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UNISANTOS
A GESTÃO DO ARMAZENAMENTO DE
Paranaguá
2006
A GESTÃO DO ARMAZENAMENTO DE
GRANÉIS SÓLIDOS NO PORTO DE PARANAGUÁ
João Geraldo Orzenn Mattozo
Aprovada por:
_________________________________________
Prof. Eduardo Martins Fernandes - Orientador
M.Sc. em Administração - COPPEAD/UFRJ
Paranaguá
2006
ii
FICHA CATALOGRÁFICA
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
Ao longo de minha existência, aprendi que sou ser limitado, mas que carrega e
irradia muito valor e sou completamente incapaz de viver sozinho. Aprendi a
conhecer, para não parar de crescer, aprendi a desenvolver meu potencial, dia
após dia, acima de tudo progredir como ser humano, contudo, para que chegasse
até aqui necessitei da ajuda de muitas pessoas. Partindo desse pressuposto, sou
feliz em poder compartilhar da companhia de meus familiares, colegas,
professores e todas as pessoas que estiveram comigo durante todo o processo de
aprendizado e estudo ao longo dos anos, e que me fizeram acreditar na vida e no
valor das pessoas, foi através desse apoio, que consegui realizar este trabalho.
Acredito que vivemos sob limites e que estes limites muitas vezes são superados
por pessoas que acreditam em si mesmas, que lutam a verdadeira batalha da vida.
Por isso, deixo aqui meu muito obrigado à minha esposa, aos meus filhos
queridos; aos meus saudosos pais, já na paz do Senhor; aos meus familiares e
amigos; aos professores de ontem e de hoje; ao bom Deus, de forma maior e
especial. Muito obrigado pela minha vida e pelo prazer de compartilhar minha
existência com todos estes seres humanos que foram tão importantes em minha
caminhada.
Obrigado!
v
RESUMO
realizações a curto, médio e longo prazo. A análise focou os pontos falhos que
requeressem melhorias, como exemplo disto pode-se citar as perdas de produtos,
seja em função da dificuldade e da ineficiência de armazenamento, ou devido
muitas vezes aos aspectos particulares de cada produto (é importante ressaltar
que armazenar, receber e exportar produtos como soja e milho é bem diferente se
comparados a outros produtos como os farelos), ou seja em decorrência de falhas
operacionais dos modais de transporte, ou nas dificuldades de controles de
qualidade, etc. Estes gargalos logísticos impactam diretamente nas operações
portuárias, onerando consideravelmente as exportações de grãos e granéis
sólidos.
Desejou-se focalizar a capacidade das unidades armazenadoras do
porto, avaliando o trabalho de armazenamento em si, a diversidade de produtos e
o que isto traz como consequência para o porto.
Analisou-se a participação privada e pública no desenvolvimento do
armazenamento portuário e a importância do advento da Lei 8.630, a Lei de
Modernização dos Portos. Assim como, neste âmbito, procurou-se identificar o
comportamento dos órgãos federais, entidades portuárias, sindicais, iniciativa
privada, principalmente ao gerarem gargalos que impactam de forma negativa o
crescimento de produtividade no armazenamento dos gráneis sólidos.
Finalmente, foi necessário que o estudo estabelecesse critérios e
estratégias para o futuro, a fim de tornar o porto muito mais competitivo e que se
torne capaz de continuar fomentando riqueza, trabalho e prosperidade. Já não
basta somente saber armazenar e exportar, deve-se ter requisitos como qualidade,
agilidade e eficiência. Assim, encara-se o armazenamento portuário como um dos
mais importantes elos da cadeia logística do Porto de Paranaguá. Somente
através de um estudo muito aprofundado da sua situação atual é que se poderá,
além de melhorar os serviços, inová-los para conquistar novos mercados e
clientes nacionais e internacionais.
vii
ABSTRACT
the dificulty and unability of storage in face of, many times, the peculiar aspect
of each product (reminding that to store, receipt and export products such as
soybean and corn is quite different if compared to products such as meals), or in
face of operative fails in the means of transportation, as well as the dificulty of
quality control, etc. These logistic "necks" weighty grain exports remarkably.
