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O lobo da estepe: uma escritura selvagem


Há exat
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resumo:  Ao reconhecer que O lobo da estepe, de Hermann Hesse, é uma obra que se propõe a desle-
itura.

gitimar o senso comum e, consequentemente, a ampliar a percepção usual do leitor, o presente artigo
visa mostrar que a possibilidade de fazê-lo não reside no efeito dela inestranhamento
vesti-
provocado pela trama,
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para, mais recentemente, culminar com a investigação as, passan (Stanley Fish)
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mas no arranjo estrutural da obra, na
empírica sobre a leitura (David S. Miall),
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recentem
para, mais
de sujeito e a outra de representação, com o intuito de mostrar que é na esteira destas noções que a
obra se constrói e pode, a partir da elaboração estética destas ao longo de todo o texto, desestabilizar a
compreensão trivial na abertura proposta pelo diálogo.
palavras-chave:  O lobo da estepe, escritura selvagem, dialogismo bakhtiniano.
abstract:  By recognizing that The Steppenwolf , by Herman Hesse, is a work that aims at subverting
the authority of common sense and, consequently, at enlarging the reader’s usual perception, this paper
Há exatos 45 anos Hans Robert Jauss
apresentava a conferência
has the objective of showing that such a procedure does not lie in the defamiliarization caused by the
plot, but rather, through the text structural arrangement, in its wild writing which can defamiliarize by
making the tension among
erência
worldviews more powerful and by demystifying the habitual notion of the
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uss aprese
Há exatos
untamed
anos Hans
45 nature of man. To do so, two explicit concepts within the novel are considered: one related to
Robert Ja

the individual and the other one related to the representation; the idea is to demonstrate that it is in the
passando
pela inve
stig light of such notions that the novel is built and is able, through the aesthetic elaborations of those two
suscita ação da form
a leitura a co
(Wolfgan mo a estrutur
concepts throughout the text, to destabilize the shallow comprehension given in the opening dialogue.
g Iser e a
Umbert do texto literár
o Eco), io

keywords  The Steppenwolf, wild writing, Bakhtinian dialogism.


É impossível sair incólume à leitura de O lobo da estepe, pois a obra parece justa-
passando pela investigação
da forma como a estrutura
mente se propor a isso: desestabilizar a percepção usual do leitor; instigá-lo à reflexão,
do texto literário suscita
a leitura (Wolfgang Iser e
Umberto Eco),
lançando luz sobre a naturalização que se processa em torno de algumas visões a ponto
de envolvê-las no inquestionável de uma verdade. No entanto, a possibilidade de fazê-lo
não reside no efeito de estranhamento causado pela história desse personagem excên-
trico, que cindido, fragmentado, seria considerado um parafrênico pelo viés da leitura
psicanalítica e que acaba experimentando nas salas do teatro mágico algumas facetas
de uma personalidade plural, capaz de amar, mas igualmente de “matar por amor”. Nem
isso sem mencionarmos os rudimentos de uma
“antropologia literária” proposta pelo próprio Iser em

no fato de ficcionalizar na tessitura do texto um sujeito desajustado, cuja inaptidão


O Fictício e O Imaginário e que decorre diretamente de
sua investigação sobre a leitura da literatura.

para encarnar as convenções do contexto sócio-histórico do qual é oriundo, o impul-


siona a programar seu suicídio, uma atitude estigmatizada dentro da nossa tradição
judaico-cristã, que condena o ato como um dos mais abomináveis crimes. Caso nos en-
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a ser um a leitura.
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carcerássemos neste âmbito, creio que a desestabilização não se processaria e muitos
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seriam os leitores que arreganhariam os dentes ao selvagem deste homem figurado no
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romance, ignorando sua própria ferocidade, mascarada na racionalidade com a qual a Dessa
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condenação buscaria se fundar.
Dessa indagação de Jauss sobre a relação entre literatura e história por meio das reações do
público, os estudos sobre a leitura assumiram feições diversas,
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Doutoranda em Estudos Literários pela Universidade Federal de Santa Maria – Santa Maria; Mestre . Fictíc e is rec o Eco ve s
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História da Literatura pela Universidade Federal do Rio Grande. Contato: babiforster@ig.com.br
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9 FORSTER, Gabrielle da Silva. O lobo da estepe: uma escritura selvagem

Somente a construção formal que o romance de Hermann Hesse apresenta pode


deslegitimar o senso comum. É seu arranjo estrutural que permite alargar a compreen-
Há exat
são do leitor; sua escritura selvagem – capaz de percorrer caminhos inabituais ao po-
os 45 an
tencializar o embate entre visões de mundo – que desmistifica a noção usual do que se
é e por os Hans
qu Robe
viria a se e alguém estu rt Jauss aprese
r uma da da ntav
s mudan a história liter a a conferên
cia “O qu
literária ças de perspe ária?”, inaugu
considera o indomesticado no homem. E é também a própria obra que nos dá as pistas
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gnificativ ndo o que
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de leitura. Sendo assim, parto de duas concepções explícitas no romance: uma de sujei-
itura.

to e a outra de representação, com o intuito de mostrar que é na esteira destas noções


que a obra se constrói e pode, a partir da elaboração estética destas ao longo de todo do pela in
vesti-
para, mais recentemente, culminar com a investigação as, passan (Stanley Fish)
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texto, desestabilizar a percepção trivial na abertura proposta pelo diálogo.
empírica sobre a leitura (David S. Miall),
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A concepção de sujeito que figura no referido romance não é a de uma identidade
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una, mas múltipla, plural, visto que a unidade na qual o indivíduo encerra seu eu é apon-
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tada como uma ilusão fabricada para sustentar a personalidade, um equívoco que “reside
numa falsa analogia. Todo o homem é uno quanto ao corpo, mas não quanto à alma”
(HESSE, 2004, p.69). O engano reside no fato de que, em detrimento da posição dos antigos
asiáticos que reconheciam que nem o mais simples dos seres podia ser compreendido
dentro do fechamento que propõe essa unidade, o pensamento ocidental a fabrica e a
legitima, transformando essa noção em uma necessidade de vida e condenando psicolo-
Há exatos 45 anos Hans Robert Jauss
apresentava a conferência
gicamente como doença toda fuga à regra que rompa com a percepção recorrente de in-
dividuo uno. Ao supor que na “realidade não há nenhum eu, não há uma unidade, mas um
mundo plural, um pequeno firmamento, um caos de formas, de matizes, de situações, de
erência
ava a conf
s apresent

Há exatos
heranças, de possibilidades” (HESSE, 2004, p. 69), a noção de sujeito que figura em O lobo
45 anos Hans
Ro bert Jaus

da estepe não pode ser compreendida como essência petrificada, mas como fluxo contí-
passando
pela inve
stig nuo que induz à transformação. Sendo assim, se o “homem não é uma forma fixa e dura-
suscita ação da form
a co
a leitura
(Wolfgan mo a estrutur
doura [...] é antes um ensaio e uma transição” (HESSE, 2004, p.72), o contato com os outros
g Iser e a
Umbert do texto literár
o Eco), io

e as possibilidades de diálogo que se agenciam na troca podem contribuir para alargar a


ótica de compreensão de si mesmo e do outro, libertando os espaços desconhecidos do
passando pela investigação
da forma como a estrutura
sujeito das grades limitadoras que o impedem de potencializar novas percepções.
do texto literário suscita
a leitura (Wolfgang Iser e
Umberto Eco),
É na esteira de uma identidade processual, capaz de ampliar-se através da relação
conflituosa com diferentes pontos de vista, que o romance hessiano se configura, su-
gerindo pelo viés de sua engrenagem dialógica, a importância de um posicionamento
crítico por parte do indivíduo, que o leve ao movimento e não à redutora cristaliza-
ção. Por conseguinte, sua construção formal não introduz uma única visão fechada
na perspectiva de um narrador centralizante, mas abre espaço para o diálogo e para
isso sem mencionarmos os rudimentos de uma
“antropologia literária” proposta pelo próprio Iser em

o confronto procedente deste, ao dividir a obra em três discursos que, independentes,


O Fictício e O Imaginário e que decorre diretamente de
sua investigação sobre a leitura da literatura.

se entrelaçam, lançando luz sobre o todo. Esses discursos – separados explicitamente


por subtítulos para iluminar que o atrito é proveniente da disputa ideológica que há no
embate entre as visões de mundo configuradas em cada um deles – emergem uns dos
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a ser um a leitura.
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outros e se relacionam com o anterior, modificando-o.
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de pers O começo da leitura já nos reserva uma surpresa: a primeira parte intitulada
pectiva

Prefácio do editor não funciona como elemento paratextual, mas é artefato ficcional Dessa
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constitutivo da estrutura da obra. Nesta, vemos o intuito do narrador-personagem em
Dessa indagação de Jauss sobre a relação entre literatura e história por meio das reações do
público, os estudos sobre a leitura assumiram feições diversas,
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nando as fronteiras entre o real e o fictício do narrado ali e relatando suas impressões a form o púb
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9 FORSTER, Gabrielle da Silva. O lobo da estepe: uma escritura selvagem

do contato com este sujeito no período em que ele foi inquilino de um quarto na casa
de sua tia. No entanto, o discurso, embora provoque esta ilusão, ultrapassa a condição
Há exat
de simples prefácio – que deveria apresentar o discurso seguinte – e se insere na dinâ-
os 45 an
mica dialógica da obra ao funcionar como contraponto à forma de vida de Harry Haller
é e por os Hans
qu Robe
viria a se e alguém estu rt Jauss aprese
r uma da da ntav
s mudan a história liter a a conferên
cia “O qu
literária ças de perspe ária?”, inaugu
e, consequentemente, a sua visão de mundo. Aqui, o que temos vai além da exposição
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gnificativ ndo o que
tudos so a na crítica
e

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da relação que o editor estabeleceu com este e das impressões que lhe ficaram do con-
itura.

tato, pois a partir de sua perspectiva sobre o outro tomamos conhecimento também,
e principalmente, de seu perfil existencial como membro de um universo burguês que do pela in
vesti-
para, mais recentemente, culminar com a investigação as, passan (Stanley Fish)
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Harry rejeita, iluminando, dessa forma, o atrito entre concepções de mundo dissonan-
empírica sobre a leitura (David S. Miall),
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os estudo pel das co tos de uma “antro e a leitura da liter
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tes, como podemos verificar em suas palavras: aç õe s do inve stiga os ru di m ga çã o so
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Não sou apenas um burguês que vive morigeradamente acostumado ao seu trabalho
e com seu tempo bem dividido, mas ainda um abstêmio e uma pessoa que não fuma,
donde aquelas garrafas no quarto de Haller me agradaram ainda menos do que o resto
de sua desordem espiritual. (HESSE, 2004, p. 24)

Além disso, mesmo que tudo indique que sua rotina permanece a mesma, uma
Há exatos 45 anos Hans Robert Jauss
apresentava a conferência
rotina burguesa, que prossegue retilínea com horários e obrigações a cumprir, com
o merecido descanso após a realização de seu trabalho na segurança do lar ou com a
satisfação provocada por diversões oferecidas pelo universo no qual se insere, evitando
erência
ava a conf
s apresent

Há exatos
questionar sua condição ou refletir sobre o insondável da existência, é impossível não
45 anos Hans
Ro bert Jaus

notar que o contato com Harry e com as anotações deixadas por este lhe causaram um
passando
pela inve
stig forte efeito. O próprio personagem reconhece isso ao mencionar:
suscita ação da form
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(Wolfgan mo a estrutur
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Umbert do texto literár
o Eco), io

O inquilino, embora não levasse de modo algum vida ordenada e racional, nunca nos
molestou nem prejudicou em nada, e até hoje nos lembramos dele com prazer. Mas in-
passando pela investigação
da forma como a estrutura
timamente, na alma, esse homem nos perturbou e prejudicou, tanto à minha tia quanto
do texto literário suscita
a leitura (Wolfgang Iser e
Umberto Eco),
a mim, e, a bem dizer, até hoje ainda não consegui me libertar dele. (HESSE, 2004, p.17)

A reação que Harry lhe provoca, explícita nas suas palavras, acaba por ampliar sua visão
em relação ao outro e a si mesmo. O primeiro contato lhe causa repugnância e o impulsiona
a se defender, como ele afirma: “Tive a impressão [...] de que o homem estava enfermo, de
que sofria de uma espécie qualquer de enfermidade, da alma, do espírito ou do caráter, e me
isso sem mencionarmos os rudimentos de uma
“antropologia literária” proposta pelo próprio Iser em

defendi contra tudo isso com meu instinto de pessoa sã” (HESSE, 2004, p. 21). No entanto, com
O Fictício e O Imaginário e que decorre diretamente de
sua investigação sobre a leitura da literatura.

o tempo essa primeira impressão foi “se transformando em simpatia, em compaixão para
com aquele profundo e permanente sofredor” (HESSSE, 2004, p. 21). Mas não apenas isso.
O efeito provocado pelo contato com Harry e seus escritos também impregna o seu
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a ser um a leitura.
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discurso, a ponto de ele caracterizar sua forma de vida com um adjetivo (posto ao lado
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“O que
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burguês) que seria comum na boca de Harry e não na dele, devido ao caráter deprecia-
de pers
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tivo: “não sou ele, nem levo sua espécie de vida, mas a minha, uma vida medíocre e bur- Dessa
estud indagação
o d
do te s sobre a le e Jauss so
guesa, porém cheia de obrigações” (HESSE, 2004, p. 32). E mesmo que houvesse ironia
Dessa indagação de Jauss sobre a relação entre literatura e história por meio das reações do
público, os estudos sobre a leitura assumiram feições diversas,
xto
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a leit ra da lite
suscit
b
na leit literário itura assu re a relaç
mir ão
a a le am feiçõ entre lite
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avid S tura (Stan ura (Wolf s diversas, tura e h
em suas palavras – o que não parece ser o caso pelo que se segue – não podemos deixar pelo
da lite
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.
. Miall
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Fictíc
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ratura Iser em O isso sem m ) para, ma r e Umbert do pela in r meio da
is rec o Eco
istóri
a po
ve s
), pela stigação d reações d

io e O nc io n e n
Imag armos os temente,
de notar o reconhecimento dessa outra visão, pois seu discurso oscila, ora apontando a a form o púb
ex apre

inário ru cu invest li
e que dimento lminar co igação do a como a co, os
at se
os n

decorr s de u m a in p est
e dire sh) ma “an vestig apel das c rutura
45 tav

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do texto literário suscita stigaç p


