das insta- refletida do solo. Os seedlings das plantas
lações durante uma chuva de alta intensi- CONTROLE DAS PLANTAS daninhas e mesmo as sementes superficiais
dade. É importante salientar que toda a DANINHAS COM O USO DE são mortas pelo calor, como conseqüência
chuva que cai sobre as estufas acumula-se FILMES PLÁSTICOS da desnaturação das proteínas.
ao redor delas e, caso não haja um sistema O emprego de filmes plásticos para o Este método de desinfecção pode ser
de escoamento eficiente, pode ocorrer um manejo de plantas daninhas é considerado utilizado tanto para o solo como para su-
processo erosivo. altamente positivo. Podem ser utilizados bstratos. Trata-se de um dos melhores mé-
O controle dessa vegetação pode ser ambos os filmes, transparentes e opacos. todos de desinfecção, uma vez que não
feito com herbicidas dessecantes não-seleti- expõem o solo e as plantas aos produtos
vos, tais como glyphosate, sulfosate, diquat Solarização (plástico químicos que poderão se tornar contami-
ou paraquat (Quadro 1) aplicados pós- transparente) nantes.
emergência. Deve-se evitar a pulverização A solarização consiste no processo de Normalmente, o período de solarização
em horários com vento que favorecem o aquecimento do solo pela luz solar, e seu necessário para um bom controle das plan-
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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 55

tas daninhas varia de 10 a 20 dias. Se o perío- indução através da luz vermelha (660nm), tado por meio de campânulas, onde se
do for maior, 30 dias por exemplo, existe um para que todo fitocromo seja convertido introduz o vapor através de um tubo que
efeito residual sobre o banco de sementes, na forma ativa. A luz de comprimento de estabelece a ligação com o gerador de calor.
pois há reflexos na infestação de plantas onda 660nm encontra-se em abundância na O calor a temperaturas de 80 a 90oC
daninhas não só daquele ano, mas também luz solar que incide diretamente no solo. O durante 10 min, no mínimo, elimina insetos,
do próximo. plástico opaco impede a passagem da luz, ácaros, fungos e plantas infestantes. Porém
O uso da técnica de solarização é efi- deixando a semente dormente. não é conveniente que a temperatura de
ciente, porém cara e trabalhosa. O custo De acordo com a distinta capacidade desinfecção ultrapasse 100oC, pois, neste
do plástico a ser colocado na superfície e a do polietileno para refletir o espectro solar, caso, ocorre a destruição de bactérias úteis
mão-de-obra para sua instalação tornam a existem as seguintes classes: e o solo pode ficar estéril durante algum
técnica onerosa; no entanto este método tempo.
a) transparente: oferece maior preco-
pode ser usado em culturas de alto valor
cidade às culturas, porém apresenta
comercial e em situações onde outros mé- CONSIDERAÇÕES FINAIS
problemas com as plantas daninhas
todos de controle não podem ser empre-
que se desenvolvem sob o plástico, O ambiente protegido proporciona
gados.
pois elas crescem com rapidez e vi- grandes vantagens para o cultivo de hor-
O uso de herbicidas pode ser reduzido
gor, podendo até levantar a película; taliças, porém, quando se trata do controle
nos solos solarizados, pelo significativo
controle que apresenta. Além disso, tam- b) negro opaco: é o que proporciona de plantas daninhas, acaba tornando-se
bém pode ocorrer redução da necessidade menor precocidade às culturas, fator limitante no sentido de, pelas próprias
de aplicação de determinados herbicidas porém impede totalmente o cres- condições intensivas, diminuir a gama de
pré-emergentes, pelo fato de as populações cimento das plantas daninhas uma possibilidades de controle.
de microrganismos decompositores de tais vez que veda a passagem da luz Conforme mencionado, existem méto-
produtos poderem ser reduzidas com a solar, impedindo que ocorra fotos- dos alternativos, porém, alguns se tornam
solarização. Com isso ocorre um aumento síntese, além da alta temperatura caros ou de difícil manejo. Com isso, o que
da eficiência e da persistência do herbicida produzida, que acaba por eliminar mais se tem feito para controle de plantas
no solo, podendo ser observado até mesmo as plantas daninhas existentes. De- daninhas em ambiente protegido é a aplica-
um sintoma de fitotoxicidade nas culturas, vido ao aquecimento, pode causar ção de herbicida anteriormente à implan-
mesmo com a aplicação das doses reco- queimaduras nas plantas que esti- tação das culturas, seguida de utilização
mendadas. verem diretamente em contato com do mulching nas linhas de plantio e capina
a película; manual nas entrelinhas, depois do plantio.
Plástico opaco c) cinza: é o intermediário entre as duas
Esta técnica consiste em colocar uma classes apresentadas. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
película de plástico esticada sobre os can- BRASIL. Comissão Nacional de Sementes e
teiros ou linhas de cultivo, dentro das estu- FUMIGAÇÃO/VAPORIZAÇÃO Mudas. Legislação Federal de sementes
fas. Dentre as vantagens, está a inexistência DO SOLO e mudas. Brasília, 1989. 318p.
de plantas competidoras, uma vez que no A fumigação do solo com produtos
plástico esticado é feita uma pequena aber- como o brometo de metila tem sido usada BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
tura somente para o plantio das mudas, fi- para controlar pragas, doenças e plantas
cando o restante da área do canteiro total- daninhas. No entanto esta prática será em GOTO, R.; TIVELLI, S.W. Produção de
mente recoberta por ele. breve banida pela proibição do uso deste hortaliças em ambiente protegido: con-
O uso de plástico opaco é uma opção produto. Já a vaporização do solo pode dições subtropicais. São Paulo: UNESP,
para o controle de plantas daninhas em es- constituir-se numa forma de controle, desde 1998. 319p.
tufas, pois as áreas não são extensivas. O que a temperatura do solo atinja níveis que
plástico opaco controla as plantas dani- MINAMI, K. Produção de mudas de alta
denaturem as proteínas das plantas dani-
nhas, bloquea a passagem de raios solares, qualidade em horticultura. São Paulo:
nhas. A vaporização do solo deve ocorrer
indispensáveis para a quebra da dormência T.A. Queiroz, 1995. 128p.
durante várias horas para promover um
da maioria das sementes. Mesmo que a efeito de controle em plantas daninhas, PROGRAMA de plasticultura para o Estado
semente não necessite de luz para germina- sendo, portanto, economicamente uma téc- de São Paulo. São Paulo: AEASP, [1995].
ção e haja a formação do seedling abaixo nica pouco viável. 109p. Apostila.
do plástico opaco, a planta não se desen- A desinfecção por vaporização pode
SERRANO CERMEÑO, Z. Estufas: instala-
volve por falta de luz. ser realizada em profundidade ou em su-
ções e manejo. Lisboa: Litexa, 1990. 355p.
Qualquer barreira à penetração de luz perfície. Em profundidades superiores a
até onde se localizam as sementes, afeta as 20cm, utilizam-se um injetor oco perfurado SGANZERLA, E. Nova agricultura: a fasci-
fotoblásticas positivas, que são as formas na extremidade e a máquina produtora de nante arte de cultivar com plásticos. 4.ed.
de sementes da maioria das plantas dani- água quente ou vapor de água. No caso de Porto Alegre: Petroquímica Triunfo, 1991.
nhas. Estas sementes necessitam de uma desinfecção superficial, o trabalho é execu- 303p.

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56 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

Cultivo de alface em solo em


ambiente protegido 1

Heloisa Santos Fernandes 2


Sergio Roberto Martins 2

Resumo - Com manejo adequado, quase todas as cultivares de alface podem ser plan-
tadas em ambiente protegido durante todo o ano, sendo importante a correta escolha,
devido às diferenças quanto ao ciclo, rendimento, resistência ao frio e tolerância ao
calor. Com as novas demandas por produtos agroecológicos, a utilização de fer-
tilizantes orgânicos, para reduzir as quantidades de fertilizantes químicos, tem sido
adotada de forma crescente. O ambiente protegido facilita o monitoramento e o
controle direto da umidade do solo, bem como de outros parâmetros agrometeo-
rológicos, minimizando estresses da planta.

Palavras-chave: Alface; Estufa; Rendimento; Manejo.

INTRODUÇÃO gião. No Sul do Brasil, o seu cultivo passa consumo, obviamente os preços do pro-
A alface (Lactuca sativa L.) é uma espé- por dois períodos com condições pouco duto se elevam nessa época, o que propicia
cie mundialmente conhecida e considerada favoráveis. O primeiro ocorre nos meses maiores retornos aos olericultores que
a mais importante hortaliça folhosa. É de inverno, quando as baixas temperaturas conduziram seu cultivo com sucesso.
consumida na dieta brasileira, principal- (inferiores a 10ºC) e precipitações pluvio- Tendo em vista um consumo crescente
mente na forma de saladas cruas, sendo métricas prolongadas, retardam o cresci- e versátil e a modernização do setor de
considerada uma planta de propriedades mento e danificam as plantas. No segundo distribuição, é exigido do produtor qua-
tranqüilizantes, com alto conteúdo de período desfavorável - o verão, elevadas lidade, quantidade e principalmente regu-
vitaminas A, B e C, além de cálcio (Ca), temperaturas do ar (acima de 20ºC) e ele- laridade na sua produção. Neste contexto,
fósforo (P), potássio (K) e outros minerais, vada intensidade da radiação solar favo- o cultivo em ambientes protegidos vem
encontrados em maiores teores nas culti- recem, sobretudo, o pendoamento precoce apresentando crescente adoção pelos ole-
vares com folhas de bordos lisos e sem das plantas. ricultores em razão da possibilidade do
formação de cabeça (Mallar, 1978 e Maroto, No Sudeste, por suas características de controle parcial dos fatores ambientais
1992). Destaca-se também seu teor em pró- clima subtropical e sem baixas temperaturas, adversos (Souza et al., 1994), facilidade do
vitamina A, que alcança 4000UI por 100g a produção é normal e regular nos meses manejo, redução de riscos, previsibilidade
de matéria fresca nas alfaces de folhas de abril a dezembro, diminui a partir do mês e constância da produção.
verdes (cerca de quatro vezes ao encon- de janeiro e agrava-se em fevereiro e março, A utilização de túneis ou estufas com
trado no tomate). Contudo, este teor é bem no cultivo de verão (Goto, 1998). filme de polietileno tem sido uma alternativa
mais baixo nas folhas brancas, internas, das Portanto, no verão os fatores tempe- técnica e econômica para minimizar o efeito
alfaces repolhudas (Sonnenberg, 1981). ratura e fotoperíodo elevados prejudicam negativo das baixas temperaturas no pe-
O volume de produção dessa hortaliça o cultivo dessa hortaliça em praticamen- ríodo de inverno rigoroso no sul do Brasil,
varia ao longo do ano em função das con- te todas as regiões produtoras. Com a pois propicia um ganho térmico tanto nas
dições climáticas específicas de cada re- escassez do produto e alta demanda do temperaturas do solo como do ar (Buriol et

1
Trabalho realizado com o apoio do CNPq/FAPERGS.
2
Engo Agro, D.Sc., Prof. UFPel - Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel - Depto Agronomia, Caixa Postal 354, CEP 96077-170 Pelotas - RS.
E-mail: martinss@ufpel.tche.br

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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 57

al., 1993ab, Schneider et al., 1993, Farias et Cermeño, 1996). CULTIVARES


al., 1993 e Camacho, 1994). Além de prote- No inverno, as baixas temperaturas do
A escolha da cultivar também depen-
ger a cultura de chuvas, granizo e vento, o ar retardam o crescimento da alface e po-
de, dentre outros fatores, das exigências
microclima formado no seu interior permi- dem danificar as plantas, deixando-as com
de mercado: folhas lisas ou crespas, for-
te ganhos na qualidade, produtividade e aspecto bronzeado e, por conseqüência,
mando ou não cabeça, com distintas co-
precocidade dos cultivos (Segovia, 1991). inutilizadas para a comercialização (Fil- lorações (de verde-amarelada até ver-
Embora as mudanças micrometeorológi- gueira, 1982). Por outro lado, as altas tem- de-escura), com bordos arroxeados até
cas, proporcionadas pelos ambientes pro- peraturas aceleram o ciclo da cultura, completamente arroxeados (Goto, 1998).
tegidos, sejam responsáveis pelo bom resultando em plantas menores, com pouca Em geral, as cultivares que pertencem
desempenho das culturas, a falta de cul- firmeza nas cultivares de formação de ca- ao grupo repolhuda manteiga (formam
tivares selecionadas ou melhoradas, para beça, floração prematura e queimaduras nos cabeça e possuem as folhas lisas) são as
esses ambientes, aliada a temperaturas bordos das folhas, além da indução do preferidas, entretanto, não são facilmente
elevadas, tem-se constituído em fatores sabor amargo (Mallar, 1978). Temperatu- cultiváveis no verão. Destacam-se neste
limitantes ao desenvolvimento desta mo- ras acima de 30°C interrompem o desen- grupo ‘Kagraner’, ‘Áurea’, ‘Série Brasil’ e
dalidade de exploração em determinadas volvimento da alface (Serrano Cermeño, ‘White Boston’. As cultivares Elisa e
regiões. 1996). Carolina AG-576, por apresentarem alta
A exigência térmica da cultura da alface compacidade de formação de cabeça e re-
FISIOLOGIA DO também tem sido estimada através de graus- sistência ao pendoamento, também são
DESENVOLVIMENTO dia, que representam o somatório de calor largamente utilizadas. Outro grupo de cul-
efetivo para o crescimento das plantas acu- tivares de boa aceitação no mercado é aque-
O crescimento vegetativo da alface é mulado durante o dia, sendo obtido pela le que possui folhas lisas sem formação de
definido como o período que abrange des- subtração da temperatura base da planta cabeça, por exemplo a ‘Regina’.
de a emergência das plantas até a iniciação da temperatura média diária. Para com- Os olericultores da Serra Gaúcha vêm
floral. Representa sua produção economi- pletarem cada subperíodo do ciclo de vida, adotando cultivares de folhas crespas
camente viável que se encerra ao atingir o as plantas requerem um acúmulo de certa devido ao ótimo desempenho apresentado,
maior tamanho das folhas. Da semeadura soma de calor, comumente expressa pelo quando cultivadas em ambientes prote-
até o transplante das mudas, o crescimento índice graus-dia. Considera-se que há uma gidos. São destinadas principalmente à
da parte aérea e do sistema radicular é lento relação linear entre a temperatura e a taxa rede de restaurantes industriais e fastfood
(Becker, 1990). Após essa fase, inicia-se de desenvolvimento relativo da planta, des- por suas peculiares características - folhas
uma etapa de intensa emissão de folhas e de que não existam limitações de outros crocantes e resistência às temperaturas
de acúmulo de massa seca, atingindo seu fatores (Lozada & Angelocci, 1997). Para elevadas sem apresentar escurecimento,
máximo em função das cultivares e con- Pelotas (RS), Rosa (1998) determinou para quando do preparo dos alimentos.
dições climáticas. as cultivares Regina, Kagraner, Great Lakes Desde que o manejo da cultura seja
Fatores como o fotoperíodo, intensi- e Brisa, no subperíodo germinação-trans- adequado, quase todas as cultivares po-
dade luminosa, concentração de CO2 e plante, valores de soma térmica que varia- dem ser cultivadas em ambientes protegi-
especialmente a temperatura influenciam ram entre 328 e 381 graus-dia. Para este dos durante todo o ano, com ciclo variando
acentuadamente o desenvolvimento e o mesmo subperíodo, Brunini et al. (1976) de 28 dias, no verão, até 60 dias, no inverno
crescimento da alface (Panduro, 1986 e encontraram para a cultivar White Boston (Rosa et al., 1996). Entretanto, sob condi-
Müller, 1991). um mínimo de 332 e um máximo de 444 ções de alta temperatura e longo foto-
Ainda que exista grande número de graus-dia. período, algumas cultivares são mais
cultivares que se adaptam às variações de Cada espécie vegetal possui uma tem- sensíveis quanto ao pendoamento e início
clima, normalmente, as temperaturas óti- peratura basal que pode variar entre suas na fase reprodutiva. Outras, sob baixas
mas de crescimento encontram-se entre 15 distintas fases fenológicas. Entretanto, temperaturas no inverno, apresentam
e 20ºC, e temperaturas noturnas inferio- para facilitar sua aplicação, é comum o em- crescimento e desenvolvimento vegetativo
res a 15ºC são consideradas importantes, prego de um valor médio único para todo o lento, estendendo seu ciclo e, portanto,
principalmente, para a formação de cabe- ciclo da cultura. Para a alface ‘White apresentando sérios prejuízos quanto à
ça (Filgueira, 1982). Em fase de crescimen- Boston’, Brunini et al. (1976) estabeleceram comercialização.
to rápido, a alface exige uma amplitude uma temperatura base inferior para o sub- Diante de tais fatos, para garantir o
térmica entre dia e noite: as temperatu- período germinação-transplante, de 6ºC, e sucesso da produção, o olericultor deve
ras diurnas devem estar situadas entre 14 e para o subperíodo transplante-colheita, de considerar como item de grande impor-
18ºC e as noturnas entre 5 e 8ºC (Serrano 10ºC. tância a escolha adequada das cultivares,

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58 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

cujas características estão apresentadas no QUADRO 1 - Características desejáveis nas cultivares de alface de acordo com a estação do ano
Quadro 1. Época de colheita
Características
Inverno Primavera Verão Outono
Respostas agronômicas de
Resistência ao florescimento _ _ (2) (2)
cultivares em ambientes
Resistência ao frio (congelamento) (1) (1) _ _
protegidos Crescimento em baixas temperaturas (2) (1) _ _
Cultivares de alface testadas em vários Tolerância ao calor _ _ (1) _
locais, em diferentes modelos e tipos de Qualidade durante a comercialização _ _ (1) _
ambientes protegidos e estações do ano, Resistência a doenças _ (1) (2) _
evidenciam diferenças contrastantes (1) Característica importante. (2) Característica mais importante.
quanto ao ciclo da cultura e rendimento.
Segovia et al. (1997) compararam, no
inverno, as cultivares Brasil 202, White produção nas cultivares Regina e Kagraner. meça a ser inibida (Borthwick & Robbins,
Boston e Regina, no interior e exterior de No verão, observou que ‘Brisa’ apresentou 1928). Com temperaturas do solo superiores
uma estufa de polietileno, em Santa Maria a maior porcentagem de plantas pendoadas. a 30ºC, o processo germinativo é inibido
(RS). Os resultados revelaram maiores área Em São Paulo, essa cultivar é recomendada em praticamente todas as cultivares, fazen-
foliar, massa verde da parte aérea, massa como tolerante para esta característica do com que suas sementes entrem em dor-
seca das folhas, do caule e das raízes e (Goto, 1998). mência secundária.
maior relação entre a parte aérea e sistema A dormência é um dos grandes pro-
radicular, nas plantas cultivadas no interior PRODUÇÃO DE MUDAS blemas na produção de mudas de alface,
da estufa. Dentre as três cultivares, ‘Brasil A produção de mudas de alface, a uma vez que ocorre no verão, coincidindo
202’ apresentou maior precocidade (sete exemplo das demais hortaliças, constitui- com o período em que os olericultores po-
dias de antecipação na colheita), além de se numa das etapas de cultivo mais impor- dem obter bons lucros com a cultura. Um
maior acumulação de massa seca total. Es- tantes, devido a sua influência no desem- procedimento muito utilizado pelos oleri-
ses resultados permitem identificar no penho final da planta (Minami, 1995). Os cultores, para superar este problema, con-
ambiente protegido, uma alternativa téc- recentes avanços desta prática fitotécnica siste em envolver as sementes em um pano
nica promissora para o cultivo da alface têm proporcionado aumentos substanciais úmido, mantendo-as próximas ao conge-
nessa estação do ano. Entretanto, é impor- tanto na produção como na produtivida- lador de uma geladeira doméstica, em
tante destacar que o “efeito estufa”, ou se- de. temperaturas de 4 a 6ºC, por cerca de 48 a
ja, o ganho térmico, foi mais acentuado Para o sucesso de qualquer sistema de 72 horas e, posteriormente, efetuar a se-
durante o dia. À noite, os valores de tem- produção de mudas, é fundamental o uso meadura (Filgueira, 1982).
peratura foram muito similares aos do de sementes de alta qualidade. Além disso, Basicamente, a produção de mudas em
ambiente natural. o olericultor deve garantir as condições ambientes protegidos pode ser realiza-
Na região de Pelotas (RS), Rosa et al. ideais para que os processos fisiológicos da em bandejas multicelulares, em tanques
(1996), utilizando estufa de tipo “pam- de germinação e emergência dêem-se o e/ou bancadas, utilizando diversos tipos
peana”, modelo arco abatido, coberta com mais rápido possível. Benjamim (1990), de substratos, contando com o aporte
polietileno de baixa densidade, compa- citado por Minami (1995), observou, para a necessário da irrigação, adubação e con-
raram, em cultivo de verão, as cultivares alface, plantas maiores quando o tempo de trole fitossanitário.
Regina, Kagraner, Elisa e Grand Rapids e emergência foi de sete dias, em comparação Em geral, são utilizadas bandejas multi-
observaram o melhor desempenho da cv. com aquelas que tardaram 15 dias para celulares de poliestireno expandido (iso-
Regina, quanto ao número de folhas (56). emergir, evidenciando que tais diferenças por) de 200 a 288 células cada uma, com o
Em cultivo de primavera, em túnel baixo traduzem-se em grandes diferenças durante formato de pirâmide invertida e orifício
perfurado, Streck et al. (1994) observaram o desenvolvimento da planta. basal que permite, quando assentadas so-
o número máximo de 44 folhas por planta Segundo Kotowsky (1927), citado por bre bancadas, a saída das raízes que em
até o final do ciclo. Goto (1998), as sementes de alface germi- contato com o ar secam naturalmente (poda
Rosa (1998), no sul do Rio Grande do nam, quando a temperatura do solo encon- ao ar). A ausência de contato com o opera-
Sul, avaliou o comportamento das culti- tra-se na faixa de 11 a 25ºC, sendo a faixa dor ou ferramentas, reduz a possibilidade
vares Regina, Kagraner, Great Lakes e Brisa ideal de germinação compreendida entre 18 de contaminação.
em todas as estações do ano, em estufa a 25ºC. Acima ou abaixo destes valores, As estruturas das bancadas podem ser
plástica, constatando maior precocidade e dependendo da cultivar, a germinação co- em madeira, alumínio, aço galvanizado,

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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 59

bambu ou alvenaria, devendo possuir uma tem sido o de microaspersão, sendo as trientes, permitindo que o próprio solo
altura mínima do solo de 0,8m, a fim de evitar mudas irrigadas de duas a quatro vezes ao atenda parte das necessidades da cultu-
contaminações, facilitar o manejo das dia, durante dois a três minutos, depen- ra e, conseqüentemente, permitindo um
bandejas e tratos culturais. Recomenda-se dendo das condições climáticas e do tipo decréscimo nas doses de adubo a serem
uma distância mínima de 1m da cobertura de substrato utilizado. Este sistema é aplicadas sem que ocorra redução na pro-
da estufa em relação às bandejas, para que composto basicamente de um conjunto dutividade.
as mudas não sofram com as baixas tempe- moto-bomba, filtro e, uma ou mais linhas Em solos com elevados teores de K e
raturas e exista um volume de ar suficiente de aspersão com microaspersores anti- de P, a cultura responde apenas ao forne-
para manter temperaturas internas ade- gotejo localizados acima das mudas a uma cimento de nitrogênio (N) (Foltran et al.,
quadas. distância aproximada de 1m. 1987). A deficiência de N em alface retarda
Em sistema misto, em que se utilizam A adubação das mudas pode ser reali- o crescimento da planta, induz a ausência
bancadas e tanques (float system), as zada com adubos granulados misturados ou má-formação da cabeça e, as folhas mais
mudas são previamente desenvolvidas em ao substrato ou via foliar, tanto para velhas tornam-se amareladas e despren-
bandejas até o estádio de duas folhas de- substratos comerciais como para aqueles dem-se da planta com facilidade (Garcia et
finitivas e, posteriormente, colocadas em formulados na propriedade. Devem-se al., 1982).
tanques impermeabilizados e contendo priorizar sistemas que assegurem um me-
uma solução de sulfato de cobre 0,035%, lhor controle e uniformidade de distribui- Adubação orgânica
para manter o controle fitossanitário e pro- ção dos adubos. Segundo Goto (1998), é
A adubação orgânica tem sido larga-
mover o desenvolvimento de sistemas ra- importante que durante a fase de formação
das mudas não se utilizem adubos que mente utilizada na produção de hortaliças,
diculares secundários.
contenham nitrogênio. O nitrogênio só em face das novas demandas do mercado
Em ambos os sistemas, a semeadura é
deve ser utilizado em cobertura, caso ocorra consumidor por produtos de melhor qua-
realizada com sementes nuas (duas a três
deficiência. Substratos que contenham lidade. De tal forma, já existe uma signi-
sementes por célula) ou peletizadas (uma
adubos fosfatados e potássicos, auxiliarão ficativa produção científica sobre a utili-
semente por célula). No primeiro caso, ao
na obtenção de mudas vigorosas, sadias e zação de fertilizantes orgânicos com vistas
atingir o estádio de uma folha verdadeira,
não estioladas. a reduzir as quantidades de fertilizantes
efetua-se o desbaste, deixando-se apenas
Sob condições de alta temperatura e químicos aplicados na produção de alface
uma muda por célula. A muda está pronta
excessiva luminosidade, é recomendada a (Nakagawa et al., 1989, 1992 e Quijano,
para ser transplantada, quando apresenta
proteção das mudas com telado com 30% 1999). No Quadro 2 podem ser observadas
quatro a cinco folhas definitivas.
Um bom desenvolvimento de mudas de sombreamento, evitando-se, assim, as concentrações médias de N, P e K de
depende de substratos adequados. Embora problemas quanto à germinação e ao pen- alguns materiais utilizados como adubos
se disponha de um grande número de mar- doamento. Logo após este período inicial, orgânicos.
cas comerciais, o desempenho obtido com o telado deve ser retirado, para evitar o Na cultura da alface, até cerca de 30
tais materiais tem-se mostrado extrema- estiolamento das mudas. dias após a emergência, tanto em ambiente
mente irregular, sendo objeto de crítica por natural como no ambiente protegido, o
NUTRIÇÃO, CALAGEM E acúmulo de nutrientes nas plantas é lento,
diversos olericultores da região Sul do
ADUBAÇÃO aumentando rapidamente após este período
Brasil. Menezes Júnior (1998) confirma esta
questão e recomenda a formulação de A alface é suscetível à acidez do solo. (Fernandes et al., 1981, Garcia et al., 1982 e
substratos pelo próprio agricultor (com Neste sentido, as quantidades de correti- Quijano, 1999). Cerca de 80% do total de N
diminuição de custo) desde que o material vos a serem aplicadas no solo visam atin- é absorvido nos estágios finais da cultura
seja devidamente esterilizado. Dentre 27 gir um pH em água de 6,0 a 6,8. Sugere-se (Katayama, 1993). Portanto, este nutriente
diferentes formulações de substratos para prioridade para a aplicação de calcário do- requer um manejo especial quanto à adu-
alface testadas por este autor, entre as quais lomítico em função de sua riqueza em Mg. bação, sendo conveniente retardar sua
dois substratos comerciais, destacaram-se Para melhor decidir sobre a adubação aplicação em cobertura. Nas condições de
as que constam de 75% de solo mineral do solo em ambiente protegido, deve-se verão em Pelotas (RS), foram observadas,
com 25% de vermiculita ou 25% de ester- realizar a amostragem de solo para análise nos últimos dez dias de cultivo de alface
co bovino ou 25% de vermicomposto de físico-química, no mínimo, uma vez por ano. em ambiente protegido, as maiores exi-
esterco bovino. Devido à aplicação de fertilizantes em altas gências em N, P, K, Ca e magnésio (Mg),
O sistema de irrigação mais utilizado doses e de forma intensiva, no decorrer do correspondendo entre 64 e 80% do total
para a produção de mudas em bancadas tempo pode haver acúmulo de alguns nu- acumulado de nutrientes para a cultivar

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60 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

QUADRO 2 - Concentração média de nitrogênio (N), fósforo (P2O5), potássio (K2O) e matéria necessidade de melhor controle quanto à
orgânica de alguns materiais utilizados como adubo orgânico
dosagem e à fonte do nutriente utilizado,
Nutrientes Matéria uma vez que, em ambiente protegido, o ciclo
Materiais
N P 2O 5 K2O Orgânica
da alface é reduzido.
%
(A)
Composto 1,20 0,80 - 1,00 0,50 - 0,80 60,00 PREPARO DE CANTEIROS E
Vermicomposto(B) 1,00 - 3,00 4,50 - 9,16 1,90 - 5,73 35,00 - 60,00 ESPAÇAMENTO
Esterco de gado(A) 1,92 1,01 1,62 62,11
Esterco de galinha(A) 3,04 4,70 1,89 54,00 Em estufas, os canteiros são preparados
Esterco de porco(A) 2,54 4,93 2,35 46,28 com uma largura baseada no número de fi-
Torta de mamona(A) 5,44 1,91 1,54 92,20 leiras longitudinais de plantas que serão
Torta de filtro(A) 2,19 2,32 1,23 78,78 adotadas. É comum a utilização de duas a
kg/m3 de chorume três fileiras em canteiros estreitos com 0,60
Esterco líquido de suínos (C) 4,50 4,00 1,60 6,00 a 0,90m, ou quatro a cinco fileiras em cantei-
Esterco líquido de bovinos (C) 1,40 0,80 1,40 4,60 ros convencionais de 1,0 a 1,2m de largura.
kg/t O espaçamento usual entre plantas é
Esterco pastoso de bovinos (C)
3,20 2,60 3,40 14,90
de 0,30 x 0,30m, podendo ser adotado o de
0,30 x 0,25m para cultivares de menor por-
FONTE: (A) Kiehl (1985), (B) Antoniolli et al. (1996) e (C) Recomendações... (1994).
te. Cultivares de plantas maiores, como a
‘Great Lakes’, exigem espaçamentos de
0,40 x 0,30m. Espaçamento de 0,25 x 0,25m
Fertirrigação
Regina, e entre 68 e 78% para a cultivar é muitas vezes utilizado em cultivo de ve-
Carolina (Quijano, 1999). A fertirrigação objetiva aliar a prática rão. Nessa época, para evitar os riscos da
de irrigação ao fornecimento de nutrientes depreciação do produto ocasionado pelo
Adubação foliar em cobertura, como uma forma mais efi- pendoamento, o olericultor antecipa a co-
Barros (1979) constatou efeito positivo ciente de aumentar a disponibilidade e a lheita. O menor tamanho das plantas co-
na produtividade de alface com aplicações absorção de elementos minerais essenciais lhidas é compensado pela obtenção de
de uréia (0,6%), fosfato diamônico (0,2%) à planta. melhores preços, os quais comumente
ou fosfato monoamônico (0,2%) via foliar. Em culturas de sistema radicular mais ocorrem na entressafra.
Embora Castellane et al. (1986) não tenham desenvolvido, a fertirrigação pode difi-
observado diferenças significativas na cultar a exploração de nutrientes em pro-
CONTROLE DA UMIDADE DO
produtividade total de alface (t/ha), quando fundidade, contudo, para alface que natu-
SOLO E IRRIGAÇÃO
compararam os efeitos do fornecimento de ralmente apresenta um sistema radicular
N no solo e via foliar, verificaram maior superficial, esta técnica pode ser utilizada A grande vantagem do cultivo em am-
eficácia da aplicação foliar, ou seja, unidade de forma eficiente. Salienta-se, porém, a biente protegido é possibilitar o monito-
a mais de produção por unidade de uréia
aplicada.
A pulverização foliar em alface com QUADRO 3 - Produtividade (t/ha) de duas cultivares de alface, com diferentes adubações
Cultivares
fertilizantes orgânicos líquidos é ainda uma Adubações
técnica pouco estudada. O vermicomposto Carolina Regina

líquido é um complemento nutricional de Testemunha absoluta 5,56 6,85


macro e micronutrientes com funções hor- Adubo mineral(1) 19,14 16,81
monais e, por se tratar de um produto orgâ- Cobertura com vermicomposto de restos de 14,19 16,97
nico e natural, pode ser aplicado em maiores erva-mate e café na forma líquida(2)
concentrações (Antoniolli et al., 1996). Em Cobertura com vermicomposto de esterco de 13,34 12,92
ambiente protegido, Quijano (1999) obteve suínos na forma líquida(2)
respostas positivas no crescimento de
FONTE: Quijano (1999).
alface, cv. Regina, quando pulverizada com (1) Adubação de base 40kg/ha de N, 40kg/ha P2O5 e 60kg/ha de K2O e, 30kg/ha de N em cobertura,
vermicompostos líquidos em cobertura aos 12 e 22 dias após o transplante. (2) Adubação de base com 13t/ha de vermicomposto bovino
(Quadro 3). e cobertura com 2.500 l/ha de vermicomposto líquido, aos 12 e 22 dias após o transplante.

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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 61

ramento e controle do consumo hídrico das DOENÇAS E TIPBURN dade no solo, favorecem a doença;
plantas, minimizando por conseqüência, c) septoriose (Septoria lactucae): res-
As doenças observadas com maior
estresses da planta por deficiência e exces- ponsável pela formação de manchas
freqüência nos ambientes protegidos po-
so de água. Em decorrência, este controle necróticas irregulares, com centro
dem ser evitadas ou pelo menos atenuadas,
efetivo do suprimento d’água constitui-se escuro, com numerosos corpos de
por meio de uma série de medidas pre-
em fator essencial na busca da maximização frutificação na parte central. O tecido
ventivas como: utilização de sementes e
da produção, atenuando a interferência de necrosado pode romper-se e cair,
materiais de propagação isentos de pa-
outros fatores, tais como a ocorrência de havendo coalescência das manchas,
tógenos; rotação de culturas, fertilização
doenças e pragas. resultando no crestamento e morte
adequada, limpeza e desinfecção de equi-
O manejo da água deve ser realizado das folhas externas afetadas. Tem-
pamentos; eliminação de restos de cultu-
respondendo a duas perguntas básicas. peraturas amenas e umidade relativa
ras, preparo adequado do solo para facilitar
Quando irrigar e quanto de água utilizar? O do ar elevada favorecem seu ataque
germinação e crescimento de plântulas,
monitoramento da tensão de água no solo, e disseminação;
espaçamentos e densidades adequadas ao
utilizando tensiômetros instalados na pro-
bom arejamento e promotor de um balanço d) outra doença constatada em alface,
fundidade efetiva do sistema radicular, que
de energia radiante favorável ao desen- no verão, principalmente, em estufas
para a cultura da alface varia de 20 a 30cm,
volvimento da planta; práticas que permi- cultivadas anteriormente com to-
pode ser uma boa estratégia para atender
tam ganho de calor no solo e um manejo mate, é vira-cabeça. O controle desta
estas questões (recomenda-se para a alface
adequado da água. virose está diretamente relacionado
limite de tensão de -0,40 bar). Por outro
Com relação ao manejo da água, o aten- a medidas que evitem o apareci-
lado, o conhecimento da evapotranspi-
dimento correto das necessidades hídricas, mento de seu agente transmissor, o
ração da cultura (ETc), nas suas distintas
conforme visto anteriormente, é funda- tripes.
fases fenológicas, é fundamental para aten-
mental para se evitar déficit e principal-
der de forma correta as suas necessidades O tipburn é um distúrbio fisiológico
mente excesso, que induz o aparecimento
hídricas. Para tanto, o produtor pode ba- ocasionado pelo aumento da atividade
de doenças no solo. Além disso, é impor-
sear-se em dados locais da evapotrans- fotossintética, que pode provocar injúrias
tante considerar a qualidade da água de
piração de referência (ET o) fornecidos pela ruptura dos vasos lactíferos da folha.
irrigação, especialmente considerando que
geralmente por instituições de ensino, pes- O látex é desprendido próximo aos bordos
o cultivo da alface é realizado, normal- das folhas, causando o colapso e necrose
quisa e extensão, que deverão ser corrigi-
mente, próximo aos grandes centros urba- dos tecidos. Um crescimento intenso, não
dos por coeficientes de cultura (kc) de-
nos e industriais, com graves problemas acompanhado pela absorção do cálcio,
terminados previamente pela pesquisa
de contaminação hídrica por coliformes pode favorecer a manifestação do sintoma
(Carrijo et al., 1999).
fecais e metais pesados. especialmente em folhas jovens. Ocorre
Na cultura da alface, a irrigação varia
Dentre as doenças destacam-se as se- facilmente em cultivos sob grande inten-
em função da estação de cultivo. Nos me-
guintes: sidade e exposição a luz, com alta umidade
ses ou locais em que ocorrem temperaturas
a) podridão de esclerotínia ou basal e temperatura ambiental. É importante
elevadas (verão), a irrigação além de atender
(Sclerotinia sclerotiorum De Bary): destacar a existência de cultivares resis-
às necessidades hídricas da cultura, tem o
causa tombamento de mudas em tentes ao tipbum, dentre estas Crespa
objetivo de exercer função termorregu-
sementeiras, ou a podridão e mur- Repolhuda, Elba, Grand Rapids TBR e
ladora da superfície das plantas, baixando
cha total da planta adulta. Ocorre Hanson.
a temperatura do ambiente e, evitando
sob umidade relativa no ar elevada
queimaduras nas folhas, principalmente
e temperaturas favoravelmente COLHEITA E COMERCIALIZAÇÃO
nas horas mais quentes do dia. Assim,
baixas;
sugere-se irrigar com microaspersores e O momento propício à colheita se dá
adotar práticas de sombreamento da cul- b) queima da saia (Rhizoctonia solani): quando a planta atinge o seu máximo
tura, utilizando telas de sombreamento as folhas mais próximas do solo desenvolvimento e as folhas ainda estão
(50%) ou a caiação do polietileno, a fim apresentam lesões necróticas nas tenras e não há início de florescimento. A
de evitar o excesso de calor e de lumino- nervuras e no pecíolo, evoluindo determinação do ponto de colheita não é
sidade, que induzem à emissão do pen- para uma necrose escura do limbo e tão simples, uma vez que o tamanho da
dão floral. Nas demais condições é reco- posterior queima total das folhas planta varia conforme a estação do ano.
mendado o fornecimento de água por mais velhas. Temperaturas amenas No verão, colhe-se com menor tamanho,
gotejamento. e baixas, associadas com alta umi- pois o ciclo da planta é encurtado devido

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62 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

às altas temperaturas e maior comprimento sendo uma alternativa promissora para os Federal de Santa Maria, 1990.
do dia. Evita-se assim o gosto amargo que olericultores das mais diversas regiões do BORTWICK, H.A.; ROBBINS, W.W. Lettuce
antecede o pendoamento, muito comum país, especialmente devido à relativa seed and its germination. Hilgardia,
nesta estação. simplicidade de seu manejo e ampla gama Berkeley, v.3, p. 275-304, 1928.

O olericultor tradicional ainda comer- de cultivares que podem ser cultivadas em BRUNINI, O.; LISBÃO, R.S.; BERNARDI, J.B.;
todas as estações do ano. FORNASIER, J.B.; PEDRO JÚNIOR, M.J.
cializa seu produto por intermédio das
Temperatura-base para alface, cultivar
Centrais de Abastecimentos (Ceasas), em É importante, entretanto, que o agri-
“White Boston”, em um sistema de unidades
caixas de madeira com capacidade para 18 cultor escolha de forma adequada o material térmicas. Bragantia, Campinas, v.35, n.19,
a 20 plantas, conhecidas como tipo K, a ser cultivado, pois diferenças contras- p.213-219, jul. 1976.
padronizadas pelo Ministério da Agri- tantes quanto ao ciclo, rendimento, resis- BURIOL, G.A.; SCHNEIDER, F.M.; ESTEFANEL,
cultura e Abastecimento (MA). Em São tência ao frio, tolerância ao calor, dentre V.; ANDRIOLO, J.L.; MEDEIROS, S.L.P.
Paulo (Entreposto Terminal), a alface é co- outras, mesmo em ambiente protegido, Modificação da temperatura mínima do ar
mercializada em engradados de 12kg, mui- definem o sucesso da produção. Quanto causada por estufas de polietileno transparente
de baixa densidade. Revista Brasileira de
to embora também sejam utilizadas caixas ao sistema de produção de mudas, estudos
Agrometeorologia, Santa Maria, v.1, n.1,
“R” com capacidade para 4kg do produto mais aprofundados sobre melhores fontes p.43-49, 1993a.
(Goto, 1998). e combinações de substratos devem ser
BURIOL, G.A.; SCHNEIDER, F.M.; STRECK,
Muitos olericultores destacam a maior desenvolvidos. N.A.; MEDEIROS, S.L.P. Modificação
qualidade do produto obtido sob cultivo Tendo em vista as novas demandas do ambiental causada por túneis baixos de po-
protegido, comercializando as alfaces de- mercado consumidor por produtos de me- lietileno transparente perfurado cultivados
pois de limpas, embaladas individualmente lhor qualidade visual e isentos de resíduos, com alface. Ciência Rural, Santa Maria,
v.23, n.3, p.261-266, set./dez. 1993b.
em filmes plásticos e com rótulos de pro- a utilização de fertilizantes orgânicos pode
cedência, em redes de supermercados e reduzir as quantidades de fertilizantes CAMACHO, C.M.J. Avaliação de parâmetros
meteorológicos em estufas plásticas na
casas especializadas. minerais aplicadas na produção de alface,
região de Pelotas. Pelotas: UFPel, 1994.
Devido às pressões de mercado, a co- constituindo-se numa importante ferra- 56p. Dissertação (Mestrado) - Universidade
mercialização de hortaliças vem passando menta de trabalho. Todas estas questões Federal de Pelotas, 1994.
por rápidas e grandes modificações, di- assumem relevância especialmente no CARRIJO, O.A.; MAROUELLI, W.A.; SILVA,
recionando-se para uma agricultura de cultivo da alface em ambientes protegidos, H.R.da. Manejo da água do solo na produção
contrato, na qual estão estabelecidas regras devido à possibilidade de monitoramento de hortaliças em cultivo protegido. Informe
de compra e venda, em que o olericultor é e ao controle de diversos parâmetros agro- Agropecuário, Belo Horizonte, v.20, n.200/
climáticos, o que permite melhorar a efi- 201, p.45-51, set./dez. 1999.
obrigado a produzir o que já está vendido.
Estas questões estão determinando as ciência do balanço de energia para as plan- CASTELLANE, P.D.; SILVA, E.J. da; MARTINS,
L.R. Aplicação de uréia via foliar em alface
oportunidades de mercado. tas e, conseqüentemente, minimizar seus
“Grand Rapids”, 1984. Horticultura Bra-
níveis de estresse. sileira, Brasília, v.4, n.2, p.35, nov. 1986.
ASPECTOS ECONÔMICOS
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400m2 requer um investimento inicial de Santa Maria: Santa Maria, 1996. 96p.
FERNANDES, P.D.; OLIVEIRA, G.D., HAAG,
cerca de R$ 2.100,00. Estes autores estimam BARROS, I.B.I. de. Efeito da adubação
H.P. Absorção de macronutrientes pela cultura
que, para uma capacidade máxima anual nitrogenada, foliar e no solo e da adu-
de alface. In: HAAG, H.P.; MINAMI, K. (Ed.).
de produção de 29.120 plantas, o custo bação foliar de molibdênio em alface
Nutrição mineral de hortaliças. Cam-
(Lactuca sativa L.). Viçosa: UFV, 1979. 43p.
fixo será de aproximadamente, R$ 1.930,00 pinas: Fundação Cargill, 1981. p.143-151.
Dissertação (Mestrado em Fitotecnia) -
e o custo variável será de R$ 1.660,00. Nes- Universidade Federal de Viçosa, 1979. FILGUEIRA, F.A.F. Manual de olericultura:
te caso, o custo total médio por planta cultura e comercialização de hortaliças. São
BARUM, A. O.; GOMES, E. M.; FRANCHINI,
se ria de R$ 0,123. O componente dos cus- Paulo: Agronômica Ceres, 1982. 357p.
D.; BORGES, M. A. Aspectos mercado-
tos mais expressivo é a mão-de-obra re- lógicos de produtos da agricultura FOLTRAN, D.E.; CASTELLANE, P.D.;
presentada por três empregados em tempo familiar. Pelotas: UFPel, 1998. 130p. FERREIRA, M.E. Efeitos de adubações de NP,
parcial. (NEA/UFPel. Comunicado Técnico). NK e PK na cultura de alface em solo com
fertilidade elevada. Horticultura Bra-
BECKER, A.F. Consumo de água e coefi-
sileira, Brasília, v.35, n.1, p.56, maio 1987.
CONSIDERAÇÕES FINAIS ciente de cultura, de duas cultivares de
alface (Lactuca sativa L.) cultivada em GARCIA, L.L.C.; HAAG, H.P.; MINAMI, K.;
Pelo exposto, é evidente que o cultivo Santa Maria. Santa Maria: UFSM, 1990. SARRUGE, J.R. Nutrição mineral de hortali-
de alface em ambiente protegido continuará 51p. Dissertação (Mestrado) - Universidade ças - XI: concentração e acúmulo de micro-

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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 63

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p.173-180, 1992. UFLA, 1994. 22p. (UFLA. Circular, 17).
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Piracicaba: ESALQ, 1986. 129p. Dissertação ral, Santa Maria, v.24, n.2, p.235-240, maio/
(Mestrado) - Escola Superior de Agricultura ago. 1994.

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64 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

Cultivo de hortaliças de frutos em solo em ambiente protegido


José Usan Torres Brandão Filho 1
Osni Callegari 2

Resumo - Algumas opções de hortaliças de frutos que podem ser culti-


vadas em ambiente protegido com perspectivas bastante promissoras
são abordadas. Além de culturas clássicas como o tomate, o pepino e o
pimentão que são, possivelmente, as hortaliças mais utilizadas neste
tipo de cultivo, considerou-se, ainda, o melão, pela grande procura e
perspectiva de retorno que vem adquirindo, a abobrinha de moita e o
feijão-vagem, por acreditar serem culturas de grande potencial em de-
terminadas épocas do ano e locais. Vale lembrar que poderiam ter sido
enfocadas outras hortaliças de frutos, como por exemplo a berinjela e a
melancia, que poderão vir a se tornar importantes neste tipo de explo-
ração.
Palavras-chave: Solanáceas; Curcubitáceas; Cultivo protegido.

INTRODUÇÃO Quanto à primeira pergunta, esta deve liças de frutos, têm-se como principais: o
ser entendida como todo o processo de tomate, o melão, o pepino, o pimentão, a
O cultivo protegido, por se tratar de um comercialização, pois é de fundamental abobrinha de moita e o feijão-vagem.
sistema que apresenta como principais importância uma pesquisa minuciosa de
vantagens a obtenção de colheita fora da mercado, a fim de se determinarem quais as TOMATE
época normal, a precocidade, o aumento preferências do consumidor, qual o volume
da produtividade e a melhoria da qualidade, a ser produzido, para quem vender. Com o Devido à dificuldade de produção do
é uma ferramenta que pode trazer grandes mercado indicando ou sugerindo o que tomate em algumas épocas do ano, prin-
benefícios, principalmente aos pequenos plantar, devem-se então concentrar esfor- cipalmente durante o verão chuvoso e no
e médios produtores. Caracteriza-se pela ços no sentido de conseguir os melhores inverno, o seu cultivo em ambiente prote-
intensidade em todos os aspectos, desde resultados na produção. gido vem crescendo rapidamente, tornan-
a necessidade de insumos e mão-de-obra, Para se obterem as melhores respostas, do-se a principal hortaliça, também neste
até a possibilidade de retorno econômico. é imprescindível conhecer muito bem as tipo de cultivo no Brasil (Martins, 1992).
Tem-se observado aumento consi- condições básicas necessárias para que a
derável da utilização do cultivo protegido planta tenha um bom crescimento e desen- Temperatura
em todo o território brasileiro. Entretanto, volvimento (Goto, 1995). O rendimento e a O tomateiro, normalmente, não tolera
vários são os casos de insucesso, levando qualidade de uma cultura dependem ba- temperaturas extremas, entretanto a tolerân-
muitos a abandonar a atividade após algum sicamente do germoplasma, do solo, do cia depende da cultivar, pois existem culti-
tempo. clima e do próprio homem, sendo então de vares muito mais tolerantes que outras.
Algumas causas poderiam ser respon- fundamental importância a compreensão de Em cada fase do ciclo do tomateiro,
sáveis por esse fato lamentável, mas de ma- cada um desses fatores e de suas inter- existe uma temperatura considerada ótima,
neira geral o grande problema está na falta relações (Brandão Filho & Vasconcelos, mas, de maneira geral, temperaturas diurnas
de um planejamento adequado de que a 1998). Assim, torna-se muito importante um entre 25 e 30oC e noturnas entre 15 e 20oC
atividade necessita, levando-se em conside- conhecimento do manejo do ambiente prote- são consideradas como favoráveis para
ração os aspectos comerciais e fitotécnicos. gido e das necessidades da espécie vegetal seu bom desenvolvimento e produção.
Desta forma, antes da tomada de decisão da escolhida, a fim de se obterem os melhores Quando o tomateiro é exposto a tempera-
utilização ou não do cultivo protegido, duas resultados. turas extremas, ele apresenta baixa produti-
perguntas devem ser respondidas: O que Várias são as opções de culturas para vidade e qualidade de frutos (Minami &
plantar? Como produzir? ambientes protegidos e, dentre as horta- Haag, 1989, Goto, 1995 e Reghin, 1996).

1
Engo Agro, M.Sc., Prof. Assist. Universidade Estadual de Maringá - Depto Agronomia, Av. Colombo 5.790, CEP 87020-900 Maringá-PR.
2
Engo Agro, M.Sc., Pesq. Universidade Estadual de Maringá - Depto Agronomia, Av. Colombo 5.790, CEP 87020-900 Maringá-PR.

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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 65

Umidade Colheita veis de tensão de água no solo que variam


A umidade relativa do ar considerada O ponto ideal de colheita é aquele em de 0,3 a 0,6bar numa profundidade de 30cm
ideal durante a fase de crescimento vege- que o fruto encontra-se em seu maior tama- (Fonseca, 1994).
tativo do tomateiro é de 50 a 70%. No solo, nho e antes de ter atingido a coloração
considera-se a faixa ótima de disponi- desejada. Uma boa técnica para se determi- Florescimento
bilidade de água, aquela situada entre 0,2 e nar este ponto é o corte do fruto. Se ao rea- A floração do meloeiro se inicia, normal-
0,8bar, mantendo-se entre 60 a 70% da lizar este corte as sementes nada sofrerem, mente, pelo aparecimento da flor masculina,
capacidade de campo. Segundo Lopes & este é o ponto ideal. Para os tomates “longa duas a três semanas antes da flor feminina
Stripari (1998), para a manutenção da umi- vida”, recomenda-se a colheita quando os ou hermafrodita. As flores masculinas lo-
dade do solo no nível ótimo, devem-se adi- frutos já estiverem vermelhos. calizam-se no ramo principal, enquanto que
cionar menores quantidades de água a as flores hermafroditas localizam-se nos
cada irrigação e reduzir o intervalo de tempo MELÃO ramos secundários.
entre uma irrigação e outra. A polinização pode ser aberta, sendo
Por ser um fruto com características as abelhas os principais agentes polinizado-
Cultivares e híbridos particulares, o melão tornou-se uma opção res. Contudo, em alguns casos, é recomen-
Em ambientes protegidos, têm-se utili- bastante procurada pelos produtores que dável a polinização manual, tratando-se de
zado cultivares e híbridos dos grupos santa empregam o sistema de cultivo em ambiente uma técnica simples e de bom aproveita-
cruz, caqui e cereja, a saber: do grupo santa protegido, utilizando, neste, cultivares di- mento. Após a polinização, deve-se marcar
cruz - Débora Plus, Bruna VF, Jumbo AG ferentes daquelas cultivadas na região Nor- a flor polinizada com uma fita colorida, para
592, Concord AG 595; do grupo caqui ou deste do Brasil, como a ‘Valenciano amare- se controlar a data de polinização.
salada - Carmen, Colorado, Parador, AG lo’ (Brandão Filho & Vasconcellos, 1998).
233, Barão Vermelho AG 561, Donador; do Em ambientes protegidos, são produzidos Frutificação
grupo cereja - Sweet Million, Mountais melões que apresentam vantagens como: No melão, o estádio de crescimento
Belle, Sweet Gold. sem concorrência no mercado; frutos com compreende os primeiros 25 dias, enquanto
excelente aspecto visual e grande teor de que a maturação e o amadurecimento duram
Condução da cultura sólidos solúveis (sabor); excelente cotação cerca de mais 29 dias (Suzuki & Nonaka,
no mercado, podendo, por isso, ser cultiva- 1990). Isto significa que, aos 25 dias após a
O transplante para o local definitivo
dos em pequenas áreas com boa lucra- polinização, já se tem o fruto praticamente
deve ser feito quando as mudas apresen-
tarem quatro a cinco folhas definitivas. O tividade. Algumas cultivares de melão formado com relação ao tamanho e peso,
espaçamento a ser utilizado vai depender utilizadas neste sistema de cultivo são Bo- entretanto este apresenta baixo valor de
da cultivar/híbrido e do sistema de condu- nus, Louis, Nero e Sun Rise. graus Brix.
ção, variando de 70 a 110cm entre as linhas
Temperatura Condução da cultura
e de 30 a 70cm entre as plantas.
O tomateiro pode ser conduzido com De maneira geral, o crescimento vegeta- O transplante para o local definitivo
uma, duas ou três hastes. Na condução com tivo do meloeiro é prejudicado por tempera- deve ser feito quando as mudas apresenta-
uma haste, deixa-se somente a principal, turas do ar inferiores a 13oC e superiores a rem duas a três folhas definitivas. O plantio
retirando-se todas as brotações laterais, 40oC, sendo a faixa de 25 a 32oC considerada pode ser feito em linhas duplas com espaça-
sendo esta a condução mais comum entre como ótima para o seu desenvolvimento mento de 70 a 90cm entre as linhas x 100 a
os produtores. Na condução com duas ou vegetativo. 120cm entre as linhas duplas x 40 a 50cm
três hastes, deixa-se desenvolver a primeira entre as plantas.
ou as duas primeiras brotações laterais, con- Umidade e aeração O sistema de condução das plantas é o
duzindo-as com a haste principal, formando A umidade relativa do ar considerada tutorado vertical, podendo ser usado como
uma planta com duas ou três hastes produ- ideal durante a fase de crescimento vegeta- tutor a rede agrícola ou o fitilho na vertical,
tivas e um sistema radicular. Neste caso, o tivo do meloeiro é de 65 a 75%. que deve ser amarrado em três arames colo-
espaçamento a ser utilizado deve ser maior, A água em excesso no solo altera pro- cados em paralelo na horizontal a 20, 120 e
conforme o número de hastes a ser con- cessos químicos e biológicos, limita a quan- 200cm do solo.
duzido. tidade de oxigênio e acelera a formação de A planta deve ser conduzida com haste
Tratos culturais como tutoramento (uti- compostos tóxicos na raiz. Por outro lado, única, retirando-se todos os brotos até o
lização de fitas e arames para a condução a deficiência hídrica pode-se tornar a princi- 10o ou 12o entrenó. No 12o, 13o e 14o en-
vertical das plantas), desbrota (eliminação pal causa de decréscimo da produtividade. trenós, devem ser deixadas as hastes se-
das brotações das axilas das folhas durante O teor de água ideal no solo varia de cundárias, pois nestas surgirão as flores
toda a fase de crescimento) e desbaste de acordo com uma série de fatores, principal- hermafroditas (futuros frutos). O procedi-
frutos (seleção e eliminação dos frutos em mente, com o estádio de desenvolvimento mento a ser realizado nestas três ou quatro
excesso quando estes atingem cerca de da cultura. O uso de tensiômetros é o mais hastes secundárias deve ser o de retirar to-
2,0cm de diâmetro) são necessários para indicado para o controle do teor de umidade dos os brotos que surgirem e fazer a capa-
boa condução e manejo da cultura. do solo, e o manejo pode ser realizado a ní- ção, deixando-se uma folha após o fruto,
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66 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

que deve estar o mais próximo possível da


haste principal. Polinizar a primeira ou
segunda flor hermafrodita. Nos próximos
entrenós, continua-se a retirar todos os
brotos até o 20o entrenó. No 21o, 22o e 23o
entrenós, deixar crescer as hastes secun-
dárias e fazer a capação da planta. Nestas
hastes secundárias, deixar crescer uma
nova brotação em cada uma delas (hastes
terciárias). Uma folha após o surgimento
da haste terciária, fazer a capação da haste
secundária, deixando-se as hastes terciá-
rias crescer livremente (Fig. 1). Quando os
frutos estiverem do tamanho de uma bo-
linha de tênis de mesa (mais ou menos 3cm
de diâmetro), realizar o desbaste, deixando
um ou dois frutos por planta.

