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Introdução 1

S é r i e S U S T E N TA B I L I D A D E

Energia Nuclear
e Sustentabilidade

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2 Energia Nuclear e Sustentabilidade

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Introdução 3

S é r i e S U S T E N TA B I L I D A D E

José Goldemberg
Coordenador

Energia Nuclear
e Sustentabilidade
VOLUME 10

LEONAM DOS SANTOS GUIMARÃES


JOÃO ROBERTO LOUREIRO DE MATTOS

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4 Energia Nuclear e Sustentabilidade

Energia Nuclear
© 2010 Leonam dos Santos Guimarães
João Roberto Loureiro de Mattos
Editora Edgard Blucher Ltda.

Ficha Catalográfica
Rua Pedroso Alvarenga, 1.245, 4-º andar Guimarães, Leonam dos Santos
04531-012 – São Paulo – SP – Brasil Energia nuclear e sustentabilidade / Leonam
Tel.: 55 (11) 3078-5366 dos Santos Guimarães; João Roberto Loureiro
editora@blucher.com.br de Mattos. -- São Paulo: Blucher, 2010. --
www.blucher.com.br (Série sustentabilidade; v. 10 / José
Goldemberg, coordenador)

ISBN 978-85-212-0571-5
Segundo Novo Acordo Ortográfico, conforme 5. ed.
do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, 1. Desenvolvimento sustentável 2. Energia
Academia Brasileira de Letras, março de 2009. nuclear 3. Física nuclear 4. Política nuclear
5. Poluição radioativa I. Mattos, João Roberto
Loureiro. II. Goldemberg, José. III. Título.
IV. Série.
É proibida a reprodução total ou parcial por quaisquer
meios, sem autorização escrita da Editora. 10-12157 CDD-333.7924
Todos os direitos reservados pela Índices para catálogo sistemático:
Editora Edgard Blücher Ltda. 1. Energia nuclear e sustentabilidade:
Economia  333.7924

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Introdução 5

Apresentação
Prof. José Goldemberg
Coordenador

O conceito de desenvolvimento sustentável formulado pela Comis-


são Brundtland tem origem na década de 1970, no século passado,  que
se caracterizou por um grande pessimismo sobre o futuro da civilização
como a conhecemos. Nessa época, o Clube de Roma – principalmente
por meio do livro The limits to growth [Os limites do crescimento]
– analisou as consequências do rápido crescimento da população mun-
dial sobre os recursos naturais finitos, como havia sido feito em 1798,
por Thomas Malthus, em relação à produção de alimentos.  O argu-
mento é o de que a população mundial, a industrialização, a poluição e
o esgotamento dos recursos naturais aumentavam exponencialmente,
enquanto a disponibilidade dos recursos aumentaria linearmente. As
previsões do Clube de Roma pareciam ser confirmadas com a “crise do
petróleo de 1973”, em que o custo do produto aumentou cinco vezes,
lançando o mundo em uma enorme crise financeira. Só mudanças drás-
ticas no estilo de vida da população permitiriam evitar um colapso da
civilização, segundo essas previsões.
A reação a essa visão pessimista veio da Organização das Nações
Unidas que, em 1983, criou uma Comissão presidida pela Primeira Mi-
nistra da Noruega, Gro Brundtland, para analisar o problema. A solução
proposta por essa Comissão em seu relatório final, datado de 1987, foi
a de recomendar um padrão de uso de recursos naturais que atendesse
às atuais necessidades da humanidade, preservando o meio ambien-

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6 Energia Nuclear e Sustentabilidade

te, de modo que as futuras gerações poderiam também atender suas


necessidades. Essa é uma visão mais otimista que a visão do Clube de
Roma e foi entusiasticamente recebida.
Como consequência, a Convenção do Clima, a Convenção da Biodi-
versidade e a Agenda 21 foram adotadas no Rio de Janeiro, em 1992,
com recomendações abrangentes sobre o novo tipo de desenvolvimen-
to sustentável. A Agenda 21, em particular, teve uma enorme influência
no mundo em todas as áreas, reforçando o movimento ambientalista.
Nesse panorama histórico e em ressonância com o momento que
atravessamos, a Editora Blucher, em 2009, convidou pesquisadores
nacionais para preparar análises do impacto do conceito de desenvol-
vimento sustentável no Brasil, e idealizou a Série Sustentabilidade,
assim distribuída:
1. População e Ambiente: desafios à sustentabilidade
Daniel Joseph Hogan/Eduardo Marandola Jr./Ricardo Ojima
2. Segurança e Alimento
Bernadette D. G. M. Franco/Silvia M. Franciscato Cozzolino
3. Espécies e Ecossistemas
Fábio Olmos
4. Energia e Desenvolvimento Sustentável
José Goldemberg
5. O Desafio da Sustentabilidade na Construção Civil
Vahan Agopyan/Vanderley Moacyr John
6. Metrópoles e o Desafio Urbano Frente ao Meio Ambiente
Marcelo de Andrade Roméro/Gilda Collet Bruna
7. Sustentabilidade dos Oceanos
Sônia Maria Flores Gianesella/Flávia Marisa Prado Saldanha-
Corrêa
8. Espaço
José Carlos Neves Epiphanio/Evlyn Márcia Leão de Moraes
Novo/Luiz Augusto Toledo Machado
9. Antártica e as Mudanças Globais: um desafio para a humanidade
Jefferson Cardia Simões/Carlos Alberto Eiras Garcia/Heitor
Evangelista/Lúcia de Siqueira Campos/Maurício Magalhães
Mata/Ulisses Franz Bremer
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Leonam dos Santos Guimarães/João Roberto Loureiro de Mattos

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Introdução
Apresentação 7

O objetivo da Série Sustentabilidade é analisar o que está sendo


feito para evitar um crescimento populacional sem controle e uma in-
dustrialização predatória, em que a ênfase seja apenas o crescimento
econômico, bem como o que pode ser feito para reduzir a poluição e os
impactos ambientais em geral, aumentar a produção de alimentos sem
destruir as florestas e evitar a exaustão dos recursos naturais por meio
do uso de fontes de energia de outros produtos renováveis.
Este é um dos volumes da Série Sustentabilidade, resultado de
esforços de uma equipe de renomados pesquisadores professores.

Referências bibliográficas
Matthews, Donella H. et al. The limits to growth. New York: Universe
Books, 1972.
WCED. Our common future. Report of the World Commission on Envi-
ronment and Development. Oxford: Oxford University Press, 1987.

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8 Energia Nuclear e Sustentabilidade

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Introdução 9

Prefácio
Leonam dos Santos Guimarães
João Roberto Loureiro de Mattos

A indústria mundial de geração elétrica nuclear já acumulou mais


de 14.000 reatores/ano de experiência operacional do final da década
de 1950 até hoje. São 436 usinas nucleares distribuídas por 34 países,
porém concentrada naqueles mais desenvolvidos, que respondem atual-
mente por 16% de toda geração elétrica mundial.
Dezesseis países dependem da energia nuclear para produzir mais
de um quarto de suas necessidades de eletricidade. França e Lituânia
obtêm cerca de três quartos de sua energia elétrica da fonte nuclear,
enquanto Bélgica, Bulgária, Hungria, Eslováquia, Coréia do Sul, Suécia,
Suíça, Eslovênia e Ucrânia mais de um terço. Japão, Alemanha e Fin-
lândia geram mais de um quarto, enquanto os Estados Unidos cerca de
um quinto.
Apesar de poucas unidades terem sido construídas nos últimos 15
anos, as usinas nucleares existentes estão produzindo mais eletricida-
de. O aumento na geração nos últimos sete anos equivale a 30 novas
usinas e foi obtido pela repotencialização e melhoria do desempenho
das unidades existentes.
Hoje, entretanto, existem renovadas perspectivas para novas usinas
tanto em países com um parque nuclear estabelecido como em alguns
novos países. Os países BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) são parti-
cularmente importantes nesse contexto.

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10 Energia Nuclear e Sustentabilidade

Encontram-se em construção no mundo 53 usinas (Angra 3 é uma


delas), às quais se somam encomendas firmes para outras 135. Além
destas, mais 295 estão sendo consideradas até 2030 pelo planejamento
energético de diversos países (dentre os quais o Brasil que planeja de
4 a 8 usinas adicionais nesse horizonte de tempo).
A geração elétrica nuclear deve ser colocada no contexto mais am-
plo do desenvolvimento energético mundial. Esse tema retornou ao de-
bate público após ter ficado muitos anos à margem depois das crises do
petróleo dos anos 1970. Isso se deve a preocupações renovadas sobre a
segurança do fornecimento de óleo e gás em longo prazo, indicada pela
significativa escalada de preços, mas também pelas preocupações com
as consequências ambientais da contínua exploração em massa dos re-
cursos em combustíveis fósseis.
Baseado nos princípios do desenvolvimento sustentável, as mais re-
centes análises de ciclo de vida das várias opções de geração elétrica
não conseguem elaborar um cenário para os próximos 50 anos no qual
não haja uma significativa participação da fonte nuclear para atender
às demandas de geração de energia concentrada, juntamente com as
renováveis, para atender às necessidades dispersas.
A alternativa a isto seria exaurir os combustíveis fósseis, aumen-
tando brutalmente a emissão de gases de efeito estufa, ou negar as
aspirações de melhoria de qualidade de vida para bilhões de pessoas da
geração de nossos netos.

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Introdução 11

Conteúdo

Introdução, 13

1 A contribuição da opção nuclear numa economia menos


dependente do carbono, 17
1.1 O desenvolvimento econômico e a demanda mundial por
energia elétrica, 17
1.2 A matriz elétrica mundial e o seu impacto ambiental, 28
1.3 A contribuição da opção nuclear para mitigar os efeitos
ambientais, 42
1.4 O papel da geração nuclear na matriz elétrica brasileira, 52

2 Combustíveis nucleares e sustentabilidade, 63
2.1 Exploração, 66
2.2 Processo de conversão de U3O8 em UF6, 68
2.3 Enriquecimento, 69
2.4 Os combustíveis nucleares e suas reservas conhecidas, 74
2.5 Horizonte para 2030 considerando as tecnologias atuais, 76
2.6 O Brasil e o seu capital energético nuclear, 80
2.7 Evolução tecnológica e sustentabilidade, 84

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12 Energia Nuclear e Sustentabilidade

3 Aspectos de segurança e confiabilidade, 89


3.1 Acidentes nucleares, 89
3.2 Experiência operacional acumulada, 95
3.3 Reatores atuais e de Geração IV, 97

4 Competitividade e custo, 107


4.1 Preços dos combustíveis para gerar eletricidade, 107
4.2 Evolução de preços considerando aumento de demanda e
incorporação de custos ambientais, 110

5 Rejeitos radioativos, 113


5.1 Gestão dos rejeitos de alta atividade dos combustíveis
usados: soluções atuais, 116
5.2 Reciclagem de combustível usado, 118
5.3 Disposição de combustíveis usados e outros rejeitos de alta
atividade, 119
5.4 Novas tecnologias, 122

6 Resistência à proliferação, 125
6.1 Desenvolvimento da tecnologia nuclear e proliferação, 125
6.2 Desarmamento e esforços contra a proliferação
nuclear, 127

7 Aceitação pública, 131


7.1 Situação e tendências atuais, 131
7.2 Perspectivas futuras, 132

8 Considerações finais, 137

9 Anexo, 143

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Introdução 13

Introdução

A humanidade não pode andar para trás. Uma população mundial


cada vez maior e mais urbana vai exigir uma vasta quantidade de ener-
gia para o fornecimento de água doce para fábricas, casas e transpor-
te, bem como para suporte a infraestrutura para nutrição, educação e
saúde.
Atender a essas necessidades vai exigir que se lance mão de todas
as fontes disponíveis. Paralelamente, entretanto, a matriz energética
mundial deve evoluir com velocidade, limitando o uso indiscriminado
de combustíveis fósseis. A redução do seu consumo irá preservar o
meio ambiente – e esses mesmos recursos não renováveis – para as
gerações futuras.
A estabilização do acúmulo de gases atmosféricos causadores do
efeito estufa exige que as emissões mundiais sejam cortadas pela me-
tade. Esse desafio torna-se ainda maior em face da necessidade de au-
mentar o padrão de vida em países mais pobres. Mesmo que os países
desenvolvidos abracem tecnologias de conservação e energia limpa, as
enormes populações desses países logo irão emitir mais gases do que
são hoje produzidos no mundo industrial. Brasil, Índia e China, que
juntos constituem 50% da humanidade, estão avançando economica-
mente de forma muito rápida. Nenhuma questão é mais importante na
agenda mundial do que refletir sobre como essas nações e outros paí-

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14 Energia Nuclear e Sustentabilidade

ses em desenvolvimento atenderão às suas necessidades energéticas,


intensificadas rapidamente pelo desenvolvimento econômico e social.
Encontra-se em jogo o futuro da biosfera.
De forma a fazer frente a esse inevitável aumento das emissões, mas
garantindo a redução no total global, os países industrializados deverão
cortar suas emissões em pelo menos 75%. Para estabilizar emissões e
ao mesmo tempo expandir o suprimento de energia, o mundo neces-
sita urgentemente da introdução maciça de tecnologias de geração de
energia com baixas emissões.
As megacidades do futuro poderão funcionar com poucas emissões
diretas pelo uso intensivo da eletricidade, seja por baterias recarre-
gáveis, seja por células de combustível usando hidrogênio produzido
por hidrólise da água. Sendo a eletricidade a maneira mais efetiva de
distribuir energia, o desafio será gerar grande suprimento de energia
elétrica de forma limpa.
A energia nuclear continua a ser uma questão controversa para as
políticas públicas sobre a energia e o ambiente em virtude de fatores
ligados ao gerenciamento de rejeitos, às consequências de acidentes
severos, à proliferação nuclear horizontal e à competitividade econô-
mica. As questões referentes às mudanças climáticas e à segurança de
abastecimento de energia elétrica têm trazido uma nova lógica para o
seu ressurgimento na agenda política internacional.
Recentes orientações de política nacional em alguns países mostram
que o renascimento da indústria nucleoelétrica não é apenas wishful
thinking ou lobbying do setor. As tecnologias de geração de energia
elétrica devem ser analisadas conforme seu potencial de contribuição
para os objetivos ligados à sustentabilidade, incluindo a prevenção de
mudanças climáticas e a expansão e segurança de fornecimento. Isso
requer uma avaliação equilibrada dos seus riscos ambientais, econômi-
cos e sociais.
A geração elétrica nuclear tem sido até agora, em grande medida,
evitada, basicamente por causa do fato de muitos cientistas e políticos
excluírem essa opção a priori, por considerarem a questão nuclear
fora de seu domínio de competência ou por se submeterem à influência
da opinião pública.
O presente trabalho pretende contribuir para o preenchimento desse
hiato, reestruturando a questão da sustentabilidade da energia nuclear

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Introdução 15

de forma dinâmica. A energia nuclear possui, é claro, características


de risco que são muito distintas das características dos combustíveis
fósseis e muito maior potencial de sensibilização da opinião pública no
que se refere à maioria das energias renováveis. Deve-se entretanto
lembrar que uma das razões para essa última constatação decorre do
fato de as energias renováveis ainda não terem sido aplicadas em gran-
de escala global.
Ainda que a geração elétrica nuclear per se possa ser avaliada como
um meio que não atende a alguns requisitos essenciais para estabele-
cer os caminhos da energia sustentável numa perspectiva multimilenar
(fato que também pode ocorrer numa avaliação das energias renová-
veis nessa mesma perspectiva, em especial quando se consideram as
incertezas quanto aos reais efeitos em longo prazo das mudanças cli-
máticas), ela pode desempenhar um papel transitório no sentido de
estabelecer sistemas energéticos sustentáveis de forma perene. Du-
rante essa fase transitória, alguns de seus aspectos mais problemáticos
podem ser aprimorados significativamente no sentido de uma maior
sustentabilidade, conferindo-lhe, então, um papel potencial para além
desse período de transição.
Esse potencial de contribuição significativa para o desenvolvimento
sustentável da humanidade se prende, objetivamente, a fatos concre-
tos e verificáveis: seu combustível estará disponível por muitos séculos,
seus resultados em termos de desempenho e segurança operacional
são excelentes e com tendências a melhoria contínua, seu impacto
ambiental é muito limitado, seu uso preserva os recursos fósseis de
grande valor para as gerações futuras, seus custos são competitivos e
declinantes com o avanço tecnológico e seus rejeitos são gerados em
volume muito pequeno, permitindo um gerenciamento seguro, isto é,
podem ser isolados do público e do ambiente a longo termo.