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Umberto Eco), ura


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113
9 FORSTER, Gabrielle da Silva. O lobo da estepe: uma escritura selvagem

vida de Harry como uma “vida desconsolada, perdida e inútil” (HESSE, 2004, p. 30), que
lhe causava pena, ora reconhecendo que
Há exat
os 45 an
os Hans
é e por
qu Robe
viria a se e alguém estu rt Jauss aprese
r uma da da ntav
o olhar do Lobo da Estepe penetrava todo o nosso tempo, toda a afetação, toda a ambi-
s mudan a história liter a a conferên
cia “O qu
literária ças de perspe ária?”, inaugu
contem
porâne
ctiva si
a: os es
ra
ção, toda a vaidade, todo o jogo superficial de uma espiritualidade fabricada e frívola. Ah!
gnificativ ndo o que
tudos so a na crítica
e

bre a le
itura.
Lamentavelmente o olhar ia mais fundo ainda, ia além das simples imperfeições e desespe-
ranças de nosso tempo, de nossa espiritualidade, de nossa cultura. (HESSE, 2004, p. 19-20)
vesti-
do pela in
para, mais recentemente, culminar com a investigação as, passan (Stanley Fish)
es divers
A alteração que se processa no ponto de vista do narrador-personagem da pri-
empírica sobre a leitura (David S. Miall),
s sobre a
leitura as su m iram feiçõ
nvenções
na leitu ra da literatura
pologia lit
erária” prop osta
atura.
os estudo pel das co tos de uma “antro e a leitura da liter
público, ção do pa en br
meira parte, que acaba percebendo aspectos de sua condição existencial impossíveis
aç õe s do inve stiga os ru di m ga çã o so
s re Eco), pela sti
r meio da cionarmos mente de sua inve
stória po e Umberto sem men ta
atura e hi ra (Wolfgang Iser avid S. Miall), isso que decorre dire
entre liter leitu ra (D rio e
e a relação erário suscita a bre a leitu tício e O Imaginá
de serem notados de sua posição confortável, anterior ao confronto com outra visão, é
us s so br lit ric a so
dagação
de Ja
tura do te
xto o empí O Fic
Dessa in mo a estru lminar com a in
vestigaçã rio Iser em
forma co pelo próp
gação da ente, cu
recentem
para, mais
fruto do contato estabelecido com Harry Haller, da leitura das anotações deste e, con-
sequentemente, da leitura de O tratado do Lobo da Estepe, incluído nestas. Por outro
lado, H. H., como leitor do tratado, que transcreve na tessitura de seu texto, também
modifica sua percepção ao encontrar o manuscrito. É este que lhe faz adiar o momento
do suicídio, como podemos observar neste trecho:
Há exatos 45 anos Hans Robert Jauss
apresentava a conferência
Estava afinal decidido. Porém, no último instante, no derradeiro momento da consci-
ência, no instante do transpasse, brilhou com a rapidez de um raio aquela notável passa-
gem do livrete do Lobo da Estepe, onde se fala dos imortais, e a ela se uniu a palpitante
ência
a a confer
resentav
rt Jauss ap
Há exatos
45 anos Ha
ns Robe recordação de que em muitas ocasiões (a última fora recentemente) eu me sentira o bas-
tante próximo deles para saborear, ao compasso de uma música antiga, toda a serena,
passando
pela inve
stig
suscita ação da form
clara e sorridente sabedoria de que eram dotados. (HESSE, 2004, p. 80)
a leitura a co
(Wolfgan mo a estrutur
g Iser e a
Umbert do texto literár
o Eco), io

Ao prolongar a decisão de suicidar-se, o Lobo da Estepe tem a oportunidade que


só a vida pode lhe dar: viver novas experiências. Com a leitura do tratado, compreende:
passando pela investigação
da forma como a estrutura
“o chamado, o convite à loucura, o alijamento da razão” (HESSE, 2004, p. 83) e passa a
do texto literário suscita
a leitura (Wolfgang Iser e
Umberto Eco),
buscar o homem que carregava o cartaz do teatro mágico, desaguando assim em outras
possibilidades, o que visualizamos no que se sucede à leitura do manuscrito: ações e
encontros – a parte que deveríamos considerar como a mais romanceada da obra, pos-
to que aqui, encontramos “o agir”, próprio do gênero. É a partir da leitura do folheto que
é sacudido por Hermínia: “fosse quem fosse aquela moça inteligente e misteriosa, que
tivesse chegado por mim por este ou aquele caminho, tudo me era indiferente; ali es-
isso sem mencionarmos os rudimentos de uma
“antropologia literária” proposta pelo próprio Iser em

tava, e realizara-se o prodígio de eu voltar a sentir-me um ser humano e encontrar no-


O Fictício e O Imaginário e que decorre diretamente de
sua investigação sobre a leitura da literatura.

vamente interesse na vida” (HESSE, 2004, p. 118). É através dela que ele conhece outros
personagens, entre os quais consta Maria, a amante jovem e bela, presente de Hermínia,
que lhe revela “não apenas encantadores novos jogos e prazeres do sentido, mas ainda
o o qu
e viria
a das m
u-
a ser um a leitura.
s sobre
ra nd es tu do
augu nea: os
uma nova compreensão, um novo conhecimento, um novo amor” (HESSE, 2004, p. 151), e
gu
da a hi
stória
ém estu va na crítica
literár
ia?”, in
literár
ia cont
emporâ

qu e al ti
é e por significa
“O que
danças
também Pablo, o músico, que embora a princípio lhe desagrade, é quem lhe possibilita
de pers
pectiva

a entrada nas salas do teatro mágico, com a ajuda de entorpecentes. Dessa


estud indagação
o d
do te s sobre a le e Jauss so
Através do diálogo que se processa no contato com estes personagens, Harry experi-
Dessa indagação de Jauss sobre a relação entre literatura e história por meio das reações do
público, os estudos sobre a leitura assumiram feições diversas,
xto
u
a leit ra da lite
suscit
b
na leit literário itura assu re a relaç
mir ão
a a le am feiçõ entre lite
ura (D ra it e ra
avid S tura (Stan ura (Wolf s diversas, tura e h
menta novas dobraduras de seu ser, aprende a dançar, a aceitar a música de jazz, “uma es- pelo
da lite
própri
o
.
. Miall
),
Fictíc
ley Fi
sh
e
gang
Ise passa
n
ratura Iser em O isso sem m ) para, ma r e Umbert do pela in r meio da
is rec o Eco
istóri
a po
ve s
), pela stigação d reações d

io e O nc io n e n
Imag armos os temente,
pécie de música que até então não conseguia suportar” (HESSE, 2004, p. 134), concorda em a form o púb
ex apre

inário ru cu invest li
e que dimento lminar co igação do a como a co, os
at se
os n

decorr s de u m a in p est
e dire sh) ma “an vestig apel das c rutura
45 tav

passando pela investigação ação onven


ey Fitamente tropolo
an a a

da forma como a estrutura (Sta nl g e m ções


atura de su ia pír
os co

da liter a inve literária” ica sobre


leitura
Ha nf

do texto literário suscita stigaç p


ções na ão so roposta
ns erê

a leitura (Wolfgang Iser e co nv en b re a leit


pel das
Ro nc

Umberto Eco), ura


ão do pa
be ia

vestigaç
rt

pela in
Ja
ssu

114
9 FORSTER, Gabrielle da Silva. O lobo da estepe: uma escritura selvagem

ter um gramofone no seu quarto “ao lado de Novalis e Jean-Paul” (HESSE, 2004, p. 128), no
seu “tugúrio de pensamento e de reflexão” (HESSE, 2004, p.128), mesmo que isso lhe pareça
Há exat
inaceitável, e passa a frequentar ambientes antes evitados. Com a leitura do folheto, perce-
os 45 an
be a ilusão que havia por trás da separação em lobo e homem feita por ele e, igualmente,
é e por os Hans
qu Robe
viria a se e alguém estu rt Jauss aprese
r uma da da ntav
s mudan a história liter a a conferên
cia “O qu
literária ças de perspe ária?”, inaugu
as possibilidades que a pluralidade permitia; compreensão atualizada pelas inter-relações:
contem
porâne
ctiva si
a: os es
ra
gnificativ ndo o que
tudos so a na crítica
e

bre a le
itura.

Quando voltei a estar com Maria, causou-me surpresa e mistério saber que ela tivera
Hermínia em seus braços da mesma forma comola intivera
vesti-
a mim; que havia sentido, beija-
do pe
para, mais recentemente, culminar com a investigação as, passan (Stanley Fish)
es divers
empírica sobre a leitura (David S. Miall),
do, provado e acariciado
tudos sobr
e acada
leitura as um
sumiram de
s conven
ções na leiseus
feiçõ
tura da lit membros,
ntropolo
eratura
ia” propos
ta
gia literár literatura.
seus cabelos, sua pele, da mesma
, os es papel da uma “a leitura da
do público investigação do os rudim
entos de o sobre a
s reações vestigaçã
at ur a e forma como fizera comigo. Surgiram diante de mim novas, indiretas e complexas rela-
r meio da
história po fgang Iser e Umbe
rto Eco),
ial l),
pela
iss
cionarmos
o sem men rre diretamente
de sua in
lação entre
liter ra (Wol avid S. M inário e qu
e deco
ita a leitu sobre a leitura (D
sobre a re xto literário susc e O Imag
de Jauss empírica Iser em O Fictício
Dessa in
dagação
form a co mo a estru
tura do te m a investigação
in ar co pe lo ções, novas possibilidades de amor e de vida, que me levaram a pensar nas mil almas do
próprio
gação da ente, culm
recentem
para, mais
Tratado do Lobo da Estepe. (HESSE, 2004, p. 160)

Ao mostrar que os personagens – tanto o editor como Harry, que narram de sua
ótica particular – não se posicionam de forma neutra frente aos discursos alheios, mas
reagem a eles produzindo uma resposta que se afasta da perspectiva inicial, devido ao
alargamento de visão impulsionado pelo diálogo, o romance hessiano parece introdu-
Há exatos 45 anos Hans Robert Jauss
apresentava a conferência
zir na sua estrutura uma noção de discurso que se aproxima da concepção bakhtiniana
deste. O filósofo da linguagem, que toma a língua não “como um sistema de catego-
rias gramaticais abstratas, mas como uma língua ideologicamente saturada, como uma
erência
ava a conf
s apresent

Há exatos
concepção de mundo, e até como uma opinião concreta que garante um maximum de
45 anos Hans
Ro bert Jaus

compreensão mútua, em todas as esferas da vida ideológica” (BAKHTIN, 2002, p. 81),


passando
pela inve
stig sugere, a partir desta posição, que todo enunciado participa de uma cadeia dialógica,
suscita ação da form
a co
a leitura
(Wolfgan mo a estrutur
responsiva, ou seja, surge como resposta e produz resposta:
g Iser e a
Umbert do texto literár
o Eco), io

o discurso vivo e corrente está imediata e diretamente determinado pelo discurso-


passando pela investigação
da forma como a estrutura
-resposta futuro: ele é que provoca esta resposta, pressente-a e baseia-se nela. Ao se
do texto literário suscita
a leitura (Wolfgang Iser e
Umberto Eco),
constituir na esfera do “já-dito”, o discurso é orientado ao mesmo tempo para o discur-
so-resposta que ainda não foi dito, discurso, porém, que foi solicitado a surgir e que já
era esperado. Assim, é todo o diálogo vivo futuro. (BAKHTIN, 2002, p. 89)

No âmbito dessa perspectiva, o discurso é visto como um fenômeno ativo, participa-


tivo, que se insere de forma dinâmica numa cadeia responsiva infinita, aberta constante-
isso sem mencionarmos os rudimentos de uma
“antropologia literária” proposta pelo próprio Iser em

mente ao diálogo. E devido a sua natureza dialógica, que faz de cada enunciado um prolon-
O Fictício e O Imaginário e que decorre diretamente de
sua investigação sobre a leitura da literatura.

gamento do diálogo social, Bakhtin indica ser todo discurso sempre imbuído de palavras
alheias: “a linguagem não é um meio neutro que se torne fácil e livremente a proprieda-
de intencional do falante, ela está povoada ou superpovoada pelas intenções de outrem”
o o qu
e viria
a das m
u-
a ser um a leitura.
s sobre
ra nd es tu do
augu nea: os
(BAKHTIN, 2002, p.100). Nesse sentido, todo enunciado vivo, concreto, é atravessado pelo
gu
da a hi
stória
ém estu va na crítica
literár
ia?”, in
literár
ia cont
emporâ

qu e al ti
é e por significa
“O que
danças
discurso alheio, pelas suas intenções, entonações, pontos de vista sobre o mundo, sendo
de pers
pectiva

no seio desta pluralidade de vozes sociais dialogizadas que ele se insere, manejando-as de Dessa
estud indagação
o d
do te s sobre a le e Jauss so
distintas maneiras, de forma a torná-las então suas, pois “para a consciência que vive nela,
Dessa indagação de Jauss sobre a relação entre literatura e história por meio das reações do
público, os estudos sobre a leitura assumiram feições diversas,
xto
u
a leit ra da lite
suscit
b
na leit literário itura assu re a relaç
mir ão
a a le am feiçõ entre lite
ura (D ra it e ra
avid S tura (Stan ura (Wolf s diversas, tura e h
a língua não é um sistema abstrato de formas normativas, porém uma opinião plurilíngue pelo
da lite
própri
o
.
. Miall
),
Fictíc
ley Fi
sh
e
gang
Ise passa
n
ratura Iser em O isso sem m ) para, ma r e Umbert do pela in r meio da
is rec o Eco
istóri
a po
ve s
), pela stigação d reações d

io e O nc io n e n
Imag armos os temente,
concreta sobre o mundo” (BAKHTIN, 2002, p. 100). Devido à estratificação da linguagem: a form o púb
ex apre

inário ru cu invest li
e que dimento lminar co igação do a como a co, os
at se
os n

decorr s de u m a in p est
e dire sh) ma “an vestig apel das c rutura
45 tav

passando pela investigação ação onven


ey Fitamente tropolo
an a a

da forma como a estrutura (Sta nl g e m ções


atura de su ia pír
os co

da liter a inve literária” ica sobre


leitura
Ha nf

do texto literário suscita stigaç p


ções na ão so roposta
ns erê

a leitura (Wolfgang Iser e co nv en b re a leit


pel das
Ro nc

Umberto Eco), ura


ão do pa
be ia

vestigaç
rt

pela in
Ja
ssu

115
9 FORSTER, Gabrielle da Silva. O lobo da estepe: uma escritura selvagem

todas as palavras evocam uma profissão, um gênero, uma tendência, um partido, uma
obra determinada, uma pessoa definida, uma geração, uma idade, um dia, uma hora.