Colheita
O conhecimento do ponto ideal de co-
lheita do melão é de fundamental impor-
tância, pois os frutos somente apresentarão
qualidade elevada quando colhidos no
momento exato. Caso a colheita ocorra an-
tes do tempo ideal, o fruto, embora possa
apresentar boa aparência, terá sua quali- Figura 1 - Esquema da condução do meloeiro
dade interna bastante prejudicada, princi- FONTE: Brandão Filho & Vasconcellos (1998).
palmente em relação ao teor de sólidos
solúveis (oBrix), apresentando-se pratica-
mente sem sabor. Por ser difícil a determina- próximas de 30oC durante o dia e 20oC plantas são de crescimento indeter-
ção do ponto de colheita, recomenda-se durante a noite como sendo ideais para o minado e ginóicas, e seus frutos são
marcar a data de polinização, determinando desenvolvimento da cultura. de coloração verde-clara, com di-
a data de colheita de acordo com o número mensões de 12 a 15cm de compri-
de dias necessários para o pleno desen- Umidade e aeração mento e 4 a 5cm de diâmetro e de
volvimento e maturação do fruto. A umidade relativa do ar ótima para a casca lisa com espinhos brancos.
cultura é de 70 a 90%. Como praticamente Dentre os cultivares/híbridos mais
PEPINO toda cucurbitácea, o pepino é extremamente cultivados estão Safira, Caipira,
exigente em aeração do solo, o que torna Guarani;
É considerada a segunda hortaliça mais
ainda mais importante o bom manejo da
importante, cultivada sob ambiente prote- b) pepino japonês: assim são conhe-
água no solo, evitando encharcamentos e
gido (López, 1995, citado por Cañizares, cidos os pepinos plantados quase
conseqüente falta de oxigênio, bem como
1998). que exclusivamente em ambiente
a deficiência hídrica, que pode levar a gran-
Em ambiente protegido, o pepino apre- protegido e apresentam as seguin-
des perdas na produtividade.
senta melhor qualidade e maior produti- tes características: são plantas com
O uso de tensiômetros é de funda-
vidade em relação ao produzido em campo hábito de crescimento indetermi-
mental importância para o monitoramento
aberto. Em função disso, esta cultura nado, monóicas ou ginóicas parte-
da umidade do solo, devendo a tensão de
passou a ser uma excelente opção para o nocárpicas, com frutos de coloração
água no solo ser mantida entre 0,1 e 0,2bar,
cultivo protegido em períodos de menor verde-escura brilhante, com dimen-
próxima à capacidade de campo (Cañizares,
oferta (maio a setembro) e na obtenção de sões de 20 a 23cm de comprimento
1998).
preços mais elevados devido à melhor e 2 a 2,5cm de diâmetro, que podem
qualidade dos frutos. ser consumidos com casca. Dentre
Cultivares e híbridos
as cultivares e híbridos mais cultiva-
Temperatura Para o cultivo protegido têm-se basi-
dos estão Nikkey, Hokuhoo, Rensei
camente dois tipos de pepinos:
O pepino é exigente em temperaturas e Yoshinari. Dentro deste tipo, po-
elevadas, para o seu bom desenvolvimen- a) pepino caipira: trata-se sem dúvida dem-se colocar também as cultivares
to, não tolerando temperaturas inferiores a do tipo mais comum, sendo muito conhecidas como holandesas (pepi-
12oC. Podem-se considerar temperaturas utilizado no cultivo a céu aberto. As no holandês), que são de cresci-
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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 67

mento indeterminado, ginóicas par- paradas a 40 a 60t/ha normalmente obtidas Recomenda-se, também, retirar a primeira
tenocárpicas, com frutos de colora- ao ar livre. Acrescenta-se a isso a melhor flor que surge nesta primeira bifurcação, a
ção verde-escura com 16 a 18cm de qualidade dos frutos, devido à maior pro- fim de se conseguirem maior produção e
comprimento e 2 a 4cm de diâmetro. teção destes contra ataques de insetos, qualidade dos futuros frutos.
Alguns híbridos recomendados queimadura do sol e chuvas pesadas, que Após determinar quantas hastes vão
para cultivo protegido são Janeen e propiciam a obtenção de frutos maiores. ser conduzidas, devem-se retirar periodi-
Hatem. camente as brotações que, por ventura,
Temperatura estejam direcionadas para a parte interna
Condução da cultura De modo geral, considera-se como tem- da planta.
O transplante das mudas deve ser feito peratura ótima, para o bom desenvolvi-
quando estas apresentarem de quatro a seis mento e produção do pimentão, a faixa de Colheita
folhas definitivas, num espaçamento de 100 20 a 30oC durante o dia e, de 15 a 20oC duran- Inicia-se cerca de 80 a 100 dias após o
x 50cm. te a noite, devendo-se evitar temperaturas transplante, devendo ser realizada quando
A planta deve ser conduzida tutorada inferiores a 10oC e superiores a 35oC. os frutos apresentarem o máximo de desen-
através do sistema de rede agrícola ou de volvimento (com duas a três semanas de
fitilho na vertical. Para tal, recomendam-se Umidade idade), isto para a comercialização do fruto
estender dois fios de arame na horizontal, A umidade relativa do ar ideal está com- verde. No caso da comercialização de fru-
o primeiro a 15cm e o segundo a 200cm do preendida na faixa de 50 a 70%. Segundo tos maduros, estes devem ser colhidos
nível do solo, com fitilhos na vertical por Tivelli (1998), a cultura do pimentão é muito quando apresentarem, em média, 50% de
onde as plantas serão tutoradas. sensível tanto à falta de água no solo como sua superfície madura (com seis a sete se-
a seu excesso. Durante o cultivo, o solo manas de idade).
Colheita deve ser mantido entre 70 e 80% da
A colheita inicia-se, normalmente, 40 a capacidade de campo. ABOBRINHA-DE-MOITA
45 dias após o transplante, prolongando-
Cultivares e híbridos As abóboras normalmente apresentam
se por aproximadamente 100 dias. Deve ser
épocas em que o preço torna-se bastante
realizada diariamente ou em dias alternados, No momento da escolha da cultivar/
compensador, em decorrência da pequena
evitando-se deixar o fruto crescer além do híbrido de pimentão para plantio, deve-se
oferta em alguns períodos do ano (junho a
seu tamanho normal, pois isto pode acarre- levar em conta o formato do fruto que se
setembro e janeiro a fevereiro). A abobrinha
tar problemas como a diminuição da produ- deseja (cônico, quadrado ou retangular) e
de moita distingue-se das demais abóboras,
tividade, o aumento do número de frutos a coloração (verde, vermelha, amarela, ala-
pelo fato de suas hastes serem muito curtas
tortos, dentre outros. ranjada, creme ou roxa). Têm-se, portanto,
e relativamente grossas, facilitando, seu cul-
várias opções que devem ser determinadas
pelo mercado que se pretende atender. tivo em ambiente protegido. Dessa forma,
Enxertia
Podem ser utlizados híbridos como: conseguem-se contornar os dois principais
Trata-se de uma técnica que vem ga- problemas na sua produção convencional:
nhando espaço dia-a-dia entre os melhores Acuário, Admiral, Amanda, Cardinal, Elisa,
Lilac, Luis, Magali, Marengo, Melody, baixas temperaturas e excesso de chuvas.
produtores de pepino do cinturão verde
de São Paulo. Consiste em enxertar o pepi- Orange Wonder, Safari, Zarco.
Temperatura
no em uma cultivar de abóbora (Cucurbita
Condução da cultura Abóboras não toleram temperaturas
maxima, Cucurbita moschata ou um híbri-
O transplante deve ser feito quando as baixas, entretanto, as muito elevadas são
do delas), obtendo-se, com isto, plantas
mudas estiverem com quatro a cinco folhas também desfavoráveis, podendo acarretar
com maior resistência a doenças de solo e
definitivas. sérios problemas. De modo geral, tempe-
a temperaturas extremas e frutos com um
O espaçamento a ser utilizado vai de- raturas em torno de 25oC são consideradas
brilho especial, devido à perda de sua cero-
pender da condução a ser seguida. Segun- ideais.
sidade natural (Tsambanakis, 1984 e Cañiza-
res, 1996). As cultivares de pepino tipo do Tivelli (1998), para a condução em V ou
em espaldeira simples, recomenda-se a con- Cultivares e híbridos
japonês Ikky, Excit Ikky e Strong Ikky têm
sido as mais utilizadas atualmente. dução em linhas simples, com espaçamento Apesar de não existirem cultivares es-
de 100 a 150cm x 30 a 50cm. Para a condução pecíficas para o cultivo em ambiente prote-
em espaldeira dupla, recomenda-se a con- gido, tem-se observado que os agricultores
PIMENTÃO
dução em linhas duplas, com espaça- que utilizam as cultivares convencionais
O pimentão é uma das culturas mais mentos de 60cm entre as linhas x 120cm existentes no mercado, têm obtido boas
indicadas para ser utilizada em ambiente entre as linhas duplas x 20 a 50cm entre as produtividades e qualidade de fruto. Para
protegido (Takazaki, 1991), pela grande pro- plantas. tanto, são necessários alguns cuidados
dutividade que pode ser alcançada nestas Um trato cultural fundamental é a des- especiais com a polinização, especialmente
condições, que, segundo Serrano Cermeño brota, que deve ser realizada de todos os no que se refere a uma boa população de
(1990), pode variar de 80 a 150t/ha, com- brotos laterais até a primeira bifurcação. abelhas ou à polinização manual. Dentre
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68 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

as principais cultivares e híbridos utilizados teiros de 110cm de largura, 60cm entre as frutificação sobre a qualidade dos frutos
têm-se Alba, Atlanta, Bianca, Caserta, Cla- linhas simples e 70cm entre as plantas. de melão rendilhado, Cucumis melo
ra, Clarinda, Novita, Golden Dawn e Gold Deve-se realizar um desbaste, a fim de reticulatus Naud., híbrido Cosmo.
Rush. se conseguir o espaçamento desejado en- Botucatu: UNESP-FCA, 1994. 74p.
tre as plantas, deixando-se apenas uma Dissertação (Mestrado) - Faculdade de
Condução da cultura planta por cova. Como são plantas na gran- Ciências Agronômicas, Universidade
de maioria de crescimento indeterminado, Estadual Paulista, 1994.
As mudas devem ser transplantadas
quando estas apresentarem com duas a a condução vertical através de tutoramento GOTO, R. Manejo nutricional no cultivo de
três folhas verdadeiras. com fitilho e arame torna-se imprescindível. hortaliças em estufas. In: ENCONTRO DE
Segundo Cardoso (1998), existem di- HORTALIÇAS, 9; ENCONTRO DE
versas opções de espaçamento, sendo as Colheita PLASTICULTURA DA REGIÃO SUL, 6,
Deve ser realizada em dias alternados, 1994, Maringá. Palestras e trabalhos...
principais: canteiros de 90cm de largura com
iniciando-se, aproximadamente 50 a 70 dias Maringá: Universidade Estadual de Maringá.
uma linha por canteiro e espaçamento de
1995. p.11-18.
60cm entre as plantas; plantio em linhas após a semeadura, estendendo-se por cerca
duplas em canteiros de 110cm de largura, de 60 dias. LOPES, M.C.; STRIPARI, P.C. A cultura do
com 60cm entre as linhas e 80cm entre as As cultivares indicadas são tipo ma- tomateiro. In: GOTO, R. TIVELLI, S.W.
plantas. carrão - Andra, Brasília, Favorito, Itatiba, (Org.). Produção de hortaliças em am-
Preferido, dentre outras; tipo manteiga - biente protegido: condições subtropicais.
Colheita Alessa, Estrela, Atibaia, Senhorita. São Paulo: FUNEP, 1998. p.257-304.

Os frutos no ponto de colheita, normal- MARTINS, G. Uso de casa de vegetação com


mente, apresentam cerca de 200 a 250g e 18 CONSIDERAÇÕES FINAIS cobertura plástica na tomaticultura de
a 20cm de comprimento. A colheita inicia- verão. Jaboticabal: UNESP-FCAV, 1992.
O cultivo protegido consiste de uma 65p. Tese (Doutorado) - Faculdade de
se com aproximadamente 30 dias após o técnica que exige dedicação e conhe- Ciências Agrárias e Veterinárias,
transplante, podendo prolongar-se por 60 cimento por parte de quem pretende utilizá- Universidade Estadual Paulista, 1992.
a 70 dias. A colheita deve ser feita diaria- la. Constitui-se, em uma ferramenta que
mente ou em dias alternados. MINAMI, K.; HAAG, H.P. O tomateiro. 2.ed.
pode trazer importantes retornos econô-
Campinas: Fundação Cargill, 1989. 397p.
micos. No entanto, é necessário estudar o
FEIJÃO-VAGEM mercado que se pretende atingir e a cultura REGHIN, M.Y. Fisiologia do
que se pretende trabalhar, para que isso desenvolvimento das hortaliças em
Apresenta-se como uma adaptação do ambiente protegido. Botucatu: UNESP-
feijão-comum, com variedades próprias ao ocorra.
FCA, 1996. 14p. Mimeografado.
consumo como hortaliças, em que a parte
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SERRANO CERMEÑO, Z. Controle da
comestível é constituída pela vagem com
atmosfera da estufa. In: ESTUFAS:
os grãos ainda tenros e imaturos.
BRANDÃO FILHO, J.U.T.; VASCON- instalações e manejo. Lisboa: Litexa, 1990.
CELLOS, M.A.S. A cultura do meloeiro. Cap.11, p.283-301.
Temperatura
In: GOTO, R.; TIVELLI, S.W. (Org.). SUZUKI, E.; NONAKA, T. Crescimento do
É uma espécie muito sensível ao frio e Produção de hortaliças em ambiente fruto e formação do melão rendilhado. In:
geadas, ocorrendo desta forma uma eleva- protegido: condições subtropicais. São ENCICLOPÉDIA de horticultura. 4.ed.
ção dos preços em determinadas épocas Paulo: FUNEP, 1998. p.161-193. Tokyo: Nossangyo Bunkakyokai, 1990.
do ano. Temperaturas extremas podem pro- CAÑIZARES, K.A.L. A cultura do pepino. In: v.4, p.87-114.
vocar diversos distúrbios, principalmente GOTO, R.; TIVELLI, S.W. (Org.). TAKAZAKI, P.E. Produção de sementes
abortamento de flores e de frutos ainda Produção de hortaliças em ambiente adaptadas ao ambiente protegido. In:
jovens. Desta forma, um bom manejo do protegido: condições subtropicais. São SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE PLAS-
ambiente faz-se necessário. De maneira Paulo: FUNEP, 1998. p.195-223. TICULTURA, 1, 1989, Jaboticabal.
geral, temperaturas na faixa de 20 a 30ºC CAÑIZARES, K.A.L.; IOZI, R.N.; STRIPARI, Anais... Plasticultura. 2.ed. Jaboticabal:
são consideradas favoráveis ao bom P.C.; GOTO, R. Enxertado, japonês fica FUNEP, 1991. p.63-70.
desenvolvimento e produção do feijão- mais brilhante. Agrianual 97. Anuário
TIVELLI, S.W. A cultura do pimentão. In:
vagem. Estatístico Agrícola Brasileiro, São Paulo,
GOTO, R.; TIVELLI, S.W. (Org.). Produ-
p.332-333, 1996.
ção de hortaliças em ambiente pro-
Condução da cultura
CARDOSO, A.I.I. A cultura da abobrinha de tegido: condições subtropicais. São Paulo:
A semeadura deve ser realizada direta- moita. In: GOTO, R.; TIVELLI, S.W. FUNEP, 1998. p.225-256.
mente nos canteiros, em sulcos com apro- (Org.). Produção de hortaliças em am-
TSAMBANAKIS, J. Grafting cucumber
ximadamente 2cm de profundidade. Pode- biente protegido: condições subtropicais.
hybrids on the rootstock Cucurbita ficifolia.
se fazer o plantio em linhas simples em São Paulo: FUNEP, 1998. p.105-135.
In: CONFERENCE ON PROTECTED
canteiros de 90cm de largura e 50cm entre FONSECA, I.C.B. Efeito de três níveis de VEGETABLES AND FLOWERS, 3, 1984,
as plantas, ou em linhas duplas em can- água em dois períodos do estádio de Heraklion. Abstracts... Heraklion, 1984.
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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 69

Cultivo de hortaliças de flores


em ambiente protegido
Rumy Goto 1
Paulo César Costa 2

Resumo - Considerações acerca do crescimento e desenvolvimento das hortaliças de


flores em ambiente protegido, são feitas. Discute-se o aspecto fisiológico da cultura,
para adequar o seu cultivo neste tipo de sistema de produção. O planejamento e a
visão econômica precisam ser considerados, tendo em vista a área ocupada pela
planta ser relativamente grande nestas culturas. O ambiente que se forma dentro das
estruturas de proteção, como elevação da temperatura em algumas horas do dia,
poderia interferir na fisiologia das plantas, resultando em produtos de menor valor
comercial. Para tanto, o ideal é um estudo regionalizado para se avaliar, tanto técni-
ca como economicamente, a viabilidade da sua exploração. Por outro lado, cultivar
estas espécies no sistema hidropônico é uma questão muito mais difícil por não
existirem ainda soluções testadas que possam atender às plantas nos estádios que
definem a formação das flores.

Palavras-chave: Couve-flor; Couve-brócolos; Brássicas.

INTRODUÇÃO comportamento da sazonalidade de preços de menor preço (junho/julho e setembro/


dessas duas hortaliças, que entram em de- outubro), este fica em torno de US$ 0,50/kg,
As hortaliças de flores com maior ex-
clínio a partir de meados de fevereiro para enquanto que nas épocas de maior preço
pressão econômica são da família Bras-
março, sofrendo algumas oscilações entre (janeiro/fevereiro), atinge um máximo apro-
sicacea e dentre estas as mais importantes
julho e outubro e voltando a ter uma eleva- ximado de US$ 1,00/kg.
são a couve-flor e a couve-brócolos.
ção a partir de novembro. Diante disso, é necessário muita refle-
No Brasil, com a introdução da tecno-
É importante ressaltar que nas épocas xão para saber se realmente vale a pena
logia de cultivo de hortaliças em ambiente
protegido há aproximadamente 15 anos
(Goto, 1997), têm sido cultivadas princi-
palmente as hortaliças do grupo de frutos Sazonalidade dos preços de couve-flor
(solanáceas e cucurbitáceas), além de algu-
mas folhosas e condimentares. Apenas al- 1,00

guns produtores, em pequena escala, têm 0,90

0,80
experimentado produzir outras hortaliças,
US$/kg

0,70
dentre elas, as brássicas.
0,60
Antes de discutir a viabilidade do cul-
0,50
tivo de hortaliças de flores sob estufas, é 0,40
bom analisar o comportamento do mercado 0,30
JAN. FEV. MAR. ABR. MAIO JUN. JUL. AGO. SET. OUT. NOV. DEZ.
com relação às culturas da couve-flor
(Gráfico 1) e couve-brócolos (Gráfico 2). Gráfico 1 - Oscilação de preços da couve-flor durante o ano
Observa-se uma clara semelhança de FONTE: CEAGESP.

1
Enga Agra, D.Sc., Profa Assist. UNESP-FCA, Caixa Postal 237, 18603-970 Botucatu-SP. E-mail: rumy@fca.unesp.br
2
Engo Agro, M.Sc., Doutorando, Cons. Téc. UNESP-FCA - Depto Horticultura, Fazenda Experimental Lajeado, Caixa Postal 237, 18603-970
Botucatu-SP.
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70 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

no teto e de pé-direito alto para promover


Sazonalidade dos preços de brócolos boa ventilação.
Ao se optar pelo plantio da couve-flor
1,10 em ambiente protegido, devem-se escolher
1,00
sempre os materiais mais adaptados ao
0,90
verão ou de meia-estação, os quais neces-
US$/kg

0,80
0,70 sitam durante o terceiro e o quarto estádios
0,60 de temperaturas nunca abaixo de 20oC. Se
0,50
forem utilizadas cultivares/híbridos de
0,40
JAN . FEV. MAR. ABR. MAIO JUN. JUL. AGO. SET. OUT. NOV. DEZ. inverno, pode não ocorrer a formação da
cabeça, pois estas necessitam de tempera-
Gráfico 2 - Oscilação de preços da couve-brócolos durante o ano turas entre 14 e 20oC para induzir a diferen-
FONTE: CEAGESP. ciação do primórdio floral e, dependendo
da região de cultivo, esta condição pode
investir neste tipo de cultivo com as hortali- sileiro (Athanázio, 1983, Maluf et al., 1988 não ser possível, dentro deste tipo de am-
ças de flores. Para tanto, tentar-se-á descre- e Kimoto, 1993). biente.
ver um pouco da fisiologia de crescimento Em geral, as brássicas obedecem uma De acordo com o comportamento dos
e desenvolvimento, a fim de dar uma noção seqüência de crescimento e desenvolvi- preços apresentado anteriormente (Grá-
do comportamento dessas culturas em mento, podendo ser dividida em quatro fico 1), conclui-se que no verão, quando
ambiente protegido. estádios. as temperaturas são mais elevadas e as chu-
vas mais intensas, o cultivo sob estufas
HÁBITO DE CRESCIMENTO E Couve-flor pode ser economicamente compensador.
DESENVOLVIMENTO Em outras épocas a utilização deste tipo de
No caso da couve-flor o primeiro es-
cultivo seria inviável, pois há muita oferta
tádio, considerado a fase de muda, com-
Ao se optar pelo cultivo de qualquer do produto de cultivo convencional, tendo
preende o período da germinação até cinco
hortaliça em ambiente protegido é neces- em vista a maioria das regiões produtoras
a sete folhas definitivas (0 a 36 dias); o
sário conhecer o hábito de crescimento e apresentar inverno seco e temperaturas
segundo compreende a fase de expansão
de desenvolvimento das plantas; caracte- amenas.
das folhas externas (37 a 56 dias); o terceiro
rísticas estas influenciadas por fatores As cultivares/híbridos mais recomenda-
estádio é caracterizado pelo desenvolvi-
como: temperatura, fotoperíodo, intensi- das para cultivo protegido são: Shiromaru
mento das folhas externas e pela diferen-
dade luminosa, época de cultivo, irrigação II, Miyai, Verona, Mogiano, Piracicaba
ciação do primórdio floral (57 a 76 dias); e o
e outros (Knott, 1951, citado por Kimoto, Precoce.
quarto estádio compreende o desenvol-
1993). Manejar o ambiente de cultivo é muito
vimento do órgão chamado ”curd”, que é
Por serem originadas e domesticadas importante. Se o objetivo for plantar no ve-
o primórdio floral, conhecido como cabeça
em regiões de clima frio e/ou temperado, rão, devem-se sempre utilizar estruturas
(Kimoto, 1993). Esses dois últimos estádios
as brássicas, em condições subtropicais sem as cortinas laterais, para que haja uma
estão relacionados com a temperatura, es-
brasileiras, eram cultivadas somente no tresse causado por transplante, cultivar/ boa ventilação e redução da temperatura.
inverno, ou seja, no período de março a híbrido e/ou estado nutricional. Portanto, Em situações de condições extremas
agosto. Contudo, com os programas de havendo a escolha errada do material a ser muito frias, para evitar geadas, a estrutura
melhoramento genético realizados por plantado, todo o investimento ficará in- deverá ser normal com fechamento lateral
pesquisadores brasileiros e pela intro- viabilizado. ou com simples tela de proteção, plan-
dução de híbridos resistentes ao calor, foi Não se tem notícia de plantios comer- tando-se cultivares/híbridos de inverno,
possível contornar os problemas das cul- ciais de couve-flor em ambiente protegido como Shiromaru III, ou de outono.
tivares precoces, relacionados com a for- em grande escala, pois a área ocupada por
mação prematura de cabeça, quando sub- Couve-brócolos
uma planta é relativamente grande, uma vez
metidas a um breve período de frio oca- que o espaçamento normalmente utilizado Possui estádios de crescimento e de-
sional. Dessa forma, tornou-se possível é 0,80 x 0,50m. As brássicas são, no entanto, senvolvimento muito semelhantes ao da
realizar o seu cultivo durante todo o ano, uma boa opção de rotação de culturas. couve-flor, diferindo somente em relação ao
proporcionando uma expansão gradativa Utilizam-se mais as estruturas semi- terceiro e quarto estádios, que no caso da
para as outras regiões do território bra- cobertas, ou seja, somente com a cobertura couve-brócolos compreende à diferen-
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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 71

ciação e desenvolvimento dos botões florais. absorção dos nutrientes, o balanço de CONSIDERAÇÕES FINAIS
A parte comercial da planta, deno-minada nutrientes das soluções nutritivas deve
O cultivo de hortaliças de flores em
de cabeça, na couve-brócolos é composta mudar durante o ciclo das plantas, acom-
ambiente protegido ainda não é amplamente
por um conjunto de botões florais panhando as exigências nutricionais delas.
utilizado. Existem algumas experiências no
acompanhado de um pedúnculo tenro e fino. Aconselha-se o uso de pelo menos
campo, como foi visto em recente visita a
Os comentários feitos para se cultivar duas soluções nutritivas diferentes no
um produtor na região de Brasília (DF). As
a couve-flor em ambientes protegidos, são cultivo do brócolos e da couve-flor, sendo
pesquisas com hortaliças de flores em cul-
também válidos para a couve-brócolos. uma correspondente ao desenvolvimento
tivo protegido nas instituições, tanto de
As cultivares/híbridos de verão indi- da planta até o início da formação de cabeça
pesquisa como de ensino no Brasil, tam-
cadas são: Ramoso Santana de Verão, Con- e outra desde a formação de cabeça até o
bém são raras, a não ser quando um pesqui-
dor, Piracicaba Precoce e Flórida. Tem-se final do ciclo da cultura. Na fase de forma-
sador objetiva elaborar um programa de
ainda algumas opções de híbridos de bró- ção de mudas, deve-se preocupar com o
melhoramento ou de produção de semen-
colos do tipo cabeça única, tais como: Ba- fornecimento de maior quantidade de
tes. São necessárias pesquisas não só na
ron e Sabre. No entanto, na nossa opinião, fósforo e menor quantidade de nitrogênio,
área técnica, mas um estudo econômico para
o tipo ramoso poderá ter um valor econô- evitando-se assim o estiolamento das
se avaliar a relação entre custo e benefício.
mico melhor, pois proporciona um período mudas. Um fator importante para uma boa
Em se falando do cultivo deste grupo
maior de colheita. produção em brássicas é um bom desenvol-
de hortaliças no sistema hidropônico, a
Em locais de inverno rigoroso com gea- vimento das folhas externas, tanto em área
questão se torna ainda mais complicada,
das fortes, como na região Norte de Portu- como em número de folhas. Logo, no início
pois não se tem conhecimento desse tipo
gal, a utilização de coberturas por cerca de do desenvolvimento, devem ser fornecidos
de exploração até o momento.
seis semanas após o transplante, ou seja, em maiores quantidades às plantas, os
até o terceiro estádio, para estimular a ex- nutrientes que contribuem para um maior REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
pansão das folhas de couve-brócolos, re- desenvolvimento das folhas externas, co-
sultou num aumento de produtividade entre mo nitrogênio, potássio, cálcio e fósforo. ABRANTES, E.A.A. Os brócolos. Oeiras:
30 e 90% e antecipação da colheita em Na fase de formação de cabeças e nas fases MADRP/INIA, 1997. 31p. (Folhas de
quatro a dez dias, com bom retorno do in- seguintes, recomenda-se o uso de solu- Divulgação).
vestimento inicial (Abrantes, 1997). Este ções nutritivas que contenham menores
ATHANÁZIO, J.C. Heterose em cruza-
autor relata também a utilização de cober- quantidades de nitrogênio. mentos intervarietais de couve-brócolos
turas semitransparentes, conhecidas no Antes da formulação de uma solução ramoso (Brassica oleraceae L. var. italica
mercado como “tecido não tecido”, que nutritiva, devem-se fazer análises químicas Plenck). Botucatu: Unesp-FCA, 1983.
proporcionam um ligeiro aumento de tem- de tecidos em cada fase de desenvolvi- 57p. Dissertação (Mestrado) - Faculdade
peratura no solo e na parte aérea da planta, mento da cultura de modo que se tenha de Ciências Agrárias, Universidade Estadual
melhor conhecimento possível sobre a Paulista, 1983.
com efeito positivo sobre o crescimento e
o desenvolvimento da couve-brócolos. relação entre os nutrientes nas plantas, de GOTO, R. Plasticultura nos trópicos: uma
acordo com a idade delas. Com base nesses avaliação técnico-econômica. Horticultura
dados procede-se a formulação da solução Brasileira, Brasília, v.15, p.163-165, 1997.
CULTIVO HIDROPÔNICO DE
nutritiva com balanços de nutrientes pró- Suplemento: Palestras do 37o Congresso
HORTALIÇAS DE FLORES
Brasileiro de Olericultura.
ximos àqueles encontrados em tecidos.
No caso de cultivo de brássicas em sis- A concentração da solução nutritiva KIMOTO, T. Nutrição e adubação de repolho,
tema hidropônico, é necessário que se esta- deve ter valores de condutividade elétrica couve-flor e brócolo. In: FERREI-
beleça um bom balanço de solução nutritiva que oscilem entre 2 e 3mS/cm e valores de RA, M.E.; CASTELLANE, P.D.; CRUZ,
e se conheça as curvas de crescimento, o M.C.P. da. Nutrição e adubação de
pH variando de 5,5 a 6,5.
hortaliças. Piracicaba: POTAFOS, 1993.
acúmulo de biomassa seca em função da As fontes de nutrientes comumente
p.149-178.
idade das plantas, além da quantidade de utilizadas são: nitrato de cálcio, nitrato de
nutrientes extraída por elas. O balanço de potássio, cloreto de potássio, cloreto de MALUF, W.R.; CALDAS, L.S.; TOMA-
nutrientes da solução deve ser similar à BRAGHINI, M.; CORTE, R.D.; IKUTA,
cálcio, fosfato mono-amônio, fosfato di-
H.; KUNIEDA-YABASE, M. Alter-
relação entre os diversos nutrientes encon- amônio, sulfato de magnésio, sulfato de
natives to current tropical cauliflower
trados nas plantas, em cada fase de desen- amônio, uréia, cloreto de zinco, cloreto de hybrids obtained from self-incompatiblr
volvimento. cobre, ácido bórico, ácido molibdico, inbread lines. Revista Brasileira de
Pelo fato de cada estádio de desenvol- cloreto de manganês e o complexo ferro- Genética, Ribeirão Preto, v.11, p.905-
vimento ter particularidades com relação à EDDHA. 920, 1988.

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72 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

Estruturas para o cultivo hidropônico


Pedro Roberto Furlani 1
Luis Cláudio Paterno Silveira 2
Denizart Bolonhezi 3
Valdemar Faquin 4

Resumo - Enfocam-se os componentes básicos das estruturas que compõem os prin-


cipais sistemas hidropônicos e as vantagens e desvantagens dos diferentes tipos de
canais de cultivo usados. São apresentadas instruções básicas relacionadas com o di-
mensionamento apropriado dos componentes básicos necessários para o estabe-
lecimento de culturas de hortaliças de folhas e de frutos, incluindo a produção de
mudas.
Palavras-chave: Canal de cultivo; Dimensionamento hidráulico; Fluxo de solução de
nutrientes; Hortaliças de folhas; Hortaliças de frutos.

INTRODUÇÃO este sistema é composto basica- de poliuretano e outros para a sus-


A hidroponia, termo derivado de duas mente de um tanque de solução nu- tentação da planta, onde a solução
palavras de origem grega - hidro, que signi- tritiva, de um sistema de bombea- nutritiva é percolada através desses
fica água, e ponia, que significa trabalho - mento, dos canais de cultivo e de materiais e drenada pela parte inferior
está-se desenvolvendo rapidamente como um sistema de retorno ao tanque. A dos vasos, retornando ao tanque de
meio de produção vegetal, principalmente solução nutritiva é bombeada aos solução.
de hortaliças sob cultivo protegido. A hi- canais e escoa por gravidade, for- A seguir são fornecidos os detalhes
droponia é uma técnica alternativa de culti- mando uma fina lâmina de solução estruturais de cada sistema, bem como os
vo protegido, na qual o solo é substituído que irriga as raízes; pormenores de montagem e manutenção
por uma solução aquosa, que contém ape- b) deep film technique (DFT) ou cultivo destas estruturas.
nas os elementos minerais essenciais aos na água, ou floating: neste sistema
vegetais (Graves, 1983, Jensen & Collins, a solução nutritiva forma uma lâmina SISTEMA HIDRÁULICO
1985 e Resh, 1996). profunda (5 a 20cm), onde as raízes Para os sistemas hidropônicos devem-
Para a instalação de um sistema de ficam submersas. Não existem canais se selecionar os materiais hidráulicos exis-
cultivo hidropônico é necessário que se e sim uma mesa plana onde circula a tentes no mercado mais adequados para
conheçam detalhadamente as estruturas solução, através de um sistema de atender às exigências de cada sistema de
básicas necessárias que o compõem entrada e drenagem característicos; cultivo, garantindo o abastecimento de
(Castellane & Araújo, 1994, Cooper, 1996, c) com substratos: este sistema é para solução nutritiva com qualidade e segu-
Faquin et al., 1996, Martinez & Silva Filho, hortaliças frutíferas, flores e outras rança. Para isso, utilizam-se tubos de plás-
1997 e Furlani, 1998). Os tipos de sistema culturas que têm o sistema radicular tico de polietileno não-reciclado (flexível)
hidropônico determinam estruturas com e a parte aérea mais desenvolvidos. ou de cloreto de polivinila (PVC rígido) e
características próprias, sendo que os mais Utilizam-se vasos cheios de material registros fabricados com materiais inertes.
utilizados são: inerte, como areia, pedras diversas O sistema hidráulico é responsável pelo
a) nutrient film technique (NFT) ou téc- (seixos, brita), vermiculita, perlita, lã armazenamento, recalque e drenagem da
nica do fluxo laminar de nutrientes: de rocha, espuma fenólica, espuma solução nutritiva, sendo composto de um

1
Engo Agro, Ph.D., Pesq. Cient., IAC-CSRA/Bolsista CNPq, Caixa Postal 28, CEP 13001-970 Campinas-SP. E-mail: pfurlani@barao.iac.br
2
Engo Agro, M.Sc., Assist. Téc. IAC - Estação Experimental de Agronomia em Pindorama, Caixa Postal 24, CEP 15830-000 Pindorama-SP.
3
Engo Agro, Pesq. Cient. IAC - Núcleo de Agronomia da Alta Mogiana, Caixa Postal 271, CEP 14001-970 Ribeirão Preto-SP.
4
Engo Agro, D.Sc., Prof. Tit. UFLA-Depto Ciência do Solo, Bolsista CNPq, Caixa Postal 37, CEP 37200-000 Lavras-MG. E-mail: vafaquin@ufla.br

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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 73

ou mais reservatórios de solução, do con- e oxigenação da solução nutrititiva. Em mudas, plantas de ciclo curto e de ciclo
junto motobomba e dos encanamentos e caso de contaminação por patógenos, um longo. O resultado da multiplicação da
registros. grande número de plantas será perdido, vazão necessária pelo número de canais a
pois um só tanque estará em contato com ser irrigado fornece a quantidade mínima
Reservatórios muitas bancadas de cultivo. Recomenda- de litros por minuto para a irrigação das
Os reservatórios ou tanques de solução se a utilização de maior número de reser- plantas. Considerando-se as perdas de
podem ser construídos de diversos ma- vatórios pequenos ao invés de poucos carga nas tubulações, a altura manométrica
teriais, como plástico PVC, fibra de vidro tanques de grande volume, pois facilita e de recalque e principalmente a necessidade
ou de acrílico, fibrocimento e alvenaria. Os agiliza o manejo, o controle fitossanitário do retorno de parte da solução ao tanque
tanques de plástico PVC e de fibra têm sido (atendimento do período de carência do de- de armazenamento, aconselha-se aumentar
os preferidos, devido ao menor custo, fa- fensivo usado) e a limpeza e desinfecção em 50% a vazão calculada.
cilidade de manuseio e, por serem inertes, de todo o sistema, com conseqüente Para sistemas de floating obedecem-
não necessitam de qualquer revestimento aumento de qualidade do produto final. se as mesmas regras de dimensionamento
interno. Já os tanques construídos em alve- Normalmente, o reservatório é instalado do sistema hidráulico para NFT, porém
naria, bem como as caixas de fibrocimento, na parte mais baixa do terreno para permitir neste caso não há canais de cultivo e sim
necessitam do revestimento interno com que o retorno da solução ocorra por gravi- mesas de solução. Desse modo, o cálculo
impermeabilizantes destinados a este fim. dade. Poucos produtores utilizam dois é feito de acordo com o fluxo de água que
O mais comumente utilizado e com bons depósitos: o tanque principal na parte mais deve circular pela bancada num determi-
resultados é a tinta betuminosa (Neutrol), alta, utilizando-se a gravidade para levar a nado espaço de tempo. Resh (1995) reco-
mas pode-se optar pela impermeabilização solução aos canais de cultivo, e um depó- menda efetuar a cada hora, uma ou duas
com lençol plástico preto. Sem estes cui- sito menor na parte baixa do terreno, de trocas completas do volume de solução
dados a solução nutritiva, por ser corrosiva, onde é feito o bombeamento da solução presente na bancada. Para uma bancada
será contaminada por elementos presentes coletada, para o tanque principal. O uso de com 1.000l de solução deve-se fazer cir-
na composição destes materiais. dois depósitos (superior e inferior) tem cular de 1.000 a 2.000l/h. Porém, outros
O depósito deve ser colocado em local propiciado dificuldades no manejo químico manejos podem ser feitos, dependendo da
sombreado e enterrado, para evitar a ação da solução nutritiva, aumentos na sua temperatura da solução, permitindo-se em
dos raios solares, além de ser vedado para temperatura e no custo de implantação. alguns casos a circulação durante alguns
evitar a formação de algas e a entrada de minutos por hora.
animais de pequeno porte. Sua instalação Motobomba e encanamentos O retorno da solução para o tanque dá-
deve ser, preferencialmente, abaixo do nível Este conjunto tem a função de levar a se por duas vias: pela tubulação de drena-
da tubulação de drenagem, facilitando o solução nutritiva às bancadas em quan- gem e pelo retorno instalado no encana-
retorno da solução por gravidade. tidade suficiente para a irrigação das raízes, mento de recalque. O retorno da solução
A capacidade do reservatório vai de- bem como conduzir a solução de volta ao ao tanque, via tubulação de drenagem,
pender do número de plantas e da espécie tanque após a passagem pelas bancadas. promove uma certa movimentação e aeração
que será cultivada. Deve-se obedecer um Recomenda-se instalar a motobomba “afo- da solução nutritiva, mas a difusão do
limite mínimo de 0,1 a 0,25l/planta para gada”, ou seja, abaixo da metade da altu- oxigênio é apenas superficial. Para a oxi-
mudas, de 0,25 a 0,5l/planta, para plan- ra do reservatório, para impedir a entrada genação adequada de todo volume do
tas de pequeno porte (rúcula, almeirão), de de ar no sistema e conseqüente falha no tanque, deve-se efetuar o retorno de parte
0,5 a 1,0l/planta para as de porte médio (al- bombeamento, o que pode causar danos da solução succionada de volta ao tanque
face, salsa, cebolinha, agrião, manjericão, às plantas. É recomendável a escolha de (Fig. 1). Neste retorno, instala-se um dispo-
morango, cravo, crisântemo), de 1,0 a 5,0l/ bombas, cujos elementos internos sejam sitivo tipo venturi, para a introdução de ar
planta para plantas de maior porte (tomate, resistentes à corrosão pela solução nutri- na solução nutritiva armazenada no depó-
pepino, melão, pimentão, berinjela, couve, tiva. sito. A construção do venturi é bastante
salsão etc.). Quanto maior a relação entre Para qualquer sistema NFT, a capaci- simples: primeiro restringe-se o diâmetro
o volume do tanque e o número de plan- dade de vazão do conjunto motobomba do cotovelo de retorno colocando-se um
tas nas bancadas, ocorrerão menores va- deve ser dimensionada de acordo com o tubo interno de menor diâmetro; externa-
riações na concentração e temperatura da número de canais que será irrigado, consi- mente reveste-se o cotovelo com um outro
solução nutritiva. Entretanto, não se reco- derando-se a altura manométrica e o retorno tubo de diâmetro maior, fazendo-se um furo
menda a instalação de depósitos com capa- de solução ao tanque. Para fins práticos, pequeno na lateral para a entrada do ar,
cidade maior do que 5.000l, devido à maior recomenda-se uma vazão de solução nu- que será succionado automaticamente pela
dificuldade para o manejo químico (corre- tritiva nos canais de cultivo de 0,5, 1,5 e passagem de solução pelo tubo interno
ção do pH e da condutividade elétrica (CE)) 5,0l/min por canal, respectivamente, para (Fig. 2). Para qualquer sistema hidropônico

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74 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

vegetal e com o tipo de canal utilizado. A


Tubulação de
retorno das altura e a largura da bancada variam de
bancadas Retorno da
motobomba acordo com a espécie vegetal: até 1,0m de
altura e 2,0m de largura para mudas e
plantas de ciclo curto (hortaliças de folhas)
e até 0,2m de altura e 1,0m de largura para
plantas de ciclo longo (hortaliças de frutos),
Recalque suficientes para uma pessoa trabalhar de
Venturi para as
(Fig. 2) bancadas maneira confortável nas laterais da mesa,
Solução Registros
facilitando as operações de transplante, os
nutritiva tratamentos fitossanitários quando neces-
sários, os tratos culturais, a colheita e a
limpeza da mesa. O comprimento da mesa
Motobomba
de cultivo não deve exceder os 30m, para
Reservatório
evitar variações na temperatura e nos níveis
Sucção
de oxigênio e de sais da solução nutritiva
ao longo do canal de cultivo. Além disso,
Figura 1 - Esquema do reservatório, motobomba e encanamentos de recalque e
drenagem de solução como normalmente há um desnível da mesa
entre 2 e 4%, bancadas muito extensas
instaladas em terreno plano ficam com sua
parte final muito próxima ao solo, preju-
Cotovelo
dicando o manejo e o escoamento da solu-
ção para o tanque de armazenamento e
aumentando os riscos de contaminações
Tubo interno Retorno da
ao cotovelo bomba via solo.

Base de sustentação para os


canais de cultivo
Espaço
Passagem da solução Para os diversos sistemas de cultivo
vazio
succionando o ar para
dentro do tubo têm-se diferentes tipos de bancadas, no
Ar entanto, os suportes para os canais, vasos
com substrato ou para o floating podem
ser semelhantes. Normalmente esta base é
Furo para construída de madeira, utilizando-se
Tubo externo
entrada de caibros parafusados em forma de “U”
ao cotovelo
ar
invertido e enterrados no solo (Fig. 3).
Pode-se optar também pela utilização de
cavaletes removíveis ou por estruturas
metálicas (alumínio, aço zincado, ferro),
Solução
oxigenada
além de madeira roliça. A montagem da ba-
se deve ser de tal modo que determine o
desnível necessário para os canais, para
Figura 2 - Montagem de um dispositivo tipo venturi que haja o escoamento da solução, por
gravidade, através das raízes. Para as
bancadas de floating deve-se instalar a
a aeração da solução é obrigatória, mas nas material, formando uma base de susten- base perfeitamente nivelada. A altura da
bancadas de floating esta necessidade é tação para os canais de cultivo, que podem base vai depender da espécie vegetal, con-
ainda maior. ser de diversos tipos. Também fazem parte forme já discutido.
da bancada os materiais para sustentação
BANCADAS OU MESAS DE das plantas que são colocados sobre os Canais de cultivo
CULTIVO canais. As dimensões das bancadas nor- Os canais de cultivo, por onde escoa a
As bancadas para hidroponia são malmente obedecem a certos padrões, que solução nutritiva, são importantes para o
compostas de suportes de madeira ou outro podem variar de acordo com a espécie sucesso do sistema NFT. A conformação
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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 75

Telhas de fibrocimento
As telhas de fibrocimento com ondas
Travessa
Porca rasas (2,5cm de altura e espaçadas de 7,5cm)
são indicadas para a produção de mudas.
Para algumas culturas de pequeno porte,
12345 12345 Parafuso
12345
12345 12345
12345
como a rúcula, o almeirão e o agrião, este
12345 12345
12345 12345 tipo de canal serve para a condução das
Caibro
plantas até a fase de colheita. A bancada é
± 1m
construída colocando-se as telhas de ma-
neira que fiquem com as extremidades
encostadas umas nas outras ou sobre-
Nível do
solo postas (Fig. 5). Normalmente, possuem
0,5m de largura por 2,44m de comprimento
± 40 cm
e, portanto, utilizam-se três fileiras (largu-
ra = 1,5m) ou quatro fileiras (largura = 2,0m),
1,8 a 2,0 m
colocadas paralelamente até atingir o
comprimento pretendido. São relativa-
Figura 3 - Suporte de madeira construído com caibros e travessa parafusados e mente baratas, mas necessitam de atenção
enterrados no solo
na montagem, sendo necessário revestir
as telhas com filme plástico para evitar o
contato da solução nutritiva com o cimento
do canal, sua profundidade e largura de difícil manuseio e manutenção e não amianto e também vazamentos. Reco-
influenciam na qualidade do produto final permitem variações no espaçamento dos menda-se o mesmo tipo de filme plástico
colhido. Diversos são os tipos de canais canais. Apesar dos bons resultados que usado para a cobertura da estufa, porém
que podem ser utilizados. promovem, são cada vez menos utilizadas. com no máximo 100 micras de espessura
Para plantas de porte maior, os canais dis- para facilitar a sua colocação sobre a telha.
Filme de polietileno/arame pensam a base de arame para sustenta- A desvantagem que apresentam é a limi-
A Figura 4 ilustra a montagem deste ção do filme plástico, pois são apoiados tação no espaçamento das linhas da cul-
tipo de canal de cultivo para plantas de diretamente em pequenas valetas abertas tura, que vai sempre obedecer a múltiplos
ciclo curto. As bancadas de filme plástico no terreno, como será discutido mais adian- de 7,5cm.
são de construção barata porém trabalhosa, te. As telhas com ondas maiores (5cm de
altura e espaçadas de 18cm) também são
utilizadas para o cultivo de plantas de ciclo
curto como: alface, salsa, cebolinha, almei-
rão, salsão, morango e outras. Necessitam
dos mesmos cuidados citados anterior-
Travessa mente para a montagem das telhas com
Filme de
polietileno
ondas rasas e apresentam as mesmas
Suporte das limitações no espaçamento adequado das
plantas culturas. Os calhetões, que são as telhas
Canal
grandes utilizadas em grandes barracões,
Furo podem ser empregados para o cultivo de
hortaliças frutíferas, como pepino, tomate,
Arame pimentão e muitas outras. Podem ser uti-
galvanizado lizados também nos cultivos com substra-
tos, sendo preenchidos com areia, pedra,
argila expandida, flocos de lã de rocha ou
Mourão
de espuma fenólica.

Tubos de PVC
Os canos de PVC utilizados para esgoto
Figura 4 - Bancada de fios de arame galvanizado e filme de polietileno (tubos brancos ou pretos) ou irrigação

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76 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

solução com o PVC, pode-se revestir in-


ternamente o canal de cultivo com filme
Suporte das plástico (o mesmo tipo usado para re-
plantas
vestimento das telhas de fibrocimento).
Assim, evita-se qualquer contaminação da
solução nutritiva pelo contato com o PVC.
Sobreposição Também, é aconselhável a pintura externa
Furos
dos canos brancos com tinta de coloração
alumínio, para evitar entrada de luz e o
aquecimento. Bancadas construídas com
estes canais são muito versáteis, pois o
usuário pode variar o espaçamento das
linhas de cultivo e a profundidade do canal,
Canal de acordo com a cultura e sua fase de
desenvolvimento. Além disso são leves,
Figura 5 - Telhas de fibrocimento com as extremidades sobrepostas para formar os de fácil limpeza e não exigem estruturas
canais muito robustas para a sua sustentação.

Tubos de polipropileno
(azuis) são ainda os mais encontrados em Os canais de PVC servem para todas as Estes têm o formato semicircular e são
sistemas de hidroponia NFT. Serrando-se fases de desenvolvimento das hortaliças comercializados nos tamanhos pequeno
os canos ao meio obtêm-se dois canais de mais cultivadas. Normalmente, para mudas (50mm), médio (100mm) e grande (150mm),
cultivo com profundidade igual à metade utilizam-se os tubos de 40 a 50mm, para já contendo furos para a colocação das
do diâmetro do tubo (Fig. 6). Podem-se unir fase intermediária os de 75 a 100mm e para mudas no espaçamento escolhido (Fig. 7).
quantos canais forem necessários, para a fase definitiva ou produção os de 100 a Embora o uso desses tubos seja muito re-
isso utiliza-se cola para encanamentos, 200mm, dependendo da espécie cultivada. cente, tem apresentado bons resultados
silicone e, se necessário, arrebites. Para facilitar a limpeza e evitar contato da práticos tanto para mudas, plantas maiores
ou mesmo para culturas de maior porte, com
resultados semelhantes aos obtidos com
tubos de PVC, com exceção da limpeza que
é mais difícil. Para alface e rúcula, estes per-
Suporte das fis hidropônicos têm sido instalados na
plantas
Furos posição normal, ou seja, com a parte chata
Canal para cima, o que dá maior apoio para as
folhas. Para plantas frutíferas, de porte
Tubo de maior, pode-se optar por montar os tubos
cortado
PVC cortado
Fixação na com a parte achatada para baixo, o que
ripa da propicia uma maior área para o desenvol-
bancada
vimento do sistema radicular. Por serem de
polipropileno, dispensam o revestimento
Canaleta de interno, são mais fáceis de emendar, pois já
retorno coleta
vêm com os encaixes e apresentam todas
as vantagens dos tubos de PVC.
Base
Camada de
silicone
Canais individuais
Como opção para culturas de sistema
radicular e parte aérea maiores, podem-se
Tubo de Emenda com
PVC arrebites confeccionar os canais sobre o solo ou,
preferencialmente, sobre uma base baixa.
Para tal, faz-se o acerto da declividade do
Figura 6 - Bancada de canos de PVC, mostrando também a canaleta de retorno de solo onde será disposto o canal e, em
solução e a fixação do suporte das plantas à bancada.
seguida, estica-se um fio de arame entre
NOTA: No detalhe, a união dos tubos
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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 77

ocorre por gravidade até a canaleta de dre-


Maior área para
apoio das
nagem, que leva ao depósito de solução
folhas em nível inferior, enterrado ou não, de acor-
do com o terreno. Estes canais também
podem ser utilizados com substrato sólido.
Este tipo de estrutura tem sido usado para
o cultivo de tomate, pepino, pimentão e de
Furos
outras hortaliças de maior porte, pois fica
mais fácil a sustentação e condução da parte
aérea, uma vez que as plantas estão no nível
Maior área de
apoio sobre a do solo, adaptando-se aos sistemas de
base
tutoramento apropriados para essas cul-
Perfil Perfil turas. Além disso, as extremidades das
hidropônico na hidropônico na
posição normal posição Base plantas ficam mais afastadas do teto da
invertida
estufa, onde se acumula o ar quente que
pode prejudicar o desenvolvimento vegetal,
notadamente o florescimento.
Figura 7 - Perfis hidropônicos nas duas posições utilizadas
Floating ou piscina
No sistema DFT não existem canais, mas
sim uma mesa ou caixa rasa nivelada, onde
dois mourões, com o auxílio de esticadores, me plástico, o transparente primeiro e de-
permanece uma lâmina de solução nutri-
de modo que o mesmo fique a uma distância pois o preto, que são dobrados para cima e
tiva. Os materiais utilizados para sua cons-
de aproximadamente 20cm do solo ou da presos ao varal de arame, formando um
trução podem ser madeira, plástico e fibras
base. Sobre o solo ou a base de susten- canal de fundo chato e formato triangular
sintéticas (em moldes pré-fabricados).
tação, estende-se o plástico de dupla face (Fig. 8). A entrada de solução nos canais
A altura da lateral da caixa de cultivo
(preto e branco) (Duplalon), com a face dá-se por uma linha de canos que percorre
deve ser de 10 a 15cm, dependendo da lâ-
branca para fora, ou duas camadas de fil- a cabeceira dos canais e o escoamento
mina desejada, que normalmente varia de 5
a 10cm. O suporte da mesa também pode
ser de madeira ou de outros materiais, como
descrito para as bancadas do sistema NFT.
Para a manutenção da lâmina de solução,
Tubo de
deve-se instalar um sistema de alimentação
alimentação e drenagem compatíveis, ou seja, a drena-
gem sempre maior ou igual à entrada de
solução, para se manter o nível da lâmina.
Presilhas
Podem-se fazer os drenos através de furos
nas laterais da caixa, conectados ao sistema
Espaços para de retorno ao tanque. Outra opção é fazer
as plantas
Entrada de apenas as saídas de fundo, instalando-se
solução
Escoamento
15-20
uma ou mais flanges de acordo com a vazão
cm de entrada. Nestas flanges adapta-se um
Arame
esticado 10-20 cm
Filme plástico
pedaço de cano de PVC na altura desejada
para a lâmina. Adicionalmente, deve-se
instalar uma saída no fundo da mesa para a
drenagem total em caso de limpeza e troca
Canaleta de de solução. A entrada de solução pode ser
drenagem
feita através de vários pontos na lateral da
mesa ou por um cano perfurado e submerso
na lâmina de solução, alocado na parte
Escora
central da mesa e que percorra toda sua
Figura 8 - Canal feito sobre o solo com filme plástico dobrado e fixado com presilhas extensão (Fig. 9).