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16 Energia Nuclear e Sustentabilidade

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A contribuição da opção nuclear numa economia menos dependente do carbono 17

1 A contribuição da opção nuclear numa


economia menos dependente do carbono

1.1 O desenvolvimento econômico e a demanda mundial por


energia elétrica
A energia elétrica é um insumo fundamental para o desenvolvimen-
to econômico e para a melhoria da qualidade de vida das populações.
Os serviços de eletricidade habilitam o atendimento das necessidades
humanas básicas, como alimentação e abrigo, e contribuem para o de-
senvolvimento social, melhorando a educação, a saúde e a segurança
pública. O acesso à eletricidade e o consumo por habitante são fatores
essenciais para o desenvolvimento humano.
Estimativas do ano de 20021 indicavam que 1,6 bilhão de pessoas
nos países em desenvolvimento não tinham acesso à eletricidade em
suas casas, representando um pouco mais de um quarto da população
do mundo. A maioria das populações privadas de acesso à eletricidade
encontra-se no sul da Ásia e na África subsaariana.

_
1
Agência Internacional de Energia (AIE). World Energy Outlook 2004. Paris. ca-
pítulo 10. pp. 329-355. Disponível em: <http://lysander.sourceoecd.org/vl=4592997/
cl=37/nw=1/rpsv/cgi-bin/fulltextew.pl?prpsv=/ij/oecdthemes/99980053/v2004n22/s1/
p1l.idx> Acesso em: 10 set. 2009.

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As projeções atuais para o ano de 20302 indicam um aumento na


utilização da eletricidade em todas as regiões do mundo. Os países do
Oriente Médio e da América Latina atingirão o mesmo estágio de desen-
volvimento em energia que os países da Organização para Cooperação
e Desenvolvimento Econômico (OCDE)3 tinham no início deste século
XXI. A maior parte da África subsaariana e do sul da Ásia continuará,
entretanto, muito atrasada. No cenário de referência do World Nuclear
Energy 2009 (WEO2009), o número de pessoas sem eletricidade em
2030 deverá reduzir-se em 400 milhões em relação ao ano de 20024,
conforme mostrado na Figura 1.1.
Estudos realizados pela Agência Internacional de Energia (AIE) procu-
raram explicitar a participação da variável energia na produção, de modo
a estimar sua contribuição para o crescimento do Produto Interno Bruto
(PIB) em vários países que tiveram um rápido crescimento, entre os anos
1980 e 19905. Os Estados Unidos da América (EUA) foram incluídos na
amostra para efeito de comparação. Os resultados estão resumidos na Ta-
bela 1.1. Em todos os países estudados, exceto na China, a combinação de
capital, trabalho e energia teve uma contribuição maior para o crescimento
econômico do que o aumento da produtividade6. Esse estudo mostra que
a energia contribuiu significativamente para o crescimento da economia
em todos os países e foi o principal motor para o crescimento no Brasil,

_
2
Agência Internacional de Energia (AIE). International Energy Outlook 2009. Paris,
2009. 274p. Disponível em: <http://www.eia.doe.gov/oiaf/ieo/pdf/0484(2009).pdf>.
Acesso em: 05 jun. 2009.
3
A OCDE é uma organização internacional de países comprometidos com os princí-
pios da democracia representativa e a economia de livre mercado. Compõe-se de 30
membros: Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Coreia do Sul, Dinamarca,
Eslováquia, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Grécia, Hungria, Irlanda,
Islândia, Itália, Japão, Luxemburgo, México, Noruega, Nova Zelândia, Países Baixos,
Polônia, Portugal, Reino Unido, República Checa, Suécia, Suíça e Turquia.
4
Agência Internacional de Energia (AIE). World Energy Outlook 2004, Paris, capítu-
lo 10, p. 329-355. Disponível em: <http://lysander.sourceoecd.org/vl=4592997/cl=37/
nw=1/rpsv/cgi-bin/fulltextew.pl?prpsv=/ij/oecdthemes/99980053/v2004n22/s1/p1l.
idx>. Acesso em: 10 set. 2009.
5
Agência Internacional de Energia (AIE). World Energy Outlook 2004. Paris, capítu-
lo 10, p. 329-355. Disponível em: <http://lysander.sourceoecd.org/vl=4592997/cl=37/
nw=1/rpsv/cgi-bin/fulltextew.pl?prpsv=/ij/oecdthemes/99980053/v2004n22/s1/p1l.
idx>. Acesso em: 10 set. 2009.
6
Há dúvidas sobre a exatidão dos dados oficiais do PIB da China. Muitos estudos têm
concluído que as estatísticas oficiais exageram as taxas de crescimento de produtivida-
de e subestimam o PIB. Isso poderia explicar por que o crescimento da produtividade da
China é muito elevado em relação a outros países. (Fonte: WEO2004.)

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A contribuição da opção nuclear numa economia menos dependente do carbono 19

China e
Ásia oriental
Oriente Sul 195,1 72,5
África do norte médio da Ásia
1,7 1,6
21,4 5,1 413,9 455,6
África
subsaariana
587,1 618,1
América
Latina
34,1 12,8

Figura 1.1 – Privação de eletricidade (milhões de pessoas).


Fonte: Adaptado de World Energy Outlook 20097.

na Turquia e na Coreia. Sua contribuição foi menor na Índia, na China e


nos Estados Unidos. Os resultados sugerem que a energia desempenha
um papel maior nos países em estágio intermediário de desenvolvimento
econômico, pelo fato de a produção industrial ter, em geral, uma grande
contribuição para o crescimento da economia nessa fase.
Para entender melhor a relação entre o uso de energia e o desenvolvi-
mento humano, a AIE identificou três indicadores principais da utilização
da energia no desenvolvimento dos países: o consumo per capita, a pro-
porção dos serviços modernos de energia no consumo total de energia e
a proporção da população com acesso à eletricidade nas suas casas8.

_
7
Agência Internacional de Energia (AIE). World Energy Outlook 2009 – Key Graphs.
Disponível em: <http://www.iea.org/country/graphs/weo_2009/fig2-10.jpg>. Acesso
em: 10 nov. 2009.
8
Agência Internacional de Energia (AIE). World Energy Outlook 2004. Paris, capítu-
lo 10, p. 329-355. Disponível em: <http://lysander.sourceoecd.org/vl=4592997/cl=37/
nw=1/rpsv/cgi-bin/fulltextew.pl?prpsv=/ij/oecdthemes/99980053/v2004n22/s1/p1l.
idx>. Acesso em: 10 set. 2009.

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20 Energia Nuclear e Sustentabilidade

Tabela 1.1 – Contribuição de fatores de produção e produtividade para o crescimento


do PIB

Média anual do (% do crescimento do PIB)


País crescimento do Fator total de
PIB (%) Energia Trabalho Capital
produtividade
Brasil 2,4 77 20 11 –8
China 9,6 13 7 26 54
Índia 5,6 15 22 19 43
Indonésia 5,1 19 34 12 35
Coreia 7,2 50 11 16 23
México 2,2 30 60 6 4
Turquia 3,7 71 17 15 –3
EUA 3,2 11 24 18 47
Fonte: Análise da AIE baseada em bancos de dados do Banco Mundial (2004).

1. 1.1 Consumo per capita de energia


A quantidade absoluta de energia utilizada, em média, para cada
indivíduo tem sido historicamente um fator-chave no desenvolvimento
humano durante os primeiros estágios desse processo. Há uma ligação
muito forte entre o consumo per capita de energia (comercial e não
comercial) e o Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Uni-
das (IDH) de todos os países (Figura 1.2). A ligação é particularmente
forte entre os países não pertencentes à OCDE com IDH inferior a 0,8.
Poucos países com uso per capita de energia de menos de 2 toneladas
equivalentes de petróleo têm um IDH maior que 0,7. Uma vez que um
país tenha atingido um nível razoavelmente alto de IDH, variações no
seu uso per capita de energia devem-se, em grande parte, a fatores es-
truturais, geográficos e climáticos. Para os países em desenvolvimento
mais pobres, no entanto, a situação é clara: IDHs maiores seguem jun-
tos com o aumento do uso per capita de energia.

1.1.2 Transição para os serviços modernos de energia


Acesso aos serviços modernos de energia é um elemento indispen-
sável do desenvolvimento humano sustentável. O acesso contribui para
o crescimento econômico e a renda familiar e, também, para a melhoria

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A contribuição da opção nuclear numa economia menos dependente do carbono 21

1,0

0,9

0,8

0,7

0,6

0,5
IHD

0,4

0,3
OCDE
0,2
Não OCDE
0,1

0,0
0 2 4 6 8 10 12 14
Demanda de energia primária per capita (tep/hab.)9

Figura 1.2 – IDH e demanda de energia per capita, 2002.


Fonte: Adaptado de análise da AIE relativa ao PNUD (2004)10.

da qualidade de vida, que vem com uma melhor educação e melhores


serviços de saúde e segurança pública. Sem acesso adequado à moder-
na energia comercial, os países pobres podem ficar presos em um cír-
culo vicioso de pobreza, de instabilidade social e de subdesenvolvimen-
to. O aumento da utilização dos serviços modernos de energia pelas
famílias é um elemento-chave no processo mais amplo do desenvolvi-
mento humano, em geral envolvendo a industrialização, a urbanização
e o aumento da mobilidade social. Os fatos confirmam esta afirmação:
a participação de serviços modernos na utilização global de energia
está fortemente correlacionada com indicadores de desenvolvimento
humano (Tabela 1.2)11.
O World Energy Outlook 2002 enfatiza que o uso intensivo e ine-
ficiente da biomassa tradicional e dos resíduos para fins energéticos é
uma característica da pobreza e uma das causas da sua persistência.
Combustíveis tradicionais incluem carvão, madeira, palha, resíduos
_
9
1 tep é igual a 41,868 gigajoules (GJ) ou 11,630 MWh. Fonte: AIE.
10
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) (2004), Relatório
do Desenvolvimento Humano 2004. PNUD, Lisboa. Disponível em: <HTTP://www.
pnud.org.br/rdh/>. Acesso em: 28 out. 2009.
11
WEO2004.

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22 Energia Nuclear e Sustentabilidade

Tabela 1.2 – Utilização de energia comercial e os indicadores de desenvolvimento


humano, 2002
Participação da energia comercial no total do consumo de
energia
Condições
Indicadores

0 – 20% 21 – 40% 41 – 100%

Esperança média de vida ao nascer (anos) 59,8 69 69,5

Probabilidade de 40 (%) de não sobreviver ao nascer 21,7 9,4 9,1

Taxa bruta de matrícula escolar 52,4 65,4 76,9

Crianças com baixo peso (% da população) 40,9 15,1 11,9

População sem acesso a água tratada (%) 20,9 22,9

Número de países na amostra 30 7 27

Porcentagem da população total da amostra 42% 39% 17%

Nota: Os indicadores são médias ponderadas da população com base nos 64 países em desenvolvimento para os
quais existem dados disponíveis.
Fonte: Adaptado da análise da AIE relativa ao PNUD (2004).

agrícolas e esterco. A maioria desses combustíveis não é comerciali-


zada. As pessoas pobres nas zonas rurais, sobretudo mulheres e crian-
ças, empregam muito do seu tempo na tarefa de recolher lenha. Essa
prática conduz em geral à escassez e a danos ecológicos em áreas de
alta densidade populacional. O uso de energia da biomassa pode re-
duzir a produtividade agrícola, uma vez que os resíduos agrícolas e o
esterco que são queimados em fornos poderiam ser utilizados como
fertilizantes. A biomassa, quando queimada de forma ineficiente, pode
ser uma das principais causas da poluição por fumaça nos ambientes
domésticos. A Organização Mundial de Saúde estima que nos países em
desenvolvimento morram, a cada ano, 2,5 milhões de mulheres e crian-
ças pela fumaça de fogões que utilizam a biomassa tradicional como
combustível. Mais da metade está na China e na Índia12.
Conforme aumenta a renda, as famílias nos países em desenvolvi-
mento mudam para os serviços modernos de energia aplicados à coc-
ção de alimentos, ao aquecimento, à iluminação e para utilização de

_
12
Agência Internacional de Energia (AIE). World Energy Outlook 2002. Paris, ca-
pítulo 13, p. 368. Disponível em: <http://titania.sourceoecd.org/vl=2224027/cl=66/
nw=1/rpsv/cgi-bin/fulltextew.pl?prpsv=/ij/oecdthemes/99980053/v2002n16/s1/p1l.
idx>. Acesso em: 20 ago. 2009.

