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2-INTRODUÇÃO (baseado em Denise Gerscovich, Ian Martins & Andre Lima- UERJ e Marangon,
M- UFJF)
Um dos aspectos mais importantes em projetos e obras associados à Engenharia Geotécnica é a
determinação das deformações (recalques) devidas a carregamentos verticais aplicados na
superfície do terreno ou em camadas próximas à superfície.
No caso de projetos de edificações (Figura 1.1) com fundações superficiais (sapatas, radiers) ou
de aterros construídos sobre os terrenos (barragens, aterros rodoviários, aterros de conquista),
é importante o cálculo destas deformações sob ação das cargas aplicadas. A magnitude destas
deformações deve ser avaliada e comparada com aquelas admissíveis para o bom
funcionamento da construção projetada, ao longo da sua vida útil.
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Figura 1.1
No caso dos solos, as deformações sob ação das cargas é muito mais complexo em comparação
a outros materiais:
Podem ser causadas por deformação ou deslocamento das partículas sólidas, ou ainda, por
expulsão de ar ou água dos vazios;
São comparativamente maiores que as dos materiais de construção (cerca de 0,005% a 2,5%
nos solos);
Podem ser imediatas ou ocorrerem durante um período de tempo elevado após a aplicação
do carregamento (em linhas gerais: deformações em solos arenosos ou argilosos não saturados
são rápidas; nos solos argilosos saturados os recalques são lentos e estão associados à saída de
água dos vazios do solo);
Podem não ser uniformes – o que pode acarretar em danos (trincas, rachaduras, etc.) as
estruturas assentes sobre o solo de fundação (deformações ou recalques diferenciais) e
inviabilizar à sua utilização.
Alguns dos exemplos da Engenharia Geotécnica, em que foram observados recalques de
fundação de grandes magnitudes são apresentados a seguir:
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i. Torre de Pisa (1173)
A construção ocorreu em três fases. Quatro andares foram construídos de 1173 a 1178. Depois
de uma interrupção de 100 anos mais três andares foram construídos entre 1272 e 1278. Mais
80 anos de intervalo e entre 1360 e 1370 a torre foi completada (Figura 1.3). A torre tem cerca
de 60m de altura 20 metros de diâmetro e seu peso é de cerca de 145 MN.
Apesar do trabalho de engenheiros e arquitetos, com o objetivo de estacionar ou pelo menos
reduzir o problema, a inclinação prosseguiu com uma média de 1,2 milímetros por ano. A
situação ficou mais delicada em meados do século XIX, quando foram feitas escavações ao
redor da torre em busca da base da coluna. Em poucos dias o ângulo aumentou quase um grau.
No início dos anos 30, o ditador fascista Benito Mussolini prometeu que a torre voltaria a ser
reta, fazendo de sua recuperação um de seus trunfos nacionalistas. Foram injetadas quase cem
toneladas de argamassa no solo e o que se viu foi uma inclinação ainda maior. Em 1989 foi feito
um estudo e verificado que em aproximadamente 20 anos a torre tombaria, com isso o governo
italiano contratou uma equipe internacional de especialistas e decidiu, em caráter de
emergência, interditar a torre e instalar contrapesos de concreto amarrados a cabos de aço na
face norte uma vez que ela pendia para o sudoeste.
Em 1990 os especialistas descobriram que poderiam corrigir o problema escavando a terra das
fundações instáveis e colocando pesos (peças de chumbo) na face oposta da torre para evitar
desabamentos. Depois veio a fase de extração de solo: 41 brocas perfuraram o chão e retiraram
60 toneladas de terra. A remoção de terra criou um espaço vazio no solo, no lado oposto ao
inclinado. Com isso, o próprio peso da torre fez com que ela se reacomodasse no buraco e
retornasse em meio grau. Antes do trabalho de restauração, realizado entre 1990 e 2001 a
torre estava inclinada com um ângulo de 5,5 graus, estando agora a torre inclinada em cerca de
3,99 graus. Isto significa que o topo da torre está a uma distância de 3,9 m de onde ele estaria
se a torre estivesse perfeitamente na vertical.
