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ALERJ =

ABAV-RJ =
ABEOC - Regional RJ
RIO CONVENTION & VISITORS BUREAU
ABES =
ABIH-RJ =
ACRJ =
ADESG-RIO
AEERJ =
AMCHAM-RIO =
CEBDS
CLUBE DE ENGENHARIA =
FAERJ
FECOMÉRCIO-RJ =
FETRANSPOR
FGV =
FIRJAN =
IBP =
PUC-RIO
REDETEC =
SEBRAE-RJ =
SNA
SINDRIO =
UENF =
UERJ
UEZO =
UGF =
UFF =
UFRJ

Cadernos do Fórum

Educação e Empreendedorismo
18.05.2010

Organização: Realização:
ÍNTEGRA DO EVENTO CADERNOS DO FÓRUM 2010 -

EDUCAÇÃO E EMPREENDEDORISMO

Agradecimentos:

A toda equipe do Centro de Referência do Artesanato Brasileiro (Crab-Sebrae-RJ)


pela acolhida;

A equipe do Fórum Permanente de Desenvolvimento Estratégico do Estado do Rio de


Janeiro, que fez este projeto acontecer;

Aos membros do Conselho Consultivo do projeto, que trouxeram idéias e participaram


ativamente da formulação deste ciclo de palestras;

A equipe da Foco Filmes;

Ao arquiteto Philippe Nunes, que cuidou do cenário do encontro;

A Sergio Malta, superintendente do Sebrae-RJ, parceiro deste projeto desde que ele
não passava de algumas linhas escritas no papel;

A Equipe da Taquigrafia da Alerj,que trouxe para o papel o que foi dito.


TRANSCRIÇÃO DO ENCONTRO CADERNOS DO FÓRUM 2010 –

EDUCAÇÃO E EMPREENDEDORISMO

dia 18 de maio de 2010

A SRA. GEIZA ROCHA – Bom dia a todos. Este é o segundo dia do evento Cadernos
do Fórum. A ideia é a gente discutir aqui Educação e Empreendedorismo.

Para sentar aqui comigo, vou convidar:

Sergio Malta - superintendente do SEBRAE, economista e administrador de empresas


por formação. Recebeu em 2007 o Prêmio Atitude Carioca como personalidade
fluminense, uma homenagem da Câmara de Comércio e Indústria do Estado do Rio de
Janeiro;

Wilma Freitas - Gerente de Educação do SENAC-Rio, mestrando em gestão de


empresas pela Fundação Getúlio Vargas, formada pela faculdade de filosofia, de
Campos, com vários cursos de pós-graduação na área de educação. Dentre os
diversos trabalhos publicados está a „‟Construção da Proposta Pedagógica do SENAC
Rio‟‟, pela Editora SENAC;

E Paulo Alcântara Gomes - Presidente do Conselho Estadual de Educação do Estado


e do Conselho Diretor da Rede de Tecnologia. Reitor da Universidade Castelo Branco,
Paulo Alcântara é doutor em Engenharia Civil pela Coppe. Dentre publicações,
pesquisas e prêmios destaca-se o „‟Vector de Oro‟‟, concedido pela União Pan-
americana de Associações de Engenheiros.

Sejam muito bem-vindos. A gente ontem abriu o ciclo de debates, Cadernos do Fórum
discutindo gestão pública e planejamento. Como não podia deixar de ser a Educação
perpassou todo o debate de ontem e acho que hoje a idéia é a gente aprofundar qual
é a cultura que a gente quer passar para os nossos estudantes.

Prof. Paulo Alcântara, que análise o senhor faz da Educação no nosso Estado, do
ensino fundamental ao ensino superior?

O SR. PAULO ALCÂNTARA – Em primeiro lugar, quero agradecer a você a


possibilidade de participar deste evento porque considero o Fórum como uma das
organizações de maior relevância para o desenvolvimento do estado tanto no
ambiente da elaboração de propostas de políticas públicas, como também na tentativa
de começar a gerar uma cultura. De um lado do empreendedorismo, do outro da
relação das pequenas e microempresas e das possibilidades que essas relações
trazem para a minoria da competitividade do nosso estado.

Do outro, agradecer a possibilidade de participar aqui com o Sergio Malta, meu


querido amigo de longo tempo, de um evento dessa importância para discussão de
temas tão fundamentais.
Sua pergunta é muito importante porque ela coloca um dos pontos mais críticos que
nós temos no Estado do Rio de Janeiro. Se nós analisarmos a Educação começando
pelos níveis básicos, chamados de educação fundamental, nós já observamos que
temos grandes obstáculos à nossa frente e que terão que ser resolvidos a curtíssimo
prazo.

Quando o Presidente Lula criou o Programa de Aceleração do Crescimento, ele


estabeleceu algumas metas aqui no estado, ligadas, por exemplo, ao outro lado da
baía ao Comperj, ao grande pólo petroquímico. Do lado de cá, a companhia
siderúrgica do Atlântico, em ambos os casos nós começamos a observar que nós
temos a oferta de postos de trabalho, mas não temos pessoas capacitadas a ocupar
esses postos de trabalho. Não pela falta das competências e habilidades necessárias,
mas, principalmente, pela falta de nível de escolaridade. Ou seja, nós temos um bom
soldador, nós temos um bom instrumentador, mas essas pessoas, às vezes, não têm
as cinco primeiras séries e são incapazes de ler os manuais daqui a 2 ou 3 anos
quando os equipamentos se modificarem, a interpretarem esses manuais, e portanto,
pela ausência dos níveis de escolaridade, elas não conseguem ocupar os postos de
trabalho.

Se eu vou para o nível médio, falando da educação profissional, o que nós


observamos é que temos outros problemas igualmente sérios. Em primeiro lugar
existe uma deficiência clara de formação de quadros para a área tecnológica de nosso
país.

Para vocês terem uma idéia, enquanto nós falamos aqui no Brasil em 28 mil
engenheiros formados por ano, contra quase 100 mil formados na Coréia, para dar um
exemplo, e num país com uma população muito menor, nós falamos em 2 mil físicos
formados por ano, professores e físicos, no Brasil, por exemplo se formam 628 mil
pessoas a cada ano. Isso significa que nós não temos professores de física, de
química, de matemática, de ciências biológicas para atender às nossas necessidades.
Qual é a consequência básica disso? Os jovens, os adolescentes ingressam no
ensino médio e acabam não sendo bem informados, e o índice de evasão do ensino
médio no Rio de Janeiro hoje ultrapassam os 54%.