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78 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

Dreno de fundo

Lateral da mesa (15


a 20 cm)

Drenagem lateral
(nível fixo)

Saída com
adaptador de
nível da solução

Fundo

Entrada lateral de
solução

Entrada superior de
solução
Venturi
Tubo de
alimentação
Tampa
submerso

Solução injetada

Base

Figura 9 - Mesa de floating mostrando as opções de drenagem e alimentação laterais ou de fundo

Como nesse sistema as raízes das plan- vermiculita, pode apresentar as seguintes com a necessidade de maior volume inicial
tas permanecem submersas na solução vantagens sobre o sistema NFT, quando de solução nutritiva por planta, maior risco
nutritiva por todo o período de cultivo, a utilizado para a produção de plantas adul- de aparecimento de algas se o sistema não
oxigenação da solução merece especial tas: for devidamente protegido da luz solar, e
atenção, tanto no depósito, quanto na caixa a) promover menor variação da tem- risco de desequilíbrio nutricional ocasio-
de cultivo. A instalação de um venturi na peratura da solução havendo exem- nado por uso prolongado da mesma so-
tubulação de alimentação (Fig. 9) permite plos de uso no exterior (Flórida, Ilhas lução, devido a componentes químicos que
uma eficiente oxigenação na lâmina de so- do Caribe), sendo pouco comum no a própria água pode conter. Além disso,
lução. Brasil; neste tipo de cultivo também ocorrem os
Para as mesas pré-fabricadas em ma- riscos com a disseminação de doenças
b) possibilitar automação na reposição
terial plástico ou fibra de vidro e com re- radiculares, com perdas totais das plantas.
de água através de bóia automática
vestimento interno, não é necessária a im-
que mantém a altura da lâmina cons-
permeabilização, mas naquelas feitas de Com substrato
tante;
madeira devemos cobrir o fundo e as laterais
com dois filmes plásticos, sempre o preto c) promover menor variação nas con- Dependendo do tipo de substrato utili-
por baixo e o de polietileno tratado contra centrações dos nutrientes, devido à zado para a sustentação das plantas po-
radiação ultravioleta (UV) por cima, para maior relação litros de solução por dem-se utilizar as bancadas de canais.
conferir resistência aos raios solares. planta, comparado ao sistema NFT, Normalmente, as telhas são utilizadas,
Este sistema DFT, muito usado para a facilitando o manejo químico da quando o substrato é cascalho, areia, sei-
produção de mudas em bandejas de iso- solução nutritiva. xos, pedra britada, argila expandida, cacos
por, contendo substratos de algodão ou As desvantagens estão relacionadas de cerâmica, casca de arroz carbonizada e

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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 79

outros. O uso dessa técnica tem sido res- culita ou perlita, como substrato de enrai- jado. Nos vasos e canais com substrato,
trito, devido ao aquecimento do substrato zamento, é necessário o cultivo das plan- de maneira geral, não é utilizado nenhum
e da solução e desenvolvimento de algas tas em sacos ou vasos de plástico. Para material para cobertura.
pela incidência direta dos raios solares. A hortaliças de frutos, os vasos com areia Nos canais de filme de polietileno/ara-
permanência de raízes após a colheita são bastante utilizados e o sistema é me, nos de telhas e no floating, o isopor é
também é indesejável, pois favorece o de- simples: os recipientes são colocados so- utilizado na forma de placas de 1,5 ou 2,0cm
senvolvimento de microrganismos. Além bre uma base de sustentação baixa, para de espessura, cobrindo toda a superfície
disso, na colheita de hortaliças de folhas evitar o contato com o solo e permitir que da bancada, sendo furado apenas nos
com as raízes intactas, colhe-se também um se instale o sistema de drenagem. Uma li- locais das plantas. É necessária a fixação
pouco do substrato, depreciando o produ- nha de alimentação de solução percorre a destas placas com fios de nylon, fitilhos
to. seqüência de vasos, injetando um deter- ou ripas para evitar danos pela ação dos
Quando se usa lã de rocha ou espu- minado volume durante um certo tempo. A ventos. Nos tubos de PVC cortados ao
ma fenólica, podem-se utilizar os canais de solução percolará pelo substrato, irrigan- meio, pode-se utilizar o isopor em fitas
PVC e os individuais (próximos ao solo). do as raízes e o excesso será drenado pelo encaixadas no interior dos canais, confe-
Nestes casos não se dispensa a cobertura fundo ou pela lateral do vaso. Pode haver rindo uma economia no consumo desse
dos canais para proteção do bloco de lã de retorno de partículas sólidas pela linha de material de cobertura. Estas fitas podem ser
rocha ou de espuma, sem a qual o desen- drenagem, recomendando-se o uso de um cortadas no centro de cada furo, de modo
volvimento de algas seria muito grande. As filtro (Fig. 10). A freqüência de irrigação que facilite a colheita (Fig. 11). Quando as
plantas são enraizadas nestes substratos será determinada pela capacidade de re- plantas são retiradas, estas partes separam-
e os intervalos de irrigação podem ser mais se, deixando que as raízes saiam facilmente
tenção de umidade do substrato ou pela
espaçados, ou seja, poucos intervalos de do interior do canal. Têm sido estudadas
demanda da evapotranspiração.
irrigação durante o dia são suficientes, alternativas ao isopor, pois este se quebra
porque o substrato retém umidade. O sis- com relativa facilidade (principalmente na
COBERTURA DOS CANAIS E
tema de irrigação pode ser semelhante ao colheita) e também por ser um tipo de
FIXAÇÃO DAS PLANTAS
do NFT, mas pode-se também optar pela material que contém CFC (cloro-fluor-
irrigação individual dos blocos de substra- Para a fixação das plantas e bloqueio carbono), portanto nocivo à camada de
to com mangueiras finas (tipo espaguete) dos raios solares nos canais de cultivo ou ozônio.
ou por gotejamento. Estas opções tem sido no floating, podem ser usados isopor, O filme plástico de dupla face (Du-
usadas para o cultivo de tomate e pepino filmes plásticos ou de embalagens tipo plalon) vem sendo utilizado em substi-
(Papadopoulos, 1991, 1994). longa vida (Tetra Pak) e outros materiais tuição ao isopor com vantagens: é mais
Quando se utiliza a areia lavada, vermi- sintéticos, furados no espaçamento dese- barato e de fácil instalação, pois basta

Mangueira
individual
Filtro
Vaso
Tubulação de
alimentação

Retorno Reservatório
Recalque

Dreno lateral
Substrato (opcional)

Linha de
drenagem
Dreno de fundo

Figura 10 - Esquema simplificado de um sistema de vasos


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80 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

cultivo hidropônico de hortaliças em am-


Parte aérea
Junção das biente protegido servem como ponto de
peças referência para o produtor. É evidente que
outros sistemas e materiais diferentes dos
Raízes já mencionados podem ser usados para a
Canal de produção hidropônica. Na técnica hidro-
PVC
Retirada da planta pônica, as condições ambientais devem
Furo formado com disjunção das
no encaixe peças atender às necessidades básicas das cul-
turas, quanto à temperatura, luminosidade
e fotoperíodo e umidade relativa. Locais
Peça de isopor
não aptos para o cultivo convencional (via
solo) de uma determinada cultura, também
apresentarão dificuldades para o cultivo
hidropônico. Portanto, antes de pensar em
um projeto de hidroponia, o produtor deve
proceder a um levantamento das condições
Figura 11 - Detalhes do uso da fita de isopor que se encaixa nos bordos dos canais ambientais, para verificar se o ambiente é
de PVC
favorável ao cultivo da espécie vegetal de
interesse.
esticar o filme sobre a mesa, fixar as laterais REGULADOR DE TEMPO OU REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
e furar no espaçamento desejado, fazendo- TEMPORIZADOR CASTELLANE, P.D.; ARAÚJO, J.A.C. de.
se um corte em “X”. Além disso é de fácil A circulação da solução nutritiva é co- Cultivo sem solo: hidroponia. Jaboticabal:
limpeza e adapta-se perfeitamente à con- FUNEP, 1994. 43p.
mandada por um sistema regulador de
formação do colo das plantas, impedindo a COOPER, A. The ABC of NFT. Narrabeen:
tempo, ou temporizador. Este equipamento Casper Publications Pty, 1996. 171p.
formação de algas dentro do canal. En- permite que os tempos de irrigação e dre-
tretanto, a sua durabilidade ainda é peque- FAQUIM, V.; FURTINI NETO, A.E.;
nagem ocorram de acordo com a progra- VILELA, L.A.A. Produção de alface em
na comparada ao isopor e outros materiais. mação desejada. Existem no mercado desde hidroponia. Lavras: UFLA, 1996. 50p.
Outras mantas sintéticas estão sendo tes- temporizadores mecânicos com intervalos FURLANI, P.R. Instruções para o cultivo de
tadas para serem utilizadas na sustentação de 10 por 10, 15 por 15 e 20 por 20 minutos, hortaliças de folhas pela técnica de
das plantas, mas seus elevados custos e até temporizadores eletrônicos com inter-
hidroponia NFT. Campinas: IAC, 1998.
menor durabilidade têm limitado sua utili- 30p. (IAC. Boletim Técnico, 168).
valos que variam de segundos a minutos.
zação. GRAVES, C.J. The nutrient film technique. In:
O tempo de irrigação varia muito entre os JANICK, J. (Ed.). Horticultural reviews.
A lâmina utilizada para confeccionar as sistemas, bancadas, regiões, tipos de co- Westport, Connecticut: AVI, 1983. v.5, cap.
embalagens tipo longa vida (Tetra Pak) bertura, espécie cultivada, época do ano e 1, p.1-44.
tem sido empregada com sucesso na cober- outros fatores, não havendo regra geral. JENSEN, M.H.; COLLINS, W.L. Hydroponic
tura de mesas de cultivo e sustentação das vegetable production. In: JANICK, J. (Ed.).
Em locais quentes, durante o verão, o sis-
plantas. É um produto relativamente barato, Horticultural reviews. Westport,
tema deverá permanecer ligado ininterrup- Connecticut: AVI, 1985. v. 7, cap. 10, p.483-
de excelente durabilidade, de fácil limpeza,
tamente durante as horas mais quentes do 558.
com boa capacidade de isolamento térmico
dia, ao passo que no mesmo local, no inver- MARTINEZ, H.E.P.; SILVA FILHO, J.B.
e resistente aos raios solares. Introdução ao cultivo hidropônico de
no, este manejo será diferente. Quando se
Os tubos de PVC inteiros e os perfis plantas. Viçosa, 1997. 52p.
usa a irrigação contínua durante o período
hidropônicos dispensam qualquer tipo de PAPADOPOULOS, A.P. Growing green-
mais quente do dia, deve-se tomar cuidado
sustentação para as plantas, pois são house seedless cucumbers in soil and in
para que haja aeração adequada da solução soilless media. Ottawa: Minister of
fechados, fornecendo o apoio suficiente
nutritiva para evitar deficiência de oxigênio Supply and Services, 1994. 126p. (Canada:
para a maioria das hortaliças folhosas. Para Minister of Supply and Services.
no sistema radicular. Normalmente, durante
plantas de grande porte é necessário o Publication 1902/E).
o período noturno o sistema pode perma-
tutoramento, não importando o tipo de PAPADOPOULOS, A.P. Growing green-
necer desligado ou com duas a três irriga-
canal utilizado. house tomatoes in soil and in soilless
ções de 10-15 minutos espaçadas de 4 a 5 media. Ottawa: Minister of Supply and
Os vasos com substrato também dis-
horas. Services, 1991. 79p. (Canada: Minister of
pensam a sustentação para as plantas de
Supply and Services. Publication 1865/E).
pequeno porte, mas o tutoramento para as
CONSIDERAÇÕES FINAIS RESH, H.M. Hydroponic food production.
hortaliças de frutos é igualmente neces- 5.ed. California: Woodbridge Press, 1996.
sário. As necessidades de estruturas para o 527p.

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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 81

Substratos para hidroponia


Herminia Emilia Prieto Martinez 1
José Geraldo Barbosa 2

Resumo - Os sistemas hidropônicos podem contar com a presença de substratos


com baixa atividade química, que auxiliam a ancoragem das plantas e promovem
aeração adequada para o sistema radicular. A escolha de substratos para cultivos
hidropônicos deve considerar suas propriedades físicas e físico-químicas. São dis-
cutidos a importância de pH, grau de decomposição, capacidade tampão da acidez,
capacidade de troca catiônica e reserva de nutrientes, teor de nutrientes, dispo-
nibilidade de água e aeração. São descritas, ainda, as principais características dos
substratos areia, cascalho, perlita, pumita, argila expandida, lãs minerais, espumas
sintéticas, turfa, cascas e serragem.

Palavras-chave: Cultivo sem solo; Substratos; Hidroponia.

INTRODUÇÃO quer cultivar (Verdonck et al., 1981 e Re- As exigências em pH das diversas plan-
gulski Júnior, 1983). A escolha de um subs- tas ou grupos de plantas também variam,
Os sistemas hidropônicos podem ser
trato deve também considerar o sistema de sendo necessário que, para determinadas
constituídos de duas ou três fases (Lim &
cultivo que será adotado e outros fatores plantas, sejam escolhidos substratos com
Wan, 1984). Os mais simples são compostos
como preço, disponibilidade e reusabili- pH adequado, a menos que haja possibi-
de duas fases, ar e água, nas quais estão
dade (Morgan, 1998a). lidade de correção prévia.
diluídos os nutrientes. A essa categoria
pertencem o cultivo em água e a aeroponia. A capacidade tampão da acidez dá idéia
PROPRIEDADES FÍSICAS E das alterações que podem ocorrer no pH
No cultivo em água, a fase gasosa é meca-
FÍSICO-QUÍMICAS do meio com a adição de fertilizantes ou
nicamente misturada numa fase líquida,
IMPORTANTES PARA A águas de irrigação ricas em carbonatos. Os
enquanto que na aeroponia a fase líquida é
ESCOLHA DE SUBSTRATOS substratos orgânicos resistem mais a altera-
pulverizada na fase gasosa. Os sistemas
PARA HIDROPONIA ções no pH, enquanto que os inorgânicos
de três fases apresentam uma fase sólida
adicional, que age como enchimento. A fase Sob o ponto de vista da hidroponia, podem sofrer alterações bruscas, podendo
líquida banha e a gasosa se aloja no espaço as principais propriedades físicas e fisico- passar de fortemente ácidos a fortemente
poroso do enchimento. Esse enchimento é químicas dos substratos são: pH, tamanho alcalinos e vice-versa.
um dos fatores mais importantes no suces- das partículas, densidade real e aparente,
so ou insucesso dos sistemas hidropô- estabilidade, capacidade de retenção de Grau de decomposição
nicos que o contém (Perez Melian et al., água sob diversas tensões e capacidade O grau de decomposição do substrato
1977). de troca catiônica (Morgan, 1998a). é importante por dar informações sobre a
Grande variedade de substratos pode relação entre densidade e espaço poroso
ser usada em cultivos hidropônicos. Seu Potencial hidrogeniônico total, como mostra o Quadro 1. Quanto
uso facilita a ancoragem das plantas, es- (pH) e capacidade tampão maior o tamanho das partículas, ou seja,
pecialmente daquelas de porte mais alto da acidez quanto menos decomposto for o substrato,
como pepino, tomate, pimentão e melão. Há grande variação de pH entre os menor será a densidade aparente e maior o
A escolha do substrato mais adequado diversos substratos. O litter de Pinus apre- volume total de poros (VTP). De acordo
depende, entretanto, do conhecimento das senta pH entre 3,9 e 5,5; a turfa entre 3,0 e com Baevre (1981), o VTP pode ser calcu-
propriedades físicas e químicas do material 4,5; as cascas entre 6,0 e 6,8; a perlita entre lado pela relação VTP = 100 - (Da/DR), em
ou mistura usados, pois há grandes diferen- 6,5 e 7,2; as lãs minerais e a argila expandida que Da é a densidade global ou aparente e
ças entre os diversos materiais e, destas, têm pH aproximado de 7,0 e a vermiculita DR é a densidade real ou massa específica.
depende a sua adequação à cultura que se entre 5,5 e 9,0 (Verdonck et al., 1981). A diferença entre o VTP estimado e o VTP

1
Enga Agra, D.Sc., Prof. Adj. UFV-Depto Fitotecnia, CEP 36571-000 Viçosa-MG. E-mail: herminia@mail.ufv.br
2
Engo Agro, D.Sc., Prof. Adj. UFV-Depto Fitotecnia, CEP 36571-000 Viçosa-MG. E-mail: jgeraldo@mail.ufv.br

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82 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

QUADRO 1 - Características físicas e químicas de alguns substratos usados em cultivos hidropônicos

Substrato(1)
Característica Areia Argila Lã Serragem
Cascalho Vermiculita Pumita Cascas Turfa
fina expandida mineral fresca

Capacidade de retenção de água Alta Baixa Baixa Alta Alta Moderada Moderada Moderada Alta
Porosidade de aeração Baixa Moderada Alta Alta Moderada Alta Moderada Alta Moderada
(2)
Tamanho das partículas Pequeno Grande Grande Fibras Médio Médio Médio Médio Médio
Densidade global (aparente) Alta Alta Moderada Baixa Baixa Moderada Moderada Baixa Baixa
Ação capilar Moderada Baixa Baixa Alta Alta Moderada Alta Moderada Alta
Perda de água por evaporação superficial Moderada Moderada Moderada Alta Alta Baixa Alta Baixa Alta
Perda da estrutura com o uso continuado Baixa Nenhuma Baixa Moderada Moderada Baixa Moderada Alta Moderada
Possibilidade de reutilização Boa Boa Boa Ruim Boa Boa Não usual Não usual Não usual

pH 7,2 6,9 6,6 7,1 7,3 7,0 5,8 6,0 6,5


(3) (3) (3) (3)
Variável 5,5-9,0 5,5-6,8 3,0-4,5

Capacidade de troca catiônica (mg/l) Baixa Baixa Baixa Baixa Alta Baixa _ Baixa _
(3) (3) (3) (3) (3)
10-40 0-1 0-1 50-150 80-500

Concentração de sódio (mg/kg) 20 _ 16 _ _ _ _ _ 50


(3)
Variável
FONTE: Dados básicos: Morgan (1998a).
(1) Com diferentes processamentos e origens, os mesmos substratos podem apresentar variações nas características. (2) Varia de acordo com o grau de
moagem. (3) De acordo com Verdonck et al. (1981, 1983), Choudhury & Faria (1982) e Resh (1995).

determinado através de saturação com menor importância, já que estes podem ser por exemplo, apresenta CTC relativamente
água, representa o volume de poros ocluí- totalmente fornecidos pela solução nutri- alta, enquanto que areia e espumas sintéti-
dos, diretamente relacionado com o grau tiva. O manejo de sistemas com substratos cas apresentam baixa CTC. Esta capacidade
de desintegração das partículas. Quanto inertes, sem capacidade de troca e que não de troca catiônica entre 10 e 30cmolc/dm3 é
maior o volume de poros ocluídos, menor liberam nutrientes para a solução nutritiva considerada adequada para plantas enva-
o grau de desintegração e maior o risco de é, em geral, mais fácil. O uso de substratos sadas (Goh & Haynes, 1977), embora em
ocorrer desintegração e alteração na poro- que contenham um ou mais nutrientes po- cultivos hidropônicos a CTC seja de menor
sidade durante o cultivo (Perez Melian et de, entretanto, ser interessante, dependen- importância.
al., 1977). do de sua disponibilidade e custo. De toda
maneira é bom saber se o substrato esco- Disponibilidade de água e
Capacidade de troca lhido apresenta ou não nutrientes e em que ar
catiônica, teor e reserva de concentração. É usual avaliar o teor de A capacidade de retenção de água pelo
nutrientes nutrientes de forma indireta pela condu- substrato também é importante na deter-
A capacidade de troca catiônica (CTC) tividade elétrica (CE) em um extrato aquoso minação da freqüência de irrigação. White
pode variar largamente entre os diversos do meio. Quanto maior a CE, maior a con- & Mastarlez (1966), estudando as caracte-
materiais ou misturas usados como meios centração de íons, nutrientes ou não. A rísticas de retenção de água em várias mis-
de cultivo, desempenhando papel funda- metodologia usada para a determinação da turas, introduziram o conceito de capaci-
mental na reserva de nutrientes para as CE é, no entanto, variável. Alguns laborató- dade de vaso, que indica o máximo de água
plantas (Verdonck et al., 1981). Dessas rios tomam por base o volume, outros o retida pelo substrato no vaso, após dre-
propriedades dependerá o manejo da nutri- peso. Além disso usam diferentes pro- nagem natural. Não existe interesse em
ção mineral nos diversos sistemas de con- porções substrato/água, de modo que os pontos extremos de alta tensão, o que leva
dução das plantas, hidropônicos ou não. resultados nem sempre são compatíveis a planta a um estado de estresse, dificil-
Se determinado substrato apresenta boa (Verdonck et al., 1981). Quando há suspeita mente permitido em condições controladas
reserva de um mineral, facilmente extraível, de presença de elementos potencialmente de cultivo. Assim, conforme proposto por
este poderá ser fornecido em menor pro- tóxicos, como por exemplo o sódio (Na), é Boot & Verdonck (1972), as curvas são
porção ou mesmo omitido na solução nu- importante sua quantificação (Morgan, elaboradas sob pontos de tensão 0, 10, 50
tritiva. 1998b). e 100cm de coluna de água. A capacidade
Para cultivos hidropônicos a riqueza O Quadro 1 apresenta a capacidade de de aeração é dada pela diferença entre po-
dos substratos em nutrientes minerais é de troca catiônica de alguns substratos. Turfa, rosidade total (volume de água a 0cm de
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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 83

tensão) e a porcentagem de volume de água aeração de 1,0; 2,2; 5,0; 11,3; 13,3; 20,0 e características dos substratos mais usados
a 10cm de sucção. A água facilmente 33,6% do VTP por alteração no tamanho em hidroponia.
disponível é aquela liberada entre 10 e 50cm das partículas dos constituintes.
de tensão. A água, considerada de reserva, Bucbee & Frinck (1986) concluíram que SUBSTRATOS INORGÂNICOS
é aquela liberada entre 50 e 100cm de tensão, mudanças na aeração de um meio envasado Os substratos inorgânicos usados em
sendo utilizada pela planta sob condições provocam mudanças em outras proprie- cultivos hidropônicos, podem ser naturais
anormais, como temperaturas elevadas. A dades físicas que afetam o crescimento das ou manipulados. Entre os naturais têm-se
disponibilidade de água pode ser deter- plantas. A capacidade de reter água foi a principalmente a areia e o cascalho e entre
minada por meio da curva de retenção de característica física mais afetada. A água os manipulados, destacam-se perlita, pumi-
água. Esta curva informa a uma dada tensão retida em potenciais matriciais superiores ta, argila expandida, vermiculita, lãs mine-
de sucção, qual a porcentagem do volume a -30cb, que é a mais utilizada pelas plantas, rais e espumas sintéticas.
total de poros ocupada por água e qual a aumentou até que a aeração atingiu cerca
porcentagem desse volume ocupada por de 13% do VTP, e então declinou. A água Naturais
ar. Dessas curvas, deriva-se a maior parte retida mais fortemente e a água total decli-
das propriedades físicas importantes para naram curvilinearmente e linearmente em Areia
os substratos (Verdonck et al., 1981). cada caso, enquanto que a aeração aumen- É um substrato muito usado, adap-
Diferentes substratos apresentam di- tou. Concluíram ainda que, embora os subs- tando-se bem a regiões desérticas como as
ferentes proporções entre água fracamente tratos sejam recomendados para grande existentes no Oriente Médio e Norte da
retida e fortemente retida pelo meio, o que variedade de espécies, as plantas envasa- África. Normalmente, emprega-se areia de
é de extrema importância num programa das variam em suas exigências quanto à praia dessalinizada ou areia de rio lavada,
adequado de irrigação. A freqüência de aeração, e que a aeração que otimiza o cres- em bancadas recobertas por plástico, na
irrigação pode ser ajustada de acordo com cimento de begônia, coleus, impatiens e superfície total da casa de vegetação, ou
a transpiração e evaporação. Quando ocor- schefflera está na faixa entre 10 e 25% do em sacos. Em geral, a solução nutritiva é
re saturação do substrato pela água, após VTP. Morgan (1998a) afirma que não há fornecida por gotejamento individual a ca-
a irrigação, é preciso ter oxigênio disponível concordância entre os vários pesquisa- da planta, regulando-se a concentração e a
para o bom crescimento da raiz. Assim, o dores quanto à melhor combinação entre vazão de nutrientes de modo que tenha um
substrato deve ser irregular e solto, permi- capacidade de retenção de água e volume excedente muito pequeno, que é recolhido
tindo espaço suficiente entre as partículas de poros cheios de ar. De modo geral re- por um sistema de drenagem ao fundo das
(Noordegraaf, 1994). comenda que os substratos apresentem 35 bancadas ou sob o solo na casa de vegeta-
Quanto menor o tamanho das partí- a 50% v:v de capacidade de retenção de ção e descartado. Assim, a solução não
culas, maior a retenção de água, porém, se água e 25 a 40% v:v de espaço de aeração, recircula, o que reduz a possibilidade de
as partículas forem extremamente peque- após drenagem. disseminação de patógenos.
nas, pode ocorrer asfixia radicular. De acor- Quando se dispõe de materiais com O diâmetro das partículas deve situar-
do com Perez Melian et al. (1977) e Baevre outras características favoráveis, porém em se entre 0,6 e 2,0 - 2,5mm (Resh, 1995 e Mor-
(1981), um bom substrato para hidroponia condições extremas quanto à disponi- gan, 1998a). Dentro desses limites, além de
deve apresentar 70% do volume total de bilidade de água ou ar, a mistura entre eles ter bom desenvolvimento de raízes laterais,
poros, com igual porcentagem de micro- pode ser interessante (Verdonck et al., a aeração é adequada e o meio suficien-
poros e macroporos. 1981). temente denso para que a solução se mova
Por vezes usam-se hidrogéis para au- lateralmente por capilaridade e os nutri-
mentar a capacidade de retenção de água Considerações adicionais entes sejam distribuídos uniformemente por
de substratos como por exemplo a turfa, De acordo com Verdonck et al. (1983), toda zona radicular.
com respostas nem sempre positivas. Em um substrato com 10 a 30% de matéria só- A maior densidade do meio promove
geral, as respostas positivas são atribuídas lida, 40 a 50% de VTP, 20 a 30% de água melhor desenvolvimento lateral de raízes,
a aumentos na quantidade de água e ar facilmente disponível no VTP e pH entre tornando-as também mais curtas, o que
disponíveis e respostas negativas a toxici- 5,0 e 5,8 seria adequado para a maior parte reduz o risco de obstrução do sistema de
dade do gel e anoxia radicular. das culturas. drenagem e representa uma vantagem em
A capacidade de aeração pode ser de- Morgan (1998a) recomenda que se es- relação aos sistemas hidropônicos em que
finida como a porcentagem de poros cheios colham substratos com baixo conteúdo de se usa cascalho como substrato. Também,
de ar em um meio, após saturação com água sais, leves, de fácil manuseio, livres de in- a capacidade de armazenar água é maior
e drenagem livre (Bucbee & Frinck, 1986). setos, livres de patógenos ou compostos nestes do que em sistemas que usam cas-
Estes autores estudaram alterações nas tóxicos, capazes de misturarem-se a outros calho, propiciando turnos de rega mais
propriedades físicas do meio e no cres- meios, reutilizáveis, que possam ser subme- longos (Resh, 1995).
cimento de plantas ornamentais em função tidos a altas temperaturas ou produtos Tais sistemas de cultivo são fáceis de
de mudanças na aeração. Usaram para isso químicos para desinfecção e que mante- operar e de manter. Em caso de haver neces-
um substrato composto de vermiculita e nham o volume em diferentes estados de sidade de reparos, o fornecimento de água
turfa na proporção 1:1 (v:v), ajustando-o à umidade. O Quadro 1 resume as principais e nutrientes não é tão crítico, já que a areia
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consegue reter parte destes nos micro- Apesar de sua elevada densidade (pe- de tensão de sucção, a água retida foi de
poros (Resh, 1995). Em misturas, presta-se so) que dificulta o manuseio (Morgan, 45, 40 e 40%, respectivamente. De posse
para dar estabilidade a vasos ou sacos, 1998a), o cascalho presta-se bem para o destes resultados, sugeriu-se que partícu-
quando se usam substratos mais leves cultivo de grande variedade de plantas e las com diâmetro entre 0,5 e 2,0mm fossem
(Morgan, 1998a). permite o uso eficiente de água e nutrien- usadas para enraizamento de estacas, 2,0 e
As desvantagens desse substrato são tes, tanto ao ar livre quanto em casa de ve- 6,0mm usadas como substrato e entre 6,0 e
a alta densidade das partículas, a dificul- getação. Permite também, boa aeração e 12,0mm, em hidrocultura.
dade de desinfecção e o acúmulo de sais. nutrição uniforme. Tem, entretanto, como
A alta densidade das partículas torna-o desvantagem a difícil desinfecção. As raízes Manipulados
pesado e de difícil manuseio. A desin- penetram nos pequenos poros, de onde Perlita
fecção adequada exige o uso de vapor ou não são retiradas com facilidade, e com o
tempo o cascalho fica todo recoberto por É um material silícico de origem vulcâ-
fumigação com produtos químicos e o acú-
finas raízes e tem que ser substituído. Outro nica, extraído dos rios de lava. Esse material
mulo de sais obriga a lavagens periódicas.
problema é a baixa retenção de umidade moído e peneirado é aquecido a 1.400ºF,
Além disso, as partículas finas da areia
(Resh, 1995). Sistemas que usam cascalho temperatura na qual a pouca água que con-
tendem a obstruir os tubos de irrigação e
geralmente são dispendiosos para cons- tém se evapora e as partículas expandem-
gotejadores, sendo necessário o uso de
truir, manter e reparar, além de permitir a rá- se. Formam-se partículas estéreis, muito
filtros de 100 a 200mesh (Resh, 1995 e Mor-
pida propagação de fungos como Fusarium leves, com o aspecto de sementes espon-
gan, 1998a).
e Verticillium. josas e peso de 0,08 a 0,13kg/dm3 (Resh,
Perez Melian et al. (1977) testaram o uso 1995). A perlita absorve três a quatro vezes
Cascalho
de cascalho obtido a partir de rochas tri- o seu peso em água, tendo pH entre 6,0 e
O cascalho é amplamente utilizado em 8,0. Não apresenta CTC, nem contém nu-
cultivos hidropônicos, principalmente em turadas, com partículas irregulares de 2 a
10mm de diâmetro e de cascalho de rochas trientes na forma disponível. Tem estrutura
sistemas de fluxo laminar de nutrientes rígida, mas as partículas vão-se partindo com
(NFT) e subirrigação, podendo, eventual- transportado pela erosão, com partículas
arrendondadas de 2 a 10, e 2 a 8mm de o uso. Partículas finas prestam-se como
mente, ser usado com irrigação por goteja- substrato para a germinação e as maiores
mento. diâmetro, no cultivo hidropônico de toma-
tes ‘Marglobe’. Estes autores observaram são muito usadas em misturas com turfa ou
Para uso em subirrigação, Resh (1995) areia e turfa, quando aumenta a aeração
recomenda granito moído com partículas que, embora não houvesse sinais visíveis
de déficit hídrico, quando apenas uma (Resh, 1995).
de diâmetro entre 1,6 e 19,0mm. Em média, É um substrato excelente para enrai-
as partículas devem ter 12,7mm de diâmetro. irrigação diária era realizada, quatro irriga-
ções diárias resultavam em maior produção zamento, podendo também ser usado em
Para o uso com gotejamento o diâmetro das sistemas hidropônicos recirculantes, nos
partículas deve estar entre 3,2 e 9,5mm, com e menor incidência de podridão estilar. Re-
latam ainda, que o cascalho de formas irre- quais, em nível experimental, possibilitaram
diâmetro médio entre 4,8 e 6,3mm. produções de tomates superiores à turfa
gulares reteve mais água, o que atribuem à
O cascalho de material calcário deve ser (Wilson & Hitchin, 1984). Pode ser usada,
possibilidade de um arranjo de partículas
evitado, pois eleva o pH da solução, libe- ainda, em cultura de tecidos, onde mostrou
com maior proporção de microporos.
rando cálcio (Ca) e magnésio (Mg) que ser um valioso meio para o estabelecimento
reagem com o fósforo (P) da solução, for- Pumita inicial das plantas (Martyr, 1981).
mando fosfatos bicálcicos e tricálcicos A pumita consiste em material silícico A perlita industrial apresenta partículas
insolúveis. O pH elevado ainda leva a de- de origem vulcânica moído e peneirado não de tamanho muito variado, incluindo gran-
ficiências de micronutrientes, especialmente submetido à expansão. Para horticultura, de proporção de pó fino. Para muitos usos,
de ferro (Resh, 1995). Cascalho com mais usa-se material com 3 a 5mm de diâmetro. esse pó fino tem pequena ou nenhuma con-
que 10% de material solúvel em ácido deve Presta-se bem para o cultivo de grande nú- seqüência, mas para usos hortícolas, gran-
ser tratado com soluções de 0,5 a 5,0% (p:v) mero de espécies de plantas, especialmente de proporção de partículas com tamanho
de superfosfato triplo, que reagirá com as as de ciclo longo. Pode ser usada sobre inferior a 250mm promove encharcamento,
partículas da superfície, até que estas bancadas, na superfície total da casa de o que poderá ser desastroso (Martyr, 1981).
fiquem recobertas por fosfatos insolúveis. vegetação ou em sacos (Morgan, 1998a). Para horticultura, Resh (1995) recomenda
A lavagem deve ser intercalada com água Tem as mesmas propriedades da perlita, partículas com diâmetros entre 1,4 e 1,6mm.
pura e o processo encerrado, quando, após porém é mais pesada e retém menos água, Assim, produtores especializados na pro-
várias horas de contato, uma solução de sendo muito usada em misturas com turfa dução de perlita hortícola devem fazer um
100mg/l de P não tenha sua concentração e areia (Resh, 1995). Fazendo a caracteri- peneiramento extra, retirando o material fino
reduzida a menos de 30mg/l do elemento. zação física e química da pumita (pedra tanto quanto possível. A procura de um
A camada de fosfatos precipitados sobre pome), Boertje (1995) obteve 85% de espa- substrato barato leva ao uso de material
o cascalho solubiliza-se lentamente e após ço poroso total, 40% de espaço de aeração, com partículas de tamanho inadequado,
certo tempo de uso o processo deve ser densidade de volume de 400g/l, pH = 7 e, especialmente em locais onde o uso de
repetido (Resh, 1995). CE de 0,2dS/m a 25ºC. Sob 10, 50 e 100cm perlita em horticultura está sendo intro-
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duzido, sendo este fato certamente o maior rígidos arredondados, permitindo o seu uso maior granulometria.
responsável pelos resultados variáveis ob- por vários ciclos de produção. A argila De modo geral, os dados sobre caracte-
tidos pelos usuários (Martyr, 1981). expandida começou a ser usada na cons- rísticas físicas da argila expandida enqua-
É um erro pensar que a perlita expandida trução civil antes de ser empregada para dram-se dentro dos valores preconizados
é um material invariável com uma compo- hidroponia. No Brasil, é conhecida como para substratos hortícolas, exceto a sua
sição química constante ou características cinasita. baixa a moderada capacidade de retenção
físicas idênticas. A natureza da rocha vul- É um substrato bastante comum para o de água. No aspecto químico, o valor ele-
cânica, o método de processamento e a cultivo sem solo, sendo muito utilizada na vado do pH sugere uma vigilância maior
distribuição das partículas por tamanho Inglaterra e Alemanha para a produção de no seu monitoramento. A ausência de sais
afetam as propriedades físicas e químicas hortaliças, plantas para corte de flor e or- solúveis apresenta-se como uma vantagem,
do produto final. Embora em pequena namentais, especificamente em sistemas pois permite um controle preciso dos nu-
quantidade, há minérios que apresentam fechados (Kämpf et al., 1992 e Fisher & trientes da solução nutritiva.
níveis muito altos de ferro (Fe), manganês Meinken, 1995).
(Mn), zinco (Zn) e flúor (F), que são fito- Determinando as características físicas Vermiculita
tóxicos, especialmente quando as partí- da argila expandida (cinasita), Barbosa Segundo Douglas (1987), a vermiculita
culas finas não são separadas (Martyr, (1996) observou que o espaço poroso total é um material encontrado em depósitos de
1981). foi de 69,00; 71,07; 71,54 e 72,24%, para as ocorrência natural em várias partes do mun-
De acordo com Martyr (1981), no Reino classes granulométricas de 4 a 10, 4 a 13, 10 do. Constitui-se de um argilo mineral do
Unido encontram-se quatro tipos de perlita: a 13 e 13 a 20mm de diâmetro, respecti- tipo 2:1 com lâminas justapostas de te-
com diâmetro de 3,0 a 6,0mm; de 1,5 a 5,0mm; vamente. O volume de poros externos traedros de sílica e octaedros de alumínio
de 1,0 a 3,0mm e de 0,1 a 1,5mm. O maior variou de 42 a 46% e o de poros internos (Al), Fe e Mg e de estrutura variável. Entre
tamanho é adequado para propagação de de 26,00 a 29,07%. A densidade variou de as lâminas existe água que está ligada aos
plantas, especialmente sob nebulização. É 0,65 a 0,50 g/cm3, da menor para a maior cátions trocáveis e água que não os cir-
também recomendado para hidroponia em classe granulométrica. A retenção de água cunda, denominada água livre. Quando
NFT, subirrigação ou gotejamento. Sob NFT pelos poros internos após 1, 7 e 20 dias de aquecida a 350-650ºC perde a água interlami-
a perlita reduz grandemente a ocorrência embebição variou de 2,8 a 4,0%; de 3,9 a nar na forma de vapor, ocorrendo um con-
de apodrecimento em volta do colo das 6% e de 5,9 a 7,5%, respectivamente, da siderável aumento de espaço entre suas
plantas, causado pela evaporação super- menor para a maior classe granulométrica camadas (Choudhury & Faria, 1982). For-
ficial e conseqüente acúmulo de nutrientes de argila expandida. A maior porcentagem mam-se partículas pequenas, com formato
(collar burn). Essas partículas grosseiras de saturação de água nas maiores granulo- de sementes, porosas como esponjas e
dão excelente aeração e não se quebram metrias pode ser explicada pela existência muito leves (0,096 a 0,160kg/dm3). Embora
com facilidade, embora se deva ter cuidado de maior porosidade total. essas partículas retenham grande quan-
para não misturá-las excessivamente, quan- Outro fator importante foi a desunifor- tidade de água (0,40 a 0,53l/dm3) são inso-
do usadas na produção de misturas. O se- midade da densidade observada nos grãos lúveis nesta. Apresentam reação neutra
gundo tipo, com partículas entre 1,5 e nas maiores granulometrias e mesmo as (Resh, 1995) ou levemente alcalina (Wil-
5,0mm de diâmetro, presta-se bem para mis- menores densidades secas e úmidas que son & Hitchin, 1984), e bom poder tampão
turas para plantas envasadas. A larga faixa quantificam os espaços vazios entre e den- (Resh, 1995). Sua alta CTC entre 100 e
de tamanho permite uma mistura mais íntima tro dos grãos. Esta lenta e baixa capacidade 150cmolc/kg (Choudhury & Faria, 1982)
com outros componentes, facilitando o mo- de retenção de água possibilita maior areja- confere-lhe capacidade de reter nutrientes
vimento da água. O tipo com partículas de mento e deve ser levada em conta ao se e ir cedendo-os às plantas posteriormente
diâmetros entre 1,0 e 3,0mm, constitui-se planejar a freqüência de saturação da argila (Resh, 1995). Seus conteúdos em Mg e
num bom meio para germinação e cresci- expandida de forma que não falte água para potássio (K), ainda que baixos, são facil-
mento de seedlings. O tipo super fino, com as plantas. mente disponíveis para as plantas (Resh,
partículas de diâmetros entre 0,1 e 1,5mm, é O volume de água liberado sob tensão 1995).
usado como cobertura refletiva em cultivos de sucção de 0 a 10cm de coluna de água, Segundo Resh (1995), para fins agrí-
em casa de vegetação, em blocos de turfa correspondente ao espaço de aeração, va- colas a vermiculita classifica-se em quatro
para aumentar a proporção de grânulos de riou de 24 a 40% da menor para a maior tamanhos:
textura fina e, como condicionador de solos. classe granulométrica, respectivamente, a) no 1 - 5 a 8mm de diâmetro;
tendo ficado, nas três classes menores, den- b) no 2 - 2 a 3mm de diâmetro. É o tipo
Argila expandida tro do sugerido para substratos hortícolas. mais comum;
Segundo Walton (1980) e Schnitzler & O volume de água facilmente disponível
Michalsky (1992), a argila expandida rígida c) no 3 - 1 a 2mm de diâmetro;
ficou muito acima do sugerido, variando
é um produto granular obtido pelo aque- de 74 a 60% da menor para a maior granulo- d) no 4 - 0,75 a 1,0mm de diâmetro. Usado
cimento da argila em fornos rotativos a metria. A argila expandida apresentou um para germinação.
1.100ºC. Esta temperatura causa a esteriliza- baixo volume global de água liberada, o qual De acordo com Wilson & Hitchin (1984),
ção e expansão das partículas em grânulos variou de 68 a 28,6ml/l, da menor para a na Escócia têm sido obtidas excelentes

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produções de tomates em sistemas hidro- (SiO2) tem, entretanto, demolição muito mas de pegamento ou de transplantio,
pônicos que usam vermiculita como subs- lenta. Devido à sua natureza química, a lã como grevillea e rosas miniatura. Outro uso
trato. mineral não causa problema ambiental, importante é na micropropagação de plan-
quando incorporada ao solo, onde pode tas provenientes de cultura de tecidos (Don-
Lãs minerais aumentar a aeração e a drenagem (Blaab- nan & Biggs, 1984).
A lã de rocha é produzida pela fusão de jerg, 1983 e Donnan & Biggs, 1984). Na Holanda, o uso de bolsões de plás-
rochas basálticas e carvão coke em alto- Sua capacidade de troca de cátions é tico contendo lã de rocha é comum. Má-
fornos à temperatura de 1.600ºC. A lava zero. O material não adsorve, nem troca quinas especialmente desenvolvidas para
produzida é drenada e passada através de nutrientes com a solução. Sendo assim, esse fim nivelam perfeitamente o solo, que
uma série de rotores de alta velocidade que pode ser reutilizado após lixiviação (Don- após fumigado é recoberto por uma lâmina
fazem com que as gotas se transformem em nan & Biggs, 1984). Apresenta pH le- de plástico branco de 0,1mm de espessura.
finas fibras de 0,004mm de espessura e 3mm vemente alcalino e poder tampão muito Sobre essa superfície plana estabelecem-
de comprimento, que são então resfriadas pequeno, porém, na primeira irrigação, pode se os sistemas de aquecimento, drenagem
por uma corrente de ar. Com o objetivo de elevar levemente o pH da solução. As e irrigação, dispondo-se a seguir os bolsões
produzir um material estável e poroso, o melhores condições de crescimento são em ruas de cultivo. Há bolsões de diversos
adesivo baquelita é adicionado em conexão obtidas com pH em torno de 5,8 e, nessas tamanhos e estes devem ser furados no
com o desenvolvimento das fibras. Após a condições as lãs minerais podem ser consi- espaçamento adequado para receber a mu-
adição de baquelita, as fibras são deposita- deradas completamente inertes, já que as da e um gotejador que alimentará o sistema
das em um tapete de espessura conve- fibras não liberam nem adsorvem nutriente com solução nutritiva. Existem diversos
niente. O tapete é prensado, endurecido e algum. Isso possibilita um ótimo controle sistemas automatizados para o controle da
finalmente cortado em pedaços. Durante o da nutrição (Blaabjerg, 1983 e Donnan & irrigação, da nutrição e do pH. Welleman &
endurecimento, as fibras recebem uma Biggs, 1984). Verwer (1984) descrevem a instalação de
quantidade controlada de tensoativo, que As lãs minerais apresentam 97% de sistemas desse tipo, dando detalhes sobre
as torna absorventes (Blaabjerg, 1983 e poros no volume total, conseguindo reter as unidades de controle disponíveis no
Donnan & Biggs, 1984). grande quantidade de água totalmente mercado holandês.
A alta temperatura de fusão (1.600ºC), disponível para as plantas. Determinando Sonneveld & Welles (1984) discutem o
usada em sua produção dá origem a um a curva de retenção de água em lã de rocha uso de lã de rocha para o cultivo de hor-
produto estéril e 100% puro (Blaabjerg, sob tensão de 0 a -10kPa (0 a 100cm de co- taliças, na Holanda, comparando-o ao de
1983), que, quando reutilizado, deve ser luna de água), Silva et al. (1995) observaram outros substratos. Segundo estes autores,
esterilizado com produtos químicos ou com que sob saturação, a retenção foi de 95% para hortaliças de frutos, em geral usam-se
vapor. A lã de rocha pode ser submetida a do volume total, mas caiu rapidamente com bolsões contendo 14dm3 de lã de rocha por
alta pressão ou a ar sob alta pressão, mas o aumento da tensão de 0-5kPa, mostrando metro quadrado de casa de vegetação. Tam-
não a alta temperatura que tende a quebrar que pequena tensão causou uma rápida bém é comum o uso de tiras de 30cm de
a ligação entre as fibras. Não pode, por- queda na condutividade hidráulica, suge- largura x 7,5cm de espessura e comprimento
tanto, ser esterilizada por autoclavagem rindo que o fluxo de água nas raízes pode variável, para plantas cultivadas em duas
(Donnan & Biggs, 1984). ser impedido. A aeração também é ade- ruas, e tiras de 15cm de largura x 7,5cm de
O material básico da lã mineral é a quada e a proporção relativa entre água e espessura para plantas cultivadas em qua-
diabase e sua composição química corres- ar depende da espessura do material, das tro ruas. O sistema padrão holandês con-
ponde à da maioria dos solos minerais. Os características de drenagem da superfície siste em bolsões de lã de rocha embrulhada
mais importantes minerais presentes em sua na qual o material se apoia e da forma pela em filme plástico, mas há também sistemas
composição são silício (Si), Ca, Al e Mg. qual a água é suprida. Blocos ou placas de cultivo em calhas dispostas horizon-
Quando seca é um material muito leve, com 75mm de espessura assentados sobre talmente, nas quais são colocadas tiras ou
com densidade média de 0,07kg/dm3, e polietileno retêm 80% de água e 17% de ar. cubos de lã de rocha. Geralmente uma lâ-
embora contenha importantes nutrientes Há um gradiente de hidratação no meio, mina não recirculante de 1 ou 2cm é mantida
em sua composição estes não são daí libe- que fica muito molhado na base e seco na no fundo das calhas, embora o conven-
rados, pois o material é insolúvel em água superfície. A lã de rocha pode ser produzida cional sistema de gotejamento também seja
pura ou soluções nutritivas com pH entre em grânulos, blocos de propagação, blocos usado.
5,0 e 8,0 (Blaabjerg, 1983 e Donnan & Biggs, de crescimento e bolsões de crescimento As placas de lã de rocha esterilizadas
1984). (Donnan & Biggs, 1984). com vapor podem ser reutilizadas. Em nível
As fibras de lã mineral podem ser Blocos de 40mm de espessura e sub- experimental, as produções não se redu-
quebradas fisicamente pelas raízes em ex- divisões superficiais, para dar blocos indi- ziram com a reutilização das placas e, em al-
pansão ou por ação mecânica, mas não são viduais de 1.225mm2, são muito usados na guns casos, as produções foram até maiores
biodegradáveis. A decomposição das fibras Europa em propagação de plantas. Pres- nas placas reutilizadas. Estas sem esteri-
só ocorre em pH muito baixo. Em pH 5,0 tam-se bem para a produção de mudas para lização são, entretanto, perigosas, podendo
observa-se lenta decomposição, porém em cultivos hidropônicos. Na Austrália, são resultar em ataque generalizado de patóge-
pH 4,0 esta é evidente. O óxido de silício usados também para plantas com proble- nos à cultura (Sonneveld & Welles, 1984).

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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 87

Espumas sintéticas e resina fenólica. Além da leveza, grande reduzir o volume de água prontamente
Derivadas de uréia-formaldeído, poliu- retenção de umidade e boa drenagem, as disponível. Turfa excessivamente seca dá
retano, poliestireno ou resina fenólica, as espumas sintéticas têm baixa condutivi- origem a blocos quebradiços e de difícil
espumas sintéticas são um substrato com dade elétrica, o que permite total controle manuseio (Verdure, 1981).
grande número de aplicações. São muito da nutrição das plantas. A turfa é muito usada em misturas com
usadas nos Estados Unidos para enraiza- areia, lã de rocha, poliestireno, perlita, cas-
mento e propagação de flores de corte e SUBSTRATOS ORGÂNICOS cas, vermiculita e outros, na formulação de
outras plantas ornamentais como folha- Grande variedade de substratos orgâ- substratos com diferentes propriedades
gens tropicais, produção de plantas matri- nicos podem ser usados em cultivos hidro- físicas (Wilson & Hitchin, 1984). De acordo
zes de gerânios, germinação de sementes pônicos. com Resh (1995) as misturas mais usadas
de schefflera, produção de cravos, rosas, são:
antúrios, gérberas e poinsetias e micropro- Turfa a) turfa : perlita : areia (2 : 2 : 1);
pagação em cultura de tecidos, onde podem A turfa consiste em vegetação aquá- b) turfa : perlita (1 : 1);
ser usadas como substituto do estágio de tica, pantanosa, parcialmente decomposta.
c) turfa : areia (1 : 1), (1 : 3), (3 : 1);
ágar, ou como receptores de micropro- A composição dos diferentes depósitos de
turfa varia amplamente, dependendo da d) turfa : vermiculita (1 : 1);
págulos sem raízes.
Tem sido usada espuma particulada ou vegetação original, estado de decomposi- e) turfa : pumita : areia(2 : 2 : 1).
densa para o cultivo de orquídeas, havendo ção, conteúdo mineral e grau de acidifica- Na Europa, é muito difundido o uso de
estudos para o seu uso na produção de ção (Resh, 1995). turfa na confecção de blocos para produ-
rosas. Hortaliças como tomate, pepino e Segundo Resh (1995), a turfa de musgos ção de mudas. Neste caso, a turfa granu-
pimentão têm sido cultivadas em sacos con- como Sphagnum, Eriophorum e outros é a lada e umedecida recebe calcário, nutrientes
tendo espumas sintéticas, porém um dos de melhor qualidade. Apresenta pH entre e pesticidas, sendo então comprimida para
seus usos principais é na produção de alfa- 3,8 e 4,5 e tem elevada capacidade de reten- formar blocos de forma cuboidal, com 2,7 a
ce sob fluxo laminar de nutrientes (Boodley, ção de água, que chega a dez vezes o seu 5,0cm de lado. Máquinas especialmente
1984ab e Resh, 1995). peso. Contém cerca de 1% de nitrogênio desenvolvidas para esse fim produzem 10
De acordo com Boodley (1984ab), na (N) e quase nada de P e K. Sua limitação, mil a 20 mil destes blocos por hora (Pill &
produção de alface as sementes são ger- como a de outros tipos de turfa, está na Stubollo, 1986).
minadas sob nebulização e, após 19 dias, aeração deficiente e baixa proporção de Foi um dos primeiros substratos usados
as mudas já enraizadas em espuma, são água prontamente disponível para as plan- no cultivo hidropônico. Na Europa, a
removidas para casa de vegetação para tas, ou seja, entre 24 e 29% do VTP, depen- grande demanda tem elevado seu custo, o
finalizar o crescimento sob NFT, ou trans- dendo do seu grau de moagem (Verdure, que leva à procura de substratos alterna-
plantadas diretamente em outro meio de 1981). tivos (Wilson & Hitchin, 1984).
crescimento. A turfa de Sphagnum é formada pe-
la desidratação de resíduos recentes, in- Cascas
Segundo Resh (1995) podem ser usa-
das também em canteiros, misturadas com clusive partes vivas de S. papilosum, S. O uso de cascas em hidroponia, na
partículas inertes, como por exemplo, a areia, capillacium e S. palustre. É relativamente forma pura ou em misturas com outros
para o cultivo de cravos, orquídeas e gla- estéril e leve, decompondo-se mais lenta- substratos vem aumentando nas últimas
díolo, entre outros. mente que outros tipos de turfa e apresen- décadas (Wilson & Hitchin, 1984). O ma-
As espumas sintéticas são leves, esté- tando qualidade superior (Resh, 1995). terial é particularmente atraente, onde a
reis e de fácil manuseio, o que facilita seu A turfa preta resulta de material altamen- indústria madeireira é bem desenvolvida e
uso em procedimentos automatizados. te decomposto e tem propriedades físicas as cascas um subproduto de baixo custo.
Além disso, mantêm suas características ruins. Apresenta pH entre 4,1 e 5,3 e 70 a As cascas podem ser usadas em reci-
físicas por muitos anos, o que não ocorre 85% de matéria orgânica. Além da aeração pientes os mais diversos, em bolsões de
com turfa, cascas e outros substratos orgâ- deficiente, perde água irreversivelmente. A polietileno ou mesmo em blocos manufa-
nicos sujeitos à decomposição (Boodley, maior parte de seu espaço poroso constitui- turados (Wilson, 1981). Esse material
1984a). Sua propriedade de grande capa- se de microporos, de modo que apenas 13% geralmente sofre compostagem antes do
cidade de retenção de água e excelente do VTP é ocupado por água prontamente uso como substrato hortícola, havendo,
aeração é cuidadosamente controlada atra- disponível para as plantas (Verdure, 1981). entretanto, alguns trabalhos que relatam o
vés da sofisticada química de sua manufa- O problema da perda irreversível de uso de cascas frescas moídas. As cascas
tura (Boodley, 1984a). De acordo com Resh água pode ser parcialmente corrigido com podem ser usadas para os mais diversos
(1995), 1g de espuma de uréia-formaldeído uma leve secagem antes de seu uso. Não é cultivos sem solo, desde que se corrijam
pode reter 100ml de água. possível, no entanto, secá-la muito, porque suas características desfavoráveis.
Podem ser fabricadas com diversas reduz sua capacidade de retenção de água, A compostagem, normalmente reali-
densidades, espessuras e tamanho de cé- que cai de 94% na turfa fresca, para 75% na zada, visa degradar compostos fitotóxicos
lulas. Nos Estados Unidos os tipos mais turfa com 75% de umidade. Além disso, a como terpenos, fenóis e taninos, que impe-
usados são espumas derivadas de uretano secagem, embora melhore a aeração, pode dem o bom desenvolvimento das plantas,
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88 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

reduzir a alta relação entre carbono (C) e N relatam que as cascas de madeiras moles muito finas, o que compromete a aeração;
e, eliminar microrganismos patogênicos e como Pinus radiata e P. pinaster contêm o meio favorece o acúmulo de sais e deter-
insetos (Wilson, 1981, Kull, 1981, Wilson menor concentração de substâncias fitotó- minadas espécies podem conter substân-
& Hitchin, 1984 e Maree, 1984). De acordo xicas, podendo ser usadas na forma fresca. cias fitotóxicas; é necessário o uso de filtros
com Wilson (1981), na Inglaterra as cascas Adicionalmente, Maree (1984) diz que nos capilares de gotejamento e estes
sofrem moagem em moinho de martelo, cascas de Pinus frescas e moídas não pare- devem ser limpos com freqüência; existe
passam por peneira de 1,9cm de malha, são cem apresentar problemas com a ocorrên- grande perda de material em cada ciclo de
colocadas em grandes pilhas e lavadas cia de fungos dos gêneros Pythium e cultivo, por decomposição ou por aderir-
seguidas vezes. Normalmente, recebem Phytophthora, como serragem, mesmo se às raízes (Resh, 1995 e Morgan, 1998a).
1kg/m3 de N e são deixadas compostar por quando não submetidas à esterilização.
nove semanas, com 50% de umidade. Du- CONSIDERAÇÕES FINAIS
rante esse período ocorre a decomposição Serragem
microbiológica e oxidação química de ma- Como foi visto, grande número de subs-
É um subproduto da indústria florestal,
teriais orgânicos como carboidratos, ce- tratos pode ser usado em cultivos hidropô-
sendo, portanto, abundante e barato em
lulose, ligninas, substâncias fenólicas e nicos. Em geral, tais substratos são
determinadas regiões. É um material leve e
taninos. Verdonck et al. (1983) recomendam utilizados para produção de mudas, e para
com boa aeração (Resh, 1995), porém com
um período de compostagem de dois a três o cultivo em sistemas de subirrigação ou
alta relação entre C e N e baixa capacidade
meses para cascas puras, e de três a quatro em sacos com gotejamento. O sucesso do
de retenção de água, podendo tais caracte-
meses para misturas de cascas com outros uso de substratos em hidroponia depende
rísticas ser melhoradas pela compostagem
materiais como lixo urbano, esterco de ga- não só das características físicas, químicas
(Kull, 1981). Para cultivos hidropônicos,
linha ou porco. Para cascas de madeiras e físico-químicas do meio empregado, mas
Resh (1995) recomenda que se use serragem
duras, esses autores recomendam a adição também da forma como cada sistema é
moderadamente fina, que permite melhor
de 1dag/kg de N na forma de uréia, e para manejado. Cada substrato possui caracte-
difusão lateral da umidade que a serragem
cascas de madeiras moles 0,5 a 0,75dag/kg. rísticas próprias que devem ser conhecidas,
grossa. Além do mais, serragem grossa
Recomendam ainda que durante o pro- avaliando-se em cada caso sua adequação
propicia o excessivo aprofundamento radi-
cesso, a umidade se situe entre 65 e 70% e ao sistema e à cultura que se deseja pro-
cular, podendo as raízes obstruir o sistema
o teor de oxigênio (O2) em cerca de 5% do duzir.
de drenagem.
volume total de gases. As plantas necessitam de água, oxigênio
Segundo Maree (1984) um dos proble-
Os teores de Mn nas cascas podem ser e nutrientes em quantidades e proporções
mas da serragem é a ocorrência de doenças
elevados, especialmente em espécies que adequadas para sobreviver e atingir pro-
causadas por Pythium e Phytophthora,
cresceram em solos ácidos. Toxidez de Mn, dutividades elevadas. Num substrato
especialmente quando usada em dois
ou deficiência de Fe induzida, pode ocorrer particular, o atendimento a essas necessi-
cultivos subseqüentes. Resh (1995) reco-
nessas condições (Wilson, 1981 e Wilson dades dependerá das propriedades físicas,
menda sua esterilização com vapor ou
& Hitchin, 1984). O fornecimento de quelato químicas e físico-químicas do meio e de
produtos químicos antes do uso. A serra-
de Fe p.a., a 5%, normalmente corrige o práticas de manejo, como irrigação e aplica-
gem de algumas espécies, como a tuia roxa,
problema (Harris & Maree, 1984). De acor- ção de nutrientes. Como exemplo, pode-se
pode ser fitotóxica. Nesses casos a com-
citar que o teor de umidade de um meio
do com Harris & Maree (1984), substratos postagem prévia é indicada.
hidropônico depende não só da porosi-
a base de cascas de Pinus frescas podem Misturas de serragem e areia e/ou turfa
dade desse meio, mas também do tamanho
apresentar ainda problemas com micronu- têm sido experimentadas com êxito, embora
do container, da freqüência, duração e
trientes, Mg, Ca e N. tenham maior custo (Kull, 1981 e Resh,
método de irrigação.
Segundo Wilson (1981) e Verdonck et 1995).
Na escolha do substrato, além das
al. (1983), os compostos de cascas, com A serragem é geralmente usada em
propriedades físicas, químicas e físico-
freqüência, apresentam baixo teor de água bancadas, recebendo a solução nutritiva
químicas, devem-se considerar a sua esta-
disponível para as plantas, sendo essa por gotejamento. Maree (1984) testou seu
bilidade ao longo do tempo, a possibilidade
característica melhorada pela mistura com uso em sacos de polietileno com 14dm3 de
de usá-lo em vários ciclos de cultivo, a isen-
lodo de esgoto, esterco animal ou outros serragem fresca de Pinus pinaster, e obteve
ção de toxinas ou patógenos, assim como
dejetos. bons resultados na produção de pepinos
a sua disponibilidade no mercado e o seu
Composto de cascas tem sido usado para sementes. Este autor verificou que o
custo.
com sucesso em cultivos de plantas orna- uso do recipiente impede a rápida dissemi-
mentais e tomates na Bélgica, Estados Uni- nação de doenças a toda a cultura, conclu- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
dos e África do Sul. A intensificação de indo que serragem fresca de Pinus pinaster
BAEVRE, O.A. Chemical and physical properties
seu uso depende da disponibilidade e loca- pode ser usada nesse sistema, sem esterili- of re-used peat for tomato. Acta
lização dos resíduos, que determinam sua zação, por dois cultivos sucessivos. Horticulturae, The Hague, v.126, p.45-48,
competitividade em relação a outros subs- Dentre as desvantagens do uso de 1981.
tratos. serragem têm-se que: sua estrutura quebra- BARBOSA, J.G. Cultivo hidropônico de crisân-
Maree (1984) e Harris & Maree (1984) se com o uso, dando origem a partículas temo "Yellow polaris" em argila expandida

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90 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

Nutrição mineral de hortaliças, preparo e


manejo de soluções nutritivas
Pedro Roberto Furlani 1
Denizart Bolonhezi 2
Luis Cláudio Paterno Silveira 3
Valdemar Faquin 4

Resumo - Quando se procede uma análise das exigências nutricionais de plantas


visando o cultivo hidropônico, devem-se enfocar as relações existentes entre os
nutrientes, pois isso é uma indicação das relações de extração do meio de crescimento.
São apresentadas as relações foliares existentes entre os teores considerados
adequados de N, P, Ca, Mg e S com os de K para diferentes culturas passíveis de
serem cultivadas hidroponicamente. A solução nutritiva ideal para o cultivo hi-
dropônico depende não somente das concentrações dos nutrientes, mas também
do tipo ou do sistema hidropônico, dos fatores ambientais, da época do ano, do
estádio fisiológico da cultura, da espécie vegetal e da cultivar. São apresentadas
diferentes formulações de soluções nutritivas usadas e recomendadas por autores
de diversos países para o cultivo hidropônico de diferentes culturas. São descritos
os critérios para o preparo e manejo da solução nutritiva durante o desenvolvimento
de plantas, incluindo-se a composição química da água usada no cultivo hidropônico,
interpretação de análise química periódica e das medidas do pH e da condutividade
elétrica. Para as condições brasileiras, as recomendações de formulações de soluções
nutritivas levam em conta o clima regional.
Palavras-chave: Macronutrientes; Micronutrientes; pH; Condutividade elétrica;
Adubos; Cultivo hidropônico.

