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ALMA

NEGRA
o renomado fotógrafo DON MCCULLIN rodou
o mundo em busca de imagens de guerra.
Aos 84 anos, o inglês faz um balanço da carreira
e revela suas frentes de combate atuais.

Por LEÃO SERVA

Morador de rua
irlandês no distrito
de Spitalfields,
[10 J Londres, 1970
UM DOS MAIORES FOTÓGRAFOS DE GUERRA (não só) de todos os tempos,
Don McCullin está no auge: em 2019, sua obra foi tema de uma retrospectiva
do Tate Britain, em Londres, museu conhecido por abrigar o maior acervo de
pinturas de Williarn Turner (1775-1851).
Autor de imagens icônicas do século 20, feitas em Biafra, no Vietnã ou no
Oriente Médio, McCullin é chamado "Sir Donald" desde que foi condecorado
pela rainha Elizabeth 2ª. E segue trabalhando intensamente, incluindo várias
viagens à Síria durante a atual guerra civil.
Nascido em 1935 em uma família "pobre, muito pobre", McCullin é um
"produto de Hitler": como muitas crianças de Londres, aos seis anos, ele e a
irmã foram levados para o interior do país a fim de fugir dos bombardeios
alemães que assolavam a capital. Separados em casas de famílias diferentes,
McCullin se viu só e maltratado por vários anos, enquanto a irmã, adotada
por uma família de classe média, sumia de sua vida.
Ao fim da guerra, ele voltou ao bairro de classe trabalhadora de Londres, onde
os quatro McCullin (a família ganhara um irmão mais novo) passaram a dormir
no mesmo cômodo e dividir a mesma água do banho. O jovem logo mergulhou
numa rotina de brigas de rua, mau desempenho escolar e proximidade com a
gangue de jovens que agitava a vizinhança do parque Finsbury. Mas a morte
prematura do pai o forçou a procurar trabalho cedo. McCullin conseguiu então
um emprego como auxiliar de um laboratório de revelação de fotos, aprendeu
rudimentos da ampliação e comprou uma câmera usada.
Em 1958, quando a gangue de seus colegas se envolveu em um assassinato
que acabou nas páginas policiais, em vez de ser parte do crime, McCullin
vendeu ao jornal The Observer suas primeiras fotos: retratos dos rapazes.
Sessenta anos depois, McCullin ganhava espaço ao lado de William Turner, um
feito e tanto para o menino oriundo de uma família de baixa renda.
O vínculo com o passado aparece em muitas imagens de sua trajetória e
também em uma característica incomum entre seus pares: McCullin faz até hoje
todas as ampliações de suas fotos, de maneira analógica e em um tom escuro
carregado. "Mesmo minhas paisagens têm o tom de fotos de guerra", diz.
Em uma manhã fria do inverno londrino, McCullin falou à ZUM. Ao final da
entrevista, confessou estar ansioso para voltar à casa onde hoje produz a
maioria de suas fotos e todas as suas ampliações. A residência do fotógrafo
está localizada numa área rural, cercada de paisagens históricas, que ele
tem fotografado para a compensar o estresse pós-traumático das guerras.
Seus trabalhos mais recentes são naturezas-mortas, inspiradas pela pintura
holandesa renascentista. Sempre com um tom sombrio que, diz ele, reflete
bem sua alma.

[ 12]
Gangue de jovens Os Guvnors
(Os Governadores) em trajes de passeio,
Finsbury Park, Londres, 1958

[13 J
Jovem católico provoca
soldados britânicos
em Bogside, bairro de
Londonderry, Irlanda
do Norte, 1971

[14 J
(15 J
Como outra pessoa poderia ampliar uma fotografia minha se ela não tem a minha
emoção? Ela estará reproduzindo o negativo como um condutor que dirige um
ônibus ou um trem. Nao sou eu. Eu mantenho o controle de minhas ampliações.