A SRA. GEIZA ROCHA - E a percepção de estudantes do segundo grau é que o


diploma vale pouco para eles.
O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES – O diploma vale pouco porque existe uma
mentalidade ainda muito credencialista no nosso país que faz com que você entenda
que a educação superior é determinante para o progresso social. Nós temos de
mudar esse ponto de vista. Só que os índices de evasão são tão altos porque, vendo
que não há possibilidade de ingresso numa universidade pública que é gratuita, e não
havendo recursos para pagar uma universidade privada que é paga, o estudante
acaba por sair do ensino médio. Então, nós temos de mudar o ensino médio gerando
empregabilidade para os seus egressos. O que significa gerar empregabilidade?
Significa estabelecer programas em cooperação com o sistema S e que, ao lado das
matérias de formação geral nós tenhamos condições de oferecer também matérias
que gerem competências e viabilidades profissionais para os nossos egressos. Como
diz um amigo meu, é como se fosse a van da empregabilidade: alguma coisa que
ensinasse ao estudante a usar o Excel, relações interpessoais, noções básicas de
secretariado, e não ficar mais naquele ensino médio eclético que é ultrapassado, que
é absolutamente desnecessário no século XXI.
E para finalizar, num terceiro nível, no nível superior, nós temos um problema muito
sério: porque nós formamos engenheiros sem levar em consideração os avanços da
ciência e da técnica. Aliás, isso vale para todos os níveis. Eu costumo dizer,
recentemente eu estava lá no SENAC a convite e comentei isso. Em 2016 80% da
tecnologia terá sido gerada há menos de 10 anos. Portanto, a partir de 2006. E 80%
do fator trabalho, da mão de obra, terá sido formada há mais de 10 anos. Portanto,
nós estamos formando pessoas hoje para tecnologia que nós não sabemos se
existirão daqui a 10 anos, e com estruturas curriculares que nós não sabemos
exatamente quais são. E ao mesmo tempo, não estamos nos preocupando com a
formação desses profissionais.
Nós temos de tomar muito cuidado com a expansão dos cursos nas áreas de
engenharia, em todas essas áreas, porque há algumas coisas que são determinantes
na formação dos profissionais. Uma delas, é o empreendedorismo que é o tema
fundamental da nossa reunião de hoje aqui. Quer dizer, o mundo mudou. Hoje nós
não temos aquela ideia de nós formarmos empregados para as grandes empresas, foi
na minha geração, quando eu me diplomei na Escola Nacional de Engenharia em
1967, há 43 anos atrás. Haja tempo, né. Então, nesses 43 anos, as grandes
empresas foram sendo substituídas pelas empresas de base tecnológica, onde as
ideias e execuções estão muito próximas entre si, no tempo e no espaço, ou seja, eu
tenho de ser rápido pela obsolescência que o avanço da ciência e da técnica traz a
cada um dos produtos. Isso impõe novas estruturas nos cursos de engenharia. Impõe
a geração dos programas de formação dos tecnólogos de gestão de fábrica.
Infelizmente no Brasil nós estamos nos restringindo a catálogos de cursos
profissionais que padronizam, mas a ciência avança, e quando eles podem entrar no
catálogo já estão obsoletos e, por outro lado, nós não entendemos claramente a
importância da formação desse tipo de profissional que é fundamental para atender,
por exemplo, a demanda da siderúrgica do Atlântico que foi obrigada, todos sabem
disso, a contratar profissionais do exterior porque nós não temos os chamados
tecnólogos de fábrica. Cometemos um erro em nosso País, estamos voltando aos
cursos de tecnologia, eu acho que o nome já é errado, é muito para as áreas de
gestão. Mas a tecnologia ela se faz em setores que são estratégicos para o
desenvolvimento. Então, nós temos que também levar isso em consideração.
Então, o ensino superior também hoje na análise que eu faço, é que nós temos um
status extraordinário, mas é uma discussão instigante, porque são desafios, e que eu
tenho a mais profunda convicção de que o Rio de Janeiro saberá transpor, porque as
políticas educacionais que estão hoje em fase de grande transformação, vão permitir
primeiro esse novo ensino médio.
A SRA. GEIZA ROCHA - A gente vai avançar sobre essa questão de como está no
Estado do Rio nas próximas...
O SR. SERGIO MALTA - Está bem. Eu queria fazer um comentário sobre o que o
professor Alcântara nos ofereceu. Eu acho que foi preciso e precioso. Não poderia ser
diferente da cultura e experiência do Professor Paulo Alcântara.
Agora, esse diagnóstico, por que nós estamos nessa situação? O Brasil, nas últimas
décadas, teve um crescimento medíocre. Foi apenas depois da virada do século que a
gente passou a ter um crescimento sustentável e agora começa a ser vigoroso. Então,
agora começam a aparecer os problemas, são problemas de desenvolvimento. E eu
sou otimista, eu acho que o sistema escolar, o Sistema S, a população, os jovens,
estão ingressando nas escolas, as escolas estão melhorando, e eu acho que a
empregabilidade virá. Eu acho que o futuro é promissor para juventude brasileira.
A SRA. GEIZA ROCHA - Como o SENAC trabalha com esse aluno que vem para
formação técnica e que tem essas deficiências ainda do Ensino Básico.
A SRA. WILMA FREITAS – Pois é, acho que o Professor Paulo tocou num ponto
crucial. A questão da escolaridade tem impactos sérios, tanto para o mercado, quanto
para formação dessa grande base da pirâmide, que é o nível técnico que está aí posto
como demanda, como necessidade, e nós temos enfrentado alguns problemas sim. E
como é que a gente resolve isso?
Dentro dos próprios currículos, das próprias matrizes curriculares, você tem que
trabalhar com a perspectiva de desenvolvimento e aceleração de escolaridade,
através de projetos, através de ações muito específicas, e aí vamos remeter ao
desenvolvimento do curso, como é que você desenvolve um curso para atender a
essa demanda e realmente colocar no mercado pessoas com a qualificação exigida.
Primeiro, tem que pensar que um curso não se desenvolve, única e exclusivamente,
pelos conteúdos, como o próprio Professor Paulo falou. Não adianta eu continuar com
a engenharia tradicional, com a matriz tradicional. Eu tenho que pensar que não são
os conteúdos que movem o mercado, mas são as competências das pessoas, das
competências básicas às competências técnicas. O conceito de competência, é uma
coisa que precisa ser deixado muito claro para todo mundo.
Eu costumo usar um acróstico, relembrando a época do meu Ensino Médio, “a
competência é a chave do sucesso profissional”. Por quê? C de conhecimento,
conteúdo, portanto. H de habilidade. A de atitude. V de valores. E de emoções.
Juntando esses cinco elementos e uma pessoa se mobilizando com esses elementos,
você tem uma mudança de fato. Então, a primeira coisa que você tem que pensar no
curso é o que esse profissional vai fazer nesse mercado de trabalho lá fora. O que o
mercado espera dele. E o mercado, principalmente considerando micro e pequena
empresa, quer resultados, e resultados que possam contribuir para sua
sustentabilidade e também com o crescimento e desenvolvimento daquela região em
que está atuando, porque ele vai interferir na economia, com certeza.
Vistas essas competências, como é que eu faço para transformar isso numa estrutura
curricular, e aí vem a inovação, que o Professor Paulo falou. Não adianta eu pensar
que eu colocando no currículo, por exemplo, de técnico em secretariado, eu coloque lá
todas as competências técnicas eu vou resolver o problema profissional. Por quê? As
pessoas trazem essas deficiências. Muitas vezes as pessoas com Ensino Médio
completo não tem desenvolvida a leitura para interpretar um texto, que é o mínimo que
se exige. As quatro operações, às vezes, são difíceis, quando você envolve essas
quatro operações dentro do próprio contexto do trabalho. Quando você fala um
desconto, uma promoção, como você trabalha com isso? Como é que você dá um
retorno ao cliente em função de uma promoção que você está fazendo? O cerne da
questão, na educação profissional, está na construção de um currículo inovador, de
uma estrutura curricular que dê conta não só do que o mercado espera, qualquer nível
de empresa, mas também do sucesso profissional, porque tem que pensar que a
pessoa é uma só, ela é pessoa, é trabalhadora e é um profissional. Então, em cima
desses três grandes âmbitos é que tem que se pensar a educação.
A SRA. GEIZA ROCHA - E que tem interesse, que tem vontade de trabalhar.
A SRA. WILMA FREITAS - Exatamente. É a chave. Você com a chave, você chega lá.
A SRA. GEIZA ROCHA - Sérgio, o empreendedorismo é matéria de currículo escolar
em alguns países, como a China, por exemplo, ainda no Ensino Básico. O que falta
para a gente começar a trazer o empreendedorismo como parte do ensino para as
pessoas trabalharem esse perfil?
O SR SÉRGIO MALTA – Veja bem, Geiza, o SEBRAE tem como missão ajudar as
pequenas empresas a serem mais competitivas, mais longevas, mais prósperas, mas
também tem como missão, desde o momento em que virou SEBRAE com S, começou
também a fomentar o empreendedorismo, ou seja, a gente trabalha com empresas e
trabalha também com aqueles que serão empresários no futuro. A gente fomenta o
empreendedorismo. E nesse sentido, nós temos programas. Nós temos um programa
que é “Primeiros Passos Para os Jovens”, para o ensino básico, adolescentes e
crianças de 7 a 14 anos, outro para o ensino médio, que é o 2º grau, e também temos
o Desafio Sebrae, no ensino universitário.
Então, existe uma grade, existe um currículo que é oferecido à rede de ensino público
e privado para aplicar isso, mas nem todo mundo aplica. Nós não temos
determinação, não temos força para obrigar com que todos façam isso. Nós sabemos
que diversos municípios, rede escolar de uma capital do Nordeste, em toda a rede
municipal existe, no 1º grau, a cadeira de empreendedorismo.
Eu acredito que no passado recente e agora está se construindo um consenso na
sociedade no sentido de que é importante fomentar o empreendedorismo, que isso
não é uma tarefa só do Sebrae. Fala-se inclusive da criação em um próximo governo,
de um ministério do empreendedorismo. Eu acho que isso está avançando muito e a
introdução universalmente em todo o ensino público e privado em todos os níveis de
uma cadeira de empreendedorismo seria muito importante para preparar o futuro do
Brasil
A SRA GEIZA ROCHA – É, no Brasil internalizar essa necessidade e essa dinâmica
porque na verdade todo esse processo é um processo dinâmico que a educação tem
que absorver para poder estar à frente, levando todas as pessoas.
O SR. SERGIO MALTA - De qualquer modo, apesar de o fato de que a rede de ensino
não oferecem com a intensidade necessária esses cursos, o interesse da juventude
sobre esse assunto é crescente. Essa nossa iniciativa do Sebrae, o Desafio Sebrae,
crescentemente vem sendo procurado pelos jovens. A última edição, mais de 400 mil
jovens universitários participaram dessa iniciativa e o interesse é cada vez maior,
assim como a nossa rede de cursos do Sebrae, que é pequena para atingir toda a
juventude brasileira, mas ela vem cada vez mais sendo objeto do interesse e da
curiosidade da juventude brasileira.
A SRA. PAULO ALCÂNTARA GOMES – Eu só queria fazer um comentário em cima
do que o Sérgio colocou. Esse programa do Sebrae realmente é maravilhoso, ele
fomenta exatamente aquilo que a gente tem naturalmente, que é a vontade de
construir o seu próprio negócio, de crescer, e ele precisa de estar presente em todos
os cursos de educação profissional, porque se os profissionais não tiverem essa
competência desenvolvida, ele vai ser sempre alguém que recebe ordens. O que a
gente precisa hoje são pessoas com iniciativa proativas, que resolva problemas e
esteja dispostas a enfrentar todas as questões que envolvem o crescimento da
empresa na perspectiva do empreendedorismo.
Então, acho que é um programa que precisa ser abraçado pelas escolas,
principalmente das escolas de ensino fundamental e ensino médio porque ajuda a
despertar no jovem essa perspectiva de crescer, de ir à frente, de ser naturalmente um
empreendedor.
O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES – Posso fazer um comentário rápido? Eu achei
muito interessantes essas duas opiniões de Sérgio e da Wilma porque, de fato, uns
dos problemas fundamentais que nós temos é que as escolas, muitas vezes não
introduzem as de nível médio e na educação básica fundamental, as de nível superior
na sua quase totalidade hoje já tem a disciplina de empreendedorismo. Mas a
disciplina sozinha não resolve o problema. É preciso que haja, ao lado da disciplina de
empreendedorismo, políticas de estímulo a atividades extensionistas que levem à
prática do empreendedorismo, porque o empreendedorismo é uma cultura, ele não se
faz apenas por conteúdo.
Então eu vejo, por exemplo, duas estratégias importantíssimas: no nível superior, o
estímulo às empresas Júnior. Você tem exemplos flagrantes aqui na frente, na PUC-
RJ, na Associação Comercial, sempre com o apoio do Sebrae, fundamentalmente com
o apoio do Sebrae. E na educação média, na educação fundamental, nós temos
defendido um modelo de você começar a pensar em gerar cultura da criação do que
chamo de “empresas baby”, que seriam empresas formalizadas em um outro processo
e que assegurariam ao estudante, é claro que ela não pode ter a mesmas
características da empresas júnior porque os alunos da empresa júnior já têm título de
eleitor, já têm CPF; a empresa baby seria para a modelagem cultura do
empreendedorismo.
Mas o empreendedor mudou muito no Brasil, quando? A partir da Lei da Micro e da
Pequena Empresa. São duas leis que mudaram a história do Brasil, a Lei da Inovação
e a Lei da Micro e da Pequena Empresa, porque elas geraram uma política..., quando
fui presidente da SEBRAE, em 2001, o índice de mortalidade das empresas no Estado
do Rio de Janeiro era de 75% em dois anos, hoje, o Sérgio deve ter esse dado, é
inferior a 50%.
O SR. SÉRGIO MALTA – É inferior a 20%.
O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES – Então, vejam vocês, por quê? Porque foram