It was a desired to focus the capacity of port storage units, evaluating
the storage work itself, the diversity of products and the consequence of it to the
Port. It tried to take a look on private and public sharing in for the development
of port storage as well as the importance of the Law 8.630, known as the Law of
Port Modernization. In this amplitude, it was also surched for showing up the
behaviour of federal agencies, port and union entities and private enterprises ,
mainly when they generate "necks" that cause negative impact over the
productive growing in the solid grains storage.
Finishing, it was necessary to set up rules and strategies for the future,
in order to turn the Port in something much more competitive, able to continue
generating wealth, work and prosperity. To store and export are not enough any
longer. It is needfull to have quality, agility and efficiency, in such a way that the
port storage be faced as one of the most important in the logistic chain of the Port
of Paranaguá. Throughout a very deep study about its situation only, is that the
services can be renewed and improved, to conquer new domestic and
international markets and customers .
ix
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..........................................................................................................................................1
1 - ARMAZENAMENTO ..........................................................................................................................5
1.1 - HISTÓRICO DA ARMAZENAGEM........................................................................................................5
1.2 - HISTÓRICO E DADOS SOBRE O BRASIL ............................................................................................10
1.3 - IMPORTÂNCIA DO ARMAZENAMENTO .............................................................................................19
2 - PRINCÍPIOS BÁSICOS.....................................................................................................................23
2.1 - CONCEITOS E DEFINIÇÕES SOBRE ARMAZENAMENTO .....................................................................23
2.2 - PRINCÍPIOS DA ARMAZENAGEM DE GRÃOS DE CEREAIS...................................................................25
3 - AS LEIS BRASILEIRAS E A ARMAZENAGEM DE PRODUTOS.............................................28
BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................................................84
Introdução
Como esta atividade envolve interesses dos mais variados e riscos diversos,
se fez necessário, no terceiro capítulo, apresentar a regulamentação da legislação brasi-
leira quanto a armazenagem de produtos. No quarto capítulo, são apresentados
conceitos e definições de mercadorias, uma vez que estas são a razão primaz do
armazenamento, caracterizando os granéis sólidos de forma especial e os seus principais
inimigos enquanto armazenados. Só então, no quinto capítulo, se vislumbra o Porto de
Paranaguá como um todo, seus terminais, suas características, sua história e sua situação
atual em termos de armazéns e depósitos. Finalmente, no sexto capítulo, são expostas
algumas conclusões e perspectivas para o armazenamento no Porto de Paranaguá.
5
1 - Armazenamento
aquele povo, cerca de 3.000 anos antes de Cristo, já armazenava o trigo e os papiros que
produzia, guardando-os em depósitos, a fim de futuramente embarcá-los em navios para
trocá-los pelos outros produtos que eram escassos em seu país. A atividade era tão
importante para os egípcios, que eles reverenciavam seus faraós mortos abastecendo os
seus túmulos com aquilo que julgavam ser necessário na outra vida (grãos e cereais).
Além das afirmações acima, a CASEMG (2005a) também nos relata que “o
Museu Britânico preserva até hoje um papiro com uma história do Egito, em que se
consta sobre a fome que sobreviria ao país. Seriam sete anos de grandes safras, boas
produções de grãos, haveria fartura e sobrariam mantimentos. Mas haveria, a seguir,
outros sete anos, estes de miséria e fome, sem produção de alimentos”.
• Versículo 29 – “E eis que vêm sete anos, e haverá grande fartura em toda
a terra do Egito”.
Desta forma, conclui a CASEMG (2005a) que “se trata de uma experiência
de 3.700 anos atrás, em que uma nação implanta um programa extraordinário de
produção, experimentando sete supersafras e armazenando os excedentes para, findo o
período, abrindo os depósitos e silos, retirar os grãos, especialmente o trigo, em boas
condições para o provimento, para que a terra (o povo) não pereça de fome”.
