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ANÁLISE DE TENSÕES EM DENTES DE ENGRENAGENS CÔNICAS

Parte IV

1. INTRODUÇÃO

As engrenagens cônicas são utilizadas quando se deseja transmitir movimento


entre eixos concorrentes, normalmente dispostos num ângulo de 90º, apesar de poderem ser
fabricadas para quase todos os ângulos. Os dentes (retos, inclinados ou espirais), em geral,
podem ser fundidos, fresados ou gerados, sendo que apenas os dentes obtidos por geração é
que podem ser considerados como dentes de precisão.
Nas engrenagens cônicas de dentes retos ou inclinados, o vértice dos cones são
concorrentes, isto é, convergem para um mesmo ponto. Nestes tipos, a interação dos dentes
ocorre da mesma forma que a já estudada para as engrenagens cilíndricas de dentes retos e
helicoidais, o que significa dizer que os conjuntos cônicos apresentam também, transmissões
mais suaves e silenciosas.
Devido ao ângulo do cone, a configuração geométrica destas engrenagens
apresenta novos parâmetros a serem definidos. A figura a seguir ilustra um conjunto
pinhão/coroa, mostrando alguns desses parâmetros, os quais são listados na tabela 01.

Figura 01 – Esquemático de uma transmissão por engrenagens cônicas a 90º

Observar que, para eixos perpendiculares, os ângulos δ1 e δ2 somam 90º e a


relação de transmissão do sistema é diretamente proporcional aos respectivos ângulos do cone
primitivo, ou seja:

δ 1 + δ 2 = 90º (01)

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z1 ⇔ z
tgδ 1 = tgδ 2 = 2 (02)
z2 z1
Tabela 01 – Relações fundamentais das engrenagens cônicas

Símbolo Designação Relação / Obs.


α ângulo de pressão
δ ângulo do cone primitivo
L comprimento da geratriz do cone primitivo
b largura do dente b = L/3 ou b = 10xm (adotar o
menor valor)
dm diâmetro médio da engrenagem
θ ângulo entre eixos normalmente 90º

2. FORÇAS TRANSMITIDAS NO ENGRENAMENTO

Similarmente às engrenagens helicoidais, as engrenagens cônicas apresentam 3


(três) componentes distintas de esforço, oriundas da decomposição do esforço normal (Pn), ou
seja, a componente tangencial (responsável pela transmissão de torque ou potência), a
componente radial e a componente axial. A figura a seguir, ilustra tais esforços e o seu
respectivo ponto de aplicação (observar que o mesmo corresponde ao diâmetro médio da
engrenagem representada).

Figura 02 – Esforços envolvidos numa transmissão por engrenagens cônicas

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Novamente, a força tangencial pode ser obtida a partir dos dados de entrada do
problema, conforme já visto anteriormente, enquanto que as demais componentes são obtidas
a partir das relações a seguir:

Pr = Pu.tgα .cos δ (1, 2) (03)

Pa = Pu.tgα .sen δ (1, 2) (04)

Notar que os índices (1,2) correspondem ao pinhão e coroa, respectivamente, ou


seja, em módulo, o esforço radial atuante no pinhão é equivalente ao esforço axial atuante na
coroa, enquanto que o esforço radial atuante na coroa é equivalente ao esforço axial atuante no
pinhão, conforme pode ser observado na figura abaixo (neste caso, a componente tangencial
estaria atuando num plano perpendicular ao plano do papel).

Figura 03 – Esquema para determinação dos sentidos dos esforços radial e axial numa
transmissão por engrenagens cônicas

3. DIMENSIONAMENTO DE ENGRENAGENS CÔNICAS

Novamente, utilizar-se-á os critérios da pressão e da resistência para o


dimensionamento de engrenagens cônicas, considerando-se, porém, pequenas adaptações
nas equações gerais. Tais adaptações são, a seguir, apresentadas.