gerados mecanismos que passaram a entender o empreendedor como um indivíduo,
porque muitas pessoas confundem o empreendedor com o empresário, e são perfis
completamente diferentes. Eu posso ter um excelente empreendedor no serviço
público e posso ter um bom empresário que não seja um empreendedor, seja um
negociante e que poderá fazer bons negócios ou não. Porque a nova empresa está
centrada em três parâmetros, a qualidade, a competitividade da empresa é medida
como se você um triângulo, um lado do triângulo é o conhecimento, o outro lado é a
inovação, o outro lado é o empreendedorismo. Quer dizer, eu terei uma boa empresa
se eu tiver esses três lados desse triângulo mais ou menos do mesmo tamanho, um
triângulo equilátero, se eu tiver muito conhecimento e muito empreendedorismo mas
não tiver inovação, se não souber usar as habilidades de transformar o saber em
fazer, que no fundo é isso a competência, eu não consigo desenvolver produtos
competitivos. Se eu tiver muito empreendedorismo e muita inovação, mas se não tiver
conhecimento, eu sou um apropriador de tecnologias que estão sendo desenvolvidas
em outros lugares e provavelmente, eu vou entrar com produtos obsoletos. Então, eu
tenho que jogar sempre na busca de um triângulo em que esses lados sejam mais ou
menos do mesmo tamanho, um triângulo equilátero, essa harmonia é fundamental na
geração do processo, mas, mais importante do que isso, é que a cultura do
empreendedorismo não ser feita só com estrutura curricular, esses exemplos que o
Sérgio deu são muito importantes porque eles não fazem parte da estrutura curricular,
eles fazem parte das atividades extra curriculares e complementares.
A SRA. GEIZA ROCHA – Essa questão do currículo, não tem que estar
necessariamente tudo dentro do currículo, à medida que você vai vendo que há outras
necessidades, que é importante acrescentarem outros saberes, se você tiver uma
possibilidade de ter um currículo mais dinâmico, também facilitaria nesse processo.
O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES – É, mas aí você tem o problema da história da
educação no Brasil, a educação do Brasil, isso não é um problema desse governo ou
do governo anterior ou dos 10 ou 15 ou 20 governos anteriores, é uma questão
crônica, a dificuldade que a sociedade brasileira tem e os governantes têm de aceitar
a inovação é uma dificuldade brutal, quer dizer, se você conversa, por exemplo, sobre
novas tecnologias, está ali a Márcia, se você conversa sobre novas tecnologias de
informação e comunicação, que ela conhece muito bem, na questão da educação à
distância, você vai ficar impressionado com a resistência que no governo às atividades
inovadoras, quer dizer, os modelos de inovação de tecnologia de informação que
estão sendo utilizados, não aceitam, por exemplo, muitas vezes, um fato concreto já
em todos os países do mundo, a inexistência de um tutor presencial porque você pode
usar os ambientes virtuais de aprendizagem, isso não passa pela cabeça de muitas
normas de educação à distância.
A SRA. WILMA FREITAS - Há pouca possibilidade.
O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES – Exatamente, e aí você cria um problema
porque muitas vezes você pode gerar programas em que os conteúdos e as
habilidades e competência sejam oferecidas no momento certo, na hora em que o
estudante precisa do conteúdo, ele pode receber parte daquele conteúdo ou o todo na
modalidade à distância, e ir para o chão da fábrica ou ir para o setor de comércio e
serviço e trabalhar com as habilidades de competências que são necessárias, como
você não consegue compatibilizar essas coisas pela rigidez da legislação, você acaba
atrasando muito a geração da cultura do empreendedorismo no nosso processo e a
sociedade hoje está exigindo o quê? Ela está exigindo agilidade na diplomação, o
emprego das novas tecnologias da informação em comunicação intensiva e novas
modalidades de diplomas, nós estamos ficando para trás. Na Inglaterra, por exemplo,
no Reino Unido, você tem a Association for British Executives (ABE) que certifica
saberes que permitem ao indivíduo, mesmo não tendo um diploma, competir num
mercado cada vez mais exigente porque ele trouxe as habilidades e competência e fez
uma prova de conteúdo, quer dizer, no Brasil, isso é visto com maus olhos. Você não
forma sequer os professores.
A SRA. GEIZA ROCHA – Porque tem o entendimento de que você precisa ter todo um
processo para então estar capaz. O que está acontecendo é que você está passando
por todo processo e aí, então, você ainda não está formado.
O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES - Exatamente.
A SRA. GEIZA ROCHA - Sobre esse tema, no dia 18 de maio, que é o dia que a gente
está realizando, aqui, o nosso debate, no Centro de Referência do Artesanato
Brasileiro, foi publicado um artigo no jornal O Globo, chamado Ensinar Aprender - e aí,
eu achei que tinha tudo a ver a gente falar sobre isso -, é da Patrícia C. Lins e Silva,
que é educadora, e ela fala, num trecho do artigo: “Hoje o aluno precisa aprender a
descobrir o conhecimento no turbilhão de informação encontrada na internet. Não
basta o que recebe por doação de um professor. O aluno precisa aprender a
solucionar problemas e não aprender soluções prontas, precisa aliar o
desenvolvimento moral ao intelectual e ainda precisa se preparar para enfrentar
discussões éticas, epistemológicas, culturais e sociais. O papel do professor é orientar
o acesso dos alunos ao acervo cultural da humanidade para propor reflexão sobre o
que aprende; incentivar o desenvolvimento da capacidade de pensar e cuidar da
formação para a cidadania.” É um papel bastante complexo...
O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES - Que não é novo.
A SRA. GEIZA ROCHA - Exatamente.
O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES - ...porque na reunião mundial da UNESCO,
1998, Jacques Delors já colocou isso de outra forma, aprender a ser, aprender a
conhecer, aprender a fazer e a conviver. Então, é o que ela está dizendo aí. Agora,
você observa que no modelo educacional brasileiro você não consegue resolver isso,
porque eu diria que se você entrar em 90% das escolas de todos os níveis no Brasil,
você vai encontrar ainda informação unidirecional do professor para o aluno e não o
ensino participativo. Então, as salas de aula são assim: cadeiras, um tablado, um
palco, com pessoas falando e transmitindo informações. Se você chegar numa boa
universidade americana ou numa boa escola secundária americana, as salas de aula,
hoje, são mesas, provavelmente circulares, com seus alunos com seus notebooks ou
netbooks, trabalhando em conjunto, conversando entre si, porque o processo de
apreensão da informação, o processo de aprendizagem mudou completamente. No
Brasil, ainda não entendemos que nós temos que nos sobrepor a esse modelo do
século XIX, quer dizer, esse modelo secular de educação acabou. Raríssimas escolas
no Brasil têm salas de aula com mesas circulares ou mesas quadradas, onde os
alunos se sentam e trabalham em conjunto. Nós sempre achamos – nós estávamos
comentando aqui da cola -, ele tem que estar afastado para colar ou não colar. Não
tem nada disso. Você, hoje, você tem que, inclusive, fazer isso, para que o aluno
aprenda a não plagiar do Google, e eles estão aprendendo na mesa circular, no
trabalho em conjunto.
A SRA. WILMA FREITAS - Eu acho que você está tocando num ponto crucial, que foi
trazido até por esse artigo escrito aí pela Patrícia. A questão da metodologia e a
questão do cerne da escola deixa de ser a doação de conteúdo para ser ensinar a
aprender. É voltar quase aos diálogos socráticos, a gente relembrar o tempo inicial – a
nossa escola foi criada na Idade Média, mas se você der um passo atrás e for até os
diálogos socráticos, como é que acontecia isso? Embaixo de árvores, se discutia
através de diálogos os grandes temas da época. Naquela época você não tinha coisas
escritas que ficavam reservadas a uma casta. Mas hoje, se você fizer uma
transposição de tempo, hoje você tem na internet, à sua disposição, o conteúdo que
você desejar, no segmento que você sonhar, as maiores inovação tecnológicas. Você
entra no Youtube, você entra nas redes sociais, as inovações estão ali, na sua frente.
Há poucos dias eu recebi um link para o Youtube, onde havia uma crítica à questão da
metodologia e da introdução da tecnologia na educação. Um professor de matemática,
ensinando tabuada, naquela regra simples – 2 x 2 = 4 – e a cantarola continuava. De
repente, aparece um computador, o que ele fez? Botou o computador, projetou e
continuou. O que adiantou a entrada dessa tecnologia? Vale a pena ver esse vídeo,
que é um exemplo clássico do que o Paulo falou...
A SRA. GEIZA ROCHA - Até porque a gente está falando de um perfil geral, amplo, e
o professor está dentro desse perfil, ele está sendo formado e ensinado dessa forma.
A SRA. WILMA FREITAS – Aí que está o problema. Vamos começar a mudar a
formação desse professor.
O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES - Pois é.
A SRA. WILMA FREITAS - Tem que pensar seriamente nessa questão. Eu tenho um
relacionamento muito bom, como o Paulo também, acho que o Cesar conhece, com o
professor Cordão, que eu considero um dos grandes expoentes da educação
tradicional brasileira. Aquele Parecer 16, que criou as diretrizes curriculares do ensino
técnico, uma verdadeira pérola, que conta a história da formação profissional no Brasil,
até chegar às diretrizes do ensino técnico. Então ele agora está com uma
responsabilidade de construir as diretrizes da formação de professores, a gente tem
tido boas discussões técnicas, boas conversas sobre isso porque não adianta eu
pensar no currículo se eu não mudar a estratégia, se eu não mudar a metodologia eu
não vou mudar a educação se eu não trabalhar com o mediador do processo que é o
professor. O grande protagonista é o aluno, ele está ali, ele vai ser participativo, ele vai
começar a cobrar e aí o que vai acontecer? A escola não muda, ele tem a internet, ele
se evade, ele vai embora. E aí o que acontece? Nós temos ali um enorme pelotão de
jovens e adultos que foi “expulso” da escola e que agora o mercado também expulsa
porque eles não tem a escolaridade necessária.
O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES - E aí você tem um problema muito sério, a
resistência da sociedade brasileira à inovação. Para você ter uma ideia, a nossa LDB
é pra frente, as pessoas se esquecem às vezes que o Darcy Ribeiro introduziu ali
alguns pontos. Existe um artigo na LDB, o art. 47, § 2º que diz o seguinte: que as
pessoas com um nível de aprendizado superior poderão, mediante a realização de
uma prova, encurtar o tempo de duração do curso superior, ou seja, tem centenas e
centenas, milhares de professores no Brasil afora, que ao longo desses 15, 20 anos
de atividade eles aprenderam, pela prática, todas essas habilidades e competências
da gestão administrativa, da administração escolar, do processo legal, todas essas
coisas. E aí, eu digo que esses professores terão que fazer um curso de quatro anos
de pedagogia quando eles já têm 40, 45, 50 anos de idade. Será que não seria a hora
de nós certificarmos esses saberes adquiridos ao longo da experiência profissional
para num processo emergencial resolvermos um problema crônico no País que é a
ausência da formação de professores? Será que nós não temos um quadro de
engenheiros no Brasil tão grande que poderá ser utilizado nesse quadro através de
formação pedagógica como muitas vezes o Sistema S faz, obter os professores de
física, química e de matemática que vão melhorar, enriquecer a formação do jovem,
inclusive gerando emprego para muitos desses engenheiros que às vezes não tem
emprego no setor de engenharia, ou às vezes até estudantes de engenharia dos
últimos anos que terão uma fonte de renda que sugere emprego e renda. E aí nós
encontramos uma resistência da sociedade e da corporação. Essas coisas são muito
difíceis de defender. Eu sinto isso no dia-a-dia porque as profissões se preservam
muito, elas tendem sempre a procurar legalização.
A SRA. GEIZA ROCHA - Quando a multidisciplinalidade deveria ser...
O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES - A multidisciplinalidade acabou com a
regulamentação das profissões. Hoje em todos os países avançados no mundo, não
só avançados pelo dinheiro ou pelo progresso industrial, avançados pela sociedade. O
que é que acontece? Você está desregulamentando as profissões porque a
interdisciplinaridade passou a ser determinante, nós continuamos regulamentando
profissões, algemando pessoas que muitas vezes poderiam migrar de uma área para
outra e ocupar postos de trabalho que são fundamentais. Eu não consigo mais fazer
diferença entre uma pessoa de física e de matemática ou de engenharia. Vocês
conseguem? Eu não consigo. Eu não consigo fazer muita diferença. Eu conheço
vários engenheiros de produção, formados, que hoje trabalham em administração de
empresas. Como conheço vários administradores de empresas que estão na linha de
produção, trabalhando, às vezes, com robótica mecatrônica. Os profissionais da
COPPE, da UFRJ, onde passei quase 40 anos da minha vida, a COPPE tem físicos e
matemáticos trabalhando em projeto de plataforma de petróleo da Petrobras. Esse
conceito de transdisciplinaridade ou menos um pouco, de interdisciplinaridade é
fundamental. Nós resistimos a isso. Cada vez que surge uma proposta dessas, ela é
vista como uma proposta comercial.
A SRA. WILMA FREITAS – Pois é. Eu vou pegar um pouco do otimismo do Sérgio.
Nessa perspectiva da flexibilidade, de aceitar essas inovações foi criada a Rede
Certifique, a gente não tem ainda muita segurança nesse conceito. O que a Rede
Certifique pretende ser? Uma rede que vai certificar, dar o certificado profissional – um
pouco similar ao modelo inglês, ao modelo espanhol e ao modelo português – que tem
uma experiência no mercado; experiência de trabalho comprovada; e que vão ser
submetidos a uma série de avaliações para ser certificado ao final, independente do
curso que ele freqüentou.
Então, há uma luz no fim do túnel.