Há exat
Cada palavra evoca um contexto, nas quais ela viveu sua vida socialmente tensa; todas
os 45 an
os Hans
é e por
qu Robe
viria a se e alguém estu rt Jauss aprese
r uma da da ntav
as palavras e formas são povoadas de intenções. Nela são inevitáveis as harmônicas con-
s mudan a história liter a a conferên
cia “O qu
literária ças de perspe ária?”, inaugu
contem
porâne
ctiva si
a: os es
ra
textuais (de gêneros, de orientações, de indivíduos). (BAKHTIN, 2002, p. 100)
gnificativ ndo o que
tudos so a na crítica
e

bre a le
itura.

Essa diversidade de linguagens onde se formaliza a enunciação e consequentemente


o diálogo de vozes ideológico-sociais, de intenções de outrem encarnadas em todo dis- do pela in
vesti-
para, mais recentemente, culminar com a investigação as, passan (Stanley Fish)
es divers
curso é o que Bakhtin denomina plurilinguísmo ou heteroglossia. Embora o teórico parta
empírica sobre a leitura (David S. Miall),
s sobre a
leitura as su m iram feiçõ
nvenções
na leitu ra da literatura
pologia lit
erária” prop osta
atura.
os estudo pel das co tos de uma “antro e a leitura da liter
público, ção do pa en br
da esfera das inter-relações cotidianas para propor que o discurso não pode ser compre-
aç õe s do inve stiga os ru di m ga çã o so
s re Eco), pela sti
r meio da cionarmos mente de sua inve
stória po e Umberto sem men ta
atura e hi ra (Wolfgang Iser avid S. Miall), isso que decorre dire
entre liter leitu ra (D rio e
e a relação erário suscita a bre a leitu tício e O Imaginá
endido como um fenômeno fechado, isolado, pois está sempre imerso num plurilinguísmo
us s so br lit ric a so
dagação
de Ja
tura do te
xto o empí O Fic
Dessa in mo a estru lminar com a in
vestigaçã rio Iser em
forma co pelo próp
gação da ente, cu
recentem
para, mais
dialogizado, originado num espaço sócio-histórico específico, seus estudos sobre o ro-
mance indicam que ele o considera o gênero dialógico por excelência, capaz de represen-
tar a complexidade plurilíngue do mundo, a vida social do discurso, onde o diálogo entre
pontos de vista gera confrontos responsivos ad infinitum, residindo na não observação
disso a deficiência da estilística tradicional. Para Mikhail Bakhtin, “a verdadeira premissa
da prosa romanesca está na estratificação interna da linguagem, na sua diversidade social
Há exatos 45 anos Hans Robert Jauss
apresentava a conferência
de linguagens e na divergência de vozes individuais que ela encerra” (BAKHTIN, 2002, p. 76).
Nesse sentido, o romance evoca em sua construção uma pluralidade de linguagens,
de palavras de outrem, de visões de mundo, pois a “língua, enquanto meio vivo e con-
erência
ava a conf
s apresent

Há exatos
creto onde vive a consciência do artista da palavra, nunca é única. [...] Como linguagem
45 anos Hans
Ro bert Jaus

viva ela é sempre plural: pluralidade de mundos concretos, de perspectivas literárias,


passando
pela inve
stig ideológicas e sociais” (BAKHTIN, 2002, p. 96). No entanto, há que considerar que no gê-
suscita ação da form
a co
a leitura
(Wolfgan mo a estrutur
nero romanesco, o plurilinguísmo social que ele ilumina através de sua composição é
g Iser e a
Umbert do texto literár
o Eco), io

elaborado artisticamente. O autor, na acepção bakhtiniana, organiza o diálogo entre


as diversas linguagens sociais, entre as inúmeras possibilidades de agenciamento, de
passando pela investigação
da forma como a estrutura
forma a refratar o sentido que quer dar, já que
do texto literário suscita
a leitura (Wolfgang Iser e
Umberto Eco),

introduzido no romance, o plurilingüísmo é submetido a uma elaboração literária.


Todas as palavras e formas que povoam a linguagem são vozes sociais e históricas, que
lhe dão determinadas significações concretas e que se organizam no romance em um
sistema estilístico harmonioso, expressando a posição: sócio-ideológica diferenciada do
isso sem mencionarmos os rudimentos de uma
“antropologia literária” proposta pelo próprio Iser em
autor no seio dos diferentes discursos da sua época. (BAKHTIN, 2002, p. 106)
O Fictício e O Imaginário e que decorre diretamente de
sua investigação sobre a leitura da literatura.

Em alguns romances, o diálogo plural de linguagens, de vozes sociais, de posições


ideológicas sobre o mundo é arquitetado de forma a tornar-se visível na estrutura da
obra. De acordo com Bakhtin é isto o que acontece na produção artística de Dostoiévski,
o o qu
e viria
a das m
u-
a ser um a leitura.
s sobre
ra nd es tu do
augu nea: os
na qual ele se apoia para explicar o que entende por polifonia, ou seja, o “efeito obti-
gu
da a hi
stória
ém estu va na crítica
literár
ia?”, in
literár
ia cont
emporâ

qu e al ti
é e por significa
“O que
danças
do pela sobreposição de várias linhas melódicas independentes, mas harmonicamente
de pers
pectiva

relacionadas” (TEZZA, 2002, p. 90). Assim, nos romances dostoievskianos, não há uma Dessa
estud indagação
o d
do te s sobre a le e Jauss so
perspectiva única, mas múltiplas visões de mundo, posto que “as declarações dos perso-
Dessa indagação de Jauss sobre a relação entre literatura e história por meio das reações do
público, os estudos sobre a leitura assumiram feições diversas,
xto
u
a leit ra da lite
suscit
b
na leit literário itura assu re a relaç
mir ão
a a le am feiçõ entre lite
ura (D ra it e ra
avid S tura (Stan ura (Wolf s diversas, tura e h
nagens de Dostoiévski são a arena de uma luta desesperada com a palavra do outro em pelo
da lite
própri
o
.
. Miall
),
Fictíc
ley Fi
sh
e
gang
Ise passa
n
ratura Iser em O isso sem m ) para, ma r e Umbert do pela in r meio da
is rec o Eco
istóri
a po
ve s
), pela stigação d reações d

io e O nc io n e n
Imag armos os temente,
todas as esferas da vida e da criação ideológica” (BAKHTIN, 2002, p. 148). Aqui, a posição a form o púb
ex apre

inário ru cu invest li
e que dimento lminar co igação do a como a co, os
at se
os n

decorr s de u m a in p est
e dire sh) ma “an vestig apel das c rutura
45 tav

passando pela investigação ação onven


ey Fitamente tropolo
an a a

da forma como a estrutura (Sta nl g e m ções


atura de su ia pír
os co

da liter a inve literária” ica sobre


leitura
Ha nf

do texto literário suscita stigaç p


ções na ão so roposta
ns erê

a leitura (Wolfgang Iser e co nv en b re a leit


pel das
Ro nc

Umberto Eco), ura


ão do pa
be ia

vestigaç
rt

pela in
Ja
ssu

116
9 FORSTER, Gabrielle da Silva. O lobo da estepe: uma escritura selvagem

do autor é relativizada, pois no diálogo entre essas vozes nenhuma ótica é privilegiada,
elas se conectam de distintas maneiras: unindo-se com umas, afastando-se de outras,
Há exat
ora complementando-se, ora divergindo. O sentido total não pode ser apreendido pelo
os 45 an
fechamento de uma perspectiva centralizante, mas através do contato entre a multipli-
é e por os Hans
qu Robe
viria a se e alguém estu rt Jauss aprese
r uma da da ntav
s mudan a história liter a a conferên
cia “O qu
literária ças de perspe ária?”, inaugu
cidade de pontos de vista, que permitem um deslizamento de sentido conforme as nuan-
contem
porâne
ctiva si
a: os es
ra
gnificativ ndo o que
tudos so a na crítica
e

bre a le
ças de luz lançadas sobre o movimento inconcluso. Nos romances de Dostoiévski, que na
itura.

perspectiva bakhtiniana “criou um gênero romanesco essencialmente novo”:


vesti-
do pela in
para, mais recentemente, culminar com a investigação as, passan (Stanley Fish)
es divers
empírica sobre a leitura (David S. Miall),
A voz do herói sobre si mesmo e o mundo é tão plena como a palavra comum do autor;
s sobre a
leitura as su m iram feiçõ
nvenções
na leitu ra da literatura
pologia lit
erária” prop osta
atura.
os estudo pel das co tos de uma “antro e a leitura da liter
õe s do público, ve stiga ção do pa ru di m en çã o so br
aç in ga
não está subordinada à imagem objetificada do herói como uma de suas características,
stória po
r meio da
s re
e Umberto
Eco), pela
sem men
atura e hi ra (Wolfgang Iser avid S. Miall), isso que decorre dire
os
cionarmos mente de sua inve
ta
sti

entre liter leitu ra (D rio e


s so bre a relação erário suscita a a so bre a leitu tício e O Imaginá
Dessa in
dagação
forma co
de Ja us
tura do te
xto
mo a estru lminar com a in
lit
vestigaçã
o empí
mas tampouco serve de intérprete da voz do autor. Ela possui independência excepcional
ric
pelo próp
rio Iser em
O Fic

gação da ente, cu
recentem
para, mais
na estrutura da obra, é como se soasse ao lado da palavra do autor, coadunando-se de
modo especial com ela e com as vozes plenivalentes de outros heróis. (BAKHTIN, 1997, p. 5)

Ao reconhecer essas premissas, percebe-se que é na esteira de uma estrutura poli-


fônica que O lobo da estepe é construído, pois sua unidade romanesca se divide em três
partes que, funcionando de maneira separada para articularem-se na significação do todo,
Há exatos 45 anos Hans Robert Jauss
apresentava a conferência
aclaram o desacordo entre visões de mundo, ao permitir que o discurso do narrador de
cada capítulo apresente certa autonomia por configurar seu discurso de uma posição ide-
ológica específica, que diverge das outras. Notamos que aquele que enuncia em cada uma
erência
ava a conf
s apresent

Há exatos
das partes, assim como o herói de Dostoiévski, “tem competência ideológica e indepen-
45 anos Hans
Ro bert Jaus

dência, é interpretado como autor de sua concepção filosófica própria e plena e não como
passando
pela inve
stig objeto da visão artística final do autor” (BAKHTIN, 1997, p. 3). Portanto, o romance hessiano
suscita ação da form
a co
a leitura
(Wolfgan mo a estrutur
não propõe uma verdade una, mas insere na sua composição uma variedade de vozes e de
g Iser e a
Umbert do texto literár
o Eco), io

pontos de vista, o que nos indica que aqui também “a verdade sobre o mundo é inseparável
da verdade do indivíduo” (BAKHTIN, 1997, p. 77). Como “o homem no romance é essencial-
passando pela investigação
da forma como a estrutura
mente o homem que fala” (BAKHTIN, 2002, p.134), “a ação, o comportamento do persona-
do texto literário suscita
a leitura (Wolfgang Iser e
Umberto Eco),
gem no romance são indispensáveis tanto para revelação como para a experimentação de
sua posição ideológica, de sua palavra” (BAKHTIN, 2002, p. 136), sendo por isso que o editor
e Harry atuam de acordo com suas perspectivas sobre o mundo; o primeiro inserindo-se
na engrenagem social, reiterando a rotina burguesa; o segundo afastando-se dela a ponto
de saber-se visto como um louco, já que há bastante tempo “estava afastado da vida co-
mum, da existência e do pensamento dos normais” (HESSE, 2004, p. 83).
isso sem mencionarmos os rudimentos de uma
“antropologia literária” proposta pelo próprio Iser em

Além disso, as vozes alheias não são apenas discursos exteriores com os quais os
O Fictício e O Imaginário e que decorre diretamente de
sua investigação sobre a leitura da literatura.