10 energia nuclear.indd 22 11.11.10 10:37:33


A contribuição da opção nuclear numa economia menos dependente do carbono 23

75% ou mais da população 5% ou menos da população


vivendo com menos de 2 US$/dia vivendo com menos de 2 US$/dia
Biomassa: 7%
Petróleo, outros: 18%
Gás: 12%

GLP e querosene: 4%
Petróleo, outros: 45%
Eletricidade: 7% Carvão: 12%

Biomassa: 60% Carvão: 7%

Gás: 4%
Eletricidade: 19%
GLP e querosene: 5%

Figura 1.3 – Consumo final de energia per capita por tipo de combustível e proporção de pessoas na pobreza nos países
em desenvolvimento, 2002.
Fonte: Adaptado da análise da AIE relativa ao PNUD (2004).

eletrodomésticos. A rapidez com que isso ocorre depende da modi-


cidade do custo dos serviços modernos de energia, bem como da sua
disponibilidade e das preferências culturais. Na maioria dos casos esse
processo é gradual. De forma geral, as pessoas inicialmente substituem
os combustíveis tradicionais por combustíveis modernos intermediários,
tais como carvão e querosene e, finalmente, por combustíveis avança-
dos, como o gás liquefeito de petróleo, o gás natural e a eletricidade
(Figura 1.3).

1.1.3 Acesso à eletricidade


O acesso à eletricidade é vital para o desenvolvimento humano. Na
Figura 1.4 estão mostradas as parcelas de consumo de eletricidade per
capita, classificadas conforme o Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH) nos países da OCDE e nos países não pertencentes à OCDE. A
correlação é fortemente não linear. A eletricidade é, do ponto de vista
prático, indispensável para determinadas atividades, tais como ilumina-
ção, refrigeração e funcionamento de eletrodomésticos. Nesses casos,
não pode ser facilmente substituída por outras formas de energia. Se-
gundo a AIE, o IDH atinge um patamar quando o consumo per capita
de eletricidade atinge um nível de cerca de 5.000 kWh por ano13. O
_
13
WEO2004.

10 energia nuclear.indd 23 11.11.10 10:37:33


24 Energia Nuclear e Sustentabilidade

1,0
Austrália Estados Unidos Canadá Noruega
Argentina Polônia
0,9
México
Índice de desenvolvimento humano (IDH)

Japão Kuwait
0,8
França
Brasil Federação Russa
0,7 Holanda
China Arábia Saudita Itália
0,6 Índia África do Sul Reino Unido
Paquistão Alemanha
0,5 Israel
República da Coreia
0,4 Zâmbia

0,3 Níger

0,2

0,1

0,0
0 2.500 5.000 7.500 10.000 12.500 15.000 17.500 20.000 22.500 25.000 27.500
Consumo de eletricidade (kWh/pessoa × ano)

Figura 1.4 – Relação entre o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e o consumo per capita de eletricidade, 2003 – 2004.
Fonte: Adaptado da análise do PNUD (2006) pelo InterAcademy Council14.
Nota: A média mundial do IDH é igual a 0,741. O consumo médio de eletricidade no mundo é de 2.490 kWh por
pessoa/ano, que se traduz em cerca de 9 gigajoules (GJ)/pessoa/ano [10.000 quilowatts (kWh) = 36 GJ].

consumo acima desse limiar não está necessariamente ligado a um IDH


mais elevado. Isso fica explícito pela comparação entre o consumo de
eletricidade dos cidadãos dos Estados Unidos – com uma taxa de cerca
de 14.000 kWh/por pessoa/ano – e o consumo dos cidadãos europeus,
que gozam de padrões de vida semelhantes e utilizam, em média, ape-
nas 7.000 kWh/por pessoa/ ano15/16.

1.1.4 Projeção da demanda por eletricidade em 2030


Segundo o International Energy Outlook 2009 (IEO2009), a gera-
ção mundial de eletricidade terá um aumento médio anual de 2,4% ao ano
entre 2006 e 2030, considerando o cenário de referência do IEO2009. As

_
15
O consumo per capita de eletricidade em alguns países europeus, como Suécia e
Noruega, é maior do que nos Estados Unidos (IAC, 2008).
16
InterAcademy Council (IAC). Lighting the Way Toward Sustainable Energy Fu-
ture. Amsterdã, 2008, Capítulo 1, p. 14. Disponível em: <http://www.interacade-
mycouncil.net/Object.File/Master/12/060/1.%20The%20 Sustainable %20Energy%20
Challenge.pdf>. Acesso em: 14 set. 2009.
14
InterAcademy Council (IAC). Lighting the Way Toward Sustainable Energy Fu-
ture. Amsterdã, 2008, Capítulo 1, p. 14. Disponível em: <http://www.interacade-
mycouncil.net/Object.File/Master/12/060/1.%20The%20Sustainable %20Energy%20
Challenge.pdf>. Acesso em: 14 set. 2009.

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A contribuição da opção nuclear numa economia menos dependente do carbono 25

Índice, 1990 = 1
3,00
Histórico Projeções

2,50
Geração líquida
2,00 de eletricidade

1,50 Consumo total


de energia
1,00

0,50

0,00
1990 2000 2006 2010 2020 2030

Figura 1.5 – Crescimento da geração de energia elétrica e do consumo total da energia mundial 1990-2030.
Fontes: IEO2009. Histórico: Energy Information Administration (EIA), International Energy Annual 2006
(jun.-dez. 2008). Disponível em: <www.eia.doe.gov/iea>.Acesso em: 6 out. 2009. Projeções: EIA, World Energy
Projections Plus (2009).

projeções indicam que a eletricidade deverá aumentar sua participação


no fornecimento da demanda total de energia no mundo e é a forma de
uso final de energia com mais rápido crescimento em todo o mundo no
médio prazo. Desde 1990 o crescimento da produção líquida da geração
de eletricidade foi superior ao crescimento do consumo total de energia
(2,9% ao ano e 1,9% ao ano, respectivamente), e o crescimento da de-
manda por eletricidade continua a superar o crescimento do consumo
total de energia no período projetado (Figura 1.5).
A geração de eletricidade no mundo aumenta em 77% no caso de
referência, evoluindo de 18 trilhões de kWh em 2006 para 23,2 trilhões
de kWh em 2015 e 31,8 trilhões de kWh em 2030 (Tabela 1.3). Embora
seja esperado que a recessão mundial iniciada em 2008 amorteça a de-
manda por eletricidade no curto prazo, a projeção do caso referência
do IEO2009 antecipa que a recessão não será prolongada e espera uma
tendência de retorno do crescimento na demanda por eletricidade após
2010. O impacto da recessão no consumo de eletricidade é susceptível de
ser sentido mais fortemente no setor industrial como resultado da menor
demanda por produtos manufaturados. A procura no setor de constru-
ção é menos sensível à evolução das condições econômicas do que no
setor industrial porque as pessoas, em geral, continuam a consumir ele-

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26 Energia Nuclear e Sustentabilidade

Tabela 1.3 – Geração líquida de energia elétrica por fonte na OCDE e fora da OCDE,
2006-2030 (Trilhões de kWh)
Mudança
Região 2010 2015 2020 2025 2030 percentual
2006 média
2006-2030
Líquidos 0,3 0,3 0,3 0,3 0,3 0,3 –0,4
Gás natural 2,0 2,2 2,4 2,7 3,0 3,1 1,8
Carvão 3,9 3,9 4,0 4,0 4,0 4,3 0,6
OCDE

Nuclear 2,2 2,3 2,4 2,4 2,5 2,6 0,6


Renováveis 1,6 1,9 2,2 2,5 2,8 2,9 2,5
Total OCDE 9,9 10,6 11,3 11,9 12,6 13,2 1,2
Líquidos 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,1
Gás natural 1,6 2,0 2,5 3,0 3,4 3,7 3,6
Não OCDE

Carvão 3,7 4,8 5,5 6,4 7,8 9,2 3,9


Nuclear 0,4 0,5 0,7 0,9 1,2 1,3 4,8
Renováveis 1,8 2,2 2,7 3,2 3,4 3,8 3,2
Total Não OCDE 8,0 10,0 12,0 14,1 16,3 18,6 3,5
Líquidos 0,9 0,9 0,9 0,9 0,9 0,9 –0,1
Gás natural 3,6 4,2 4,9 5,7 6,4 6,8 2,7
Carvão 7,4 8,7 9,5 10,4 11,8 13,6 2,5
Mundo

Nuclear 2,7 2,8 3,0 3,4 3,6 3,8 1,5


Renováveis 3,4 4,1 4,9 5,7 6,1 6,7 2,9
Total Mundo 18,0 20,6 23,2 26,0 28,9 31,8 2,4
Nota: Os totais podem não ser iguais à soma em virtude do arredondamento independente.
Fontes: 2006: Derivado do Energy Information Administration (EIA), International Energy Annual 2006 (Jun.-
dez. 2008). Disponível em: <www.eia.doe.gov/iea>. Acesso em: 6 out. 2009. Projeções: EIA, World Energy Projec-
tions Plus (2009).

tricidade para aquecimento e resfriamento de ambientes, para cozinhar,


na refrigeração e no aquecimento de água, mesmo em uma recessão.
Em geral, o crescimento da eletricidade nos países da OCDE – onde
os mercados estão bem estabelecidos e os padrões de consumo estão
maduros – é mais lento do que nos países fora da OCDE, onde ainda
existe uma grande demanda reprimida. As altas taxas de crescimento
econômico projetadas para os países em desenvolvimento apoiam um
forte crescimento no aumento da demanda por eletricidade nessas re-
giões do mundo até o final do período de projeção.

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A contribuição da opção nuclear numa economia menos dependente do carbono 27

35,00
Histórico Projeções
Total
30,00

25,00

20,00
Trilhões de kWh

DE
Não OC
15,00 OCDE

10,00

5,00

0,00
1980 1990 2000 2006 2010 2020 2030

Figura 1.6 – Geração líquida de energia elétrica no mundo 1980-2030.


Fontes: Histórico: Energy Information Administration (EIA), International Energy Annual 2006 (jun.-dez. 2008).
Disponível em: <www.eia.doe.gov/iea>. Projeções: EIA, World Energy Projections Plus (2009).

Os países não pertencentes à OCDE consumiram 45% do forneci-


mento total de eletricidade do mundo em 2006, e as suas participa-
ções no consumo mundial devem aumentar ao longo do período de
projeção. Em 2030, os países não membros da OCDE serão responsá-
veis por 58% do consumo mundial de eletricidade, e as participações
dos países da OCDE declinarão para 42% (Figura 1.6). Nos países em
desenvolvimento, um forte crescimento econômico traduz-se em uma
crescente procura por eletricidade. Aumentos na renda per capita
levam a melhores padrões de vida e a um aumento na demanda por
consumo para iluminação, equipamentos eletrodomésticos e crescen-
tes requisitos de energia elétrica no setor industrial. Como resultado,
a produção total de eletricidade nos países não membros da OCDE
aumenta a uma média de 3,5% por ano no caso de referência, liderada
por países da Ásia (incluindo China e Índia), com um aumento anual
médio de 4,4% de 2006 a 2030 (Figura 1.7). Em contraste, a geração
líquida17 entre as nações da OCDE cresce a uma média de 1,2% ao
ano 2006-2030.

_
17
Geração líquida: O valor da produção bruta menos a energia elétrica consumida na
estação geradora (s) na estação de serviço ou auxiliares. Obs.: A eletricidade ne-
cessária para o bombeamento nas plantas é considerada como a eletricidade para a
estação de serviço e é deduzida da geração bruta.

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28 Energia Nuclear e Sustentabilidade

14,00
Histórico Projeções
12,00
Ásia não OCDE
10,00
Oriente Médio
África
Trilhões de kWh

8,00
Américas Central e do Sul
Europa e Eurásia não OCDE
6,00

4,00

2,00

0,00
1980 1990 2000 2006 2010 2020 2030

Figura 1.7 – Geração líquida de energia elétrica, por região, países não membros da OCDE 1980-2030.
Fontes: Histórico: Energy Information Administration (EIA), International Energy Annual 2006 (jun.-dez. 2008).
Disponível em: <www.eia.doe.gov/iea>. Acesso em: 6 out. 2009. Projeções: EIA, World Energy Projections Plus
(2009).

1.2 A matriz elétrica mundial e o seu impacto ambiental


1.2.1 A matriz elétrica mundial
A combinação de combustíveis primários utilizados para gerar ele-
tricidade tem mudado muito ao longo das últimas quatro décadas. O
carvão continua a ser o combustível mais utilizado para a geração de
eletricidade, apesar de a geração nucleoelétrica ter aumentado rapida-
mente a partir da década de 1970 e ao longo da década de 1980, além
de a geração de eletricidade com gás natural ter crescido também ra-
pidamente nos anos 1980 e 1990. O uso do petróleo para a geração de
eletricidade tem diminuído desde meados dos anos 1970, em virtude
do embargo do fornecimento de petróleo por parte dos produtores ára-
bes em 1973-1974 e pela Revolução Iraniana de 1979, que acarretaram
um aumento nos preços do produto para níveis muito superiores aos
dos outros combustíveis.
Embora os preços do petróleo no mundo tenham se contraído de
modo bastante significativo no final de 2008 e em 2009, a alta dos pre-
ços verificada entre 2003 e 2008, combinada com as preocupações so-
bre as consequências das emissões de gases de efeito estufa no am-
biente, renovaram o interesse no desenvolvimento de alternativas para

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A contribuição da opção nuclear numa economia menos dependente do carbono 29

combustíveis fósseis, especificamente a energia nuclear e as fontes de


energia renováveis. Segundo a avaliação da AIE para o caso de referên-
cia IEO2009, não é esperado que os preços do petróleo permaneçam
nos níveis atuais. As economias começam a se recuperar da recessão
global, bem como a demanda para produtos líquidos e outras tipos de
energia. Como consequência, as perspectivas de longo prazo continuam
a melhorar para a geração de eletricidade por energia nuclear e de
fontes renováveis, apoiadas por incentivos governamentais e pela alta
dos preços dos combustíveis fósseis. Na projeção da AIE, o gás natural
e o carvão apresentam o segundo e o terceiro crescimento mais rápido
entre as fontes de energia utilizadas para geração de eletricidade, em-
bora as perspectivas para o carvão, em particular, possam ser alteradas
substancialmente por qualquer legislação futura que vise reduzir ou
limitar o crescimento das emissões de gases com efeito estufa.