O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES – É verdade.

A SRA. WILMA FREITAS – A gente pode trabalhar nessa perspectiva e acho que até
tanto o SEBRAE – e aí o Paulo aqui, como Presidente do Conselho Estadual de
Educação e o Sistema “S” como um todo – pode centrar forças nisso e pensar para o
Estado do Rio de Janeiro que benefícios isso pode trazer e de que maneira a gente
pode fazer esse modelo migrar para o nosso estado na perspectiva do
desenvolvimento econômico.

Porque, olhem só: a lei, ela tem flexibilidade. Nós é que engessamos o processo. Isso,
para mim, é muito claro. O exemplo é: a lei fala em certificação profissional, no artigo
em que o Paulo se referiu; a lei fala em aproveitamento de estudos, experiências e
competências – portanto, abre um leque.

Eu não estou falando somente em aproveitar o curso, mas a experiência profissional,


os estudos realizados fora do mundo acadêmico. A lei dá essa flexibilidade.

Só que quando a gente traz isso para o processo da Educação, o mundo acadêmico
engessa o processo.

O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES – Exatamente.

A SRA. GEIZA ROCHA - E como sair desse engessamento e identificar quem tem o
perfil empreendedor, quem pode usar suas competências para avançar?

O SR. SERGIO MALTA – Veja bem, Geisa: o Brasil é um dos países mais
empreendedores do mundo.

A última pesquisa feita pelo instituto que cuida desse assunto detectou que o Brasil é o
segundo país mais empreendedor do mundo do G-20, depois da China, que tem 170
milhões de empreendedores.

Lá, tudo é grande, não é? Aqui no Brasil são 19 milhões de empreendedores, com
uma população de 190 milhões de brasileiros e brasileiras, temos 120 milhões na
idade economicamente ativa e então 19 milhões de brasileiros são donos do seu
próprio nariz.

E isso tem crescido muito também porque a escolaridade aumentou. A gente ouviu
aqui a evolução do ensino tentando se adaptar às necessidades da sociedade. Essa
evolução é necessária não só por exigência do mercado de trabalho, mas por
exigência da sociedade.

A evolução social exige isso e essa reflexão toda, aqui no campo da academia que os
educadores estão fazendo certamente vai dar uma resposta – ainda está lenta, porque
existe uma resistência – mas certamente essa velocidade vai avançar e o sistema de
ensino vai estar à disposição e vai deixar de ser um obstáculo para ser uma alavanca
dessa evolução social.

E esse aumento de escolaridade... também temos que ver que o Brasil talvez tenha
um milhão de mestres e doutores, mas há 20 anos, tinha 50 milhões de analfabetos –
então, a gente tem que resolver problemas medievais, ao mesmo tempo em que a
gente entra no Século XXI. A gente faz tudo isso ao mesmo tempo e é um desafio
enorme, em que o Setor de Educação tem que estar à disposição da sociedade para
ajudar a resolver.

Mas, voltando ao empreendedorismo, eu dizia que nós somos o segundo país mais
empreendedor do mundo, e isso tem aumentado também porque o nível de
escolaridade – e mais do que escolaridade, o nível de acesso ao conhecimento,
através de todos esses mecanismos: internet, enfim, a difusão de conhecimento, enfim
– tem sido crescente nos últimos anos no Brasil.

E como disse o Paulo, não só o empreendedorismo tem crescido, mas o


empreendedorismo bem sucedido. Em 2000, 80% dos empreendedores fracassavam
no segundo ano e o fracasso de um pequeno empreendimento não é apenas o
dinheiro que está aplicado, mas o fracasso de um projeto de vida, de uma família. É
um drama, aquela família que fracassou com o empreendimento.

Em 2003/2005, isso era 50%. E na última pesquisa, em 2008, aqui no Rio, 81% dos
empreendimentos ultrapassam – estão sobrevivendo – ao terceiro ano. Isso,
certamente, é produto também do nível de qualidade.

Isso é Educação ligada ao Empreendedorismo bem sucedido.

Outro aspecto é a Educação Empreendedora. Como você disse na introdução, é você


fomentar o empreendedorismo, desde o ensino básico, do ensino fundamental –
depois na Universidade – você fomentar esse empreendedorismo para que as
pessoas que possam que tenham as condições; porque também não é todo mundo
que tem o espírito empreendedor; você pode fomentar, você pode...

A SRA. GEIZA ROCHA – A distinção entre empresário e empreendedor é


interessante.

O SR. SERGIO MALTA – É. E interessante é que nesses últimos anos até a


sociedade brasileira passou a ver melhor o empreendedor. Há dez, quinze anos, nas
novelas, que são a maior diversão brasileira, o empresário era sempre o vilão, sempre
aquele sujeito que dava golpes, tratava mal os empregados, queria destruir a
natureza. Hoje não; hoje, nas novelas, o dono de uma pousada é uma pessoa
simpática. A sociedade já vê o empreendedor hoje como uma pessoa que deve ser
valorizada e, de fato, esses 18, 19milhões de brasileiros são distribuidores da riqueza
do Brasil.

Em 2008/2009, o Brasil foi um dos últimos países a entrar na crise e um dos primeiros
a sair dela muito por conta do trabalho desses 20 milhões de empreendedores
voltados para o mercado interno, envolvidos com derivativos, com exportações para a
China, e puderam segurar a barra para que a atividade econômica se mantivesse e
depois fosse retomada, e hoje a gente está num momento talvez que nunca vimos
antes: um crescimento de 7%, com distribuição de renda; nos últimos cinco anos 30
milhões de brasileiros entraram na classe que tem acesso à educação, à saúde, ao
conforto doméstico. É uma situação que exige cada vez mais do sistema de educação,
e essa reflexão que vocês fazem é fundamental para que esse processo ganhe
velocidade.
O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES – Eu queria pegar um gancho no que o Sergio
falou. Você tinha feito uma pergunta sobre como modificar essa cultura da sociedade
brasileira.
Eu acho que um dos pontos críticos... Parece incrível, às vezes acho engraçado, dizer
essas coisas num programa como este. Mas uma das questões fundamentais foi
exatamente o reflexo que uma novela da Rede Globo traz para a sociedade.
Criamos um grupo de trabalho chamado Inove Engenharia, na CNI, que discute a
reformulação do ensino de Engenharia no Brasil. Na ultima reunião que tivemos, um
dos pontos críticos foi que, na novela das oito, principalmente, não aparece o perfil de
um engenheiro. Há anos não se fala no mocinho da novela ser um engenheiro. Essa
motivação é fundamental, a motivação para o empreendedorismo é, absolutamente,
crucial.
O Sérgio às vezes acorda às cinco da manhã para ir ao Bom Dia Rio explicar às
pessoas o que são os programas de empreendedorismo. A repercussão que aquilo
tem é extraordinária! Eu saio da minha casa e chego ao local onde trabalho e várias
pessoas dizem que o diretor do SEBRAE estava explicando hoje o que é
empreendedorismo individual – o reflexo daquilo foi brutal na época da crise. Isso é
importante: você usar os meios de comunicação para gerar a cultura do
empreendedorismo e a da mudança, você quebrar os laços, e você só faz isso se você
convence as pessoas pela forma de viver a vida, por você ver como as coisas
acontecem no dia a dia. Um empreendedor, dono da pousada que ele citou é uma
consequência, é a imagem positiva que surgiu na novela. Mas a gente não encontra
repercussão nessas mudanças que são necessárias.
Estamos melhorando? Sim. Temos que ser otimistas? Temos. Mas, mais do que
isso,temos que ser determinados, temos que ter uma certa obsessão em chegar a
bons resultados. Mas não poderemos fazer isso sozinho – daí a importância dessa
quase hélice tripla que vocês estão construindo aqui no fórum, porque vocês estão
abrigando as universidades, os institutos de pesquisa, os governos e as grandes
organização que representam a indústria, o setor de tecnologia, comércio, serviços e
agronegócios.
A SRA. GEIZA ROCHA – Pegando esse gancho, e também porque estou ansiosa para
ouvir a plateia, que é tão importante, qual o papel do governo nesse perfil? A gente
tem o empreendedorismo, a educação do Sistema S e a universidade, enfim, qual o
papel do governo nesse processo de dinamização da educação e de trazer a
educação para um perfil que de fato tornem as pessoas para aprender.
A SRA. WILMA FREITAS – Eu acho que o governo tem que primeiro estabelecer
diretrizes que deem a flexibilidade necessária para a educação. O segundo ponto é
que ele tem que subsidiar de alguma forma, porque o ensino precisa ser, pelo menos
de acordo com a Constituição, com a Lei de Diretrizes e Bases, pública e gratuita até
uma determinada faixa etária, se considerarmos a educação baixa. Ao mesmo tempo
em que ele trabalhe com algumas perspectivas de formação para o trabalho, nesse
ensino inicial, garantir a qualificação dos professores de forma a que atenda essa
expectativa que a gente tanto tem comentado aqui. Isso não é muito fácil, a gente
sabe disso. Nós percebemos, por exemplo, que aqui no Estado do Rio de Janeiro nós
temos uma secretaria de educação voltada para a inovação, voltada para a tecnologia,
fomentadora de projetos inovadores, percebemos isso, mas, isso tem que se tornar
uma força dinâmica, ela não pode ficar no plano das ideias, ela tem que caminhar no
sentido da concretização disso.

E tem outras questões, outras variáveis, que estão aqui um pouco escondidas nesse
cenário geral da educação, que precisam também ser revistas, por exemplo, o salário
do professor. O salário não move o professor, mas sem ele não sobrevive.

A SRA. GEIZA ROCHA– Sobre essa questão, como a legislação pode ajudar nesse
processo?
A SRA. WILMA FREITAS– Eu ia citar neste momento o Plano Nacional de Educação e
o Plano Estadual.

O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES– Eu acho que não adianta você ter o plano se
você não tem ações. Vou dar dois exemplos para vocês. Aqui no Rio de Janeiro nós
temos uma política interessante, bastante, e liderada pelo SEBRAE, pela Firjan,
principalmente por esses dois arranjos produtivos locais. Por exemplo, existe o arranjo
produtivo local de moda íntima em Friburgo; existe um arranjo de pedras lá em cima; e
existe um arranjo de fruticultura.

Onde está o nosso erro? A política existe, só que ela não se transforma em ações. E
existem políticas concretas, extremamente bem sucedidas no atual governo. Um
programa, por exemplo, de subvenção econômica foi criado pela FINEP, e ela pega
um empresário que tem um bom projeto e que possa ser rentável e, sem nenhuma
vergonha, ela chega ao empresário e diz assim: “olha, isso aqui é um dinheiro a fundo
perdido que eu estou te dando para você desenvolver um projeto, depois você vai ficar
rico com isso, mas esse seu produto vai ser importante para o país. Isso nós não
fazemos com a educação.

Nós estabelecemos uma dicotomia entre o público e o privado que é extremamente


perigosa, e isso se reflete até para o Sistema S, com ligações que não são as reais
que são feitas, ilações que são feitas, que muitas vezes acabam por prejudicar o
Sistema S.