personagens se defrontam; elas estão na consciência destes, atravessam seu próprio dis-
curso e tomam assim novos matizes. Em O lobo da estepe, como na obra de Dostoiévski,
“cada ‘verdade’ alheia [...] é infalivelmente introduzida no campo de visão dialógico de
o o qu
e viria
a das m
u-
a ser um a leitura.
s sobre
ra nd es tu do
augu nea: os
todas as outras personagens centrais do romance” (BAKHTIN, 2004, p. 73). Por conseguin-
gu
da a hi
stória
ém estu va na crítica
literár
ia?”, in
literár
ia cont
emporâ

qu e al ti
é e por significa
“O que
danças
te, o discurso do narrador da primeira parte é perpassado pelas perspectivas dos outros
de pers
pectiva

discursos, o que podemos verificar em expressões utilizadas por ele, entre as quais se Dessa
estud indagação
o d
do te s sobre a le e Jauss so
poderia citar “hoje o percebo” (HESSE, 2004, p. 32) ou “só mais tarde encontrei explica-
Dessa indagação de Jauss sobre a relação entre literatura e história por meio das reações do
público, os estudos sobre a leitura assumiram feições diversas,
xto
u
a leit ra da lite
suscit
b
na leit literário itura assu re a relaç
mir ão
a a le am feiçõ entre lite
ura (D ra it e ra
avid S tura (Stan ura (Wolf s diversas, tura e h
ção” (HESSE, 2004, p. 16), que iluminam a compreensão alargada pelas vozes de outrem. pelo
da lite
própri
o
.
. Miall
),
Fictíc
ley Fi
sh
e
gang
Ise passa
n
ratura Iser em O isso sem m ) para, ma r e Umbert do pela in r meio da
is rec o Eco
istóri
a po
ve s
), pela stigação d reações d

io e O nc io n e n
Imag armos os temente, a form o púb
ex apre

inário ru cu invest li
e que dimento lminar co igação do a como a co, os
at se
os n

decorr s de u m a in p est
e dire sh) ma “an vestig apel das c rutura
45 tav

passando pela investigação ação onven


ey Fitamente tropolo
an a a

da forma como a estrutura (Sta nl g e m ções


atura de su ia pír
os co

da liter a inve literária” ica sobre


leitura
Ha nf

do texto literário suscita stigaç p


ções na ão so roposta
ns erê

a leitura (Wolfgang Iser e co nv en b re a leit


pel das
Ro nc

Umberto Eco), ura


ão do pa
be ia

vestigaç
rt

pela in
Ja
ssu

117
9 FORSTER, Gabrielle da Silva. O lobo da estepe: uma escritura selvagem

Influenciado pelo contato e pelo lido, acredita que Harry continuará vivendo, as-
sim como sugere o final das anotações e também o tratado ao mencionar que “muitas
Há exat
dessas naturezas são incapazes de cometer o suicídio real, porque têm profunda cons-
os 45 an
ciência do pecado que isso representa” (HESSE, 2004, p. 59). As palavras de Harry – “o
é e por os Hans
qu Robe
viria a se e alguém estu rt Jauss aprese
r uma da da ntav
s mudan a história liter a a conferên
cia “O qu
literária ças de perspe ária?”, inaugu
verdadeiro sofrimento, o verdadeiro inferno da vida humana reside ali onde se chocam
contem
porâne
ctiva si
a: os es
ra
gnificativ ndo o que
tudos so a na crítica
e

bre a le
duas culturas ou duas religiões” (HESSE, 2004, p. 33) – invadem o seu discurso, como ele
itura.

mesmo o percebe: “lendo as anotações de Harry, meditei muitas vezes nessas palavras.
Haller pertence àqueles que se comprimem entre duas épocas” (HESSE, 2004, p. 33). A do pela in
vesti-
para, mais recentemente, culminar com a investigação as, passan (Stanley Fish)
es divers
compreensão de que “Haller era um gênio do sofrimento; que ele, no sentido das várias
empírica sobre a leitura (David S. Miall),
s sobre a
leitura as su m iram feiçõ
nvenções
na leitu ra da literatura
pologia lit
erária” prop osta
atura.
os estudo pel das co tos de uma “antro e a leitura da liter
público, ção do pa en br
acepções de Nietzsche, havia forjado dentro de si uma capacidade de sofrimento genial,
aç õe s do inve stiga os ru di m ga çã o so
s re Eco), pela sti
r meio da cionarmos mente de sua inve
stória po e Umberto sem men ta
atura e hi ra (Wolfgang Iser avid S. Miall), isso que decorre dire
entre liter leitu ra (D rio e
e a relação erário suscita a bre a leitu tício e O Imaginá
ilimitada e terrível” (HESSE, 2004, p. 21), também encontra resquício na frase de Novalis
us s so br lit ric a so
dagação
de Ja
tura do te
xto o empí O Fic
Dessa in mo a estru lminar com a in
vestigaçã rio Iser em
forma co pelo próp
gação da ente, cu
recentem
para, mais
citada por Harry e na sua observação posterior: “‘O homem devia orgulhar-se da dor;
toda dor é uma manifestação de nossa elevada estirpe’. Magnífico! Oitenta anos antes de
Nietzsche!” (HESSE, 2004, p. 26, grifo do autor).
No discurso do Lobo da Estepe também é possível observar uma série de palavras
alheias. É o tratado que lhe faz perceber não apenas a ilusão de duplicidade feita por ele ao
dividir-se em metade homem, metade lobo, mas também o fato de que nunca chegara a
Há exatos 45 anos Hans Robert Jauss
apresentava a conferência
libertar-se de certos convencionalismos; “no íntimo era um burguês capaz de rejeitar uma
vida como a de Hermínia” (HESSE, 2002, p.142), alguém que, como revela o manuscrito, por
ter sido “educado em meio à pequena burguesia”, dela conservando “um grande número
erência
ava a conf
s apresent

Há exatos
de idéias e noções”, “teoricamente nada tinha em contrário à prostituição, mas na prática
45 anos Hans
Ro bert Jaus

não seria capaz de levar uma prostituta a sério ou considerá-la realmente sua igual” (HES-
passando
pela inve
stig SE, 2004, p.62). Ao longo de todo seu discurso ele sabe que, por suas atitudes desajustadas
suscita ação da form
a co
a leitura
(Wolfgan mo a estrutur
ao meio, parece aos olhos dos outros um louco e revela seu conhecimento disso na descul-
g Iser e a
Umbert do texto literár
o Eco), io

pa dada ao professor: “peço-lhe mil perdões, ao senhor e à sua senhora; diga-lhe, por favor,
que sou um esquizofrênico” (HESSE, 2004, p. 93). E é na imagem que faz de Pablo, da relação
passando pela investigação
da forma como a estrutura
que este tem com a vida, que reconhece sua alegria no baile de máscaras: “ah! Pensei, en-
do texto literário suscita
a leitura (Wolfgang Iser e
Umberto Eco),
tretanto, haja o que houver pelo menos fui feliz uma vez, meu olhar teve brilho, libertei-me
de mim mesmo, sou irmão de Pablo, sou uma criança” (HESSE, 2004, p. 184).
A influência das palavras de outrem na ótica de Harry aparece, sobretudo, na am-
biguidade de suas atitudes, que revela a mudança que se processa nesse sujeito no
decorrer do percurso e devido à abertura proposta pelo diálogo. Porém, há que consi-
derar que a modificação na forma de olhar a vida não se dá imediatamente e de forma
isso sem mencionarmos os rudimentos de uma
“antropologia literária” proposta pelo próprio Iser em

harmônica; ao contrário, a relação é tensa, pois sempre implica luta com a palavra de
O Fictício e O Imaginário e que decorre diretamente de
sua investigação sobre a leitura da literatura.

outrem, como podemos notar nesta passagem:

u-
Em muitos
o que vi
ria amomentos
a das m
ser um leitura.
sobre a
o velho e o novo, a dor e o prazer, o temor e a alegria apareciam
rando tudos
inaugu rânea: os es
ária?”,

ém es tu da
ia liter
ic
prodigiosamente entremesclados. Tão logo estava no céu como no inferno, e muitas
a histór a literária co
ntempo
na crít
que algu gnificativa
é e por si
pectiva
“O que
danças
de pers vezes nos dois ao mesmo tempo. O velho e o novo Harry viviam algumas vezes em con-
tínua peleja, outras em profunda Dpaz.
essa
inda
O velho Harry parecia às vezes inteiramente morto
estud g
os so ação de Ja
d bre u
e enterrado, e, de súbito, lá surgia,
Dessa indagação de Jauss sobre a relação entre literatura e história por meio das reações do na leit lidominador
o texto
terá
a leit
ura a sobre a ree tirano, e tudo sabia melhor do que o
ss
ura d rio suscit ssumiram lação entr
a leit
público, os estudos sobre a leitura assumiram feições diversas, ura (D a literatura a a leitura feições div e literatu
pe av (S (W ers ra e
outro, e o novo, o pequeno, o djovem
a lite prio IseHarry
lo pró
ratura
id S. M
iall
r em ), isso se
O
se
tanle
envergonhava,
o
y Fish lfgang Ise as, passan história p
)p
m m ara, mais
r e Um
bert
do pe calava
o
la inv r meio da
e se deixava levar
. Fictíc en re oE est s re

io e O Im cionarmo centemen co), pela igação da ações do


ex apre

s in
contra a parede. Em outros momentos, o jovem Harry
aginá os ru
d pegava
te, cu
lmina vo velho
estiga forma
copela
mo a cogarganta
públi
e
at se

rio e , os
que d im en r ção
os n

ecorr tos de um com a in do papel estru


tu
45 tav

passando pela investigação e dire sh) a “an vestig das c ra


Fita tr a o
tanley mente d opologia ção empír nvenções
an a a

da forma como a estrutura atura (S


os co

e sua li ic
da liter invest terária” p a sobre
itura
Ha nf

do texto literário suscita igaçã ropost


es na le
ns erê

o sob
a leitura (Wolfgang Iser e conven
çõ re a le a
pel das
Ro nc

Umberto Eco), itura


ão do pa
be ia

vestigaç
rt

pela in
Ja
ssu

118
9 FORSTER, Gabrielle da Silva. O lobo da estepe: uma escritura selvagem

apertava-a violentamente, havia muitos gemidos, muitas lutas de morte, muitos pensa-
mentos na navalha de barbear. (HESSE, 2004, p.147)

Há exat
os 45 an
O atrito que se processa no interior de Harry devido ao embate com outras visões,
é e por os Hans
qu Robe
viria a se e alguém estu rt Jauss aprese
r uma da da ntav
s mudan a história liter a a conferên
cia “O qu
literária ças de perspe ária?”, inaugu
fazendo-o movimentar-se incessantemente entre o velho e o novo prisma, lança luz
contem
porâne
ctiva si
a: os es
ra
gnificativ ndo o que
tudos so a na crítica
e

bre a le
sobre o inacabamento do diálogo, sobre o deslizamento de sentido que a palavra do
itura.

outro produz nas palavras já consideradas nossas, pois quando as vozes alheias entram
em nosso discurso, elas não permanecem as mesmas palavras, mas adquirem novas do pela in
vesti-
para, mais recentemente, culminar com a investigação as, passan (Stanley Fish)
es divers
nuanças, novas significações. Elas tomam novos percursos e não sabemos o que podem
empírica sobre a leitura (David S. Miall),
s sobre a
leitura as su m iram feiçõ
nvenções
na leitu ra da literatura
pologia lit
erária” prop osta
atura.
os estudo pel das co tos de uma “antro e a leitura da liter
público, ção do pa en br
gerar, embora sempre produzam resposta e, consequentemente, expansão, o que nota-
aç õe s do inve stiga os ru di m ga çã o so
s re Eco), pela sti
r meio da cionarmos mente de sua inve
stória po e Umberto sem men ta
atura e hi ra (Wolfgang Iser avid S. Miall), isso que decorre dire
entre liter leitu ra (D rio e
e a relação erário suscita a bre a leitu tício e O Imaginá
mos nas palavras do lobo: “hoje, nesta bendita noite, expandia eu mesmo, Harry, o Lobo
us s so br lit ric a so
dagação
de Ja
tura do te
xto o empí O Fic
Dessa in mo a estru lminar com a in
vestigaçã rio Iser em
forma co pelo próp
gação da ente, cu
recentem
para, mais
da Estepe” (HESSE, 2004, p.183). Isso ocorre porque a palavra do outro enquanto palavra
interiormente persuasiva é enquadrada pelo nosso olhar e na zona de contato é flexível:

Nós ainda não ficamos sabendo de tudo a seu respeito, o que ela pode nos dizer. Nós
a introduzimos em novos contextos, a aplicamos a um novo material, nós a colocamos
Há exatos 45 anos Hans Robert Jauss
numa nova posição, a fim de obter dela novas respostas, novos esclarecimentos sobre
apresentava a conferência
o seu sentido e novas palavras para ‘nós’ (uma vez que a palavra produtiva do outro
engendra dialogicamente em resposta uma nova palavra nossa). (BAKHTIN, 2002, p.146)

erência
ava a conf
s apresent

Há exatos
45 Em O lobo da estepe só tomamos conhecimento do ambiente exterior pelo viés das
anos Hans
Ro bert Jaus

vozes que figuram na obra, pois aqui “a cada herói o mundo se apresenta num aspecto par-
passando
pela inve
stig ticular segundo o qual constrói-sese constrói a sua representação” (BAKHTIN, 1997, p. 23).
suscita ação da form
a co
a leitura
(Wolfgan mo a estrutur
No entanto, como foi possível observar, “essas vozes não se fecham, nem são surdas umas
g Iser e a
Umbert do texto literár
o Eco), io

às outras. Elas sempre se escutam mutuamente, respondem umas às outras e se refletem


reciprocamente” (BAKHTIN, 1997, p. 75). Por isso, uma leitura produtiva do referido roman-
passando pela investigação
da forma como a estrutura
ce só pode ser alcançada se levarmos em consideração o impacto produzido pela disputa
do texto literário suscita
a leitura (Wolfgang Iser e
Umberto Eco),
ideológica entre divergentes visões de mundo no seio de cada enunciado. Esse embate,
visualizado no discurso de ambos os personagens – Harry e o narrador do prefácio – cujas
posições se contrapõem, é desvelado pelo discurso impessoal e em terceira pessoa do
tratado, cuja função explicativa visa desvelar o ponto de vista de cada um desses sujeitos,
desligando-os de uma configuração estritamente individual, ao recorrer para configurar
seu texto à estrutura do “era uma vez”, que faz do tempo um tempo que se repete.
isso sem mencionarmos os rudimentos de uma
“antropologia literária” proposta pelo próprio Iser em

Ao considerar que “muita gente existe que se assemelha a Harry” (HESSE, 2004, p.55)
O Fictício e O Imaginário e que decorre diretamente de
sua investigação sobre a leitura da literatura.