8
Outro exemplo que nos revela Rodrigues (Ibid.) é que com o domínio
comercial marítimo grego, foi sendo reduzido o poder marítimo dos fenícios. Os gregos
“estabeleceram ampla hegemonia comercial sobre os arquipélagos do Mar Egeu, entre a
costa Ocidental da Grécia e a Ásia Menor”, até que com o domínio Romano, o comércio
e a armazenagem passaram a ter um significado relevante. Este Autor afirma ainda que,
“os romanos estenderam os seus domínios até o Mar do Norte, fundaram Londres
(originalmente Londinium), mantiveram os mares livres de piratas, construíram faróis
em Óstia, Bologna e Dover, melhoraram os portos, dragaram e navegaram pelo velho
canal entre o Rio Nilo e o Mar Vermelho”. Segundo o mesmo Autor, “nada adiantaria
navegar, construir estradas e portos se Roma não dispusesse de importantes centros de
armazenagem e distribuição espalhados por todo o Império”.
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Desta forma, fica claro que a história humana realmente se confunde com a
história do comércio. A cada época em que surgia um povo que se destacava pelo seu
poderio e domínio, novos conceitos e idéias eram implantadas em todos os sentidos.
Desta maneira só armazenar não bastava, era preciso muito mais. Era preciso saber
negociar, levar e até entregar o produto às mais longínquas distâncias.
Por isso menciona Rodrigues (Ibid., p.37) que o comércio das especiarias do
Oriente foi dominado e monopolizado, a partir do século XI, por ricos mercadores de
cidades italianas, como Veneza e Gênova. Com o crescimento populacional e aumento
dos produtos, foram sendo criados depósitos para armazenagem e proteção das
mercadorias ao longo de toda a área costeira do Mediterrâneo. Mas devido às guerras e
cruzadas, principalmente com as invasões turco-otomanas pela Ásia, África e Europa, o
caminho comercial para o oriente foi dificultado, fazendo com que outras rotas
marítimas tivessem que ser descobertas. E assim, no final do século XV o poderio
comercial marítimo foi deslocado para a Península Ibérica, com Portugal e Espanha, que
através de muitos estudos e viagens na tentativa de alcançar as Índias, descobriram
outros mundos, conseguindo posição de destaque na Europa. Por onde passavam,
tratavam de consolidar portos, comércio e rotas. Um século depois, os holandeses
colonizaram Sumatra, Java e Bornéu, implantando entrepostos, substituindo Portugal no
comércio de especiarias com o Oriente.
Conforme afirma Rodrigues (op. Cit., p.37), entre os séculos XVI e XVII
surgiu o poderio britânico, impulsionados pela intensa atividade corsária a serviço da
Coroa. Cumulavam riquezas dos outros países pelas pilhagens. Até que despertaram
para o comércio de chá, seda e porcelana com a China. Somente no século XVIII, já
com a revolução industrial, é que se consolidou o império comercial britânico,
multiplicando rapidamente a geração de riquezas.
Desta forma, com o aprendizado adquirido pelos povos ao longo dos anos,
as constantes guerras e conflitos, as catástrofes, a fome e a avidez por riqueza,
despertaram cada vez mais o intenso comércio internacional, fazendo com que tomasse
rumos gigantescos até nossos dias. A produção de matérias-primas foi se tornando mais
e mais abundante, a industrialização de produtos desenvolveu-se em larga escala,
fazendo com que o homem aprendesse sempre mais profundamente, a arte da logística
do armazenamento.
Explica d’Arce (op.cit.), que nos outros países, "onde a produção de grãos é
uma das principais fontes de divisa, a seqüência do sistema de armazenagem principia
na fazenda e evolui para os armazéns coletores, intermediários e terminais". Segundo a
Autora, já no Brasil toda estrutura de armazenagem começa nos terminais e armazéns
intermediários coletores, o que traz como resultado uma atividade tipicamente urbana.
ainda que, “além disso, há que se considerar que, 51% da capacidade estática cadastra-
da na CONAB é de armazéns convencionais e 49% de armazéns e silos graneleiros”.