INTRODUÇÃO redução no uso de água; eficiência do uso anos o interesse pelo cultivo em hidro-
Desde a criação do termo hidropôni- de fertilizantes; melhor controle do cresci- ponia, predominando o sistema nutrient
co pelo pesquisador da Universidade da mento vegetativo; maior produção por film technique (NFT), ou seja, a técnica do
Califórnia, Dr. W. F. Gericke, na década de área, qualidade e precocidade; maior ergo- fluxo laminar de nutrientes. Muitos dos
30, a técnica de produção de plantas sem nomia no trabalho; maiores possibilidades cultivos hidropônicos não obtêm sucesso,
solo vem sendo popularizada. Segundo de mecanização e automatização da cultura. devido ao desconhecimento dos aspectos
Benoit & Ceustermans (1995), a despeito A obtenção das vantagens dependerá de manejo nutricional desse sistema de
do maior custo inicial para instalação, várias de diversos fatores, mas principalmente do produção. Neste contexto, enfocaremos os
são as vantagens do cultivo comercial de domínio dos conhecimentos sobre a for- aspectos importantes pertinentes ao pre-
plantas em hidroponia, as quais podem ser mulação e manejo mais adequados das paro e aos critérios de reposição de nutrien-
resumidas como a seguir: padronização da soluções nutritivas. tes, bem como as diversas fórmulas de so-
cultura e do ambiente radicular; drástica No Brasil, tem crescido nos últimos luções nutritivas para diferentes culturas.

1
Engo Agro, Ph.D., Pesq. IAC-CSRA, Bolsista CNPq, Caixa Postal 28, CEP 13001-970 Campinas-SP. E-mail: pfurlani@barao.iac.br
2
Engo Agro, Pesq. IAC - Núcleo de Agronomia da Alta Mogiana, Caixa Postal 271, CEP 14001-970 Ribeirão Preto-SP.
3
Engo Agro, M.Sc., Assist. Téc. IAC - Estação Experimental de Agronomia em Pindorama, Caixa Postal 24, CEP 15830-000 Pindorama-SP.
4
Engo Agro, D.Sc., Prof. Tit. UFLA - Depto Ciência do Solo, Bolsista CNPq, Caixa Postal 37, CEP 37200-000 Lavras-MG. E-mail: vafaquin@ufla.br

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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 91

NOÇÕES DE NUTRIÇÃO de N e de B ocorrem em partes mais velhas ção de extração do meio de crescimento.
MINERAL DE PLANTAS (folhas velhas) e mais jovens da planta As quantidades totais absorvidas apresen-
(pontos de crescimento), respectivamen- tam importância secundária, uma vez que
Ao contrário dos animais e microrga-
te. no cultivo hidropônico procura-se manter
nismos, os elementos químicos essenciais
Em cultivos hidropônicos, a absorção relativamente constante as concentrações
requeridos pelas plantas superiores são
é geralmente proporcional à concentração dos nutrientes no meio de crescimento,
exclusivamente de natureza inorgânica. A
de nutrientes na solução próxima às raízes diferente do que ocorre em solo, onde se
identificação desses nutrientes atendeu
sendo muito influenciada pelos fatores do procura fornecer as quantidades exigidas
aos critérios de essencialidade propostos
ambiente, tais como; salinidade, oxigena- pelas plantas através do conhecimento pré-
por Arnon & Stout (1939), citados por Resh
ção, temperatura e pH da solução nutritiva, vio das quantidades disponíveis existentes
(1996), ou seja:
intensidade de luz, fotoperíodo, tempera- no próprio solo.
a) a deficiência ou a falta de um ele- tura e umidade do ar (Adams, 1992, 1994). No Quadro 1 são apresentadas as rela-
mento impossibilita a planta de com- ções existentes entre os teores foliares
pletar o seu ciclo biológico; EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS DE considerados adequados de N, P, Ca, Mg e
b) a deficiência é específica para o ele- HORTALIÇAS VISANDO O S com os de K, considerados adequados
mento em questão; CULTIVO HIDROPÔNICO para diferentes culturas passíveis de ser
c) o elemento deve estar envolvido Quando se procede uma análise das cultivadas no sistema hidropônico - NFT.
diretamente na nutrição da planta, exigências nutricionais de plantas, visando Embora haja diferenças nos teores de nu-
quer seja constituindo um metabó- o cultivo em solução nutritiva, devem-se trientes em folhas em função de cultivares,
lito essencial, quer seja requerido enfocar as relações existentes entre os nu- épocas de amostragem e posição das fo-
para a ação de um sistema enzimá- trientes, pois essa é uma indicação da rela- lhas, os valores apresentados indicam que
tico.
Dessa forma, com os elementos quími- QUADRO 1 - Relações entre os teores foliares (g/kg) de N, P, Ca, Mg e S e os teores de K
cos carbono (C), hidrogênio (H), oxigênio considerados adequados para diferentes culturas (continua)
(O), nitrogênio (N), fósforo (P), potássio
Culturas K N P Ca Mg S
(K), cálcio (Ca), magnésio (Mg), enxofre (S),
boro (B), cloro (Cl), cobre (Cu), ferro (Fe), Hortaliças de folhas
manganês (Mn), molibdênio (Mo) e zinco Agrião 1,00 0,83 0,17 0,25 0,07 0,05
(Zn), uma planta é capaz de desenvolver e
Alface 1,00 0,62 0,09 0,31 0,08 0,03
completar seu ciclo biológico, se as con-
Almeirão 1,00 0,65 0,11 0,12 0,03 -
dições ambientais forem favoráveis. Com
exceção dos nutrientes não-minerais C, H Cebolinha 1,00 0,75 0,08 0,50 0,10 0,16
e O, que são incorporados ao metabolismo Chicória 1,00 0,82 0,11 0,36 0,07 -
vegetal, através da água e ar atmosférico, Couve 1,00 1,20 0,16 0,62 0,14 -
os demais nutrientes minerais são absorvi- Espinafre 1,00 1,00 0,11 0,78 0,18 0,20
dos via raízes. Repolho 1,00 1,00 0,15 0,63 0,15 0,13
Além desses nutrientes, outros elemen- Rúcula 1,00 0,78 0,09 0,84 0,07 -
tos químicos têm sido esporadicamente Salsa 1,00 1,14 0,17 0,43 0,11 -
considerados benéficos ao crescimento de
plantas, sem contudo atender aos critérios
Hortaliças de frutos
de essencialidade. Como exemplo, pode-
mos citar o sódio (Na) para plantas haló- Berinjela 1,00 1,00 0,16 0,40 0,14 -
fitas, o silício (Si) para algumas gramíneas Ervilha 1,00 1,67 0,20 0,67 0,17 -
e o cobalto (Co) para plantas leguminosas Feijão-vagem 1,00 1,43 0,14 0,71 0,17 0,11
fixadoras de nitrogênio atmosférico. Jiló 1,00 1,57 0,14 0,57 0,11 -
De acordo com a redistribuição no inte- Melão 1,00 1,14 0,14 1,14 0,29 0,08
rior das plantas, os nutrientes podem ser Morango 1,00 0,67 0,10 0,67 0,27 0,10
classificados em três grupos: móveis (NO3,
Pepino 1,00 1,22 0,18 0,56 0,16 0,13
NH4, P, K e Mg), intermediários (S, Mn, Fe,
Pimenta 1,00 1,00 0,13 0,63 0,20 -
Zn, Cu e Mo) e imóveis (Ca e B). Essa clas-
Pimentão 1,00 0,90 0,10 0,50 0,16 -
sificação é muito útil na identificação de
sintomas de deficiência de um determinado Quiabo 1,00 1,29 0,11 1,14 0,23 0,10
nutriente. Por exemplo, os sintomas de falta Tomate 1,00 1,25 0,15 0,75 0,15 0,16

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92 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

(conclusão) na produção de frutos, as relações entre N


Culturas K N P Ca Mg S e K e, P e K consideradas devem ser dife-
rentes das usadas para o desenvolvimento
Hortaliças de flores
vegetativo. No período de floração e fruti-
Brócolos 1,00 1,50 0,20 0,67 0,17 0,18 ficação deve-se reduzir a relação N/K e
Couve-flor 1,00 1,25 0,15 0,75 0,10 - aumentar P/K. Essas alterações são fáceis
de ser feitas no cultivo hidropônico.
Ornamentais
Antúrio 1,00 1,00 0,20 0,80 0,32 0,20 COMPOSIÇÃO DE SOLUÇÕES
Azaléia 1,00 2,00 0,40 1,00 0,70 0,35 NUTRITIVAS
Begônia 1,00 1,11 0,11 0,44 0,11 0,12
A composição ideal de uma solução
Crisântemo 1,00 1,00 0,14 0,30 0,14 0,10 nutritiva depende não somente das con-
Gladíolo 1,00 1,29 0,20 0,71 0,09 - centrações dos nutrientes, mas também de
Gloxínia 1,00 1,00 0,10 0,50 0,15 0,13 outros fatores ligados ao cultivo, incluindo-
Gypsophila 1,00 1,25 0,13 0,88 0,18 0,12 se o tipo ou o sistema hidropônico, os fato-
Hibiscus 1,00 1,75 0,35 1,00 0,30 0,16 res ambientais, a época do ano (duração
Palmeira 1,00 1,00 0,17 0,67 0,20 0,18 do período da luz), estádio fenológico, a
Rosa 1,00 1,60 0,16 0,60 0,16 0,21 espécie vegetal e a cultivar em produ-
Schefflera 1,00 1,00 0,13 0,50 0,17 0,16 ção.
Violeta-africana 1,00 0,90 0,10 0,30 0,12 0,11 A Figura 1 mostra as origens dos nu-
trientes no cultivo em solo e hidropo-
FONTE: Dados básicos: Raij et al. (1997).
nia. Comparando-se as composições quí-
micas de extratos de solo e de soluções
nutritivas, Martinez (1997) comentou que
existem diferenças entre essas relações pa- essas culturas com maior capacidade de as maiores diferenças existentes entre
ra as diversas espécies, considerando o extração. esses dois meios de crescimento de plan-
desenvolvimento vegetativo adequado, e Por outro lado, para as culturas que tas (solo e hidroponia) referem-se à con-
que isto deve ser levado em consideração, possuem fase reprodutiva com interesse centração de P. Enquanto na solução
quando se utiliza uma única composição comercial, seja na produção de flores seja de um solo fértil essa concentração é de
de solução nutritiva para o crescimento de
variadas espécies vegetais. Quando isso
ocorre com espécies que possuem relação
de extração diferente, há uma grande pos- Solo
sibilidade de desequilíbrio nutricional com
o acúmulo e/ou a falta de nutrientes ao lon-
go do período de crescimento e desenvolvi-
Fração Fração
mento das plantas, principalmente para inorgânica orgânica
aquelas de ciclo mais longo, quando a
solução nutritiva não é renovada integral- Húmus
mente. Os valores apresentados também
indicam que, para a reposição de nutrientes
Minerais
durante o desenvolvimento das plantas, decompostos Hidroponia
essas relações devem ser consideradas.
Por exemplo, quando se usa uma única Parte
Dissolvidos em Sais
aérea
solução nutritiva para o crescimento de planta água do solo inorgânicos

diferentes hortaliças de folhas, pode-se


Solução do solo
antever que as plantas de espinafre e rúcula Absorção
Raízes água e Dissolvidos
irão absorver maiores quantidades de Ca nutrientes Solução nutritiva em água
que as plantas de agrião, alface e almeirão,
para cada unidade de K absorvido. Se isso Figura 1 - Analogia entre as origens dos nutrientes absorvidos por plantas cultivadas
não foi considerado na reposição de nu- em solo e em hidroponia
trientes, ocorrerá deficiência de Ca para FONTE: Dados básicos: Resh (1996).

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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 93

0,004mmol/l (0,12mg/l)5, nas soluções nu- nitrogênio. cionado anteriormente, são pequenas as
tritivas é 125 a 675 vezes maior, isto é, entre No entanto, é comum encontrar na li- diferenças entre as concentrações de um
0,5 e 2,7mmol/l (15 e 84mg/l). Segundo essa teratura a frase “solução nutritiva modifi- mesmo micronutriente nas diferentes solu-
autora, ao contrário, o K e o N apresentam cada de Hoagland”, isto é, fórmulas deriva- ções nutritivas. Por exemplo, nas soluções
concentrações na solução do solo muito das da proposta em 1938, por Hoagland propostas por Yamazaki, citado por Sazaki
superiores às da solução nutritiva, sendo, & Arnon, citados por Resh (1996), em que (1992), as concentrações dos micronutri-
respectivamente, de 49 a 126 vezes e de 16 as concentrações dos nutrientes expressos entes são as mesmas, independente da
a 56 vezes mais elevadas nessa solução. em mg/l são: N-N03 (210), P (31), K (234), cultura.
Para os demais nutrientes, as diferenças Ca (160), Mg (48), S (64), B (0,5), Cu (0,02), Também já existem no mercado brasi-
são de menor magnitude. A composição Fe (1,0), Mn (0,5), Mo (0,01) e Zn (0,05). leiro formulações importadas na forma de
da solução de um solo sofre muito pouca Também existe outra versão dessa solução cristais e prontas para o uso, tais como:
alteração em função da extração de nutri- com a adição de N-NH4 (14), mantendo-se Kristalon Laranja 6-12-36 (adiciona-se
entes pelas plantas, uma vez que no solo, o N total constante. Esses dois tipos de Tenso-cocktail), Plant Prod 7-11-27,
além da relação entre o volume de solução soluções têm sido as mais usadas em pes- Peter’s Professional Hydro-Sol 5-11-26.
e o volume de raízes ser muito elevada, quisa com nutrição mineral de plantas e Devido à limitação química de acrescentar
também ocorre uma capacidade contínua constituem a base para a formulação de o Ca com os demais nutrientes numa mesma
de reposição de nutrientes a partir dos pro- inúmeras soluções nutritivas comerciais formulação, há a necessidade de adição de
cessos de decomposição e/ou liberação existentes em todo o mundo. uma fonte de Ca, sendo mais utilizado o
dos componentes inorgânico e orgânico. De maneira geral, segundo Barry (1996), nitrato de cálcio Hydro especial.
Isso não ocorre com soluções nutritivas, as concentrações de nutrientes nas solu-
onde normalmente a relação de volume ções nutritivas apresentam-se nas seguin- PREPARO E MANEJO QUÍMICO
solução/raízes além de ser muito menor do tes faixas (mg/l): N (70-250), P (15-80), DE SOLUÇÕES NUTRITIVAS
que em condições de solo, a reposição de K (150-400), Ca (70-200), Mg (15-80), S Os produtores que optarem pela confec-
nutrientes naturalmente não existe. (20-200), Fe (0,8-6), Mn (0,5-2), B (0,1-0,6), ção da solução nutritiva podem utilizar
Diversas soluções nutritivas já foram Cu (0,05-0,3), Zn (0,1-0,5) e Mo (0,05-0,15). qualquer sal solúvel, desde que forneça o
propostas na literatura havendo, em alguns Esses valores podem ser observados nos nutriente requerido e não contenha elemen-
casos, diferenças marcantes entre elas com Quadros 2, 3 e 4, nos quais estão apresen- to químico que possa prejudicar o desen-
relação às concentrações dos macronutri- tadas diferentes soluções nutritivas para volvimento das plantas. Nos Quadros 5 e 6
entes, enquanto que para os micronutri- várias espécies de hortaliças. Convém encontram-se listados os sais/fertilizan-
entes, as diferenças são bem menores. salientar que, para as condições em que tes comumente usados para o preparo de
Hewitt (1966), citado por Benton Jones foram avaliadas, todas conferem bons re- soluções nutritivas. Alguns cuidados de-
Junior (1982), apresenta uma lista de 160 sultados, no entanto, pode-se dizer que vem ser observados no preparo das solu-
diferentes fórmulas, com base nos vários não existe uma formulação que seja única e ções nutritivas destinadas à produção
tipos de sais e combinações de fontes de melhor que todas as outras. Como men- comercial:

QUADRO 2 - Concentrações de nutrientes (g/1.000l) para o cultivo hidropônico de alface


N-NO3 N-NH4 P K Ca Mg S-SO4 B Cu Fe Mn Mo Zn Fonte
86,5 8,7 12 145 45 12 16 0,2 0,01 2,0 0,2 0,005 0,02 Sazaki (1992)
(1)
266 18 62 430 180 24 36 0,3 0,05 2,2 0,3 0,05 0,05 Sonneveld & Straver (1994)
156 _ 28 252 93 26 34 0,5 0,05 3,0 0,5 0,05 0,1 Muckle (1993)
238 _ 62 426 161 24 32 0,3 0,05 5,0 0,4 0,05 0,3 Castellane & Araújo (1994)
166 _ 30 279 149 46 90 0,5 0,02 2,5 2,0 0,05 0,1 Lim & Wan (1984)
206 _ 50 211 200 29 38 0,5 0,02 3,0 0,5 0,1 0,15 Adams (1994)
165 _ 35 339 78 23 49 0,1 0,10 5,0 0,2 0,03 0,14 Carrasco & Izquierdo (1996)
174 24 39 183 142 38 52 0,3 0,02 2,0 0,4 0,06 0,06 Furlani (1998)
(1) acrescentar 14g e 21g de Si/1000l, para alface e pepino, respectivamente.

5
Para converter mmol/l para mg/l ou g/1.000l ou “ppm”, multiplica-se o valor em mmol/l pelo valor da massa atômica do nutriente. No caso do
P, a massa atômica é igual a 31.

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94 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

QUADRO 3 - Concentrações de nutrientes (g/1.000l) para o cultivo hidropônico de algumas hortaliças de frutos
Cultura N-NO3 N-NH 4 P K Ca Mg S-SO4 B Cu Fe Mn Mo Zn Fonte

Tomate 103,5 12 16 109 67,5 24 32 0,2 0,01 2,0 0,2 0,005 0,02 Sazaki (1992)
151 14 39 254 110 24 48 0,3 0,05 0,8 0,6 0,05 0,05 Sonneveld & Straver (1994)
192 - 46 275 144 32 42 0,5 0,05 0,5 0,5 0,05 0,1 Muckle (1993)
169 - 62 311 153 43 50 0,3 0,05 4,3 1,1 0,05 0,3 Castellane & Araújo (1994)

Pepino 198 21 24 217,5 157,5 48 64 0,2 0,01 2,0 0,2 0,005 0,02 Sazaki (1994)
168 14 31 254 110 24 32 0,3 0,05 0,8 0,6 0,05 0,05 Sonneveld & Straver (1994)
185 - 46 229 170 32 42 0,5 0,05 1,0 0,5 0,05 0,1 Muckle (1993)
174 - 56 258 153 41 54 0,3 0,05 4,3 1,1 0,05 0,3 Castellane & Araújo (1994)

Pimenta 175 14 31 244 120 27 32 0,3 0,05 0,8 0,6 0,05 0,05 Sonneveld & Straver (1994)
18 5 - 46 231 170 32 50 0,5 0,05 1,5 0,5 0,05 0,1 Muckle (1993)

Pimentão 152 - 39 245 110 29 32 0,3 0,05 3,7 0,4 0,05 0,3 Castellane & Straver (1994)

Berinjela 165 14 31 254 90 37 36 0,3 0,05 0,8 0,6 0,05 0,05 Sonneveld & Straver (1994)
17 9 - 46 303 127 39 48 0,3 0,05 3,2 0,6 0,05 0,3 Castellane & Araújo (1994)

Morango 73,4 8,7 12 109 45 12 16 0,2 0,01 2,0 0,2 0,005 0,02 Sazaki (1992)
140 7 39 205 110 27 36 0,3 0,05 1,0 0,6 0,05 0,05 Sonneveld & Straver (1994)
101 3 44 208 123 51 134 0,5 0,05 3,0 0,5 0,05 0,1 Muckle (1993)
125 - 46 176 119 24 32 0,3 0,05 2,5 0,4 0,05 0,3 Castellane & Araújo (1994)
13 8 35 36 292 95 30 - - 0,17 6,0 0,5 - 0,2 Sarooshi & Cressewell (1994)

Melão 198 25,2 32 217,5 157,5 36 48 0,2 0,01 2,0 0,2 0,005 0,02 Sazaki (1992)
170 - 39 225 153 24 32 0,3 0,05 2,2 0,6 0,05 0,3 Castellane & Araujo (1994)

(1) 20 0 - 50 680 180 30 - 0,5 0,2 6,0 0,5 0,2 0,2 Pardossi et al. (1994)
(2) 130 - 40 400 70 30 - 0,5 0,2 6,0 0,5 0,2 0,2 Pardossi et al. (1994)
(1) Primavera. (2) Verão.

QUADRO 4 - Concentrações de nutrientes (g/1.000l) recomendadas para o cultivo hidropônico de plantas ornamentais
Cultura N-NO 3 N-NH 4 P K Ca Mg S-SO4 B Cu Fe Mn Mo Zn
Alstroemeria 158 18 39 235 115 24 40 0,3 0,05 1,4 0,6 0,05 0,3
105 11 31 186 80 18 40 0,2 0,05 1,4 0,3 0,05 0,3
Anemona 182 14 47 254 150 24 40 0,3 0,05 2,0 0,3 0,05 0,3
Cravo 182 14 39 244 150 24 40 0,6 0,05 1,4 0,6 0,05 0,3
102 11 19 156 70 12 26 0,2 0,03 1,1 0,3 0,05 0,2
Antúrio 91 14 31 176 60 24 48 0,2 0,03 0,8 0,2 0,05 0,2
Aster 182 14 39 244 150 24 40 0,3 0,05 1,4 0,6 0,05 0,3
Bouvardia 182 18 54 235 170 24 48 0,2 0,05 1,4 0,3 0,05 0,2
112 14 47 156 100 12 24 0,2 0,05 1,4 0,3 0,05 0,2
Crisântemo 179 18 31 293 100 24 32 0,2 0,03 3,4 1,1 0,05 0,2
Cymbidium 63 7 31 137 80 21 68 0,2 0,03 0,4 0,6 0,05 0,2
56 17 31 127 65 21 72 0,2 0,03 0,4 0,6 0,05 0,3
Euforbia 161 14 47 235 140 24 48 0,2 0,03 2,0 0,6 0,05 0,2
Freesia 203 17 39 303 135 36 48 0,3 0,05 1,4 0,6 0,05 0,3
Gerbera 158 21 38 215 120 24 40 0,3 0,05 2,0 0,3 0,05 0,3
105 14 23 166 70 12 24 0,2 0,03 1,4 0,3 0,05 0,3
Gypsophila 210 17 54 274 180 30 48 0,3 0,05 1,4 0,6 0,05 0,3
Hippeastrum 182 14 39 293 125 24 40 0,3 0,03 0,6 0,6 0,05 0,3
Plantas envasadas 148 15 47 215 120 18 32 0,2 0,03 1,1 0,6 0,05 0,2
Rosa 60 7 16 90 44 10 16 0,2 0,05 1,4 0,3 0,05 0,2
154 18 39 196 140 18 40 0,2 0,03 0,8 0,3 0,05 0,2
Statice 168 14 31 235 120 24 32 0,03 0,05 0,8 0,6 0,05 0,3
FONTE: Sonneveld & Straver (1994).

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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 95

QUADRO 5 - Sais/fertilizantes usados como fontes de macronutrientes para o preparo de soluções


a) conhecer a qualidade da água, quan-
nutritivas
CE Quantidade para to as suas características químicas
Sal ou fertilizante Nutriente Concentração (solução preparar 1 mg/l de (quantidades de nutrientes e con-
fornecido (%) 0,1%) cada nutriente centração salina) e microbiológicas
(mS) (g/1.000l)
(presença de coliformes fecais e pa-
Nitrato de potássio K 36,5 1,28 2,74 tógenos). Se os teores de algum dos
(13-0-44) N-NO3 13 7,69
macro e/ou micronutrientes forem
Nitrato de cálcio Hydro® Ca 19 1,18 5,26 respectivamente maiores que 25% e
N-NO3 14,5 6,90 50% dos valores da fórmula adotada,
N-NH4 1,0 100,00 as quantidades dos sais que forne-
cem esses nutrientes devem ser re-
Magnitra-L® 41%, D=1,35 Mg 6 0,50 16,67 (12,35ml) calculadas;
N-NO3 7 14,29 (10,59ml)
b) observar a relação custo/benefício
Fosfato monoamônio (MAP) N-NH4 11 0,95 9,09 e solubilidade na escolha dos sais
purificado (11-60-0) P 26 3,85 fertilizantes;

Nitrato de amônio N-NH4 16,5 1,50 6,06


c) utilizar N na forma amoniacal (NH4)
N-NO3 16,5 6,06 não mais do que 20% da quantidade
total de N da formulação;
Fosfato monopotássico (MKP) K 29 0,70 3,45
(0-52-34) P 23 4,35
d) evitar a mistura de solução concen-
trada de nitrato de cálcio com sul-
Cloreto de potássio (branco) K 52 1,70 1,92
fatos e fosfatos, pois podem ocorrer
Cl 47 2,13
a formação de compostos insolúveis
Sulfato de potássio K 41 1,20 2,44 (precipitados) como sulfato de cálcio
S 17 5,88
e fosfato de cálcio;
Sulfato de magnésio Mg 10 0,88 10,00
e) dar preferência ao uso de molibdato
S 13 7,69
de amônio ou ácido molibdico, em
Ácido fosfórico 85%, D = 1,7 P 27 1,00 3,70 (2,18ml) vez do molibdato de sódio, pois este
é muito alcalino e quando adicio-
QUADRO 6 - Sais/fertilizantes usados como fontes de micronutrientes para o preparo de soluções nado ao coquetel dos demais sais
nutritivas de micronutrientes pode ocasionar
Quantidade para precipitações de alguns deles.
Nutriente Concentração preparar 0,1 mg/l de
Sal ou fertilizante
fornecido (%) cada nutriente Uma grande parte das soluções nutri-
(g/1.000l)
tivas não tem capacidade tampão, dessa
FeEDTA (Dissolvine® pó) Fe 13 0,77
forma o pH varia continuamente, não se
FeEDTA (Arbore Fe® líquido) Fe 4 2,50
mantendo dentro de uma faixa ideal.
FeEDDHA (Ferrilene® pó) Fe 6 1,67
Variações na faixa de 4,5 a 7,5 são toleradas,
FeEDDHMA (Tenso-Fe® pó) Fe 6 1,67
sem problemas ao crescimento das plantas.
Ácido bórico B 17 0,59
No entanto, valores abaixo de 4,0 afetam a
Bórax B 11 0,91
integridade das membranas celulares e
Sulfato de cobre Cu 13 0,77 valores superiores a 6,5 exigem atenção
CuEDTA Cu 5 2,00 redobrada com possíveis sintomas de
Sulfato de manganês Mn 26 0,38 deficiência de Fe, P, B e Mn.
Cloreto de manganês Mn 27 0,37 As variações de pH que ocorrem na
MnEDTA Mn 5 2,00 solução nutritiva são reflexos da absorção
Sulfato de zinco Zn 22 0,45 diferenciada de cátions e ânions. Por
Cloreto de zinco Zn 45 0,22 exemplo, quando o N é fornecido na forma
ZnEDTA Zn 7 1,43 nítrica, a absorção de ânions é maior que
cátions ocorrendo elevação do pH. Por esta
Molibdato de sódio Mo 39 0,26 razão, recomenda-se o fornecimento de
Molibdato de amônio Mo 54 0,19
parte do N também na forma amoniacal
Ácido molíbdico Mo 66 0,15
(NH4), tornando a solução mais tamponada.
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96 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

É mais conveniente manter a solução nu- forma rápida e com custo baixo, o que nem Resh (1993): tomate - solução estoque
tritiva equilibrada em cátions e ânions para sempre é conseguido por produtores que A1 (g/100l): nitrato de cálcio (4.600);
atender à demanda da planta, que tentar se situam distantes dos laboratórios de solução estoque B1 (g/100l): nitrato de
manter o pH numa faixa estreita de valores análises. Mais recentemente, tem sido dire- potássio (2.300), fosfato monopotássico
através do uso de ácidos (sulfúrico, fos- cionados esforços para o desenvolvimento (1.800), sulfato de potássio (1.600) e sulfato
fórico, nítrico ou clorídrico) e/ou bases de sensores que estimam a concentração de magnésio (2.000); solução estoque A 2
fortes (hidróxido de sódio, ou de potássio, dos nutrientes individualmente. Entre- (g/100l): nitrato de cálcio (6.900); solução
ou de amônio), para diminuir ou aumentar tanto, nada definitivo e confiável existe no estoque B2 (g/100l): nitrato de potássio
o pH do meio de crescimento, respecti- mercado brasileiro. (1.900), fosfato monopotássico (2.500),
vamente. Convém salientar que o uso des- Para calcular as quantidades de sais ou sulfato de potássio (3.900) e sulfato de
ses produtos deve ser feito com cautela, de fertilizantes necessárias para o preparo magnésio (3.300); solução estoque A 3
pois podem causar sérias queimaduras, de qualquer uma das soluções nutritivas (g/100l): nitrato de cálcio (9.200); solução
quando em contato com a pele e olhos do listadas nos Quadros 2, 3 e 4, pode-se estoque B3 (g/100l): nitrato de potássio
operador. multiplicar a concentração requerida do (3.100), fosfato monopotássico (2.900),
Considerando que a absorção de nu- nutriente pela quantidade listada na quinta sulfato de potássio (5.000) e sulfato de
trientes pelas plantas é seletiva em função coluna do Quadro 5, para se obter 1mg/l magnésio (4.500); solução estoque C
da espécie e cultivar, a reposição dos nu- de um determinado macronutriente, ou (g/100l): ácido bórico (17), sulfato de
trientes durante o desenvolvimento das 0,1mg/l de um micronutriente. manganês (32), sulfato de cobre (2,8),
plantas, sem afetar o balanço entre as suas Também a condutividade elétrica (CE) sulfato de zinco (4,5), molibdato de sódio
concentrações na solução nutritiva, é o em mS de qualquer solução nutritiva pode (1,3), quelato de ferro (10% Fe) (300). As
maior desafio dos produtores hidropô- ser estimada a priori, somando-se os re- soluções estoques com índices 1, 2 e 3
nicos. sultados da multiplicação da quantidade referem-se, respectivamente, aos estádios
Diferentes formas de reposição de nutri- de cada sal pelo respectivo coeficiente de de crescimento 1 - pós-emergência até a
entes são mencionadas na literatura, de condutividade elétrica, mostrado na quar- primeira folha verdadeira, 2 - da primeira
acordo com Berry (1996). Durante o de- ta coluna do Quadro 5, tomando-se o cuida- folha verdadeira até o aparecimento dos
senvolvimento do cultivo hidropônico do de transformar as quantidades em g/l primeiros frutos com 0,5 a 1,5cm de diâ-
comercial, os sistemas de manejo foram para kg/1.000l. metro, e 3 - desta fase em diante até o final
também evoluindo. Inicialmente, procu- do ciclo. A solução estoque C (micro-
rava-se renovar periodicamente a solução SUGESTÃO DE FORMULAÇÕES nutrientes) é a mesma para os três estádios.
nutritiva. Entretanto, essa prática ocasio- PARA O PREPARO DE Para preparar 1.000l de solução nutri-
nava desperdícios além do efeito poluente SOLUÇÕES NUTRITIVAS PARA tiva para uso nas três distintas fases de
e foi substituída pela adição de sais, pro- DIVERSAS CULTURAS EM desenvolvimento do tomateiro, acrescentar
porcional ao volume de água consumido HIDROPONIA-NFT 10l de cada uma das soluções estoques A,
pelas plantas, usando como critério os B e C ao reservatório e completar o volume
valores da evapotranspiração. Este critério A seguir são citadas as sugestões para com água.
provocava aumentos nas concentrações as culturas e seus respectivos autores: Papadopoulos (1994): pepino - solu-
de nutrientes extraídos em menores quan- Papadopoulos (1991): tomate - solução ção estoque A (g/100l): nitrato de cálcio
tidades e, se a solução nutritiva não fosse estoque A (g/100l): nitrato de cálcio (4.400), nitrato de potássio (6.270), nitra-
balanceada para a cultura, também provo- (9.900), nitrato de potássio (6.600); solução to de amônio (500); solução estoque B
cava a deficiência dos nutrientes extraídos estoque B (g/100l): sulfato de magnésio (g/100l): sulfato de magnésio (5.000),
em maiores quantidades. Embora fácil de (5.000), fosfato monopotássico (MKP) fosfato monopotássico (MKP) (220), Dis-
usar na prática, este critério foi substituído (2.700), Dissolvine (FeEDTA - 13% Fe) solvine (FeEDTA - 13% Fe) (100), sulfato
pelo controle da concentração salina da (300), sulfato de manganês (50), ácido de manganês (25), ácido bórico (9), sulfato
solução nutritiva mediante monitoramento bórico (20), sulfato de cobre (3), sulfato de de cobre (3), sulfato de zinco (3,5), molibdato
com condutivímetro portátil. No entanto, a zinco (3,5), molibdato de amônio (1). de amônio (1).
leitura fornecida pelo condutivímetro não Para preparar 1.000l de solução nutri- Para preparar 1.000l de solução nutri-
discrimina os nutrientes, podendo também tiva com CE ao redor de 2,2mS, acrescentar tiva com CE ao redor de 2,2mS, acrescentar
ocasionar desequilíbrios nutricionais. Para 8l de cada uma das soluções estoques ao 8l de cada uma das soluções estoques ao
contornar esses problemas, a análise quí- reservatório e completar o volume com reservatório e completar o volume com
mica periódica da solução nutritiva seria a água. Quando iniciar com uma cultura nova água. Quando iniciar com uma cultura nova
única maneira de repor à solução nutritiva (transplante de mudas), preparar uma (transplante de mudas), preparar uma
as quantidades de nutrientes que foram solução com CE igual a 1,5mS e aumentar solução com CE igual a 1,5mS e aumentar
absorvidas pelas plantas. Do ponto de vista gradualmente a CE para 2,2mS durante a gradualmente a CE para 2,2mS durante a
prático, exige-se que a análise seja feita de primeira semana de crescimento. primeira semana de crescimento.
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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 97

Carrasco & Izquierdo (1996): hortaliças solução nutritiva resultante, teoricamente, QUADRO 8 - Composições das soluções de ajuste
diversas (alface, manjericão, melão, tomate deve ter a composição apresentada no para as culturas de hortaliças de
folhas
e pepino) - solução estoque A (g/100l): Quadro 2 (Furlani, 1998). É importante
Solu- Quan-
nitrato de cálcio (4.330); solução estoque salientar que a quantidade fornecida de N Sal/fertilizante
ção tidade
B (g/100l): nitrato de potássio (8.295), e P pode variar, dependendo da qualidade g/10 l
nitrato de magnésio (3.270), fosfato mo- do fertilizante fosfato monoamônio (MAP), A Nitrato de potássio 1.200
nopotássico (MKP) (2.070), sulfato de podendo-se optar entre o comum (22% de Fosfato monoamônio purificado 200
potássio (3.665), quelato de ferro (FeEDTA- P) e o purificado (26% de P). Em virtude Sulfato de magnésio 240
13% Fe) (400), Sequelene (Mistura de das pequenas quantidades utilizadas, os
micros: 1,6% Mn, 0,88% B, 0,8% Cu, 0,24% B Nitrato de cálcio Hydro especial 600
micronutrientes podem ser fornecidos no
Mo e 1,12% Zn) (1,25). preparo da solução inicial, através da alí- g/1 l
Para preparar 1.000l de uma solução quota de 100ml de uma solução estoque, C Sulfato de cobre 1,0
nutritiva com CE ao redor de 2,5mS, acres- contendo em 1l dez vezes as quantidades Sulfato de zinco 2,0
centar 10l de cada uma das soluções esto- recomendadas de cada sal de micronutri- Sulfato de manganês 10,0
Ácido bórico ou 5,0
ques ao reservatório e completar o volume ente, com exceção do Fe que deve ser Bórax 7,75
com água. Para as diferentes espécies, usar fornecido separadamente.
Molibdato de sódio ou 1,0
a seguinte faixa recomendada de CE: alface O manejo da solução nutritiva sugerido Molibdato de amônio 1,0
(1,5 a 2,5 mS), manjericão (1,5 a 2,0 mS), pelo IAC é com base no trabalho de Nielsen
Tenso-Fe (FeEDDHMA-6%Fe) ou 20
melão (3,0 a 3,5 mS), pepino (3,0 a 3,5 mS) e (1984), que utiliza o critério da manuten- Dissolvine (FeEDTA-13%Fe) ou 10
tomate (2,5 a 3,0 mS). ção da condutividade elétrica, mediante a Ferrilene (FeEDDHA-6%Fe) 20
Furlani (1998): diversas hortaliças de adição de soluções de ajuste com compo-
folhas - o Instituto Agronômico de Campi- sições químicas que apresentam uma
nas (IAC) tem uma proposta de preparo e relação entre os nutrientes semelhante à
manejo de solução nutritiva para cultivo sito seja completado quantas vezes forem
extraída pela planta cultivada. A partir de
hidropônico, destinada para diversas es- necessárias durante o dia, para evitar ele-
dados da composição química de diversas
pécies de plantas e já utilizada por muitos vação muito grande na concentração salina
hortaliças folhosas (Quadro 1), Furlani
produtores em escala comercial. O produ- da solução nutritiva. Para o ajuste da so-
(1998) sugere as formulações constantes
tor pode confeccionar a solução nutritiva, lução durante o crescimento e desenvol-
nos Quadros 7 e 8 para o preparo e manejo
utilizando sais ou fertilizantes simples, de vimento das plantas, seguir o seguinte
da solução nutritiva, respectivamente. Para
maneira fácil e rápida. No seu preparo são procedimento:
preparar a solução nutritiva, dissolver cada
usadas as quantidades de sais/fertilizan- a) fechar o registro de irrigação todos
sal separadamente e acrescentar ao depó-
tes, conforme consta do Quadro 7 (Furlani, os dias logo pela manhã, esperar to-
sito, já contendo cerca de 900l de água,
1998). Com essas quantidades de sais, a da a solução voltar ao depósito, com-
cada uma das soluções concentradas e na
ordem em que estão listadas no Quadro 7. pletar o volume do reservatório com
Após a adição da última solução concen- água e homogeneizar a solução nu-
QUADRO 7 - Quantidades de sais para o preparo trada, acrescentar água até atingir o volume tritiva;
de 1.000l de solução nutritiva -
de 1.000l. Tomar a medida da conduti- b) proceder a leitura da condutividade
proposta pelo IAC
vidade elétrica. O valor da CE da solução elétrica, retirando uma amostra de
No Sal/fertilizante g/1.000l
 nutritiva IAC situa-se ao redor de 2,0mS solução do reservatório;
1 Nitrato de cálcio Hydro Especial 750
2 Nitrato de potássio 500
ou 2000µS ou 1280ppm ou 20CF (1mS = c) adicionar 1l da solução A, 1l da so-
3 Fosfato monoamônio 150 1.000µS; 640ppm = 1.000µS; 1CF = 100µS). lução B e 50ml da solução C (Qua-
4 Sulfato de magnésio 400 Pequena variação poderá ser encontrada dro 8) para cada diferença na con-
5 Sulfato de cobre 0,15 em função da composição química da água dutividade inicial de 0,25mS ou 250µS
6 Sulfato de zinco 0,5 usada para o seu preparo. No caso de optar ou 150ppm. Para os micronutrientes,
7 Sulfato de manganês 1,5 pelo uso de uma solução nutritiva com a reposição pode ser semanal, em
8 Ácido bórico ou 1,5 condutividade de 1,0 ou 1,5mS ou 1.000 ou vez de diária através da solução C.
Bórax 2,3 1.500µS (recomendada para o verão e para Neste caso, adicionar 25% da quan-
9 Molibdato de sódio ou 0,15 locais de clima quente - Regiões Norte e tidade de Fe e 50% dos demais mi-
Molibdato de amônio 0,15 Nordeste), basta multiplicar por 0,50 ou 0,75 cronutrientes listados no Quadro 7;
10 Tenso-Fe (FeEDDHMA-6%Fe) ou 30 os valores das quantidades dos macro- d) efetuar nova leitura após a adição
Dissolvine (FeEDTA-13%Fe) ou 13,8 nutrientes indicados no Quadro 7, manten- das soluções de ajuste e homo-
Ferrilene (FeEDDHA-6%Fe) 30 do em 100% os micronutrientes. geneização da solução nutritiva e,
FONTE: Furlani (1998). É conveniente que o volume do depó- caso ela esteja na faixa adotada, abrir
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98 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

o registro de irrigação das plantas. É cultivo e sua constante adição para repor CARRASCO, G.; IZQUIERDO, J.A. A média
empresa hidropônica: a técnica da solução
conveniente manter o reservatório as perdas evapotranspiradas, ocorrerá uma nutritiva recirculante (“NFT”). Talca, Chile:
de solução nutritiva sempre no nível, diminuição gradativa da CE efetiva dos Universidade de Talca/FAO, 1996. 91p.
acrescentando água para repor o nutrientes, por causa do acúmulo de ele- CASTELLANE, P.D.; ARAÚJO, J.A.C.de.
volume evapotranspirado. Caso seja mentos indesejáveis. Cultivo sem solo: hidroponia. Jaboticabal:
FUNEP, 1994. 43p.
conveniente, o volume poderá ser
FURLANI, P.R. Instruções para o cultivo de
completado à tarde e a conduti- CONSIDERAÇÕES FINAIS hortaliças de folhas pela técnica de Hi-
vidade elétrica medida e corrigida na droponia-NFT. Campinas: IAC, 1998. 30p.
Nos cultivos comerciais é comum ocor- (IAC. Boletim Técnico, 168).
manhã do dia seguinte, tomando-se
rer murchamento de plantas nas horas mais LIM, E.W.; WAN, C.K. Vegetable prodution in
o cuidado de verificar se não ocorreu the tropics using a two phase substrate system
quentes do dia. Para contornar tal proble-
vazamentos durante à noite. of soiless culture. In: INTERNATIONAL
ma, é importante manter o nível de solução CONGRESS ON SOILLESS CULTURE, 6,
O ajuste químico perfeito da solução do reservatório próximo da capacidade 1984, Lunteren. [Proceedings...] Lunteren:
nutritiva depende da cultivar, do ambiente adotada, principalmente para as culturas International Society for Soilless Culture,
de crescimento, da época do ano e princi- 1984. p.317-328.
de ciclo rápido, pois em decorrência da
MARTINEZ, H.E.P. Formulação de soluções
palmente da qualidade da água usada no maior absorção de água e aumento de nutritivas para cultivos hidropônicos
cultivo hidropônico. Quando se procede a temperatura, a condutividade elétrica real comerciais. Jaboticabal: FUNEP, 1997. 31p.
adição de água para repor as perdas por pode aumentar no decorrer do dia e atin- MUCKLE, M.E. Hydroponic nutrients. 3.ed.
evapotranspiração, acrescentam-se tam- gir valores críticos para as plantas. Para Princeton: Growers, 1993. 154p.
NIELSEN, N.E. Crop production in recirculanting
bém os nutrientes que estão presentes na regiões de clima quente, este sintoma pode nutrient solution according to the principle
água. ser resultado de aumento na concentração of regeneration. In: INTERNATIONAL
A água usada no cultivo hidropônico de sais na solução nutritiva, pois sabe-se CONGRESS ON SOILLESS CULTURE, 6,
no IAC tem apresentado a seguinte com- 1984, Lunteren. [Proceedings...] Lunteren:
que proporcionalmente as plantas absor-
International Society for Soilless Culture,
posição: 19mg/l para Ca, 5mg/l para Mg e vem mais água que nutrientes. Vale ressal- 1984. p.421-446.
5mg/l para K e 0,2mS de CE. Isso indica tar que nestes locais é conveniente traba- PAPADOPOULOS, A.P. Growing greenhouse
que para cada 1.000l de água reposta ao lhar com soluções mais diluídas. Outra seedless cucumbers in soil and in soilless
media. Otawa: Agriculture Canada, 1994. 126p.
tanque, acrescentam-se também 19g de causa do murchamento está relacionada
PAPADOPOULOS, A.P. Growing greenhouse
Ca, 5g de Mg e 5g de K. Como conseqüên- com o apodrecimento do sistema radicular tomatoes in soil and in soilless media.
cia dessas adições ao longo do tempo, pa- por patógenos e/ou por falta de oxigênio Otawa: Agriculture Canada, 1991. 79p.
ra repor as perdas por evapotranspiração na solução nutritiva, cujos sintomas iniciais PARDOSSI, A.; LANDI, S.; MALORGIO, F.;
(o consumo médio de água num cultivo de CECCATELLI, M.; CAMPIOTTI, C.A.
causam escurecimento das raízes. Portanto, Studies on melon grown with NFT. Acta
alface hidropônica situa-se entre 75 e antes de qualquer decisão sobre a causa Horticulturae, Wageningen, v.361, p.186-
100ml/planta/dia), poderá ocorrer dese- provável desse murchamento, o produtor 193, 1994.
quilíbrio entre os nutrientes na solução deve procurar identificá-la corretamente. RAIJ, B. van; CANTARELLA, H.; QUAGGIO,
J.A.; FURLANI, A.M.C. Recomendações
nutritiva, com excesso de Ca e Mg em
de adubação e calagem para o Estado de
relação ao K. Para contornar essa tendência, REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS São Paulo. 2.ed. rev. atual. Campinas: IAC,
deve-se proceder à análise química da 1997. 285p. (IAC. Boletim Técnico 100).
ADAMS, P. Crop nutrition in hydroponics. Acta
solução nutritiva e efetuar as correções nos RESH, H.M. Hydroponic food production. 5.ed.
Horticulturae, Wageningen, v.323, p.289-
Santa Barbara, Califórnia, EUA: Woodbridge
níveis dos nutrientes, ou então renovar a 305, 1992.
Press, 1996. 527p.
solução nutritiva quando as quantidades ADAMS, P. Nutrition of greenhouse vegetable in RESH, H.M. Hydroponic tomatoes for the
NFT and hydroponic systems. Acta Horti-
dos nutrientes acrescentados com a água culturae, Wageningen, v.361, p.254-257,
home gardener. Santa Barbara, California,
atingirem valores maiores dos iniciais. A EUA: Wood-bridge Press, 1993. 142p.
1994.
SAROOSHI, R.A.; CRESSWELL, G.C. Effects of
renovação da solução nutritiva também é BARRY, C. Nutrients: the handbook to hydroponic solution compositiion, eletrical
recomendada para evitar aumento nas hydroponic nutrient solutions. Narrabeen, condutivity and plant spacing on yield and
Australia: Casper, 1996. 55p. quality of strawberries. Australian Journal
concentrações de materiais orgânicos
BENOIT, F.; CEUSTERMANS, N. Horticultural of Experimental Agriculture, East Mel-
(restos de plantas, exsudatos de raízes e aspects of ecological soillless growing bourne, v.34, p.529-535, 1994.
crescimento de algas), que podem servir methods. Acta Horticulturae, Wageningen, SAZAKI, J.L.S. Hidroponia. In: SEMANA DA
como substrato para o desenvolvimento v.396, p.11-24, 1995. AGRONOMIA, 9, 1992, Ilha Solteira.
BENTON JONES JUNIOR, J. Hydroponics: its Palestras... Ilha Solteira: UNESP-Ilha
de microrganismos maléficos. Além disso, history and use in plant nutrition studies. solteira, 1992. 9p.
quando a água usada para o cultivo Journal of Plant Nutrition, New York, v.5, SONNEVELD, C.; STRAVER, N. Nutrient
hidropônico apresentar CE entre 0,2 e n.8, p.1003-1030, 1982. solutions for vegetebles and flowers
0,4mS, há uma indicação que possui sais BERRY, W.L. The evolution of hydroponics. grown in water or substrates. 10.ed. The
In: CONFERENCE, 17, 1996, San Jose. Netherlands: Proefstation voor Tuinbouw
dissolvidos (carbonatos, bicarbonatos, Proceedings... [San Jose]: Hydroponic onder Glas Te Naaldwijk, 1994. 45p.
sódio, Ca, K, Mg, S etc.) e, com o tempo de Society of America, 1996. p.87-95. (Voedingsoplossingen Glastuinbouw, 8).

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 2 0 , n . 2 0 0 / 2 0 1 , p . 9 0 - 9 8 , s e t . / d e z . 1 9 9 9
Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 99

Cultivo de hortaliças de folhas em hidroponia


em ambiente protegido
Valdemar Faquin 1
Pedro Roberto Furlani 2

Resumo - São apresentadas sugestões da estrutura básica - estufa, bancadas, sistema


hidráulico, temporizador; produção de mudas; solução nutritiva - composição, prepa-
ro e manejo; cuidados fitossanitários; colheita, pós-colheita e comercialização para o
cultivo hidropônico das principais hortaliças folhosas. Destacam-se três aspectos bási-
cos fundamentais para o sucesso de um empreendimento hidropônico: existência de
mercado consumidor, conhecimento técnico ou assistência técnica especializada sobre
o sistema e água de boa qualidade química e microbiológica.

Palavras-chave: Cultivo sem solo; Solução nutritiva; Alface; Agrião; Rúcula; Couve-
de-folhas; Salsinha; Cebolinha.