Você considera que demorou para que a fotografia tamento que cuidava dos indígenas, e a mulher que
fosse aceita em uma galeria da importância da Tate, me atendeu foi incrivelmente rude. A filhinha dela
especialmente a fotografia de guerra? estava junto e ficava atrás dela balbuciando algumas
Talvez. O museu Victoria & Albert foi um dos pri- palavras, chamando-a. Enquanto eu conversava com
meiros a ter uma coleção de fotografias. E eu fiz ela, ela falava com a filha, me ignorando completa-
uma exposição lá no início dos anos 1980. Expus mente, me tratando como lixo. Pensei: os brasileiros
em muitas galerias na Europa, mas a Inglaterra supostamente são tão calorosos, e essa mulher está
tem sido lenta em reconhecer a fotografia. Parece me tratando como um cachorro. Ela e a Força Aérea.
que esse é um começo, espero. Sou representado Quando eu estava na cidade, para ir até o aeroporto
pela galeria Hamilton's há 35 anos. Mas de repente era um longo caminho de táxi, muito caro. Eu tive
minha reputação começou a decolar. que ir duas vezes. Finalmente, me deram permis-
são. E, quando voamos, o avião quebrou a cerca de
o mercado de arte tem dificuldade em aceitar a foto- 150 quilômetros do Xingu, desceu em uma pista e lá
grafia de guerra? ficou. O piloto foi muito gentil, disse que me arru-
Sem dúvida. Especialmente em galerias como a Tate. mariam uma aeronave menor. E, de fato, algumas
Elas têm medo de ofender o visitante, não querem horas depois, apareceu um avião Cessna e seguimos
chocar o público, deixá-Io infeliz. Elas querem apre- viagem. Mas, quando aterrissamos no Xingu, os dois
sentar algo prazeroso. É complicado atrair o público indigenistas, os irmãos Villas-Boas, olharam irri-
para uma mostra de meu trabalho em um museu tados para mim. Eles se aproximaram e pergunta-
importante como esse, um dos mais famosos do ram: "Quem é você? O que você veio fazer? Nós não
mundo por causa da coleção do Turner. te queremos aqui." Eu disse: "Eu tenho os papéis da
Funai". Mas eles diziam: "Não importa. Por que você
Pode contar sobre a cobertura que fez no Brasil? veio para cá?". Eles foram horríveis. E eu pensava:
Fui enviado pelo jornal. Havia um famoso escritor "Por que os brasileiros, tão gentis, estão me tratando
britânico chamado Norman Lewis, que morreu há tão mal?". Mas sou muito paciente. Eles disseram
alguns anos com cerca de 90 anos. Eu trabalhava no que eu ficaria apenas até o próximo avião, que me
jornal, mas nunca o havia encontrado antes, nem levaria embora. Os indígenas gostavam de jogar
lido seus trabalhos. O editor de reportagens espe- futebol e me chamaram para jogar. Eles me davam
ciais da revista do jornal me disse: "Esse homem comida, arroz, feijão. Um dia, eu disse aos dois
incrível vai escrever uma história para o jornal e ele irmãos: "Eu comprei algumas coisas na cidade, uns
quer que você vá ao Brasil e vá ao ... Como se chama queijos, patês e outras coisinhas, podemos comer
o lugar onde atuavam dois famosos indigenistas juntos?". Eles aceitaram, comeram alguma coisa,
chamados Villas-Boas? mas a contragosto. Quando estava chegando o Natal
e eles sabiam que eu iria embora, se aproximaram
O Xingu. e disseram: "Nós estávamos te observando, e você
Isso, ele queria que eu fosse fotografar o Parque do foi legal com os indígenas, nós concluímos que você
Xingu. Logo que cheguei, fui à Força Aérea para ten- está ok. Vamos sair em uma missão especial da qual
tar uma carona em um voo. Os funcionários ficaram você não pode participar. Mas se quiser ficar, você
muito irritados e disseram: "Por que você veio sem é muito bem-vindo." Eles mudaram completamente
gravata?". Eu disse: "Não pensei que era necessário". de opinião, passaram a me achar respeitoso, gentil,
Eles disseram: "Volte ao seu hotel, ponha uma gra- e até me deram um presente, uma cabeça de jaguar
vata, e então podemos falar". Também fui ao depar- feita de arte plumária.

[ 16]
Fotografias feitas no Xingu para a reportagem "Genocídio", com texto de Norman Lewis, publicada
na revista do jornal inglês The Sunday Times, fevereiro de 1969

[ 11]
Eu queria ir para a guerra, queria sentir o medo. Era uma doença. Até que
um dia fui enviado para cobrir uma guerra na África e encontrei centenas
de crianças morrendo de fome. Aquilo imediatamente me deixou sóbrio.

E você ainda a tem? tive o maior prazer fotografando povos indígenas.