E vo luç ã o d a P ro d uç ã o e d a C a p a c id a d e d e
A rm a ze na m e nto d e G rã o s , B ra s il, 1 9 9 4 -2 0 0 3
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milhões de t
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19
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20
20
20
20
1
Embora o Gráfico 1 acima tenha sido adaptado do apresentado por Nogueira e Tsunechiro (2005),
tomou-se a liberdade de inverter as legendas das seqüências de dados da evolução produtiva e da
capacidade armazenadora, simplesmente por acreditar que esta nova apresentação melhor situa, no
tempo, a capacidade de armazenamento brasileira, que praticamente ficou estagnada, enquanto que a
produção nacional oscilava em crescimento.
14
satisfatória, embora sua adequação e localização, tanto física quanto administrativa, não
fossem as mais apropriadas”.
Portuária Total
Tipo Armazém Capacidade Armazém Capacidade
(n.) (1.000t) (n.) (1.000t)
Convencional 156,0 1.540,0 6.981,0 24.633,0
Local (%) 2,2 6,3 100,0 100,0
Tipo (%) 59,5 30,7 50,5 25,7
Granel 106,0 3.482,0 6.855,0 71.250,0
Local (%) 1,5 4,9 100,0 100,0
Tipo (%) 40,5 69,3 49,5 74,3
Total 262,0 5.022,0 13.836,0 95.883,0
Local (%) 1,9 5,2 100,0 100,0
15
Contudo, o Brasil ainda está muito longe de poder armazenar tudo aquilo
que consegue produzir. É possível chegar a esta conclusão tendo em vista que, de uma
safra para outra, sempre fica armazenado um saldo remanescente do estoque de grãos
que não pôde ser comercializado, faltando espaços nos depósitos graneleiros para a
safra do ano, sendo necessário, inclusive, que parte dos grãos seja depositado em
armazéns convencionais, inadequados para o tipo de armazenamento.
Pelo estudo então, é possível concluir que o Brasil ainda é deficiente perante
outros grandes países no que tange a investimentos de recursos em armazenamento
geral da sua produção. Os poucos armazéns graneleiros portuários sofrem a cada safra,
pela falta de capacidade estática das fazendas ou áreas de produção agrícola. Como
conseqüência disso, origina-se um crescimento nos custos de produção, fazendo com
que o País deixe de ser competitivo, se distanciando do rol dos países desenvolvidos.
Por outro lado, José Maria dos Anjos (apud Folha de Londrina, 2004),
diretor do Departamento de Abastecimento Agropecuário da Secretaria de Política
Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA, afirma que
"a falta de infra-estrutura para armazenagem é preocupante", defendendo que “o
armazém próprio garante maior tranqüilidade para vender”. Comenta ainda que “o
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Nestes últimos anos, houve uma forte expansão do Brasil como exportador
mundial de grãos, principalmente da soja (37 milhões de toneladas), ultrapassando até
os Estados Unidos (34 milhões de toneladas), com grandes perspectivas de ganhos
seguidos nas próximas safras. Com isso, ocorreu um avanço nas cargas de granéis, que
representam hoje 74% do total. É preciso saber que o armazenamento da soja sofre a
concorrência de outros produtos que necessitam ser armazenados, como o trigo, com
importação em torno de 7 milhões de toneladas, o açúcar de 23 milhões de toneladas
produzidas e o café com safra em torno de 2 milhões de toneladas. É a questão da
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disponibilidade de espaço vindo à tona, já que na maioria dos estudos e análises ela não
é considerada como deveria. (Nogueira e Tsunechiro, op.Cit)
A tendência observada acima pelos autores é forte e procede, uma vez que o
“ouro verde” (soja) predomina no sul e centro-oeste do Brasil, mas já se percebe, além
de sua expansão para outras regiões brasileiras, uma diversificação de culturas, tomando
o caso do milho e do trigo, com isso a capacidade de armazenagem fica comprometida.
