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FINS E OBJECTIVOS DO

DIREITO PENAL
Para que serve o Direito Penal?
Fins do Dto. Penal (stricto sensu)
 Coincide com o do Dto. em geral: ordenação da vida social conforme a Justiça

 Porque deve existir um Direito com consequências tão gravosas como


limitação da liberdade de todos (pela coacção moral que a ameaça da sanção
representa; pela privação de um bem precioso que é a liberdade, com a
execução da pena, e, nalguns sistemas, da própria vida)?
 Resposta: Não obstante a gravidade das ameaças que contém e das suas sanções, o
Direito Penal é um factor redutor da violência na sociedade; é um mal necessário;
é um mal menor – perante o mal maior que evita;

 O Direito Penal (organizado e monopolizado pelo Estado) tem um efeito


dissuasório, de prevenção, que limita a violência e impede que os cidadãos
ofendidos façam justiça por mão próprias;
 Disciplina o poder punitivo do Estado, limitando os possíveis abusos dos seus
agentes;
 Sendo limitador de liberdades, dá maior espaço de liberdade.
 Assim acabamos de dizer que a existência do Dto. Penal é legítima.
 O Dto. Penal é legítimo porque baseia-se na conjugação de duas categorias de
fins específicos:

 Fins utilitaristas (fruto do iluminismo): assenta na prevenção geral

 Fins garantísticos: assenta na defesa da pessoa contra os abusos do poder punitivo


do Estado e a violência dos demais

 O fim de prevenção geral: o Dto. Penal evita ou mantém a violência social em


níveis toleráveis e é actualmente considerado um
mal menor do que o que resultaria da sua
ausência

 obtêm-se por duas vias:


 Prevenção geral negativa
 Prevenção geral positiva
FINS UTILITARISTAS
 PREVENÇÃO GERAL NEGATIVA (intimidação):
 para evitar que se cometam crimes, o sistema jurídico-penal prevê consequências
desfavoráveis para quem violar a norma a fim de reforçar a sua imperatividade;
 Prevendo as consequências do incumprimento das normas (sanções penais) as
pessoas seriam estimuladas a cumpri-la para não sofrer o mal que ela prevê;

 Há um diálogo racional entre a norma e os seus destinatários em que a norma


procura dissuadi-los de praticar comportamentos proibidos (cominação abstracta),
passando os momentos de execução (cominação concreta) para reafirmação da
seriedade das ameaças feitas antes e para prevenção de crimes futuros por parte
dos delinquentes e para prossecução de fins acessórios;
 Concebe-se o homem como um ser que pondera racionalmente as vantagens e
inconvenientes que podem advir da prática de um acto (antropologismo
racionalista característico do iluminismo) e o Estado assegura que cada um possa
exercer os seus direitos em segurança e sem ofensas por parte dos demais;
 CRÍTICAS:
 A teoria da prevenção geral negativa (correspondente a visão utilitarista) pode:
 levar a ameaçar ou castigar uma pessoa inocente se isso se mostrar necessário ou útil
para evitar um mal maior;
 levar a violação das exigências da proporcionalidade ao mal do crime e à culpabilidade do
agente

Na verdade, o efeito intimidatório do Dto. Penal resulta do conhecimento da


existência da lei e da sua efectiva aplicação e não apenas da sua existência e da
sua efectiva aplicação a alguns agentes de crimes.
O efeito intimidatório não é o mesmo quando se trate de delinquentes
inadaptados (aqui é muito reduzido) ou anormais e delinquentes ocasionais
(aqui é nulo);
O efeito intimidatório sobre os cidadãos é tão maior quanto for o que os
cidadãos têm a perder no plano social com a punição (perda de estatuto social,
da reputação, do emprego, etc.)
 PREVENÇÃO GERAL POSITIVA (integração):
 Privilegia a educação, integração, reafirmação dos valores comunitariamente
assumidos (prevenção pela integração);
 Considera que o Dto. Penal deve procurar influir positivamente sobre a comunidade
para lhe reforçar a consciência jurídica e a sua disposição para o cumprimento das
leis;
 A missão do Dto. Penal não deve ser só intimidar mas deve também ter uma função
pedagógica (de orientação dos comportamentos, de reafirmação dos valores
defendidos colectivamente, da própria moral social) no que for necessário para a
manutenção e desenvolvimento das comunidade;
 A missão do Dto. Penal está na educação colectiva e no foro íntimo das pessoas
para educa-las na fidelidade ao Direito;
 CRÍTICAS:
 Por ser uma teoria claramente intervencionista, questiona-se se é legítima uma
teoria que atribui ao Dto. Penal funções de conformação das consciências, fomento
de atitudes internas de fidelidade em vez de exigir respeito externo às normas
jurídicas, sem pretender a interiorização dos valores que elas incorporam.