ou que “esta débil e frágil criatura” existe “em número tão grande” (HESSE, 2004, p.63),
o tratado nos sugere que a contradição da sociedade na qual vive o Lobo da Estepe tem
relação com a complexidade do mundo na qual o leitor está inserido. Assim, nos indica
o o qu
e viria
a das m
u-
a ser um a leitura.
s sobre
ra nd es tu do
augu nea: os
que a obra não é um universo autotélico, com sentido em si mesmo, como pregavam
gu
da a hi
stória
ém estu va na crítica
literár
ia?”, in
literár
ia cont
emporâ

qu e al ti
é e por significa
“O que
danças
os estruturalistas, mas uma ficção que se acrescenta à realidade empírica, que funciona
de pers
pectiva

nela, e que, ao orquestrar a multiplicidade de pontos de vista, dando a estes um fundo Dessa
estud indagação
o d
do te s sobre a le e Jauss so
dialógico, também se apresenta como um ponto de vista sobre o real. Um ponto de vista
Dessa indagação de Jauss sobre a relação entre literatura e história por meio das reações do
público, os estudos sobre a leitura assumiram feições diversas,
xto
u
a leit ra da lite
suscit
b
na leit literário itura assu re a relaç
mir ão
a a le am feiçõ entre lite
ura (D ra it e ra
avid S tura (Stan ura (Wolf s diversas, tura e h
refratado através da disputa entre as posições sócio-ideológicas colocadas em diálogo pelo
da lite
própri
o
.
. Miall
),
Fictíc
ley Fi
sh
e
gang
Ise passa
n
ratura Iser em O isso sem m ) para, ma r e Umbert do pela in r meio da
is rec o Eco
istóri
a po
ve s
), pela stigação d reações d

io e O nc io n e n
Imag armos os temente, a form o púb
ex apre

inário ru cu invest li
e que dimento lminar co igação do a como a co, os
at se
os n

decorr s de u m a in p est
e dire sh) ma “an vestig apel das c rutura
45 tav

passando pela investigação ação onven


ey Fitamente tropolo
an a a

da forma como a estrutura (Sta nl g e m ções


atura de su ia pír
os co

da liter a inve literária” ica sobre


leitura
Ha nf

do texto literário suscita stigaç p


ções na ão so roposta
ns erê

a leitura (Wolfgang Iser e co nv en b re a leit


pel das
Ro nc

Umberto Eco), ura


ão do pa
be ia

vestigaç
rt

pela in
Ja
ssu

119
9 FORSTER, Gabrielle da Silva. O lobo da estepe: uma escritura selvagem

na tessitura do texto. É o conflito não resolvido do tempo no qual se insere, o que o ro-
mance se propõe a representar, como bem observou Bakhtin:
Há exat
os 45 an
os Hans
é e por
qu Robe
viria a se e alguém estu rt Jauss aprese
r uma da da ntav
a prosa literária pressupõe a percepção da concretude e da relatividade históricas e sociais
s mudan a história liter a a conferên
cia “O qu
literária ças de perspe ária?”, inaugu
contem
porâne
ctiva si
a: os es
ra
da palavra viva, de sua participação na transformação histórica e na luta social; e ela toma essa
gnificativ ndo o que
tudos so a na crítica
e

bre a le
itura.
palavra ainda quente dessa luta e desta hostilidade, ainda não resolvida e dilacerada pelas en-
tonações e acentos hostis e a submete à unidade dinâmica de seu estilo. (BAKHTIN, 2002, p.133)
vesti-
do pela in
para, mais recentemente, culminar com a investigação as, passan (Stanley Fish)
es divers
Logo, o romance visa detectar as carências do mundo, as potencialidades ainda au-
empírica sobre a leitura (David S. Miall),
s sobre a
leitura as su m iram feiçõ
nvenções
na leitu ra da literatura
pologia lit
erária” prop osta
atura.
os estudo pel das co tos de uma “antro e a leitura da liter
público, ção do pa en br
sentes de um espaço concreto, atualizando-as ao incorporá-las na imagem do mundo re-
aç õe s do inve stiga os ru di m ga çã o so
s re Eco), pela sti
r meio da cionarmos mente de sua inve
stória po e Umberto sem men ta
atura e hi ra (Wolfgang Iser avid S. Miall), isso que decorre dire
entre liter leitu ra (D rio e
e a relação erário suscita a bre a leitu tício e O Imaginá
presentada. Nesse sentido, a obra literária possui certa autonomia, mas não é totalmente
us s so br lit ric a so
dagação
de Ja
tura do te
xto o empí O Fic
Dessa in mo a estru lminar com a in
vestigaçã rio Iser em
forma co pelo próp
gação da ente, cu
recentem
para, mais
independente, já que é um produto social que produz um olhar sobre a sociedade; um
olhar que pode contribuir para problematizar o que foi naturalizado, pois “a literatura
não é representação a não ser na medida em que se inscreve numa análoga simbolização
global de uma sociedade, e em que a retoma e modifica” (BESSIÈRE, 1995, 391). De acordo
com Jean Bessière, cuja consideração se aproxima da bakhtiniana citada acima,
Há exatos 45 anos Hans Robert Jauss
apresentava a conferência
no próprio interior do intercâmbio lingüístico e simbólico, há um alhures e um possí-
vel. A ficção é a representação desses alhures e desse possível; não é irrealização, pura
passagem ao ato da imaginação, mas exposição dos possíveis que as trocas lingüísticas
ência
a a confer
resentav
rt Jauss ap
Há exatos
45 anos Ha
ns Robe e simbólicas veiculam. (BESSIÈRE, 1995, p. 389)

passando
pela inve
stig No entanto, embora atualmente a compreensão de que “a obra não tem objeto”, que “o ob-
suscita ação da form
a co
a leitura
(Wolfgan mo a estrutur
jeto para ela fazem-no a sua própria narração e as emoções que ela suscita” (BESSIÈRE, 1995, p.
g Iser e a
Umbert do texto literár
o Eco), io

385) esteja disseminada, durante muito tempo se acreditou que a literatura pudesse funcionar
como o espelho do real, estabelecendo com este uma relação direta. Contra esse equívoco, o
passando pela investigação
da forma como a estrutura
próprio romance de Hesse nos adverte, através de jogos estilísticos elaborados ao longo de todo
do texto literário suscita
a leitura (Wolfgang Iser e
Umberto Eco),
texto. A primeira parte, intitulada Prefácio do editor, é elemento ficcional constitutivo da obra,
mas por figurar como elemento paratextual acaba apontando para o fato de que o próximo
texto não passa de uma construção estética – ideia esta igualmente reverberada pelo discurso
seguinte, quando Harry transcreve em suas anotações dois poemas escritos por ele, sugerin-
do dessa forma que sua produção confessional é também uma construção. Além disso, o nome
do personagem Harry Haller, cujas iniciais são as mesmas do nome do autor, e o feminino de
isso sem mencionarmos os rudimentos de uma
“antropologia literária” proposta pelo próprio Iser em

Hermann utilizado para nomear Hermínia, indicam “o fazer” literário, seu caráter de confecção,
O Fictício e O Imaginário e que decorre diretamente de
sua investigação sobre a leitura da literatura.

que o tratado deixa explícito ao mostrar a criação que há por trás de todo o discurso:

u-
Para terminar
o que vi
ria a se brenosso
das m
r uma itura.
so a le
estudo resta esclarecer ainda uma última ficção, um engano fun-
rando tudos
inaugu rânea: os es
ária?”,

ém es tu da
ia liter
ic
damental. Todas as “interpretações”, toda psicologia, todas as tentativas de tornar as
a histór a literária co
ntempo
na crít
que algu gnificativa
é e por si
pectiva
“O que
danças
de pers coisas compreensíveis se fazem por meio de teorias, mitologias, de mentiras; e um autor
honesto não deveria furtar-se, no
Dessa fecho de uma exposição, a dissipar essas mentiras
inda estud g
os so ação de Ja
d bre u
dentro do possível. Se digo “acima”
Dessa indagação de Jauss sobre a relação entre literatura e história por meio das reações do
o texto
na leit liteou
rá “abaixo”,
a leit
ura a sobre a re isso já é uma afirmação, que exige um
ss
ura d rio suscit ssumiram lação entr
a leit
público, os estudos sobre a leitura assumiram feições diversas, ura (D a literatura a a leitura feições div e literatu
pe av (S (W ers ra e
esclarecimento, pois só existemda liloacima
teratu o Iser ee
própri id S. Mia
ra mO
abaixo
ll), isso ley Fish) pno
tan olfga
pensamento,
ng Ise as, passan história p
sem m ara, ma r e Umbert do pela in or meio da
is v
na abstração. O mundo
. Fictíc en re oE est s re

io e O Im cionarmo centemen co), pela igação da ações do


ex apre

s in
mesmo não conhece nenhum acima nem abaixo.
aginá
(HESSE,que d imen2004,
os ru te, cu
lmina p. 67)
vestig forma pú
como blico, os
at se

rio e d ação
r
os n

ecorr tos de um com a in do papel a estru


tu
45 tav

passando pela investigação e dire sh) a “an vestig das c ra


Fita tr a o
tanley mente d opologia ção empír nvenções
an a a

da forma como a estrutura atura (S


os co

e sua li ic
da liter invest terária” p a sobre
itura
Ha nf

do texto literário suscita igaçã ropost


es na le
ns erê

o sob
a leitura (Wolfgang Iser e conven
çõ re a le a
pel das
Ro nc

Umberto Eco), itura


ão do pa
be ia

vestigaç
rt

pela in
Ja
ssu

120
9 FORSTER, Gabrielle da Silva. O lobo da estepe: uma escritura selvagem

Sendo assim, se a obra é uma construção, uma articulação de palavras cuja natu-
reza arbitrária da convenção impede uma relação direta com o real, que simplesmente
Há exat
existe, sem necessidade de explicação, cabe perguntar: como esse artifício funciona
os 45 an
para criar a ilusão de realidade? E de que forma a construção dialógica da obra, que
é e por os Hans
qu Robe
viria a se e alguém estu rt Jauss aprese
r uma da da ntav
s mudan a história liter a a conferên
cia “O qu
literária ças de perspe ária?”, inaugu
permite aos personagens alargarem sua ótica no atrito com visões de mundo divergen-
contem
porâne
ctiva si
a: os es
ra
gnificativ ndo o que
tudos so a na crítica
e

bre a le
tes, também funciona para modificar a percepção do leitor empírico? A estrutura sin-
itura.

fônica da obra permite que a compreensão dos três primeiros movimentos modifique
a percepção que o leitor poderia ter do último – a parte romanceada da obra, na qual do pela in
vesti-
para, mais recentemente, culminar com a investigação as, passan (Stanley Fish)
es divers
se narra as ações de Harry no encontro com outros personagens? Comecemos pela pri-
empírica sobre a leitura (David S. Miall),
s sobre a
leitura as su m iram feiçõ
nvenções
na leitu ra da literatura
pologia lit
erária” prop osta
atura.
os estudo pel das co tos de uma “antro e a leitura da liter
público, ção do pa en br
meira pergunta, pois as outras só poderão ser respondidas na esteira desta.
aç õe s do inve stiga os ru di m ga çã o so
s re Eco), pela sti
r meio da cionarmos mente de sua inve
stória po e Umberto sem men ta
atura e hi ra (Wolfgang Iser avid S. Miall), isso que decorre dire
entre liter leitu ra (D rio e
e a relação erário suscita a bre a leitu tício e O Imaginá
A primeira parte do romance, ao mesmo tempo em que serve para lembrar o ca-
us s so br lit ric a so
dagação
de Ja
tura do te
xto o empí O Fic
Dessa in mo a estru lminar com a in
vestigaçã rio Iser em
forma co pelo próp
gação da ente, cu
recentem
para, mais
ráter fictício do narrado, também funciona para dar verossimilhança e concretude à
figura de Harry, pelo fato de configurar o discurso pelo viés de um narrador que no âm-
bito da narratologia seria classificado como um narrador-testemunha. Quando o editor
assume ter conhecido pessoalmente o sujeito das anotações, ativa no leitor a ilusão de
que este existiu, revestindo esse homem de papel com o sangue humano. Assim, pode-
mos imaginar Harry a caminhar pelas ruas, vivendo suas experiências ficcionais não
Há exatos 45 anos Hans Robert Jauss
apresentava a conferência
no mundo da diegese, mas no mundo nosso; esse que tomamos por real. Puro artifício!
Mas é assim mesmo que funciona: ou fazemos o pacto ou desistimos da leitura e vamos
iludidos de verdade ler jornal. Aceitamos e, então, concordamos que ao longo de todo
erência
ava a conf
s apresent

Há exatos
discurso da primeira parte, o homem-lobo vai revestindo-se de veracidade. Não pode-
45 anos Hans
Ro bert Jaus

mos mais compreender suas anotações como puro devaneio, pois muitas das situações
passando
pela inve
stig narradas ali são confirmadas pelo editor, que afirma tê-lo conhecido.
suscita ação da form
a co
a leitura
(Wolfgan mo a estrutur
O insight que Harry Haller admite ter tido no concerto sinfônico quando revela:
g Iser e a
Umbert do texto literár
o Eco), io

“entre dois compassos de piano, abriu-se para mim a porta do além, atravessei o céu e
vi Deus em seu trabalho, sofri dores bem-aventuradas, deixei tombar minhas defesas e
passando pela investigação
da forma como a estrutura
passei a não temer mais nada no mundo” (HESSE, 2004, p. 40), foi presenciado pelo nar-
do texto literário suscita
a leitura (Wolfgang Iser e
Umberto Eco),
rador da primeira parte: “me surpreendi ao ver como logo nos primeiros compassos o
meu estranho companheiro começou a sorrir e a entregar-se no fundo de si mesmo,
parecendo, durante mais de dez minutos, tão felizmente extasiado e perdido em um so-
nho agradável” (HESSE, 2004, p. 28). A contemplação do pinheirinho pelo lobo também é
narrada em ambos os discursos. E a modificação no comportamento do protagonista –
que visualizamos na parte romanceada – foi igualmente notada pelo editor, o que acaba
isso sem mencionarmos os rudimentos de uma
“antropologia literária” proposta pelo próprio Iser em

por convencê-lo de certa dose de realidade nos escritos encontrados:


O Fictício e O Imaginário e que decorre diretamente de
sua investigação sobre a leitura da literatura.