Observem o que aconteceu. Um arranjo de fruticultura, o que a gente precisa? A gente


precisa formar pessoas que sejam especialistas em logística e armazenagem de
perecíveis, porque a fruta é um perecível; gestor de cooperativa agrícola; gestor de
pequenos negócios; técnico em alimentos e bebidas, em sucos e outras coisas,
porque a fruticultura gera sucos, gera doces e outras coisas.

Só para dar alguns exemplos. Técnico em agricultura – quando o ensino superior e o


ensino técnico se expandem, por ausência de programas como esse de subvenção
econômica, que cursos são instalados na região? Direito, pedagogia, letras,
administração de empresas e informática. Ou seja, o nosso processo de expansão não
segue a nossa política de geração de APL, de arranjos produtivos locais. Nós não
conseguimos compatibilizar.

Existe a política? Eu diria até que ela pode existir, o que falta é a ação concreta de
você dizer assim: olha, nós vamos ter um programa de subvenção econômica e a boa
escola, pública ou privada, se instalar nesse local com um bom projeto, que vai ser
avaliado por três, quatro anos, ela terá subvenção econômica para se instalar. É uma
ação concreta que não depende de lei, depende de vontade política de
regulamentação.

Isso é só um pequeno exemplo, e você poderia ter milhares e milhares de outros


exemplos em várias áreas. Essa é uma questão. Você observa uma coisa
interessante, o ensino técnico médio no Rio de Janeiro fica muito centrado em
determinadas áreas da saúde: radiologia, enfermagem. Nós precisamos de gente para
ir trabalhar lá na Siderúrgica do Atlântico, lá no Comperj, lá no Pólo Gás Químico...
A SRA. GEIZA ROCHA - Mas eu tenho percebido também que, por conta da
mobilização dos próprios empresários, desse diálogo maior que acontece hoje entre a
iniciativa privada e as federações, as entidades que representam, e o governo, esse
casamento está sendo mais bem feito.

O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES – Está.

A SRA. GEIZA ROCHA - Você vê os centros de vocação tecnológica, tentando dar


conta de uma formação ...

A SRA. WILMA FREITAS - Olha só, Geiza, me permite complementar o que o Paulo
falou. Isso que ele falou é uma verdade. Se a gente tivesse, dentro de um Plano
Estadual de Desenvolvimento e Educação – vamos ampliar o título desse plano –,
ações específicas que congregassem as instituições formadoras, tipo Sistema S,
públicas, e outras públicas e outras privadas, a Faetec, o mercado local, a
identificação da potencialidade e da possibilidade de crescimento, fizéssemos daí um
grande fórum por arranjos produtivos, como o Paulo falou, você teria um movimento
nesse estado! Que sem organização, ele já é um estado fantástico, onde você tem aí o
terceiro PIB do Brasil, você tem números que são impressionantes. E, se a gente
considerar, numa extensão territorial que não é das maiores!

A SRA. GEIZA ROCHA – E superconcentrada também na Região Metropolitana.

A SRA. WILMA FREITAS - E muito concentrada – você tocou num ponto crítico –
muito concentrada em algumas regiões e pobres, quase miseráveis, em outras, como
o noroeste do Estado.

Então isso aí precisava de um plano, mas de um plano real, com ações concretas,
como o Paulo falou, para um planejamento. De que adianta, como ele disse, você
concentrar a educação superior em quatro grandes segmentos, você concentrar o
ensino técnico praticamente nos mesmos segmentos? Numa região onde você tem,
por exemplo, a piscicultura desenvolvendo, como o noroeste do Estado. Então há
necessidade de um planejamento estratégico, para que esse Estado tenha um
crescimento harmônico. E que essa riqueza deixe de se concentrar na Região
Metropolitana do Rio de Janeiro, que é a grande concentração – agora então com a
vinda do Comperj. Se a gente levantasse todos os investimentos que o Estado do Rio
vai receber nos próximos seis anos e os grandes eventos que serão fomentadores de
emprego e de trabalho – por exemplo, nos próximos seis anos, até 2016, nós temos
um evento por ano de grande porte: a Copa das Confederações, a Olimpíada dos
Militares, as Olimpíadas, a Copa do Mundo – é um ano por ano.

O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES- A Rio + 20.

A SRA. WILMA FREITAS - A Rio +20. Então são eventos que vão mobilizar não só o
turismo, que a reboque do turismo vêm os serviços. O grande empreendedor que tiver
a sua visão lá na frente já está se preparando para isso, porque o turista chega, ele
quer ser bem recebido, ele quer levar uma lembrança, ele quer conhecer a cidade, ele
quer conhecer um pouco mais do que está próximo da cidade. Então são questões
que precisam ser exploradas do ponto de vista político, mas com ações muito bem
construídas a várias mãos.
Eu acho que isso pode ser um belíssimo projeto, que inclusive já teve um início. Não
sei se o senhor se lembra daquele congresso que foi feito, o fórum que foi feito pela
Faetec, com a participação do Conselho Estadual?

O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES - Foi.

A SRA. WILMA FREITAS - Houve, assim, uma grande discussão: como construir um
planejamento estratégico para o desenvolvimento econômico e, consequentemente,
um desenvolvimento...

A SRA. GEIZA ROCHA - Se não casar essas duas pontas ...

A SRA. WILMA FREITAS - Ficamos nós de um lado, as instituições privadas de outro,


e não nos falamos. As instituições públicas, como a Faetec, que é uma força, os
Centros Vocacionais, um exemplo disso, se nós não sentarmos à mesma mesa,
vamos ter esforços repetitivos na direção, talvez, não de um curso que promova o
desenvolvimento, mas na direção de um curso que tenha uma demanda, é expressivo,
as pessoas precisam ...

A SRA. GEIZA ROCHA - E aí, voltando ao otimismo que o Sérgio colocou aqui no
início, que acho que a idéia de conversar aqui, falar sobre o futuro é justamente
porque a gente está numa fase de otimismo, de muitas coisas acontecendo, de muitas
promessas de desenvolvimento para um longo tempo, como o Sebrae pode participar
desse processo. E mais ainda, para a gente ir para a plateia: de que forma a gente
pode aproveitar todos esses eventos para, daí, fazer um desenvolvimento
permanente, que não fique só ...

O SR. SERGIO MALTA - A gente está trabalhando fortemente, não só a Assembléia


do Rio, mas as de outros estados, para aproveitar todos esses eventos que vão
acontecer, que serão no Rio, mas também a Copa do Mundo, por exemplo, vai se
realizar em doze cidades, para tentar fazer com que se deixe um legado do ponto de
vista do empreendedorismo. A gente vai ter uma oportunidade enorme, porque, do
ponto de vista midiático, os eventos vão acontecer, centenas de milhares de empregos
poderão ser criados. Existe uma discussão, inclusive, uma missão foi à África do Sul,
para ver como isso acontece. A FIFA quer manter muito os patrocinadores,
simplesmente, eles querem estar onde os pequenos empreendedores também,
possam participar dessa riqueza que vai se criar. E é assim que eles estão
trabalhando, se preparando para todos esses eventos.

Agora, queria fazer um comentário, acho que além do planejamento estratégico, e isso
de certa maneira, até a Federação da Indústria fez isso num documento Decisão Rio,
que é um levantamento das profissões em quantidade e qualidade que serão
necessárias nos próximos anos. Esse planejamento estratégico tem que ser
acompanhado de ações concretas com o municipal até de indução financiada. Hoje,
eu sei, mais ou menos, que vou precisar de 500 engenheiros, mil soldadores, 20
físicos. Agora, como é que a gente vai fazer com que essas profissões, essas
competências se criem, sejam educadas e estejam disponíveis na hora necessária. Aí
é necessário induzir. Quer dizer, hoje, a educação, o problema da oferta e demanda
no mercado de trabalho é resolvido pelo mercado. A educação é um serviço muito
nobre para deixar à mercê do mercado. É necessário não só a regulação, mas a
intervenção do estado, para que isso.

O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES - Você quer ver um exemplo disso que o Sérgio
acabou de colocar. Houve duas ações muito simples, aliás, uma ação muito realizada
em conjunto pela Secretaria de Ciência e Tecnologia e pela Secretaria de Educação.
O Conselho Estadual de Educação aprovou no CVT no Centro de Vocação
Tecnológica, que fosse oferecido em simultaneidade a EJA, o que é a EJA –
Educação dos jovens e adultos. Exatamente, por causa desse levantamento que nós
fizemos. Então, nós temos um problema de escolaridade. Então, não adianta um
Centro de Vocação Tecnológica, você estar formando o indivíduo como um bom
soldador, um bom instrumentador, se ele não tem a escolaridade. Em educação de
jovens adultos que é um programa que se pode oferecer na modalidade à distância
com o apoio do CDERJ e da própria FAETEC, abre as portas para isso.

Então, a Secretaria de Ciência e Tecnologia colocou, houve resistência, muita


resistência. Quando o Secretário colocou esse assunto, as conversas tiveram que se
realizar para as pessoas entenderem, porque sempre acham: não, isso é uma maneira
de criar um facilitário. Não é um facilitário. É aquele caso de inovação disruptiva, do
Christensen. Você começa com um determinado nível para você ir melhorando as
coisas e chegando num padrão de exigência muito maior. Não é isso? A mesma coisa,
a gente não pode esperar que nós consigamos formar todos os prêmios Nobel que
nós precisamos formar. Não formamos nenhum até hoje. Esse é que é o problema.

Agora, nós precisamos formar técnicos. O Sergio falou aí uma coisa fundamental.
Quer dizer, nós temos aí centenas de milhão, nós estamos formando 30 mil médicos e
dez mil doutores. Aí você pega um quadro que o Ministério da Ciência e Tecnologia
fez ano passado, muito interessante; 65% da nossa inteligência, dos nossos PhDs
estão dentro das universidades, e apenas 27% na indústria. Você vai à Coreia, são
58% na indústria, o resto na universidade e no governo.

A SRA. GEIZA ROCHA - Mas enquanto a gente não entender que a educação é o
vetor e que isso se resolve. Fica muito complicado avançar.

O SR PAULO ALCÂNTARA GOMES - Mas aí a gente tem que abrir mão de


determinados preconceitos e princípios. A gente tem que entender que não vamos
conseguir formar, com uma legislação muito inflexível e muito utópica, aquilo que nós
precisamos. É preciso ser um pouco chinês, nós temos que dar o primeiro passo.
Quando a gente der o primeiro passo, o segundo passo vai ser melhor, o terceiro vai
ser melhor, talvez, a gente não consiga formar os melhores professores do mundo, por
exemplo, aplicando o Artigo 47, mas vamos diminuir sensivelmente a pressão. Quando
digo isso eu sei que muita gente resiste ao que eu penso, é normal. Mas acho que a
gente vai ter que quebrar certos princípios. Por exemplo, é melhor ter um EJA dentro
de um CVT ou exigir de um estudante três anos que ele nunca vai fazer? Para mim, é
melhor ter o EJA, porque eu vou criando a cultura da necessidade da educação.
Então, eu acho que alguma flexibilização tem que acontecer. Não é possível a gente
continuar, por exemplo, com a falta de mobilidade entre os cursos. Esse é um
problema sério, não tem muito a ver com a discussão aqui, mas acaba tendo, a falta
de mobilidade que eu tenho entre os cursos de graduação, porque as estruturas
curriculares são muitas vezes distantes e compartimentadas. Aí eu entro num curso de
engenharia. Por que a evasão no curso de engenharia é muito grande, e no curso de
medicina é zero? Uma razão muito simples. Porque no primeiro dia de aula na
medicina, se o Sérgio resolver estudar Medicina, ele vai entrar na faculdade de jaleco
branco, calça branca, todo de branco, já se sentindo um profissional e vai para um
laboratório de anatomia fazer a dissecção de um cadáver – ele vai lidar com o que ele
vai evitar em sua vida profissional.