INTRODUÇÃO rão, couve-de-folhas, salsinha, cebolinha, possibilita um uso eficiente e econômico


coentro, salsão etc., praticamente todas no de água e fertilizantes, o sistema é livre da
O cultivo comercial de hortaliças e de
sistema NFT. salinização e contaminação por patógenos
outras espécies pelo sistema hidropônico
Ressaltam-se três aspectos importantes - comuns em cultivo protegido em solo,
é bastante recente no Brasil, mas vêm-se
que o produtor deve considerar na tomada dispensa a rotação de culturas e controle
desenvolvendo muito rápido, principal-
de decisão para implantação do sistema de plantas daninhas e, como o solo não é
mente próximo aos grandes centros con- hidropônico: existência de mercado consu- utilizado, o meio ambiente é preservado.
sumidores, e se tornando uma grande midor para o produto, conhecimento técni- Algumas desvantagens são: o custo inicial
alternativa para o cultivo protegido. co básico sobre o sistema e água de boa de implantação é elevado, exige um alto
Diversas técnicas de cultivo sem so- qualidade química e microbiológica. grau de tecnologia e acompanhamento
lo têm sido desenvolvidas (Resh, 1997):
permanente do sistema, dependência de
nutrient film technique (NFT) - denomi-
PRINCIPAIS VANTAGENS E energia elétrica ou de sistema alternativo,
nado de técnica do fluxo laminar de nutri-
DESVANTAGENS DO CULTIVO fácil disseminação de patógenos pelo sis-
entes; deep film technique (DFT) - também
SEM SOLO tema pela própria solução nutritiva.
denominado de floating; em substrato; em
aeroponia - sistema em que as raízes das O cultivo hidropônico é bastante pro-
ESTRUTURA BÁSICA PARA O
plantas ficam suspensas recebendo água missor, devido a uma série de vantagens
CULTIVO DE HORTALIÇAS DE
e nutrientes por atomizadores. Certamen- que apresenta em relação ao cultivo tra-
FOLHAS
te, o NFT é a principal técnica usada no dicional a campo e mesmo ao cultivo
Brasil. protegido, no solo, assim como o uso de As instalações de um sistema NFT para
Muitas são as espécies cultivadas em pequenas áreas, obtenção de elevadas o cultivo de hortaliças de folhas são com-
hidroponia, principalmente as hortaliças. produtividades, permite o cultivo durante postas basicamente por casa de vegeta-
Dentre elas, as principais folhosas culti- todo o ano, os produtos são de boa quali- ção (estufa); bancadas para produção de
vadas comercialmente no Brasil são: alfa- dade com melhores preços no mercado, mudas e de cultivo; sistema hidráulico
ce (principalmente), agrião, rúcula, almei- exige pequeno uso de defensivos agrícolas, composto por reservatório para a solução

1
Engo Agro, D.Sc., Prof. Tit. UFLA-Depto Ciência do Solo, Bolsista CNPq, Caixa Postal 37, CEP 37200-000 Lavras-MG. E-mail: vafaquin@ufla.br
2
Engo Agro, Ph.D., Pesq. Cient. IAC-CSRA, Bolsista CNPq, Caixa Postal 28, CEP 13001-970 Campinas-SP. E-mail: pfurlani@barao.iac.br

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 2 0 , n . 2 0 0 / 2 0 1 , p . 9 9 - 1 0 4 , s e t . / d e z . 1 9 9 9
100 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

nutritiva; encanamentos e registros para Bancadas de cultivo Reservatório, tubulações e


distribuição e retorno da solução nutriti- As bancadas de cultivo de hortaliças registros
va; conjunto motobomba e temporizador folhosas no sistema NFT, montadas cerca A capacidade do reservatório depende
(timer). Outros detalhes sobre a estrutura de 1,0m do solo, devem apresentar de 1,5 a da espécie e do número de plantas a culti-
de cultivo hidropônico são encontrados em 2,0m de largura e comprimento que pode var. Para a alface, tem sido recomendado o
Furlani et al. (1999b). variar de 12 a 30m. Bancadas muito longas volume de 1l/planta, evitando uma redução
devem ser evitadas, pois pode haver re- diária muito grande na concentração dos
Estufa
dução da concentração de nutrientes e de nutrientes e um aquecimento excessivo da
A estufa ou casa de vegetação, cons- oxigênio para as plantas do final delas, solução nutritiva. O reservatório deve ser
truída de diversos materiais como madeira,
além de contribuir para o aquecimento da colocado na parte mais baixa do conjun-
ferro, concreto, canos galvanizados, peças
solução e dificultar o planejamento da to de estufas, permitindo que a solução
de alumínio, é uma estrutura com cobertura
produção diária, quando se considera a nutritiva retorne das bancadas por gravi-
plástica transparente, que confere às plan-
desinfecção. dade. Sempre que possível, o reservatório
tas proteção contra adversidades do clima,
As bancadas contêm os canais com deve ser enterrado no solo, o que auxiliará
encurta o ciclo da cultura, aumenta a pro-
declividade de 2 a 4%, por onde circula a na manutenção de uma temperatura mais
dutividade e propicia colheitas fora de
solução nutritiva por gravidade e se desen- baixa da solução. Não se recomenda o uso
época. Para a cobertura das estufas, os
volvem as raízes das plantas. Os canais de reservatórios com volumes superiores
filmes de polietileno transparentes com
podem ser formados por telhas de cimento- a 5 mil litros, devido às dificuldades de
tratamento contra os raios ultravioletas
amianto forradas com filme plástico, tubos manejo e troca da solução.
(UV), de espessura de 0,10 ou 0,15mm, são
de PVC de 75 ou 100mm inteiros ou corta- A tubulação que sai do conjunto moto-
os mais utilizados. Lateralmente, as estu-
fas podem ser providas de uma tela plásti- dos ao meio e perfis que estão sendo fabri- bomba e vai até as bancadas (tubulação de
ca e, no inverno mais rigoroso, de cortinas cados especialmente para hidroponia. A recalque) deve ser tecnicamente dimen-
de filme de polietileno. profundidade dos canais de 2,5 a 3,0cm é sionada, para atender à vazão dos canais
Na prática, as dimensões das estufas recomendada para as bancadas de pré- de todas as bancadas. A instalação de um
são bastante variadas. Podem ser usadas crescimento e de 4,0 a 5,0cm para as da registro individual em cada bancada per-
estufas individuais para cada bancada de fase final. mitirá o controle da vazão nos canais de
cultivo, com 2m de largura e até 15m de Para a cobertura dos canais têm sido cultivo, que deverá ser de 1,5 a 2,0l/min em
comprimento. As estufas grandes, de 6 a usadas placas de isopor (1,5 ou 2,0cm de cada canal. A tubulação de retorno da so-
7m de largura e comprimento variado, espessura), filmes plásticos dupla face (pre- lução das bancadas para o reservatório
acomodando diversas bancadas no seu to e branco) de 0,15 ou 0,20mm e placas da deve ser de tubo de PVC para esgoto. As
interior, são as mais utilizadas. Existem Tetra Pak, perfuradas no espaçamento tubulações de recalque e de retorno devem
diferentes tipos de estufas, denominadas desejado, que servem para fixar as plantas ser subterrâneas, a fim de evitar o aque-
de Arco ou Túnel Alto, Capela ou Duas e bloquear a incidência de luz nas raízes e cimento excessivo da solução circulante.
Águas, Londrina e as Arco-geminadas e na solução. O espaçamento recomendado
para alface na fase final varia de 0,20 a 0,30m, Conjunto motobomba
Capela-geminadas (Faquin et al., 1996), e a
escolha fica a critério do interessado. e para a rúcula, agrião e almeirão pode va- O conjunto motobomba acoplado ao
Em locais muito quentes, a altura do riar de 0,075 a 0,20m. Na fase de pré-cresci- reservatório tem a função de bombear a
pé-direito da estufa grande não deve ser mento, é recomendada aproximadamente solução nutritiva até as bancadas de cul-
inferior a 2,80m, para facilitar a dissipação metade desses espaçamentos. tivo. Recomenda-se o uso de bombas cons-
do ar quente do seu interior. truídas com material resistente à corrosão.
Para a construção da estufa, de acordo Sistema hidráulico Deve-se dar preferência para as bombas
com Castellane & Araújo (1994), alguns O sistema hidráulico de um conjunto centrífugas, instaladas abaixo do nível
aspectos devem ser considerados: local hidropônico NFT é fechado, ou seja, a so- superior do depósito de solução (afoga-
sem sombreamento, mas protegido dos lução nutritiva é bombeada de um reser- da).
ventos predominantes, próximo da fonte vatório, passa pelas raízes das plantas nos O conjunto motobomba deve ser tecni-
de água, de energia elétrica e da casa do canais das bancadas e volta por gravida- camente dimensionado, sendo para isso
responsável. de ao reservatório. Como a solução nutri- necessário o conhecimento da vazão total
O custo de uma estufa simples, depen- tiva é composta por sais, deve-se dar do conjunto de bancadas, que se está aten-
dendo da largura, material utilizado na preferência para materiais de PVC, plásti- dendo (Q) e da altura manométrica (Hm).
construção, da altura e do plástico usado co e fibra de vidro, para se evitar a corro- São esses os dados que se deve informar
na cobertura, varia de R$ 5,00 a R$ 20,00 são dos componentes do sistema hidráu- para a aquisição do equipamento no co-
por metro quadrado (Furlani, 1998). lico. mércio.
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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 101

A Figura 1 mostra um conjunto de cir- a) tradicional: são usadas bandejas de de bandejas (piscina). Na piscina
culação da solução nutritiva, em um sistema isopor de 128 ou 200 células, preen- permanece uma lâmina de 5cm de
hidropônico NFT. chidas com substrato organo-mine- solução nutritiva circulante, ligada
ral adubado, onde as mudas perma- ao conjunto motobomba e ao reser-
Temporizador (Timer) necem até o transplante, recebendo vatório por um encanamento de
De maneira geral, a circulação da so- irrigações e, às vezes, adubações de recalque e de retorno próprio. As
lução nutritiva pelos canais das bancadas cobertura nitrogenadas e potássi- bandejas com as mudas permanecem
é intermitente, controlada por um timer. Têm cas. Antes de serem transplantadas flutuando na solução nutritiva até
sido usados períodos de 15 a 20 minutos para as bancadas de pré-crescimen- o transplante para as bancadas de
de circulação e de 10 a 15 minutos de des- to, necessitam da remoção do subs- crescimento, quando essas atingi-
canso, desde o raiar do sol até o anoitecer. trato das raízes por lavagem; rem de quatro a cinco folhas. A nu-
À noite, recomenda-se a circulação por 10 trição das mudas na piscina é feita
b) sistema de piscina ou floating: as
a 15 minutos a intervalos de 3 a 4 horas. pela solução nutritiva, não havendo
bandejas de isopor utilizadas são de
necessidade de adubação do subs-
288 células, preenchidas com vermi-
PRODUÇÃO DE MUDAS trato. A Figura 2 ilustra bem esse
culita ou pequenas mechas de algo-
sistema;
Essa é uma fase muito importante no dão hidrófilo, mantidas na estufa
processo de cultivo hidropônico. Alguns sob irrigação adequada até a com- c) espuma fenólica: trata-se de um
fatores devem ser previamente conside- pleta emergência das plântulas. material estéril produzido à base de
rados, tais como a variedade a ser cultivada, Quando as folhas das plântulas atin- resina fenólica. É encontrado em
origem das sementes, substrato a ser uti- girem cerca de 0,5cm, as bandejas placas de 33 x 40cm e espessura de 2
lizado, local de germinação e manejo do são levadas para uma caixa rasa de a 4cm, com células pré-marcadas de
berçário. madeira revestida internamente por 2 x 2cm, com um total de 320 células
As mudas podem ser adquiridas de um filme plástico, ou confeccionada por placa. Furlani (1998) apresenta o
produtores idôneos ou produzidas pelo de fibra de vidro (±10cm de borda), procedimento para a produção de
próprio produtor. Alguns sistemas são previamente dimensionada para a mudas nesse sistema: dividir as pla-
usados, para a produção própria: acomodação de determinado número cas ao meio; lavá-las muito bem com

Telha fibro-cimento ou tubo PVC

Tubulação de distribuição

Registro

Hm

Tubulação de Tubulação
Declive 2% de retorno
recalque
1%

Figura 1 -
Esquema do
circuito
Registro hidráulico de
15 cm um sistema
hidropônico
NFT
Moto-bomba
FONTE: Faquin
et al. (1996).

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102 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

(presença de coliformes fecais, vibrião co-


Caixa com lâmina de lérico, dentre outros). Dentre as proprie-
aprox. 5 cm de solução dades químicas, o pH, a presença de cálcio
(Ca), magnésio (Mg), boro (B), flúor (F),
cloro (Cl), sulfato, sódio (Na), ferro (Fe),
carbonatos e a condutividade elétrica (CE),
Recalque
devem ser avaliados previamente através
de uma análise química da água. A CE in-
ferior a 0,3mS/cm (miliSiemens/cm), com
Bandejas com mudas
uma concentração de sais inferior a 200ppm
(mg/l) é desejável. Pode-se estimar a con-
centração total de sais em ppm pela seguin-
te expressão: ppm de sais = 640.CE (mS/cm).
Retorno
A presença de macronutrientes na água em
valores superiores a 25% da formulação
Depósito de solução sugerida deve ser considerada tanto no
preparo da solução básica, quanto nos ajus-
Moto-bomba tes diários de reposição a serem realizados
(Furlani, 1998).
Os sais usados para o preparo da solu-
Figura 2 - Berçário para a produção de mudas, onde as bandejas de isopor permane-
cem flutuando na lâmina de solução. ção nutritiva, de maneira geral, são fertili-
FONTE: Faquin et al. (1996). zantes comerciais de alta solubilidade e de
boa pureza química. Furlani et al. (1999a)
apresentam os sais e os fertilizantes com
água corrente e/ou deixá-las de mo- vem ter no máximo 3cm de diâ-metro. as respectivas composições que são reco-
lho por uma noite; para evitar que a Assim, quando as mudas estiverem mendados para o preparo de soluções nu-
placa se quebre, apoiá-la em suporte com quatro a cinco folhas, estarão tritivas hidropônicas. Na escolha dos sais/
furado que pode ser a base de uma prontas para o transplante para as fertilizantes devem-se considerar o custo,
bandeja de isopor; perfurar o centro bancadas definitivas. a solubilidade, a presença de elementos
da célula formando orifícios de 1cm nutrientes ou não potencialmente tóxicos
Os sistemas de piscina e mais recen- e de resíduos insolúveis. Para os nitro-
de profundidade; semear uma única
temente, a espuma fenólica, têm sido os genados, deve-se atentar para que a forma
semente peletizada de alface ou cou-
mais utilizados na produção de mudas de amoniacal (N-NH4), como regra geral, não
ve (no máximo três para sementes
hortaliças folhosas para hidroponia. ultrapasse 15 a 20% da quantidade total de
nuas); para rúcula, agrião, almeirão,
salsa e cebolinha, semear de quatro nitrogênio (N) na solução. O N-NH4 em
SOLUÇÃO NUTRITIVA concentrações superiores à citada é fito-
a seis sementes por orifício; cobrir
as sementes através de escarificação Não existe uma solução nutritiva ideal tóxico, reduzindo a produção e a qualidade
das bordas dos orifícios ou com ver- para todas as culturas. A composição da visual do produto, como mostrado para a
miculita fina; irrigar levemente a pla- solução nutritiva varia com uma série de alface por Faquin et al. (1994). A ocorrência
ca e colocar para germinar em local fatores, tais como: a espécie de planta cul- de deficiência de cálcio nas plantas, como
adequado; levar as placas para a es- tivada (a exigência nutricional varia entre o tipburn na alface, também é favorecida
tufa 48 horas após a semeadura e elas), idade da planta, época do ano (dura- pela presença de amônio na solução.
manter a espuma úmida; após a ção do período de luz), fatores ambientais A composição química ou formulação
emissão da primeira folha, levar para (temperatura, umidade, luminosidade), ideal da solução nutritiva é aquela que
bancadas próprias dotadas de canais parte da planta colhida etc. Existem diver- atende às exigências nutricionais da espé-
rasos com solução circulante, no sas sugestões de soluções nutritivas para cie cultivada, em todas as fases do seu ci-
espaçamento de 5 x 5cm (canaletas hortaliças folhosas, com diferenças maiores clo. Para tanto, estudos sobre a nutrição
de PVC ou perfis de polipropileno nas concentrações dos macronutrientes e mineral de hortaliças cultivadas em hidro-
de 50mm) ou 7,5 x 5cm (telhas de menores nas dos micronutrientes. ponia, com a determinação das exigências
fibrocimento); separar os cubos O primeiro passo importante no preparo nutricionais de cada espécie, são essen-
através de uma lâmina cortante, da solução nutritiva é o uso de água de ciais para o estabelecimento das concen-
transferindo-os para os canais atra- boa qualidade, tanto no aspecto químico trações e proporções dos nutrientes, tanto
vés de uma pinça; os orifícios do (concentração salina e quantidade de para a formulação da solução nutritiva
isopor que cobre as canaletas de- nutrientes) quanto no microbiológico básica, quanto para a reposição periódica
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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 103

dos nutrientes durante o desenvolvimento Procedimento de ajuste da produtos deve ser bastante cuida-
da cultura. condutividade elétrica doso, evitando-se o contato direto
Deve-se completar o nível do reserva- com a pele e os olhos;
SUGESTÃO DE SOLUÇÃO tório com água no final da tarde. No dia b) oxigenação e temperatura: a oxi-
NUTRITIVA BÁSICA seguinte pela manhã, medir a CE através genação da solução nutritiva é impor-
de um condutivímetro portátil. Adicionar tante para a respiração das raízes.
Tem sido usada com sucesso para o para cada 1.000l de solução nutritiva do Quando a solução nutritiva apre-
cultivo hidropônico de diversas hortaliças reservatório, 1l da solução A, 1l da solu- senta baixos níveis de oxigênio (O2),
folhosas em muitos Estados brasileiros, ção B e 50ml da solução C, para uma que- ocorre a morte dos meristemas ra-
principalmente em São Paulo e em Minas da na condutividade de 0,25mS/cm, ou diculares, pequena ramificação das
Gerais, a solução nutritiva proposta por 250µS/cm, ou 150ppm. Tem sido recomen- raízes e baixa absorção de água e
Furlani (1998), citado por Furlani et al. dada uma CE na solução de cultivo de 1,8 nutrientes. Com a morte das raízes,
(1999a, Quadro 7). Esta solução básica de a 2,0mS/cm para a alface crespa ou ame- normalmente ocorre a incidência do
cultivo, teoricamente, deve ter a compo- ricana e para as cultivares do tipo lisa ou fungo Pythium.
sição apresentada por Furlani (1998), citado manteiga uma CE entre 1,4 a 1,6mS/cm. O conteúdo de O2 dissolvido na
por Furlani et al. (1999a, Quadro 2). Exemplo: Depósito de 5.000l e a CE de- solução nutritiva não deve ser in-
Ressalta-se que no preparo da solução sejada igual a 2,0mS/cm. Considerando que ferior a 5ppm, sendo o valor ótimo
nutritiva, as fontes dos nutrientes devem o volume do depósito foi completado com em torno de 8,6ppm (Jensen, 1997).
ser dissolvidas separadamente. Nunca se água no dia anterior, admitir que a CE me- O aumento no nível de O2 pode ser
deve misturar na forma concentrada so- dida pela manhã foi de 1,65mS/cm. Portanto, obtido pela turbulência da solução
luções que contenham cálcio, sulfato e a diferença a ser reposta é de 0,35mS/cm. nutritiva no reservatório, através do
fosfato, pois pode ocorrer a precipitação Para tanto, adicionar para cada 1.000l do retorno da solução sob pressão da
de sulfato de cálcio e fosfato de cálcio depósito, 1,4l da solução A, 1,4l da solu- bomba, em tubulação própria para
insolúveis. ção B e 70ml da solução C. Como o depósi- dentro do depósito ou borbulha-
to tem capacidade para 5.000l, esses valo- mento por ar comprimido.
Manejo da solução nutritiva res deverão ser multiplicados por 5. O nível de O2 na solução é depen-
durante o crescimento das É importante lembrar que a presença de dente da sua temperatura. A solução
plantas nutrientes na água também deve ser consi- aquecida tende a perder a capaci-
derada nessa reposição. dade de reter o O2. De acordo com
Reposição dos nutrientes Recomenda-se a renovação completa Jensen (1997), para se evitar o pen-
A maneira mais correta de avaliar a da solução nutritiva mensalmente. Isso se doamento e a morte das raízes da
necessidade de reposição dos nutrientes é faz necessário pelo desbalanceamento dos alface, a temperatura da solução não
a análise química periódica da solução nu- nutrientes, pelo acúmulo de material orgâ- deve exceder a 20ºC, principalmente
tritiva. Mas, apresenta o inconveniente da nico originado de restos de raízes das plan- quando a temperatura do ar estiver
demora na obtenção dos resultados e do tas e pelo desenvolvimento de algas. acima de 32ºC. Para a maioria das
custo das análises. hortaliças, a temperatura das raízes
Outros aspectos importantes no
Com base nas sugestões de Nielsen não deve estar abaixo de 13ºC;
manejo da solução nutritiva
(1984) e em estudos das exigências nutri- a) pH: o monitoramento do pH da so- c) luz e desinfecção das bancadas e
cionais de diferentes hortaliças folhosas, lução deve ser feito diariamente bandejas: em todo o sistema hidro-
Furlani (1998) estabeleceu um sistema de através de um “peagâmetro portátil”, pônico a solução nutritiva deve ficar
reposição de nutrientes em proporções mantendo seu valor na faixa de 5,5 a protegida da luz, para se evitar o
semelhantes às extraídas por essas espé- 6,5, embora variações de uma uni- desenvolvimento de algas. Estas
cies, mediante a manutenção da CE dese- dade acima ou abaixo desses valores retiram oxigênio e nutrientes e eli-
jada da solução nutritiva. Esse sistema têm sido bem toleradas pelas plan- minam toxinas na solução, além de
tem sido adotado com sucesso por muitos tas. Em valores acima de 7,0, geral- contribuir para o acúmulo de material
produtores no Brasil, para contemplar as mente ocorre a precipitação de micro- orgânico, favorecendo o desenvol-
diferentes espécies de hortaliças de fo- nutrientes catiônicos na solução, vimento de microrganismos ma-
lhas, tais como a alface, o agrião, a almeirão, induzindo suas deficiências nas léficos às plantas.
a couve-de-folhas, a rúcula, a salsa e a plantas. Têm sido usados os hidró- Recomenda-se, também, como principal
cebolinha. Para esse ajuste, devem-se pre- xidos de sódio e de potássio para a operação de prevenção ao desenvolvi-
parar três soluções-estoque, conforme elevação do pH e os ácidos clorí- mento de patógenos, uma desinfecção
apresentadas por Furlani et al. (1999a, drico, sulfúrico e nítrico para o seu preventiva e periódica do sistema hidro-
Quadro 8). abaixamento. O manuseio desses pônico, com hipoclorito de sódio ou de
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104 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

cálcio líquido comercial a 5% ou com água folhas velhas, geralmente amareladas, é mento do sistema. Tentativas frustradas
sanitária a 10%. Portanto, as bancadas de importante. Sugere-se a comercialização do têm sido verificadas pela não-observação
cultivo após cada colheita, as placas e produto em saquinhos plásticos, persona- de um ou mais desses itens básicos enu-
bandejas de isopor após cada uso, bem lizados e de dimensões adequadas. A co- merados.
como os demais materiais utilizados, devem mercialização das plantas com as raízes Nunca é demais relembrar: um estudo
receber uma cuidadosa lavagem com os também confere maior durabilidade e prévio do mercado consumidor é essencial
produtos indicados e ser bem enxaguados qualidade ao produto, tanto no balcão do antes da implantação do negócio.
com água corrente. comerciante, quanto na geladeira do con-
sumidor. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CUIDADOS FITOSSANITÁRIOS O transporte do produto deve ser feito
CASTELLANE, P.D.; ARAÚJO, J.A.C. de.
em caixas próprias e em veículos que apre-
Como o cultivo hidropônico é feito na Cultivo sem solo: hidroponia. Jaboticabal:
sentem um ambiente protegido de ventos FUNEP, 1994. 43p.
ausência do solo, a incidência de doenças e de calor. Todo o manuseio do produto
e pragas é minimizada, mas não eliminada. FAQUIN, V.; FURTINI NETO, A.E.; VILELA,
desde a colheita, embalagem, transporte, L.A.A. Produção de alface em hidro-
As principais doenças que ocorrem, atin- colocação nas bancadas do comércio etc., ponia. Lavras: UFLA, 1996. 50p.
gem principalmente as raízes e são facil- é um aspecto a ser considerado para a FAQUIN, V.; MARQUES, E.S.; SANTOS,
mente disseminadas pelo sistema. Têm preservação da qualidade das hortaliças H.S.; DUBOC, E. Crescimento e concen-
sido relatadas viroses, bacterioses e doen- produzidas em hidroponia. tração de nitrato em alface sob influência da
ças fúngicas introduzidas pelo ar, substra- relação NO3-:NH4+ e cloro na solução nutri-
to, sementes, água e insetos. tiva e do horário de colheita. In: REUNIÃO
CUSTOS DE INSTALAÇÃO E
O controle de patógenos em hidroponia BRASILEIRA DE FERTILIDADE DO
PRODUÇÃO SOLO E NUTRIÇÃO DE PLANTAS, 21,
é difícil e nem sempre podem-se utilizar os
Os custos de instalação são bastante 1994, Petrolina. Anais... Petrolina: So-
métodos usados no campo. A melhor ma-
ciedade Brasileira de Ciência do Solo, 1994.
neira para se evitar problemas é a preven- variáveis em função dos materiais usados
p.152-153.
ção. Sugere-se: água de boa qualidade, de na estrutura. Estima-se um custo de cerca
FURLANI, P.R. Instruções para o cultivo de
preferência de poço; substratos desinfe- de R$ 30,00 por metro quadrado de canteiro
hortaliças de folhas pela técnica de hi-
tados; sementes de firmas idôneas e certi- de cultivo, considerando-se toda a estru- droponia-NFT. Campinas: IAC, 1998.
ficadas; desinfecção periódica de equipa- tura hidropônica. Por exemplo, admitindo- 30p. (IAC. Boletim Técnico, 168).
mentos, bandejas, bancadas e isopor com se 20 pés de alface por metro quadrado, FURLANI, P. R.; BOLONHEZI, D.;
hipoclorito de sódio ou cálcio; evitar trân- para a produção de 10.000pés/mês, seriam SILVEIRA, L.C.P.; FAQUIN, V. Nutri-
sito interno de pessoas e animais. Quando necessários 500 m2 de canteiro, com um ção mineral de hortaliças, preparo e manejo
a doença está instalada, sugere-se: erradi- custo total aproximado de R$ 15.000,00. de soluções nutritivas. Informe Agro-pe-
Tem sido estimado um custo de pro- cuário, Belo Horizonte, v.20, n.200/201,
cação das plantas doentes; uso de cloro
p.90-98, set./dez. 1999a.
na solução nutritiva - cuidado com fito- dução por pé de alface oscilando entre 10
e 15 centavos de real. Os itens que mais FURLANI, P. R.; SILVEIRA, L. C. P.;
toxidez; defensivos - não há registros para
BOLONHEZI, D.; FAQUIN, V. Estrutu-
uso em hidroponia. pesam nesse custo são a mão-de-obra, ras para cultivo hidropônico. Informe
Algumas pragas também têm sido embalagem personalizada e a energia elé- Agro-pecuário, Belo Horizonte, v.20,
encontradas em hortaliças folhosas em hi- trica. n.200/201, p.72-80, set./dez. 1999b.
droponia, sendo as mais comuns o pulgão, JENSEN, M.H. Principales sistemas hidro-
o trips, as lagartas e as vaquinhas. As estu- CONSIDERAÇÕES FINAIS ponicos: principios, ventajas y desventajas.
fas fechadas lateralmente com telas plás- In: CONFERENCIA Y EXHIBICIÓN IN-
O cultivo hidropônico de hortaliças
ticas evitam o acesso de algumas pragas. TERNACIONAL DE HIDROPONIA
tem-se mostrado como uma boa alternativa COMERCIAL, 1997, Lima. Proceedings...
de diversificação da produção agrícola, ou Lima: Universidad Nacional Agraria la
COLHEITA, PÓS-COLHEITA E
mesmo como uma técnica com inúmeras Molina, 1997. p.35-48.
COMERCIALIZAÇÃO
vantagens sobre o cultivo no solo em cam- NIELSEN, N. E. Crop production in
Para a preservação e o desfrute da qua- po aberto ou em ambiente protegido. Mas, recirculanting nutrient solution according
lidade das hortaliças produzidas em hi- antes da implantação da atividade, reco- to the principle of regeneration. In:
menda-se um estudo criterioso do mercado INTERNATIONAL CONGRESS ON
droponia, muitos cuidados devem ser
SOILLESS CULTURE, 6, 1984, Lunteren.
tomados. As principais perdas são por consumidor, um conhecimento técnico
Proceedings... Lunteren: International
esmagamento, murchamento, apodreci- básico sobre todo o sistema ou de assis- Society for Soilless Culture, 1984. p.421-
mento e senescência. tência técnica especializada, a escolha de 446.
A colheita deve ser feita nas horas mais local apropriado e com água de boa quali- RESH, H.M. Cultivos hidropônicos: nuevas
frescas do dia e com bastante cuidado, pa- dade química e microbiológica, além de um tecnicas de producción 4. ed. Madrid:
ra se evitarem danos. A eliminação das acompanhamento permanente do funciona- Mundi-Prensa, 1997. 509p.

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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 105

Cultivo de hortaliças de frutos em hidroponia


em ambiente protegido
Carlos Alberto Gemeinder de Moraes 1
Pedro Roberto Furlani 2

Resumo - Cultivo de hortaliças de frutos: opção importante na atividade hidropônica.


Observam-se neste sistema duas tendências: primeiro, o fato de produtores tradi-
cionais de hortaliças de folhas em hidroponia, por exigência de mercado, sentirem
necessidade de diversificar e, naturalmente, os frutos hidropônicos têm entrado na
ordem do dia; segundo, a elevada produtividade das hortaliças de frutos e a re-
gularidade de oferta requerida têm levado o produtor a especializar-se no cultivo
hidropônico de determinadas hortaliças desse tipo, como acontece em países com
tradição desse cultivo. Nas duas tendências, observa-se uma forte influência do
mercado consumidor. Outro aspecto importante é o manejo nutricional das
hortaliças de frutos em sistemas hidropônicos, que se tem mostrado distinto ao do
cultivo hidropônico de folhosas. O consumo dos nutrientes apresenta aspecto não-
linear, direcionando a reposição nutricional às diferentes fases de desenvolvimento
da lavoura. As elevadas produtividades alcançadas com hortaliças de frutos em
sistemas hidropônicos colocam esse sistema de cultivo como altamente promissor,
apesar de ainda não termos atingido valores tão elevados, quando comparados aos
obtidos em países tradicionais. Torna-se necessário, no entanto, formar técnicos e
agricultores capacitados e preparados na tecnologia, para atender de forma eficiente
ao mercado, tornando o fruto hidropônico competitivo pela qualidade.
Palavras-chave: Cultivo sem solo; Solução nutritiva; Tomate; Melão; Morango;
Pepino; Pimentão.

INTRODUÇÃO hidropônico assume o papel de empreen- Era a chamada entressafra, que financei-
O cultivo hidropônico vem crescendo dedor, analisando a forma de produzir, e ramente justificava o uso desta tecnologia
substancialmente no Brasil. Dentro deste diversificador, quando observa a mudança de produção. Hoje, dificilmente encontram-
contexto, a produção de frutos hidropô- substancial em seu relacionamento com o se épocas ou produtos com preços pre-
nicos representa uma segunda etapa na mercado consumidor. definidos e fatores como a qualidade, a
evolução da hidroponia. A princípio, so- Este artigo analisa o papel da hidropo- embalagem e a regularidade de oferta agre-
mente hortaliças de folhas vinham sen- nia na área de hortaliças de frutos e suas gam valores e diferenciam os produtores
do cultivadas em sistemas hidropônicos. perspectivas para o agricultor, a agroindús- num mercado cada vez mais competitivo. É
Atualmente, devido à necessidade pre- tria e o mercado. o que chamamos de valores individuais,
mente do mercado consumidor, ávido por Quando a plasticultura deu seus pri- do produto e do produtor. Por outro lado,
produtos que possam atender a seus novos meiros passos no Brasil, havia um grande o consumidor tem atualmente um papel
anseios, os agricultores estão sentindo a interesse em direcionarem-se determinados muito mais importante no direcionamento
necessidade do uso de ferramentas de cultivos para épocas em que os produtos do mercado, responsabilizando-se pelo
produção eficientes. Neste caso, o produtor alcançavam elevados preços de mercado. controle da qualidade dos produtos, exi-

1
Engo Agro, Produtor e Consultor em Hidroponia, PLANAT S/C Ltda. Rua Profa Elisa dos Santos, 147, CEP 18320-000 Apiaí-SP. E-mail:
carlosmoraes@uol.com.br
2
Engo Agro, Ph.D., Pesq. IAC-CSRA, Bolsista CNPq, Caixa Postal 28, CEP 13001-970 Campinas-SP. E-mail: pfurlani@barao.iac.br

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gindo sempre produtos mais elaborados e QUADRO 1 - Produtividade comparada de algumas hortaliças de frutos em condições de hidroponia
definidos em regras claras de mercado. e em campo aberto
Dentre as hortaliças de frutos mais Hidroponia
Campo
Cultura Produtividade/ Número Total/ano
cultivadas em hidroponia no Brasil, desta- (t/ha)
cam-se principalmente os híbridos nobres safra (t/ha) safras/ano (t/ano)
de tomateiro como caqui, minitomate, Pepino 300 2 600 30
tomate cereja e, atualmente, os tipos longa Berinjela 28 2 56 20
vida. Pela sua grande aceitação de mercado Pimentão verde 57 2 114 16
e com valores compensadores, o tomate Pimentão colorido 45 2 90 10
tem sido, dentre as hortaliças de frutos, a Tomate 550 (1)
1 550 100
de maior interesse por parte dos agricul- FONTE: Knott, citado por Jensen (1997b).
tores. Outras hortaliças também têm po- (1) Período 11 meses.
tencial para hidroponia e deverão dentro
de poucos anos desenvolver-se, tais como
pimentões (principalmente os de colora- LIMITAÇÕES AO USO potencial de inóculo nas áreas utilizadas.
ções diferentes dos tradicionais vermelho INTENSIVO DO SOLO E O ambiente protegido propicia um ambiente
CONSIDERAÇÕES SOBRE O favorável à lavoura e, posteriormente, após
e verde), pepinos (tipo japonês e holandês),
CULTIVO HIDROPÔNICO DE alguns cultivos sucessivos, também fa-
melões (tipo rendilhado), morangos (em
HORTALIÇAS DE FRUTOS
rotação com folhosas em período de inver- vorece o desenvolvimento de diversas
no) e até mesmo alguns tipos de abóboras No início, o cultivo em ambiente prote- doenças de solo e parte aérea. Neste mo-
(italiana e especiais) e berinjelas especiais. gido apresentou-se ao agricultor como uma mento, perde-se um pouco do tão desejado
No Brasil, o cultivo de frutos hidro- importante ferramenta de trabalho, em que controle da lavoura. Contaminações de solo
pônicos tem apresentado produtividade podia-se programar a colheita, com pro- (bactérias e fungos fitopatogênicos), nema-
superior às atingidas em cultivos tradi- dutividades e rendimentos econômicos tóides e salinização (acúmulo de sais no
cionais em estufas-solo. Este diferencial bem acima dos apresentados no cultivo perfil cultivável do solo) são os principais
deverá ser superado a cada dia, pelo conhe- tradicional no campo. Este mesmo cultivo problemas deste cultivo intensivo. As difi-
cimento adquirido pelos agricultores, protegido, por outro lado, criou um ambien- culdades encontradas em cultivo no solo
manejo adequado e novas pesquisas. A te de trabalho totalmente diferente do que são perfeitamente contornáveis, quando o
ferramenta de trabalho, no caso a hidro- o agricultor estava habituado e preparado agricultor tem consciência e domina a
ponia, ainda não está totalmente ajusta- para manejá-lo. Com o passar do tempo, o técnica (adição de matéria orgânica, manejo
da a este tipo de cultivo, ou seja, muitas uso intensivo das áreas de produção tem na irrigação e rotação de culturas), porém
variáveis de produção tais como, material promovido o aparecimento gradativo de não se pode negar que essas dificuldades
genético, tratos culturais, nutrição e suas problemas, os quais, em algumas regiões têm favorecido o interesse por cultivos
inter-relações ainda são pouco conhecidas produtoras, estão sendo limitantes à pro- hidropônicos em hortaliças de frutos.
no Brasil. Apesar disso, esta técnica tem dução.
Há muito tempo se fala em hidroponia ESTRUTRA PARA CULTIVO
mostrado grande evolução em produti-
como ferramenta alternativa de produção HIDROPÔNICO DE HORTALIÇAS
vidade. O mais importante é que, a implan-
em ambiente protegido, mas nunca houve DE FRUTOS
tação de áreas com tecnologia de ponta de
nada servirá, se o produto final não atingir tanto interesse em implantá-la, como após A estrutura física (casa de vegetação
metas de qualidade, que o diferenciem o aparecimento das limitações relaciona- ou estufa) para cultivos hidropônicos não
positivamente no mercado consumidor. das com o cultivo sucessivo em solo. Em apresenta diferenças significativas, quan-
Neste aspecto, a hidroponia tem tudo para algumas hortaliças de frutos, os problemas do comparada ao cultivo em solo. Podem
dar certo em hortaliças de frutos. relativos a pragas e doenças originadas do ser utilizados vários materiais em sua cons-
No Quadro 1, encontram-se dados com- solo são ainda mais agressivos, não so- trução, desde bambu, madeira, até os mais
parativos entre o comportamento produ- mente quando se analisa a suscetibilidade elaborados e de maior custo como arcos
tivo de algumas hortaliças de frutos em dos híbridos cultivados, mas também pelo metálicos. O importante nesta etapa do pro-
condições hidropônicas protegidas e em tempo relativamente longo que as lavouras jeto é fornecer o ambiente mais favorável
campo aberto. Verifica-se que as culturas de frutos se mantêm em um mesmo local às plantas, pois a casa de vegetação, desde
de pepino e pimentões foram as que apre- de cultivo, favorecendo o estabelecimento que bem planejada terá uma influência
sentaram maiores diferenciais de produção de patógenos. A estes fatos, somam-se a favorável sobre o sistema hidropônico. As
em hidroponia, seguidas das culturas de inexperiência do agricultor e até mesmo dos hortaliças de frutos têm, de maneira geral,
tomate e berinjela. técnicos da área e também o aumento no hábitos eretos e a estrutura da planta mui-

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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 107

tas vezes é conduzida por tutores. Sempre lavoura, se não houvesse um sistema de extrema importância é a concentração sali-
deve-se ter estruturas adaptadas ao culti- raízes altamente preparado e desenvolvido na ou condutividade elétrica da solução
vo, para que o ambiente interno atenda para realizar uma absorção dos fertilizantes nutritiva.
às necessidades produtivas das plantas. adequadamente. Observa-se que, em qual-
Pensando nisso, o agricultor deverá optar quer tipo de sistema hidropônico, o fator Cultivo em substratos
por casas de vegetação mais altas que ambiente é determinante no desenvolvi- O cultivo em substratos, normalmente
possam melhorar a troca de ar nas áreas, mento da lavoura, tanto nas raízes, quanto em sacos plásticos, pode ser dividido basi-
favorecendo também o manejo e a polini- na parte aérea. camente em dois tipos: substrato inerte e
zação muito necessária em algumas espé- substrato misto. No substrato inerte utili-
cies. Recomenda-se o pé direito com no Sistema NFT zam-se materiais que não liberam quaisquer
mínimo 3,0m de altura. Quando envolve o sistema NFT, de- elementos ao sistema, caracterizando-se
vem-se definir obrigatoriamente o tipo e a pela função única de suporte das raízes.
Sistemas hidropônicos mais dimensão da canaleta de cultivo. A quan- Utilizam-se vermiculita, lã de rocha e areia
utilizados no Brasil tidade de raízes formadas em hortaliças de como material de cultivo. Nos cultivos em
No Brasil, observam-se duas tendências folhas difere muito da quantidade apre- substratos mistos, realizam-se misturas as
em cultivo de hortaliças de frutos em hidro- sentada pelas hortaliças de frutos. Estas mais diversas, com composições orgânicas
ponia: o sistema nutrient film technique apresentam, normalmente, porte aéreo e inorgânicas, muitas vezes heterogêneas,
(NFT) e o cultivo em substratos (areia, ver- maior com sistema radicular mais desen- dificultando uma programação da irrigação
miculita ou organomineral). Em ambos, os volvido e, como conseqüência, necessitam e distribuição da umidade, sem contar com
resultados são satisfatórios e cada qual de canais de cultivo proporcionais ao volu- alguns desequilíbrios no manejo nutri-
apresenta suas vantagens e desvantagens me de raízes. Neste caso, a indústria nacio- cional.
em relação ao outro. Na literatura interna- nal tem trabalhado bastante no desenvol-
cional podem-se citar Papadopoulos (1991, vimento desses sistemas. Hoje, algumas SISTEMA HIDRÁULICO
1994), Resh (1996), Carrasco & Izquierdo empresas já comercializam canais de cultivo O sistema hidráulico é responsável pelo
(1996), Delfin (1996), Cooper (1996) e Jensen com diversos tamanhos, apresentando armazenamento, recalque e drenagem da
(1997a) e na nacional, Castellane & Araújo volume interno e conformações dimensio- solução nutritiva, sendo composto de um
(1994) e Moraes (1997) como exemplos em nados e adequados ao sistema radicular ou mais reservatórios de solução, do con-
sistemas hidropônicos e a pesquisa tem das plantas. O custo destes materiais ainda junto motobomba e de encanamento e
trabalhado na definição de novas opções. é elevado, mas observando-se a durabili- registro.
Nota-se no Brasil, uma tendência em se dade do material, a médio prazo, este custo
implantar o sistema NFT, da mesma forma e inicial ficaria diluído, viabilizando sua Fluxo e turnos de irrigação
em concordância com as tendências na utilização. Em sistema NFT, o sistema hidráulico
Europa, Ásia e Estados Unidos. Isto se Independente do tipo de canal de cul- sempre será determinado em função do
deve a alguns fatores tais como, controle tivo que se faça opção, vale ressaltar que, ambiente radicular. Em cada ambiente de
mais efetivo da nutrição, custo reduzido e sendo a estrutura física independente do cultivo, têm-se características diferentes em
facilidades nas renovações das áreas de sistema hidropônico, a substituição dos relação ao dimensionamento hidráulico e,
cultivo. Optando-se por qualquer siste- canais de cultivo é perfeitamente aceitável, portanto, não se podem estabelecer volu-
ma de cultivo, é de importância vital o à medida que o agricultor vai dominando a me e fluxo da solução nutritiva, se não levar
conhecimento da ferramenta de trabalho, técnica e se capitalizando. Normalmente, em conta outros fatores, como temperatura
no caso o sistema hidropônico. O local de os canais de cultivo apresentam cerca de da solução nutritiva, a oxigenação no seu
crescimento das raízes, quando se trata 25m de comprimento, distância que permite caminhamento pelas canaletas, o diâmetro
mais especificamente de hidroponia, é fun- uma boa aeração e manutenção de tempe- e comprimento adotados nas canaletas de
damental e de extrema importância. Neste raturas favoráveis ao crescimento radicu- cultivo e a declividade do sistema. Com
ambiente, as raízes vão determinar a absor- lar. A declividade recomendada atinge cerca estas informações, faz-se o dimensiona-
ção de água e de nutrientes, o que vai de 2 a 3%, permitindo um fluxo de solução mento adequado do fluxo de solução nu-
impulsionar e direcionar o crescimento e que efetue a manutenção de teores de umi- tritiva.
vigor da lavoura. As raízes, além da função dade e oxigênio ideais na superfície radi- Em relação aos turnos de irrigação, nota-
de absorção, têm também a função de cular. Estes fatores técnicos são muito se que há muitas diferenças entre cada
armazenamento energético de origem fotos- importantes, pois a relação entre a declivi- sistema e principalmente diferenças em
sintética. De nada adiantaria um complexo dade, volume de irrigação, turnos de irriga- um mesmo sistema. Da mesma forma, o
estrutural com casa de vegetação muito ção e dimensionamento dos canais de ambiente de cultivo vai ser determinante
bem implantada, sementes com alto po- cultivo vai determinar o ambiente e o de- no estabelecimento dos turnos de irriga-
tencial genético, controle ambiental da senvolvimento das raízes. Outro fator de ção.

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108 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

Valores em torno de 5,0 a 8,0l/min para mente, o volume do reservatório não o cultivo de algumas hortaliças de frutos
tomateiros e 2 a 4l/min para morangos, têm- apresenta influência sobre a nutrição pela técnica de hidroponia-NFT.
se mostrado eficientes em declividades de disponibilizada pela solução nutritiva,
2 a 4% com turnos de irrigação de 10 x 10 porém, como o sistema é dinâmico, o PRODUÇÃO DE MUDAS
minutos. Este padrão de referência tem sido reservatório desempenha um papel im-
adotado com sucesso em climas amenos portante na manutenção destes nutrientes. Uma das primeiras preocupações do
com temperatura de solução nutritiva não Quanto maior o volume de solução nutri- agricultor, quando inicia seu cultivo hidro-
elevada (temperatura máxima média de tiva, maior o estoque de nutrientes dis- pônico é a contaminação de seu sistema
26ºC). Para temperaturas mais elevadas, ponível para as plantas. À medida que as de cultivo. Com base nesta preocupação, a
tem-se uma concentração menor de oxigê- plantas absorvem os fertilizantes, há uma fase de preparo e desenvolvimento de
nio na solução nutritiva e, conseqüente- diminuição dos elementos disponíveis mudas para cultivos hidropônicos é uma
mente, deve-se elevar a vazão nos canais proporcionalmente ao volume do reser- etapa muito importante no processo pro-
de cultivo, o que melhora a oxigenação. A vatório, ou seja, quanto maior o volume dutivo. Os sistemas fechados, como o NFT,
velocidade com que a solução passa pelos adotado, menor a variação nutricional no apresentam riscos maiores de contaminação
canais é variável em função do desenvol- reservatório. Podem-se determinar estas e disseminação de doenças, pois a solução
vimento das raízes, portanto, o ambiente variáveis, sempre considerando um número nutritiva circulante entra em contato com
radicular altera-se diariamente, devendo-se fixo de plantas no sistema e, à medida que todas as plantas do sistema, facilitando a
adequar os turnos e vazão periodicamen- se adotam quantidades maiores de plantas movimentação de patógenos. Já os siste-
te. ou densidades maiores, há a necessidade mas abertos são menos suscetíveis, pois
de elevar o volume do reservatório, evi- as plantas estão estabelecidas individual-
Volume do reservatório da tando-se, assim, que as concentrações mente e não têm contato umas com as
solução nutritiva nutricionais alterem-se demasiadamente. outras. Não existe a obrigatoriedade em
Em sistemas hidropônicos sem substra- Para tomateiros, tem-se notado que utilizarem-se mudas produzidas em siste-
tos ou utilizando-se de substratos inertes, valores em torno de 5 a 8l/planta são su- mas hidropônicos, porém, além da adapta-
as plantas não possuem nenhuma opção ficientes. Já para morangos, valores em ção mais adequada ao sistema definitivo,
para extrair seus nutrientes, a não ser da torno de 1,5 a 2,0l/planta têm-se mostrado tem-se uma confiabilidade maior em rela-
solução nutritiva. Neste caso, os fertili- eficazes no cultivo. ção à ausência de contaminantes. Para que
zantes deverão estar obrigatoriamente No Quadro 2, encontram-se resumidos se possam utilizar mudas originárias de
disponíveis na solução nutritiva. Direta- os procedimentos e requisitos básicos para substratos orgânicos, o agricultor deverá

QUADRO 2 - Sugestão de procedimentos para a produção hidropônica de algumas hortaliças de frutos


Número Espaçamento Espaçamento Número de Volume de Condutividade
Cultura de sementes Fase Tamanho(1) 2
entre as linhas entre as plantas plantas/10m solução por canal solução nutritiva
por célula do canal (cm) (cm) (l/min) (mS/cm)
de canteiro
Melão “Net” 1 muda I pequeno 5,0-7,5 5,0-7,5 2000-4000 0,5-1,0 1,0-1,2
_ produção grande 75-100 30 33-44 2,0-4,0 2,0-3,5

Morango Muda I muda II médio 10,0-15,0 10,0-15,0 450-1000 1,5-2,0 1,0-1,2


_ produção grande 25-35 25-35 82-160 2,0-4,0 1,4-1,6

Pepino 1 muda I pequeno 5,0-7,5 5,0-7,5 2000-4000 0,5-1,0 1,0-1,2


_ produção grande 50-75 50-75 18-40 2,0-4,0 2,0-3,0

Pimenta 1-3 muda I pequeno 5,0-7,5 5,0-7,5 2000-4000 0,5-1,0 1,0-1,2


_ produção grande 75-100 50-70 13-27 2,0-4,0 2,0-3,0

Pimentão 1-3 muda I pequeno 5,0-7,5 5,0-7,5 2000-4000 0,5-1,0 1,0-1,2


_ produção grande 75-100 50-75 13-27 2,0-4,0 2,0-3,0

Tomate 1-3 muda I pequeno 5,0-7,5 5,0-7,5 2000-4000 0,5-1,0 1,0-1,2


_ produção grande 75-100 50-75 13-27 2,0-4,0 2,0-4,0
FONTE: Furlani et al. (no prelo).
(1)Tamanho do canal: pequeno: 2,5cm de profundidade e 5,0cm de diâmetro; médio: 5cm de profundidade e 10cm de diâmetro; grande: 15cm de
profundidade e 15cm de diâmetro.

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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 109

transpor um processo de descontaminação e fitossanitários, a fertilização hidropônica c) manejo da lavoura: incluem os fato-
das raízes, fato que causa um estresse em lavouras de frutos apresenta caracte- res ambientais da parte aérea (des-
demasiado e ocasiona um crescimento len- rísticas peculiares e a nutrição deve adquirir brota, condução e tratos culturais) e
to em fase inicial de cultivo. conceitos mais técnicos de fertilização. do sistema radicular (concentração
Alguns processos para a produção de Quaisquer variações no manejo da lavoura de nutrientes, temperatura das raízes,
mudas, visando sempre à sanidade do ou a realização de tratos culturais diferen- oxigenação, volume e fluxo de solu-
futuro sistema produtivo, foram desenvol- ciados, bem como o ambiente de cultivo e ção nutritiva, turno e freqüência de
vidos e têm sido aplicados com sucesso. a utilização de híbrido/variedades podem irrigações);
Dentre eles destacam-se o cultivo em ver- alterar o consumo nutricional das plantas d) estádio de desenvolvimento das
miculita, espuma fenólica, diversos subs- e determinar curvas de absorção especí- plantas (vegetativo e reprodutivo);
tratos e lã de rocha. ficas. Como o produto final é o fruto, a sua e) fitossanidade (pragas e doenças);
Os suportes inertes como a vermiculita, qualidade está mais diretamente relacio-
f) distúrbios fisiológicos;
a espuma fenólica e a lã de rocha são mais nada com a nutrição ou se mostra na prática
adequados a sistemas fechados, como o g) polinização: lavouras com polini-
muito mais visível. Diferenças qualitativas
NFT. Já os cultivos em sistemas abertos zação eficiente têm consumo maior
no tamanho, cor, sabor, formato, textura,
(em substratos), sem muitas preocupações dos nutrientes relacionados com a
podem ser estabelecidas pelo estado nutri-
com contaminações, recebem todos os ti- formação de frutos.
cional da planta.
pos de mudas, inclusive de origem orgâ- Dentre as variáveis mais importantes e Existem lavouras que apresentam con-
nica. A Figura 1 apresenta uma ilustração que causam mudanças no consumo nutri- sumo de nutrientes mais homogêneo, não
de mudas de tomateiro obtidas em espuma cional têm-se: tanto pela característica do material, mas
fenólica. pela uniformidade do ambiente de cultivo.
a) época de cultivo (variações no foto- Quanto mais uniforme o ambiente, tem-se
NUTRIÇÃO EM HORTALIÇAS DE período e temperatura - estações do uma tendência de consumo mais linear e
FRUTOS ano); previsível. Neste caso, deve-se considerar
Devido em grande parte ao ciclo longo b) vigor do híbrido/variedade: híbridos que há um acréscimo no consumo, à me-
de cultivo e consumo diferenciado de mais vigorosos consomem mais que dida que a planta se desenvolve, conside-
nutrientes, associados a fatores ambientais outros menos vigorosos; rando também uma modificação no padrão

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110 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

de consumo de alguns fertilizantes em


função do estádio em que a planta se en-
Concentração
contra (desenvolvimento vegetativo, flo- nutricional
rescimento e frutificação). Estes fatores (mg/l)

acarretam ajustes nas adubações, visando


obter o máximo de cada cultivo, e conse-
Reposições
qüentemente atingir as metas previstas
para a lavoura.
Máximo
Pensando nisto, nota-se que a repo-
sição de nutrientes durante o crescimento Variação Média
e desenvolvimento das plantas é mais nutricional nutricional

importante do que o preparo da solução


Mínimo
nutritiva ou a definição de faixas nutri-
cionais específicas para determinada espé-
cie. As hortaliças de frutos apresentam Tempo

muitas variações em suas necessidades Gráfico 1 - Variação na concentração dos elementos na solução nutritiva durante a
nutricionais durante seu ciclo de desen- fase de desenvolvimento da planta
volvimento.