Os acontecimentos, em parte fantásticos, da ficção de Haller situam-se provavelmente


u-
nos últimos
o que vi
riatempos
sobre
a das m
de sua permanência conosco, e não duvido que haja neles uma boa
a ser um a leitura.
rando tudos
inaugu rânea: os es
ária?”,

ém es tu da
ia liter
ic
dose de fatos reais exteriores. Naquele tempo, nosso hóspede tinha de fato uma conduta
a histór a literária co
ntempo
na crít
que algu gnificativa
é e por si
pectiva
“O que
danças
de pers e aspectos diferentes, permanecia por muito tempo fora de casa, às vezes durante toda
a noite, e não tocava nos livros. DAs
essa poucas vezes em que o encontrei pareceu-me sur-
inda estud g
os so ação de Ja
d bre u
preendentemente vivo e rejuvenescido,
Dessa indagação de Jauss sobre a relação entre literatura e história por meio das reações do na leit literário ite
o texto
ura d
a le
uraàs
a vezes
ss sob
re a re até mesmo feliz. (HESSE, 2004, p. 31)
suscit ssumiram lação entr
a leit
público, os estudos sobre a leitura assumiram feições diversas, ura (D a literatura a a leitura feições div e literatu
pelo avid S (Stan (Wolf ersas, ra e h
pró .M le ga p istó
da lite prio Iser iall), isso y Fish) pa ng Iser e U assando p ria por m
ratura em O se ra m e e
. Fictíc m mencio , mais rece berto Eco la investig io das rea

io e O n n ), pela ação ções


Imag armos os temente, d do
culm investiga a forma co público,
ex apre

inário rudim
at se

e que e in a çã m os
decorr ntos de um r com a in o do pape o a estrutu
os n

l das
45 tav

passando pela investigação e dire sh) a “an vestig conve ra


ey Fitamente tropolo ação
an a a

da forma como a estrutura (Sta nl g e m nções


atura de su ia pír
os co

da liter a inve literária” ica sobre


leitura
Ha nf

do texto literário suscita stigaç p


ções na ão so roposta
ns erê

a leitura (Wolfgang Iser e co nven b re a leit


pel das
Ro nc

Umberto Eco), ura


ão do pa
be ia

vestigaç
rt

pela in
Ja
ssu

121
9 FORSTER, Gabrielle da Silva. O lobo da estepe: uma escritura selvagem

Essa simulação de realidade, propiciada pela introdução na primeira parte de um


narrador-testemunho e pela recorrência de afirmações que coincidem nos dois rela-
Há exat
tos, contribui para dar verossimilhança à história. Porém, não é apenas através desse
os 45 an
recurso que a obra cria a ilusão de realidade. Na leitura também nos deparamos com
é e por os Hans
qu Robe
viria a se e alguém estu rt Jauss aprese
r uma da da ntav
s mudan a história liter a a conferên
cia “O qu
literária ças de perspe ária?”, inaugu
um ambiente que em muitos aspectos se aproxima ao nosso: recheado de diversões –
contem
porâne
ctiva si
a: os es
ra
gnificativ ndo o que
tudos so a na crítica
e

bre a le
bares noturnos, cinema, teatro; de outdoors coloridos e luminosos, de casas de família
itura.

asseadas, de rotina, de trabalho, de tempo acelerado e de compromissos repetitivos


a cumprir. Há também referências a autores e obras que hoje fazem parte do nosso do pela in
vesti-
para, mais recentemente, culminar com a investigação as, passan (Stanley Fish)
es divers
patrimônio cultural; vozes estas admiradas e seguidas de certa forma por Harry, e que
empírica sobre a leitura (David S. Miall),
s sobre a
leitura as su m iram feiçõ
nvenções
na leitu ra da literatura
pologia lit
erária” prop osta
atura.
os estudo pel das co tos de uma “antro e a leitura da liter
público, ção do pa en br
igualmente contribuem nesse sentido. Mas ainda mais do que isso: a composição da
aç õe s do inve stiga os ru di m ga çã o so
s re Eco), pela sti
r meio da cionarmos mente de sua inve
stória po e Umberto sem men ta
atura e hi ra (Wolfgang Iser avid S. Miall), isso que decorre dire
entre liter leitu ra (D rio e
e a relação erário suscita a bre a leitu tício e O Imaginá
obra em três partes funciona para dar conta da complexidade da sociedade moderna,
us s so br lit ric a so
dagação
de Ja
tura do te
xto o empí O Fic
Dessa in mo a estru lminar com a in
vestigaçã rio Iser em
forma co pelo próp
gação da ente, cu
recentem
para, mais
cujo conflito é sua condição, sendo por isso mesmo inviável e inverossímil a utilização
de uma única perspectiva a conduzir o relato.
Segundo Bakhtin, “o romance é o único gênero em evolução, por isso ele reflete
mais profundamente, mais substancialmente, mais sensivelmente e mais rapidamente a
evolução da própria realidade” (BAKHTIN, 1998, p. 400). Logo, como um gênero em devir,
“por se constituir e ainda inacabado” (BAKHTIN, 1998, p. 397), sua estrutura modifica-se
Há exatos 45 anos Hans Robert Jauss
apresentava a conferência
conforme a sociedade avança e se problematiza. Nesse sentido, como fruto do século XX,
que ficou conhecido como a era dos extremos, devido às catástrofes, os massacres e as
incertezas que dominaram o período, marcado por duas grandes guerras, pelo horror
erência
ava a conf
s apresent

Há exatos
dos bombardeamentos nucleares em Hiroshima e Nagasaki e pela atrocidade das ditadu-
45 anos Hans
Ro bert Jaus

ras latino-americanas, O lobo da estepe, que se insere na tradição do romance moderno,


passando
pela inve
stig necessitou de modificações – não só temáticas, mas também estruturais – aptas a darem
suscita ação da form
a co
a leitura
(Wolfgan mo a estrutur
conta desse mundo esfacelado. Pois, como afirma Anatol Rosenfeld, “uma época com to-
g Iser e a
Umbert do texto literár
o Eco), io

dos os valores em transições e por isso incoerentes, uma realidade que deixou de ser ‘um
mundo explicado’, exigem adaptações estéticas capazes de incorporar o estado de fluxo e
passando pela investigação
da forma como a estrutura
insegurança dentro da própria estrutura da obra” (ROSENFELD, 1976, p. 86).
do texto literário suscita
a leitura (Wolfgang Iser e
Umberto Eco),
É por isso que a estrutura narrativa do romance de Hesse não é dirigida por uma
ótica distanciada e privilegiada; nem organiza os fatos seguindo a sucessão temporal, o
que, através de um encadeamento lógico e linear, nos permitiria ver não só a evolução
dos acontecimentos, mas também a do personagem. Aqui, a parte romanceada é apenas
um recorte na vida do lobo e sua história não pode ser compreendida por uma única
visão, já que devido às mudanças sociais que se processaram “desapareceu a certeza
isso sem mencionarmos os rudimentos de uma
“antropologia literária” proposta pelo próprio Iser em

ingênua da posição divina do indivíduo” (ROSENFELD, 1976, p.86). Nisso reside a neces-
O Fictício e O Imaginário e que decorre diretamente de
sua investigação sobre a leitura da literatura.

sidade que a obra tem de superar a perspectiva do narrador tradicional, orquestrando,


em detrimento, uma multiplicidade de pontos de vista para ampliar a possibilidade de
leitura da história, posto que, em O lobo da estepe, o enfoque não está na trama, mas
o o qu
e viria
a das m
u-
a ser um a leitura.
s sobre
ra nd es tu do
augu nea: os
na compreensão que cada ótica ilumina, pois mesmo o discurso do tratado, que se pre-
gu
da a hi
stória
ém estu va na crítica
literár
ia?”, in
literár
ia cont
emporâ

qu e al ti
é e por significa
“O que
danças
tende impessoal, não passa de um olhar ao lado dos outros, que alarga a compreensão.
de pers
pectiva

Assim, e manifestando certo Zeitgeist, espírito da época, que Rosenfeld afirma ha- Dessa
estud indagação
o d
do te s sobre a le e Jauss so
ver em cada fase histórica, “espaço e tempo, formas relativas da nossa consciência, mas
Dessa indagação de Jauss sobre a relação entre literatura e história por meio das reações do
público, os estudos sobre a leitura assumiram feições diversas,
xto
u
a leit ra da lite
suscit
b
na leit literário itura assu re a relaç
mir ão
a a le am feiçõ entre lite
ura (D ra it e ra
avid S tura (Stan ura (Wolf s diversas, tura e h
sempre manipuladas como se fossem absolutas, são [...] denunciadas como relativas e pelo
da lite
própri
o
.
. Miall
),
Fictíc
ley Fi
sh
e
gang
Ise passa
n
ratura Iser em O isso sem m ) para, ma r e Umbert do pela in r meio da
is rec o Eco
istóri
a po
ve s
), pela stigação d reações d

io e O nc io n e n
Imag armos os temente,
subjetivas” (ROSENFELD, 1976, p. 81), porque os acontecimentos já não podem ser toma- a form o púb
ex apre

inário ru cu invest li
e que dimento lminar co igação do a como a co, os
at se
os n

decorr s de u m a in p est
e dire sh) ma “an vestig apel das c rutura
45 tav

passando pela investigação ação onven


ey Fitamente tropolo
an a a

da forma como a estrutura (Sta nl g e m ções


atura de su ia pír
os co

da liter a inve literária” ica sobre


leitura
Ha nf

do texto literário suscita stigaç p


ções na ão so roposta
ns erê

a leitura (Wolfgang Iser e co nv en b re a leit


pel das
Ro nc

Umberto Eco), ura


ão do pa
be ia

vestigaç
rt

pela in
Ja
ssu

122
9 FORSTER, Gabrielle da Silva. O lobo da estepe: uma escritura selvagem

dos como dados absolutos; eles modificam-se, ampliam-se, deformam-se, dependendo


do ponto de observação. Harry é louco? Ou louco é o negativo do editor que segue as re-
Há exat
gras ditadas pela sociedade? O lado selvagem deste sujeito lhe torna um bárbaro ou lhe
os 45 an
permite expandir-se, tornar-se outro homem que não o condicionado pelo paradigma
é e por os Hans
qu Robe
viria a se e alguém estu rt Jauss aprese
r uma da da ntav
s mudan a história liter a a conferên
cia “O qu
literária ças de perspe ária?”, inaugu
dominante? Pela dúvida que envolve o protagonista “se desfaz a personagem nítida, de
contem
porâne
ctiva si
a: os es
ra
gnificativ ndo o que
tudos so a na crítica
e

bre a le
contornos firmes e claros, tão típica do romance convencional” (ROSENFELD, 1976, p. 85).
itura.

O paradoxo que O lobo da estepe estabelece ao fazer de Haller um estranho ao mundo


burguês – que lhe é um universo estranho – faz com que a loucura deste sujeito se torne do pela in
vesti-
para, mais recentemente, culminar com a investigação as, passan (Stanley Fish)
es divers
carente de certeza na oscilação entre os dois olhares. E isso porque a dúvida não recai ape-
empírica sobre a leitura (David S. Miall),
s sobre a
leitura as su m iram feiçõ
nvenções
na leitu ra da literatura
pologia lit
erária” prop osta
atura.
os estudo pel das co tos de uma “antro e a leitura da liter
público, ção do pa en br
nas sobre o personagem, mas sobre o ambiente que o condena assim. Como “épica de una
aç õe s do inve stiga os ru di m ga çã o so
s re Eco), pela sti
r meio da cionarmos mente de sua inve
stória po e Umberto sem men ta
atura e hi ra (Wolfgang Iser avid S. Miall), isso que decorre dire
entre liter leitu ra (D rio e
e a relação erário suscita a bre a leitu tício e O Imaginá
sociedad que se funda en la crítica, la novela es un juicio implícito sobre esa misma socie-
us s so br lit ric a so
dagação
de Ja
tura do te
xto o empí O Fic
Dessa in mo a estru lminar com a in
vestigaçã rio Iser em
forma co pelo próp
gação da ente, cu
recentem
para, mais
dad” (PAZ, online, p.85) e por conseguinte, não reproduz os arquétipos heroicos da epopeia,
mas personagens ambíguos, duvidosos, pois, como afirma Octavio Paz, o romance é a

épica de héroes que razonan y dudan, épica de héroes dudosos, de los que ignoramos
si son locos o cuerdos, santos o demonios. Muchos son escépticos, otros francamente
Há exatos 45 anos Hans Robert Jauss
rebeldes y antisociales y todos en abierta o secreta lucha con su mundo. Épica de una
apresentava a conferência
sociedad en lucha consigo misma. (PAZ, online, p.84)

A partir do momento em que compreendemos que o problema do lobo não é um


ência
a a confer
resentav

Há exatos
caso particular de perturbação de uma mente doentia, mas que se origina de sua cons-
45 anos Ha
ns Robe rt Jauss ap

cientização em relação ao universo burguês, de aparências, de superficialidades, aca-


passando
pela inve
stig bamos olhando com outros olhos os moinhos de vento e também vemos neles gigantes
suscita ação da form
a co
a leitura
(Wolfgan mo a estrutur
contra os quais lutarmos, entendendo, então, por que o protagonista em muitos as-
g Iser e a
Umbert do texto literár
o Eco), io

pectos de sua vida foi “como o nobre D. Quixote, preferindo a honra à comodidade e o
heroísmo à razão!” (HESSE, 2004, p.80).
passando pela investigação
da forma como a estrutura
Na passagem em que Harry narra suas impressões do cortejo fúnebre, observamos
do texto literário suscita
a leitura (Wolfgang Iser e
Umberto Eco),
o absurdo ao qual chega a utilização de máscaras sociais, porque aqui, até mesmo no
reconhecimento do perecimento que dá ao homem o tom de sua humanidade, o fingi-
mento e a teatralidade prevalecem. No cemitério, o Lobo da Estepe vê o “padre e os ou-
tros abutres da morte mais os agentes funerários executarem suas funções, procurando
revesti-las de alta solenidade e tristeza [...] que ficavam a um passo do ridículo” (HESSE,
2004, p. 83-84). E isso porque, na sociedade da qual fazemos parte, “nadie tiene fe, pero
isso sem mencionarmos os rudimentos de uma
“antropologia literária” proposta pelo próprio Iser em

todos se hacen ilusiones” (PAZ, online, p.83).