Carvão
No caso de referência do IEO2009, o carvão continua a responder
pela maior participação na produção mundial de energia elétrica, por
uma larga margem (Figura 1.8). Em 2006, a produção de carvão foi
responsável por 41% do fornecimento de eletricidade no mundo; em
2030, sua participação está projetada para ser de 43%. Sustentada pe-
los preços elevados do petróleo e do gás natural, a geração por carvão
torna-se economicamente cada vez mais interessante, em especial em
nações que possuem grandes reservas desse mineral, tais como a Chi-
na, a Índia e os Estados Unidos. A geração mundial líquida de eletrici-
dade a partir do carvão quase duplica ao longo do período de projeção,
passando de 7,4 trilhões de kWh em 2006 para 9,5 trilhões de kWh em
2015 e 13,6 trilhões de kWh em 2030.
As perspectivas para a geração a partir do carvão podem ser alte-
radas substancialmente por acordos internacionais para a redução de
emissões de gases de efeito estufa. O carvão é a fonte de energia mais
utilizada no mundo para geração de energia e também a fonte de ener-
gia mais intensiva na emissão de carbono. Caso os custos, implícitos ou
explícitos, sejam aplicados às emissões de dióxido de carbono, existem
várias alternativas tecnológicas não emissoras ou com baixas emissões
que são hoje comercialmente comprovadas, ou que estão em desenvol-
vimento e que poderiam ser usadas para substituir usinas de geração

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30 Energia Nuclear e Sustentabilidade

Líquidos
Nuclear
Renováveis
Gás natural
Carvão
ões de kWh
Trilhões

Figura 1.8 – Geração de eletricidade por combustível.


Fontes: Histórico: Energy Information Administration (EIA), International Energy Annual 2006 (jun.-dez.
2008). Disponível em: <www.eia.doe.gov/iea>. Projeções: EIA, World Energy Projections Plus (2009).

a carvão. Aplicar essas tecnologias não exigiria mudanças caras e de


grande escala na infraestrutura de distribuição de energia e nos equi-
pamentos que utilizam a energia elétrica.
Entretanto, para outros setores pode ser difícil atingir resultados
semelhantes. No setor de transportes, por exemplo, é provável que a
redução em larga escala das emissões de dióxido de carbono exigisse
profundas alterações na frota de veículos automotores, nos postos de
abastecimento e nos sistemas de distribuição de combustível, o que de-
mandaria custos muito elevados. No setor de energia elétrica, diferen-
temente, substituir os combustíveis fósseis pela energia nuclear e pelas
energias renováveis e melhorar a eficiência dos aparelhos elétricos se-
ria uma maneira comparativamente barata de reduzir as emissões.

Gás natural
Durante o período de projeção do IEO2009 – 2006 a 2030 –, a gera-
ção de energia elétrica por usinas que utilizam o gás natural aumenta
em 2,7% ao ano, tornando-a a fonte de mais rápido crescimento, depois

10 energia nuclear.indd 30 11.11.10 10:37:36


A contribuição da opção nuclear numa economia menos dependente do carbono 31

das energias renováveis. A geração mundial de energia elétrica por gás


natural aumenta de 3,6 trilhões de kWh em 2006 para 6,8 trilhões de
kWh em 2030, mas a quantidade total de eletricidade gerada a partir
de gás natural continua a ser cerca da metade da energia elétrica total
gerada pelo carvão em 2030. O ciclo combinado de gás natural é uma
opção atraente para novas usinas em virtude de sua eficiência como
combustível, da flexibilidade operacional (podendo ser colocado online
em minutos em vez de horas, tal como acontece com as instalações de
carvão e algumas outras fontes), dos prazos relativamente curtos para
o planejamento e a construção (meses em vez de anos, como nas usi-
nas nucleares) e dos custos de capital, que são inferiores aos de outras
tecnologias.

Combustíveis líquidos e outros derivados de petróleo


Com os preços mundiais do petróleo projetados para retornar a ní-
veis mais ou menos elevados, chegando a 130 dólares por barril (em
dólares de 2007) em 2030, os combustíveis líquidos são a única fonte
para a geração de energia elétrica que não cresce em escala mundial.
Na maioria das nações, é esperada uma resposta aos altos preços do
petróleo pela redução ou eliminação do uso de petróleo para geração
de eletricidade, optando-se por fontes mais econômicas de geração,
incluindo o carvão18.

Energia nuclear
Para o caso de referência do IEO2009, a produção de eletricidade
a partir de energia nuclear está projetada para um aumento de cerca
de 2,7 trilhões de kWh, em 2006, para 3,8 trilhões de kWh em 2030,
tendo em vista a preocupação com os preços crescentes dos combus-
tíveis fósseis, a segurança energética e as emissões de gases de efeito
estufa. Os preços elevados dos combustíveis fósseis permitem que a
energia nuclear se torne economicamente competitiva com a geração a
partir do carvão, do gás natural e dos combustíveis líquidos, apesar dos
custos relativamente elevados de capital associados às nucleoelétricas.

_
18
Agência Internacional de Energia (AIE), International Energy Outlook 2009,
Paris, 2009, Capítulo 5, p. 63-84. Disponível em: <http://www.eia.doe.gov/oiaf/ieo/
pdf/0484(2009).pdf>. Acesso em: 5 jun. 2009.

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32 Energia Nuclear e Sustentabilidade

Além disso, as taxas de utilização da capacidade instalada das nucleoe-


létricas existentes têm aumentado, e a AIE prevê que será concedida a
prorrogação das suas vidas operacionais para a maioria das instalações
nucleares mais antigas nos países da OCDE e fora da OCDE.
Em todo o mundo, a geração nuclear está atraindo novos países com
interesse em aumentar a diversificação da sua matriz de geração elé-
trica, melhorar a segurança energética e fornecer uma alternativa de
baixo carbono aos combustíveis fósseis. Ainda assim, há considerável
grau de incerteza associado à energia nuclear. Problemas que poderiam
retardar sua expansão no futuro incluem a segurança das instalações,
o gerenciamento dos radioativos e as preocupações com o potencial de
proliferação de armas nucleares, sobretudo a partir de centrífugas para
enriquecer urânio e a implantação de instalações para reprocessamento
de combustível usado dentro do escopo de programas nucleares civis.
Essas questões continuam a levantar preocupações públicas em muitos
países e podem prejudicar o desenvolvimento de novas usinas nucleares.
É interessante salientar que o caso de referência do IEO2009 incorpo-
ra as melhores perspectivas para a energia nuclear no mundo sem, no
entanto, considerar possíveis acordos relativos à taxação de emissões
de carbono que podem alterar esse panorama, que será discutido na
Seção 1.3. Independentemente dos acordos que venham a ser assina-
dos, o panorama da geração nucleoelétrica sofreu profunda alteração
em relação ao passado, considerando-se que a projeção IEO2009 para
a geração nucleoelétrica em 2025 é 25% superior à projeção publicada
há cinco anos, no IEO2004.
Em termos regionais, o caso de referência IEO2009 projeta um
maior crescimento na geração elétrica nuclear para os países da Ásia
que não fazem parte da OCDE (Figura 1.9). A geração de energia nu-
clear nessa região está projetada para crescer a uma taxa média anual
de 7,8% de 2006 a 2030, incluindo os aumentos previstos de 8,9% ao
ano na China e 9,9% por ano na Índia. Fora da Ásia, o maior aumento
da capacidade nuclear instalada nos países fora da OCDE está previsto
para a Rússia, onde a geração de eletricidade por fonte nuclear aumen-
ta a uma média de 3,5% ao ano. Em contrapartida, na Europa perten-
cente à OCDE, é esperado um pequeno declínio na geração de energia
nuclear, considerando que alguns governos (incluindo a Alemanha e a
Bélgica) ainda têm planos para encerrar completamente os seus pro-
gramas nucleares.

10 energia nuclear.indd 32 11.11.10 10:37:36


A contribuição da opção nuclear numa economia menos dependente do carbono 33

Trilhões de kWh

Estados Unidos Rússia


OCDE Europa Índia
China Outros Asiáticos
Japão Resto do Mundo

Figura 1.9 – Geração mundial líquida de eletricidade de fonte nuclear por região, 2006-2030.
Fontes: Histórico: Energy Information Administration (EIA), International Energy Annual 2006 (jun.-dez.
2008). Disponível em: <www.eia.doe.gov/iea>. Acesso em: 6 out. 2009. Projeções: EIA, World Energy Projections
Plus (2009).

Para enfrentar a incerteza inerente às projeções de crescimento


da energia nuclear no longo prazo, a AIE utiliza uma abordagem em
duas etapas, a fim de formular as perspectivas para a energia nuclear.
No curto prazo (até 2015), as projeções do IEO2009 são baseadas nas
atividades atuais da indústria de geração elétrica nuclear e nos planos
confirmados dos governos dos diferentes países. Em decorrência dos
prazos associados ao licenciamento e à construção de usinas nucleares,
há um consenso geral entre os analistas sobre quais projetos nuclea-
res têm probabilidade de estar operacionais no médio prazo. Depois
de 2015, as projeções são baseadas em uma combinação de planos
regionais ou objetivos anunciados por países, levando em considera-
ção outros pontos que são inerentes à energia nuclear, como questões
geopolíticas, avanços tecnológicos e políticas ambientais. A disponi-
bilidade de urânio também é considerada na modelagem do IEO2009.

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34 Energia Nuclear e Sustentabilidade

Neste trabalho, a disponibilidade de urânio para fazer frente aos di-


ferentes cenários da utilização da energia nuclear será discutida em
detalhes no Capítulo 2.

Hidroeletricidade, eólica, geotérmica, e outras energias renováveis


A energia renovável é a fonte de geração de eletricidade com o mais
rápido crescimento no caso de referência IEO2009. O total da geração
de eletricidade a partir de recursos renováveis cresce 2,9% ao ano,
e, em algumas partes do mundo, a geração de eletricidade por fontes
renováveis aumenta sua participação de 19% em 2006 para 21% em
2030. As energias hidrelétrica e eólica serão responsáveis pela maior
parte desse aumento. A geração de eletricidade por energia eólica tem
crescido rápido nas últimas décadas, passando de 11 GW de capaci-
dade instalada líquida no início de 2000 para 121 GW no final de 2008
– uma tendência que deverá continuar no futuro19. Dos 3,3 trilhões de
novos kWh adicionados à geração elétrica por fontes renováveis, no
longo prazo, 1,8 trilhão de kWh (54%) é atribuído às hidrelétricas e 1,1
trilhão de kWh (33%) à energia eólica (Tabela 1.4)20.
Embora as fontes renováveis de energia tenham efeitos ambientais
positivos e contribuam para a segurança energética, as tecnologias
renováveis, exceto a da hidroeletricidade, não conseguem competir
economicamente com os combustíveis fósseis durante o período de
projeção, exceto em algumas regiões. A energia solar, por exemplo, é
hoje um “nicho” nas fontes de energias renováveis, mas apenas pode
ser econômica onde os preços da eletricidade sejam muito elevados ou
onde estejam disponíveis fortes incentivos governamentais. Na verda-
de, as políticas ou incentivos do governo fornecem frequentemente a
_
19
World Wind Energy Association, World Wind Energy Report 2008 (fev. 2009), p. 4.
Disponível em: <www.wwindea.org>. Acesso em: 13 out. 2009.
20
No caso de referência atualizado do American Energy Outook 2009 (AEO2009,
abr. 2009), uma expansão significativa da utilização de combustíveis renováveis para
a geração de eletricidade nos Estados Unidos está projetada no curto prazo. Uma
extensão de créditos tributários federais e um programa de garantia de empréstimos
na legislação dos Estados Unidos pretendem estimular o aumento da geração de fon-
tes renováveis em relação à projeção do caso referência publicado AEO2009 (mar.
2009). Como resultado, incorporando as projeções atualizadas para o caso de refe-
rência do AEO2009 para os Estados Unidos, há um aumento na produção mundial
total de energias renováveis de 3,4 trilhões de kWh sobre a projeção do período, dos
quais 1,8 trilhão de kWh (53% do aumento total) é proveniente da energia hidrelé-
trica e 1,2 trilhão de kWh (35%) é proveniente da energia eólica.