Se eu entro num curso de Engenharia, eu vou ter um curso de Física, Matemática e


Química, de modo geral essa é a estrutura das universidades, no máximo, vou ter
introdução à Engenharia, e os nossos projetos pedagógicos não têm, por exemplo, o
que os americanos chamam de hands on, ou mão na massa, para poder desenvolver
um produto que seja o de utilizar aquilo na Engenharia, aí a pessoa se desmotiva,
sentindo-se um pouco um peixe fora d‟água e acaba procurando outra profissão, ou
acaba tendo um péssimo desempenho.

Essa mudança na estrutura curricular, essa mudança na concepção pedagógica hoje é


fundamental, mas fica restrita à flexibilização que é imposta, não pelos governos, mas
pela prática que o Brasil tem, excessivamente credencialista – e a gente não leva isso
em consideração. O Sérgio morou na França muitos anos e deve se lembrar que
houve uma época, na França, que havia um título chamado Docteur d‟Université, que
não era um doutor de Estado, em francês, um super PHD, considerado mais
importante do que um PHD Inglês. Não era, o Docteur d‟Université era dado, às vezes,
para um técnico de nível médio, que era considerado bom e ganhava um diploma de
doutorado. Era aferir ao saber as competências e habilidades e dar uma titulação.

Quando eu fui reitor da UFRJ, eu tive vários problemas com pessoas, que não cito,
naturalmente, que não tinham diploma superior e eram professores da UFRJ, para
muita honra da universidade, e um deles queria fazer o doutorado e não tinha diploma
de nível superior. O Conselho de Ensino e Pesquisa da universidade, na época,
aprovou e esse professor é brilhante, um dos melhores cientistas que temos na área
dele, uma pessoa extraordinária e que não tinha um diploma de nível superior. Falta,
às vezes, a nossa argúcia, a nossa flexibilidade para enfrentar o novo com alguns
procedimentos. Não temos, às vezes, coragem para isso e nos sentimos tolhidos pelo
que eu chamaria do entulho burocrático de legislação educacional que temos no país,
de décadas e décadas, que se contrapõe, que diverge e que gera um problema.

A SRA. GEIZA ROCHA – Fica muito na discussão, mas acabam perdendo a visão do
que é prático.

O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES – Muitas iniciativas e poucas terminativas, no


fundo é isso. E tem mais um problema, quer dizer, o que aconteceu com o Sistema A
Segurança o ano retrasado e ano passado? De repente, gerou-se uma imagem que o
Sistema A S estava usando dinheiro dos tributos para fazer alguma coisa.

Eu vivo me perguntando se alguém tem curso de pedreiro em alguma escola


fundamental da Zona Oeste do Rio de Janeiro. O menino que está lá e que depois não
tem maiores perspectivas, será que não deveria ter um curso de pedreiro na escola,
junto com a Matemática, Linguagem, Português, a História e a Geografia? Um curso
de bombeiro, de soldador? Será que isso não deveria fazer parte? Só o Sistema S que
pode fazer isso.

A SRA. GEIZA ROCHA – Eu só queria, para a gente poder partir...

A SRA. WILMA FREITAS – Eu só queria fazer um pequeno comentário. Acho que a


Espanha deu um grande salto nessa direção. A Espanha hoje trabalha com essa
perspectiva da Educação Profissional, com dupla certificação. Então, se tem níveis de
competência, que correspondem a níveis de escolaridade. Então, se eu vou fazer um
curso para cozinheiro, que é de educação profissional, o mais simples possível, ele
tem um nível na escala que quando eu concluo o curso a certificação da escolaridade
sai junto, porque a Espanha, como nós, tem um grande contingente de jovens e
adultos que foram, como eu disse antes, expulsos da escola e que precisavam
resolver esse problema porque senão, não teriam acesso ao mercado.

O EJA pode ser a grande saída, desde que acompanhada com a educação
profissional. E feita numa matriz integrada, porque não adianta eu ensinar matemática
sem estar no contexto de um trabalho.

O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES – Exatamente. Outra coisa, o pedreiro, na


escola da criança, na escola primária – gosto muito do nome escola primária porque
foi a que estudei.

A SRA. WILMA FREITAS – Eu também fui para a escola primária, não posso falar
nada.

O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES – Então, nós três aqui somos bi-seculares.
Somando os três, deve dar quase dois séculos.

Na verdade, essas habilidades, como a do pedreiro, você tem que ensinar essas
habilidades, essa prática profissional. Nós abandonamos isso na história do Brasil, e
isso é fundamental. Você falou aí da Espanha, nós temos hoje os BRICS, mas nós já
temos os FICS, que é Finlândia, Irlanda, Coréia e Suécia. O que a Irlanda fez? A
Irlanda era a maior produtora de batatas do mundo. Hoje, a Irlanda, com o Programa
de Certificação de Habilidades e Competências, de educação profissional, de
entendimento de que a educação superior não é uma coisa formal ou credencialista;
ela criou um lema que era: “From potato to chips”, que é uma brincadeira, porque o
chip potato é uma batata, mas o chip daí é o chip do computador. E se transformou no
maior produtor de inteligência na área da computação. Quer dizer, a Irlanda está numa
crise econômica? Está. Mas ela vai sair dessa crise. A Finlândia está aí a telefonia
celular mostrando; a Coréia eu não preciso falar e a Suécia também, na mesma linha.

Então, esses FICS hoje se contrapõem aos BRICS porque eles têm uma coisa que
nós não temos, que é tudo isso que você acabou de falar. Quer dizer, nós não
conseguimos criar mecanismos. Quer dizer, por isso que eu tenho uma enorme
admiração. Quer dizer, está quase no nível do Fluminense com o sistema “S”. (Risos)
Os dois estão no meu coração: o sistema “S”, são três. Eu tinha um professor na
escola de Engenharia, o Sidnei Martins Gomes dos Santos, que dizia o seguinte: “Uma
coisa que a gente sempre tem que levar como se fosse a cristaleira da nossa família,
aquela cristaleira que você tem em casa, que foi da sua avó, que tem lá aquelas taças
de casamento da sua bisavó – e muita gente tem isso em casa, é verdade -, a nossa
cristaleira nacional é um negócio chamado Petrobras”. Ele dizia isso pra gente. Eu
aprendi isso e hoje eu tenho certeza. Só que na minha casa tem mais duas
cristaleiras, que são o sistema “S” – o Fluminense nem fica tanto -, e o terceiro e a
reforma da educação superior, para que ela vire, de fato, um móvel importante, o que
nós não estamos conseguindo fazer. Quer dizer, esse é o problema.

A SRA. GEIZA ROCHA - A gente não pediu pra ninguém fazer a pergunta porque é
importante que todo mundo participe, levante, fale seu nome, a instituição a que
pertence e aí faça então a pergunta.

O SR. RUI SANTOS – Bom dia, sou Rui Santos, da UERJ. Acho que tudo o que foi
colocado aqui nos leva sempre àquela situação de angústia. Nós temos uma perfeita
dimensão dos problemas, quer dizer, o diagnóstico é sempre muito claro, e há sempre
uma grande dificuldade em como fazer acontecer ou como produzir as soluções para
isso.

Inegavelmente, temos, nos últimos anos, uma feliz confluência de entes que, por
muitos anos, com o processo absolutamente absurdo em nosso país, estiveram não
só distante, mas muitas vezes estiverem em conflito. Era, por exemplo, para a
universidade, quase uma heresia qualquer tipo de aproximação com o setor produtivo.

O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES - É verdade.

O SR. RUI SANTOS – Isso veio, ao longo do tempo, sendo vencido e hoje, felizmente,
temos essa aproximação. Ainda é algo bastante tímido para aquilo que os senhores já
colocaram aqui, como necessidade pro país, mas de qualquer maneira, já é um
grande passo; um primeiro passo talvez.

O tema é muito oportuno: Educação e Empreendedorismo. Quer dizer, não há


empreendedor, de fato, que não tenha, na verdade, uma boa base de formação e
meios para fazer isso. Por muito tempo, o Brasil teve muito “empreendedoido”, porque
era uma aventura, na verdade, porque esses cipoal de legislação, com toda essa
restrição na nossa formação.