CURIOSIDADES:
Durante a Segunda Guerra Mundial os Aliados descobriram que os nazistas estavam
usando a torre como um posto de observação. Logo o destino da torre foi confiado
ao sargento do Exército dos Estados Unidos, mas sua decisão de não recorrer a um
ataque de artilharia salvou assim a torre da destruição.
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Figura 1.3
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Figura 1.4
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iii. Palácio de Belas Artes, Cidade do México:
Construído entre o período de 1932 e 1934, o palácio é um caso clássico de recalques de
fundação. Após a sua construção, sob camada de solos argilosos altamente compressíveis
(w=281% e e=6,90), foram observados recalques diferenciais da ordem de 2m, entre a rua e a
área construída, o que acarretou em adaptações no acesso a edificação (Figura 1.5).
Figura 1.5
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Figura 1.6. Praia do Boqueirão, Santos (Set 2011).
3. COMPRESSIBILIDADE E ADENSAMENTO
Assim, quando se executa uma obra de engenharia, impõe-se no solo uma variação no estado
de tensão que acarreta em deformações, as quais dependem não só da carga aplicada, mas
principalmente da Compressibilidade do Solo.
A Compressibilidade (propriedade que os solos têm de serem suscetíveis à compressão) e o
Adensamento (processo dependente do tempo de variação de volume (deformação) do solo
devido à drenagem da água dos poros) são processos que respondem por recalque diferenciais
do solo. Esses recalques podem não ser prejudiciais ao solo propriamente dito mas
comprometer as estruturas que assentam sobre ele; assim, esses recalques se tornam
comprometedores à própria estabilidade da construção.
Em relação as deformações sofridas pelos materiais elas podem ser subdivididas em três
categorias:
- Elásticas: quando estas são proporcionais ao estado de tensões imposto. Para os solos que
apresentam um comportamento elástico, a proporcionalidade entre as tensões (σ) e
deformações () é dada pela Lei de Hooke -σ = E. onde E = módulo de Elasticidade ou módulo
de Young; constante e característico do material). As deformações elásticas estão associadas a
variações volumétricas totalmente recuperadas após a remoção do carregamento;
- Plásticas: associadas a variações volumétricas permanentes sem a restituição do índice de
vazios inicial do solo, após o descarregamento;
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- Viscosas: também chamadas de fluência, são aquelas evoluem com o tempo sob um estado de
tensões constante.
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Sempre que se projeta uma estrutura sobre solos compressíveis (deformáveis) é fundamental
prever as deformações (recalques) e sua evolução com o tempo submetidos, a fim de avaliar a
sua repercussão sobre a estrutura e decidir com acerto sobre o tipo de fundação a ser adotada.
Muitas vezes as condições de fundação são tão desfavoráveis que resultam na necessidade de
emprego de soluções de custo mais elevado; por exemplo, fundações profundas.
NA-4m
Argila saturada
Rocha
Figura 2.2.
Em um ponto M qualquer da camada compressível da argila saturada, admite-se que a pressão
transmitida pela fundação seja po.
Ora, parte desta pressão u vai ser transmitida à água, que enche os vazios do solo; e a outra
parte p às suas partículas sólidas, de modo a ter:
P0= p+u
A pressão p tem o nome de pressão efetiva ou pressão grão a grão e ao acréscimo de pressão
neutra u denomina-se sobrepressão hidrostática.
A água (admitida incompressível) que está presa nos poros do solo, sofrendo essa
sobrepressao, começa a escolar em direção vertical, no sentido da camada drenante de areia,
no caso de argila, como a sua permeabilidade é muito baixa, o escoamento se faz muito
lentamente.
Dessa forma, a pressão u vai diminuindo até anular-se e p vai aumentando, uma vez que p0 é
constante.
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Assim, no momento da aplicação da carga: u= po e p=0 e, no final,quando cessa a transferência
de pressões de u para p, praticamente u=0 e p=p0. Em uma fase intermediária qualquer
teremos
P0= p + u, uma vez que u e p são funções do temp.