Sim, na minha casa. O trabalho que fiz em jornalismo exige hard news.
Tenho viajado toda minha vida, desde os 16 anos.
Hoje é extremamente valioso, inclusive porque não Eu não completei os estudos quando garoto. Meu
pode ser vendido nem oferecido como presente. Não pai morreu quando eu era pequeno, e minha famí-
pode sair da área indígena. É raro. lia era muito, muito pobre, um ambiente violento,
Interessante. Eu sempre vejo esse trabalho em uma área de atuação de gangues. Então, tive que
minha casa e penso como ele sobreviveu, porque driblar minha falta de educação formal durante
são penas. Mas, enfim, voltei para Londres, o jor- minha jornada no jornalismo.
nal The Sunday Times publicou as fotografias, e foi
isso. Não fiz fotos extraordinárias enquanto estava Você ainda trabalha intensamente e agora tem se
lá. Apenas fiz fotos de um homem. A maior parte dedicado a paisagens do entorno de onde mora.
das pessoas estava semivestida. Eu vejo sempre as E na Síria. Estive na Síria no ano passado. Mas ago-
fotos do Sebastião Salgado, ele faz fotos espetacu- ra estou velho, meu corpo recusa certas coisas. Fiz
lares de índios, e ainda hoje muitos se vestem de uma grande cirurgia cardíaca - ela em si não me
forma tradicional, muitos estão nus ainda. pararia, mas minhas pernas estão começando a
O Norman Lewis odiava os missionários, ele os se deteriorar, não consigo mais fechar a mão, por
acusava pela destruição da cultura desses grupos. causa de artrite provocada pelo trabalho no labo-
Dizia: "Por que eles não tratam bem os indígenas?" ratório com água fria no inverno, ao fazer minhas
Fui para o Paraguai anos depois e encontramos indí- ampliações. Faço todas as minhas ampliações.
genas, sob cuidados dos missionários, que estavam
morrendo, pegavam pneumonia, gripe, doenças Você ainda faz as ampliações?
relativamente simples, que podiam ser curadas, Sim, até hoje. Este último fim de semana fiquei
morrendo de fome. Norman Lewis escreveu muitos fazendo cópias de fotos de paisagens. Sempre tive
livros, sua missão era denunciar os missionários. paixão por ter meu trabalho em minhas mãos.
Ele adorava os povos indígenas. Mas hoje tudo está Não posso deixar meu trabalho na mão de outros.
cada vez mais ameaçado: o homem que criou o Como outra pessoa poderia ampliar uma fotogra-
Boeing 747 pôs todas as culturas distantes sob amea- fia minha se ela não tem a minha emoção? Ela
ça, porque ele pode levar centenas de pessoas de estará reproduzindo o negativo como um condutor
outros lugares até uma cultura dessas em instantes. que dirige um ônibus ou um trem. Não sou eu. Eu
mantenho o controle de minhas ampliações.
Sua fotografia é marcada pelas emoções, pela expres-
são humana em lugares diferentes do mundo. Isso é Você sente que mantém um tipo de vício de cobrir
uma forma de antropologia? guerras repetidamente?
Se eu não tivesse me tornado o fotógrafo que sou, Sim, é uma forma de vício, como uma dependência
teria adorado passar a vida como antropólogo. Esti- de droga. Era excitante, trágico, mas excitante. Nun-
ve em muitos países da África e da Ásia. Fotografei ca tive falta de sentimento, sempre tive emoções
muitos grupos em Irian jaya, na Nova Guiné. São muito fortes. Mas sabia que eu estava me compor-
povos extraordinários, eles deixaram recentemen- tando como um viciado em drogas. Eu ficava excita-
te o canibalismo. Talvez 20 ou 30 anos atrás ainda do. Quando ia para o aeroporto de Londres, sentia
houvesse quem praticasse canibalismo. E sempre o coração bater com intensidade. Eu queria ir para

[ 18]
Cerimônia do Festival do Porco, Irian Jaya (hoje Papua Ocidental), Indonésia, 1992

[19 J
Meu trabalho é envenenado pela culpa. Sei que estou vivo, sou
conhecido no mundo todo como fotógrafo, mas fiz uma carreira
baseada no sofrimento de outras pessoas. Seria muito fácil vestir
os louros da vitória, como César. Mas eu não sou César.