O Fictício e O Imaginário e que decorre diretamente de
sua investigação sobre a leitura da literatura.

As relações estabelecidas nesse espaço sociocultural não são emocionais, mas ra-
cionais, como aponta Georg Simmel, no seu clássico ensaio A metrópole e a vida mental.
Nelas, “trabalha-se com o homem como com um número, como um elemento que é em si
o o qu
e viria
a das m
u-
a ser um a leitura.
s sobre
ra nd es tu do
augu nea: os
mesmo indiferente” (SIMMEL, 1987, p. 13). Logo, o que nivela as comunicações inter-huma-
gu
da a hi
stória
ém estu va na crítica
literár
ia?”, in
literár
ia cont
emporâ

qu e al ti
é e por significa
“O que
danças
nas é a quantidade e não a qualidade, e, por isso, de acordo com o sociólogo, os indivídu-
de pers
pectiva

os adquirem uma atitude blasé, refletindo a interiorização da economia do dinheiro, que Dessa
estud indagação
o d
do te s sobre a le e Jauss so
“arranca irreparavelmente a essência das coisas, sua individualidade, seu valor específico
Dessa indagação de Jauss sobre a relação entre literatura e história por meio das reações do
público, os estudos sobre a leitura assumiram feições diversas,
xto
u
a leit ra da lite
suscit
b
na leit literário itura assu re a relaç
mir ão
a a le am feiçõ entre lite
ura (D ra it e ra
avid S tura (Stan ura (Wolf s diversas, tura e h
e sua incomparabilidade” (SIMMEL, 1987, p. 16). É contra essas relações artificiais e mecâ- pelo
da lite
própri
o
.
. Miall
),
Fictíc
ley Fi
sh
e
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Ise passa
n
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is rec o Eco
istóri
a po
ve s
), pela stigação d reações d

io e O nc io n e n
Imag armos os temente,
nicas, destituídas de emoção, que se coloca Harry Haller. Para ele, a maioria dos homens a form o púb
ex apre

inário ru cu invest li
e que dimento lminar co igação do a como a co, os
at se
os n

decorr s de u m a in p est
e dire sh) ma “an vestig apel das c rutura
45 tav

passando pela investigação ação onven


ey Fitamente tropolo
an a a

da forma como a estrutura (Sta nl g e m ções


atura de su ia pír
os co

da liter a inve literária” ica sobre


leitura
Ha nf

do texto literário suscita stigaç p


ções na ão so roposta
ns erê

a leitura (Wolfgang Iser e co nv en b re a leit


pel das
Ro nc

Umberto Eco), ura


ão do pa
be ia

vestigaç
rt

pela in
Ja
ssu

123
9 FORSTER, Gabrielle da Silva. O lobo da estepe: uma escritura selvagem

vivem e negociam todos os dias, todas as horas, forçadamente e sem na realidade


querê-lo; fazem visitas, mantém conversações, sentam-se durante horas inteiras em

Há exat
seus escritórios e fábricas, tudo à força, mecanicamente, sem vontade; tudo poderia
os 45 an
os Hans
é e por
qu Robe
viria a se e alguém estu rt Jauss aprese
r uma da da ntav
ser realizado com a mesma perfeição por máquinas ou não se realizar; e essa mecânica
s mudan a história liter a a conferên
cia “O qu
literária ças de perspe ária?”, inaugu
contem
porâne
ctiva si
a: os es
ra
eternamente continuada é o que lhes impede, assim como a mim, de exercer a crítica de
gnificativ ndo o que
tudos so a na crítica
e

bre a le
itura.
sua própria vida, reconhecer e sentir sua estupidez e superficialidade, sua desesperada
tristeza e solidão. (HESSE, 2004, p. 89)
vesti-
do pela in
para, mais recentemente, culminar com a investigação as, passan (Stanley Fish)
es divers
Ao reconhecer a alienação que este meio social produz, o protagonista faz de si um
empírica sobre a leitura (David S. Miall),
s sobre a
leitura as su m iram feiçõ
nvenções
na leitu ra da literatura
pologia lit
erária” prop osta
atura.
os estudo pel das co tos de uma “antro e a leitura da liter
público, ção do pa en br
outsider, adotando uma conduta que, por romper com as regras de comportamento
aç õe s do inve stiga os ru di m ga çã o so
s re Eco), pela sti
r meio da cionarmos mente de sua inve
stória po e Umberto sem men ta
atura e hi ra (Wolfgang Iser avid S. Miall), isso que decorre dire
entre liter leitu ra (D rio e
e a relação erário suscita a bre a leitu tício e O Imaginá
dominantes, lhe torna um estranho no ninho, o que para ele não é desconhecido: “se
us s so br lit ric a so
dagação
de Ja
tura do te
xto o empí O Fic
Dessa in mo a estru lminar com a in
vestigaçã rio Iser em
forma co pelo próp
gação da ente, cu
recentem
para, mais
o mundo tem razão, se essa música dos cafés, essas diversões em massa e esses tipos
americanizados que se satisfazem com tão pouco têm razão, então estou errado, estou
louco” (HESSE, 2004, p. 41). A atitude de isolar-se, de afastar-se da engrenagem social
que objetifica o sujeito, amortecendo toda possibilidade de reflexão, faz com que seu
protesto contra a alienação se aproxime da postura adotada por muitos escritores nes-
sa empreitada, pois, como indica Mészáros, desde Rousseau estes produziram
Há exatos 45 anos Hans Robert Jauss
apresentava a conferência

respostas paradoxais [...] à solidão […] [porque] a desintegração progressiva das liga-
ções sociais, a crescente atomização da sociedade, a intensificação do isolamento dos
ência
a a confer
resentav
rt Jauss ap
Há exatos
45 anos Ha
ns Robe indivíduos, uns em relação aos outros, e a solidão, necessariamente inerente a essas
tendências de fragmentação e privatização, foi, ela própria, o produto da alienação. E,
passando
pela inve
stig
suscita ação da form
mesmo assim, os protestos dos escritores modernos contra a alienação e a desumaniza-
a leitura a co
(Wolfgan mo a estrutur
g Iser e a
ção freqüentemente fazem questão de insistir na proclamada ‘soberania’ do indivíduo,
Umbert do texto literár
o Eco), io

fazendo da situação alienante da solidão uma virtude, afirmando, assim, o que original-
mente pretenderam negar. (MÉSZÁROS, 1993, p.3)
passando pela investigação
da forma como a estrutura
do texto literário suscita
a leitura (Wolfgang Iser e
Umberto Eco),
Quando o discurso do tratado revela que Harry “havia chegado ao momento em
que a solidão e a independência já não eram seu objetivo e seu anseio, antes sua conde-
nação e sentença” (HESSE, 2004, p. 57), ilumina o mesmo paradoxo citado acima e sugere
em detrimento ao alheamento do lobo, a participação deste na vida. Sua proposta acaba
inevitavelmente mostrando a impossibilidade de escapar da engrenagem social que
estabelece a condição alienante, o que resulta em “uma situação de ironia par excellen-
isso sem mencionarmos os rudimentos de uma
“antropologia literária” proposta pelo próprio Iser em

ce”, no sentido que coloca Mészáros, pois em O lobo da estepe o protagonista também
O Fictício e O Imaginário e que decorre diretamente de
sua investigação sobre a leitura da literatura.

interpreta “com intensidade desesperada a ‘estratégia da fuga heróica’ enquanto seu


projeto de vida, apenas para descobrir, no fim, que ela não pode se realizar” (MÉSZÁROS,
1993, p.10, grifo do autor). Como não é possível fugir, o manuscrito propõe a Harry
o o qu
e viria
a das m
u-
a ser um a leitura.
s sobre
ra nd es tu do
augu nea: os
ia?”, in
literár emporâ
da a hi
stória ia cont
literár
e algu ém estu va na crítica
qu ti
é e por significa
pectiva
“O que
danças
de pers viver no mundo como se não fosse o mundo, respeitar a lei e no entanto colocar-se
acima dela, possuir uma coisa “como
Dessa
inda
se não a possuísse”, renunciar como se não se tra-
estud g
os so ação de Ja
d bre u
tasse de uma renúncia, todas essas
Dessa indagação de Jauss sobre a relação entre literatura e história por meio das reações do na leit proposições
o texto a
literá leitura a
ss sob
re a refavoritas e formuladas com freqüência,
ura d rio suscit ssumiram lação entr
a leit
público, os estudos sobre a leitura assumiram feições diversas, ura (D a literatura a a leitura feições div e literatu
pe av (S (W ers ra e
todas essas exigências de umadaalta
litera riociência
lo pró id ta
p Is S. Miall), is nle
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y Fish lfgang Ise as, passan história p
p
m m ara, mais
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o realizá-las o humor.
la inv r meio da
. Fictíc en re oE est s re

e O Im cionarmo centemen co), pela igação da ações do


io
ex apre

s os ru invest
(HESSE, 2004, p. 64) aginá te, cu
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forma públi
co
at se

rio e d
que d imentos d inar com ação do p como a est , os
os n

ecorr e um a
e dire sh) a “an a investig pel das co rutura
45 tav

passando pela investigação ação


ey Fitamente tropolo nvenç
an a a

da forma como a estrutura (Sta nl g e m ões


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Ha nf

do texto literário suscita stigaç p


ções na ão so roposta
ns erê

a leitura (Wolfgang Iser e nven b re


l das co a leit
Ro nc

Umberto Eco), do pape ura


be ia

ão
vestigaç
rt

pela in
Ja
ssu

124
9 FORSTER, Gabrielle da Silva. O lobo da estepe: uma escritura selvagem

Ao indicar que isso “iria, é verdade, mantê-lo preso ao mundo burguês, mas seu pa-
decimento seria suportável e produtivo” (HESSE, 2004, p. 64), verificamos que a alternativa
Há exat
que o manuscrito propõe não é o isolamento nem a submissão à conduta estipulada pela
os 45 an
burguesia, cujos membros acomodados procuram situar-se no meio-termo, “numa zona
é e por os Hans
qu Robe
viria a se e alguém estu rt Jauss aprese
r uma da da ntav
s mudan a história liter a a conferên
cia “O qu
literária ças de perspe ária?”, inaugu
temperada e vantajosa, sem grandes tempestades ou borrascas” (HESSE, 2004, p. 63), vi-
contem
porâne
ctiva si
a: os es
ra
gnificativ ndo o que
tudos so a na crítica
e

bre a le
sando conservar seu eu. Ambas as posições eliminariam a tensão, e o que a obra propõe é
itura.

justamente o encontro tenso consigo mesmo, o ato de reconhecer-se um ser mais com-
plexo que o homem sublimado da convenção burguesa, dentro da qual: “certos impulsos do pela in
vesti-
para, mais recentemente, culminar com a investigação as, passan (Stanley Fish)
es divers
mais crus estão afastados e proibidos” (HESSE, 2004, p.73). Para isso, é preciso ultrapassar
empírica sobre a leitura (David S. Miall),
s sobre a
leitura as su m iram feiçõ
nvenções
na leitu ra da literatura
pologia lit
erária” prop osta
atura.
os estudo pel das co tos de uma “antro e a leitura da liter
público, ção do pa en br
as condicionantes externas e ser capaz de matar esse homem criado, pois “o apego de-
aç õe s do inve stiga os ru di m ga çã o so
s re Eco), pela sti
r meio da cionarmos mente de sua inve
stória po e Umberto sem men ta
atura e hi ra (Wolfgang Iser avid S. Miall), isso que decorre dire
entre liter leitu ra (D rio e
e a relação erário suscita a bre a leitu tício e O Imaginá
sesperado ao próprio eu, a desesperada ânsia de viver são o caminho mais seguro para a
us s so br lit ric a so
dagação
de Ja
tura do te
xto o empí O Fic
Dessa in mo a estru lminar com a in
vestigaçã rio Iser em
forma co pelo próp
gação da ente, cu
recentem
para, mais
morte eterna, ao passo que o saber morrer, rasgar o véu do mistério, ir procurando eter-
namente mutações em si mesmo conduzem à imortalidade” (HESSE, 2004, p.73).
A imortalidade que Harry deseja – o trilho de Deus, que não podemos ver “na embrute-
cida monotonia de uma era de cegueira espiritual” (HESSE, 2004, p. 40) – só pode ser alcan-
çada, como sugere o tratado, e também os imortais com os quais o lobo se encontra, através
da encarnação, o que torna inviável o alheamento ao contexto no qual nos inserimos. É
Há exatos 45 anos Hans Robert Jauss
apresentava a conferência
Mozart quem divulga a sentença a Harry, em uma das salas do teatro mágico: “o senhor está
disposto a morrer, seu covarde, mas não a viver. Ao diabo! Mas terá de viver” (HESSE, 2004, p.
233). E também aprender a rir: “a vida é toda assim, meu filho, e temos de deixá-la ser assim,
erência
ava a conf
s apresent

Há exatos
e se não formos idiotas devemos rir-nos dela” (HESSE, 2004, p. 230). O protagonista percebe
45 anos Hans
Ro bert Jaus

em determinado momento que Goethe não se esqueceu de aprender a dançar.


passando
pela inve
stig
suscita ação da form
Além disso, como o folheto introduz a ideia de reencarnação, seu discurso indica que
a co
a leitura
(Wolfgan mo a estrutur
é preciso viver não uma, mas muitas vezes, o que acaba destituindo as convenções sociais
g Iser e a
Umbert do texto literár
o Eco), io

de toda certeza com a qual elas buscam se fundar, pois, uma vez humanas, são também
efêmeras. Por isso, é preciso sondá-las, questioná-las, subvertê-las. Multiplicar-se é o alerta
passando pela investigação
da forma como a estrutura
dado ao lobo: “em vez de reduzir o teu mundo, de simplificar a tua alma, terás de recolher
do texto literário suscita
a leitura (Wolfgang Iser e
Umberto Eco),
cada vez mais mundo, de recolher no futuro o mundo inteiro na tua alma dolorosamente
dilatada, para chegar talvez algum dia ao fim, ao descanso” (HESSE, 2004, p.74). As salas
do teatro mágico são um recorte dessas potencialidades, “aquilo de que necessita para
libertar sua alma desgarrada. Mil possibilidades o esperam, seu destino as atrai irreme-
diavelmente, pois todos esses solitários da burguesia vivem na atmosfera dessas mágicas
possibilidades. Basta apenas um nada para que se produza a centelha” (HESSE, 2004, p. 67).
isso sem mencionarmos os rudimentos de uma
“antropologia literária” proposta pelo próprio Iser em