MANEJO DA SOLUÇÃO nutritiva? Vários mecanismos de controle supor que as médias adotadas são bem
NUTRITIVA EM SISTEMA NFT nutricional têm sido utilizados, para se próximas das médias atuais, efetivando uma
realizar a reposição nutricional. Uma forma adubação programada (fertilização esti-
Devido ao ciclo longo de cultivo, vários
simples de estabelecer, se houve ou não mada). Repondo nutrientes com base nas
fatores intrínsecos e ambientais determi-
consumo, é o uso do condutivímetro. Po- médias de consumo, a condutividade
nam o consumo dos nutrientes e sua dispo- deverá cair gradativamente até valores
rém, este equipamento indica o consumo
nibilidade no sistema. Portanto, mais impor- mínimos, sendo que após isto, efetua-se
global de nutrientes, não estabelecendo
tante se tornam a reposição nutricional e o nova análise ou troca-se a adubação por
quais elementos foram retirados, ou seja,
acompanhamento adequado do consumo não qualifica os elementos, sendo apenas completo. O condutivímetro vai ser o
dos nutrientes de forma individualizada. uma referência, se a planta retirou ou não parâmetro de referência, indicando se as
À medida que as raízes entram em con- elementos químicos do sistema. Neste médias utilizadas ainda são suficientes para
tato com a solução nutritiva, ocorre a absor- caso, a análise química da solução nutritiva repor os elementos retirados. Cada lavoura
ção dos nutrientes e seu transporte para a é a única maneira de definir quais elementos aceita valores de condutividade específicos
parte aérea. Deve-se estar ciente de que a foram retirados e suas quantidades. Com e até mesmo exige valores diferentes para
solução salina preparada inicialmente está as informações sobre condutividade elétri- cada estádio de desenvolvimento.
sendo gradativamente alterada, ao mesmo ca e a análise química da solução nutritiva Resumindo, a média entre análises é
tempo que as plantas se desenvolvem. em mãos, estabelece-se o método de adu- utilizada como parâmetro de adubação para
Desta forma os elementos deverão estar bação. Tendo conhecimento da quantidade o período subseqüente, até que o conduti-
sendo repostos de forma sistemática, para de elementos disponíveis em duas análises vímetro nos aponte para nova análise
que as plantas possam estar sempre reti- consecutivas, por diferença, tem-se o con- química ou troca completa de solução
rando os nutrientes desejados do sistema. sumo individualizado no período, podendo nutritiva.
No Gráfico 1, encontram-se as variações estabelecer médias para cada elemento. Na Na prática, observa-se que os elemen-
que ocorrem com as concentrações dos verdade, as reposições nutricionais são tos devem ser tratados de forma individua-
elementos na solução nutritiva durante uma determinadas em conjunto, pela conduti- lizada. Isto não impede que se utilizem
fase de desenvolvimento de plantas de vidade e pela análise química. O condu- compostos mistos e formulações em seu
tomateiro cultivadas em hidroponia - NFT. tivímetro aponta para o consumo geral e a ajuste. Basta aplicar os fertilizantes (fórmu-
As amostragens de solução nutritiva para análise para o consumo específico. las) de forma que forneçam os respectivos
análise química foram efetuadas após ter Outra pergunta que aparece de imedia- elementos, em quantidades ou estimativas
completado o volume do depósito com to é - quando realizar as análises? O con- desejadas.
água para repor as perdas por evapotrans- dutivímetro fornece parâmetros para se Deve-se lembrar que a reposição de
piração. estabelecer a periodicidade das análises. água no sistema NFT deverá ser diária,
Como saber de forma confiável a quan- Como os resultados da análise química completando-se o volume inicial, indepen-
tidade de cada nutriente que a planta retira apresentam de forma clara as quantidades dentemente da adubação de reposição.
do sistema, diariamente? Quais nutrientes de elementos presentes na solução nutri- Com o desenvolvimento da lavoura e
devem ser repostos diariamente à solução tiva e suas médias de consumo, pode-se as reposições nutricionais constantes, há
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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 111

a necessidade de efetuar a troca comple- QUADRO 3 - Sugestão de formulação de solução nutritiva para a cultura do tomateiro em
ta da solução nutritiva. Esta troca elimina g/1.000l
possíveis contaminações do sistema, tanto Sal ou fertilizante Fase A(1) Fase B(1) Fase C(1)
nutricional quanto fitossanitária. As repo-
Nitrato de potássio 150 40 40
sições sucessivas podem introduzir à 
Nitrato de cálcio Hydro 800 1.000 1.100
solução nutritiva, elementos ou compostos
químicos que não são essenciais às plantas Monoamoniofosfato 250 250 250
ou outros que se podem acumular, pro- Sulfato de magnésio 400 400 400
movendo excessos. O ciclo da lavoura e o Cloreto de potássio 500 600 760
seu desenvolvimento vão determinar o Sulfato ferroso 12,0 12,0 12,0
tempo de utilização de uma mesma solução
Ácido bórico 3,0 3,0 3,0
nutritiva.
Existem produtores que realizam trocas Sulfato de cobre 0,2 0,2 0,2
periódicas completas sem realizar análises Sulfato de manganês 3,0 3,0 3,0
químicas. Em volumes exagerados, teorica- Sulfato de zinco 0,5 0,5 0,5
mente não se tem uma alteração nutricional Molibdato de sódio 0,15 0,15 0,15
significativa no reservatório, porém não
NOTA: Nas fases de semeadura até 30 dias após o transplante das mudas (fase A), de 30 a 60 dias
favorece o entendimento e a definição de após transplante das mudas (fase B) e de 60 dias após o transplante das mudas até o
alguns padrões de consumo, importantes término da colheita (fase C).
na evolução da produtividade e manejo (1) Composição da solução nutritiva (mg/l) - macronutrientes: fase A - N-NO3 (135), N-NH4 (35),
adequado da solução nutritiva. P (52), K (314), Ca (152), Mg (40), S (70); fase B - N-NO3 (150), N-NH4 (37), P (52), K (326), Ca
(190), Mg (40), S (70); fase C - N-NO3 (164), N-NH4 (38), P (52), K (409), Ca (209), Mg (40), S
SUGESTÃO DE FORMULAÇÕES (70). Para os micronutrientes, as concentrações não variam em função das fases e são as seguintes
PARA O PREPARO DE (mg/l): B (0,5), Cu (0,05), Fe (2,4), Mn (0,75), Mo (0,06), Zn (0,11).
SOLUÇÕES NUTRITIVAS PARA
HORTALIÇAS DE FRUTOS
Para o morangueiro, apresentam-se QUADRO 4 - Sugestão de formulação de so-
Diversas formulações de soluções nu- lução nutritiva para a cultura do
tritivas para hortaliças de frutos encontram- duas fases distintas e características em
morangueiro nas fases vegeta-
se disponíveis em Furlani et al. (no prelo, relação à nutrição. Na fase vegetativa te- tiva (fase A) e produtiva (fase
1999). Nos Quadros 3 e 4, encontram-se mos produção de massa foliar e formação B) em g/1.000l
duas sugestões de preparo de soluções pa- de estolões, onde não se observam frutos Sal ou fertilizante Fase A(1) Fase B(1)
ra o cultivo de tomateiro e morangueiro, ou sua produção é pequena e a fase pro-
dutiva tem-se praticamente formação de Nitrato de potássio 650 800
respectivamente. 
frutos. O Quadro 4 apresenta a composição Nitrato de cálcio Hydro 900 1.060
As reposições para tomateiros são rea-
lizadas com base em análises químicas da básica da solução nutritiva em cada fase Monoamoniofosfato 240 240
solução nutritiva circulante, estabele- de cultivo. Sulfato de magnésio 400 400
cendo-se médias de consumo individuais A reposição nutricional sugerida para
Sulfato ferroso 8,0 8,0
dos elementos entre análises. As dife- o morangueiro utiliza o critério da manu-
tenção da condutividade elétrica, mediante Ácido bórico 1,5 3,5
rentes fases de cultivo, apresentadas no
Quadro 3, são adaptações aos padrões de adição de soluções de ajuste sempre que Sulfato de cobre 0,25 0,25
consumo de cada fase de desenvolvimento, esta atingir valores predeterminados. As Sulfato de manganês 2,5 2,5
otimizando os elementos mais consumidos soluções estoque apresentam compo-
Sulfato de zinco 1,0 1,0
em função da extração individual. Esta sições químicas que possuem uma relação
entre os nutrientes, semelhante à extraída Molibdato de sódio 0,1 0,1
referência de adubação tem sido utilizada
com sucesso no cultivo de tomates hidro- pela planta cultivada. Na fase reprodutiva (1) Composição da solução nutritiva (mg/l) -
pônicos e ajusta os elementos consumidos podem-se aplicar valores de condutividade macronutrientes: fase A - N-NO3 (215), N-NH4
mais elevados (1,5 a 2,0mS), mas deve-se (35), P (50), K (234), Ca (171), Mg (40), S
nas fases de cultivo. Deve-se notar porém,
(70); fase B - N-NO3 (258), N-NH4 (37), P
que todas as variáveis de consumo deve- reduzir a concentração para valores em
(50), K (288), Ca (201), Mg (40), S (70);
rão ser dimensionadas nas reposições. A torno de 1,0 a 1,5mS, na fase vegetativa, micronutrientes: fase A - B (0,26); fase B - B
condutividade elétrica adotada em cada evitando a queima das folhas. A condu- (0,60). Para os demais micronutrientes, as
fase é crescente, à medida que os frutos tividade elétrica elevada na fase reprodutiva concentrações não variam em função das fases e
vão-se formando e a planta se aproxima da proporciona frutos mais saborosos e con- são as seguintes (mg/l): Cu (0,06), Fe (1,6), Mn
colheita. sistentes. (0,63), Mo (0,04), Zn (0,22).

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112 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

Na prática, avalia-se a condutivida- de folhas produzidas em hidroponia é Atualmente, o consumidor está-se acos-
de elétrica da solução circulante e sempre a presença das plantas com as raízes in- tumando a observar as embalagens e já
que esta apresentar valores baixos (valo- tactas e visíveis na embalagem. Esta existe um relacionamento do produto com
res menores que 1,0mS na fase A e 1,5mS característica, muito utilizada na prática ele. As informações constantes na emba-
na fase B), adicionam-se volumes fixos para identificar e divulgar a origem do lagem criam um comprometimento do
das soluções estoque A e B, até que se produto, não se aplica aos frutos hidro- produtor com o cliente, fortalecendo a sua
estabeleça a condutividade desejada. Os pônicos. Assim sendo, na hidroponia de marca no mercado e desenvolvendo a con-
micronutrientes são introduzidos ao sis- frutos, adicionalmente à qualidade, a em- fiabilidade do seu produto. Adicional-
tema, proporcionalmente ao volume dos balagem torna-se parte importante na di- mente, a embalagem além de diferenciar e
estoque A e B (300ml de estoque de mi- vulgação e venda, identificando o produ- proteger o produto, agrega valores, criando
cronutrientes/l estoque A ou B aplica- to. Ela deve transmitir ao consumidor a remuneração diferenciada. Um produto
do). personalidade desse produto, valor, infor- diferenciado merece embalagem diferen-
mações e benefício comparativo que o mes- ciada. Ao produtor cabe desenvolver um
COLHEITA E EMBALAGEM mo apresenta, quando comparado a um produto em que a embalagem o identifica
Um fato muito associado às hortaliças produto oriundo do cultivo tradicional. (Fig. 2 e 3).

Figura 2 - Tomate caqui embalado em bandejas de isopor e


filme de PVC

Figura 3 -
Figura 1 - Produção de mudas de tomateiro em espuma Tomate caqui
fenólica embalado em
caixa de
papelão
contendo a
identificação
do produto e
do produtor

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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 113

CONTROLE FITOSSANITÁRIO ção em seu uso. Outras possibilidades vêm REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
As hortaliças de frutos apresentam surgindo em relação ao controle de pragas CARRASCO, G.; IZQUIERDO, J.A. A média
e doenças como o controle biológico, per- empresa hidropônica: a técnica da solução
ciclos longos de cultivo, exigindo tratos
feitamente aplicável ao cultivo hidropôni- nutritiva recirculante (“NFT”). Talca, Chile:
culturais dedicados e controle preventivo
co. Em centros mais evoluídos, o controle Universidade de Talca/FAO, 1996. 91p.
de pragas e doenças. A opção por cultivo
ambiental exerce uma influência muito
protegido se manifesta, quando o produtor CASTELLANE, P.D.; ARAÚJO, J.A.C.de.
grande no manejo de pragas e doenças e Cultivo sem solo: hidroponia. Jaboticabal:
necessita de um ambiente de cultivo mais
tem sido aplicado em seu controle. FUNEP, 1994. 43p.
favorável ao desenvolvimento das plantas,
porém muitas vezes este ambiente pode CONSIDERAÇÕES FINAIS COOPER, A. The ABC of NFT. Narrabeen:
facilitar o desenvolvimento de patógenos Casper, 1996. 171p.
A hidroponia veio ocupar um espaço
e criar condições adequadas à multipli- DELFIN, A. R. (Ed.). Hidroponia: una espe-
e realizar uma tarefa importante no Brasil.
cação de insetos. De forma geral, durante ranza para Latinoamérica. In: CURSO-
O potencial gerado com a simples implan-
os primeiros cultivos, a casa de vegetação TALLER INTERNACIONAL, 1996,
tação de uma técnica perfeitamente aces-
possui baixo potencial de inóculo, o que Lima. Proceedings... Lima: Universidad
sível ao agricultor está permitindo que a
favorece a utilização de defensivos em Nacional Agraria la Molina, 1996. 391p.
agricultura intensiva seja introduzida de
quantidades reduzidas. Porém, à medida forma definitiva na agroindústria nacional, FURLANI, P.R.; BOLONHEZI, D.;
que se utiliza ininterruptamente o mesmo criando no empresário rural, novos argu- SILVEIRA, L.C.; FAQUIN, V. Cultivo
local para o cultivo sucessivo de uma hidropônico de plantas. Campinas: IAC,
mentos e lucratividade. Todavia, isso é
mesma espécie e/ou cultivar, o ambiente (IAC. Boletim Técnico, 180). No prelo.
apenas o início de uma caminhada que, se
torna-se uma fonte cumulativa de agentes bem trabalhada, poderá gerar muita tecno- FURLANI, P.R.; BOLONHEZI, D.;
transmissores de doenças e pragas. Até o logia e sucesso. A possibilidade de se SILVEIRA, L.C.P.; FAQUIN, V. Nutri-
momento, não se tem notícias de defen- programarem as safras, obtendo um con- ção mineral de hortaliças, preparo e manejo
sivos desenvolvidos especialmente para de soluções nutritivas. Informe Agro-
trole efetivo sobre a lavoura já é uma reali-
cultivos hidropônicos e as dúvidas em pecuário, Belo Horizonte, v.20, n.200/201,
dade e em pouco tempo, casas de vege-
p. 90-98, set./dez. 1999.
relação às dosagens e carências em ambien- tação estarão operando automatizadas e
te protegido ainda permanecem não escla- muito mais eficientes, acarretando produ- JENSEN, M.H. Principales sistemas hidro-
recidas. tividades almejadas. Não é somente o mer- ponicos: princípios, ventajas y desventajas.
In: CONFERENCIA Y EXHIBICIÓN
A hidroponia vem sendo erroneamente cado consumidor que exige modernização,
INTERNACIONAL DE HIDROPONIA
taxada de tecnologia, em que não se apli- mas também o agricultor que sente que sem COMERCIAL, 1997, Lima. Proceedings...
cam agrotóxicos ou defensivos. Em lavou- o uso de inovações tecnológicas não so- Lima: Universidad Nacional Agraria la
ras de frutos, nota-se apenas uma diminui- breviverá por muito tempo. Molina, 1997a. p.35-48.
JENSEN, M.H. Situation, perspectivas y
futuro de la hidroponia en el mundo. In:
CONFERENCIA Y EXHIBICIÓN
INTERNACIONAL DE HIDROPONIA
COMERCIAL, 1997, Lima. Proceedings...
Lima: Universidad Nacional Agraria la
Molina, 1997b. p.9-16.
MORAES, C.A.G. Hidroponia: como cultivar
tomates em sistema NFT. Jundiaí: DISQ,
1997. 141p.
PAPADOPOULOS, A.P. Growing green-
house tomatoes in soil and in soilless
media. Otawa: Agriculture Canada, 1991.
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PAPADOPOULOS, A.P. Growing green-
house seedless cucumbers in soil and in
soilless media. Otawa: Agriculture
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RESH, H.M. Hydroponic food production.
5.ed. Santa Barbara, Califórnia, EUA:
Woodbridge Press, 1996. 527p.

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114 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

Doenças de hortaliças em cultivo protegido


Laércio Zambolim 1
Hélcio Costa 2
Carlos Alberto Lopes 3
Francisco Xavier Ribeiro do Vale 1

Resumo - Em todas as regiões geográficas do país, as hortaliças são cultivadas em


ambiente protegido, notadamente nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul. As
hortaliças mais comumente cultivadas são o tomate, o pepino, o pimentão e a
alface. Nos cultivos protegidos, gasta-se maior quantidade de agroquímicos por
área para o controle de doenças e pragas. Resistência aos agroquímicos também é
comum nos cultivos protegidos, principalmente quando são empregados fungicidas
com modo de ação específico. Entre as doenças de maior incidência nos cultivos
protegidos destacam-se o oídio (míldio pulverulento) e míldio na parte aérea das
plantas e, como doenças do solo, destacam-se a murcha de Verticillium, a murcha
de Fusarium e os nematóides-das-galhas. Além das doenças bióticas, inúmeros
distúrbios fisiológicos (abióticos) surgem nos cultivos protegidos. As medidas de
controle devem ser de caráter preventivo de maneira que patógenos do solo não
sejam levados pelas sementes e mudas para o solo no interior das estufas. Durante
o cultivo das plantas, atomizações com fungicidas de contato em rodízio com os
sistêmicos, aliados a práticas culturais diversas (nutrição equilibrada, controle da
irrigação e da umidade no interior das estufas, resistência genética etc.) são medi-
das recomendadas. Após a colheita, a rotação de cultura com espécies de plantas de
famílias diferentes, principalmente gramíneas e crucíferas, é prática recomendada
nos cultivos protegidos.
Palavras-chave: Controle de doenças; Cultivo protegido; Hortaliças; Patógenos.

INTRODUÇÃO é comparado ao convencional, observa-se gidos, trata-se da pouca difusão e adoção


que o ambiente protegido é alterado, a das táticas de manejo integrado. Manejo
Dentre as hortaliças mais cultivadas
nas diferentes regiões do país destacam- severidade de doenças e pragas tende a integrado não se refere apenas ao manejo
se: o tomate (tipo cereja e caqui), o pimentão aumentar, assim como a resistência a fito- de fitopatógenos e pragas, mas também ao
(amarelo e vermelho), o pepino (tipo ja- patógenos e a pragas, em razão da aplicação manejo da irrigação, dos agroquímicos, da
ponês), a alface e o melão (Quadro 1). de agroquímicos. fertilização do solo etc. A rotação de cultu-
Levantamento realizado por Oliveira Entretanto, a maior precocidade, a maior ras, por exemplo, é uma prática obrigatória
(1995), sobre o emprego de casas de vege- produtividade e a melhor qualidade das em qualquer sistema de cultivo que, no en-
tação no Brasil, revelou que a área ocupada hortaliças em sistemas protegidos são van- tanto, raramente tem sido utilizada em cul-
pelas casas de vidro era de 20.755m2 e a de tagens comparativas em relação ao sistema tivos protegidos.
casas de plástico 63.474m2. Entre os mode- convencional. Estes fatos, aliados a outros, A prática de fumigar o solo visando
los das casas, o tipo capela é o mais usado tais como: proteção contra chuvas de grani- resolver um problema de doenças, pode tor-
(46,22%), sendo o polietileno o material de zo, geadas, chuvas e vento, fazem com que ná-lo ainda maior. Na fumigação, fungos e
maior emprego. No Brasil, diferentemente o cultivo protegido venha aumentando no bactérias antagonistas aos fitopatógenos
da Holanda e Japão, não existem casas de país. normalmente são eliminados, criando-se,
vidro climatizadas e sim semiclimatizadas. Mas, um dos pontos que pode limitar a portanto, um vácuo biológico, o que facilita
No Quadro 2, onde o sistema protegido produção de hortaliças em cultivos prote- a multiplicação rápida dos fungos, bacté-

1
Engo Agro, Ph.D., Prof. Tit. UFV - Depto Fitopatologia, CEP 36571-000 Viçosa-MG. E-mail: zambolim@mail.ufv.br
2
Engo Agro, D.Sc. Pesq. EMCAPER, Caixa Postal 391, CEP 29001-970 Vitória-ES.
3
Engo Agro, Ph.D., Pesq. EMBRAPA Hortaliças, Caixa Postal 218, CEP 70359-970 Brasília-DF.

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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 115

QUADRO 1 - Hortaliças comumente empregadas em cultivo protegido de acordo com as regiões rias e nematóides fitoparasitas.
geográficas
FORMAS DE SOBREVIVÊNCIA
Nome comum Nome científico
DE FITOPATÓGENOS EM
Região Norte CULTIVO PROTEGIDO

Pimentão Capsicum anuum No Quadro 3, as diversas formas de


sobrevivência (clamidosporos, escleró-
Região Nordeste dios, oósporos, células bacterianas e
Pimentão Capsicum annuum ootecas) permitem a fitopatógenos sobre-
Repolho Brassica oleracea var. capitata viverem por longos períodos no solo, na
Tomate Lycopersicon esculentum ausência da planta hospedeira, principal-
mente os clamidosporos de Fusarium,
Região Centro-Oeste
escleródios de Rhizoctonia solani e
Abóbora Cucurbita moschata
Sclerotinia sclerotiorum e células bacte-
Agrião Nasturtium officinale
rianas de Ralstonia solanacearum.
Alface Lactuca sativa
Tais estruturas de sobrevivência sur-
Berinjela Solanum melongena
gem nos solos das estufas por meio de água
Couve-flor Brassica oleracea var. botrytis
de irrigação e implementos agrícolas conta-
Espinafre Spinacea oleracea
minados e por meio de sementes e mudas
Fava Phaseolus lunatus
contaminadas com fitopatógenos.
Melão Cucumis melo
É comum encontrar no campo, fontes
Moranga Cucurbita maxima
de água que podem servir para irrigação,
Pepino Cucumis sativus
tais como: represas, lagos, riachos e córre-
Repolho Brassica oleracea var. capitata
gos já contaminados com estruturas de
Tomate Lycopersicon esculentum
fitopatógenos. A contaminação ocorre
Região Sudeste devido a vários fatores, dentre os quais
Abóbora Cucurbita moschata destacam-se: enxurradas que levam solos
Agrião Nasturtium officinale de cultivo de hortaliças e hortaliças em
Alface Lactuca sativa estado de decomposição descartadas pró-
Batata Solanum tuberosum ximas a fontes de água, córregos, lagos e
Batata-doce Ipomea batatas represas que constituem em fontes de bac-
Berinjela Solanum melongena térias como Ralstonia solanacearum,
Coentro Coriandrum sativum Erwinia carotovora, nematóides e fungos
Feijão-vagem Phaseolus vulgaris do solo.
Jiló Solanum gilo Outra fonte de contaminação dos solos
Morango Fragaria hibrida em cultivo protegido são os implementos
Pimentão Capsicum annuum agrícolas, que normalmente carregam pro-
Pepino Cucumis sativus págulos de patógenos (estruturas de fun-
Salsa Petroselinum crispum gos, células bacterianas, ovos e juvenis de
Tomate Lycopersicon esculentum nematóides) no interior de agregados do
solo de campos contaminados para solos
Região Sul
das estufas.
Abobrinha Cucurbita spp. As doenças em cultivos protegidos
Alface Lactuca sativa tendem a tornar-se mais severas ainda,
Coentro Coriandrum sativum pois, além dos fatores expostos, há que se
Melão Cucumis melo levar em conta, também, que a população
Morango Fragaria hybrida
de plantas é muito maior do que em cultivos
Pepino Cucumis sativus
sem proteção. Em cultivos muito adensa-
Pimentão Capsicum annuum
dos como acontece nas estufas, o ambiente
Salsa Petroselinum crispum
torna-se muito mais favorável à infecção e
Tomate Lycopersicon esculentum
disseminação de fitopatógenos. Desta ma-
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116 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

QUADRO 2 - Produção de hortaliças em cultivo protegido comparado ao cultivo convencional

Tipo de cultivo
Característica
Protegido Convencional

Temperatura do ar e solo Maior Menor


Umidade do ar e solo Maior Menor
Ventos Ausente Presente
População de plantas Maior Menor
Fitotoxidez por nutrientes e pesticidas Comumente Raramente
Salinização do solo Comumente Raramente
Produtividade Maior Menor
Qualidade visual Maior Menor
Luminosidade Intensidade menor Intensidade maior
Estiolamento de plantas Sim Não
Precocidade Maior Menor
Fitopatógenos do solo Limitante Pouco limitante
Severidade de pragas Maior Menor
Presença de nematóides nas raízes Freqüente Menos freqüente
Severidade de doenças Maior Menor
Incidência de oídio ou míldio pulverulento Comum Raro
Gasto com inseticidas e acaricidas por área Maior Menor
Resistência de insetos, ácaro e fitopatógenos aos agroquímicos Maior probabilidade Menor probabilidade
Contaminação de aplicadores por agroquímicos Maior probabilidade Menor probabilidade
Inimigos naturais de insetos-praga Ausentes Presentes
Manejo integrado Pouco difundido Mais difundido

QUADRO 3 - Formas de sobrevivência de fitopatógenos do solo em cultivo protegido

Doença Patógeno Forma de sobrevivência

Murcha de Fusarium Fusarium oxysporum Clamidosporos no solo


Mucha de Verticillium Verticillium dahliae Microescleródios no solo
Podridão de esclerotinia Sclerotinia sclerotiorum Escleródios no solo e tecidos da planta
Tombamento Rhizoctonia solani Escleródios no solo
Murcha Phytophthora capsici Oósporo e Clamidosporo no solo e tecidos de planta
Podridão de Fusarium Fusarium solani f.sp. cucurbitae Clamidosporos no solo
Mofo-cinzento Botrytis cinerea Microescleródios no solo
Murchadeira Ralstonia solanacearum Células bacterianas no solo e nos tecidos de planta
Podridão-mole Erwinia carotovora Células bacterianas no solo e nos tecidos da planta
Cancro bacteriano Clavibacter michiganense subsp. michiganensis Células bacterianas no solo e nos tecidos da planta
Nematóide-das-galhas Meloidogyne spp. Ootecas e juvenis no solo e tecidos da planta

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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 117

neira, alguns patógenos foliares (bactérias mento foliar, a insolação, o vento, a evapo- - solarização do solo;
e fungos) são também favorecidos. Além transpiração etc. serem diferentes do am- - inundação do solo;
disso, a disseminação é grandemente biente exterior, é de se esperar que surjam
- desinfestação do solo;
facilitada (cultivo adensado) tanto dos maiores problemas fisiológicos nas plantas.
- fumigação do solo;
patógenos do solo quanto da parte aérea. Além disso, o fato de a prática de rotação
Dentre as principais formas de dissemi- de cultura e de o emprego de compostos - revolvimento do solo seguido de
nação e transmissão de patógenos da parte orgânicos não serem comumente empre- pousio;
aérea destacam-se os insetos, o vento, os gados aliados à fertilização, problemas com - rotação de culturas;
aerossóis, o tipo de irrigação e as práticas a salinização do solo surgem e podem tam- - emprego de compostos orgânicos no
culturais, como podas, desbrota e amarra- bém contribuir sobremaneira para o sur- solo;
ção de partes vegetativas de hortaliças. A gimento das doenças abióticas.
- tratamento de sementes com fungi-
transmissão ocorre por meio de ferramentas Observe também, que muitos dos dis-
cidas protetores e sistêmicos;
de cultivo. túrbios fisiológicos em cultivo protegido
surgem devido ao desequilíbrio de nu- - tratamento térmico de sementes e
trientes no solo. Pelo fato de a fertilização mudas;
DOENÇAS DE MAIOR
INCIDÊNCIA EM HORTALIÇAS ser fornecida via água de irrigação, defi- - plantio em substratos artificiais em
EM CULTIVOS PROTEGIDOS ciências ou excessos de um ou outro nu- recipientes sobre o solo;
triente ocorrem comumente nos solos e - emprego de telado de náilon;
No Quadro 4, encontram-se as culturas
levam ao distúrbio fisiológico. Os sintomas - eliminação de plantas hospedeiras
comumente cultivadas em estufas, em di-
de tais distúrbios, em alguns casos, podem próximas às estufas;
versas regiões do Brasil, e as doenças que
ser confundidos com sintomas causados
apresentam maior incidência nestas cul- - emprego de armadilhas de insetos ao
por patógenos, o que leva invariavelmente
turas. redor e dentro das estufas (armadilha
à aplicação de fungicidas erroneamente.
Observe que nos cultivos protegidos, amarela adesiva e de água);
Além dos distúrbios citados no Quadro 5,
há grande predominância de patógenos do - roguing (remoção de mudas e plan-
citam-se também a queima pelo sol e o uso
solo (fungos, bactérias e nematóides). Na tas doentes);
de agroquímicos aplicados isoladamente
parte aérea das plantas é comum o oídio - enxertia;
ou em misturas. Ao contrário do que se
(míldio pulverulento).
possa imaginar, muitas vezes tem-se utili- - emprego de cultivares com resistên-
Os patógenos do solo têm inviabilizado,
zado muito mais agroquímicos em cultivo cia vertical;
em alguns locais, o cultivo de hortaliças
protegido do que em plantas em ambiente - emprego de implementos agrícolas e
em estufas, pelo fato de produzirem estru-
externo. ferramentas livres de patógenos;
turas de resistência e permanecerem por
longo período no solo. Como os fumigantes - plantio de plantas-armadilhas ao re-
CONTROLE DAS DOENÇAS QUE
de solo não têm propiciado controle satis- dor da estufa;
INCIDEM NOS CULTIVOS
fatório dos patógenos de solo, o cultivo - destruição de restos culturais de plan-
PROTEGIDOS
nas estufas pode tornar-se inviável, como tios anteriores;
verificado em várias estufas na região Su- Diversas medidas podem ser utilizadas
- pousio (período sem uso de cultura
deste. no controle de patógenos em cultivos pro-
na estufa).
Quanto às doenças da parte aérea, a tegidos. Há medidas preventivas que visam
evitar a entrada de patógenos no ambiente Medidas tais como a escolha do local
predominância é de oídio e de míldio, e na
dos cultivos protegidos antes de a cultura de instalação das estufas; plantio em solo
cultura do pimentão do gênero Oidiopsis.
ser implantada e também medidas que livre de patógenos; plantio em substratos
Tais doenças têm predominado nos culti-
visam a eliminação ou redução do inóculo artificiais em recipientes sobre o solo; em-
vos protegidos em 100% das estufas.
no solo dos cultivos protegidos após a co- prego de armadilhas de insetos ao redor e
lheita. Dentre as medidas que reduzem o dentro das estufas e o plantio de cultiva-
DOENÇAS ABIÓTICAS EM
inóculo inicial no interior das estufas des- res resistentes às doenças são de grande
CULTIVOS PROTEGIDOS
tacam-se: importância, notadamente à adoção de
No Quadro 5, encontram-se os princi- cultivares resistentes.
- escolha do local de instalação das
pais distúrbios fisiológicos e suas possíveis Ressalta-se aqui a grande importância
estufas;
causas em diversas culturas, em cultivo da adoção das medidas que visam impedir
protegido. - plantio em solo livre de patógenos; a entrada de patógenos nos solos dos cul-
Nos ambientes protegidos, pelo fato de - emprego de sementes e mudas sadias tivos protegidos. Certos fungos, bactérias
a temperatura, a umidade relativa, o molha- e certificadas livres de patógenos; e nematóides, quando infestam o solo, seja
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118 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

QUADRO 4 - Doenças de maior incidência em hortaliças em cultivos protegidos

Doença Patógeno Cultura

Tombamento e Podridão das raízes Pythium ultimum, Tomate, melão, pimentão, alface, berinjela, pepino
P. aphanidermatum,
Phytophthora spp.
Rhizoctonia solani

Murcha Phytophthora capsici Pimentão

Murcha de Verticillium Verticillium dahliae Tomate, melão, pepino, pimentão, berinjela, quiabo
Verticillium albo-atrum

Murcha de Fusarium Formae specialis de Fusarium oxysporum Tomate, melão, pepino

Podridão de Fusarium Fusarium solani f.sp. cucurbitae Melão

Podridão de esclerotinia Sclerotinia sclerotiorum Tomate, pimentão, alface, melão, pepino

Míldio pulverulento (Oídio) Erysiphe sp., Oidium spp. Tomate, pimentão, pepino, abobrinha, berinjela, melão,
Leveillula taurica feijão-vagem, ervilha, morango
Sphaerotheca fuliginea
Sphaerotheca macularis

Mofo-cinzento Botrytis cinerea Tomate, pepino, alface, berinjela, feijão-vagem, morango

Míldio Bremia lactucae Alface


Pseudoperonospora cubensis Melão, pepino, abóbora

Mofo-das-folhas Fulvia fulva (Cladosporium fulvum) Tomate

Mofo Cladosporium cucumerinum Pepino, melão, abóbora

Murchadeira Ralstonia solanacearum Tomate, pimentão

Talo oco Erwinia carotovora Tomate, pimentão

Mancha-angular Pseudomonas syringae pv. lachrymans Pepino, melão

Nematóide-das-galhas Meloidogyne spp. Tomate, alface, pepino, quiabo, pimentão

Cancro bacteriano Clavibacter michiganense subsp. michiganensis Tomate

Mancha-zonada Leandria momordicae Pepino

Gomose Didymella bryoniae Melão

Antracnose Colletotrichum lagenarium Melão

Mosaico Vírus do mosaico das cucurbitáceas Abóbora, abobrinha, melão, pepino

Mosaico Vírus do mosaico do fumo Tomate

Mosaico Vírus da mancha anelar do mamoeiro estirpe Pepino, melão


melancia (PRSV-W)

Mosaico dourado Vírus do mosaico dourado (TGMV) Tomate

Vira-Cabeça Vírus do vira cabeça do tomateiro (TSWV) Tomate

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QUADRO 5 - Doenças abióticas causadas por distúrbios fisiológicos em cultivo protegido

Distúrbio fisiológico Causa

Tomate
Maturação irregular Solo salino, alta temperatura
Estiolamento das plantas Excesso de N, deficiência de luminosidade
Escurecimento dos vasos dos frutos Baixa luminosidade, alta temperatura, alta umidade do solo, excesso de N,
carência de K
Podridão apical Alta temperatura, ar seco, alteração brusca de umidade do solo, deficiência de
Ca, salinidade
Fruto rendilhado Baixa umidade do solo, alta temperatura, deficiência de K
Abortamento de flores e ocorrência de frutos ocados Temperaturas acima de 38ºC ou abaixo de 13ºC, luminosidade deficiente,
excesso de N
Morte de meristema apical Temperatura abaixo de 5ºC; ventos frios ou geada; excesso de N ou de K;
deficiência de K, B e Ca
Bifurcação de rácimos Desequilíbrio entre N, Ca e K associado à queda ou flutuação de temperatura
Lóculo aberto e janela do caule Alta umidade, alta temperatura, alta fertilidade (N); deficiência de Ca, Mg,
Mo e B

Pimentão

Aborto floral (redução na percentagem de germinação do Temperatura acima de 35ºC, presença de ventos, baixa luminosidade, excesso
grão de pólen) de N

Pepino

Isoporização interna Alta dosagem de N, crescimento vegetativo intenso, deficiência de B


Necrose interna do fruto Temperatura baixa
Podridão apical Deficiência de Ca
Manchas foliares claras com formato irregular Salinização do solo
Frutos cinturados (defeitos) Alta ou baixa temperatura, baixa umidade, alto nível de amônio ou de K,
deficiência de Ca e B
Branqueamento de folhas Salinidade do solo, alto nível de Ca ou K no solo, solos cultivados intensamente,
temperaturas baixas no inverno/primavera, baixa temperatura do solo

Alface

Tipburn (queima dos bordos das folhas novas) Manejo inadequado da cultura provoca crescimento acelerado e a absorção de
Ca não acompanha o ritmo de crescimento

Melão

Rachadura Manejo inadequado de água, adubação desbalanceada


Má-formação do fruto; frutos comprimidos; defeituosos; Crescimento vegetativo vigoroso, polinização ineficiente
má-cicatrização do umbigo
Fermentação do interior do fruto Polpa derrete da região da semente para a casca, formando um álcool de sabor
e odor desagradável. Este distúrbio está relacionado com a contínua absorção
de N na maturação e colheita.
Recomenda-se muito cuidado no manejo da água e da adubação, para não
interferir no ponto de colheita

FONTE: Dados básicos: Takazaki & Della Vecchia (1993).

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por sementes contaminadas, água de irri- necessário; no solo e/ou na parte aérea das plantas no
gação, seja por implementos agrícolas, - rotação de fungicidas com modo de interior das estufas. Para isso, torna-se
dificilmente são erradicados. A fumigação ação específico e não específico; necessário controlar a abertura e o fecha-
que, teoricamente, seria uma medida impor- mento das cortinas laterais das estufas, de
- evitar construir estufas em regiões
tante na eliminação destes patógenos do tal modo que desfavoreçam patógenos que
su-jeitas a nevoeiros;
solo, ao contrário, não tem propiciado bons demandam maior intervalo de tempo de
- controlar a ventilação no interior das
resultados, devido exatamente não estar molhamento foliar para infectar o hospe-
estufas;
sendo empregada de maneira correta nos deiro. Por outro lado, há que se ter um
cultivos protegidos. A fumigação do solo - descontaminação de ferramentas equilíbrio entre os períodos de molhamento
deve ser recomendada em associação com destinadas a desbrotas e podas (hi- e de seca das folhas, pois numa mesma cul-
outras práticas agrícolas, tais como: após poclorito de sódio a 5%); tura, como o pepino, o oídio e o míldio in-
a retirada da cobertura do solo, fazer a incor- - controle da irrigação dentro das es- cidem, dependendo destas condições.
poração de compostos orgânicos oriundos tufas, evitando o excesso de umida- Quando há períodos de seca prolongados,
de local sabidamente isento de patógenos; de no solo; ocorre a incidência do oídio e, quando há
empregar, na irrigação, água de boa quali- - pulverização com extrato de plantas períodos de molhamento longo, o míldio
dade e isenta de patógenos; evitar que e calda de fumo; passa a predominar. Entretanto, na prática
solos do exterior das estufas sejam levados tem sido constatada a presença das duas
- pulverização com Bacillus
para o local fumigado, pois nesse caso a doenças ao mesmo tempo na cultura.
thuringiensis;
recolonização por patógenos poderá ser Uma das medidas mais comumente
- emprego de vespas parasitóides
muito rápida; atomizar todo solo fumigado empregadas durante o crescimento das
(Hymenoptera) no controle de pul-
com uma suspensão de fungicidas e anti- plantas é o emprego de fungicidas. Doen-
gões;
bióticos, desta maneira, evita-se a reconta- ças como o oídio e o míldio requerem a
minação do solo fumigado com patógenos. - pulverização com calda sulfocálcica
utilização de fungicidas para os seus con-
Outras medidas importantes na redução de bem diluída (1:90), para controle de
troles. Entretanto, há outras doenças que
inóculo de patógenos do solo, tais como a ácaros e certas doenças como oídio;
incidem em maior ou menor intensidade,
inundação em áreas, onde houver esta pos- - nutrição equilibrada das plantas
dependendo da cultura, como o mofo cin-
sibilidade, e o emprego do polietileno trans- (cálcio (Ca), potássio (K), magnésio
zento, a mancha-zonada e a antracnose.
parente de até 100mm de espessura, seriam (Mg), nitrogênio (N));
A recomendação básica consiste no em-
de grande valia. A solarização do solo por - escolha de épocas mais adequadas prego de fungicidas protetores que apre-
60 dias no mínimo tem propiciado bons ao plantio; sentam modo de ação não-específico.
resultados na redução da população de - emprego de mudas de bandejas que Quando houver necessidade do uso de
patógenos do solo, em locais onde a tempe- contenha maior volume de substrato produtos sistêmicos, com modo de ação
ratura da camada de 0 a 10cm de solo atinja (por exemplo 128 células); específico, devem-se alterná-los com os
valores superiores a 45ºC por quatro horas
- controlar a abertura e fechamento produtos de contato.
diárias no mínimo.
das cortinas laterais das estufas. O emprego de produtos que não au-
A descontaminação de enxadas, gra-
A medida mais importante seria o em- mentem a pressão de seleção de pragas e
des, arados e roda de tratores, antes de en-
prego de cultivares e/ou híbridos com re- doenças, também é de grande importância
trarem no interior das estufas, visa impedir
sistência horizontal. Entretanto, mesmo nos cultivos protegidos. O emprego de
que patógenos de outras áreas conta-
adotando-se o plantio destas cultivares caldas e extrato de plantas, do Bacillus
minadas penetrem no interior das estufas.
e/ou híbridos, ainda se torna importante a thuringiensis, da calda sulfocálcica e do
Para isso, torna-se importante a lavagem
recomendação de práticas culturais e a ato- enxofre visam manter algumas pragas e
com água e sabão de todas as partes dos
mização com fungicidas em certos casos. doenças em equilíbrio nos cultivos prote-
implementos que irão ficar em contato com
Com relação à resistência genética, diver- gidos.
o solo das estufas.
sas cultivares e híbridos são lançados a As operações de desbrota e poda
Há medidas que também aplicam-se
cada ano no Brasil. Assim, é importante o também são responsáveis pela dissemi-
durante a fase de crescimento das culturas.
conhecimento destes materiais para esco- nação de doenças nas estufas, principal-
Dentre as que reduzem a taxa de doenças
lher aquele com resistência ao patógeno mente as viroses. No melão, a severidade
no interior das estufas, destacam-se:
que causa maiores perdas nas condições da gomose aumenta em cultivo protegido,
- emprego de cultivares com resis- onde ele vai ser plantado. devido à operação de desbrota disseminar
tência horizontal; Uma das práticas culturais mais im- o patógeno Didymella bryoniae, sendo
- atomização com fungicidas, quando portantes consiste no controle da umidade necessário empregar ferramentas desin-
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festadas com hipoclorito de sódio a 5%, 25ºC, alta umidade relativa, solos mal- controle.
após a desbrota de cada planta. drenados e irrigação excessiva. Portanto,
Mosaico da alface - vírus do
A época de plantio também é medida qualquer medida que melhore o arejamento
mosaico da alface
que pode ser explorada, para evitar a fase e evite a alta umidade no solo desfavorece
da cultura em que a doença torna-se mais o tombamento das mudinhas. Os sintomas incluem mosaico nas fo-
severa em ambientes protegidos. Em se O tratamento das sementes com fun- lhas da alface, deformação e crescimento
tratando da murchadeira do tomate, causa- gicidas apropriados também é recomen- severamente reduzido do limbo foliar. Trata-
da por Ralstonia solanacearum, tem sido dado na prevenção da doença. se de um vírus transmitido pelas sementes
constatada baixa incidência da doença na e por pulgões. Entretanto, o controle quí-
Podridão de esclerotinia - mico dos afídeos não é eficiente, pois o
estação do inverno, época em que predo-
Sclerotinia sclerotiorum modo de transmissão não persistente do
minam temperaturas baixas.
Para o controle deste patógeno na vírus pelo vetor, inviabiliza o controle. Há,
PRINCIPAIS DOENÇAS QUE cultura da alface, recomenda-se que sejam entretanto, cultivares resistentes.
INCIDEM EM CULTIVOS evitadas irrigações excessivas e emprega-
das adubação orgânica equilibrada para Melão
PROTEGIDOS
aumentar a atividade microbiana no solo.
A seguir são descritas as doenças de
A inundação do solo é também prática Crestamento gomoso do caule -
maior incidência nas principais hortaliças
recomendada, principalmente em locais on- Didymella bryoniae
em cultivo protegido. Os sintomas nas folhas da cultura do
de há disponibilidade de água. Esta prática
visa reduzir a população de escleródios no melão surgem sob a forma de lesões, que
Alface
solo. inicialmente são circulares, necróticas,
A solarização do solo por meio do tendendo a coalescer posteriormente, for-
Míldio - Bremia lactucae
emprego do polietileno transparente, por mando grandes áreas com o crestamento.
O controle mais eficiente desta doença O sinal característico da doença é a
60 dias no mínimo, é recomendada. Dessa
em alface deve ser feito pelo emprego de presença de goma sobre as lesões em todos
forma, reduz-se não só a população de S.
variedades resistentes; entretanto, devido os órgãos atacados.
sclerotiorum, mas também a de outros fun-
à dificuldade de obtê-las, recomenda-se A doença propaga-se de planta para
gos, bactérias e nematóides que atacam a
manter o interior da estufa com um teor de planta na operação de desbrota, na qual o
cultura.
umidade relativa no ar que desfavoreça à patógeno é levado em lâminas de ferra-
doença, isto é, entre 40 e 60%. É recomen- Septoriose - Septoria lactucae mentas de plantas doentes para as sadias.
dada também a remoção da umidade das O patógeno é transmitido pelas semen- A infecção pelo patógeno é rara em umidade
folhas no final do dia, por um processo de tes, portanto, deve-se ter muito cuidado relativa do ar próxima a 60%, e a doença
arejamento da estufa, ou pelo aumento da na aquisição das sementes de alface. Ato- torna-se grave a partir de 90% de umidade
temperatura para decrescer a umidade re- mizações com fungicidas apropriados são relativa, sobretudo quando há presença de
lativa do ar. recomendadas na fase inicial de cresci- água livre sobre as plantas.
A remoção de restos culturais no final mento da cultura. Entretanto, a medida Recomenda-se muito cuidado nas
do ciclo também é prática recomendada, principal consiste em controlar o excesso operações de desbrota, procedendo-se a
para evitar que estruturas de sobrevivência de umidade e evitar a alta densidade de desinfestação da lâmina cortante com
do patógeno passem de uma estação de plantas. hipoclorito de sódio a 5%, após a desbrota
cultivo para outra. de cada planta.
Pulverizações com fungicidas regis- Podridão-mole - Erwinia spp.
trados para a cultura são recomendadas A medida de controle mais importante Míldio - Pseudoperonospora
somente na fase de seedling. na cultura da alface é a prevenção, isto é, cubensis
devem-se evitar injúrias mecânicas nos A alta umidade relativa do ar e a presen-
Tombamento de mudinhas - ça de água livre sobre as folhas do meloeiro
tecidos das plantas, excesso de irrigação e
Pythium spp., Rhizoctonia são condições indispensáveis para que
conseqüente excesso de umidade no solo
solani, Phytophthora spp. e no ar. Antibióticos antibacterianos não ocorra infecção. A temperatura favorável
Ocorre na fase de germinação e cres- têm dado controle satisfatório da podridão- situa-se na faixa de 17 a 22ºC.
cimento das mudinhas de alface e logo após mole. Quanto mais seco for o ambiente, O controle da doença baseia-se em
o transplante. O tombamento é geralmente após o surgimento da doença nas plantas, medidas culturais, tais como: evitar molhar
favorecido por temperaturas superiores a maiores são as chances de sucesso no seu as folhas com a água de irrigação, reduzir a
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122 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

umidade relativa do ar e, se a doença surgir, entre 24 e 28ºC e umidade relativa do ar pulgões; estudando-se a melhor época de
proceder atomizações com fungicidas alta, causando sérios danos à cultura do plantio para evitar os insetos e eliminando-
apropriados. melão. se plantas da família das cucurbitáceas
O patógeno é disseminado pelas se- próximas ao plantio do melão.
Míldio pulverulento -
mentes e pelo respingo de chuva. Portanto,
Sphaerotheca fulginea, Erisiphe Pimentão
os tratos culturais dentro das estufas po-
cichoracearum
dem contribuir também para a disseminação
Na forma imperfeita o patógeno é co- desta bactéria. Requeima, ou murcha, ou
nhecido como Oidium spp. Não há produtos químicos capazes de podridão da raiz - Phytophthora
O controle da doença na cultura do me- controlar efetivamente a doença. No entan- capsici
lão tem sido feito com aplicações de fungi- to, recomenda-se aplicar preventivamente, Sob condições de alta umidade, é co-
cidas registrados. Entretanto, têm ocorrido em locais onde a doença vem ocorrendo, a mum notar a presença de mofo-branco, que
casos de resistência ao patógeno, quando mistura de produtos a base de cobre com o é formado por esporângios e micélio do
se utiliza somente um fungicida sistêmico mancozeb. fungo nas partes infestadas. Além do pi-
do mesmo grupo químico. Portanto, a Medidas culturais, como evitar o exces- mentão, o fungo ataca também outras
recomendação é que se utilize rodízio de so de umidade relativa do ar, também po- solanáceas e cucurbitáceas. A sobrevi-
fungicidas sistêmicos, de grupos químicos dem desfavorecer o surgimento da doença. vência do fungo ocorre por meio de micélio
diferentes, intercalados com fungicidas de e esporângio, em restos culturais infecta-
contato. Podridão aquosa dos frutos - dos, podendo os solos permanecer conta-
Erwinia spp. minados por até três a cinco anos.
Murcha de Fusarium - Fusarium
Em razão de ferimentos causados nos O controle da doença torna-se muito
oxysporum f.sp. melonis
frutos de melão durante a colheita ou o difícil ou quase impossível depois que as
Murcha de Verticillium - Verticillium armazenamento, ou mesmo a injúria provo- plantas já estiverem infectadas. Portanto,
dahliae cada por insetos, a bactéria pode penetrar as medidas de controle devem ser preven-
A murcha de Fusarium ocorre mais e causar a podridão dos frutos exalando tivas, isto é, adotar toda e qualquer medida
rapidamente e a murcha de Verticillium forte odor, uma vez que ela dificilmente que desfavoreça o patógeno, tais como:
mais lentamente. Em virtude de produzirem penetraria na casca sadia. plantar em solos bem-drenados, evitar
estruturas de resistência, clamidospo- Como medida de controle, recomenda- solos muito úmidos, evitar o excesso de
ros (Fusarium) e microescleródios se tomar cuidados durante os tratos cultu- irrigação e optar por híbridos resistentes.
(Verticillium), podem permanecer no solo rais no campo, na colheita, transporte e ar-
por vários anos na ausência do hospedeiro. mazenamento, para evitar injúria nos frutos. Oídio - Oidiopsis sicula
Com relação à murcha de Fusarium, há Os sintomas são observados nas folhas
Virose - vírus do mosaico do da cultura do pimentão, onde na face su-
cultivares de melão resistentes a algumas
mamoeiro estirpe melancia perior verificam-se manchas amarelas de
raças do patógeno. Enxertia de melão em
(VMM-m1), vírus do mosaico bordos irregulares, de dimensões variáveis
Cucurbita ficifolia ou em Benincasa
da melancia - 2 (VMV-2) em função das cultivares e/ou híbridos e
cerifera tem dado bons resultados, muito
embora onere muito o custo de produção. Os sintomas da virose na cultura do das condições de cultivo. Na face inferior
Entretanto, a medida de controle mais melão são folhas deformadas, cloróticas, correspondente, observa-se o desenvol-
eficiente é a prevenção, isto é, tomar todo com presença de bolhas e de tamanho redu- vimento de um micélio pulverulento branco,
cuidado para que tais fungos não sejam zido; internódios curtos e frutos deforma- pouco denso.
introduzidos e disseminados na área de dos, de tamanho reduzido e com mosaicos. Em condições muito favoráveis ocorre
cultivo. A transmissão ocorre por sementes, uma desfolha acentuada das plantas, com
Medidas culturais tais como: fertilização mecanicamente por meio de tratos culturais conseqüente redução na produtividade.
balanceada dos elementos minerais, pH em e por meio de vetores (pulgões dos gêneros Dentre as medidas de controle, a utilização
torno de 6,5 e emprego de compostos orgâ- Alphis e Myzus). A transmissão é do tipo de fungicidas é a mais empregada. Entre-
nicos sempre devem ser adotadas. não persistente, ou seja, o vírus fica retido tanto, para muitos destes fungicidas, não
no aparelho bucal do afídeo, sendo adqui- há registro para uso nesta cultura no Brasil.
Mancha-angular - Pseudomonas rido e transmitido em curto período.
syringae pv. lacrymans O controle deve ser cultural, empre- Mofo-branco - Sclerotinia
A bactéria penetra normalmente pelos gando-se sementes sadias, cultivares resis- sclerotiorum
estômatos, sob condições de temperatura tentes e barreiras (telas de náilon) contra O sintoma inicia-se logo após a floração
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na cultura do pimentão, quando é obser- lados da folha mostram-se amarelos. Ao se ladas, de formato variável, como se fosse
vado o sintoma característico da doença, observarem os vasos lenhosos do pecíolo um V, com o vértice voltado para a nervura
mofo-branco, nas hastes que após alguns das folhas amarelas, nota-se que estes apre- principal. Sintoma de descoloração dos
dias secam e morrem. No interior das hastes sentam-se de cor parda e com aparência vasos da raiz principal, ou nas áreas pró-
do pimentão, é comum encontrar os escle- seca. Em casos avançados, a descoloração ximas ao colo, pode estar restrito a apenas
ródios do fungo, que é a principal forma de dos vasos estende-se, desde as raízes até alguns feixes vasculares e raramente atinge
sobrevivência do patógeno na ausência do próximo ao ponteiro, sempre em corres- o pecíolo das folhas.
hospedeiro. A doença torna-se mais severa pondência com a área de folhas amareladas. A faixa de temperatura para infecção
em épocas frias e solo úmido. Em áreas com Na ausência do hospedeiro, o fungo está entre 13 e 30ºC, com o ótimo entre 22 a
histórico de ocorrência da doença, devem- permanece no solo ou em restos culturais 24ºC. O teor de umidade do solo que
se adotar medidas culturais para reduzir a sob a forma de clamidosporos. Sob essa favorece a planta, também favorece o de-
população do fungo no solo. Dentre as me- forma, ele pode permanecer no solo por senvolvimento da doença.
didas destacam-se: inundar a área quando mais de cinco anos. Agentes de dissemi- Apenas medidas preventivas são
for viável, por um período de 30 a 45 dias; nação, tais como: vento, água de superfície, recomendadas para o controle da doença,
tombar a leiva visando enterrio das cama- implementos agrícolas e mudas, levam o destacando-se a rotação da cultura com
das superficiais do solo a uma profun- patógeno de um local para outro. As se- gramíneas por vários anos; o uso de cul-
didade de 20 a 25cm e evitar o excesso de mentes também podem disseminar micélio tivares e híbridos resistentes, quando dis-
umidade no solo. dormente no seu interior ou os clamidos- poníveis, e o não-plantio em solos infes-
poros aderentes na sua superfície. tados e cultivados por vários anos com
Talo oco e podridão-mole -
O fungo pode atacar o tomateiro numa outras solanáceas, como quiabo e alca-
Erwinia carotovora var.
ampla faixa de temperatura que varia de 21 chofra, entre outras.
carotovora, Erwinia carotovora
var. chrysanthemi a 33ºC, com ótimo a 28ºC.
Murchadeira - Ralstonia
Os sintomas tornam-se mais graves,
A E. carotovora subsp. carotovora solanacearum
quando as plantas crescem em solo com
causa o talo oco em hastes e a E. carotovora A bactéria sobrevive no solo aderido
pouca água ou em solos pobres, ácidos e
subsp. chrysanthemi causa podridão-mole às argilas por mais de cinco anos, na au-
carentes em cálcio.
em frutos de pimentão. Tais bactérias sência do hospedeiro. Ela é patogênica a
Portanto, toda e qualquer medida deve
sobrevivem tipicamente no solo e atacam a mais de 200 espécies de plantas, distribuída
cultura sob condições de alta umidade do ser preventiva, a saber: tratamento das
sementes, visando matar os conídios que em mais de 35 famílias de plantas. As
solo e do ar e temperaturas altas.
aderem à sua superfície, calagem do solo condições que favorecem à doença são
Essas bactérias atacam ainda um grande
antes do plantio, fertilização equilibrada temperaturas altas (26 a 38ºC) e alta umidade.
número de espécies de plantas, notadamen-
com macro e micronutrientes, rotação da Água de irrigação contaminada tem sido o
te as crucíferas, que são ótimas hospe-
cultura com gramíneas e emprego de com- principal meio de introdução da bactéria
deiras. Dentre as medidas de controle des-
postos orgânicos no plantio, para aumentar nos solos de cultivos protegidos.
tacam-se: cuidado em não ferir as plantas
a microflora antagonística. Um aspecto importante é que, nas
com os implementos agrícolas ou práticas
estufas, onde o tomateiro apresenta sin-
culturais; controle da irrigação evitando-
Murcha de Verticillium - Verticil- tomas de murcha, têm-se observado plan-
se encharcar o solo; controle dos insetos
lium dahliae tas de pimentão sadias lado a lado e na
que causam injúrias nos frutos; não-plantio
Sua importância é maior em virtude do mesma fileira do tomateiro. Isto levanta a
de pimentão após crucíferas e atomização
das plantas com a mistura de fungicida seu agente ser capaz de causar doenças hipótese de tolerância de algumas culti-
cúprico com mancozeb. em mais de 200 espécies de plantas, cultiva- vares de pimentão à murchadeira.
das ou não, o que aumenta a probabilidade A principal medida de controle da
Tomate de estar presente na maioria dos solos murchadeira é evitar a entrada da bactéria
cultivados. Além disso, o fungo sobrevive nos solos das estufas. Cuidado especial
Murcha de Fusarium - Fusarium no solo sob a forma de clamidosporos e deve ser dado à água de irrigação, semen-
oxysporum f.sp. lycopersici microescleródios, dificultando a aplicação tes, mudas e solo impregnado de imple-
É comum as folhas do tomateiro apre- de medidas de controle. Os sintomas de mentos agrícolas. Local de plantio cultivado
sentarem-se amarelas num de seus lados e murcha na cultura do tomate surgem inicial- anteriormente com solanáceas, deve ser
verdes no restante delas. mente em apenas um dos lados da planta. evitado. A rotação de cultura, a solarização
Às vezes, apenas os folíolos de um dos As folhas podem apresentar áreas amare- do solo por dois meses no mínimo e o plan-
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tio em épocas frias do ano são medidas ambiente protegido, visando reduzir o após o seu surgimento na cultura. Devido
que podem ser adotadas para o controle período em que as folhas permanecem a isto, recomenda-se, como medida preven-
da doença. molhadas. Maior espaçamento e pulveri- tiva, o tratamento de sementes (ex.: termo-
zações com fungicidas específicos de baixa terapia). Pulverizações preventivas com
Pepino fitotoxidez também podem ser adotadas mancozeb e produtos a base de cobre em
como medidas de controle. mistura também são recomendadas, mas
Antracnose - Colletotrichum nem sempre dão resultados satisfatórios.
lagenarium, C. orbicularae, C. Mancha-zonada - Leandria
gloeosporioides f. sp. cucurbitae momordicae Vírus do mosaico do pepino
A antracnose manifesta-se na cultura Trata-se de uma doença muito severa A virose manifesta-se com áreas de
do pepino como lesões encharcadas, se- que pode dizimar a cultura do pepino em tecido cloróticas, misturadas com áreas de
guida de necrose, resultando em manchas até uma semana, como observado em várias tecido verde normal, internódios curtos e
circulares circundadas por um halo de estufas. Os sintomas iniciais da doença são folhas com tamanho reduzido. As flores
tecido amarelado. Lesões elípticas e depri- pontos lesionados pequenos de forma atacadas são anormais e não frutificam. Os
midas e recobertas por uma massa rosada circular a angular. Posteriormente, as lesões frutos em desenvolvimento apresentam va-
podem ser observadas nas hastes, no pe- crescem e coalescem tornando-se esbran- riação em cor e tamanho e, muitas vezes
cíolo e nos frutos já desenvolvidos. quiçadas e quebradiças. são deformados. Recomenda-se para o
Para o controle da doença, recomen- Daí, recomenda-se realizar adubação em controle da doença, o emprego de semen-
dam-se o emprego de sementes sadias e cobertura com compostos orgânicos, vi- tes sadias e controle dos insetos vetores,
tratadas e pulverizações com fungicidas sando prolongar o período vegetativo das os afídeos.
sistêmicos alternados com fungicidas de folhas e o aumento na superfície foliar.
Nematóides-das-galhas -
contato, quando as condições favorecem Pulverizações com tiofanato metílico +
Meloidogyne spp.
o seu surgimento. chlorothalonil são recomendadas, muito
embora dificilmente seja obtido um controle Em levantamentos iniciais efetuados em
Míldio pulverulento - Erisiphe eficiente da doença com tal medida. Resis- algumas estufas da região Sudeste, cons-
cichoracearum, Oidium sp. tência genética não existe. tatou-se predominância de Meloidogyne
O míldio pulverulento manifesta-se por javanica, associado a esta cultura.
um crescimento branco pulverulento na Podridão de raízes e do colo - A medida mais eficiente de controle é
superfície inferior das folhas e ramos tenros Fusarium solani f.sp. cucurbitae impedir a entrada do nematóide nas estufas,
da planta. O patógeno, ao colonizar o sistema desinfestando-se os implementos agrícolas
A doença é favorecida por baixa umi- vascular da planta, provoca murcha e ama- e ferramentas. Recomendam-se também o
dade relativa do ar e temperatura acima de relecimento generalizado nela. Quando a emprego de compostos orgânicos no plan-
25ºC. Como medida de controle, reco- planta é jovem, a doença pode causar sin- tio e a solarização do solo. A enxertia de
mendam-se pulverizações com fungicidas tomas de podridão, provocando o que se pepino em abóbora tem dado bons resul-
sistêmicos específicos para o oídio, denomina podridão do colo e, conse- tados, sendo este porta-enxerto resistente
intercaladas com fungicidas a base de qüentemente, morte da planta. aos fitonematóides, bem como a outros
enxofre. Entretanto, deve-se tomar cuidado, O controle da doença na cultura do pe- patógenos do solo.
pois se a temperatura subir acima de 28ºC, pino deve ser feito de maneira integrada:
Mofo branco - Sclerotinia
o enxofre pode causar fitotoxidez à cultura. utilizar nitrogênio sob a forma de nitrato,
sclerotiorum
ajustar o pH do solo para 6,5, empregar
Míldio - Pseudoperonospora A doença torna-se mais severa na cul-
cultivares/híbridos resistentes, plantar em
cubensis tura do pepino em épocas frias e solo úmido.
áreas livres do patógeno e usar enxertia
A doença inicia-se na cultura do pepino sobre materiais resistentes. Em áreas com histórico de ocorrência da
como áreas de tecido encharcado que se doença, devem-se adotar medidas culturais
tornam necróticas e limitadas pelas ner- Mancha-angular - Pseudomonas para reduzir a população do fungo no solo.
vuras, formando manchas angulares. Sob lachrymans Dentre estas destacam-se: inundação da
condições de alta umidade formam-se, na A doença manifesta-se na cultura do área, quando esta for viável, por um período
face ventral da folha, frutificações do fungo pepino por meio de pequenas áreas de te- de 30 a 45 dias; tombamento da leiva
de coloração verde-oliva a púrpura. cido encharcado, limitadas pelas nervuras, visando enterrio das camadas superficiais
O controle da doença deve ser feito e daí adquire a forma angular típica. do solo a uma profundidade de 20 a 25cm e
permitindo que haja ventilação dentro do O controle da mancha-angular é difícil evitar excesso de umidade no solo.
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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 125

CONCLUSÃO REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA diagnose e controle. Brasília: EMBRAPA-


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provocadas por Oidiopsis taurica en tomate F.X.R.; CHAVES, G.M. Compostos
ças de patógenos do solo; orgânicos no controle de doenças de
(L. esculentum Mill.). Fitopatologia
c) a severidade das doenças é maior Brasileira, Brasília, v.28, n.1, p.1-9, 1993. plantas. Revisão Anual de Patologia de
nos cultivos protegidos em compa- GARCIA-JIMENEZ, J. Controle de doenças Plantas, Passo Fundo, v.4, p.353-379,
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ANDRADE, J.M.B. (Eds.). Cultivo n.1, p.42-44, 1998.
e) o ambiente no interior das estufas,
protegido. Maringá:UEM, 1995. p.11- SANTOS, H.S.; SOUZA, R.J. Efeito dos
por ser diferente do ambiente exte-
21. métodos de plantio e manejo do solo
rior, favorece determinadas doenças
JARVIS, W.R. Managing diseases in infestado com Meloidogyne javanica na
que, normalmente, não seriam pro-
greenhouse crops. St. Paul: APS Press, produção de alface sob estufa plástica.
blemas nos cultivos tradicionais;
1992. 288p. Horticultura Brasileira, Brasília, v.14,
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g) as medidas de controle das doenças
LIBERATO, J.R.; LOURO, R.P.; SUZUKI, 1995. p.25-34.
bióticas e abióticas devem ser in-
M.S.; BARRETO, R.W. Ocorrência de ZAMBOLIM, L.; COSTA, H.; VALE, F.X.R.
tegradas, isto é, plantio em solo livre
oídio do tomateiro causado por Oidiopsis Táticas de controle no manejo integrado
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126 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

Manejo integrado de pragas de hortaliças


em ambiente protegido
Marcelo Picanço 1
Flávio Marquini 2

Resumo - Têm-se observado em ambiente protegido, maiores problemas com


pragas do que nos cultivos realizados no campo, principalmente em relação à
espécies-praga que encontram neste ambiente condições ótimas de desenvolvi-
mento e reprodução, como ocorre com alguns ácaros, insetos minadores-de-fo-
lhas e broqueadores-de-frutos. Um controle efetivo e economicamente viável de
pragas requer a adoção de um programa integrado que considere não somente a
praga, mas também o ambiente de cultivo e as diferentes formas de controle.
Palavras-chave: Táticas do MIP; Amostragem de pragas; Níveis de controle; Con-
trole de pragas; Perdas por pragas.