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A contribuição da opção nuclear numa economia menos dependente do carbono 35

Tabela1.4 – Geração de eletricidade a partir de fontes renováveis na OCDE e fora da


OCDE por fonte de energia , 2006-2030 (bilhões de kWh)
Mudança
Região 2006 2010 2015 2020 2025 2030 percentual
Média Anual
Hidrelétrica 1.274 1.321 1.396 1.447 1.496 1.530 0,8
Eólica 113 258 418 582 713 842 8,7
OCDE

Geotérmica 35 45 54 57 59 62 2,4
Outras 212 263 354 438 487 513 3,7
Total OCDE 1.635 1.888 2.222 2.515 2.756 2.948 2,5
Hidrelétrica 1.723 2.060 2.491 2.911 3.098 3.242 2,7
Eólica 14 53 82 115 150 372 14,6
Fora da OCDE

Geotérmica 19 29 40 42 45 47 3,8
Outras 33 41 64 83 100 114 5,3
Total Fora da OCDE 1.790 2.184 2.676 3.151 3.393 3.776 3,2
Hidrelétrica 2.997 3.381 3.887 4.359 4.594 4.773 2,0
Eólica 127 312 500 687 864 1.214 9,9
Mundo

Geotérmica 55 75 93 99 104 109 2,9


Outras 246 304 418 521 587 628 4,0
Total Mundo 3.424 4.072 4.898 5.666 6.149 6.724 2,9
Nota: Totais podem não ser iguais à soma em função de arredondamento independente.
Os números dos Estados Unidos nesta tabela são baseados no caso de referência da publicação AEO2009 (Mar.
2009) e no caso de referência do Updated AEO2009 (Abr. 2009), que incorpora as disposições da ARRA2009
que estimulam o aumento da geração renovável, uma expansão significativa no uso de combustíveis renováveis
é projetada. Como resultado, nas projeções para 2030, a produção total de eletricidade hidrelétrica do mundo se
eleva para de 4.771 bilhões de kWh, a geração total de energia eólica sobe para 1.291 bilhões de kWh, a geração
total de energia geotérmica sobe para 111 bilhões de kWh, a geração total de outras energias renováveis sobe a
594 bilhões de kWh.
Fontes: 2006: Derivado do Energy Information Administration (EIA), International Energy Annual 2006 (jun.-
dez. 2008). Disponível em: <www.eia.doe.gov/iea>. Acesso em: 6 out. 2009. Projeções: EIA, World Energy Projec-
tions Plus (2009).

motivação primária para a construção de instalações de geração elétri-


ca por energias renováveis.
No caso de referência IEO2009, estão projetadas mudanças diferen-
tes no mix de combustíveis renováveis para a produção de eletricidade
nos países da região da OCDE em relação aos países não pertencentes à
OCDE. Nas nações da OCDE, a maioria dos recursos hidrelétricos eco-
nomicamente exploráveis já foi aproveitada. Com exceção do Canadá e
da Turquia, são poucos os projetos de grandes hidrelétricas planejadas
para o futuro. Como resultado, o crescimento das energias renováveis na

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36 Energia Nuclear e Sustentabilidade

maioria dos países da OCDE deve vir de fontes não hidrelétricas, sobre-
tudo a eólica e a de biomassa. Muitos países da OCDE, sobretudo os da
Europa, têm políticas de governo que incluem incentivos fiscais para ta-
rifas de aquisição21 e de quotas de mercado que incentivem a construção
de novas instalações de geração de eletricidade por energia renovável.
Nos países não pertencentes à OCDE, é esperado que a energia hidre-
létrica seja a fonte predominante no crescimento da energia renovável.
O forte crescimento na geração hidrelétrica resultará principalmente de
usinas de médio e grande porte que serão construídas na China, na Ín-
dia, no Brasil e em algumas nações do Sudeste Asiático, como o Vietnã
e o Laos. Taxas elevadas de crescimento de geração elétrica por energia
eólica também são esperadas nos países não pertencentes à OCDE. Os
acréscimos mais importantes de fornecimento de eletricidade gerada a
partir de energia eólica devem ocorrer na China.
As projeções do IEO2009 para fontes renováveis de energia incluem
apenas energias renováveis comercializadas. Biocombustíveis não co-
merciais, a partir de recursos vegetais e animais, são, entretanto, uma
importante fonte de energia, notadamente nos países em desenvol-
vimento fora da OCDE. A AIE estimou que cerca de 2,5 bilhões de
pessoas nos países em desenvolvimento dependem da biomassa tra-
dicional como combustível principal para cozinhar22. Combustíveis e
energias renováveis distribuídos e não comercializados (energia renová-
vel consumida no local de produção, como a energia solar fora da rede,
obtida com painéis fotovoltaicos) não estão incluídos nas projeções, no
entanto, porque os dados globais sobre sua utilização não estão dispo-
níveis. Além disso, o impacto total da crise econômica global atual e da
crise de crédito sobre o potencial de crescimento no mercado das ener-
gias renováveis não é conhecido. O caso de referência pressupõe que
esses problemas podem atrasar alguns projetos no curto prazo, mas não
afetará o crescimento a longo prazo de eletricidade gerada a partir de
recursos renováveis.

_
21
O regime tarifário denominado feed-in é uma estrutura de incentivos para encorajar a
adoção de energias renováveis por meio de legislação do governo. No âmbito dessa es-
trutura tarifária, empresas de serviços públicos regionais ou nacionais são obrigadas a
comprar energia renovável a um ritmo superior ao crescimento do varejo, garantindo
ao gerador de fonte renovável um retorno positivo de seu investimento e permitindo
que as fontes renováveis de energia superem as desvantagens de preços.
22
International Energy Agency, World Energy Outlook 2008, Paris, nov. 2008, p. 117.

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A contribuição da opção nuclear numa economia menos dependente do carbono 37

1.2.2 Os impactos ambientais da geração de energia elétrica


Com a publicação do IV Relatório de Avaliação do Painel Intergo-
vernamental de Mudança Climática (IPCC)23 em 2007, há o reconheci-
mento generalizado de que o aquecimento global é inequívoco e que a
maior parte desse aquecimento, nos últimos 50 anos, é muito provavel-
mente consequência do aumento da emissão de gases de efeito estufa
de origem antropogênica.
As tendências apresentadas pelo cenário mundial de referência do
IEO2009 e do WEO2008 para a utilização de energia colocam o mundo
em um curso que resulta na duplicação da concentração de dióxido
de carbono (CO2) na atmosfera, evoluindo de 380 partes por milhão
(ppm) em 2005 para cerca de 700 ppm no próximo século. Levando-se
em conta todos os gases de efeito estufa em todos os setores, resultaria
uma concentração de CO2 equivalente (CO2e) de cerca de 1.000 ppm,
correspondendo a um aumento médio da temperatura global de até
6 °C em relação aos níveis pré-industriais.
Ainda não existe um consenso internacional com relação aos níveis
de estabilização de CO2e no longo prazo nem sobre quais deveriam
ser a trajetória e as metas de emissão para a sua realização. No en-
tanto, as discussões internacionais estão cada vez mais centradas em
um nível de estabilização que varia entre 450 e 550 ppm de CO2e.
De acordo com o IV Relatório de Avaliação do IPCC, a estabilização
num nível de 450 ppm de CO2e corresponde a 50% de probabilidade
de limitar o aumento da temperatura média global em cerca de 2 °C,
enquanto a estabilização em 550 ppm produziria um aumento em tor-
no de 3 °C (em comparação com 1.000 ppm e até 6 °C no cenário de
referência)24.

_
23
IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança Climática) (2007), Mudança de Cli-
ma 2007: Sumário para Formuladores de Políticas, Contribuições dos Grupos
de Trabalho I, II e III ao IV Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental
sobre Mudança do Clima, editores R. K. Pachauri, e A. Reisinger, IPCC, Genebra,
tradução de Anexandra de Ávila Ribeiro. Disponível em: <http://www.mct.gov.br/in-
dex.php/content/view/50401.html>. Acesso em: 2 nov. 2009.
24
Níveis de estabilização entre 445 e 490 ppm de CO2e (entre 350 e 400 ppm de CO2)
correspondem a aumentos de temperatura entre 2,0 °C e 2,4 °C. A 550 ppm de CO2e,
haveria uma probabilidade de 24% de um aumento de temperatura superior a 4 °C.
Essa ampla faixa reflete as incertezas associadas com os diferentes caminhos de
emissão e à sensibilidade do clima às emissões (IPCC, 2007).

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38 Energia Nuclear e Sustentabilidade

O IV Relatório de Avaliação do IPCC apresenta conclusões da análi-


se do impacto no ambiente e na sociedade para diferentes níveis de es-
tabilização do CO2 na atmosfera e o correspondente aumento de tem-
peratura (Figura 1.10). Os requisitos para uma meta de estabilização
de CO2e em 450 ppm seriam extremamente exigentes, demandando
que as emissões de gases de efeito estufa atingissem o pico dentro de
alguns anos, seguido de reduções médias anuais per capita de 6% ou
mais25. As emissões de CO2e per capita precisariam cair para cerca de
duas toneladas em 2050, uma significativa queda em relação à média
corrente de sete toneladas (IPCC, 2007).
As emissões atuais variam de 26 toneladas per capita nos Esta-
dos Unidos e Canadá a duas toneladas no Sul da Ásia. Uma meta de
450 ppm exigiria que as emissões de CO2 relacionadas à energia apre-
sentassem até 2050 uma queda entre 50% a 85% abaixo dos níveis de
2000, para ser coerente com a faixa do IPCC de 450 a 490 ppm de CO2e.
Segundo o IPCC, mesmo com a estabilização a 450 ppm de CO2e (que
é muito inferior ao implícito nas projeções do cenário de referência do
WEO2008), a mudança no clima global resultante levaria a um signifi-
cativo aumento do nível do mar, à perda de espécies e ao aumento da
frequência de fenômenos meteorológicos extremos.
O setor da energia terá de estar no centro das discussões sobre o nível
de concentração de CO2e que se pretende e sobre como consegui-lo. As
emissões de CO2 relacionadas com a energia representam hoje 61% das
emissões totais de gases de efeito estufa no mundo, uma participação
que segundo a projeção deve aumentar para 68% em 2030 no cenário
de referência. Durante vários anos, o World Energy Outlook forneceu
análises das implicações das tendências no setor da energia e as políticas
governamentais relacionadas à energia associadas às emissões de CO2.
Em especial no setor de geração de energia elétrica, as usinas de com-
bustíveis fósseis emitiram 11,4 Gt de CO2 em 2006, o que corresponde a
41% do total mundial. Essa participação tem aumentado constantemen-
te, evoluindo de 36% em 1990 para 39% em 2000, e continua a crescer
nas projeções do cenário de referência do WEO2008, para 44% em 2020

_
25
Alguns estudos, como Hansen et al. (2008), sugeriram que mesmo se o limite de ele-
vação de 1 °C de temperatura fosse definido, o perigo de sua interferência no sistema
climático deveria ser evitado. Isso exigiria uma estabilização do CO2eq no nível de
400 ppm, o que seria bastante mais exigente que os cenários mais ambiciosos do IPCC
Fourth Assessment Report (IPCC, 2007).

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A contribuição da opção nuclear numa economia menos dependente do carbono 39

600
Concentração (ppm CO2 equivalente)

500 600

550
400 500
450

300

280
0 °C 1 °C 2 °C 3 °C 4 °C 5 °C
Níveis pré-industriais Aumento da temperatura global média
acima dos níveis pré-industriais de equilíbrio

Mudanças já Mudanças prováveis Mudanças possíveis Mudanças prováveis


prováveis e mesmo assumindo se a resposta de sem ação significativa
estabelecidas medidas de mitigação mitigação for lenta de mitigação

0,2 – 1 m – Aumento do nível do mar e dos danos por tempestades – 0,5 – 3 m


Regiões costeiras 30% Perda de zonas úmidas e costeiras 50%
100.000 pessoas experimentando enchentes e costeiras/ano milhões

Aumento da desnutrição, diarreia, doenças cardiorrespiratórias e infecciosas


Saúde
Aumento da mortalidade por ondas de calor, secas, inundações

Até 30% – Risco de extinção de espécies – Mais de 40%


Ecossistemas Aumento descoloração Maioria descolorido Corais Mortalidade generalizada
Risco crescente de incêndios florestais

Diminuição da disponibilidade de água e aumento da seca em latitudes médias e baixas


Água
Derretimento de geleiras, suprimento de água ameaçado

Impactos negativos localizados em pequenos propriedades de terra, agricultura de subsistência, pescadores


Alimentos
Algumas mudanças – Produção de cereais em latitudes baixas – Diminuição de todos os cereais

Riscos irreversíveis Aumento de risco de reações perigosas e mudanças abrutas no sistema climático

Figura 1.10 – Efeitos potenciais da estabilização das concentrações atmosféricas de gases de efeito estufa em diferentes
níveis.
Fonte: Adaptado do WEO2008, p. 412, baseado no Quarto Relatório do IPCC (2007).

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40 Energia Nuclear e Sustentabilidade

14
Petróleo
12 Gás
Carvão
10

8
Gt CO2

0
2006 2020 2030 2006 2020 2030
OCDE Não OCDE

Figura 1.11 – Emissões de CO2 de plantas de geração elétrica por combustível e região no cenário de referência.
Fonte: Adaptado do WEO2008, Capítulo 16, p. 392.

e 45% em 2030. As emissões de CO2 do setor de geração elétrica devem


chegar a 16 Gt em 2020 e a 18 Gt em 2030. Cumulativamente, conside-
rando o cenário de referência do WEO2008, a geração de energia elé-
trica contribui com mais de metade do aumento das emissões de CO2
relacionadas com energia até 2030. Esse crescimento é impulsionado
pela ampliação relativamente rápida da demanda por eletricidade e pela
utilização de combustíveis fósseis, sobretudo o carvão, na geração de
energia elétrica, conforme mostrado na Figura 1.8. As emissões de gases
de efeito estufa de usinas a carvão chegaram a 8,3 Gt em 2006 e devem
subir para 12,1 Gt ainda em 2020 e 13,5 Gt em 2030 – quase três quartos
das emissões totais do setor de geração de energia elétrica.
Quase todo o aumento de emissões de CO2 no setor de geração de
energia elétrica será originado nos países não membros da OCDE, onde
o crescimento da demanda por eletricidade tem uma dependência cada
vez maior do carvão (Figura 1.11). Contabilizando uma emissão de
6,5 Gt de CO2 em 2006, as emissões do setor de geração de energia
elétrica de países não pertencentes à OCDE devem dobrar até 2030,
conforme projeção. Na região dos países da OCDE, as emissões de CO2
aumentarão numa pequena porcentagem no período de projeção, pois
o crescimento da demanda por eletricidade é mais contido do que nos
países não membros da OCDE e porque há um aumento na participa-

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A contribuição da opção nuclear numa economia menos dependente do carbono 41

0,7 0,68
0,65
0,61
0,6 0,57 0,56
0,53
0,5 0,47
Toneladas de CO2 por MWh

0,44
0,40
0,4

0,3

0,2

0,1

0
2006 2020 2030
Mundo OCDE Não OCDE

Figura 1.12 – Intensidade de CO2 na geração elétrica por região no cenário de referência.
Fonte: Adaptado do WEO2008, Capítulo 16, p. 392.

ção do gás e das energias renováveis no mix de combustíveis para gerar


eletricidade, em detrimento do petróleo e do carvão. O aumento total
das emissões de CO2 projetado para a OCDE de 0,4 Gt entre 2006 e
2030 é inferior ao aumento das emissões de instalações de geração de
energia elétrica da China nos últimos dois anos.
A média de emissões de CO2 por MWh de eletricidade produzida
no mundo deve cair ligeiramente, como resultado dos ganhos contí-
nuos na eficiência térmica das usinas de geração elétrica e de uma
maior utilização de energias renováveis (Figura 1.12). No entanto,
essas economias não são suficientes para compensar o aumento da
demanda de eletricidade.
A meta de 550 ppm de CO2e também exigiria ações imediatas, subs-
tancialmente maiores do que no cenário de referência, a fim de desa-
celerar mais rápido o crescimento das emissões anuais. Para cumprir
esse objetivo, as emissões de CO2 atingiriam o pico e o declínio durante
o período de projeção do WEO2008. A AIE e os participantes do IPCC
enfatizam que os próximos anos são, portanto, de importância crucial.
Qualquer atraso ampliará o risco de um aumento ainda maior de tem-
peratura, o que poderia dar origem a uma mudança irreversível, ou de-
mandar reduções de emissões ainda mais caras e a taxas mais rápidas
no futuro próximo.