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a) Critério da resistência

Partindo-se da equação de Lewis corrigida (equação AGMA), já conhecida,


pequenas considerações devem ser feitas, entre as quais:

Pu.P
σ= ≤σ (05)
Kv.b.J
a.1) o cálculo do fator de velocidade ou fator de impacto deve ser feito pelas mesmas equações
apresentadas para engrenagens cilíndricas de dentes retos, considerando-se porém, o cálculo
da velocidade tangencial referente ao diâmetro médio da engrenagem (ponto de aplicação dos
esforços);
a.2) a relação (largura x módulo) a ser utilizada deve atender o previsto na tabela 01 deste
trabalho;
a.3) para o cálculo da força tangencial, deve-se considerar a velocidade tangencial referente ao
diâmetro médio da engrenagem; e
a.5) o fator geométrico “J” deve ser obtido da figura (04) a seguir ilustrada (fig. 13.25, do texto
original).

Figura 06 – Fator geométrico para engrenagens helicoidais

Figura 04 – Fator geométrico para engrenagens cônicas

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Nota – nos trabalhos da AGMA existem outras tantas tabelas para a obtenção do fator
geométrico, considerando situações distintas de ângulo de pressão, ângulo entre os eixos, tipo
de dentes, etc. Nestas circunstâncias, se necessário, sugere-se uma consulta específica.

a.6) a tensão admissível do material adotado deve ser obtida da tabela apresentada no tópico
referente a engrenagens cilindricas de dentes retos.
a.7) para fadiga, consultar também, o texto referente a engrenagens cilindricas de dentes retos.

b) Critério da pressão (durabilidade superficial)

Pu
σc = Cp. ≤ Sfsup (06)
Cv.b.dp.I
Para o presente critério, repete-se a equação geral AGMA, anteriormente
apresentada para engrenagens cilindricas de dentes retos, porém com pequenas
considerações adicionais, entre as quais:
b.1) o fator geométrico “I” deve ser determinado a partir da figura (05) a seguir (figura 13.26 do
texto original);

Figura 05 – Fator geométrico para engrenagens cônicas

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b.2) para o cálculo da força tangencial, deve-se considerar a velocidade tangencial referente ao
diâmetro médio da engrenagem;
b.3) para o cálculo do fator de velocidade, ver engrenagens cilíndricas de dentes retos (Kv =
Cv);
b.4) o cálculo do coeficiente elástico (Cp) deve ser feito considerando o contato direto de 2
(duas) esferas (e não mais de dois cilindros), conforme visto anteriormente. Assim, a equação
definida anteriormente para o cálculo deste parâmetro não tem validade, neste caso, e o
mesmo deve ser definido a partir da tabela 02 (tab. 13.10 do texto original); e
b.5) o cálculo do limite superficial de fadiga (Sfsup) deve ser feito pela mesma equação
apresentada para as engrenagens cilíndricas de dentes retos.

Tabela 02 – Coeficiente elástico para engrenagens cônicas

4. NÚMERO MÍNIMO DE DENTES

Conforme visto anteriormente, o fenômeno da interferência deve, sempre que


possível, ser evitado quando do projeto de um sistema de transmissão por engrenagens.
Assim, para o caso específico de engrenagens cônicas, sugere-se atender o recomendado na
tabela 03, quanto a combinação do número mínimo de dentes para o pinhão e para a coroa.

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Tabela 03 – Número mínimo de dentes para engrenagens cônicas

Número mínimo de dentes Pinhão 16 15 14 13


Coroa 16 17 20 30

Conforme visto na primeira parte do assunto engrenagens, existem outras tantas


modalidades de engrenagens cônicas, como as cônicas hipoidais, por exemplo. Porém, o presente
trabalho não contempla tais situações, cabendo ao leitor, se necessário, um aprofundamento maior
sobre o assunto. Deve-se registrar, porém, que a metodologia de cálculo a ser empregada para esses
casos, segue as mesmas etapas e/ou considerações apresentadas neste material.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. – SHIGLEY, Joseph Edward – Mechanical Engineering Design, McGraw-Hill.


2 - SHIGLEY, Joseph Edward – Elementos de Maquinas, editora LTC – Livros Técnicos e científicos
Editora s/a.
3 - SMITH Neto, Prof. Dr. Perrin – Engrenagens, Pontifícia universidade Católica – MG, IPUC –
Engenharia Mecânica Ênfase Mecatrônica, Elementos de Maquinas.
http://www.mecanica.pucminas.br/elementos.

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