a guerra, queria sentir o medo. Era uma doença. Até Fazer fotos de paisagens é uma liberdade incon-
que um dia fui enviado para cobrir uma guerra na dicional. Você não assina nenhum contrato. Você
África e o que encontrei foram centenas de crianças tem um contrato com o sol, a lua, as estrelas, está
morrendo de fome. Era Biafra, em 1968, 1969 e 1970. tudo lá a seu dispor. Eu vivo na paisagem do oes-
Fui quatro ou cinco vezes para lá. Foi a coisa mais te da Inglaterra. Quando venho para Londres, me
terrível. E, quando eu vi as crianças morrendo, aqui- sinto torturado, não vejo a hora de ir embora.
lo imediatamente me deixou sóbrio. Minha mente
se corrigiu e passei a considerar erradas minhas Vocêvive no campo?
coberturas anteriores em guerras. Eu estava olhan- Vivo em uma área incrível do campo, uma constru-
do na direção errada, porque em guerra tudo acon- ção de 200 anos, três pequenas casas juntas, em
tece com muita intensidade a seu redor. As coisas uma colina diante de um vale, com um rio que per-
são excitantes, acontecem com facilidade. Mas, tence a mim hoje. Vim de uma infância extrema-
quando você põe o seu cérebro para pensar direito, mente pobre, em que minha mãe, meu pai, meu
começa a ir mais devagar, sua integridade se recons- irmão e eu dormíamos todos no mesmo quarto,
titui, as coisas ficam mais claras, e você percebe que em Londres. Hoje eu olho pela minha janela todas
o que estava fazendo antes era estúpido. Enfim, eu as manhãs, vejo o céu lá fora e, se o céu estiver
fotografava soldados, era como Hollywood. Mas a interessante, vejo que há uma oportunidade de
guerra verdadeira é a que afeta pessoas reais, civis. fazer uma grande foto de paisagem. Algumas vezes
eu saio, na verdade muitas, muitas vezes eu fico
Uma das imagens mais poderosas de sua história, a de pé no campo ou na colina e não tiro uma única
do menino albino, vem dessa guerra. foto, mas não fico envergonhado ou frustrado. É o
Exato. O menino morrendo. Ele tinha na mão uma privilégio de estar ali, a liberdade de estar naque-
lata vazia, que era originalmente de carne enlata- le lugar. Quando vejo toda essa gente presa numa
da, e ele seguia passando o dedo para tentar pegar grande cidade ...
alguma coisa. Mas não havia mais nada. Ele que-
ria sentir o gosto. Esse garoto nunca iria sobreviver. Você sofre por elas ...
Esse, aliás, é um outro aspecto de minha fotografia. (Risos).
Percebi que eu fotografava pessoas. Eu não estava
salvando as pessoas ao fotografá-Ias, o que me fazia Vocêviu o filme Salvador- O martírio de um povo, do
carregar uma grande culpa. Não sinto muito prazer Oliver Stone?
por meu trabalho, porque ele é envenenado pela Sim, detestei! Os filmes de guerra de Hollywood
culpa. Sei que estou vivo, sou conhecido no mundo não retratam a guerra como ela é. Quando vi Falcão
todo como fotógrafo, mas fiz uma carreira baseada negro em perigo (2001), do Ridley Scott, odiei a mim
no sofrimento de outras pessoas. Seria muito fácil mesmo por estar lá. Os diretores de Hollywood
para mim vestir os louros da vitória, como César. nunca ouvem as suas críticas, falam: "Ah, muito
Mas eu não sou César... obrigado, pode ser que façamos desse modo".

Em Comportamento irracional, sua autobiografia, Mas o personagem de Salvador, Richard Boyle, basea-
você diz que fotografa as paisagens como uma espé- do em um fotógrafo que esteve no Camboja até o fim
cie de compensação para o estresse pós-traumático da guerra, é uma pessoa que não pode mais viver
provocado pelas guerras. É um exercício zen? uma vida normal, em farmlia. É uma batalha insu-

[20 )
Menino albino, de
nove anos, com
uma lata de carne
vazia, Biafra, 1969
As bombas continuavam caindo em volta da gente.
Eu pensava: "Vou ser atingido novamente aqui!".
E sabe o que eu fiz? Fiquei fotografando os feridos
no caminhão, desviando a mente das dores na perna.

portável para ele, que sempre busca algum jeito de gastava dinheiro comprando lentes para a câmera.
voltar a uma guerra. você o conheceu? Qual é a sua lente predileta?
Não o conheci. Mas isso remete ao que eu disse Eu usava uma 35 mm, pequena assim. Robert Capa
antes: é um vício. dizia que se você não está suficientemente perto
suas fotos não ficarão boas. Essa frase dele é mui-
A vida de correspondente ameaçou ou destruiu sua to citada. Então, eu estava sempre perto de meus
vida familiar? assuntos, eu queria estar tão perto quanto possível.
Completamente. Eu tinha três filhos pequenos.
Quando o táxi vinha me buscar em casa para me Em algum momento você sentiu que ultrapassou o
levar ao aeroporto, eles sempre acenavam, mas limite?
nunca sorriam, porque tinham medo de que eu Eu cruzei o limite. Estava no meio de uma embos-
pudesse não voltar. E à medida que fiquei mais cada no Camboja, já no fim da tarde, começando
famoso, o relacionamento com minha primei- a escurecer. Estava no front, mais à frente do que
ra mulher começou a se desintegrar e comecei a os soldados. Eu os estava fotografando enquan-
beber. Quando eu era moço, eu não bebia, mas to eles marchavam em minha direção. De repen-
um vício leva ao outro: primeiro a bebida e depois te, começaram a chover milhares de projéteis em
mulheres, e vice-versa. E assim minha vida come- nossa direção e me joguei para fora da estrada. As
çou a se desintegrar, porque eu não estava no estradas no sudeste asiático costumam ser mais
controle da minha dignidade, minha honestida- elevadas do que as áreas do entorno, que são muito
de estava contaminada. Depois, perdi minha pri- úmidas. Me vi caído ao lado de um homem ferido.
meira mulher, ela morreu. Minha vida foi uma Tirei uma foto dele e, em seguida, disse para mim
jornada extraordinária, cometi erros, perdi minha mesmo: "Vamos lá Don, não seja covarde, você
mulher, casei novamente com uma fotógrafa nor- tem que sair deste buraco e fotografar esses caras".
te-americana chamada Marilyn Bridges. Ela tinha Eles correram em um contra-ataque. Eu subi e
um avião, voava sobre as linhas de Nazca, no Peru, corri com eles e me coloquei atrás de um jipe. E
para fotografar. Ela não contratava um piloto, lar- "bum!". Uma bomba caiu em frente do jipe e matou
gava o comando do avião para fazer as fotos. Ela um homem que estava na minha frente. Eu estava
mantinha esse avião em Nova York. Parecia muito ajoelhado, esperando o próximo movimento, por
glamuroso, mas no final era um pesadelo. Ela era isso recebi em minhas pernas os estilhaços que
linda, e cometi um novo erro. Todo ser humano é passavam por baixo do jipe. Senti como se fosse
falho, comete erros, alguma coisa em cada pessoa um fogo queimando minhas pernas, fiquei com-
está errada. A vida não é uma jornada fácil, é um pletamente surdo por causa da explosão. Entrei
desafio muito difícil. É praticamente impossível em choque, mas saí engatinhando por cerca de
que duas pessoas passem a vida juntos como mari- 100 metros. Não queria ser capturado pelo Khmer
do e mulher. É quase impossível que não aconteça Vermelho. Quando capturavam um prisioneiro,
um problema de relacionamento. nunca o matavam imediatamente. Eles o man-
tinham preso por cerca de três meses e depois o
Em seu livro, você conta que um colegajomalista cos- matavam com um golpe na cabeça. Um amigo meu
tumava fazer piadas ao apresentá-Io para os outros, foi morto por eles, um jornalista francês chama-
dizendo que você era um escocês muquirana que não do Gilles Caron. Éramos grandes concorrentes e