Se por um lado houve crescimento da produção, não se pode dizer o mesmo da
capacidade de armazenamento destas matérias-primas. Talvez isto seja reflexo de uma
mentalidade errônea de não se desenvolver um planejamento logístico para as atividades
do agronegócio, em especial o armazenamento de grãos de forma geral.
Para Nogueira e Tsunechiro (Ibid) “nos últimos dez anos houve grande
expansão da produção de alimentos e fibras na área do cerrado", principalmente nas
regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste do País. Nas outras regiões tradicionais, como o
oeste do Paraná, a agricultura avança sobre as áreas de pecuária, “onde a soja e o milho
também destacam, fato que tem se constituído em problema quanto ao escoamento das
safras”.
de 97% das exportações se dá pela via marítima”, o que torna os portos fundamentais no
“cenário econômico nacional”.
Rodrigues (Ibid) afirma ainda que os portos são pontos chaves “de
integração e transferência entre os modais de transporte terrestre e marítimo, possuindo
adicionalmente a função de amortecer o impacto da chegada e da saída das cargas no
fluxo do sistema viário local, por meio da armazenagem temporária, regulando assim os
processos de consolidação de cargas (exportação) e de distribuição física (importação)”.
2 - Princípios Básicos
o país, observando-se que os grãos a granel não chegam ao porto para ficarem estocados
nos armazéns por muito tempo, devendo estar integrados na cadeia logística, sendo que
logo após formados os lotes específicos de grãos a granel, deverão ser entregues aos
clientes no tempo justo e no prazo combinado.
Aliado a isto, a lei ainda traz outros benefícios, como a exigência do uso de
um cadastro nacional de armazéns, que objetiva fornecer um referencial para o mercado.
Além disso, ela também fixa padrões mínimos de funcionamento, cria um sistema de
certificação e fornece diretrizes técnicas e operacionais para os armazéns. (BRASIL, 29
maio 2000)
Assim, por exemplo, a soja é regulado pelo ANEC 41, o milho pelo ANEC
43, os farelos de soja pelo ANEC 71, etc. Estes contratos são importantes
principalmente no tocante à qualidade e estado da mercadoria a ser exportada e que
seguem padrões de aceitação internacional. Isso prova haver uma preocupação séria dos
exportadores nacionais com a lisura para com os negócios internacionais.
Para Rosa e Cruz (2005) “o conceito de granel sólido engloba todos aqueles
produtos que são transportados de forma homogênea como material solto e podendo ser
manipulado de forma contínua”. Classificam ainda os granéis em dois grandes grupos:
“ordinário (Bulk) – cereais, fertilizantes, sal, açúcar, etc.” e “minérios (Ore) – aspecto
granular de alta densidade”.
Goebel (1996), “entende por granéis sólidos ou líquidos, todas as cargas não
embaladas e que assumem a forma dos recipientes onde estão inseridos. Os granéis
sólidos, transportados por via marítima, incluem basicamente minérios, farelos e grãos
enquanto os líquidos são representados por petróleo e derivados, óleos vegetais, etc. Os
neo-granéis são cargas sólidas, homogêneas, embarcadas em grandes volumes (açúcar
ensacado, produtos siderúrgicos, CKD, madeiras em bruto ou semi-manufaturadas,
celulose, papel em bobinas, veículos transportados em navios Ro-Ro, etc)”.