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42 Energia Nuclear e Sustentabilidade

Tabela 1.5 – Emissões de CO2 por setor no Brasil (em milhões de toneladas de CO2)
Cenário de baixo
Em 2008 Tendência para 2030
carbono para 2030
Energia 232 458 297
Transporte 149 245 174
Resíduos 62 99 18
Desmatamento 536 533 196
Pecuária 237 272 249
Agricultura 72 111 89
Emissões Brutas 1.288 1.718 1.023
Emissões Totais (menos sequestro de carbono) 1.259 1.697 810
Fonte: Banco Mundial apud Folha de São Paulo (24 nov. 2009)26.

As Emissões de CO2 no Brasil


Diferente da situação da maioria dos países, o setor de energia do
Brasil não é o principal emissor de CO2, conforme dados do Banco
Mundial mostrados na Tabela 1.5 e Figura 1.13. É importante observar
que o consumo de eletricidade no Brasil está projetado para um cres-
cimento 176% no período 2005-203027, enquanto o aumento das emis-
sões brutas de CO2 situa-se entre 28% a 97%, dependendo do cenário
considerado, evidenciando uma matriz energética de baixo carbono,

1.3 A contribuição da opção nuclear para mitigar os efeitos


ambientais
O World Energy Outlook 2009 – Climate Change Excerpt da AIE
enfatiza a necessidade de alteração das políticas atuais de energia, sob
pena de o planeta sofrer impactos severos, resultantes das alterações
climáticas. A energia, que hoje responde por dois terços das emissões
de gases de efeito estufa, é o cerne do problema – e assim deve formar
o núcleo da solução. Na sua análise, a AIE foca no cenário denominado
450, cuja meta é a estabilização de longo prazo da concentração de
gases de efeito estufa na atmosfera em 450 partes por milhão de CO2

_
26
Folha de S. Paulo, “Brasil inflou dados de CO2 para 2020, sugere estudo”, 24
nov. 2009. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/ambiente/
ult10007u656701.shtml>. Acesso em: 24 nov. 2009.
27
Veja Seção 1.4.

10 energia nuclear.indd 42 11.11.10 10:37:40


A contribuição da opção nuclear numa economia menos dependente do carbono 43

Cenário de Cenário de
Em referência baixo carbono
2008 em 2030 em 2030

18% Energia 16% Agricultura


24% Agricultura

2% Resíduos (lixo)
31% Desmatamento
19% Desmatamento
42% Desmatamento

6% Pecuária
17% Transporte
5% Resíduos (lixo) 14% Transporte
11% Transporte
29% Energia
27% Energia
18% Agricultura

6% Pecuária 6% Resíduos (lixo) 9% Pecuária

Figura 1.13 – Percentuais de Emissões nos Três Cenários.


Fonte: Banco Mundial apud Folha de São Paulo (24 nov. 2009)28.

equivalente. Para isso, devem ser promovidas profundas alterações na


forma de utilização de energia, de modo a proporcionar um futuro sus-
tentável.
Na análise da AIE, a crise financeira e econômica que eclodiu em
meados de 2008, completando 18 meses no momento em este texto
está sendo escrito, teve um impacto considerável sobre o setor ener-
gético, com redução das emissões de CO2, o que abre uma janela de
oportunidade para que a Convenção Estrutural das Nações Unidas
sobre Mudança Climática (UNFCCC) tenha condições de estabelecer
acordos para colocação imediata de políticas adequadas para atingir a
trajetória de emissões do cenário 450.
A AIE e o grupo executivo da UNFCC, que contribuiu na elabora-
ção do WEO2009, reconhecem que a tarefa para atingir o cenário 450
é extremamente difícil, pois envolve forte coordenação política, além
de investimentos adicionais. Entretanto, destacam que a maior par-
te desse esforço se baseia em medidas de eficiência energética, que

_
28
Folha de São Paulo, “Brasil inflou dados de CO2 para 2020, sugere estudo”,
24 nov. 2009. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/ambiente/
ult10007u656701.shtml>. Acesso em: 24 nov. 2009.

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44 Energia Nuclear e Sustentabilidade

oferecem substancial redução nos custos de energia, e na geração


de energia elétrica de baixa emissão de carbono, que pode ter cus-
tos elevados de investimento inicial, mas que normalmente oferecem
substancial redução de custo ao longo da sua operação em relação às
tecnologias que demandam contínuos subsídios. Argumentam ainda
que a reestruturação do sistema de energia vai gerar desenvolvimen-
to econômico, segurança energética e benefícios à saúde humana e ao
meio ambiente.

O Cenário de referência do WEO2009


Na ausência de novas iniciativas para combater as alterações cli-
máticas globais, a crescente utilização de combustíveis fósseis nesse
cenário aumenta as emissões de CO2 relacionadas à energia de 29 Gt
em 2007 para mais de 40 Gt em 2030, o que contribui para a deterio-
ração da qualidade do ar e da saúde pública, além de acarretar graves
efeitos ambientais. O aumento das emissões é devido ao aumento da
utilização de combustíveis fósseis, em especial nos países em desenvol-
vimento, onde o consumo per capita de energia ainda tem muito para
crescer. As emissões da OCDE são projetadas para aumentar pouco
no período, em decorrência de um aumento mais lento da demanda de
energia, das grandes melhorias na eficiência energética e de uma maior
utilização de energia nuclear e energias renováveis. Esses efeitos são,
em grande parte, decorrentes de políticas já adotadas para mitigar a
mudança climática e do aumento da segurança energética. A análise da
AIE indica que o cenário de referência – quando projetado para 2050 e
além, e tendo em conta as emissões de gases de efeito estufa de todas
as fontes – resultaria em uma concentração de gases de efeito estufa na
atmosfera de cerca de 1.000 ppm, a longo prazo.

O Cenário 450
O cenário 450 analisa medidas para forçar a redução das emissões
de CO2 relacionadas com a energia para uma trajetória que, combinada
com as emissões fora do setor da energia, seja coerente com uma esta-
bilização das concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera em
450 ppm. Nesse nível de concentração é esperado um aumento de 2 °C
na temperatura global.

10 energia nuclear.indd 44 11.11.10 10:37:40


A contribuição da opção nuclear numa economia menos dependente do carbono 45

No longo prazo, a concentração de gases de efeito de estufa fixada em


450 ppm de CO2e é menos da metade da concentração que ocorre no ce-
nário de referência. Trata-se de uma trajetória de superação, ou seja, o
pico de concentração de 510 ppm é atingido em 2035, permanecem cons-
tantes por cerca de 10 anos e, em seguida, declina para 450 ppm. A aná-
lise da AIE centra-se nas emissões de CO2 relacionadas com energia para
2030, que atingem um pico pouco antes de 2020 em 30,9 Gt e entram em
um declínio constante, atingindo posteriormente 26,4 Gt em 2030.
O cenário 450 também tem um olhar mais atento sobre o período
até 2020, que é tão crucial para o processo de negociação do clima.
Sem tentar prever um resultado ideal para as negociações, ele reflete
um conjunto plausível de compromissos e políticas que possam surgir
– uma combinação realista do sistema de cap-and-trade29, os acordos
setoriais e políticas nacionais adaptadas a cada país e circunstâncias.
O objetivo da AIE nessa modelagem não é prever os compromissos
que os países venham a assumir, mas ilustrar como será a evolução
das emissões no âmbito de um determinado conjunto de pressupostos
consistentes com a meta global de estabilização.

O quadro político no cenário 450


As reduções de emissões no cenário 450 só podem ser alcançadas
tirando partido do potencial de mitigação em todas as regiões. Assim,
todos os países são considerados para aplicarem medidas de mitigação,
respeitando o princípio das responsabilidades comuns, mas diferencia-
das. Três grupos regionais são considerados:
• “OCDE+”, constituída de países da OCDE e dos países que são
membros da União Europeia, mas não pertencem à OCDE.
• “Outras grandes economias” (OGE), com Brasil, China, Oriente
Médio30, Rússia e África do Sul, que são os maiores emissores
_
29
Cap-and-Trade é uma abordagem para controlar as emissões de Gases de Efeito Estufa
(GEE), que combina o mercado com a regulamentação. Um limite global, denominado
“CAP”, é definido por um período de tempo específico. Partes individuais recebem
autorização para produzir uma quantidade de emissões. Aqueles com baixas emissões
podem vender as licenças não utilizadas. Outros podem comprá-las para ajudar a
satisfazer as suas quotas. (Fonte: Adaptado de WPP. Disponível em: <http://www.
wpp.com/wpp/about/howwebehave/corporateresponsibility/tacklingclimatechange/
brochure/aclimatechangeglossary.htm>. Acesso em: 20 set. 2009.)
30
A região do Oriente Médio inclui os seguintes países: Bahrain, Irã, Iraque, Israel, Jordânia,
Kuwait, Líbano, Omã, Catar, Arábia Saudita, Sírira, Emirados Árabes e Iêmen.

10 energia nuclear.indd 45 11.11.10 10:37:40


46 Energia Nuclear e Sustentabilidade

fora da OCDE+ (com base no seu volume total de emissões de


CO2 associadas à energia em 2007) e cujo o PIB per capita deve-
rá ultrapassar US$ 13.000 em 2020.
• “Outros países” (OC), com todos os demais.

Até 2020 a AIE pressupõe que os países da OCDE+ assumam com-


promissos nacionais e executem várias políticas de mitigação, incluindo
um sistema de cap-and-trade para as emissões dos setores de geração
de eletricidade e da indústria. Para os outros países, presupõe-se que
reduzam as suas emissões por meio de ações nacionais apropriadas de
mitigação, com apoio técnico e financeiro internacional (Figura 1.14).
Todas as regiões deverão participar de acordos setoriais nas áreas de
cimento, ferro e aço, veículos de passageiros, aviação e navegação, para
os quais sejam estabelecidas metas de intensidade de emissões. Após
2020, a AIE pressupõe que outras grandes economias façam parte do
sistema da cap-and-trade na geração de eletricidade e na indústria.

Principais resultados do Cenário 450


Todos os países alcançam níveis significativos de redução em re-
lação ao cenário de referência. As emissões OCDE+ declinam numa
taxa constante, passando de 13,1 Gt em 2007 para 7,7 Gt em 2030. As
emissões das outras grandes economias atingem o pico de 12,6 Gt em
2020 e, em seguida, declinam para 11,1 Gt em 2030, ainda 14% acima
dos níveis de 2007. As emissões dos outros países aumentam de for-
ma constante. A maior parte das reduções de emissões em relação ao
cenário de referência é alcançada por meio de medidas de eficiência
energética. Reduções significativas também vêm de mudanças no mix
de tecnologias de geração de eletricidade.
Como mencionado aqui, presupõe-se a aplicação do sistema de cap-
and-trade para os setores de geração de energia elétrica e para a in-
dústria na OCDE+ a partir de 2013 e para as outras grandes economias
a partir de 2021. A AIE considera que o CO2 é comercializado, de início,
em dois mercados distintos: o da OCDE+ e o das outras grandes eco-
nomias. Para conter as emissões nos níveis requeridos, a AIE estima
que o preço de CO2 atingirá US$ 50 por tonelada na OCDE+ em 2020;
esse valor sobe para US$ 110 na OCDE+ e para US$ 65 por tonelada em
outras grandes economias em 2030. Os preços são fixados pela opção

10 energia nuclear.indd 46 11.11.10 10:37:40


A contribuição da opção nuclear numa economia menos dependente do carbono 47

2013 a 2020 OCDE+ Outras Grandes Outros Países


Economias

Cap-and-Trade Políticas e Políticas e


Geração de
Medidas Medidas
Energia Elétrica
Nacionais Nacionais

Indústria Abordagens Setoriais Internacionais

Transporte Abordagens Setoriais Internacionais

Políticas e
Edificações Medidas
Nacionais

Aviação e Transporte Abordagens Setoriais Internacionais


Marítimo Internacional

2021 a 2030 OCDE+ Outras Grandes Outros Países


Economias

Cap-and-Trade Cap-and-Trade Políticas e


Geração de
Medidas
Energia Elétrica
Nacionais

Indústria Abordagens Setoriais Internacionais

Transporte Abordagens Setoriais Internacionais

Políticas e
Edificações Medidas
Nacionais

Aviação e Transporte Abordagens Setoriais Internacionais


Marítimo Internacional

Figura 1.14 – Quadro de ação no cenário 450.


Fonte: Adaptado de WEO200931.

de redução mais cara (por exemplo, a captura e armazenagem de CO2


no setor da OCDE+ em 2030).
O WEO2009 estima que a implementação das medidas consideradas
no cenário 450 vai aumentar os investimentos acumulados relacionados
_
31
Agência Internacional de Energia (AIE), World Energy Outlook 2009 – Climate
Change Excerpt, Paris, 2009. Disponível em: <http://www.iea.org/weo/2009_excerpt.
asp>. Acesso em: 5 nov. 2009.

10 energia nuclear.indd 47 11.11.10 10:37:40


48 Energia Nuclear e Sustentabilidade

45
Outros 40,2 Gt
40 Edificações
9%
Indústria 34,5 Gt
35 8%
Transporte 9% 30,7 Gt
30 Geração de 28,8 Gt 9% 15%
eletricidade 10% 26,4 Gt
10%
25 16% 9% 11%
10%
20,9 Gt 23%
Gt

17% 10%
20 10% 17%
22% 17%
14%
15 23% 23%
19%
29%
10 22% 44%
43%
41% 41%
5 36% 32%
0
1990 2007 Cenário de 2020 Cenário Cenário de 2030 Cenário
Referência 450 Referência 450

Figura 1.15 – Emissões de CO2 relacionadas com a energia.


Fonte: Adaptado do WEO200932.

com energia33 ao longo do período 2010-2030 em 10,5 trilhões de dóla-


res. O maior aumento é no setor de transportes, em que a maior parte
dos 4,7 trilhões de dólares adicionais cobre o custo maior da aquisição
de veículos mais eficientes, porém mais caros. O investimento adicio-
nal em edificações, incluindo aparelhos e equipamentos, atinge o mon-
tante de 2,5 trilhões de dólares. Um investimento extra de 1,7 trilhão
de dólares é necessário para o setor de geração de energia elétrica. O
investimento na indústria sobe em 1,1 trilhão de dólares, sobretudo
para os processos e motores elétricos mais eficientes. Instalações para
a produção de biocombustíveis exigirão um investimento adicional de
0,4 trilhão de dólares. Os investimentos em eficiência energética nos
setores de edificações, da indústria e dos transportes são recuperados
por meio de economias nos custos de energia.
Mais de três quartos do investimento adicional (8,1 trilhões de dóla-
res) são necessários na última década, porque a maioria das reduções
de emissões de CO2 ocorre após 2020 (emissões globais de CO2 são

_
32
Agência Internacional de Energia (AIE), World Energy Outlook 2009 – Climate
Change Excerpt, Paris, 2009. Disponível em: <http://www.iea.org/weo/2009_excerpt.
asp>. Acesso em: 5 nov. 2009.
33
Todos os valores monetários estão expressos em dólares americanos de 2008.