[22 J
McCullin
foi atingido
por fragmentos
de morteiros,
logo após
ter feito esta
foto, Camboja,
junho de 1970
Muitos jovens me mandam cartas dizendo que querem
ser fotógrafos de guerra. Odeio essas cartas, nem
respondo. Se você quer ser um fotógrafo de guerra,
vá para as ruas das cidades de nosso país.

amigos. Naquele momento, minha maior preocu- Você vasculha seu arquivo? Encontra coisas novas em
pação era não ser capturado pelo Khmer Vermelho. fotos antigas?
Eu estava perto do rio Mekong, naquele tempo Tenho encontrado coisas novas, sim. Tenho um
tinha muito força nos braços e pensei: vou deixar arquivo de 60 mil negativos em casa. No passa-
minhas câmeras, me jogar no rio e nadar, não vou do, os laboratoristas de jornais eram uma porca-
ser prisioneiro desses assassinos. Mas isso nem ria, faziam tudo às pressas. Meus negativos estão
precisou acontecer, porque um soldado veio e me se desintegrando, porque eles não eram lavados
carregou para dentro de uma casa e aplicou uma adequadamente. Um filme precisa ser lavado por
dose de morfina em minha perna. Depois me carre- uma hora após a revelação, mas isso não acontecia.
garam para a carroceria de um caminhão onde leva- Hoje a química está destruindo as emulsões. Por
vam os feridos. Ficamos esperando no caminhão isso tenho escaneado muitos negativos para refazê-
enquanto traziam todos os feridos. As bombas con- -los. Nesse processo, olho meus trabalhos antigos,
tinuavam caindo em volta da gente. Eu pensava: porque nunca tive tempo de ampliar tudo. Tenho
"Vou ser atingido novamente aqui!". E sabe o que encontrado imagens interessantes em fotos que
eu fiz? Fiquei fotografando os feridos no cami- não tinha escolhido. Quando as amplio, me sur-
nhão, desviando a mente das dores na perna. Na preendo e penso: "Por que eu deixei essa foto de
exposição, havia uma foto de um homem ferido lado?". Uma das melhores reportagens da minha
no abdômen, gritando de dor. Ele estava morren- vida não foi sobre guerra, mas uma história sobre
do, morreu no caminhão onde estávamos. os sem-teto em Londres, próximo ao centro da
cidade. Esses moradores de rua viviam como ani-
Este ano, o blog At War, do jornal The New York mais, como ratos, em barracas ou edifícios bom-
Times, publicou uma história sobre a identificação bardeados da Segunda Guerra Mundial, abandona-
correta de um soldado morto no Vietnã, depois de dos. Nessas fotos, você vê que eles são homens e
meio século, a partir de uma análise de seus arquivos. mulheres cujas mentes, corpos e almas estão des-
Você acompanhou a investigação? truídos pelas circunstâncias. E, se olho para o meu
Sim, ela foi feita por Anthony Loyd, que trabalha- trabalho passado, a reportagem sobre os morado-
va no jornal The Times, de Londres, onde trabalhei res de rua foi uma das mais humanas que fiz com
também. Ele teve a ideia de buscar o destino dos minha câmera. É uma história de que me orgulho.
soldados que lutaram na Batalha de Hue (1968), Não tenho orgulho das guerras. As pessoas me
uma das maiores da Guerra do Vietnã. Os fuzilei- chamam de "fotógrafo de guerra". Mas sou capaz
ros navais foram enviados para reconquistar a anti- de fotografar paisagens ou qualquer outro tema.
ga capital imperial (que estava sob domínio de for- A exposição [da Tate] tinha 260 fotografias sobre
ças do Vietnã do Norte e da guerrilha vietcongue), diversos temas. Mas você olha e vê como se desta-
e eles foram estraçalhados pelo exército do Norte. cam essas reportagens, que eu fiz em 1970/71, em
Fuzileiros navais não são treinados para lutar em Londres, ou aquelas em que fotografei a região
cidades, eles sabem desembarcar em praias, lutar norte da Inglaterra, em Bradford, onde havia mui-
na selva. Já o exército do Vietnã do Norte tinha ta pobreza e continua havendo. Estive lá há meses
soldados fantásticos. Eles arrasaram os fuzileiros. e nada mudou, uma cidade incrível. Hoje em dia
Passei onze dias com uma tropa de elite, chamada tem uma grande população islâmica, mas segue
Delta. Eles perderam 40 homens. extremamente pobre.