33
Rodrigues (Ibid.) avalia que as cargas podem sofrer riscos nos processos de
movimentação, transporte e armazenagem. Os riscos podem ser mecânicos causados
pelo transporte e a movimentação; físicos causados por um inadequado manuseio, ou,
uso inadequado de equipamentos, empilhamento e armazenagem; químicos causados
pela combustão espontânea, incompatibilidade das cargas, ponto de fulgor; climáticos
causados pelas forças da natureza e do tempo (calor, frio, umidade, mofo, etc.);
34
De acordo com Lopes (apud MDIC, 2005, p.1), as cargas sob os mais
diversos aspectos possuem uma natureza perigosa, podendo “provocar acidentes,
danificar outras cargas ou os meios de transporte, gerar riscos para as pessoas” e para o
meio ambiente. Desta forma, a carga perigosa “é dividida pelo IMCO (Organização
Marítima Consultiva Internacional) segundo as seguintes classes: I – Explosivos, II –
gases, III – líquidos inflamáveis, IV – sólidos inflamáveis, V – substâncias oxidantes,
VI – substâncias infecciosas, VII – substâncias radioativas, VIII – corrosivos, e IX –
variedades de substâncias perigosas”. (Lopes e Fortes apud MDIC, 2005, p.1).
Os grãos (trigo, milho, soja, etc) e seus derivados (farelos de uma forma
geral) são cargas de granéis sólidos que quando armazenados possuem propriedades de
organismos vivos, mas que permanecem em estado de dormência. Os insetos, ratos e
outros vetores devem estar ausentes.
“Jamais devem ser recolhidos nos armazéns, produtos que não estejam
perfeitamente secos. Uma única carga de grãos com umidade superior a 15%, que esteja
recolhida num armazém graneleiro, certamente irá formar um 'bolsão' de calor,
favorável ao desenvolvimento de insetos e fungos. A mesma prática se aplica também à
limpeza dos grãos, já que as impurezas também favorecem as infestações e
multiplicação de fungos. Em resumo, deve sempre prevalecer a regra básica para um
bom armazenamento: o produto tem que estar seco, são e limpo”. (Stresser, 2004, p.3)
Afirmam Rosa e Cruz (Ibid.) que “na operação com granéis sólidos há uma
dependência das características físicas da carga. A densidade do material condiciona os
volumes de transporte e manipulação, o ângulo do talude natural condiciona as alturas
dos depósitos”, existe uma “necessidade de proteção da carga no transporte e
armazenamento”, tendo em vista que são cargas vulneráveis à ação do vento e nos casos
dos cereais tem um alto poder de germinação na presença de umidade e chuva, são
cargas que podem poluir o meio ambiente facilmente, e há necessidade de “utilização ao
máximo da gravidade em todas as operações em busca de um aumento no rendimento e
economia”.
37
De acordo com Rosa e Cruz (2005), “a operação com granéis sólidos requer
a utilização de equipamentos para carga: a correia transportadora é o elemento básico da
composição da maioria dos sistemas. Sua alimentação pode ser efetuada por meio de
silo de armazenamento ou meios mecânicos, porém com rendimentos muito variados,
dependendo do número de pontos de carga e das dimensões e características das
correias (250 – 1.500tn/h). Nos equipamentos para descarga (Bulk) há os tombadores,
as moegas, os elevadores mecânicos (1.000-2.500tn/h) de menor flexibilidade”.
4.3.1 Pombos
material. Outro fato alarmante é que estes excrementos podem ser lançados sobre a
massa de grãos armazenada e nas demais dependências da unidade armazenadora,
apresentando péssima apresentação visual tanto dos produtos quanto das áreas, além de
oferecerem sérios riscos à saúde humana. Estes vetores podem ainda vir a morrer sobre
os produtos e sobre as áreas, contribuindo para um forte poder de contaminação.
(COAMO, 2004)
4.3.2 - Ratos
Estes roedores “são portadores de, pelo menos, dez graves doenças que
atacam o homem, incluindo-se o tipo endêmico (através das pulgas e dos ácaros); peste
bubônica, febre de mordida de rato, leptospirose, salmonelose, tifo, icterícia, raiva e
outras doenças transmitidas pela urina e excrementos, além daquelas produzidas através
de seus parasitos internos e externos”. (COAMO, 2004)
Como no caso dos pombos, deve-se ter o cuidado no manuseio das cargas, a
fim de que restos destes produtos não alimentem fartamente estes animais nocivos à
saúde humana. Deve-se exercer uma vigilância constante em todas as áreas de
armazenagem, evitando-se a proliferação sem controle desta praga.
