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RESSURREIÇÃO: a plenitude do cotidiano

Jo. 20,1-10: o túmulo vazio

* O que é viram e observaram os discípulos que visitaram o sepulcro por primeiro, para nos transmitir?
* Qual foi o primeiro detalhe que chamou a atenção dos discípulos?
* O que exatamente viram João e Pedro, alguns instantes antes de perceberem que o túmulo estava vazio?

João, o único a narrar o particular que nos interessa, frisa que foi o primeiro a
chegar ao sepulcro, o primeiro a inclinar-se e ver “os panos de linho estendidos por
terra... e o sudário dobrado, em um lugar à parte”. Porque motivo faz notar algo de
uma importância aparentemente tão secundária?
- Quem é este Homem que por ocasião do maior acontecimento da sua vida, a ressurreição, encontra tem-
po para recolher e dobrar o sudário?
- Por que, no dia em que lhe cabe a extraordinária ventura de retornar à vida, Ele se mantém atento aos
detalhes que o circundam?
- Que importância pode ter um pedaço de tecido para quem se liberta dos braços da morte?

No entanto, o gesto de atenção ao sudário nos revela a personalidade de Jesus,


nos faz entrever Jesus no mais íntimo do seu mundo humano. A atenção às coisas
mínimas, pequeníssimas, ao que aparentemente se revela sem importância... é
um traço essencial da personalidade de Jesus.
O detalhe de recolher o sudário, enrolá-lo e colocá-lo à parte não alude apenas à calma de quem efetuou
tal gesto. Jesus revela-se como o homem que resgata e plenifica o aspecto ordinário da vida, o que é
habitual e cotidiano.
Qual pode ser o segredo da sua condição humana?
Jesus não permite que a vida de cada dia seja destruída. Sabemos que tudo
aquilo que se repete todos os dias, tende a dissipar-se e a passar desapercebido.
O acontecimento singular e grandioso da Ressurreição não o afasta da dimensão
real e simples da vida humana. A vida humana é simples em plenitude. É
constituída de fatos e circunstâncias insignificantes, banais, óbvias, o mais das
vezes desprovidas de importância.
Jesus não se deixa prender pelo “extraordinário”, porque sua vida encontra
sentido no “ordinário”.
As coisas superiores adquirem sentido quando relacionadas às inferiores.
Jesus vence e resgata o sentido da vida, se revela humano precisamente naquilo
que se apresenta sem atrativo, sem importância. O “extraordinário” não
transforma a sua consciência, mas, ao contrário, é a sua consciência do que é a
vida humana que transforma o ordinário em extraordinário.
Sua visão dos fatos permite-lhe entrelaçar o surpreendente com a realidade de
sempre, feita aparentemente de coisas simples.
Jesus não se deixou dominar pela Ressurreição. Mesmo depois de ressuscitado, concedeu a si próprio o
direito de penetrar na humilde vida de cada dia.
Quando se tem olhos somente para o que é grande, o horizonte de compreensão da vida se restringe.
Ignorando a importância das coisas mínimas, acaba-se por perder o sentido das grandes.
Os especialistas em coisas extraordinárias perdem os numerosos milagres da vida cotidiana. As coisas
qualificadas como pequenas podem, efetivamente, revestir-se de uma importância decisiva na vida.

Com o gesto de “dobrar o sudário” Jesus revela-se como o homem da vida de


cada dia, que não quer anular a realidade mais simples. O divino continua a atuar
naquilo que pareceria desprovido de valor.
Jesus restitui à condição humilde da vida o seu caráter de realidade preciosa e
esplêndida.
Através desse gesto elementar, Jesus honra e diviniza as realidades pequenas, as
que podem passar despercebidas. Aos seus olhos nenhum aspecto da realidade é
desqualificado. Ele está ciente de que a transcendência está misturada com a
realidade. Vislumbra-se o invisível através do visível.
Tudo quanto parece incompleto, inacabado, imperfeito, pequeno... encontra
acolhimento em Jesus. As coisas não são destituídas do próprio valor nem mesmo
depois de usadas.
Se assim trata as “coisas” desprezíveis e irrisórias da vida, que tratamento Ele reservará à “existência”
humana, em si mesma frágil, vulnerável, pobre, imperfeita...?
Quê lugar ou que espaço consagra à realidade desprezada e desarmada do ser humano?
Jesus não se afasta da existência limitada do ser humano. Ele faz tudo quanto é necessário para manter-se ligado
a ela. Seu interesse pelo sudário é o espelho do seu interesse pela pessoa.

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