[24 J
Paraquedista cambojano ferido mortalmente
pelo mesmo estilhaço de morteiro que atingiu
McCullin, Camboja, junho de 1970

[25 J
Quando faço uma foto PB, ela te dá um murro no rosto, ela te ataca,
ela não te dá paz. Para mim, o preto e branco tem um sentido:
eu amplio minhas fotos sempre com um tom mais escuro porque sou
mais escuro. Eu sou negro por dentro.

Você esteve na Síria recentemente. Foi uma cobertu- catástrofes. Eu sei que ele cobriu a fome na Etiópia.
ra de guerra? Ele é um fotógrafo tão bom que conseguiu fazer
Bem, não fui fotografar a guerra, mas as ruínas grandes trabalhos fora das guerras. Mas há outras
de Palmira, porque o Estado Islâmico explodiu o guerras que são sociais: nas cidades, há guerras de
principal edifício, o templo de Baal, uma das mais pobreza, guerras de moradores de rua. Toda vez
importantes construções romanas. Fui chamado que você pega um ônibus no centro de Londres,
pela BBC para a produção de um documentário você vê gente dormindo sob portas de prédios, em
de uma hora porque há alguns anos escrevi um marquises. Muitos deles têm problemas mentais,
livro chamado As fronteiras do sul, sobre todas as não é uma questão de desemprego. É uma incapa-
cidades romanas ao longo do Norte da África e do cidade que eles têm de cuidar de si. Alguns depen-
Oriente Médio: Argélia, Tunísia, Marrocos, Líbano dem do Estado, precisam de ajuda médica. A ques-
etc. E agora fui ver a destruição que o Estado Islâ- tão dos moradores de rua é muito complexa.
mico provocou em Palmira. É uma tragédia. Mas
quando comparamos essa destruição com aquelas Você acha que as pessoas se sentem chocadas quan-
que as forças de Bashar al-Assad causaram em áre- do veem fotografias de violência em guerras distan-
as civis por causa da Primavera Árabe: a cidade de tes, mas não se chocam diante do sofrimento em
Homs foi destruída, Alepo foi destruída. A meta- suas cidades?
de delas, aquelas áreas habitadas por quem não Completamente. Muitos jovens me mandam car-
apoia o Assad, principalmente por ataques aére- tas dizendo que querem ser fotógrafos de guer-
os. Vai levar uns 30 anos para reconstruir o que foi ra. Odeio essas cartas, nem respondo. Dei uma
destruído nessa guerra. conferência na Tate como parte da programação
da exposição e, diante dessa pergunta, eu disse:
Há alguma foto que você se arrepende de ter feito ou "Odeio essa pergunta, mas se você quer ser um fotó-
publicado? grafo de guerra, vá para as ruas das cidades de nos-
Não me sinto confortável com muitas fotos, mas so país. Você vai encontrar guerra, pobreza, injusti-
tive que fazê-Ias porque elas eram tão importantes ças, vai ver gente morando na rua, encontrará todo
que eu não poderia ignorá-Ias. Se eu fosse me cen- tipo de guerra social." Veja o que está acontecendo
surar, então jamais iria para o aeroporto de Lon- na França, essa segregação social com os imigran-
dres para fazer uma cobertura de guerra. Eu tinha tes. Há tantas guerras ocorrendo dentro de nossa
que apertar aquele botão. É o caso do menino albi- própria sociedade, em todos os países do mundo.
no em Biafra. São fotos terríveis de gente morren- Fui a Los Angeles no ano passado e passei por uma
do. E tem a foto daquela mãe com o bebê ao peito, área onde havia milhares de pessoas, negras, dor-
ela tem apenas 24 anos, mas parece ter 64 anos, os mindo na rua, em tendas. E isso em uma das cida-
dois estavam morrendo. Eu lamento todas essas des mais famosas e ricas do mundo. E eles eram
fotos, porque fiquei famoso à custa do sofrimento todos negros. Mencionei isso na palestra que dei
de outras pessoas. Não me sinto confortável com em seguida, e as pessoas me aplaudiram. Veja o
o sucesso de minha vida como fotógrafo. Alguns que está acontecendo na Venezuela, não tão longe
fotógrafos, como Sebastião Salgado, construíram de você. Você pode capturar milhares de imagens
uma grande carreira e uma grande reputação por- de guerra importantes com sua câmera em cidades
que, de alguma forma, conseguiram evitar muitas normais. As cidades são o lugar da guerra.