A lei que rege o adensamento é uma das mais importantes da Mecânica dos Solos.
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Neste caso, que é o comum, e por isso de interesse prático, podemos considerar o processo
como essencialmente unidirecional.
- Compressibilidade de terrenos permeáveis (areia e pedregulho)
Em se tratando de terrenos muito permeáveis, como as areias e pedregulhos, o processo de
adensamento não ocorre como se acaba de expor; pois a pressão efetiva é praticamente igual
a pressão aplicada e conseqüentemente, as deformações se produzem de maneira muito
rápida. Tais deformações se explicam simplesmente como um reajuste de posição das
partículas do solo, daí serem, em muito maior grau que nas argilas, irreversíveis as
deformações em terrenos permeáveis.
- Compressibilidade dos terrenos pouco permeáveis (argila)
No caso de camada de argila e de acordo com o mecanismo anteriormente descrito, a sua
variação na altura que se denomina compressão primária ou adensamento propriamente dito,
representa apenas uma fase partícular da compressão. Além desta, considera-se ainda a
compressão inicial ou imediata- a qual se atribui a uma deformação da estrutura da argila ante
a aplicação brusca de carga e à compressão instantânea da fase gasosa, quando esta existir- e a
compressão secundária ou secular, também chamada de efeito secundário do adensamento,
explicado como uma compressão do esqueleto sólidos formado pelas partículas do solo.
Desses três tipos de compressão, apenas o primeiro tem importância especial, dados os seus
efeitos sobre as construções.
Tanto os efeitos devidos à compressão inicial como os ocasionados pela compressão
secundária, são em geral negligenciados na pratica; os primeiros em virtude de seu pequeno
valor; os outros por serem muito atenuados pela extrema lentidão com que as deformações
ocorrem, muito embora a compressão secundária seja, as vezes, responsável por uma
apreciável fração do recalque total.
TEORIA DO ADENSAMENTO (livro)
2.2 AVALIAÇÃO DA COMPRESSIBILIDADE
Todos os materiais existentes na natureza se deformam, quando submetidos a esforços. A
estrutura multifásica característica dos solos confere-lhe um comportamento próprio, tensão-
deformação, o qual normalmente depende do tempo.
Um esforço de compressão aplicado a um solo fará com que ele varie seu volume, o qual
poderá ser devido a uma compressão da fase sólida, a uma compressão da fase fluida ou a uma
drenagem da fase fluida dos vazios.
Ante a grandeza dos esforços aplicados na prática, e admitindo-se o solo saturado tem-se que
tanto a compressibilidade da fase sólida como a da fase fluida serão quase desprezíveis e a
única razão, para que ocorra uma variação de volume, será uma redução dos vazios do solo
com a conseqüente expulsão da água intersticial.
Evidentemente, a saída dessa água dependerá da permeabilidade do solo: no caso das areias,
em que a permeabilidade é alta, a água poderá drenar com bastante facilidade e rapidamente;
nas argilas, porém essa expulsão de água dos vazios necessitara de algum tempo, até que se
conduza o solo a um novo estado de equilíbrio, sob as tensões aplicadas.
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Segundo Pinto (2006) as deformações podem ser de 02 tipos: as que ocorrem rapidamente
após a construção e as que se desenvolvem lentamente após a aplicação das cargas. Como já
foi dito, os solos arenosos ou argilosos não saturados sofrem deformações mais rápidas,
enquanto solos argilosos saturados apresentam recalques mais lentos, pois é necessária a
saida da água dos vazios do solos.
Essas variações volumétricas que se processam nos solos finos, ao longo do tempo, constituem
o fenômeno de adensamento, e são as responsáveis pelos recalques a que estão sujeitas
estruturas apoiadas sobre esses solos.
O comportamento dos solos perante os carregamentos depende da sua constituição e do
estado em que o solo se encontra e pode ser expresso por parâmetros obtidos através de
ensaios ou através de correlações estabelecidas entre esses parâmetros e as diversas
classificações.
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