 O Dto. Penal procura, por meios próprios, convencer as pessoas da necessidade de


obedecerem as normas decretadas pelo Estado como condição necessária para a
realização do bem comum, mesmo que as pessoas não se conformem com o seu
conteúdo (trata-se de mera adesão externa, imposta pela necessidade da vida em
comum);

A importância da função de prevenção geral positiva das normas penais é


orientam os indivíduos para os comportamentos socialmente desejáveis; têm
igualmente importância na política de descriminalização pois a
descriminalização de certos comportamentos resulta em potencial risco de
diminuição dos efeitos preventivos gerais ligados à norma penal, sobretudo nos
casos em que o comportamento descriminalizado continua a ser considerado
indesejado para a vida em sociedade.
FINS GARANTÍSTICOS
assenta na defesa da pessoa contra os abusos do poder punitivo do Estado e a
violência dos demais (justiça por mãos próprias)

 Fim de redução da violência estatal


 Na perpectiva utilitarista (restrição da intervenção penal - princípio da intervenção
mínima);

 Na perspectiva garantístico-individual;

 A contenção da reacção violenta das vítimas pela disciplina estatal


 Fim de redução da violência estatal na perspectiva utilitarista (princípio da
intervenção mínima):
 Se a determinação de penas menos graves ou mesmo descriminalização de determinados
comportamentos não resultar em menor eficácia preventiva, devem baixar-se as penas;

 Se a agravação da pena ou incriminação de certas condutas não resultar um incremento


da prevenção, deve renunciar-se à agravação ou incriminação;

Daqui resulta uma crítica às políticas criminais que centram na agravação das sanções
penais por razões simbólicas (v.g. repulsa da sociedade) ou para satisfação imediata
da opinião pública, ao invés de se preocuparem com a prevenção do crime e
protecção das vítimas;
As incriminações (por serem limitadoras de liberdades) e as penas (por representarem
sofrimento imposto ao delinquente) devem limitar-se ao mínimo indispensável para
realização dos seus fins porque acarretam custos para os delinquentes e suas famílias
que são inocentes, e custos muito elevados para a sociedade (Estado); v.g. basta saber
quanto custa cada recluso para as contas do estado.
 O princípio da intervenção mínima exprime a ideia de que o Dto. Penal há-de
reduzir a sua intervenção só nos casos em que seja absolutamente necessária
em termos de utilidade social geral pelo que:

 Deve prescindir-se da incriminação sempre que seja possível esperar os mesmos


efeitos preventivos da intervenção de meios menos lesivos (manifestação externa);

 Deve prescindir-se de uma determinada sanção penal sempre que possa esperar-se
similar efeito de outra sanção menos gravosa (manifestação interna)
 Fim de redução da violência estatal na perspectiva garantístico-individual
(limitação ao jus puniendi do Estado em defesa das pessoas):

 Os critérios preventivos da criminalidade chocam com os critérios garantísticos das


pessoas; dessa confrontação resulta um direito penal com o máximo de prevenção
e o máximo de garantias;

 Daí que o Direito Penal seja altamente formalizado, mostrando o jus puniendi
como um exercício limitado por garantias estabelecidas em favor do delinquente e
das vítimas (o indivíduo ou a comunidade);

 Essa formalização expressa-se por princípios como o da legalidade, da


proporcionalidade, humanidade, igualdade e ressocialização que estudaremos mais
tarde;
 Controlar o poder punitivo do Estado constitui garantia para as pessoas de tal modo
que a perda ou diminuição desta garantia deve ser ponderada em qualquer política
de descriminalização

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