[ 26]
Mãe faminta,
de 24 anos, com
o bebê ao peito,
Biafra,1968
A jornada em busca da perfeição é o mais importante. Ao realizá-Ia, me
sinto completamente dilacerado, como se arrancasse minha própria pele.
Muita gente acha que estou ficando louco, mas não estou. Não há nada de
errado em tentar obter realmente o melhor de suas habilidades na vida.

Em seu livro de memórias, você comenta com certo des- branco. Além disso, gosto de trabalhar na amplia-
conforto o momento em que o jornal The Sunday Times ção de minhas fotos. Neste fim de semana, fiz
passou a publicar fotografias coloridas e a pedir que dez cópias da mesma paisagem. É uma perda de
você também fotografasse em cores. Você prefere preto dinheiro, mas eu não conseguia parar, fiquei obce-
e branco? Como e por que escolhe entre cor ou PB? cado por ela. Ao final, produzi uma imagem pode-
Nessa época, na revista do Sunday Times, quando rosa de uma paisagem britânica.
eu estava saindo para uma reportagem, o editor
costumava dizer: "Por favor, faça algumas colori- Você sentiu que a décima foto era a cópia perfeita?
das ..", Produzi muita foto colorida. Eu não iria ao Sim. Ter obsessão por perfeição pode ser muito
Paraguai para fazer preto e branco. Fotografei o chato. Tudo depende de qual perfeição você está
general Stroessner, tudo em cores. Eu não iria para buscando. Eu persigo a minha própria perfeição. A
o Brasil para fazer preto e branco. Naquela reporta- jornada em busca da perfeição é o mais importante
gem sobre os indígenas, fiz tudo em cores, porque para mim. Ao realizá-Ia, me sinto completamente
eles têm todas as cores. Se há a necessidade de cor dilacerado, como se arrancasse minha própria pele.
para retratar uma história, ela deve ser colorida. Muita gente acha que estou ficando louco, mas não
O problema com a foto colorida é que usar cores estou. Não há nada de errado em tentar obter real-
para cobrir uma guerra desperta uma tendência mente o melhor de suas habilidades na vida. Você
a glamurizar. Quando eu faço uma foto PB, ela te pode dizer isso sobre sua própria escrita. Eu não
dá um murro no rosto, ela te ataca, ela não te dá me sinto insano por falar desse jeito sobre mim.
paz. Nós não vivemos em um mundo PB, há sete
cores no espectro da vida lá fora. Para mim, o pre- Que câmera você usa agora?
to e branco tem um sentido: eu amplio minhas Tenho usado todo tipo de câmera. Não uso mais a
fotos sempre com um tom mais escuro porque 35 mm. A Canon me oferece seus melhores equi-
sou mais escuro, sou um homem negro dentro de pamentos digitais, e fiz a transição para o digital.
um homem branco, eu sou negro por dentro. Há Mas o que tenho utilizado com mais frequência é
um outro fotógrafo, josef Sudek (1896-1976), tcheco, minha câmera de paisagens, uma Mamiya Press,
que perdeu um braço na Primeira Guerra Mundial. dos anos 1960. Ninguém mais a procura, ninguém
Vi suas fotos cinco anos atrás em uma exposição no gosta dela. Elas têm as mais extraordinárias lentes,
Canadá. Elas lembram as minhas ampliações, são eu uso uma 75 mm. E produz um negativo 6 x 9 em.
tão escuras que parece nem haver imagem. Consi- A qualidade da imagem é incrível. É muito raro eu
go entender o trabalho dele. Quando faço minhas usar tripé.
paisagens, ao ampliá-Ias, elas parecem fotografias
de guerra, você vê uma escuridão ameaçadora, que E você usa um back digital adaptado?
não te dá alegria. Eu não estou aqui para atormen- Não, uso filme. As câmeras digitais produzem uma
tar as pessoas com minha fotografia, não sou um qualidade difícil de acreditar. A qualidade das
torturador, mas essa é a minha cor. minhas Canon é tão extraordinária que elas este-
rilizam a imagem por causa da perfeição. As foto-
Não é uma questão de realismo? grafias nas revistas hoje são extraordinárias, mas
É uma questão de equilíbrio. Há um lado que me você sabe que elas vão além da perfeição, perdem a
atrai mais à foto PB, sou um homem do preto e atmosfera, elas perdem algo.