INTRODUÇÃO natural, através do uso integrado dos mé- problemas com pragas nesta situação, são
todos de controle selecionados com base as exigências cosméticas do produto pelo
O ataque de pragas a hortaliças re-
em parâmetros econômicos, ecológicos e mercado consumidor (Villas-Boas & Cas-
presenta um dos principais problemas
sociológicos. Apesar da importância do telo Branco, 1990).
enfrentados pelos olericultores. Estes
assunto, não existem no Brasil resultados Devido ao cultivo de hortaliças em am-
problemas são maiores ainda, quando o
de pesquisa que definam sistemas de biente protegido ser realizado no interior
cultivo é realizado em ambiente protegido.
manejo integrado de pragas, para os culti- de instalações, que protegem a planta da
Entretanto, devido a sua realização em
vos de hortaliças em ambiente protegido. ação de certos intempéries climáticos, o ole-
instalações que protegem a planta da ação
Assim, com o objetivo de preencher parte ricultor e alguns técnicos, muitas vezes, têm
de certos intempéries climáticos, muitas
desta lacuna, serão abordados neste artigo a idéia de que neste ambiente não terão
vezes tem-se a idéia de que não ocorrerão
os problemas com pragas, os componentes problemas com pragas. Assim, é muito
problemas com pragas. Assim, é comum a
do MIP, listadas as principais pragas e pro- comum a idéia de que cultivo em ambiente
idéia de que cultivo em ambiente protegido
posto um sistema de manejo integrado de protegido seja sinônimo de cultivo sem
seja sinônimo de cultivo sem aplicação de
pragas para as principais hortaliças culti- aplicação de inseticidas e/ou acaricidas,
inseticidas e/ou acaricidas, o que não cor-
vadas em ambiente protegido no Brasil. idéia esta que não corresponde à realidade.
responde a realidade. Neste contexto, é fre-
qüente a adoção de medidas de controle Tem-se observado em outros países e so-
PROBLEMAS COM PRAGAS EM bretudo no Brasil que nestes ambientes
(geralmente utiliza-se o método químico),
CULTIVOS DE HORTALIÇAS EM geralmente são maiores os problemas com
quando é constatada a presença de ácaros
AMBIENTE PROTEGIDO pragas do que nos cultivos realizados no
ou insetos fitófagos. Apesar de este siste-
ma ser predominante no Brasil, seu uso ele- Os insetos e os ácaros-praga consti- campo. Este fato pode acarretar maior nú-
va o custo de produção, podendo também tuem um dos principais problemas enfren- mero de aplicações de inseticidas e aca-
poluir o ambiente e causar intoxicações ao tados pelos olericultores. As perdas na ricidas, que em condições de campo. As
homem. Outra opção é a adoção de sistema produção geralmente são de 10 a 30% da razões de tal acontecimento é o fato de que
de manejo integrado de pragas (MIP), no renda bruta obtida. Entretanto, em determi- determinadas espécies-pragas encontram
qual um ácaro ou inseto fitófago só é consi- nadas situações o ataque de pragas pode nestes ambientes condições ótimas de de-
derado praga, quando causa danos econô- comprometer 100% da produção (Picanço senvolvimento e reprodução, como ocorre
micos. Este sistema objetiva a preservação et al., 1997a, 1998a e Bento, 1999). Outro com alguns ácaros, insetos minadores-de-
ou o incremento dos fatores de mortalidade fator que contribui para o agravamento dos folhas e broqueadores-de-frutos. Além dis-

1
Engo Agro, D.Sc., Prof. Adj. UFV - Depto Biologia Animal, CEP 36571-000 Viçosa-MG. E-mail: picanco@mail.ufv.br
2
Engo Agro, M.Sc., Doutorando Entomologia, UFV - Depto Biologia Animal, CEP 36571-000 Viçosa-MG.

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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 127

so, ocorre maior dificuldade de estabe- das plantas e fatores que influenciam o ata- gias correspondem aos objetivos e metas
lecimento de populações de inimigos natu- que de pragas e suscetibilidade das plantas que visam minimizar os danos causados
rais nestes ambientes (Papadopoulos et al., a elas. Na avaliação das pragas é necessário por ácaros e insetos-praga. Já as táticas
1997 e Fernandes, 1999). que se conheçam quais os organismos são constituem os métodos empregados para
pragas e quais não são. Dentro deste con- a implementação das estratégias dos pro-
COMPONENTES DO MANEJO texto, verifica-se que a grande maioria das gramas de manejo integrado de pragas
INTEGRADO DE PRAGAS (MIP) espécies de ácaros e insetos fitófagos (Pedigo, 1989, Dent, 1993 e Picanço &
DE HORTALIÇAS EM AMBIENTE presentes nas lavouras não causa qualquer Guedes, 1999).
PROTEGIDO prejuízo, não sendo considerada, portanto,
como pragas. Algumas, raramente causam PRINCIPAIS PRAGAS DE
Devido ao ataque de pragas, os oleri- prejuízos e são consideradas pragas se- HORTALIÇAS EM AMBIENTE
cultores lançam mão de medidas de contro- cundárias ou ocasionais. Já outras são PROTEGIDO
le. Entretanto, muitas vezes, essas medidas consideradas como pragas-chave por fre-
têm sido tomadas de forma não-planejada, qüentemente estarem presentes com in- A seguir são listadas as pragas-chave
através de sistema convencional de con- tensidade de ataque e causarem prejuízos e secundárias das principais hortaliças cul-
trole. Neste sistema, geralmente utiliza-se econômicos às culturas. Estas constituem- tivadas em ambiente protegido no Brasil
o método químico, quando constata-se a se pontos-chave no estabelecimento de sis- (Gallo et al., 1988 e Picanço et al., 1999).
presença de ácaros ou insetos fitófagos tema de manejo integrado de pragas (Pedi-
na cultura, com base no “bom senso” do go, 1989, Dent, 1993 e Picanço & Guedes, Cucurbitáceas (abobrinha-
olericultor. A utilização deste sistema deve- 1999). de-moita, melão e pepino)
se, principalmente, à falta de informações A tomada de decisão de controle ba-
disponíveis, à simplicidade de sua adoção Pragas-chave
seia-se no monitoramento das densidades
por técnicos e olericultores, à falta de pro- populacionais das pragas e de seus inimi- a) mosca-branca: Bemisia tabaci
cesso educativo destes olericultores sobre gos naturais. Essa decisão de controle, (Genn.) (Homoptera: Aleyrodidae),
as técnicas de manejo integrado de pragas com base nas populações das pragas, deve principalmente a raça B, também
e os altos riscos e investimentos na ativi- ser tomada, conforme o nível de dano eco- denominada Bemisia argentifolii
dade. Apesar de este sistema ser predo- nômico ou de controle, sendo que a praga (Bellws & Perring);
minante no Brasil, seu uso acarreta proble- só deve ser controlada, quando sua inten-
mas de ordem econômica, uma vez que as b) brocas-das-cucurbitáceas: Diaphania
sidade de ataque for igual ou maior que
pragas podem estar ocasionando prejuízos, nitidalis (Cr.) e Diaphania hyalinata
estes índices. O nível de dano econômico
que muitas vezes não são percebidos pelo (L.) (Lepidoptera: Pyralidae).
corresponde à intensidade de ataque da
olericultor, ou mesmo pelo fato de ele estar praga que causa prejuízos de igual valor
Pragas secundárias
controlando-as, quando elas já estão cau- ao custo de seu controle. O nível de con-
sando pequenos prejuízos, inferiores aos trole ou de ação corresponde à intensidade a) mosca-minadora: Liriomyza spp.
benefícios advindos do seu controle. Além de ataque da praga, para a qual se devem (Diptera: Agromyzidae);
disso, o uso inadequado dos métodos de adotar medidas de controle a fim de que b) pulgão: Aphis gossypii Glover (Ho-
controle poluem o ambiente e causam into- esta praga não cause danos econômicos. moptera: Aphididae);
xicações ao homem (Dent, 1993 e Picanço A decisão de controle, além da população
& Guedes, 1999). das pragas, pode-se basear também na c) vaquinhas (Coleoptera): Cerotoma
Outra opção para os produtores, é a densidade dos inimigos naturais. Neste ca- arcuata (Oliveira), Cerotoma
adoção do MIP, no qual um ácaro ou um so, além dos níveis de dano econômico ou unicornis (Germ.), Acalyma bivitulla,
inseto fitófago só é considerado praga, de controle é também considerado o nível Diabrotica speciosa (Germ.)
quando causa danos econômicos. Este de não-ação, que corresponde à densidade (Chrysomelidae) e Epilachna cacica
sistema objetiva a preservação ou o incre- populacional do inimigo natural capaz de (Guérin) (Coccinelidae);
mento dos fatores de mortalidade natural, controlar a população da praga. Portanto, d) mosca-das-frutas: Anastrepha grandis
através do uso integrado dos métodos de as pragas só devem ser controladas, quan- (Macquart) (Diptera: Tephritidae);
controle selecionados com base em parâme- do a sua intensidade de ataque for igual ou
e) percevejo: Leptoglossus gonagra
tros econômicos, ecológicos e socioló- maior que o nível de dano econômico ou
(Fabr.) (Heteroptera: Coreidae).
gicos. Um sistema de manejo integrado de que o nível de controle e a população dos
pragas é composto de quatro componentes inimigos naturais for inferior ao nível de
Brássicas (brócolos, couve-
básicos, ou seja, a avaliação do agroecos- não-ação (Pedigo, 1989, Dent, 1993 e Pican-
chinesa, couve-comum,
sistema, a tomada de decisão de controle e ço & Guedes, 1999).
couve-flor, repolho e rúcula)
as estratégias e táticas de manejo (Pedigo, A amostragem das populações de
1989 e Picanço & Guedes, 1999). pragas e de inimigos naturais é realizada Pragas-chave
Na avaliação do agroecossistema são para avaliação da intensidade de ataque
monitoradas as populações de pragas, de pragas às culturas e da densidade popu- a) pulgões: Brevicoryne brassicae
seus inimigos naturais, estádio fenológico lacional de inimigos naturais. As estraté- (L.) e Myzus persicae (Sulz.)

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.20, n.200/201, p.126-133, set./dez. 1999


128 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

(Homoptera: Aphididae); lycopersici (Massee) (Eriophyidae) e Thripidae).


b) lagartas-desfolhadoras (Lepi- os ácaros rajado Tetranychus urticae
doptera): traça-das-brássicas (Koch) e vermelho Tetranychus Feijão-vagem
Plutella xylostella L. (Yponomeu- ludeni (Koch) (Tetranychidae).
tidae), mede-palmo Trichoplusia ni Pragas-chave:
(Hueb.) (Noctuidae) e curuquerê Pimentão
a) mosca-branca: B. tabaci (Homop-
Ascia monuste orseis (Latr.) tera: Aleyrodidae), principalmente a
Pragas-chave
(Pieridae). raça B também denominada B.
a) á c a r o s ( A c a r i ) : b r a n c o argentifolii;
Pragas secundárias Polyphagotarsonemus latus (Banks) b) mosca-minadora: Liriomyza spp.
a) mosca-branca: B. tabaci (Homop- (Tarsonemidae), vermelho Tetranychus (Diptera: Agromyzidae);
tera: Aleyrodidae), principalmente a marianae (McG.) e rajado T. urticae
(Tetranychidae); c) cigarrinha-verde: Empoasca kraemeri
raça B, também denominada B. (Ross & Moore) (Homoptera: Cica-
argentifolii; b) tripes: Thrips palmi (Karny) e F. dellidae).
b) mosca-minadora: Liriomyza trifolii shultzei (Thysanoptera: Thripidae).
(Burgess) (Diptera: Agromyzidae); Pragas secundárias
Pragas secundárias
c) tripes: Thrips tabaci Lind. e a) tripes: Thrips spp., Frankiliniella
Caliothrips brasiliensis (Morgan) a) broca-do-caule: Agathomerus sp. e C. brasiliensis (Thysanoptera:
(Thysanoptera: Thripidae); flavomaculatus (Klug) (Coleoptera: Thripidae);
Chrysomelidae);
d) lagartas-roscas: Spodoptera eridania b) ácaros (Acari): rajado T. urticae (Te-
(Cr.) e Spodoptera frugiperda (Smith) b) mosca-do-pimentão: Dasineura sp. tranychidae) e branco P. latus (Tar-
(Lepidoptera: Noctuidae); (Diptera: Cecidomyiidae); sonemidae);
e) v a q u i n h a - d a - c o u v e - c h i n e s a : c) p u l g õ e s : M . p e r s i c a e e M . c) vaquinhas: C. arcuata, C. unicornis
Microtheca sp. (Coleoptera: Chryso- euphorbiae (Homoptera: Aphididae); e D. speciosa (Coleoptera: Chryso-
melidae). d) mosca-branca: B. tabaci (Homop- melidae);
tera: Aleyrodidae), principalmente a d) pulgão: Aphis cracivora (Koch)
Tomateiro raça B, também denominada B. (Homoptera: Aphididae).
argentifolii;
Pragas-chave Família Compositae (alface
e) vaquinhas (Coleoptera): Epicauta
a) broqueadores-de-frutos (Lepi- spp. (Meloidae) e D. speciosa (Chry- e almeirão)
doptera): traças-do-tomateiro Tuta somelidae).
absoluta (Meyrick) e da batatinha Praga-chave
Phthorimaea operculella (Zeller) Berinjela
a) mosca-branca: B. tabaci (Homop-
(Gelechiidae); broca-pequena
tera: Aleyrodidae), principalmente a
Neoleucinodes elegantalis Pragas-chave
raça B, também denominada B.
(Guenée) (Crambidae) e broca-gigan-
a) mosca-branca: B. tabaci (Homop- argentifolii.
te Helicoverpa zea (Bod. ) (Noctui-
tera: Aleyrodidae), principalmente a
dae). Pragas secundárias
raça B, também denominada B.
Pragas secundárias argentifolii. a) pulgão: Dactynotus sonchi (L.)
(Homoptera: Aphididae);
a) vetores de viroses: a mosca-branca Pragas secundárias
B. tabaci (Homoptera: Aleyrodidae), b) cigarrinha-verde: Empoasca sp.
a) pulgões: M. persicae e M. euphorbiae (Homoptera: Cicadellidae).
principalmente a raça B também
(Homoptera: Aphididae);
denominada B. argentifolii; os
pulgões M. persicae e Macrosiphum b) tripes: T. palmi e F. shultzei (Thysa- Moranguinho
euphorbiae (Thomas) (Homoptera: noptera: Thripidae);
Praga-chave
Aphididae) e o tripes Frankliniella c) v a q u i n h a s ( C o l e o p t e r a ) :
schultzei Trybom (Thysanoptera: Maecolaspis assimilis (Klug), Epitrix a) ácaro-rajado: T. urticae (Acari: Te-
Thripidae); fasciata Blatchley, D. speciosa tranychidae).
b) minadores de folhas: a mosca-mina- (Chrysomelidae) e Epicauta spp.
(Meloidae). Pragas secundárias
dora Liriomyza spp. (Diptera:
Agromyzidae) e as traças-do-toma- a) ácaros (Acari) branco: P. latus (Aca-
teiro e da batatinha; Cebolinha ri: Tarsonemidae);
c) ácaros (Acari): o microácaro Aculops a) tripes: T. tabaci (Thysanoptera: b) ácaros-vermelhos: Tetranychus spp.
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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 129

(Acari: Tetranychidae); amostrados os órgãos (folhas, caule, flores detergente, soro, refrigerante, que devem
c) á c a r o - d o - e n f e z a m e n t o : ou frutos), que são atacados por pragas- possuir três depressões laterais. Cada de-
Steneotarsonemus pallidus (Banks) chave ou secundárias. Na folhagem, devem pressão terá um orifício de 1/8” de diâmetro,
(Acari: Tarsonemidae); ser amostradas duas folhas da porção me- para permitir a entrada das moscas. Deve-
diana do dossel para culturas de maior se utilizar uma armadilha para cada estufa
d) pulgões: Capitophorus fragaefolii porte como berinjela, brássicas, cucurbitá- de até 0,1 ha. Os números provenientes das
(Cockrell) e Cerosipha forbesi ceas, pimentão e tomateiro. Já para plantas avaliações deverão ser anotados em pla-
(Weed) (Homoptera: Aphididae). com poucas folhas como cebolinha e salsa, nilha (Miranda, 1997, Paula, 1997 e Picanço
devem-se amostrar todas as folhas. Estas, et al., 1999).
Salsinha e salsão inicialmente, deverão ser batidas em ban-
a) pulgão: Cavariella aegopodii dejas plásticas brancas de 34 x 28 x 4,5 cm. Níveis de controle para as
(Scopolli) (Homoptera: Aphididae); Os insetos presentes na bandeja deverão pragas de hortaliças em
ser contados. Se a cultura possuir como ambiente protegido
b) cigarrinha-verde: Empoasca sp.
pragas-chave ou secundárias minadores- De forma geral, podem-se adotar como
(Homoptera: Cicadellidae).
de-folhas, moscas-brancas ou ácaros, de- níveis de controle para pragas de hortaliças
ve-se também realizar contagem direta em ambiente protegido, os valores apre-
TOMADA DE DECISÃO DE destas pragas. Para tanto, deve-se anotar sentados no Quadro 1.
CONTROLE NO MIP DAS a presença de minas e o número de ninfas
PRINCIPAIS HORTALIÇAS de mosca-branca nas folhas. Já na amos- TÁTICAS DO MIP DE
CULTIVADAS EM AMBIENTE tragem de ácaros deve-se usar lupa de mão HORTALIÇAS EM AMBIENTE
PROTEGIDO NO BRASIL com aumento de dez vezes, avaliando-se PROTEGIDO
Não existem resultados de pesquisa 1cm2 de área de limbo foliar na porção me-
diana da face inferior de cada folha (An- No MIP várias são as táticas que podem
que definam sistemas de amostragem e
drade, 1997, Miranda, 1997, Paula, 1997 e ser implementadas para reduzir os danos
índices de tomada de decisão, para o con- causados em hortaliças em ambiente prote-
Picanço et al., 1999).
trole das pragas de hortaliças em ambiente gido.
Para amostragem das pragas broquea-
protegido no Brasil. Assim, com o objetivo
doras-do-caule, deverá ser anotado, se este
de preencher parte desta lacuna é proposto, Manipulação do ambiente
está ou não atacado por elas. Na amostra-
a seguir, sistema de tomada de decisão para de cultivo
gem de pragas de flores e de frutos (exceto
o controle das pragas das principais horta- para mosca-das-frutas no melão), deverão A adoção de medidas com efeito sobre
liças cultivadas em ambiente protegido no ser amostrados cinco destes órgãos por o ambiente de cultivo pode evitar ou res-
Brasil. planta, observando se estão ou não ata- tringir os insetos-praga nas culturas.
cados por pragas. Os frutos amostrados
Amostragem das pragas deverão estar em fase inicial de desenvol- Seleção de locais para
Para realização de amostragem, deve- vimento. Para a amostragem de moscas- instalação de estufas
se dividir o plantio em blocos. Cada bloco das-frutas em cultura de melão, devem ser Na seleção destes locais, é importante
deve ser constituído de uma única cultura, utilizadas armadilhas tipo McPhail ou observar as plantas existentes em sua cir-
genótipo, idade e sistema de cultivo, sendo adaptações como recipientes de vinagre, cunvizinhança, já que as espécies a serem
que cada estufa deve fazer parte de blocos
diferentes. Deverá ser amostrado 1% das
plantas de cada bloco (Higley & Pedigo,
QUADRO 1 - Níveis propostos para o controle das pragas de hortaliças em ambiente protegido
1996, Andrade, 1997, Papadopoulos et al.,
1997 e Picanço et al., 1999). Pragas Nível de controle proposto
Época e freqüência de
Desfolhadores 20% de desfolha
amostragem
As amostragens deverão ser realizadas Insetos sugadores 1 (um) inseto/amostra
semanalmente. Entretanto, se os níveis po-
pulacionais forem próximos aos de controle, Ácaros 10% das folhas atacadas
estas amostragens deverão ser realizadas
duas vezes por semana (Andrade, 1997, Pragas das flores 5% das flores atacadas
Miranda, 1997 e Paula et al., 1997).
Pragas do frutos (exceto mosca-das-frutas) 3% dos frutos atacados
Técnicas e tamanho de
amostragem Mosca-das-frutas em melão 1 (um) adulto/armadilha
Nas plantas avaliadas, só deverão ser FONTE: Andrade (1997), Miranda (1997), Paula (1997) e Picanço et al. (1999).

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.20, n.200/201, p.126-133, set./dez. 1999


130 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

plantadas no interior das estufas apre- capacidade infectiva destes insetos pelas vo, geralmente há um menor desenvol-
sentam pragas que também atacam outras picadas de prova realizadas nas plantas da vimento vegetativo das plantas. Este fato
culturas ou mesmo plantas daninhas. Deve- faixa de cultivo (Picanço et al., 1996 e Paula propicia melhores condições para realiza-
se evitar que as instalações estejam próxi- et al., 1997). A manutenção com cobertura ção das pulverizações que atingem partes
mas a cultivos destas espécies ou de cultu- vegetal do solo no interior e ao redor das internas do dossel da planta, através da
ras, que sejam hospedeiras das mesmas instalações, também possibilitará menor calda inseticida, já que estas partes ficam
pragas. Outro fato importante na seleção formação de poeira e seu acúmulo sobre as menos recobertas pela folhagem. Entre as
de local para instalação das estufas é a folhas das plantas, impedindo o abrigo para práticas que podem possibilitar menor tem-
existência de matas próximas, as quais oviposição de ácaros fitófagos (Picanço & po de cultivo, estão o plantio de variedades
geralmente possuem em suas árvores Guedes, 1999). mais precoces e o uso da poda apical do
ninhos de Hymenoptera, ou seja, Vespidae tomateiro (Guedes et al., 1994, Picanço et
Época de cultivo
e de abelhas que constituem importantes al., 1996 e Guedes, 1999).
predadores (sobretudo de insetos minado- Em cultivos de baixo retorno econômico
é recomendado que o plantio seja execu- Manejo da nutrição da cultura
res e lagartas) e polinizadores de cucurbitá-
tado em períodos de menor ocorrência de Deve-se fazer uso de adubação adequa-
ceas, respectivamente (Pedigo, 1989, Dent,
pragas. Entretanto, em cultivos de alto da, já que plantas nutricionalmente equili-
1993 e Picanço et al., 1999).
retorno econômico, como os de hortaliças bradas apresentam menor suscetibilidade
Deve-se também evitar que as instala-
em ambiente protegido, tal procedimento a pragas. A adubação desequilibrada,
ções estejam próximas a estradas, que em
não é usual. Geralmente os produtores sobretudo com excesso de nitrogênio, po-
períodos de seca constituem fonte de po-
procuram realizar seus cultivos quando os de acarretar em aumento das populações
eira, que se acumulará sobre as folhas,
preços dos produtos estão no máximo. Na de pragas, principalmente de ácaros e
fornecendo, assim, abrigo para oviposição
maioria das vezes, estas épocas também insetos minadores, como mosca-minadora
de ácaros fitófagos (Guedes, 1999 e Pi- são as de máxima ocorrência de pragas, o
canço & Guedes, 1999). e traças, e fitosuccívoros, como tripes, pul-
que constitui uma das razões para que o
gões, moscas-brancas e cigarrinhas. Tal
Destruição de restos culturais e preço do produto se torne elevado. Assim,
fato ocorre, devido ao aumento da concen-
de cultivos abandonados se em determinada época de cultivo o pro-
tração de nutrientes na seiva, princi-
dutor tiver a expectativa de ocorrência de
Após o término do cultivo, deve-se rea- palmente de aminoácidos livres. O uso de
elevado ataque de pragas, ele deve ser ex-
lizar incorporação dos restos culturais a adubação excessiva também pode aumentar
tremamente cuidadoso e executar práticas
pelo menos 20cm de profundidade. Se o o tamanho das plantas, tornando difícil a
adequadas de manejo. Nestes cultivos, as
cultivo for realizado em hidroponia ou em amostragens devem ser realizadas de forma aplicação de inseticidas e acaricidas. Esta
canteiros suspensos, os restos culturais mais acurada, no sentido de detectar a ocor- adubação excessiva pode também prolon-
devem ser transportados para outra área e rência de populações de pragas em níveis gar a duração do período vegetativo e
incorporados ao solo, ou enleirados e quei- que demandem a adoção de medidas de reduzir as defesas morfológicas das plantas,
mados. Existindo nas circunvizinhanças controle, sobretudo o químico (Picanço et como espessura da epiderme e cutícula, o
plantios abandonados de hortaliças ou de al., 1999). que aumenta o ataque de pragas, principal-
plantas, que sejam hospedeiras de pragas mente de desfolhadores como vaquinhas,
da espécie cultivada, estes devem ser des- Densidade de plantio lagartas, lesmas e caracóis (Bastos, 1999 e
truídos. Esse procedimento deve ser realiza- A variação da densidade de plantio ge- Guedes, 1999).
do de forma semelhante à incorporação dos ralmente afeta o microclima da cultura. Em
restos culturais. Essas práticas visam à Manejo do fornecimento de
maiores densidades, geralmente ocorre ele-
eliminação de focos de multiplicação de água às plantas
vação da umidade do ar, o que provoca o
pragas, para os cultivos realizados no aumento da mortalidade das pragas pela Deve-se manejar o fornecimento de
interior das instalações (Dent, 1993 e Gue- ação de fungos entomopatogênicos. Entre- água às plantas de tal forma que seja ade-
des, 1999). tanto, o cultivo em densidades muito altas, quada sua disponibilidade. Quando há
dificulta a aplicação de inseticidas e acari- deficiência hídrica, ocorre aumento da
Aumento da diversidade cidas e não atinge órgãos como os frutos, suscetibilidade da planta a pragas, sobre-
hospedeira do agroecossistema que ficam recobertos pela folhagem (Gue- tudo a ácaros, insetos minadores-de-folhas
Em estufas que possuam laterais aber- des et al., 1994 e Picanço et al., 1996). e fitosuccívoros. Tal fato ocorre devido à
tas, devem-se plantar, ao seu redor, faixas redução das defesas químicas e morfológi-
de cultivo com plantas de intensa floração, Redução do período de cultivo cas da planta e ao aumento da concentra-
como crotalária, sorgo ou milho. Estas A redução do período de cultivo di- ção de nutrientes na seiva, principalmente
faixas farão com que haja aumento do con- minui o tempo de exposição das plantas às de aminoácidos livres (Bastos, 1999 e Pi-
trole biológico natural e também redução pragas, o que acarretará num menor número canço et al., 1999).
da incidência de viroses transmitidas por de ciclos da praga por cultivo e, conseqüen- O fornecimento adequado de água po-
insetos de forma não persistente. Tal fato temente, em menor população da praga nas de elevar o teor de umidade do ar no micro-
ocorre, devido à ação amenizadora da instalações. Em menores períodos de culti- clima da cultura, o que geralmente provoca
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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 131

aumento da mortalidade das pragas pela nicos para o controle das pragas. Controle biológico
ação de fungos entomopatogênicos. Entre- Nos cultivos agrícolas em regiões tro-
tanto, o fornecimento excessivo dela pode Catação e esmagamento de
picais, é riquíssima a fauna de inimigos
prolongar o crescimento vegetativo e redu- insetos
naturais (predadores, parasitóides, ento-
zir as defesas morfológicas das plantas, Refere-se à coleta manual e esmaga- mopatógenos, parasitas e competidores).
como espessura da epiderme e cutícula, mento de ovos, larvas ou ninfas e/ou in- Entretanto, ações inadequadas na condu-
aumentando, assim, o ataque de pragas, setos adultos facilmente visíveis como ção dos cultivos, sobretudo no controle
principalmente de desfolhadores como va- pulgões, ovos de curuquerê em brássicas de pragas e doenças, trazem grandes pre-
quinhas, lagartas, lesmas e caracóis (Dent, e lagartas (Picanço et al., 1999). juízos a ação benéfica desses inimigos
1993 e Guedes, 1999). naturais. Assim, nos cultivos de hortaliças
Uso de barreiras
em ambientes protegidos devem ser adota-
Erradicação de plantas doentes Esta prática visa impedir ou dificultar o das práticas que contribuam para a preser-
Essa prática evita que haja aumento da acesso do inseto ao interior das instala- vação e incremento do controle biológico
quantidade de inóculo no ambiente, sobre- ções. Como exemplos de seu emprego em natural. Entre tais práticas estão o uso de
tudo de doenças viróticas transmitidas por estufas estão a colocação de tela de peque- seletividade de inseticidas e acaricidas e o
insetos e ácaros (Pedigo, 1989 e Guedes, no diâmetro nas áreas de ventilação, ve- aumento da diversidade dos agroecos-
1999). dação de orifícios na sua estrutura, cons- sistemas. A seletividade pode ser obtida de
trução de compartimento de isolamento forma fisiológica e ecológica. A seletividade
Catação de flores e frutos antes dos locais de entrada nas instalações fisiológica deve-se ao uso de inseticidas
caídos e manutenção das portas fechadas (Papa- mais tóxicos à praga, que a seus inimigos
Esta prática tem a finalidade de eliminar dopoulos et al., 1997 e Guedes, 1999). naturais (O’Brien, 1960). Já a seletividade
larvas e pupas que se encontram no interior ecológica relaciona-se a formas de utilização
destas estruturas. O seu uso diminui futu- Controle por comportamento de inseticidas e acaricidas de modo que ve-
ras infestações de pragas que vivem dentro Os insetos geralmente utilizam substân- nham a reduzir exposição do inimigo natural
de flores e frutos, como mosca-das-frutas cias odoríferas na mediação de comporta- ao produto (Ripper et al., 1951).
e brocas em cucurbitáceas e traças e brocas mentos, como localização de hospedeiros, São poucos os estudos sobre seleti-
em tomateiro (Guedes, 1999 e Picanço et defesa, escolha de locais de oviposição, vidade de inseticidas e acaricidas em favor
al., 1999). acasalamento e organização de atividades dos inimigos naturais das pragas de hortali-
sociais. Estas substâncias são usadas tanto ças no Brasil. Entretanto, existem trabalhos
Rotação de culturas
na comunicação entre indivíduos da mesma que indicam produtos compatíveis com a
Consiste no plantio alternado em cada espécie (feromônios), como de espécies preservação do controle biológico natural
estufa de culturas que não sejam hospe- diferentes (aleloquímicos). O tipo de fero- (Faleiro et al., 1995 e Picanço et al., 1997b,
deiras das mesmas pragas, reduzindo dessa mônio mais utilizado no manejo de pragas 1998b). Como exemplos de uso da seleti-
forma as suas populações (Pedigo, 1989, é o sexual (liberado para atração do parceiro vidade ecológica, tem-se a aplicação de
Papadopoulos et al., 1997 e Picanço et al., sexual). Os feromônios podem ser usados inseticidas ou acaricidas em horários de me-
1999). de diversas maneiras, as mais comuns são nor temperatura do ar, quando geralmente
no monitoramento e no controle de pragas. é menor a presença de inimigos naturais, e
Rotação e desinfecção das
No monitoramento, eles são utilizados para somente quando as intensidades de ataque
instalações
verificar se a densidade da praga atingiu de pragas forem iguais ou superiores aos
Ao término dos cultivos, as estufas (pa- ou não o nível de controle. No controle, as níveis de controle. Também deve-se evitar
redes, piso, teto, portas e estrados) devem formas mais empregadas são o uso em mis- o uso indiscriminado de fungicidas, já que
ser tratadas com inseticida e/ou acaricida, turas com inseticidas ou através da técnica muitos destes apresentam efeito deletério
para controle das pragas existentes. Após, de confundimento, que visa a saturação sobre fungos entomopatogênicos (Picanço
as instalações devem permanecer sem do ambiente com o feromônio sexual, difi- et al., 1999).
cultivo pelo menos por duas semanas, para cultando assim o acasalamento (Vilela & Nos Estados Unidos, Canadá, Europa
que as pupas, principalmente as que se en- Della Lucia, 1987 e Michereff Filho, 1997). e Japão é grande a produção e liberação de
contram no interior do solo, que não te- No Brasil, os feromônios ainda não são inimigos naturais (controle biológico apli-
nham sido atingidas pelo controle químico, utilizados em escala comercial no manejo cado), em programas de manejo de pragas
transformem-se em adultos. Após este pe- de pragas de hortaliças. Entretanto, alguns de hortaliças em ambientes protegidos.
ríodo deve ser realizada nova pulverização deles já foram identificados como os se- Entretanto, nestes países existe toda uma
das instalações e após esta, as instalações xuais da traça-do-tomateiro, broca-peque- estrutura de pesquisa e de produção des-
devem ficar em repouso durante o período na-do-tomate, broca-gigante-do-tomate e ses inimigos naturais, além de exigências
de carência do produto (Dent, 1993, Papa- traça-das-brássicas. Existem pesquisas que mercadológicas no sentido de incentivar o
dopoulos et al., 1997 e Guedes, 1999). têm como objetivo empregar estes feromô- uso de controle biológico aplicado. Já no
nios no manejo de pragas (Vilela & Della Brasil, apesar do grande esforço de alguns
Controle mecânico Lucia, 1987, Ferrara, 1995, Michereff Fi- poucos pesquisadores e de resultados pro-
Consiste no emprego de meios mecâ- lho, 1997 e Badji, 1998). missores de pesquisas a este respeito, ainda
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132 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

não existe, à disposição dos olericultores, para o controle de pragas. Entretanto, exis- Também deve-se atentar para o perigo da
tecnologia para uso intensivo do controle tem outras como a cebolinha, salsinha, fitoxicidade dos produtos aplicados, uma vez
biológico aplicado no manejo de pragas de salsão e rúcula que não possuem nenhum que as cucurbitáceas são muito sensíveis a
hortaliças em ambiente protegido. No produto registrado para o controle de pra- vários deles (Picanço et al., 1999).
Brasil, o olericultor não possui a sua gas. Deve-se também observar se o produto Outra possibilidade de uso do controle
disposição oferta ampla de agentes de não é fitotóxico à planta. Para minimizar químico em programas de manejo de pragas
controle biológico, para uso intensivo em esse problema, recomenda-se que as aplica- de hortaliças em cultivos protegidos é a
programas de manejo integrado de pragas ções sejam realizadas em períodos do dia utilização de inseticidas botânicos prove-
de hortaliças. O único agente de controle de temperatura mais amena. Devem-se nientes de extratos de plantas que possuam
biológico, com ampla oferta de uso pelos preferir produtos de menor toxicidade ao substâncias com ação inseticida e/ou acari-
olericultores, no manejo de pragas de homem, uma vez que em ambientes fecha- cida. Embora existam relatos, principal-
hortaliças, é a bactéria Bacillus thringiensis dos são maiores os riscos de intoxicação mente através do conhecimento popular,
var. kurstaki, cujos produtos comerciais, de aplicadores. Deve ser respeitado o perío- que diversas plantas da flora brasileira pos-
Agree, Dipel e Ecotech Pro, são registrados do de carência do produto e tomado todo suem tais efeitos, é necessária a realização
para o controle de lagartas nas culturas de o cuidado, para que não ocorra contamina- de intensos estudos para viabilização do
abobrinha, couve, melão, pepino, repolho ção da água e soluções nutritivas (Papa- emprego delas em programas de manejo
e tomate. O uso desta bactéria apresenta dopoulos et al., 1997, Picanço & Guedes, integrado de pragas (Picanço et al., 1999).
uma série de vantagens como preservação 1999 e Picanço et al., 1999).
do controle biológico natural e baixíssima Devem ser realizadas amostragens da CONSIDERAÇÕES FINAIS
toxidade ao homem. Entretanto, sua ação é intensidade de ataque das pragas à cultura,
para emprego desse método de contro- As pragas constituem importante fator
lenta, dificultando, assim, o controle da de perda no cultivo de hortaliças, sobre-
praga, quando o ataque é alto. Também é le, utilizando-o só quando a densidade das
pragas for igual ou superior aos níveis de tudo quando este é realizado em ambiente
baixa sua eficiência no controle de lagartas protegido. Apesar do grande aumento da
em ínstares finais ou quando estas se en- controle. No emprego de controle químico
de pragas alguns aspectos são impor- oferta de hortaliças produzidas em am-
contram alojadas no interior de órgãos das biente protegido e do avanço da tecnologia
tantes como seletividade de inseticidas,
plantas como folhas, caule e frutos (Papa- empregada, são escassos os estudos no
rotação de produtos, uso de espalhante
dopoulos et al., 1997 e Picanço et al., 1999). Brasil sobre sistemas de manejo integrado
adesivo na calda, emprego de equipamento
de proteção individual pelos aplicadores, de pragas nestes cultivos. Para otimização
Resistência de plantas destes sistemas, é de fundamental impor-
descarte correto de embalagens, armazena-
Existem boas fontes de resistência de mento adequado dos produtos, prevenção tância a realização de estudos que:
genótipos de hortaliças a pragas. Entre- e cuidados para evitar intoxicações e treina- a) caracterizem e mensurem as perdas
tanto, no Brasil, os fatores de resistência mento dos aplicadores (Picanço & Guedes, ocasionadas pelas pragas;
conferidos por estas fontes não têm sido 1999 e Picanço et al., 1999). b) identifiquem as pragas-chaves e se-
incorporados às variedades comerciais O uso de espalhante adesivo deve ser cundárias das diversas culturas;
através dos programas de melhoramento recomendado nas aplicações por possibi-
de hortaliças (Paula et al., 1995, Leite et al., c) identifiquem e mensurem os fatores
litar maior adesão da calda inseticida ou que afetam as intensidades de ata-
1996, Leite, 1997 e Ecole, 1999). acaricida a órgãos, cuja superfície é mais que de pragas nestes sistemas;
cerosa como os frutos. Este uso é mais im-
Controle químico d) gerem sistemas de tomada de decisão
portante, ainda, em culturas cujas folhas
Não existe no Brasil o registro espe- de controle de pragas;
possuem grande cerosidade como brássi-
cífico de inseticidas e acaricidas para uso cas e cebolinha. Também a adição de óleo e) possibilitem o planejamento de es-
exclusivo no controle de pragas em cultivos mineral à calda inseticida pode aumentar a tratégias e táticas de manejo inte-
protegidos. Assim, a seleção de produtos adesividade do inseticida, além de possi- grado de pragas.
para o controle destas pragas deve ser bilitar bom controle de insetos minadores,
realizada de forma cuidadosa. O produto devido à maior translocação do produto REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
selecionado deve possuir registro no para o interior das minas. A rotação de pro-
Ministério da Agricultura e Abastecimento dutos de mecanismos de ação diferentes ANDRADE, E.V. Comparação de proce-
(MA) e liberação pelo órgão estadual perti- deve ser realizada, sempre que possível, dimentos de amostragem de Tuta absoluta
nente, no caso de Minas Gerais o Instituto para que se reduza a pressão de seleção de (Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae)
Mineiro de Agropecuária (IMA), para populações de pragas resistentes a inse- em tomateiro estaqueado. Viçosa: UFV,
controle da praga nesta cultura. O número ticidas e acaricidas (Guedes et al., 1995 e 1997. 33p. Dissertação (Mestrado) –
de produtos com registro, para controle de Picanço et al., 1999). Universidade Federal de Viçosa, 1997.
pragas das principais hortaliças cultivadas Nos cultivos de cucurbitáceas em fase BADJI, C.A. Avaliação do feromônio sexual
em ambiente protegido no Brasil, é muito de floração, as pulverizações devem ser feitas sintético de Neoleucinodes elegantalis
variável. Existem culturas como o tomateiro, no período da tarde, devido à maior atividade Guenée, 1854 (Lepidoptera: Crambidae)
que possuem muitos produtos registrados dos insetos polinizadores na parte da manhã. em campo e laboratório. Campos dos

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Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.20, n.200/201, p.126-133, set./dez. 1999


134 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

Pós-colheita, qualidade, embalagem


e comercialização de hortaliças
Sylvio Luís Honório 1
Roberto Funes Abrahão 2

Resumo - O comércio de hortícolas tem exigido, cada vez mais, produtos de quali-
dade. A obtenção e a preservação dessa qualidade dependem da adoção de
tecnologias de pré e pós-colheita, respectivamente. Após a colheita é que se verifica
a perda mais acelerada da qualidade, quando não se aplica a tecnologia adequada
ao produto. A utilização de técnicas de conservação e de embalagem prolonga a
vida útil de produtos hortícolas. No Brasil, a falta de padronização que dificulta o
uso de embalagens e a não-adoção de tecnologias de conservação têm sido os
maiores entraves para o desenvolvimento do mercado de hortícolas. O mercado
varejista, principalmente o supermercado, tornou-se mais organizado, aprovei-
tando-se da oportunidade de espelhar-se nos modelos de mercado do Hemisfério
Norte e começa a exigir produtos hortícolas com qualidade. O agricultor brasileiro
já assimilou várias técnicas de produção, porém, parece estar longe de entender a
necessidade do uso de tecnologias pós-colheitas. Esse descompasso tecnológico
tem atrasado a evolução do mercado, prejudicando o consumidor.
Palavras-chave: Pós-colheita; Conservação; Mercado.

INTRODUÇÃO do varejo. O varejo está mais organizado zação plena e, ainda, é necessário organizar
do que a produção. A maioria dos produto- o seguimento de produção, para que exista
A qualidade de produtos hortícolas
res de hortaliças não está preparada para padrão de produto e constância de oferta,
passa a ser uma exigência do mercado, pelas
atender ao mercado, porque ainda está que são os suportes da comercialização.
tendências da internacionalização dos
padrões de consumo. Embora alguns acostumada a vender os seus produtos no
analistas desse assunto apontem essa atacado. A palavra qualidade é muito me- PÓS-COLHEITA
internacionalização como restrita a cerca nos conhecida no atacado, dado ser este A qualidade dos produtos hortícolas
de um terço da população brasileira que um local de agrupamento de mercadorias e se faz no campo, porém, a preservação des-
tem poder aquisitivo, a sua existência não um mercado com padrões definidos. sa qualidade só se consegue com o empre-
demonstra que esses padrões já estão às Esse amontoado de mercadorias é colocado go de tecnologias pós-colheita. Diante do
nossas portas. Cada vez mais, os supermer- em embalagens, na sua grande maioria em entendimento da fisiologia do comporta-
cados estão exigindo produtos de qualida- caixas de madeira, totalmente inadequadas, mento vegetal após a colheita, foi possível
de muito similares aos que são encontrados que além de não protegerem, não ajudam a estabelecer as melhores tecnologias para
nos supermercados da União Européia (EU) vender o produto e dificultam a sua movi- os diversos produtos. Por serem estruturas
e América do Norte. Levando-se em conta mentação. Assim configurado, é possível vivas, os produtos tendem a envelhecer
que o dinheiro já foi globalizado, era de se entender porque a comercialização é tão (senescência) naturalmente, e nenhuma
esperar que redes de supermercados inter- complicada e porque as perdas são eleva- tecnologia disponível e economicamente
nacionais buscassem repetir, no Brasil, os das. Diante dessa situação, é necessário viável é capaz de frear esse processo. Isto
princípios de qualidade exigidos em suas tornar o conceito de qualidade amplamente significa dizer que a deterioração dos pro-
matrizes. Entretanto, ainda existe um grande conhecido em toda a cadeia de produção dutos é uma questão de tempo e, portanto,
descompasso entre a qualidade produzida até o consumidor final; é necessário trans- existe perda contínua de qualidade. De
no campo e a qualidade exigida na gôndola ferir as tecnologias pós-colheita para utili- modo geral, as causas mais comuns de

1
Engo Agro, Ph.D., Prof. Assist. UNICAMP-FEAGRI, Caixa Postal 6011, CEP 13083-970 Campinas-SP. honório@agr.unicamp.br
2
Engo Agro, D.Sc., Prof. Assist. UNICAMP-FEAGRI, Caixa Postal 6011, CEP 13083-970 Campinas-SP. roberto@unicamp.br

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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 135

deterioração são: mudanças metabólicas, algumas espécies. tecidos. Portanto, quando se tem a necessi-
desenvolvimento e crescimento de tecidos, Também são causas de deterioração: o dade de armazenar diversos produtos num
injúrias mecânicas, perda de água (trans- brotamento em cebola e batata, o enraiza- mesmo ambiente, devem-se levar em con-
piração), estresses fisiológicos e ataque mento em cebola, o alongamento e a cur- sideração as suas taxas de produção de
microbiológico. Todas as tecnologias le- vatura em aspargo e, a germinação de se- etileno. Em contrapartida, o etileno tem
vam em consideração o metabolismo da mentes em tomate e pimentão. efeito benéfico, quando utilizado em
espécie, porque interferir na velocidade dos As injúrias mecânicas como cortes, condições controladas, no amadureci-
acontecimentos metabólicos pode implicar abrasões, impactos, vibrações e compres- mento e desverdecimento de produtos hor-
em preservação ou ganho de qualidade ou sões provocam deterioração no produto, tícolas. Outros gases responsáveis por
deterioração. Seguramente, a temperatura, muitas vezes imperceptível logo após a aromas são produzidos e absorvidos de
a atmosfera gasosa, a umidade relativa do colheita. As injúrias mecânicas, em geral, acordo com o tipo de tecido vegetal. O aro-
ambiente e o ataque microbiológico são as podem ser consideradas como de efeito ma de gengibre pode ser absorvido pela
variáveis de ambiente que mais interferem acumulativo, que, além de estimular ati- berinjela, o de cenoura pelo aipo, o de pêra
na preservação da qualidade. vidades metabólicas, facilitam a instalação pelo repolho, cenoura, aipo, cebola e batata.
O ganho ou perda de calor pelo produto de microrganismos nos tecidos vegetais e Desse modo, deve-se levar em considera-
modifica a sua atividade fisiológica, aumen- a perda de água destes. ção a compatibilidade entre os diversos
tando ou reduzindo a atividade metabólica Outra causa de perda de água ocorre produtos armazenados num mesmo am-
primária e/ou secundária, além da interfe- devido à transpiração do produto, que biente.
rência no desenvolvimento microbiológico. provoca a perda de aparência, textura e pe- O estresse fisiológico também pode
Das atividades metabólicas, a respiração so. Essas deteriorações serão mais ou começar no campo em razão dos desequi-
(processo catabólico e anabólico) é a mais menos intensas de acordo com as condi- líbrios nutricionais, que só se manifestam
importante, porque é determinante na for- ções de umidade absoluta do ambiente. Em na fase pós-colheita. Às vezes, estão asso-
mação e destruição de substâncias neces- geral, o produto hortícola tem muita água ciados a fatores climáticos ou mesmo à
sárias para a manutenção da vida do tecido em seus tecidos e, se armazenado em aplicação de agroquímicos.
vegetal após a colheita. A respiração do ambiente cuja pressão de vapor de água é Outra grande causa de deterioração é a
produto varia em função da temperatura inferior àquela exercida pela pressão de provocada pelo ataque microbiológico.
do ambiente onde se encontra e da con- vapor de água do produto, este perderá Diversos fatores influenciam a suscetibi-
centração do oxigênio local. Respiração água para o ambiente. lidade do produto aos patógenos, como as
intensa é característica de produtos de vida A concentração gasosa de oxigênio, barreiras morfológicas à sua disseminação,
útil mais curta. Os diversos produtos hor- dióxido de carbono, etileno e outros gases resistência do tecido hospedeiro às suas
tícolas têm diferentes sensibilidades à tem- (responsáveis por aromas) também pode enzimas, estimuladores de infecção e do
peratura, que pode lhes causar diferentes causar estresses fisiológicos no produto. crescimento do patógeno, e inibidores de
estresses fisiológicos (injúrias por conge- A concentração baixa de oxigênio pode crescimento ou da ação enzimática deste.
lamento, chilling e aquecimento). Algumas interferir na vida útil do produto. Quando Além disso, o conteúdo de água, composi-
hortaliças são pouco sensíveis ao frio em concentrações baixas, mas que permi- ção e pH do tecido hospedeiro também
(chilling), como alcachofra, aspargo, alho, tam a respiração aeróbia do tecido vegetal, influenciam a suscetibilidade do produto.
brócolos, cenoura, couve-flor, ervilha, re- a vida útil deles pode ser prolongada. Em Os benefícios do uso de tecnologias
polho, enquanto outras são sensíveis, contraste, quando em concentração abaixo pós-colheita só darão retorno econômico
como berinjela, batata, pepino, quiabo, to- da qual a respiração anaeróbia do produto se aplicados com conhecimento técnico e
mate etc. A refrigeração é a tecnologia que é estimulada, pode provocar a formação de compatível com a realidade de mercado do
mais se utiliza para a conservação de produ- sabores e aromas indesejáveis. O dióxido produto a que se destina.
tos hortícolas. Baseia-se na retirada de calor de carbono, quando em concentração alta,
do produto, de modo que sejam reduzidas pode prejudicar o produto, pois, como
QUALIDADE
suas atividades metabólicas e, conseqüen- componente do ambiente de armazenamen-
temente, a taxa de seu envelhecimento. to, pode ser o gás de diluição do oxigênio. A palavra qualidade tem sido utilizada
Além disso, a redução da temperatura inibe Pode também contribuir para a redução da para definir aspectos bastante distintos. Por
ou elimina a atividade microbiológica. Por biossíntese de etileno e para a inibição do isso é muito difícil defini-la. Apesar dessa
outro lado, pode-se utilizar o aquecimento desenvolvimento microbiológico, em pro- dificuldade, encontra-se no dicionário a
do produto, desde que não lhe provoque dutos que toleram concentrações altas definição genérica para qualidade, como
estresse fisiológico, para controle fitopa- desse gás. Por sua vez, o etileno provoca o sendo “a propriedade, atributo ou condição
tológico ou mesmo para aumentar a sua to- envelhecimento dos tecidos vegetais. natural das coisas pela qual algo ou alguém
lerância a temperaturas abaixo das quais Baixas concentrações de etileno são su- é capaz de distingui-las das outras e de
sofreria injúrias, devido ao frio, e, às vezes, ficientes para provocar respostas que lhes determinar a natureza” (Ferreira, 1986).
auxiliar no amadurecimento qualitativo de estimulem processos degradativos nos Partindo-se dessa definição e dado o
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136 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

seu subjetivismo, pode-se dizer que a qua- produto de qualidade uniforme, geralmente mentar (Spers & Chaddad, 1996).
lidade de produtos hortícolas é analisada provoca a elevação continuada dos padrões Ao que tudo indica, parece estar cada
em termos de valores relativos de diversas de qualidade dos produtos (Kays, 1991). vez mais evidente a necessidade de esta-
características, as quais, consideradas con- Isso já acontece na UE e Estados Uni- belecer padrões de qualidade, no âmbito
juntamente, determinarão a aceitabilidade dos. No Brasil a garantia da qualidade para municipal, estadual, federal ou inter-
do produto pelo comprador. Portanto, a produtos hortícolas dependerá da quali- nacional. Os requisitos importantes para
qualidade não é algo observável ou identi- dade sistêmica, na qual é fundamental a os padrões de qualidade exigem que estes
ficável diretamente, mas sim as caracterís- cooperação de todos os envolvidos na ca- sejam claros, concisos e com descrição pre-
ticas dos produtos (Toledo, 1997). deia de produção. A qualidade sistêmica cisa de cada critério utilizado na sua avalia-
Toledo (1997) define duas dimensões implica nas relações entre os agentes dos ção. Entretanto, a harmonização de padrões
para a qualidade: a dimensão objetiva ou sistemas agroindustriais com o objetivo de pode ser bastante complexa, em virtude das
qualidade primária, que se refere aos aspec- garantir a qualidade dos produtos ou diferenças nos hábitos de consumo e de
tos relativos às propriedades físico-quí- insumos, que estão sendo comprados ou preparo de alimentos.
micas - é a qualidade intrínseca do produto vendidos. Portanto, para melhorar a qua- De modo geral, os componentes da qua-
e que independe do juízo humano; a di- lidade é necessário que haja aumento da lidade podem ser discriminados como no
mensão subjetiva ou qualidade secundária, coordenação vertical do sistema agroali- Quadro 1. É provável que o componente
que está associada à capacidade humana
de diferenciar as características do produto.
As características diferem-se dentre os di- QUADRO 1 - Componentes da qualidade de frutas e hortaliças
versos tipos de produtos e com a finalidade
de uso dentro da cadeia, desde a produção Principais fatores Componentes
até a comercialização e, também, entre os
indivíduos que estão analisando a quali- Aparência Visual Tamanho: dimensões, peso, volume
dade. Forma: razão diâmetro/extensão, superfície lisa,
De fato, o consumidor assume as duas densidade do material, uniformidade
dimensões da qualidade, pois, embora Cor: uniformidade, intensidade
compre com base na aparência e no seu Brilho: natureza da cera da superfície
critério de juízo pessoal, a sua satisfação e
Defeitos (externos e internos): morfológicos, físicos e
o ato de repetir a compra de um determina-
mecânicos, fisiológicos, patológicos, entomológicos
do produto são dependentes da boa quali-
dade comestível deste produto (Kader, Textura (sensação) Firmeza, dureza, maciez
1992). Somando-se a isto, deve ser lembrado Característica crocante
que cada vez mais existe a preocupação Suculência
com o valor nutritivo e a segurança do pro-
Granulosidade
duto, no que se refere aos resíduos de subs-
Rigidez, fibrosidade
tâncias nocivas ao ser humano. Por ser um
juízo muito pessoal, o que é aceito por um Sabor e aroma Doçura
consumidor pode não ser aceito por outro. Acidez
A qualidade aceita pelo atacadista pode Adstringência
ser diferente daquela aceita pelo varejista.
Amargor
Os parâmetros de avaliação da qualidade
Aroma (compostos voláteis)
podem variar, dependendo da oferta e de-
Sem sabor e aroma
manda do produto. Portanto, a qualidade
de um produto é avaliada por várias caracte- Valor nutritivo Carboidratos (incluindo fibras)
rísticas, cujos valores nem sempre con- Proteínas
tribuem igualmente para a sua qualidade Lipídios
(Kays, 1991). Assim, pode-se entender que
Vitaminas
na cenoura, o aroma e sabor são impor-
Minerais
tantes componentes da qualidade, mas
estes só contribuem para a qualidade do Segurança Substâncias tóxicas naturais
produto, se a textura da cenoura for boa. Contaminantes (resíduos químicos, metais pesados)
A vantagem em se ter padrões para Micotoxina e contaminação microbiana
caracterizar a qualidade é dupla, pois além
de proteger o comprador garantindo-lhe um FONTE: Dados básicos: Kader (1992).