1 – Fungos
Conforme este Portal (Sua Pesquisa, 2005), o mofo é um tipo de fungo que
surge através de espóros, células quase microscópicas que flutuam sempre pelo ar,
reproduzindo-se em ambientes escuros e úmidos (como as paredes, por exemplo),
alimentando-se de pães, frutas e vegetais, que são alimentos propícios ao seu
crescimento.
2 – Bactérias
terem sofrido “um processo de deterioração que os tornam impróprios para o consumo
normal”. (COAMO, 2004)
3 – Insetos
5 - O Porto de Paranaguá
Grande do Sul, Rondônia, Paraguai, Argentina, Chile e Bolívia. "Além disso, o Porto de
Paranaguá, através de um convênio binacional Brasil/Paraguai assinado em 1956, é
entreposto franco-paraguaio, e atende as importações e exportações do país vizinho".
(APPA, 2005g)
Godoy (2002) salienta que o porto de Paranaguá passou por uma transição
na sua vocação. Até 1970, o porto e a cidade de Paranaguá se desenvolveram graças as
atividades do café em grãos, quando armazéns próprios para café foram construídos.
Contudo, com a substituição desta cultura pela soja e trigo, no interior paranaense, a dita
revolução verde, o Porto de Paranaguá precisou sofrer novos impulsos com a
implantação do Corredor de Exportação para grãos.
Cita Godoy (Ibid) que a mudança do perfil da carga (de café para soja) e as
transformações tecnológicas facilitaram a implantação de empresas, a criação de novos
empregos, o incentivo do governo às exportações dos granéis (soja e derivados), a
melhoria dos sistemas de telecomunicações e infra-estrutura rodoviária. Em decorrência
disso, os armazéns próprios para café sofreram adaptações para o novo produto, houve
um aumento na movimentação de mercadorias e o porto especializou-se nas exportações
48
Para o ano de 2005, a tabela 3 teria que apresentar apenas uma mudança em
relação as linhas de embarque, que passaram de 15 para 16 com a construção de mais
uma linha para o Terminal da Cotriguaçú. Este fato mostra estar havendo melhorias nos
equipamentos de embarque, mesmo que a capacidade armazenadora não tenha
evoluído.
pela empresa nas linhas de embarque, que antes era apenas 01 (uma) linha (que hoje
encontra-se já desativada), tendo sido construídas duas novas linhas, além de todo o
terminal ter passado a ser totalmente informatizado para recebimento, movimentação
das cargas e carregamento dos navios.
SILO
HORIZONTAL
SHIP- APPA
LOADERS 60.000 TON
COINBRA
60.000 TON
C. SUL
70.000 TON
CBL
60.000 TON
CARGILL
75.000 TON
COTRI
170.000 TON CORREIAS TRANSP.
AGTL
180.000 TON
COAMO
95.000 TON
LINHAS
CORREIAS SILO VERTICAL APPA CORREIAS MÓVEIS
TERMINAL 100.000 TON
uma tarefa árdua, onde é necessária a utilização da mão-de-obra humana para a retirada
dos produtos a granel dos vagões e das carrocerias dos caminhões graneleiros.
As cargas de granéis sólidos que chegam até o porto, a maior parte via
rodoviária, passam por uma triagem no pátio de caminhões da APPA. Estes caminhões
são requisitados para descarga pelos terminais via on-line.
D’Arce (Op. cit) classifica os depósitos de grãos a granel “em silos elevados
e silos horizontais segundo a forma da estrutura de armazenamento.”
sólidos é separada por septos divisórios (paredes), normalmente em número de dois, que
dividem a unidade em depósitos iguais. O objetivo destes septos é proporcionar maior
agilidade e rapidez na movimentação, assim como melhores condições para o controle
preservativo dos produtos.