Acho que a questão do papel da universidade, embora não seja protagonista


necessariamente, mas é, sem sombra de dúvida, um ponto fundamental pelo que ela
irradia para os vários entes e para os vários níveis.
O Paulo tocou num ponto que também me angustia ao longo desses anos todos, que
é a LDB. Porque se não é propriamente a panaceia, ela permitiu ou possibilitou que a
universidade se redesenhasse. E a universidade, infelizmente, se mostrou como,
talvez, como um dos mais reativos setores da sociedade mais conservadores que nós
temos.
E, por exemplo, do ponto de vista de rapidez na mudança do perfil de profissional que
você está colocando, as diretrizes curriculares trouxeram a possibilidade de você ter
cursos com terminações especializantes, quer dizer, sem grandes parafernálias legais
no interior da universidade você poderia estar hoje com um processo muito mais
flexível e, no entanto, eu me lembro que, por exemplo, lá na UERJ isso foi algo
extremamente combatido porque aproximava muito, a universidade se subordinava
aos interesses de mercado.
Bom, em síntese, dirigido ao Paulo, mas na verdade aos três debatedores, eu penso
que um caminho talvez para nós começarmos a romper com essa reação da
universidade seria provocar a partir da comunhão desses entes todos, uma discussão
séria dentro da universidade para pelo menos, ela dar vazão às possibilidades que a
LDB nos traz e que me parece nunca foram consideradas. Então, em vez de uma
grande revolução mudar tudo. Começarmos na verdade por aquilo que está aí
colocado e, no entanto, jamais se viu aplicado naquilo que talvez lá os idealizadores,
as pessoas que pensaram projetaram. Obrigado.
A SRA. FABIANA LEITE – Eu sou Fabiana, analista da área de políticas públicas do
SEBRAE Rio.
Eu queria dirigir a pergunta aos outros dois debatedores, porque na verdade a opinião
do nosso diretor superintendente eu já sei. Eu queria saber como é a avaliação que
vocês fazem da educação empreendedora na gestão pública? Qual é a necessidade e
o que mais pode ser feito no âmbito da disseminação do empreendedorismo para que
os gestores públicos pautem cada vez mais a questão da micro e pequena empresa,
da cultura empreendedora e da inovação nos seus projetos de desenvolvimento
estadual e municipal?
A SRA. GEIZA ROCHA – Só aproveitando aqui que estão pertinho...
O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES – Não pode fazer muito, porque senão a gente
esquece as perguntas...
A SRA. GEIZA ROCHA – Só quatro e a gente volta.
O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES – É porque eu já estou em estado terminal.
(Risos)
O SR. José Alberto Aranha - Eu sou da PUC do Rio de Janeiro, Instituto Gênesis
– Só para complementar porque eu acho que o painel foi muito bom, foi bastante
extensivo, o aspecto, que a gente tá falando de cultura, cultura empreendedora. Na
realidade, é uma atitude e um comportamento. E isso, então, nos leva ao problema
dos pais, em relação à educação antes da própria educação formal. Como é que a
gente pode trabalhar isso? Porque eu já ouvi um pouco sobre o problema da mídia,
sobre a importância agora da política pública, mas como a gente pode mudar a cultura
em termos de transformar os indivíduos em indivíduos ativos e não passivos na
sociedade, quer dizer, quando aqueles nenezinhos começam a tratar o problema da
inovação, do problema da superproteção, então esses problemas básicos que seriam
das atitudes do comportamento.
O SR. ARMANDO CLEMENTE – da Rede de Tecnologia do Rio de Janeiro.
A gente vem discutindo, e aí, pelo menos vai tangenciar o que o Rui falou no início, é
que a gente está aqui com três instituições da área de educação. Tem ações
importantes, mas são ações paralelas. Essas ações não têm interseção. E aí o que
seria interessante? Paulo tocou no assunto do triângulo eqüilátero, da igualdade
desses lados desse triângulo, e o que a gente vê muitas vezes são essas ações
paralelas, elas tem superposições, inclusive de ações, onde você, de certa forma,
perde em agilidade do processo da capacitação dessas pessoas.
Como é que a gente poderia fazer uma ação concreta onde essas três grandes
instituições trabalhassem juntas no conjunto do sistema de educação, pelo menos do
Rio de Janeiro?
O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES - Essa colocação do Rui é uma coisa
extraordinária, porque eu costumo dizer que o Brasil é o país das reformas
inacabadas. Quer dizer, o que aconteceu? Eu não vou tão longe, mas vou na reforma
do Francisco Campos, do primeiro governo provisório de Getúlio em 31. Ele escreveu
um livro sobre a reforma da universidade brasileira, que naquele momento era a
UFRJ, nem a USP existia. Ela foi criada em 1920 como Universidade do Rio de
Janeiro, virou, em 1935, Universidade do Brasil, e depois voltou, por causa do Tarso
Dutra, não o Tarso Genro, o Tarso Dutra, em 1965, como Universidade Federal do Rio
de Janeiro. Mas, então, em 31, ele escreveu um livro sobre a reforma da universidade
do Brasil. Era basicamente aquela USP do Armando Sales criada em 1934, depois da
revolução paulista. Eu fui membro do Conselho Nacional de Educação e uma vez eu
fiz uma brincadeira, eu sou muito irreverente, fiz uma brincadeira de mau gosto.
Peguei trechos do livro dele e distribuí para os colegas do conselho, por exemplo,
sobre o ensino de medicina e engenharia. E recebi palavras elogiosíssimas; “olha, nós
precisamos fazer isso”. Aí eu expliquei; olha nós estamos em 1990, na década de 90,
e isso deveria de ter sido feito em 1931. Aí, quando chegou em 1946 houve uma nova
constituição, e aquela reforma de Francisco Campos não tinha sido sequer iniciada.
Aí veio a nova LDB, que só foi promulgada em 1961. E aí começamos a cumprir a
LDB de 1961.
Em 1968, já no regime militar, veio a famosa Lei 5.540, e, depois, a Lei 5.692, do
ensino médio, que mudou tudo e nós não cumprimos a LDB de 1961. Aí, quando
chegou em 1988 nós promulgamos a constituição e em 1996 aprovamos a nova LDB,
que não foi cumprida, e em 2006 o Ministro Fernando Haddad colocou para o
Presidente Lula o Decreto Comte, o 5.773, que mudou completamente a estrutura,
houve a reforma das diretrizes curriculares, e, mais uma vez nós estamos
ultrapassando a reforma, a LDB, sem que tenhamos cumprido metade do que estava
escrito.
Então, o Brasil é o país das reformas inacabadas. Quer dizer, nós fazemos a reforma
e não conseguimos construir. Por quê? Porque nós fazemos reformas muito
detalhadas e exaustivas, e que rapidamente perdem consistência pelos avanços da
ciência e da técnica. Eu acho que isso tem que ser enfrentado. E há nas universidades
um movimento... Existe um livro chamado “Dançando com o Diabo”, que foi editado
por um ex reitor, um reitor emérito da Universidade de Michigan, muito interessante. O
que ele diz é o seguinte. Olha, trabalhar em uma universidade, dancem com o diabo,
mesmo, porque a cada momento as coisas se modificam. E a existência corporativa é
brutal.
Então, você observa o seguinte. Por que as universidades públicas resistem aos
cursos de tecnólogos? Você sabe que na lei dos tecnólogos, e você sabe disso muito
melhor do que eu, existe um processo que você pode certificar, você é obrigado a
certificar, ao final de determinados períodos. Foram criados os curso sequenciais que
de repente perderam valor. Quer dizer, o Darcy criou lá, estão criados os cursos
seqüenciais, que seria a certificação de saberes que daria ao indivíduo a possibilidade
de ingressar no mercado, e de repente desapareceram do mercado, desapareceram
do sistema. Por quê? Porque a certificação de saberes, o sequencial, são dois
modelos, tem um de certificado e um de diploma, o sequencial de diploma não dava
direito a fazer o mestrado. Então, todo mundo preferiu passar a fazer o tecnólogo.
Essas coisas nós não conseguimos resolver. E há uma resistência enorme no
processo, uma resistência brutal que nós não conseguimos equacionar.
A questão que o Aranha colocou, eu estava vendo, ali ao lado do Rui está o César
Kinrszenblatt, ele foi a uma conferência na Associação Mundial de Parques
Tecnológicos, e é uma conferência daquele Pietro Fórmica, um italiano, e ele definiu o
empreendedor como alguém capaz de materializar uma idéia, saber convencer os
sócios parceiros, colaboradores e eventuais investidores de que sua idéia poderá
conduzir a uma situação confortável no futuro. Além de energia e perseverança, uma
grande dose de paixão é necessária para construir algo a partir do nada e continuar
em frente, apesar de obstáculos, armadilhas e da solidão. E uma coisa do Dolabela, o
empreendedor é alguém que acredita que pode colocar a sorte a seu favor por
entender que ela é produto do trabalho duro. Eu acho que isso é a cultura do
empreendedor, é você chegar para o professor na escola primária, no ensino básico, e
dizer a ele: “Olha, você tem que passar essa idéia para os seus meninos. Se você não
fizer isso, você não vai enfrentar nada absolutamente. Não vai conseguir chegar a
bons resultados.” Então, a política, a cultura do empreendedorismo começa com a
formação para o empreendedorismo. E aí vem a coisa que o Armando colocou. Como
é que você junta o sistema S e as instituições de ensino? Gerando a cultura do
empreendedorismo. Há exemplos muito bons. O Sérgio citou vários exemplos aí, mas
tem um estudo de caso lá que é liderado pelo César e que tem sido fortemente
estimulado por ele, que é exatamente você estimular, você identificar os casos de
sucesso na micro e pequena empresa. Lá na PUC você tem o Aranha e tem o Cesar
Salim, que também trabalha nesse processo. São coisas importantíssimas e que
merecem passar para a opinião pública como instrumento de divulgação. Agora quem
divulga tudo isso no país? Volto à novela das 20h. É a imprensa. Nós temos que
chegar nos jornais de grande divulgação. Por exemplo, se nós tivéssemos no jornal, a
Folha Dirigida está fazendo 25 anos. Estou propondo que a gente dê um prêmio à
Folha Dirigida, crie um prêmio que eu vou propor no Conselho Estadual de Educação
semana que vem. Esse programa vai ao ar quando?
A SRA. GEIZA ROCHA - Ainda não tem data.

O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES - Ainda não tem data. Provavelmente já terá ido
ao ar. Eu estou propondo ao Conselho Estadual de Educação a criação de um prêmio
à Folha Dirigida, bodas de prata com a educação brasileira. Eu acho que nós podemos
ter, por exemplo, em jornais como a Folha Dirigida, um encarte de empreendedorismo
que seria semanal, ou seria quinzenal, e que traria as idéias que são colocadas, para
que nós pudéssemos modificar essa resistência que o Rui falou, porque esse é um
problema. Nós estamos nos transformando, eu me sinto às vezes, costumo dizer o
seguinte: se você tem um problema e não tem a solução, se você traz um problema e
não traz a solução, você virou parte do problema. Nós precisamos tomar cuidado para
parar de identificar problema sem trazer soluções. É melhor a gente colocar nossas
soluções com convicção, com sinceridade, porque elas podem até não ser aceitas,
mas elas podem dar a partida para uma discussão, e daí surge a discussão. A gente
aprendeu isso já em 1917, quando a gente sabia que é da divergência que surgem as
soluções, e unanimidade não é unidade. A gente busca a unidade, não busca a
unanimidade. A gente tem que tomar muito cuidado com isso.

A SRA. GEIZA ROCHA - Tenho assistido a uma retomada da discussão sobre a


educação, mas durante muito tempo os jornais ficaram alheios à discussão. A gente
via matérias falando da dificuldade da matrícula, toda época de matrícula nas escolas,
e depois você não tinha nenhuma discussão sobre a metodologia de ensino, o papel
do professor. Isso ficou meio...

O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES - Estão faltando propostas. Eu acho que nós
precisávamos ter um pouco mais de coragem e colocar propostas estruturantes que
modifiquem o cenário. Essa, por exemplo, do artigo 47, no meu entender, é uma delas.
A outra é das novas tecnologias de educação à distância, para discutir para valer se o
modelo que o Brasil está adotando é um modelo factível, porque não adianta nada
você falar em tutoria presencial num município que não tem professor, não adianta
nada você falar também em tutoria à distância se você não tem facilidade de banda
larga. Essas coisas têm que ser discutidas e têm que ser resolvidas.
A SRA. WILMA FREITAS - Mas olha só, Paulo. Eu acho que a gente pode juntar as
quatro questões centralizando aqui na última pergunta. Que ações? A questão do
empreendedorismo dentro do setor público pode ser tratada também no cerne de uma
ação concreta. Eu acho que nós precisamos sentar, e sentar, como você falou, com
seriedade, com compromisso, com comprometimento, para definir ações, e definir de
uma forma compartilhada. Não adianta o sistema S começar seu trabalho, por
exemplo, oriundo daquele protocolo assinado lá em 2008, nós temos hoje aí, que será
lançado brevemente, um grande programa de bolsas. Serão 35 mil bolsas, como o
Sérgio colocou aqui, gratuitas ou com grandes descontos para acesso da população à
educação profissional. É uma ação consistente? Ela é forte? É, mas imagine isso
trabalho numa perspectiva maior; imagine isso tendo o braço da Genesis, que eu
conheço tão bem, sou uma admiradora em profundidade da Genesis, como eixo
articulador de um pensamento desse, trazendo a questão da empresa baby, da
empresa júnior como estratégia de aprendizado entrar num projeto como esse.
Imaginem isso pensando na grande direção do Estado do Rio nas suas oito grandes
regiões administrativas trabalhando numa perspectiva de metas de médio e longo
prazos e desenvolvimento, crescimento e educação.