10 energia nuclear.indd 48 11.11.10 10:37:40


A contribuição da opção nuclear numa economia menos dependente do carbono 49

reduzidas em 3,8 Gt em 2020 e em 13,8 Gt em 2030, em relação ao ce-


nário de referência). Cerca de 48% do investimento adicional é neces-
sário nos países da OCDE+. Nas outras grandes economias e nos outros
países são necessários 30% e 18% do investimento adicional, respecti-
vamente. O resto é necessário para o setor de aviação internacional.
A AIE destaca, na sua análise do cenário 450, que a distribuição geo-
gráfica e setorial das despesas de redução de emissões e investimentos
não equaciona como essas ações serão financiadas. Esse é um assun-
to para negociação na UNFCCC, visto que membros dessa convenção
concordam que os países desenvolvidos devem prestar apoio financeiro
aos países em desenvolvimento, mas a determinação do nível exato não
está estabelecida.
No tocante à geração elétrica, as avaliações da AIE indicam a ne-
cessidade de redução da intensidade das emissões de CO2 em 21% em
relação ao ano de 2007. A AIE e a UNFCCC recomendam acelerar a im-
plantação de tecnologias de baixo carbono, que representam mais de 5
Gt de redução de emissões de CO2 em relação ao cenário de referência
para 2030 (Figura 1.16). Isso inclui uma implantação muito mais rápida
das energias renováveis e da energia nuclear e um investimento urgen-
te no desenvolvimento da captura e armazenamento de CO2.
Com relação à geração de energia elétrica de fonte nuclear, existe o
consenso quanto à necessidade da contribuição dessa tecnologia para
fazer frente aos desafios da redução das emissões de CO2. Entretanto, o
grau de participação, e consequentemente as projeções, divergem bas-
tante, dependendo do organismo que as elabora. A cada ano, a Agência
Internacional de Energia Atômica (AIEA) atualiza as suas projeções para
cenários de crescimento global baixo e alto da energia nuclear. Em 2008,
tanto as projeções de alta como as de baixa foram revistas para cima.
Na projeção atualizada de um cenário de baixa, a demanda mundial de
energia nuclear chega a 473 GWe em 2030, em comparação com uma
capacidade de 372 GWe no final de 2008. Na projeção atualizada de um
cenário de demanda alta, a capacidade instalada atinge 748 GWe.
A Agência Internacional de Energia, por sua vez, também revisou
sua projeção para um cenário considerado de referência para a energia
nuclear em 2030, incorporando uma alta de cerca de 5%36. No entanto,

_
36
OCDE International Energy Agency, World Energy Outlook 2008, OCDE, Paris (2008).

10 energia nuclear.indd 49 11.11.10 10:37:41


50 Energia Nuclear e Sustentabilidade

Carvão sem CAC

Gás sem CAC

Carvão e Gás
com CAC

Nuclear

Hidro

Eólica 2007
2020
Outras renováveis 2030

0 250 500 750 1.000 1.250 1.500 1.750


GW

Figura 1.16 – A capacidade mundial de geração de energia elétrica no cenário 450.


Fonte: Adaptado do WEO200934, 35.

o cenário de referência da AIE, que considera uma capacidade nuclear


instalada de 433 GWe em 2030, ainda está abaixo da projeção da AIEA
para um cenário de baixo crescimento. A AIE também publicou dois
cenários de política climática: o cenário de política 550, que corres-
ponde a uma estabilização dos gases de efeito estufa na atmosfera, no
longo prazo, numa concentração de 550 partes por milhão de CO2e e
a um aumento da temperatura global de cerca de 3 °C; e um outro ce-
nário, o da política 450, que equivale a um aumento de cerca de 2 °C.
Para a AIE, no cenário da política climática 550, a capacidade nuclear
instalada em 2030 é de 533 GWe. No cenário da política climática 450,
a capacidade nuclear instalada atinge 680 GWe.
Já a Agência de Energia Nuclear (OCDE/NEA) publicou suas proje-
ções no Nuclear Energy Outlook de 2008, que também inclui projeções
de baixa e alta para a capacidade nuclear instalada em 205037. Para
2030, o intervalo projetado está entre 404 a 625 GWe, um pouco abaixo

_
34
Agência Internacional de Energia (AIE), World Energy Outlook 2009 – Climate
Change Excerpt, Paris, 2009. Disponível em: <http://www.iea.org/weo/2009_excerpt.
asp>. Acesso em: 5 nov. 2009.
35
CAC – Captura e Armazenamento de Carbono.
37
OCDE International Energy Agency, World Energy Outlook 2008, OCDE, Paris (2008).

10 energia nuclear.indd 50 11.11.10 10:37:41


A contribuição da opção nuclear numa economia menos dependente do carbono 51

42
40 Abatimento Investimento
Cenário de referência (Mt CO2) (US$ 2008 - bilhões)
38 2020 2030 2010-2020 2021-2030
36 Eficiência 2.517 7.880 1.999 5.586
34 Uso final 2.284 7.145 1.933 5.551
Gt

Geração elétrica 233 735 66 35


32
Renováveis 680 2.741 527 2.260
30 Biocombustíveis 57 429 27 378
28 Nuclear 493 1.380 125 491
Cenário 450 CAC38 102 1.410 56 646
26
2007 2010 2015 2020 2025 2030

Figura 1.17 – Redução da emissão de CO2 relacionadas com a energia.


Fonte: Adaptado do WEO200939.

do da AIEA. Para 2050, o intervalo projetado é de 580 a 1400 GWe. O


US Energy Information Administration também reviu a sua projeção
de referência para a energia nuclear em 2030 ligeiramente acima de
498 GWe40. É assim ligeiramente superior à projeção abaixo da AIEA.
As projeções da AIE, referentes ao cenário 450 do WEO2009 – Cli-
mate Change Excerpt incorporam o impacto da crise financeira. Já
as projeções das outras organizações foram feitas antes da eclosão da
crise financeira de 2008.
Como pode ser verificado na Figura 1.17, nesta última versão do
WEO2009, o aumento na capacidade nuclear instalada proposta para
o cenário 450 contribui com aproximadamente 7% no abatimento total
das emissões de gases de efeito estufa em 2030.

_
38
CAC – Captura e Armazenamento de Carbono.
39
Agência Internacional de Energia (AIE), World Energy Outlook 2009 – Climate
Change Excerpt, Paris, 2009. Disponível em: <http://www.iea.org/weo/2009_excerpt.
asp>. Acesso em: 5 nov. 2009.
40
Energy Information Administration, International Energy Outlook 2008. Us Depart-
ment of Energy, Washington, DC (2008).

10 energia nuclear.indd 51 11.11.10 10:37:41


52 Energia Nuclear e Sustentabilidade

Tabela 1.6 – Capacidade elétrica instalada do sistema brasileiro


Fonte MWe Part (%)
Hidrelétrica* 81.190 85,5
Gás 8.694 9,2
Nuclear 2.007 2,1
Óleo combustível 1.234 1,3
Carvão mineral 1.410 1,5
Outras 462 0,5
Potência instalada 94.996 100,0
*
Incluindo a capacidade total de Itaipu.
Fonte: ONS, Operação do SIN: Dados Relevantes 2007.

1.4 O papel da geração nuclear na matriz elétrica brasileira


A capacidade instalada da matriz elétrica brasileira é composta de
cerca de 85% de origem hidrelétrica e 15% de origem termelétrica (Ta-
bela 1.6). Essa característica confere uma grande vantagem competiti-
va ao País, por dispor de uma das maiores reservas de energia elétrica
limpa, renovável, barata e economicamente viável do mundo.
Entretanto, a falta de energia no ano de 2001 indicou claramente a
vulnerabilidade do sistema elétrico brasileiro, que é baseado na ener-
gia natural afluente nos rios e na água acumulada nas barragens das
usinas hidrelétricas. Essa é uma fonte de energia renovável com uma
vantagem indiscutível, mas que inclui também o risco hídrico: depen-
der, para sua renovação, dos ciclos naturais, que apresentam sucessões
entre estações secas e chuvosas, com razoável variabilidade dentro de
uma mesma região e entre diferentes regiões (Figura 1.18).
Conjugado ao risco hídrico, a demanda por um maior crescimento
econômico renovou o interesse por projetos de geração de energia no
Brasil. As opções sob consideração incluem a expansão da exploração
do gás natural, da biomassa, da geração de hidreletricidade – em espe-
cial na Amazônia, onde se encontra a maior parte dos aproveitamentos
disponíveis – e das usinas nucleares.
Com relação à fronteira de expansão da geração hidrelétrica, deve-se
considerar que as condições topográficas da Amazônia são bastante dife-
rentes da região Sudeste, onde estão as grandes represas para a geração
hidrelétrica e onde está concentrada a capacidade principal de reserva-

10 energia nuclear.indd 52 11.11.10 10:37:41


A contribuição da opção nuclear numa economia menos dependente do carbono 53

180 100%
Crise de Energia em 2001
160 90%

140 % Armazenado 80%

70%
120
60%

% Armazenado
100 Armazenado
GW mês

50%
80
Produzido 40%
Apagão
60
30%
40 20%
20 10%
Afluência
0 0%
jan/99 jan/00 jan/01 jan/02 jan/03 jan/04 jan/05 jan/06

Figura 1.18 – Operação do sistema SE/CO - 2001 (parte hidráulica).


Fonte: ONS.

ção de água. Na região Sudeste, em especial no litoral entre Santos e Rio


de Janeiro, há um desnível abrupto de 700 a 800 metros entre o mar e
o planalto. Essa característica topográfica possibilitou a construção das
usinas Henry Borden e Ribeirão das Lages, que deram ensejo à industria-
lização de São Paulo e Rio de Janeiro no início do século XX. Em 1905,
Ribeirão das Lages era a maior hidrelétrica do mundo.
Os desníveis significativos entre o Planalto Central e a Planície Plati-
na e o litoral do Nordeste permitiram também os significativos aprovei-
tamentos da Bacia dos Rios Paraná e São Francisco. Os grandes reser-
vatórios de água foram construídos usando esses desníveis, reduzindo
o risco hídrico com a estabilização da energia natural afluente dos rios
pela gestão da água neles armazenada (Figura 1.19).
O desnível topográfico entre o Planalto Central e a Planície Ama-
zônica é, entretanto, muito menos acentuado que os anteriores. Com
isso, para haver um significativo volume de água armazenado nas barra-
gens, seria necessário alagar vastas áreas. Esse fato conjugado com os
ciclos naturais (secos e chuvosos) mais severos que ocorrem na região
(vide relações máximo/mínimo na energia natural afluente, mostradas
na Figura 1.20) tendem a ampliar o risco hídrico associado aos aprovei-
tamentos na região.

10 energia nuclear.indd 53 11.11.10 10:37:41


54 Energia Nuclear e Sustentabilidade

Capacidade de
NORTE armazenamento
11.901 MW/mês total do SIN
4,7% do SIN Belém São Luis
254.200 MW/mês

Tucuruí 2c Fortaleza NE
2c 50.203 MW/mês
2c
Imperatriz N/NE 19,7% do SIN
Sobradinho
P. Dutra 2c
Interligação 2c
Norte/Sul N/S
Interligação
SE/CO Norte/Nordeste
Concentra cerca de 65% 176.563 MW/mês
da capacidade de 69,5% do SIN
armazenamento do País Samambaia
Serra da Mesa 7,5% Grande
Três Marias 7,2% Rede básica do dependência
Ilha Solteira/Três Irmãos 2,2% Sudeste/Centro-Oeste de onde,
Bacia do Grade 21,7% Interligação
Bacia do Paranaíba 26,7% Sul/Sudeste quando e
quanto chove
Ibiúna
SUL Ivaiporã
15.533 MW/mês Tijuco Preto
Itaipu
6,1% do SIN Sistema de
transmissão
Interligação de Itaipu
Argentina • 3 circ. 750 kV CA
Garabi
• Elo CC ± 600 kV
Baleias-Ibiúna

Figura 1.19 – Arquietura atual do Sistema Interligado Nacional (SIN).


Fonte: ONS.

14.000 16.000
ENA Norte ENA Nordeste
MWmed

Calculadas a partir das médias mensais de vazões de 1931 até 2001 multiplicadas
MWmed

pela produtibilidade média dos reservatórios a 65% de armazenamento

12.000 14.000
Calculadas a partir das médias mensais de vazões de
1931 até 2001 multiplicadas pela produtibilidade
média dos reservatórios a 65% de armazenamento 12.000
10.000
Diferença entre 10.000 Diferença entre
Média anual
8.000 máx. e mín. 9,9/1 (MWmed) 7.811 máx. e mín. 4,8/1
Média anual 8.000
(MWmed) 6.043
6.000
6.000
63,1% da
4.000
afl. anual 4.000
57,1% da
2.000 2.000 afl. anual
8.357 11.193 13.137 13.062 8.503 4.134 2.407 1.690 1.323 1.480 2.440 4.784 13.559 14.381 14.290 11.295 6.882 4.713 3.881 3.328 2.960 3.305 5.374 9.762
jan. fev. mar. abr. maio jun. jul. ago. set. out. nov. dez. jan. fev. mar. abr. maio jun. jul. ago. set. out. nov. dez.

10.000 60.000
ENA Sul ENA Sudeste
MWmed
MWmed

Calculadas a partir das médias mensais de vazões de 1931 até 2001 multiplicadas
pela produtibilidade média dos reservatórios a 65% de armazenamento Calculadas a partir das médias mensais de vazões de 1931 até 2001 multiplicadas
pela produtibilidade média dos reservatórios a 65% de armazenamento
9.000
50.000
8.000
Média anual
Diferença entre
7.000 máx. e mín. 2/1
(MWmed) 6.333 40.000
6.000 Média anual
Diferença entre
(MWmed) 30.287 máx. e mín. 3,3/1
5.000 30.000

4.000

3.000 41,3% da 20.000

afl. anual
2.000
10.000
50,9% da
1.000 afl. anual
5.000 5.804 4.991 4.607 5.822 6.957 7.563 6.832 7.906 9.061 6.376 5.080 48.779 51.669 48.385 36.038 26.558 22.622 18.695 15.592 15.830 19.022 24.117 36/142
jan. fev. mar. abr. maio jun. jul. ago. set. out. nov. dez. jan. fev. mar. abr. maio jun. jul. ago. set. out. nov. dez.