Esta análise é importante, pois não devem ser aceitos para o armazenamento
portuário produtos que estejam fora das especificações técnicas (teor de gordura,
umidade, matérias estranhas, grãos danificados e ardidos, etc.) regulamentadas por
entidades oficiais e conforme determinado nos contratos de venda dos produtos
elaborados pela ANEC – Associação Nacional dos Exportadores de Cereais. Cada
produto possui um tipo de contrato de acordo com as características de cada um (soja –
ANEC 41, farelos – ANEC 71, milho – ANEC 43, etc.).
O Porto também conta com Silo Vertical (Foto 19), silo público, com
estrutura de concreto, e capacidade de armazenamento de 100 mil toneladas (Tabela 3).
Conforme explica d’Arce (Ibid), este tipo de silo é constituído de duas partes
fundamentais, torre e conjunto de células e entrecélulas. Na torre, ficam instalados os
elevadores, secadores, exaustores, distribuidores. Os grãos circulam na torre por meio
de fluxos pré-determinados para as operações de distribuição nas células
armazenadoras. As células e entrecélulas são de grande altura com o fundo em forma de
cone para facilitar a descarga (saída para exportação) dos grãos que se dá por gravidade.
Devido a uma intensa movimentação dos grãos, “nas diversas etapas que antecedem a
carga nas células e entrecélulas, forma-se, no ambiente interno do silo, grande
quantidade de pó que polui o ar interno. O pó, além de ser um poluente para a
respiração dos operadores, constitui um perigoso agente de explosões e deve ser
68
extraído para a parte externa através de exaustores e outros dispositivos”. Este problema
também ocorre nos armazéns horizontais.
Pelo que foi descrito por d'Arce (Ibid.), e ratificado por conversas diretas
com engenheiros e técnicos do Porto de Paranaguá, bem como em visita realizada às
instalações da APPA, existe um funcionamento automático no silo vertical realizado por
um painel de controle. Os caminhos seguidos pela massa de grãos, as passagens,
operações, válvulas, balanças, etc. são figuras que iluminam nesse quadro. Um
operador, por meio de chaves, botões, recebe, pesa e guarda os produtos nas células do
silo. Emprega pouca mão-de-obra nas operações, que são ajustadas visando ao
movimento da massa com o mínimo de interrupção, empregando-se equipamentos que
atendem o fluxo de grãos. É possível visualizar todo o conjunto por meio dos
fluxogramas que são representações gráficas de todas as operações, onde símbolos e
setas indicam os equipamentos e o sentido do fluxo.
No silo vertical, o carregamento dos grãos nos navios ocorre através de uma
correia transportadora horizontal inferior. Os produtos que descem das células
(gravidade), chegam até um elevador de canecas, passando por balanças de fluxo e
posteriormente são depósitados nas linhas de embarque, que são as correias
transportadoras (Foto 20) e, como mostra a figura 4, são despejados nos porões dos
navios.
6 - Conclusões
A logística portuária não pode ser fragmentada, devendo ser vista de forma
integrada, num conjunto de elos que formam uma corrente. Não se pode falar de
armazenamento sem que se trate também de outros pontos logísticos que vão impactar
naquele, como os transportes, a dragagem, a mão-de-obra e o próprio porto em si.
A tendência mundial atual é para que em cada região existam poucos portos
concentradores/distribuidores de cargas, onde serão concentradas as cargas de
importação e exportação de/para outras regiões afastadas do mesmo território. Os portos
serão escolhidos de acordo com sua posição geográfica, da capacidade de receber
navios de grande porte, de sua eficiência operacional e tarifária. Nele seria concentrada
a carga proveniente ou destinada de/para diversos portos menores de outras regiões. A
distribuição seria feita por navios menores, adequados para esse tráfego, e este nicho
específico poderia ser deixado para as pequenas empresas de navegação.
Foto 24 – Lama formada com restos de produtos a granel nos acessos ferroviário e
rodoviário
O porto de Paranaguá ainda deixa a desejar neste controle, basta citar que no
ano de 2004, numa vistoria da CPI da Câmara dos Deputados Estaduais que apura
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Bibliografia
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