Pelo fato de o tratado fazer do Lobo da Estepe “um lobo da estepe” (HESSE, 2004, p. 66)
O Fictício e O Imaginário e que decorre diretamente de
sua investigação sobre a leitura da literatura.

qualquer, passamos a ver os acontecimentos que ocorrem na vida de Harry, na parte ro-
manceada, como uma ponte, uma brecha através da qual surge o desenrolar de outras pos-
sibilidades, que o tratado indica existir não apenas para o protagonista, mas também para
o o qu
e viria
a das m
u-
a ser um a leitura.
s sobre
ra nd es tu do
augu nea: os
tantos outros que, como observou Hermínia, “exigem da vida o que ela tem de mais alto e
gu
da a hi
stória
ém estu va na crítica
literár
ia?”, in
literár
ia cont
emporâ

qu e al ti
é e por significa
“O que
danças
não podem conformar-se com sua estupidez e crueldade” (HESSE, 2004, p. 138). Como o lobo
de pers
pectiva

não passa de um desvio do padrão de homens que a burguesia produz – o que ficou claro na Dessa
estud indagação
o d
do te s sobre a le e Jauss so
colisão entre a sua visão e a do editor –, seu despertar nestas salas pode ser compartilhado.
Dessa indagação de Jauss sobre a relação entre literatura e história por meio das reações do
público, os estudos sobre a leitura assumiram feições diversas,
xto
u
a leit ra da lite
suscit
b
na leit literário itura assu re a relaç
mir ão
a a le am feiçõ entre lite
ura (D ra it e ra
avid S tura (Stan ura (Wolf s diversas, tura e h
Assim, entramos juntos nessas portas e descobrimos, através dos olhos de Harry, pelo
da lite
própri
o
.
. Miall
),
Fictíc
ley Fi
sh
e
gang
Ise passa
n
ratura Iser em O isso sem m ) para, ma r e Umbert do pela in r meio da
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125
9 FORSTER, Gabrielle da Silva. O lobo da estepe: uma escritura selvagem

própria rejeição inicial do protagonista, que agora desperta. E vemos o lobo ser domado
e sublimado, e também o homem amortecido de reflexão transformar-se em fera, capaz
Há exat
de matar por indução, o que encontraria o melhor exemplo na voz de Hitler a conduzir
os 45 an
sua matilha, e assim concordamos “que nem tudo que morde é lobo” (HESSE, 2004, p.
é e por os Hans
qu Robe
viria a se e alguém estu rt Jauss aprese
r uma da da ntav
s mudan a história liter a a conferên
cia “O qu
literária ças de perspe ária?”, inaugu
75). Também nos deparamos com o insensato da guerra conduzida pelo homem, que se
contem
porâne
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gnificativ ndo o que
tudos so a na crítica
e

bre a le
pretende tão racional e que aqui luta contra sua própria criação, contra seu progresso
itura.

cultuado. E igualmente vemos outras possibilidades de vida, mais suaves, impedidas de


desabrochar pelo medo que paralisa, pelas outras partes do ser que sufocam estas, o do pela in
vesti-
para, mais recentemente, culminar com a investigação as, passan (Stanley Fish)
es divers
que Harry percebe na sala Todas as mulheres são Tuas: “estava assombrado do quão rica
empírica sobre a leitura (David S. Miall),
s sobre a
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na leitu ra da literatura
pologia lit
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atura.
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fora a minha vida, minha vida de Lobo da Estepe na aparência tão pobre e sem amor,
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r meio da cionarmos mente de sua inve
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atura e hi ra (Wolfgang Iser avid S. Miall), isso que decorre dire
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e a relação erário suscita a bre a leitu tício e O Imaginá
nas oportunidades e nas seduções do amor. E as havia perdido todas, fugido diante
us s so br lit ric a so
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de Ja
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Dessa in mo a estru lminar com a in
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forma co pelo próp
gação da ente, cu
recentem
para, mais
delas” (HESSE, 2004, p. 219). Todos esses ambientes nos quais H. H. entra são opções es-
colhidas pelo protagonista e, embora sejam estruturadas como anúncios, não revelam
a diversidade aproveitada pelo mercado, mas a complexidade da alma humana que vai
muito além das seleções que acreditamos fazer quando, na verdade, estas estão sendo
condicionadas. Por isso, não representam as particularidades de Harry, mas recortes
virtuais das potencialidades humanas, porque aqui a personagem
Há exatos 45 anos Hans Robert Jauss
apresentava a conferência

não se esfarpa apenas nos contornos exteriores, mas também nos limites internos:
ela transcende para o mundo ínfero das camadas infrapessoais do it, para o poço do
ência
a a confer
resentav
rt Jauss ap
Há exatos
45 anos Ha
ns Robe inconsciente; mundo em que, segundo Freud, não existe tempo cronológico e em que se
acumulariam, segundo Jung, não só as experiências da vida individual e sim as arquetí-
passando
pela inve
stig
suscita ação da form
picas e coletivas da própria humanidade. (HESSE, 2004, p. 85)
a leitura a co
(Wolfgan mo a estrutur
g Iser e a
Umbert do texto literár
o Eco), io

Entre essas experiências atemporais, ricas de elementos oníricos, o assassinato de Her-


mínia, “última figura” de “sua mitologia numerosa” (HESSE, 2004, p. 219), simboliza a atitude
passando pela investigação
da forma como a estrutura
amarga de Harry para com a existência: “assim fora toda a minha vida. Minha parca felicida-
do texto literário suscita
a leitura (Wolfgang Iser e
Umberto Eco),
de e amor tinham sido como aquela boca pasma: um pouco de carmim numa máscara mor-
tuária” (HESSE, 2004, p. 227). Então ele se questiona: “Terei apagado o sol? Matei o coração
de toda a vida?” (HESSE, 2004, p. 227). Dessa vez, no teatro, que é a grande metáfora do palco
da vida, ele não soube manejar essa peça. Mas o jogo de xadrez, agora aceito, continua: “da
próxima vez saberia jogar melhor. Da próxima vez aprenderia a rir” (HESSE, 2004, p. 235).
O jogo visa demonstrar “aos que experimentaram a destruição de seu próprio eu que
isso sem mencionarmos os rudimentos de uma
“antropologia literária” proposta pelo próprio Iser em

podem a qualquer instante reordenar os fragmentos e com isso conseguir uma variedade
O Fictício e O Imaginário e que decorre diretamente de
sua investigação sobre a leitura da literatura.

infinita no jogo da vida” (HESSE, 2004, p. 208). Dessa forma, indica que é preciso dispor as
peças de infinitas maneiras, porém longe das convenções limitadoras, ultrapassando o
homem fabricado pelo prisma burguês. Sucinta nesta passagem, essa é a percepção que O
o o qu
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a ser um a leitura.
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dominantes é um louco, um selvagem, e não simplesmente uma voz que desperta. Assim,
Dessa indagação de Jauss sobre a relação entre literatura e história por meio das reações do
público, os estudos sobre a leitura assumiram feições diversas,
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io e O nc io n e n
Imag armos os temente,
“quem quiser nascer tem que destruir um mundo” (HESSE, 2007, p. 111). a form o púb
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pela in
Ja
ssu

126
9 FORSTER, Gabrielle da Silva. O lobo da estepe: uma escritura selvagem

O alarme nos atinge porque a multiplicidade de pontos de vista que o romance


hessiano engendra, o que funciona para alargar a ótica dos personagens, também pode
Há exat
contribuir para ampliar a nossa, pois, se a obra – como foi possível notar com a leitura
os 45 an
de O lobo da estepe – não é o espelho do real, mas também não se desliga radicalmente
é e por os Hans
qu Robe
viria a se e alguém estu rt Jauss aprese
r uma da da ntav
s mudan a história liter a a conferên
cia “O qu
literária ças de perspe ária?”, inaugu
dele, o que lemos pode nos impulsionar a interrogar nossas certezas. Além disso, ao
contem
porâne
ctiva si
a: os es
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gnificativ ndo o que
tudos so a na crítica
e

bre a le
questionar o estatuto da representação, a referida obra se afirma como um ponto de
itura.

vista que também exige a participação dialógica do leitor e, portanto, a abertura que a
dinâmica polifônica do referido romance reverbera se estende à leitura, mostrando que do pela in
vesti-
para, mais recentemente, culminar com a investigação as, passan (Stanley Fish)
es divers
pode surgir uma nova percepção do embate conflituoso.
empírica sobre a leitura (David S. Miall),
s sobre a
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r meio da Eco), pela cionarmos mente de sua inve
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stória po e Umberto sem men ta
atura e hi ra (Wolfgang Iser avid S. Miall), isso que decorre dire
entre liter leitu ra (D rio e
e a relação erário suscita a bre a leitu tício e O Imaginá
Referências Bibliográficas
us s so br lit ric a so
dagação
de Ja
tura do te
xto o empí O Fic
Dessa in mo a estru lminar com a in
vestigaçã rio Iser em
forma co pelo próp
gação da ente, cu
recentem
para, mais

BAKHTIN, Mikhail. “Epos e romance” (sobre a metodologia do estudo do romance). In:


______. Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. Trad. de Aurora F.
Bernardini et al. São Paulo: Editora UNESP, 1998.
______. “O discurso no romance.” In: ______ . Questões de literatura e de estética: a teoria do
romance. Trad. de Aurora F. Bernardini et al. São Paulo: Annablume, 2002.
Há exatos 45 anos Hans Robert Jauss
apresentava a conferência
______ . Problemas da poética de Dostoiévski. Trad. de Paulo Bezerra. Rio de Janeiro: Fo-
rense Universitária, 1997.
BESSIÈRE, Jean. “Literatura e representação.” In: ANGENOT, Marc (org). Teoria literária.
erência
ava a conf
s apresent

Há exatos
45 Trad. de Ana Luísa Faria e Miguel Serras Pereira. Lisboa: Dom Quixote, 1995.
anos Hans
Ro bert Jaus

HESSE, Hermann. Demian. Trad. de Ivo Barroso. Rio de Janeiro: Record, 2007.
passando
pela inve
stig ______. O lobo da estepe. Trad. de Ivo Barroso. Rio de Janeiro: Record, 2004.
suscita ação da form
a co
a leitura
(Wolfgan mo a estrutur
MÉSZÁROS, István. Filosofia, ideologia e ciência social: ensaios de negação e afirmação.
g Iser e a
Umbert do texto literár
o Eco), io

Trad. Laboratório de Tradução do CENEX/ FALE/ UFMG. São Paulo: Ensaio, 1993.
PAZ, Octavio. “Ambigüedad de la novela.” In: El arco y la lira. Disponível em: <http://
passando pela investigação
da forma como a estrutura
pedablogia.files.wordpress.com/2011/03/paz-octavio-el-arco-y-la-lira.pdf>. Acesso
do texto literário suscita
a leitura (Wolfgang Iser e
Umberto Eco),
em: 08 dez 2011.
ROSENFELD, Anatol. “Reflexões sobre o romance moderno.” In: ______ . Texto/ contexto.
Trad. de São Paulo: Editora Perspectiva, 1976.
SIMMEL, Georg. “A metrópole e a vida mental”. Trad. Sérgio Marques dos Reis. In: VELHO,
Otávio Guilherme (org.). O fenômeno urbano. Rio de Janeiro: Editora Guanabara S.A., 1987.
TEZZA, Cristovão. “Discurso poético e discurso romanesco na teoria de Bakhtin.” In: FA-
isso sem mencionarmos os rudimentos de uma
“antropologia literária” proposta pelo próprio Iser em

RACO et al. Uma introdução a Bakhtin. Curitiba: Hatier, 1988.


O Fictício e O Imaginário e que decorre diretamente de
sua investigação sobre a leitura da literatura.

Artigo recebido em:  30 jul. 2012 o o qu


e viria
a das m
u-
a ser um a leitura.
s sobre
ra nd es tu do
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Artigo aceito em:  12 set. 2012
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ém estu va na crítica
literár
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qu e al ti
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“O que
danças
Referência eletrônica:  FORSTER, Gabrielle da Silva. O lobo da estepe: uma escritura selvagem. Revis-
de pers
pectiva

ta Criação & Crítica, n. 9, p. 111-127, nov. 2012. Disponível


Dessa
inda
em: <http://www.revistas.usp.br/criacaoecritica>.
estud gação
o d
do te s sobre a le e Jauss so
Acesso em dd mmm aaaa.
Dessa indagação de Jauss sobre a relação entre literatura e história por meio das reações do
xto
na leit literário itura assu re a relaç
ura d suscit mir
b
ão
público, os estudos sobre a leitura assumiram feições diversas, a leit
ura (D a li te ra a a le am feiçõ entre lite
it e ra
pelo avid S tura (Stan ura (Wolf s diversas, tura e h
própri . Miall ley Fi gang passa istóri
da lite o ), sh Ise n a po
ratura Iser em O isso sem m ) para, ma r e Umbert do pela in r meio da
. Fictíc e is rec o Eco ve s
), pela stigação d reações d

io e O nc io n e n
Imag armos os temente, a form o púb
ex apre

inário ru cu invest li
e que dimento lminar co igação do a como a co, os
at se
os n

decorr s de u m a in p est
e dire sh) ma “an vestig apel das c rutura
45 tav

passando pela investigação ação onven


ey Fitamente tropolo
an a a

da forma como a estrutura (Sta nl g e m ções


atura de su ia pír
os co

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a leitura (Wolfgang Iser e co nv en b re a leit


pel das
Ro nc

Umberto Eco), ura


ão do pa
be ia

vestigaç
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