Figura 1.20 – Energia natural afluente nas regiões brasileiras.


Fonte: ONS.

10 energia nuclear.indd 54 11.11.10 10:37:42


A contribuição da opção nuclear numa economia menos dependente do carbono 55

Potência hídrica instalada Capacidade de armazenamento


(Representação de 75% do armazenamento total)
70.000 300

60.000 250

Armazenamento em GW/mês
50.000
200
40.000
MW

150
30.000
100
20.000

10.000 50

0 0
1950 1960 1970 1980 1990 2000 1950 1960 1970 1980 1990 2000

Figura 1.21 – Evolução da capacidade instalada e reservação.


Fonte: Lista da ONS dos principais reservatórios.

Relação [capacidade de armazenamento/(carga- GT)]


30

25

20

15

10

0
1070
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006

Figura 1.22 – Capacidade de armazenamento e carga total do sistema.


Fonte: ONS.

Uma evidência desse fato é a avaliação da evolução da capacidade


hidrelétrica instalada e da capacidade de reservação de água, conforme
mostrado na Figura 1.21.
O risco hídrico pode ser caracterizado pela relação entre a capacida-
de de armazenamento das barragens e a carga total do sistema, excluída
a geração elétrica de origem térmica disponível, conforme Figura 1.22.

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56 Energia Nuclear e Sustentabilidade

70.000
60.000 Hidro
6,8% 11,3%
Termo 8,1%
50.000 7,6% 3.392 5.758
8,9% 3.823
45.000 7,9% 3.464
9,1% 3.929
40.000 3.302
3.606
35.000
MWmed

30.000
25.000 43.635 46.340 45.276
42.272 93,2%
20.000 38.464 40.066 92,4% 91,9% 88,7%
35.995 91,1%
90,9% 92,1%
15.000
10.000
5.000
0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Figura 1.23 – Evolução da geração líquida de eletricidade.

Note-se que esse indicador tem uma nítida tendência de queda que
tende a se agravar com a ampliação dos aproveitamentos hidrelétricos
na Região Amazônica.
No ano de 2005, foram gerados 45.726 MWmédios (400 TWh) de
energia elétrica líquida no Sistema Interligado Brasileiro e 51.034 MW
médios (447 TWh) em 2008, correspondendo a uma taxa de crescimen-
to acima de 4% ao ano no período41, conforme Figura 1.23.
A fonte hídrica respondeu em média por 90% da geração líquida de
eletricidade no período. A complementação térmica, que tem variado
entre 7% e 12% da carga, é feita pelas fontes apresentadas na Figura
1.24, a seguir, com preponderância da geração nuclear e a gás natural,
mas com crescente contribuição da biomassa moderna.
A constância dessa demanda por complementação térmica é de-
monstrada pela Figura 1.25, que detalha a geração mês a mês. Este
gráfico mostra que a mínima geração térmica chegou a cerca de 2.200
MWmédios no período 2006-2008. Note-se que Angra 1 e Angra 2
têm uma potência instalada de 2.000 MW, o que corresponde a uma
geração líquida de cerca de 1.500 MW médios. Com a entrada em

_
41
Empresa de Pesquisa Energética (EPE/MME), Balanço Energético Nacional 2009 –
Ano Base 2008: resultados preliminares. Rio de Janeiro: EPE, 2009. 48p.

10 energia nuclear.indd 56 11.11.10 10:37:43


A contribuição da opção nuclear numa economia menos dependente do carbono 57

3.500
Nuclear
3.000 Gás
Carvão
2.500 Óleo
Biomassa

2.000

1.500

1.000

500

0
2002 20203 2004 2005 2006 2007 2008

Figura 1.24 – Evolução da geração líquida de eletricidade por fonte.


Fonte: Dados dos Relatórios Anuais do NOS.

54.000,00
Térmica nuclear
Mínima termo 2008
Térmica convencional 4.923 MW (novembro)
52.000,00
Hidráulica
Mínima termo 2007
2.217 MW (abril)

térmica no período
50.000,00

Mínima geração

(abril 2007)
2.217 MW
Mínima termo 2007
48.000,00 2.920 MW (janeiro)

46.000,00

44.000,00

42.000,00

40.000,00
jan.
fev.
mar.
abr.
mai.
jun.
jul.
ago.
set.
out.
nov.
dez.
jan.
fev.
mar.
abr.
mai.
jun.
jul.
ago.
set.
out.
nov.
dez.
jan.
fev.
mar.
abr.
mai.
jun.
jul.
ago.
set.
out.
nov.
dez.

2006 2007 2008

Figura 1.25 – Demanda térmica.


Fonte: Dados dos Relatórios Anuais do NOS.

operação de Angra 3, essa geração líquida será ampliada para mais de


2.500 MW médios. O sistema interligado nacional requer, portanto,
uma base térmica complementar à hídrica. Para esse papel, a geração
nuclear é inquestionavelmente a opção mais competitiva, como mos-
tra a Figura 1.26.

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58 Energia Nuclear e Sustentabilidade

Usina
Custo Energia
Receita Fixa
Tipo variável contratada
(R$/ano)
(R$/MWh) (MWmed)
Gás 685.498.186 113,16 1.391
Óleo combustível 6.817.081 608,30 19
Diesel 75.221.829 629,49 225
R$ 700,00 Biomassa 91.977.450 36,00 97
Carvão 616.790.252 67,20 546
Angra 3 1.392.945.120 18,00 1.260
R$ 600,00

R$ 500,00
Diesel
Óleo combustível
R$ 400,00
Custos (R$/MWh)

R$ 300,00 Biomassa Gás (US$ 7 MBTU)


Carvão
R$ 200,00

R$ 100,00

Gás (US$ 5,5 MBTU) Usina 4 Angra 3


0
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
Fator de capacidade (%)

Figura 1.26 – Competitividade da fonte nuclear.


Fonte: Dados da EPE e ANEEL, resultado do leilão de energia nova-5 e da Eletronuclear (dados de Angra 3 e
Usina 4, base 2005).

Note-se ainda que as perdas do sistema elétrico brasileiro atingiram


cerca de 15% da produção bruta de eletricidade, em grande parte em
decorrência da dimensão continental da rede de transmissão.
O Plano Nacional de Energia 2030 (EPE, 2008)42, editado em 2007
pela Empresa de Pesquisa Energética, coloca a projeção de demanda
em patamar ainda mais elevado. Prevê um consumo de 1.139 bilhões
de kWh em 2030, ou seja, um crescimento de 176% no período 2005-
2030. Essa demanda deverá ser atendida com um acréscimo de cerca
de 130% na capacidade hidráulica instalada, 135% de acréscimo na
_
42
Empresa de Pesquisa Energética (EPE/MME), Plano Nacional de Energia 2030, Rio
de Janeiro, EPE, 2007, 408 p. Disponível em: <http://www.epe.gov.br/PNE/20080111_1.
pdf>. Acesso em: 5 set. 2009.

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A contribuição da opção nuclear numa economia menos dependente do carbono 59

Tabela 1.7 – Cenários do Plano Nacional de Energia 2030


Gás Eólica e Biomassa
Hidráulica Nuclear Carvão Petróleo Total
natural outros e resíduos

SIN (jan/2006) 75,6 8,1 1,6 2,0 0,1 1,4 2,9 91,6

Cenário 1 167,8 20,6 9,1 7,3 6,5 5,9 3,3 220,5

Cenário 2 168,8 18,1 8,0 7,3 6,5 6,5 3,3 218,5

Cenário 3 168,2 24,1 9,1 9,3 6,5 6,5 3,3 227,0

Cenário 4 168,7 21,6 9,1 11,3 6,5 6,5 3,3 227,0

Cenário 5 243,3 28,1 9,1 9,3 6,5 6,5 3,3 306,1


Fonte: Plano Nacional de Energia PNE 2030.

250
Hidráulica Biomassa e resíduos
200 Gás natural Carvão
Eólica e outros Petróleo
150 Nuclear
MW instalados

100

50

0
SIN Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3 Cenário 4 Cenário 5
(jan. 2006)

Figura 1.27 – Cenários do Plano Nacional de Energia 2030.


Fonte: Plano Nacional de Energia PNE 2030.

capacidade termelétrica instalada – na qual a nuclear está inserida


– e cerca de 1.300% de acréscimo na capacidade instalada de fontes
alternativas. Nesse cenário, para que exista uma oferta adequada de
energia no País, não é possível prescindir de qualquer fonte de ener-
gia, inclusive a nuclear, cujo crescimento de capacidade instalada de-
verá ser de cerca de 235%, passando de 2.000 MWe em 2005 para
7.300 MWe em 2030.
A distribuição demográfica brasileira, com 80% da população vi-
vendo em áreas urbanas, é outro fator-chave a ser contabilizado no
planejamento energético. A distribuição demográfica está concentra-
da em uma faixa de 1.000 km ao longo da costa, e as projeções para o

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60 Energia Nuclear e Sustentabilidade

desenvolvimento brasileiro indicam um aumento no consumo per ca-


pita de eletricidade de 2.020 kWh para 4.380 kWh. Fontes distribuídas
de geração elétrica, como a eólica, solar e de biomassa, não podem
atender sozinhas a tal aumento de demanda de forma concentrada
como ocorre nas áreas urbanas. Mesmo com o aumento extraordiná-
rio dessas fontes, tal como previsto no PNE 2030, grandes blocos de
energia concentrada, como das usinas hidrelétricas e termelétricas,
ainda serão necessários. Deve ser criado um mix composto de blocos
de geração de eletricidade concentrados e distribuídos para respon-
der aos grandes desafios do crescimento da procura por eletricida-
de. Além dos aspectos mencionados de reservação na região norte,
concorre a necessidade de promoção da exploração sustentável, que
inclui o respeito às áreas de preservação permanente e às reservas
legais da Amazônia, que deve obrigatoriamente fazer parte da agenda
de energia referente a essa região.
Portanto, para conferir confiabilidade ao sistema elétrico brasileiro,
é vital contar com um portfólio diversificado de fontes de energia. A
fonte nuclear é certamente uma das opções para compor esse portfólio,
uma vez que as centrais de Angra 1 e 2 tiveram um papel-chave para
suportar a demanda de eletricidade e para mitigar o impacto da falta da
energia em 2001. Ambas as centrais operaram continuamente, a plena
carga e ao longo de todo o período do chamado “apagão”. A energia
gerada por essas duas usinas equivale hoje a cerca da metade do con-
sumo elétrico do estado do Rio de Janeiro. Com a entrada em operação
de Angra 3, a energia dessa central nuclear passará a representar cerca
de 80%.
O Brasil possui disponibilidade e tecnologia em quase todas as fon-
tes primárias de geração de energia elétrica, além de uma matriz que
apresenta reduzidos níveis de emissão de gases de efeito estufa (GEE).
Considerando as preocupações atuais do cenário global de mudanças
climáticas, quanto ao potencial de comercialização de créditos de car-
bono e quanto à segurança energética, o Brasil não tem dificuldade
para estabelecer um planejamento adequado para obter um balanço
ideal para uma matriz hidrotérmica. As reservas brasileiras de urânio
estão discutidas no Capítulo 2.
A energia nuclear apresenta uma complementaridade estratégica
em relação à geração hidrelétrica, por ser sempre despachada na base.

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A contribuição da opção nuclear numa economia menos dependente do carbono 61

2007-2015 2016-2020 2021-2025 2026-2030 2016-2030

Referência
Cenário 1 1.360 MW 1.000 MW 1.000 MW 2.000 MW 4.000 MW
Angra 3 NE 1 NE 2 SE 1 + SE 2
Cenário 2

Intermediário
Cenário 3 1.360 MW 1.000 MW 1.000 MW 2.000 MW 6.000 MW
Angra 3 NE 1 NE 1 + NE 2 SE 1 + SE 2 + NE 3
Cenário 5

Alto 1.360 MW 2.000 MW 3.000 MW 3.000 MW 8.000 MW


Cenário 4 Angra 3 NE 1 + NE 2 SE 1 + SE 2 + NE 3 SE 3 + SE 4 + NE 4

Figura 1.28 – Cenários do Plano Nacional de Energia 2030 – energia nuclear.

Reforça a característica de baixa emissão de gases de efeito estufa da


matriz elétrica brasileira e promove o arraste tecnológico, por meio do
estímulo ao desenvolvimento industrial e tecnológico do País, fortale-
cendo setores especializados no fornecimento de equipamentos, com-
bustível e instalações com alto conteúdo tecnológico.
É importante observar que a motivação brasileira para a adoção da
opção nuclear é distinta da maioria dos países, que em grande parte
não possuem reservas próprias de recursos energéticos e têm suas ma-
trizes de energia elétrica centradas no carvão, no petróleo e nos seus
derivados. Esses aspectos colocam tais países expostos a problemas de
segurança energética, traduzidos no dispêndio de recursos para impor-
tação de combustíveis fósseis, na volatilidade do preço dessas commo-
dities no mercado internacional e no risco de interrupção em caso de
conflitos. Outra dificuldade está associada ao cumprimento das metas
de redução de emissões ligadas a acordos internacionais, cuja tendên-
cia parece inexorável, tendo em vista as consequências das alterações
climáticas previstas caso nenhuma atitude venha a ser tomada.
O planejamento oficial no Brasil43 prevê um crescimento da geração
nuclear de 4 Gwe para 8 GWe em 2030, incluindo a construção de novas
centrais nucleares de 1 GWe após a conclusão da usina nuclear de An-
gra 3. A contribuição da geração nuclear no consumo de eletricidade de-
verá evoluir a partir dos atuais 2,6% para valores acima de 5% em 2030.

_
43
Empresa de Pesquisa Energética (EPE/MME), Plano Nacional de Energia 2030. Rio
de Janeiro: EPE, 2007, 408 p. Disponível em: <http://www.epe.gov.br/PNE/20080111_1.
pdf>. Acesso em: 5 set. 2009.

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62 Energia Nuclear e Sustentabilidade

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