[28 J
Bradford, Inglaterra, 1972

[ 29]
Minha fome ou sede por fotografia está começando a morrer. Estive em
todos os cantos, toquei todos os lugares, visitei quase todos os países
do mundo. Recebo o reconhecimento por um trabalho duro, mas estou
perdendo o apetite: vou fazer 84 este ano, quem pode me criticar?

Se fosse morar em uma ilha deserta e só pudesse o escritor britânico Anthony Loyd escreveu o livro
levar umas poucas fotos suas, quais levaria? Minha guerra acabou e eu sinto saudades. Há algu-
Nenhuma. Na minha casa, não há uma única foto ma guerra de que você sinta falta?
minha nas paredes. Não quero me sentir contro- Loyd é um viciado em guerras. Estive com ele em
lado pela minha fotografia, pelo meu trabalho, Alepo há quatro anos, sob um bombardeio mui-
pelo passado. Tenho que me voltar para o futuro. to pesado e perigoso. Ele tem uma história de
Eu agora quase não tenho ambição. Minha fome vício em heroína, que ele superou. É um escritor
ou sede por fotografia está começando a morrer. brilhante. Sobre as guerras de que eu sinto falta,
Estive em todos os cantos, toquei todos os lugares, sim: eu queria ter ido para a Chechênia (1994-96) e
visitei quase todos os países do mundo. Recebo o para a Guerra das Malvinas (1982). O Ministério da
reconhecimento por um trabalho duro, mas estou Defesa inglês me impediu de ir às Malvinas porque
perdendo o apetite: vou fazer 84 este ano, quem sabia que, se eu fosse, mostraria o preço real da
pode me criticar? Tenho 10 mil ampliações na guerra e os sofrimentos que ela causou. Meu nome
minha coleção que eu mesmo fiz, uma por uma, foi retirado da lista de requerimentos. Fiquei arra-
60 mil negativos PB e mais 20 mil slides coloridos. sado. Fui a tantas guerras de outros países e queria
Quanto mais eu posso me torturar, me assediar? estar com o exército britânico. Me deixou muito
Eu amo objetos de arte, gosto de museus, tenho deprimido por um tempo, que coincidiu também
uma coleção de bronzes budistas de vários lugares com o fim do meu casamento.
como Índia, Camboja, China, e coleciono mobi-
liário francês. Isso é o que me dá prazer. Tenho E para a Chechênia, por que não foi?
que parar com essa obsessão que a fotografia me Eu não trabalhava mais em jornal [nessa época],
causou e que tanto sugou de mim. tinha sido demitido do Sunday Times depois que
Rupert Murdoch comprou o jornal. Mas ninguém
Se não há fotos, o que tem nas paredes? pode me esmagar, ninguém vai me enfiar uma foto
Pinturas. Tenho quadros de cenas marítimas do garganta abaixo. Me levantei e dei a volta por cima.
século 18, imagens de navios, uma pintura inglesa Recomecei a cobrir guerras: cobri as duas Guerras
antiga com uma cena de mar e uma que parece com do Golfo, estive na Síria duas vezes nos últimos anos.
a obra do pintor john Constable (1776-1837), uma lin-
da paisagem inglesa. Tenho retratos de aristocratas Você já não depende mais de um emprego.
ingleses do século 18 que comprei em mercados de Não. Você, eu e as outras pessoas, nós é que somos
pulgas ao longo dos anos, e algumas gravuras. Um capazes de fazer e acontecer conosco. Temos que
de meus artistas favoritos é o pintor David Roberts ser donos de nosso destino.! //
(1796-1864), que foi para o Oriente Médio em 1840 e ENTREVISTA REALIZADA EM LONDRES EM 22 DE FEVEREIRO DE 2019.
IMAGENS, PP. 11·15. 31 CORTESIA DE DON MCCULLlN/TATE BRITAIN.
fez muitas gravuras de lugares famosos de Jerusa- P !7@THESUNDAYTIMESNEWSLlCENSING.PP 19.21.23·25.27.29
@OON MCCULLlN/CONTACT PRESS IMAGES
lém. Eu tenho o gosto tradicional inglês do século
+ Unreasonable Behavior, autobiografia de Don McCullin (Groove Press, 2017)
18. Vivo em uma área histórica, em torno de minha + Southem Frontiers: AJoumey Across the Roman Empire, de Don McCullin
casa há uma paisagem clássica. Posso ver a coli- (Random House UK, 2019)
+ My War Gone By, I Miss It So, de Anthony Loyd [Groove Press, 2014)
na onde fica a ruína de um templo romano, onde + Don McCullin, catálogo da exposição na Tate, de Simon Baker, Shoair
foram encontrados muitos bronzes antigos. Mavlian e Archa Mehrez (Tate Publishing, 2019)

[30 1
Bosque próximo da casa
de Don McCullin, Somerset,
Inglaterra, c. 1991

[31 I

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