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de qualidade aparência ainda tenha grande voláteis no sistema olfativo. Todas as fru- nizados, houve um salto de qualidade. Até
influência na determinação do valor comer- tas e hortaliças sintetizam diversos e varia- o consumidor está mudando o seu perfil,
cial de um produto. A experiência ensinou dos compostos de baixo peso molecular passando a acreditar mais na qualidade do
o consumidor a associar a qualidade com voláteis à temperatura ambiente. Esses produto. As hortaliças que se apresentam
determinada aparência. Porém, nem sempre compostos são em geral ésteres, álcoois, em embalagens fechadas, que não per-
a boa aparência significa boa qualidade nu- ácidos e diversas substâncias providas de mitem mais o tradicional apertão com os
tricional, sabor e aroma. A deterioração da grupos carboxílicos (aldeídos e cetonas) dedos para a avaliação da qualidade do pro-
qualidade nutricional pode ser mais rápida (Eskin, 1979 e Kader, 1992). duto, já fazem parte da rotina de compra de
do que a de sabor e aroma, e estas se dete- O valor nutritivo, apesar da sua impor- muitos consumidores. A qualidade carrega
rioram mais rapidamente do que a qualidade tância, é um atributo que a maioria dos consigo a confiabilidade. A confiabilidade
de textura do alimento. A forma, o tamanho, consumidores menos considera na sua de- do produto (qualidade) carrega consigo a
a cor, a condição e a presença de defeitos cisão de compra, porque a maior parte dos fidelidade do consumidor.
podem ser definidos através da avaliação nutrientes não se vê e nem se sente.
visual. A forma é um critério de qualidade A segurança dos produtos passou a EMBALAGEM
que permite distinguir as diversas cultiva- ser um atributo de qualidade, na medida
res de uma mesma espécie. Mesmo que de A finalidade de uma embalagem é as-
em que procura resguardar a saúde do ser sociar proteção, facilidade de manuseio e
uma nova cultivar se obtenha um produto humano. Evitar o consumo de produtos
com boa capacidade de armazenamento e de comercialização do produto, pois este
que possuem substâncias tóxicas naturais, tenderá a manter a sua qualidade, se bem
qualidade comestível mais elevada, se a for-
tais como os glicosídeos cianogênicos, ni- protegido, e o cliente será mais facilmente
ma do produto é anômala, a sua aceitação
tratos e nitritos, oxalatos, tioglicosídeos e atraído, se a embalagem tiver boa aparência
comercial será difícil e exigirá a reeducação
glicoalkalóides, ou contaminantes como re- e informações que o ajudem na decisão de
do consumidor. O tamanho é um atributo
síduos químicos e metais pesados, passa a compra. Além disso, dispõe o produto para
de qualidade que se pode avaliar objetiva-
ser uma grande preocupação e, por isso, é inspeção e facilita o emprego de tecno-
mente através da medição do diâmetro, do
necessário que se estabeleçam tolerâncias logias que ampliem sua vida útil. Portanto,
comprimento, da largura, do peso ou do
máximas. a embalagem tem grande importância na
volume. A classificação por tamanho per-
Também os cuidados sanitários nas movimentação, armazenamento, transporte
mite agrupar produtos de tamanho similar,
diversas etapas, desde o campo até que o e comercialização de produtos hortícolas.
o que facilita o uso de embalagens, o manu-
produto chegue às mãos do consumidor, Ela não melhora o produto, não substitui
seio, a movimentação e a venda do produto
de modo que minimize a contaminação mi- as tecnologias de conservação, mas ajuda
(Arthey, 1975, Kays, 1991 e Kader, 1992).
A cor é um componente da qualidade crobiana, ganham a cada dia maior relevân- a prolongar a sua vida útil.
que tem grande influência no comprador, cia no contexto da qualidade do produto. A especificação de uma embalagem
pois correlaciona o estádio adequado para A qualidade das hortaliças no Brasil, depende das características físicas, fisioló-
o consumo. O grau de frescor do produto de modo geral, pode ser considerada como gicas e mecânicas do produto. Desse modo,
ou amadurecimento também é atributo de baixa. Além da questão de adequação de a embalagem deve-se adequar ao produto
qualidade. Os defeitos na casca, como cor- melhores cultivares, a falta de padronização e não o produto a ela. Nos grandes merca-
tes, perfurações, abrasões etc prejudicam dificulta até a avaliação para saber se está dos atacadistas do Brasil, o que se observa,
o aspecto visual do produto e o seu valor havendo melhoria de qualidade. Hortaliças na sua maioria, é a existência de embalagens
comercial, embora muitas vezes ele ainda sem padronização, em embalagens ina- que não foram especificadas para o produ-
não tenha perdido a sua capacidade de ar- dequadas, em sua grande maioria em caixas to, como é o caso típico da caixa K. Emba-
mazenagem, nem o seu valor comestível e de madeira, muitas vezes vêm diretamente lagens que respeitam as características do
nutricional (Arthey, 1975 e Kader, 1992). do campo para o mercado. É bastante tímida produto permitem, quando necessário, os
A textura refere-se à sensação global a comercialização de hortaliças em emba- controles da temperatura e da perda de
que o produto provoca na boca do con- lagens de papelão e plásticos diversos. água; facilitam o emprego de tratamentos
sumidor. Trata-se de um conjunto de sensa- Com freqüência, encontram-se embalagens especiais como a aplicação e remoção de
ções percebidas pelos lábios, língua, pare- sujas de terra e outros resíduos da lavoura, etileno, dióxido de carbono etc.; têm boa
des da boca, dentes e ouvidos. O efeito contaminadas microbiologicamente e trans- resistência mecânica, que lhes permitem
acumulativo dessas sensações cria uma portadas inadequadamente. Esta situação manuseio fácil (respeitando a qualidade
impressão global sobre a textura do pro- é bastante comum nas Centrais de Abaste- ergonômica - limitação de carga transpor-
duto. cimento (Ceasas). tada, apoios adequados para as mãos, ares-
O sabor é percebido na língua e de- Entretanto, a partir do momento que os tas não cortantes ou perfurantes etc.) e têm
finido através de quatro sensações: doce, grandes supermercados resolveram inves- ainda a configuração da estrutura interna
salgado, ácido e amargo. O aroma ou odor tir na qualidade das hortaliças, exigindo que não agride o produto, como frestas
é percebido pelo estímulo de compostos dos seus fornecedores produtos padro- bem-dimensionadas, ângulos internos
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adequados e não-retos, sem rugosidade embalagem (mais de 500 tipos em uso). As cialização dos produtos agrícolas. Entretan-
agressiva etc. propostas de padronização tiveram suces- to, os sistemas de comercialização sempre
As injúrias físicas são apontadas como so limitado e as maiores mudanças foram tiveram dois pontos comuns: o produto tem
as que causam os maiores prejuízos aos motivadas pelo fator econômico (uso de uma origem (local de produção - oferta) e
produtos. Os impactos provocam danos material mais barato, adaptação de proce- um destino definido (local de consumo -
físicos, devido à aceleração e desaceleração dimentos de embalamento e manuseio mais demanda). As diferenças verific``am-se
súbita do produto, provocadas por queda baratos e, capacidade de aumentar a densi- no percurso do produto até o consumidor.
sobre a superfície dura, gerando amassa- dade de carga transportada) e garantia de Quanto mais longo e segmentado o percur-
mento. O dano estende-se para o interior qualidade do produto. Verificam-se de- so, maior é o reflexo no custo do produto.
do produto e pode não ser visível na sua créscimo no uso da madeira, aumentos no O que se tem no mercado brasileiro atual-
superfície. A proteção contra impactos uso do papelão ondulado e, em menor es- mente, são categorias distintas de produtos
pode ser conseguida com enchimentos, cala, do plástico. As embalagens recicláveis hortícolas que podem ser classificadas
suportes individuais e fitas desacelerado- e as bioembalagens (biopolímeros como como de produtos de alto, médio, ou baixo
ras, colocadas na embalagem. Outra injúria poliosídeos - celulose e derivados, amidos, valor agregado. Essa segmentação do mer-
física bastante comum é a provocada por gomas etc.; proteínas - gelatina, zeína, glu- cado dá-se pela renda dos consumidores.
compressão, em que esforços normais ex- ten etc.; compostos lipídicos - ceras e Isto já aconteceu na Europa na década de
cessivos causam o amassamento do produ- derivados e poliésteres originários de bios- 70 (Machado Filho & Neves, 1996).
sínteses bacterianas ou vegetais dirigidas) As mudanças no sistema de comer-
to. A compressão pode ser produzida por
já começam a aparecer no mercado em pe- cialização, que já ocorrem no Brasil, são
colocação inadequada do produto ou mau
quena escala, devido ao seus custos (Kro- reflexos da necessidade de sobrevivência
desempenho da embalagem quando em-
chta & De Mulder-Johnston, 1997, Baldwin dos mercados. O conceito de sistema ou
pilhada. O dano ocorre na superfície do
et al., 1997 e Guilbert, 1998). Na UE a ten- de cadeias produtivas, ou agribusiness
produto e estende-se para o seu interior. A
dência é bastante semelhante. No processo (Davis & Goldberg, 1957), mostrou mais
vibração e a abrasão provocam danos fí-
de embalamento, intensifica-se a operação claramente as relações de poder no sistema
sicos, devido à movimentação do produto
mecanizada e reduz-se a operação manual. agroindustrial. O que se percebe hoje, é
na embalagem, durante o seu transporte.
No que se refere à movimentação do produ- que o produtor evoluiu nas técnicas de pro-
Os danos são mais comuns na superfície
to, a unitização de carga em paletes está dução, mas ainda precisa aprender a valo-
do produto. rizar e melhorar a venda do seu produto.
estabelecida.
O mercado de produtos hortícolas co- O sistema tradicional de comercia-
Pelo que se constata nos mercados dos
nhece pouco a respeito das vantagens do lização de produtos hortícolas, até recen-
países do Hemisfério Norte, o uso de em-
uso de embalagens adequadas e justifica a temente era quase na sua totalidade rea-
balagem adequada evoluiu, principalmente
falta de conhecimento a razões econômicas. lizado nas Ceasas. Essas centrais atendiam
devido a critérios econômicos, porém sem-
Em outras palavras, a embalagem é um com- às demandas de feiras até supermercados.
pre voltados para a garantia da qualidade
ponente que agrega custo aos produtos Na década de 80, viu-se o desaparecimento
do produto. No Brasil, o caminho deverá
que nem sempre podem ser repassados ao das quitandas e o aparecimento dos saco-
ser o mesmo e verifica-se que a interna-
consumidor. O custo da própria embalagem lões. Na década de 90 surgiram os varejões
cionalização dos mercados tem reflexos
e os custos associados podem ser bastante e as lojas de conveniência. Ao que tudo
diretos no mercado brasileiro, tanto do
significativos. Porém, as vantagens do uso indica, na virada do sécu, as feiras livres já
ponto de vista econômico quanto tecno-
de embalagens bem-especificadas são terão desaparecido das grandes áreas
lógico. Os produtos importados mostram
evidentes, quando se analisam o custo de urbanas e teremos a consolidação da co-
as tecnologias agregadas à embalagem e
perdas e danos, devido a falhas e inadequa- mercialização de produtos hortícolas em
convencem mais rapidamente os seus
ções da embalagem (mau dimensionamento), redes de supermercados. As grandes redes
usuários. Portanto, para se especificar uma
o custo de ineficiência no aproveitamento de supermercados, por causa do grande
embalagem, há de se considerar vários
de espaço em transporte, armazenamento, volume de vendas realizado semanalmente,
parâmetros do produto e do material. É um
operações de manuseio e movimentação tendem a optar pelo estabelecimento de
trabalho, às vezes, complexo e para melhor
mecânica e o custo ligado à economia de centrais de compras. Essas centrais, que já
entendimento do processo de decisão
escala. operam em São Paulo, compram direta-
sobre a finalidade de uma embalagem, apre-
Apesar da necessidade de adequação mente do produtor e distribuem para toda
senta-se na Figura 1, a sequência de desen-
das embalagens no mercado brasileiro, cabe a rede, com maior eficiência (redução de
volvimento de um projeto de embalagem.
uma rápida observação do comportamento custos e agilidade). Estas novas relações
e tendências do mercado norte-americano, de mercado encurtam os caminhos entre o
COMERCIALIZAÇÃO
para que se possa ter uma idéia do futuro. campo e o consumidor. Provocam neces-
Nos Estados Unidos, existe grande varie- A diversidade cultural, social, econômi- sidades, como rapidez, agilidade, padro-
dade de material, tamanho e formato de ca e geográfica interfere na forma de comer- nização, embalagem, garantia de qualidade
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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 139

mamente processadas ou as congeladas.


Nesse segmento, os similares brasileiros
começam a aparecer no comércio, porém
com produtos distintos dos importados. O
preço da exclusividade de mercado parece
que deixou por muito tempo, tanto o produ-
tor quanto o sistema de comercialização no
topo da relação de poder (as feiras tinham
grande importância e não faziam qualquer
exigência, pois o vendedor estava no local
para a venda assistida), ou seja, o que se
produzia tinha de alguma forma comercia-
lização garantida. Não havia concorrência
externa e nem exigências, quanto a proce-
dimentos pós-colheitas (seleção, classifica-
ção, embalagem, tecnologia de conserva-
ção etc.), portanto, não havia padronização
e a qualidade era um quesito pouco exigido
e facilmente contornável. A partir do mo-
mento que se iniciou o processo de auto-
serviço ou venda não assistida e maior
participação das mulheres no mercado de
trabalho, as decisões do consumidor pas-
saram a ser mais rápidas e, por isso, melhor
consideradas na comercialização. O consu-
midor passou a exigir mais e o comerciante
percebeu que tanto as perdas quanto as
sobras dos produtos não vendidos redu-
ziam e até inviabilizavam o seu negócio.
O contexto da comercialização atual
ainda é de disputas dentro do sistema pro-
dutivo, onde o elo mais vulnerável, o pro-
dutor (menos organizado), sofre com as
regras impostas pelo comércio (mais
Figura 1 - Esquema da seqüência de desenvolvimento de um projeto de embalagem
organizado). O sistema de comercialização
evoluiu mais rapidamente que o produtor,
por ter encontrado, em outros países, mo-
constância de oferta e identidade para o como aconteceu com o aparecimento dos delos de mercados que lhes permitiram
produto e produtor. Como se encontram produtos orgânicos e hidropônicos. Esses adaptações à realidade brasileira, alertando-
atualmente, as grandes centrais de abas- produtos entraram na comercialização de os sobre a evolução do sistema. O setor
tecimento não sobreviverão às novas exi- forma diferenciada, apresentando embala- varejista ganhou muito espaço na comer-
gências do comércio. O conceito moder- gens com a identificação do produtor e cialização, adequando a sua logística, e está
no de comercialização visa o cliente, alte- recomendações para a conservação. buscando formas cada vez mais eletrônicas
rando dessa forma as relações de poder É interessante observar que o mercado de compra, já com vistas para o mercado
entre produtor e comércio, pois quem man- de hortaliças no Brasil é quase que exclu- futuro. O sistema de compra direto da área
da agora mais do que nunca é o cliente. sivamente realizado com os produtos pro- de produção já é realidade consagrada nos
É notório nos supermercados o au- duzidos no país. Raramente encontram-se Estados Unidos. Do lado do produtor bra-
mento de área destinada aos produtos no mercado hortaliças importadas e que sileiro, não houve tanta facilidade para se
hortícolas quer sejam in natura, os prontos venham competir com o produto nacional. espelhar no exterior, onde os sistemas de
para consumo, quer sejam congelados. So- As hortaliças importadas que chegam às produção muito subsidiados não permi-
me-se a isto o fato de os supermercados gôndolas dos supermercados são aquelas tiram adequações com vantagens econô-
estarem mais receptivos às novidades, com valor agregado, tal como as mini- micas.
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140 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

Como “a força de uma corrente se mede tico se resolve com a força da organização California. Publication 3311).
pelo seu elo mais fraco”, o momento de do setor interessado, e a questão tecno- KAYS, S.J. Postharvest physiology of
fortalecer o elo fragilizado parece estar bem lógica requererá adequações. O agricultor perishable plant products. New York:
mais próximo do que imagina o produtor precisa mudar o seu conceito de mercado AVI, 1991. 532p.
brasileiro. Além da evolução do mercado para se tornar um empresário rural, e assim
KROCHTA, J.M.; DE MULDER-
interno, bate às portas do produtor o mer- poder atender bem as exigências dos seus
JOHNSTON, C. Edible and biodegradable
cado internacional. O Acordo Geral sobre clientes. O mercado atacadista precisa
polymer films: challenges and oppor-
Tarifas e Comércio (GATT), em 1993, tratou deixar de ser um acumulador de merca-
tunities. Food Technology, Chicago, v.51,
da elevação dos fluxos de comércio e da dorias, para exercer efetivamente o seu
n.2, p.60-74, 1997.
eliminação gradativa de subsídios e/ou, da papel no abastecimento. Na atualidade o
proteção à agricultura doméstica dos paí- varejo tem mais força na cadeia, mas deverá MACHADO FILHO, C.A.P.; NEVES, M.F.
ses signatários, elevando assim o preço perder essa posição na medida que o con- O consumo de alimentos na europa. In:
internacional (Chaddad et al., 1996). Esse sumidor entender que é ele quem paga a MACHADO FILHO, C.A.P.; SPERS,
acordo deverá favorecer o comércio de E.E.; CHADDAD, F.R.; NEVES, M.F.
conta e faça valer os seus direitos que já
produtos agrícolas brasileiros, principal- (Ed.). Agribusiness europeu. São Paulo:
estão até garantidos por lei.
mente na UE, cujo valor da moeda comum Pioneira, 1996. Cap. 4, p.75-94.
tenderá a se igualar ao dólar americano, REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SPERS, E. E.; CHADDAD, F. R. O papel da
dando maior poder de compra para aquele qualidade na Europa. In: MACHADO
bloco econômico. O espaço comercial am- ARTHEY, V.D. Quality of horticultural FILHO, C.A.P.; SPERS, E.E.; CHADDAD,
plia-se ainda mais com o aumento das re- products. New York: John Wiley & Sons, F.R.; NEVES, M.F. Agribusiness europeu.
lações econômicas do Cone Sul e North 1975. 228p. São Paulo: Pioneira, 1996. Cap. 3, p.47-
America Free Trade Agreement (NAFTA), 73.
BALDWIN, E.A.; NISPEROS, M.O.;
através da quase inevitável Área de Livre HAGENMAIER, R.D.; BAKER, R.A. Use TOLEDO, J.C.de. Gestão da qualidade na
Comércio das Américas (ALCA). of lipids in coatings for food products. Food agroindústria. In: BATALHA, M.O.
Conclui-se que com a capacitação Technology, Chicago, v.51, n.6, p.56-62, (Coord.). Gestão agroindustrial. São
técnica que o Brasil detém, as novas relações 64, 1997. Paulo: Atlas, 1997. v.1, p.437-487.
do comércio mundial poderão ser bem absor-
CHADDAD, F.R.; SPERS, E.E.; MACHADO
vidas, se adotarmos tecnologias adequadas FILHO, C.P. O ambiente institucional e co- BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
para os nossos produtos. A modernização mercial europeu. In: MACHADO FILHO,
do sistema agroindustrial beneficiará a eco- C.A.P.; SPERS, E.E.; CHADDAD, F.R.; ASHBY, B.H. Protecting perishable foods
nomia do país. NEVES, M.F. (Ed.). Agribusiness euro- during transport by truck. Washington:
peu. São Paulo: Pioneira, 1996. Cap.2, p.17- Agricultural Marketing Service, 1993. 88p.
CONSIDERAÇÕES FINAIS 46.
LÓPEZ GARCIA, J.L. Binomio calidad-
Somente a análise integrada de todos DAVIS, J.H.; GOLDBERG, R.A. A concept of competitividad en el sector de
os setores envolvidos na produção de ali- agribusiness. Boston: Harvard University, alimentacion. Madrid: Universidad
mentos permite entender os mecanismos 1957. 135p. Politecnica de Madrid, 1995. 49p.
de comercialização de produtos agrícolas. ESKIN, N.A.M. Plant pigments, flavors and Monografias de la Escuela Tecnica Superior
Há necessidade de conhecer o produto e a textures: the chemistry and biochemistry de Ingenieros Agronomos.
sua finalidade de mercado, para poder defi- of selected compounds. New York: RYALL, A.L.; PENTZER, W.T. Handling,
nir a melhor tecnologia para a sua conser- Academic Press, 1979. 219p. transportation and storage of fruits and
vação. É necessário investir no marketing vegetables. 2.ed. Westport, Connecticut:
FERREIRA, A.B. de H. Novo dicionário da
do produto, mas, para isso, é preciso garan- AVI, 1982. v.2, 610p.
lingua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova
tir a qualidade do produto através da sua
Fronteira, 1986. 1838p. SHEWFELT, R.L.; PRUSSIA, S.E. Postharvest
padronização. Nesse aspecto, a embalagem
merece consideração especial, pois deverá GUILBERT, S. Bioembalagens: você conhece? handling: a systems approach. San Diego:
proteger e ao mesmo tempo fazer a propa- França...Flash, São Paulo, n.4, p.9-10, 1998. Academic Press, 1993. 358p.
ganda do produto. As tecnologias de KADER, A.A. Quality and safety factors: SOUZA, R.A.M.de; PITHAN e SILVA, R. de
conservação pós-colheita de produtos definition and evaluation for fresh hor- O.; MANDELLI, C.S.; TASCO, A.M.P.
hortícolas disponíveis no mundo, podem ticultural crops. In: KADER, A.A. (Ed.). Comercialização hortícola: análise de alguns
ser buscadas a qualquer momento, poden- Postharvest technology of horticultural setores do mercado varejista de São Paulo.
do haver apenas empecilho burocrático, crops. Oakland: University of California, Informações Econômicas, São Paulo, v.28,
mas não tecnológico. O empecilho burocrá- 1992. Cap.20, p.185-189. (University of n.10, p.7-23, out. 1998.

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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 141

Aspectos administrativos, econômicos


e mercadológicos da produção de hortaliças
em ambientes protegidos
Magno de Sousa 1
Francisval de Melo Carvalho 1
Luciano Oliveira Geisenhoff 2

Resumo - O negócio agrícola possui características peculiares que dificultam a pro-


dução e aumentam os riscos, necessitando de uma postura profissional por parte
do empresário. A produção hortifrutícola em ambientes controlados apresenta-se
como alternativa para o produtor numa economia competitiva e globalizada, uma
vez que permite a redução de perdas e o aumento da produ-tividade de diversas
culturas. São apresentados aspectos importantes do ge-renciamento da produção
de hortaliças em ambientes protegidos. Informações administrativas, econômicas
e mercadológicas são disponibilizadas aos produtores interessados na implantação
e/ou desenvolvimento da plasticultura. A adoção de técnicas de produção, assim
como o gerenciamento de pessoas, a administração das finanças e a comercialização
adequada dos produtos são ações que podem determinar o sucesso de qualquer
atividade.

Palavras-chave: Gestão do agronegócio; Plasticultura; Custo de produção; Marketing.

INTRODUÇÃO mais informados, menos fiéis e mais exigen- de agrotóxicos e, principalmente, a qualidade
O setor rural, assim como outros setores tes em qualidade, preço e atendimento. superior dos produtos.
da economia, está cada vez mais competitivo, A estacionalidade da produção, a de- A plasticultura tem sido responsável
tornando-se indispensável que o empre- pendência do clima, a terra como fator de por boa parte do aumento da produção de
sário rural seja profissional e tenha uma produção, entre outras, são características hortaliças e frutos no Brasil e no mundo. O
visão ampliada de seu negócio. As novas peculiares da agricultura que dificultam a Brasil vem-se destacando como um dos
tendências de mercado apontam para uma produção agrícola e aumentam os riscos maiores produtores de hortaliças, ocu-
redução do número de empresas que traba- das atividades rurais. Estas características pando o 11o lugar entre os maiores exporta-
lha no setor produtivo, exigindo das que evidenciam a importância de técnicas de pro- dores. Calcula-se que a atual produção hor-
permanecerem maior habilidade e compe- dução em ambientes controlados, que vêm- tifrutícola do país seja de 44 milhões de
tência na gestão de seus negócios. Perma- se destacando no Brasil e no mundo como toneladas anuais. Este fato coloca o cultivo
necerão aquelas que conseguirem produzir uma alternativa para a redução de perdas e de hortifrutigrangeiros como uma impor-
em quantidade, com qualidade e a custos aumento da produtividade de diversas cul- tante atividade econômica e que merece
mais baixos. Portanto, vive-se numa época turas. Como principais vantagens do siste- atenção especial dos órgãos governamen-
em que o amadorismo tem cada vez menos ma controlado, podem-se destacar: maior tais de ensino, de pesquisa e de extensão
espaço, uma vez que os produtores convive- segurança da produção, colheitas progra- (Hortifruticultura..., 1997).
rão com concorrentes mais fortes, clientes madas, maiores produtividades, menor uso É importante salientar que a ativida-

1
Engo Agro, M.Sc., Prof. Assist. II UFLA-Depto Administração e Economia, Caixa Postal 37, CEP 37200-000 Lavras-MG. E-mail: magsousa@ufla.br,
francarv@ufla.br
2
Engo Agro, Pós-graduando UFLA-Depto Biologia, Caixa Postal 37, CEP 37200-000 Lavras-MG.

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142 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

de hortifrutícola rende de R$ 2.000,00 a QUADRO 1 - Recursos e áreas da administração priedade.


R$ 25.000,00 por hectare, muito mais do que da empresa Para conduzir bem os negócios, o em-
as culturas de grãos que rendem, em média, Recursos Áreas da administração presário rural precisa ter habilidades pa-
R$ 500,00 por hectare. Com relação à gera- Físicos Administração da produção ra transformar conhecimentos em ações.
ção de empregos, a horticultura pode gerar Estas, são classificadas em três tipos:
Financeiros Administração financeira
até cinco empregos diretos por alqueire (um a) habilidade técnica: está relacionada
Humanos Administração de pessoal
alqueire = 2,42ha), já a produção de grãos com a capacidade de utilizar adequa-
Mercadológicos Administração mercadológica
apenas um. Uma tonelada de grãos represen- damente a tecnologia de produção,
ta, em média, um faturamento de R$ 155,00, gerenciamento e vendas;
enquanto que no ano de 1996, a mesma b) habilidade humana: é a capacidade
quantidade de hortaliças e frutos ultrapassou que compõem a empresa e que o empre- de relacionar-se adequadamente
R$ 265,00. Portanto, uma maior conscien- sário pode exercer alguma influência. O com pessoas - funcionários, clientes,
tização da importância deste setor é funda- ambiente externo compreende aqueles fornecedores, entre outros;
mental para o país e para os produtores que fatores nos quais o empresário exerce pouca
c) habilidade conceitual: consiste na
trabalham com hortifrutícolas. ou nenhuma influência e pode ser dividido
capacidade de o empresário perceber
O objetivo deste artigo é apresentar em geral (tecnológicos, econômicos e polí-
a atividade, no contexto geral da em-
aspectos importantes do gerenciamento da ticos, sociais e ecológicos, demográficos,
presa, fazendo a interligação de todas
produção de hortaliças em ambiente pro- entre outros) e operacional (fornecedo-
as suas explorações com o am-biente.
tegido. Informações administrativas, eco- res, concorrentes, clientes, grupos regula-
O produtor que tem esta habilidade
nômicas e mercadológicas serão dispo- mentadores). O ambiente geral influencia
interage com outros segmentos e
nibilizadas aos produtores interessados as empresas de todos os setores ao mesmo
possui uma visão da agricultura como
na implantação e/ou desenvolvimento da tempo. Já o ambiente operacional é formado
negócio.
plasticultura. por organizações ou atividades que influ-
enciam um único setor. Como exemplo,
ETAPAS IMPORTANTES PARA A
A EMPRESA AGRÍCOLA pode-se observar que os empresários que
IMPLANTAÇÃO DE UMA
trabalham com cultivo protegido convivem
A produção em ambientes controlados ATIVIDADE AGRÍCOLA EM
com os mesmos clientes, concorrentes e
deve ser vista como uma atividade empre- AMBIENTE CONTROLADO
fornecedores. No entanto, estão sujeitos
sarial, ou seja, tem que ser administrada e aos fatores do ambiente geral (planos Assim como em qualquer outra ati-
gerenciada profissionalmente e com utiliza- econômicos, políticas, fatores sociais, entre vidade, a definição de missão é a primeira
ção de técnicas modernas de gestão de ne- outros), que influenciam todos os setores etapa a ser observada. Missão é conhecer
gócios. da economia. a razão do negócio; é aquilo que justifica a
Empresa é um conjunto de recursos sua existência. Ela facilita a busca do con-
físicos (terra, benfeitorias, máquinas, ani- NÍVEIS DE AÇÃO DO senso e potencializa os esforços das partes
mais, insumos, etc.), financeiros, humanos EMPRESÁRIO RURAL em benefício do todo. A missão faz com
e mercadológicos, que por meio de uma boa Podemos classificar a ação adminis- que uma empresa seja eficaz, na medida em
gerência procura satisfazer as necessi- trativa (jeito de fazer as coisas) em três que as pessoas fazem as coisas certas, ao
dades dos clientes para obter lucro. No níveis: estratégico, gerencial e operacional. invés de somente fazerem certo as coisas.
Quadro 1, apresenta-se uma relação de re- Ações no nível estratégico ocorrem antes Como segunda etapa devem-se estabe-
cursos que constituem a empresa do ponto da implantação da atividade hortifrutícola, lecer os objetivos, que é definir “onde”,
de vista administrativo. e para isso o empresário deve agir anali- “quando” e “como” se quer chegar. Os
A adoção de técnicas de produção, sando as condições internas e externas à objetivos são os resultados previamente
assim como o gerenciamento de pessoas, empresa. Perguntas como “o que fazer?”, estabelecidos e esperados pelo empresário
a administração das finanças e a comer- “quando fazer ?” e “o quanto fazer?”, e podem ser de dois tipos: gerais, que
cialização adequada dos produtos são devem ser respondidas. Posteriormente, o referem-se à empresa como um todo (lucro,
ações administrativas que quase sempre empresário deve trabalhar no nível ge- sobrevivência, crescimento, prestígio etc.)
determinam o sucesso de qualquer ativi- rencial, preocupando-se com o “como e específicos, relacionados com as áreas
dade. fazer?” que está relacionado com as técni- funcionais específicas da empresa (produ-
O ambiente em que uma empresa está cas de produção. Finalmente, deve-se tra- ção, finanças, pessoal e mercado).
inserida deve ser conhecido pelo admi- balhar no nível operacional, preocupando- Definido onde se quer chegar, busca-
nistrador e funcionários. Este ambiente se com o “onde” e “quem faz ou fará as se o melhor caminho para se chegar lá, que
pode ser dividido em interno e externo. O ações de rotina realizadas porteira-a-den- consiste na definição de estratégias. Esta
ambiente interno, diz respeito aos recursos tro”, constituindo-se no dia-a-dia da pro- é a terceira etapa que o empresário deve
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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 143

cumprir na implantação de um negócio. A que são mais suscetíveis a erros. Além do totais da atividade. O ponto de equilíbrio
definição de estratégias adequadas envol- balanço patrimonial e o demonstrativo de pode ser calculado pela equação Q = CF +
ve: análise interna da empresa (pontos resultados, existem outros instrumentos CA / MC, em que: Q = quantidade no ponto
fortes e fracos) e análise do ambiente (amea- que são usados na tomada de decisão. Den- de equilíbrio; CF = custo fixo; CA = custo
ças e oportunidades às empresas). O plano tre eles destacam-se o custo de produção alternativo; MC = margem de contribuição
de ações estratégicas é definido em função e o ponto de equilíbrio. unitária (= preço - custo variável).
destas análises.
Custo de produção Exemplo: tomando-se os dados do Qua-
Para cada cultura, com o apoio da melhor
dro 3, tem-se:
estratégia de ação, faz-se o planejamento. Custo de produção é a soma dos valores
Com o plano em mão, organiza-se e executa- de todos os recursos (bens e serviços) utili- Q = (555,00 + 135,00) / (0,40 - 0,18)
se o processo produtivo, conferindo a todo zados no processo produtivo da atividade. Q = 690,00 / 0,22 = 3.136,36 ≅ 3.137 pés
momento o executado com o que foi plane- Quando bem analisado, é um importante de alface/mês.
jado. A esta etapa denomina-se de controle. instrumento para a tomada de decisão, para
a avaliação de estoques e para o controle Neste exemplo, a partir da produção de
O controle de todo processo constitui-se
da produção. A forma de calcular o custo 3.137 pés de alface/mês, o empresário pas-
num importante instrumento para o geren-
de produção pode variar de uma empresa sará a ter lucro. Quanto maior a produção
ciamento da atividade. Esta seqüência
para outra, de acordo com os objetivos com esta mesma estrutura, maior será o
lógica, dinâmica e interativa de ações deve
estabelecidos. Um exemplo de cálculo de lucro.
fazer parte do dia-a-dia de todo empresário
rural, favorecendo os resultados econô- custo de produção de alface hidropônica é
apresentado no Quadro 3. ADMINISTRAÇÃO
micos da empresa.
Considerando o preço médio de ven- MERCADOLÓGICA
INSTRUMENTOS PARA da de R$ 0,40 por pé de alface, o resultado
Quando se trata de administração mer-
AVALIAÇÃO ECONÔMICA desta empresa no mês analisado foi de
cadológica (marketing), nas suas diferen-
R$ 14,00, pois:
tes formas, o empresário deve-se preocupar
A avaliação econômica da atividade es- Receitas = 3200 x 0,40 = 1280,00 com ações que atraiam os clientes, impul-
tá relacionada com a área de finanças da
Custo Total = 1266,00 sionando-os a comprar e deixando-os tão
empresa. Possibilita verificar se o negócio
Lucro = 14,00 satisfeitos que voltarão sempre para com-
é viável ou não, auxiliando o empresário na
Vale salientar que o volume de produ- prar mais. Já o mercado refere-se ao conjun-
tomada de decisão.
ção influencia no resultado da atividade. to de todos os possíveis compradores e
Para fazer a avaliação econômico-finan-
Neste exemplo, a produção de 3.200 pés vendedores de um produto.
ceira da atividade, necessita-se de alguns
de alface/mês em 350m2 de estrutura, está A mudança de hábitos alimentares
instrumentos como o balanço patrimonial,
abaixo do ideal. A utilização de técnicas aliado ao crescimento da população tem
que mostra o patrimônio (bens + direitos -
modernas de cultivo aumenta a lucra- aumentado a demanda por hortaliças e fru-
obrigações) da empresa em um dado mo-
tividade em virtude da melhor utilização tas tornando este mercado bastante pro-
mento e o demonstrativo de resultados do
dos recursos fixos, ou seja, com a mesma missor. Qualquer negócio vai bem se esti-
exercício (Quadro 2), que constitui-se no
estrutura pode-se aumentar significati- ver cumprindo o propósito de satisfazer as
relatório sucinto das operações (receitas e
vamente a produção. necessidades dos clientes. O empresário
despesas) realizadas pela empresa durante
precisa estar atento para conhecer e satis-
determinado tempo, sobressaindo o resul- Ponto de equilíbrio fazer tais necessidades. A oferta de produ-
tado líquido do período, lucro ou prejuízo.
É a quantidade de produção necessária tos com qualidade, a preços baixos, no local
O balanço patrimonial e o demonstrativo
para igualar as receitas totais aos custos adequado, no tempo certo, com segurança
de resultados devem ser elaborados por
profissionais especializados (contadores)
e disponibilizados aos gerentes e/ou
QUADRO 2 - Demonstrativo de resultados hipotético de uma empresa com três atividades em R$
administradores para análise e utilização na
Especificação Alface Tomate Morango Total
tomada de decisão. No caso de pequenas
empresas, em que a estrutura adminis- Receitas totais 600,00 500,00 1.000,00 2.100,00
trativa é menor e quase sempre não possui Custos + despesas variáveis 111,00 150,00 400,00 661,00
um contador, pode-se optar pela contabi- Margem de contribuição 489,00 350,00 600,00 1.439,00
lidade simplificada, fazendo apenas ano-
Despesas gerais _ _ _ 596,00
tações de receitas e despesas. Neste caso,
Resultado(1) _ _ _ 843,00
a conferência, assim como a análise dos
dados, deve ser mais cuidadosa, uma vez (1) resultado = receitas totais - (custo + despesas variáveis totais) - despesas gerais.

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144 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

QUADRO 3 - Custo de produção de alface hidropônica da empresa Nutriverde Produtos produtos. O sabor exerce grande influên-
Hidropônicos situada em Lavras-MG, com produção média de 3.200pés/mês cia no mercado, pois os consumidores de
Especificação Custo/mês hortaliças e frutos estão cada vez mais exi-
gentes. Eles cansaram de produtos de ótima
Fertilizantes 60,00 aparência mas sem gosto. O sabor voltou a
Sementes 12,50 ser o atributo de maior valor para as horta-
liças frescas (Modernizar..., 1998).
Substrato (espuma fenólica) 20,00
Merece destaque o cuidado especial
Embalagens 100,00 com os produtos por meio do sistema de
Mão-de-obra (salário + encargos)(1) 173,50 paletização, com embalagens próprias, pa-
dronizadas, descartáveis e de preferência
Transportes (900km) 180,00
recicláveis, que identifiquem o produto e
Aluguel 50,00 sua origem. Os produtos que já saem emba-
Depreciações 105,00 lados da propriedade são melhor aceitos,
pois eliminam o manuseio do intermediário,
Custo alternativo do capital (12% a/a) 135,00 chegando nas gôndolas dos supermerca-
Outros 30,00 dos com mais higiene e qualidade, pou-
pando tempo e diminuindo perdas.
Remuneração do administrador 400,00
A necessidade de incorporar o concei-
Custo Total 1.266,00 to de qualidade total e a aplicação de nor-
(1) um homem cultiva + 7.200 pés de alface por mês. mas ISO-14000 e ISO-9000 é uma realidade
para o setor hortifrutícola. Os consumidores
que até bem pouco tempo queriam apenas
e bom atendimento, são as bases para se proteína, forma, cor, pureza, sabor, entre menores preços, hoje exigem também quali-
conseguir a máxima satisfação dos clientes outros. dade. É preciso conhecer o consumidor e
e, conseqüentemente, a sobrevivência ou Para agregar valor aos produtos, o direcionar ações para criar métodos pró-
crescimento da empresa. empresário pode implementar algumas prios de produção e comercialização, que
A comercialização de produtos hortifru- ações que são: beneficiamento, embalagem, garantam a sua plena satisfação. Somente
tícolas possui características próprias, que classificação, transporte e armazenamen- depois de dominar estas etapas é que o
certamente os colocam como um dos merca- to. produtor deve pensar em padronizar emba-
dos mais complexos do setor agrícola. Esta O diretor da plataforma de compras do lagens e criar uma marca própria para seus
complexidade exige uma constante moder- grupo Carrefour em São Paulo, Odair Silvé- produtos.
nização do sistema de comercialização e rio da Silva, comenta que é uma tendência Além dos cuidados em relação às ca-
produção. mundial a exigência dos consumidores em racterísticas dos produtos, o preço des-
Percebe-se que nos últimos anos, o se- relação à ampliação das áreas destinadas a taca-se como um importante instrumento
tor atacadista hortifrutícola vem perdendo frutas, legumes e verduras nos super- de venda e divulgação. Em países onde a
mercado para os supermercados e varejões, mercados. Estes produtos vêm exigindo maioria da população é de baixa renda,
que na maioria das vezes compram dire- uma atenção especial dos empresários em como no Brasil, o preço é o principal fator
tamente dos produtores. As grandes redes relação ao mercado de alimentos semi- de decisão de compra. Portanto, é funda-
de supermercados e varejões, por meio de prontos. Ele orienta os horticultores que mental dedicar especial atenção às políticas
contratos de fornecimento, têm-se trans- pretendem colocar seus produtos neste de definição de preços.
formado em clientes potenciais do setor segmento, a estarem atentos em relação ao A promoção dos produtos não pode
hortifrutícola. Essas ações vêm simpli- planejamento da safra, ao cultivo, à colheita ser esquecida. Os produtos agrícolas, de
ficando as transações e exigindo qualidade e pós-colheita e principalmente ao sabor. modo geral são difíceis de ser diferenciados.
e atendimento. Durante o planejamento da safra, devem- É importante salientar que para fazer a pro-
Produto é tudo aquilo que satisfaz uma se conciliar a área de produção e a demanda moção de um produto é essencial que este
necessidade. Seus atributos comerciais pelos produtos. No cultivo é importante tenha alguma característica que o diferencie
devem ser levados em consideração na salientar que a água utilizada para irrigação dos demais. Esta característica de diferen-
hora de decidir a produção, pois eles podem deve ser de boa qualidade e que o uso de ciação é o que se denomina de “posiciona-
definir a demanda e os preços. Como exem- agrotóxicos deve ser feito com critério e mento do produto”, ou seja, ele precisa ser
plos de atributos comerciais de produtos moderação. Na colheita e pós-colheita, identificado pelos consumidores e estar em
hortifrutícolas podem-se citar: tamanho, deve-se manter o máximo de uniformidade sua mente no momento em que é dese-
maturidade, consistência, idade, odor, quanto à coloração, tamanho e peso dos jado.
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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 145

Propagandas, promoção de vendas, CONSIDERAÇÕES FINAIS quadamente para gerar receitas capazes de
relações públicas e venda pessoal são ins- pagar os investimentos e garantir ganhos
trumentos promocionais que podem ser Novos tempos estão presentes. Crises satisfatórios.
usados pelos empresários para, além de e oportunidades ocorrem a todo momento. Verifica-se que é uma atividade que não
conscientizar os consumidores, levá-los a Aproveite as oportunidades, procure mini- se encontra isolada e para administrá-la
comprar, criar hábito de consumo e conse- mizar as crises, faça de seu negócio uma com eficiência, deve-se considerá-la, não
qüentemente aumentar o volume dos ne- verdadeira empresa rural. Aprendemos que apenas nos seus aspectos internos, mas
gócios. Visita a propriedades, concursos, o cultivo em ambiente controlado, visto também em seus relacionamentos com o
dia de campo; patrocínio de eventos; pro- como negócio, deve ser gerenciado ade- ambiente.
paganda em revistas,
rádio e TV, folhetos in-
formativos, dentre ou- A - Inventário
Especificação Unidade Quantidade Valor unitário Valor residual Vida útil
tros, são instrumentos
que podem e devem ser
B - Fluxo de caixa
usados para a promo- Entrada Saída Saldo
ção dos produtos. É im- Data Especificação
Estimada Real Estimada Real Estimado Real
portante salientar que
todas estas ações devem C - Fluxo diário
ser planejadas, execu- (A) Saldo anterior
(B) Receitas do dia
tadas e controladas ade- Alface
quadamente, visando Tomate
obter resultados satis- Morango
Outros Valor
fatórios. Total B (das receitas)
(C) Pagamentos do dia Valor

MODELOS DE Total C (dos pagamentos)


FICHAS DE (D) Saldo Total (A + B - C)

CONTROLES D - Controle de estufas


0
N ____
PARA Data Cultura Atividade Observação
ATIVIDADES
HORTIFRUTÍCOLAS E - Controle de colheita Cultura:____
Dia Quantidade Destino Preço de venda unitário
Na Figura 1 são apre-
sentados modelos de F - Controle de estoques
fichas de controle para Data Especificação Entradas Saídas Saldo

avaliação econômico-
financeira de atividades G - Controle de trator (caderno ou agenda)
hortifrutícolas. Estes Horômetro
Data Total de horas Especificação da atividade
Inicial Final
controles poderão ser
feitos em um caderno
H - Controle de veículos (caderno ou agenda)
capa dura de 50 folhas, Quilometragem
Data Total de horas Especificação da Atividade
separando algumas fo- Inicial Final
lhas para cada atividade
físico-operacional. I - Controles operacionais Cultura:____
Para o controle da Atividades/dia 1 2 3 4 5 6 ... 30
Solução nutritiva x x x ... x
mão-de-obra, pode ser Pulverizações x x ...
usado o cartão de pon- Plantio x ... x
(Outros) ...
to, no qual o emprega-
do preenche diariamen- J - Observações do Agrônomo (assistência técnica)
te sua presença e, em lo- Data Recomendações

cal próprio, anota-se o


código das atividades
em que trabalhou. Figura 1 - Modelos de fichas de controle para atividades hortifrutícolas

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CHIAVENATO, I. Teoria geral da adminis- de administração rural. Lavras: UFLA/
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Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia 147

SISTEMA AGROPECUÁRIO EM FOCO


Foto: JAlexandre S. Soares

Aelton José de Freitas


Presidente da Emater-MG

INTEGRAÇÃO PARA REALIZAR O POTENCIAL


DA AGROPECUÁRIA

As exigências de um Estado resultados desejados Além dessas demandas de


mínimo e eficiente em suas com menores custos para a ordem social, a integração entre
ações são um imperativo do sociedade, os diversos seus agentes é condição básica
mundo atual. A sociedade não organismos e empresas públicas para que o Estado alcance a
mais possui excedentes, inclusive precisam atuar de forma qualidade máxima em seus
de paciência, para suportar que integrada e cooperativa, para serviços e chegue aos resultados
os recursos que repassa ao maximizar suas ações e atender requeridos pela sociedade.
Estado não se revertam em as demandas democráticas da É a maneira de legitimar
resultados claros e benéficos população. E gerar esses democraticamente sua existência
para toda a população. resultados é, afinal de contas, a e os recursos que arrecadam
Para construir um Estado razão de ser dos órgãos junto à população. E não só a
competente e assim chegar aos públicos. integração dos órgãos de um

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148 Cultivo Protegido de Hortaliças em Solo e Hidroponia

GOVERNO DO ESTADO DE
determinado sistema, mas resultados também é importante MINAS GERAIS
também destes com os órgãos para os municípios mineiros a Governador: Itamar Franco

de outros sistemas e com outras forma integrada com que o SECRETARIA DE ESTADO DE
AGRICULTURA, PECUÁRIA E
organizações de fora da esfera Sistema Operacional ABASTECIMENTO
Secretário: Raul Décio de Belém Miguel
estatal. da Agricultura se apresenta
A Emater-MG pela própria hoje.
forma sistêmica de sua atuação - Para eles, os municípios,
assistindo os produtores rurais esta atuação integrada abre
Empresa de Pesquisa Agropecuária de
tanto na produção quanto nos perspectivas de maior qualidade Minas Gerais - EPAMIG
processos de elevação da nos serviços prestados, reduz os Presidência
Márcio Amaral
qualidade de vida familiar no custos operacionais, potencializa Diretoria de Operações Técnicas
Marcos Reis Araújo
campo -, sabe da necessidade o atendimento aos produtores e Diretoria de Administração e Finanças
Marcelo Franco
de se integrar permanentemente outros clientes, e cria alternativas
Gabinete da Presidência
para alcançar cada vez para o desenvolvimento Eustáquio Amaral
Assessoria de Marketing
melhores resultados. econômico e social. Luthero Rios Alvarenga
Hoje, sob a liderança do A agropecuária tem uma Assessoria de Planejamento e
Coordenação
secretário de Agricultura, Raul generosa potencialidade para Sebastião Gonçalves de Oliveira
Assessoria Jurídica
Belém, e com a determinação contribuir com o Maria Auxiliadora Duque Portugal
Assessoria de Informática
do governador, Itamar Franco, desenvolvimento econômico e Mauro Lima Baino
em tornar o Estado para promoção da justiça social Auditoria Interna
Ronald Botelho de Oliveira
comprometido com o entre os brasileiros. Departamento de Pesquisa
Antônio Monteiro de Salles Andrade
atendimento às demandas de Se esta contribuição não se Departamento de Produção
sua população, os avanços e o dá na intensidade necessária, José Braz Façanha
Departamento de Recursos Humanos
fortalecimento dessa integração certamente é também devido à Dalci de Castro
Departamento de Patrimônio e Adminis-
se fazem de maneira forma com que o Estado tração Geral
Argemiro Pantuso
determinada e constante. gerencia e realiza suas ações de
Departamento de Contabilidade e Finanças
Com os demais órgãos do apoio ao setor. Geraldo Dirceu de Resende

Sistema Operacional da Em Minas Gerais, integrar Centro Tecnológico-Instituto de Laticínios


Cândido Tostes
Agricultura, EPAMIG, IMA, em ação e filosofia os órgãos da Geraldo Alvim Dusi
Centro Tecnológico-Instituto Técnico de
Ruralminas, Ceasa e Casemg, as Secretaria de Estado de Agropecuária e Cooperativismo
Marco Antonio Lima Saldanha
ações integradas e cooperativas Agricultura entre si e com outros
Centro Tecnológico do Sul de Minas
têm uma nova dimensão. setores do Estado, com as Geraldo Antônio Resende Macêdo
Alguns exemplos são a empresas privadas e Centro Tecnológico do Norte de Minas
Rogério Antônio da Silva
condução do Agridata - sistema outros agentes e, finalmente, Centro Tecnológico da Zona da Mata
informatizado de informações com as próprias comunidades José Luis dos Santos Rufino
Centro Tecnológico do Centro-oeste
aos produtores e demais rurais, é o primeiro e decisivo Miguel Celestino Paredes Zúñiga
públicos - e os trabalhos para passo para uma mudança Centro Tecnológico do Triângulo e
Alto Paranaíba
tornar Minas Gerais uma área de paradígma na forma de João Osvaldo Veiga Rafael
livre de febre aftosa. Embora gerenciar e apoiar a A EPAMIG integra o Sistema Nacional
de Pesquisa Agropecuária, coordenado
ainda não seja possível pontuar agropecuária. pela EMBRAPA

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