Acho que nós somos forças represadas e gigantes e que podemos mudar o nosso
estado.

A SRA. GEIZA ROCHA – Mas para isso é preciso começar a construir essas pontes.
Não é?

A SRA. WILMA FREITAS – Mas temos começar com coisas concretas. Aí, eu vou
espetar o pau de novo. Um tempo atrás ele falou Dilma, seria muito bom se o
Conselho Estadual tivesse um grupo.

O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES- Não foi há tanto tempo assim. Foi há quatro
meses.

A SRA. . WILMA FREITAS – É. Quatro meses, não é? Um grupo de trabalho que


pudesse pensar, ajudar o Conselho a caminhar, pois são muitas as questões. Mas por
que não instituir ou junto à própria Alerj ou junto com o apoio do Conselho Estadual
um grande fórum em prol do desenvolvimento econômico, um fórum permanente, mas
com ações concretas. Aqui nós estamos no nível da discussão. Eu quero trazer isso
para o nível do agir.

A SRA. GEIZA ROCHA – Nós passamos seis meses na Câmara Setorial de Serviços
Públicos do fórum debatendo a aplicação da tecnologia na educação para o
desenvolvimento. Foram apresentados os projetos de educação da Firjan, da
Fecomercio. Quer dizer, o sistema Fecomércio através do SENAC, SESC, enfim,
como é que eles trabalham as tecnologias no aprendizado. A partir dessa discussão
que foi gerada, a partir dessas apresentações fizemos uma carta aberta que está no
Caderno de Atividades que todos receberam aqui.

A UERJ já fez uma proposta de se criar um sistema colaborativo, de todos os


participantes do fórum para a gente começar a discutir mais amplamente. Acho que
casa perfeitamente com essa proposta.
O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES – Você me desculpa, mas eu acho que a gente
tem que seguir um pouco a linha do Rui num negócio. A gente tem que propor
soluções que sejam ... a gente tem que colocar um velho lema da minha avó. Colocar
o chapéu onde a gente alcança. Então, a gente tem que começar com projetos de
pequeno ... vou dar um exemplo. Um exemplo muito interessante que acho ser de
consenso público. O Brasil tem algumas centenas, acho que milhares, um milhar e
pouco de faculdades de Direito. É público e notório que os índices de aprovação dos
cursos de bacharéis na OAB são baixíssimos. A maioria das escolas está formando,
está aprovando 8%, 10%. Por que, então, as pessoas fazem Direito? As pessoas
fazem Direito por 2 razões. Primeiros, porque elas querem um diploma de nível
superior para fazer um concurso para o serviço público. Vou responder à sua
pergunta. Em segundo, porque elas colocaram na cabeça que o diploma de bacharel
em Direito dá um certo status social.

Acho que nós cometemos um erro dizendo assim: nós vamos fechar os cursos de
Direito porque estamos oferecendo meia solução. Nós temos que criar uma outra
solução. Se essas pessoas querem um diploma de nível superior para exercer coisas
ligadas à área pública, nós deveríamos ter dois tecnólogos. Um tecnólogo seria de
gestão municipal onde eles vão aprender a lei de IPTU, a lei de ISS, relações
interpessoais, empreendedorismo, a organização do serviço público, ainda a lei 8666
que não morre. O mundo muda e a lei ... é uma coisa interessante. O mundo gira, a
lusitana roda e alei 8666 continua aí.

Então, essa é uma questão fundamental. Nós formamos o gestor municipal. Nós
teríamos uma nova entrada. E a outra é forma o gestor de organização jurídica, que é
o escrevente de cartório, é o escrivão de Polícia, é o funcionário público que vai
atender na Secretaria de Fazenda, que vai despachar, aquele que vai fazer a
tramitação do processo dentro do juízo.

Quer dizer, são cursos de três anos que poderão gerar uma enorme potencialidade de
absorção de mão de obra e resolverão o problema dos cursos de Direito.

A SRA. GEIZA ROCHA– Nesse ponto o papel do SEBRAE é superimportante na


medida que estimula isso, a formação de quem está hoje na ponta da gestão das
políticas públicas.

O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES – Mas a gestão das políticas públicas no Brasil é
tratada com o nível de MBA. Quer dizer, raríssimas exceções...

A SRA. GEIZA ROCHA - Mas eu acho que a própria dificuldade de você trabalhar
hoje, você não tem um contingente tão grande assim fazendo MBA que está
trabalhando ali na ponta. Então, o SEBRAE tem participado muito.
O SR. SERGIO MALTA - É verdade, o nosso programa aqui no Rio, o Lidera Rio é um
programa que visa abrir os olhos do gestor público para que ele possa criar um quadro
na sua cidade, um quadro tributário, um quadro legal, um quadro em que as pequenas
empresas possam nascer, florescer, se desenvolver. Porque no passado o gestor
público, o prefeito daquela cidade ele se preocupava com a pavimentação das ruas,
educação e saúde. Hoje, a compreensão é cada vez maior dos dirigentes públicos de
que é necessário, em nível de prefeitura, se troque o desenvolvimento econômico. E o
desenvolvimento econômico das grandes cidades se dá principalmente através
daquelas empresas. Então, esse programa que nós temos é no sentido de ele abrir
espaço para o empreendedorismo na sua cidade. Eu queria aproveitar para tentar
responder as perguntas, sobre a questão da resistência da universidade a se abrir
com a sociedade, a se abrir enfim, para o sistema produtivo. Eu acho que o sistema
produtivo tem mudado muito no Brasil. Existe hoje no Brasil talvez uma centena de
parques tecnológicos nas universidades cada vez mais tem incubadoras, têm 60
parques tecnológicos.
O SR. PAULO ALCÂNTARA - E quase 500 incubadoras, o resto é tecnológico.
O SR. SERGIO MALTA - o Aranha é o protagonista nesse movimento no Brasil,
nunca se teve tanto dinheiro para inovação e tecnologia como hoje no Brasil. A
discussão agora dos fundos do pré-sal, essa riqueza enorme que o Brasil vai retirar do
fundo da rocha, tem três ou quatro prioridades. Uma delas é a inovação e tecnologia.
E inovação e tecnologia que será feita através da interação universidade e sistema
produtivo. Eu acho que a gente está caminhando talvez não na velocidade que possa
extinguir totalmente nossa angústia, agora você usou na sua introdução à pergunta,
mas acho que a gente está aumentando essa velocidade. Essa sua pergunta, Aranha,
sobre a questão dos pais também como indutores ao empreendedorismo junto com a
escola e com a empresa, veja bem, no Brasil tem 20 milhões de famílias cujo... não sei
se o chefe de família ou mais, tem ali na família um sujeito que é dono do seu próprio
nariz. E até um exemplo que se dá à criança o melhor caminho. Então, já tem esse
capital enorme de experiências que mostram às crianças esse caminho. Além disso, é
importante que a educação formal também, a estrutura de ensino tanto pública quanto
privada possa apropriar dessa grade de ensino que o SEBRAE coloca à disposição de
qualquer escola que queira se apropriar dela, e é importante também juntar isso.
Em relação à sua pergunta, Clemente, eu acho o seguinte, na prática isso acontece,
de maneira ainda particular, não universal. Mas por exemplo, o arranjo produtivo que
o Paulo Alcântara citou lá de Friburgo. Nós temos uma governança que para o
SEBRAE que tem a sua missão, tem suas tarefas, as suas competências, que inclui o
SENAC que está presente, inclui o SENAI, inclui as universidades privadas que tem lá
que é a Cândido Mendes, faz parte junto com a prefeitura, e a UERJ também. Então,
pontualmente isso já existe. É claro que se a gente pudesse fazer isso num nível mais
elevado, pudesse coordenar todas as ações, seria importantíssimo, mas a iniciativa do
Fórum de promover esse debate e além disso,os cadernos, é uma reflexão que
certamente acho que está vocacionada a termos um organismo, não sei se
permanente ou temporário, para podermos enfrentar esse desafio. A pergunta da
Fabiana, eu deixo para você responder.
A SRA. WILMA FREITAS - Pois é, Fabiana, eu acho que é um pouco do que o Sérgio
acabou de falar, a gestão pública precisa se profissionalizar. E acho que o grande
caminho é começar com o desenvolvimento das pessoas pela perspectiva
empreendedora. É entender que ele ali não é um funcionário público que de uma
determinada época para cá, começou a se tornar um chavão assim de lentidão,
processo burocrático. Ele ali é alguém que está prestando um serviço à sociedade. E
nessa perspectiva ele tem de ser pró-ativo, ele tem de dar respostas, ele tem de
buscar resultados e ter agilidade na sua atuação. Então é fundamental que o setor
público se profissionalize. Porque não é porque ele passou por um concurso público,
que recebe o seu salário ao final do mês e tem uma aposentadoria assegurada, que a
vida dele parou. Na verdade, ele precisa é cuidar das vidas que vêm até ele e que
precisam do trabalho dele. Então, é essa a perspectiva que eu vejo que tem que ser,
cada vez mais, olhada, principalmente agora nesse momento que a gente está aí de
mudanças políticas, mudanças e eleições, acho que precisamos profissionalizar
primeiro aqueles que são candidatos ao cargo, para que eles profissionalizem por sua
vez a sua gestão, através dos seus colaboradores e funcionários.
Nós não temos no Brasil curso para político, aliás, não temos não, temos algumas
iniciativas como sendo, eu gosto do Sérgio que é muito otimista, e perseguir isso é
muito importante. Profissionalizar os candidatos é a primeira perspectiva que eu vejo
que pode acontecer. Existem algumas iniciativas Brasil afora, alguns partidos cuidam
disso. Nós precisamos cuidar com mais profundidade, não adianta só o discurso, é
preciso ter uma prática empreendedora e trabalhar nessa perspectiva.
Eu queria resgatar aí com você um pouquinho a questão de como fazer isso, até por
que isso me toca profundamente, porque foi uma realidade que eu vivi. As mudanças
culturais, como a educação, são cíclicas. Isso vai acontecer no menor tempo possível,
porque os 20 milhões, como Sérgio falou, estão aí. O Gênesis está aí trabalhando com
esse trabalho maravilhoso e fomentando novos negócios. O que a gente precisa é
multiplicar Gênesis, e esse eu acho que é o grande desfio. Que as próprias escolas,
as próprias instituições consigam trazer para dentro do seu escopo de trabalho,
Gênesis, porque só assim que se vai mudar a cultura. Se você não tem o exemplo a
ser seguido, a televisão ajuda, não vamos dizer que não ajuda porque ajuda e muito,
ela é uma forte colaboradora de criação de cultura, moda, cultura, design, a televisão
faz isso, mas é o grande exemplo que arrasta.
Então, com a sua ajuda, criar novas Gênesis, por esse Estado do Rio de Janeiro afora,
para a gente chegar lá.
A SRA. GEIZA ROCHA - Sobre essa questão da educação, da formação do político, a
própria Assembléia Legislativa, reconhecendo essa necessidade, criou a Escola do
Legislativo, e tem trabalhado não só para formar o corpo da Assembléia Legislativa,
para trabalhar com os Deputados, mas também as Câmaras Municipais.
O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES – Mas você sabe que boa parte dos Deputados
da nossa Assembléia passou pela Escola de Políticas Públicas da UFRJ, nos anos 90.
A iniciativa foi até de um ex-Deputado, o Luiz Alfredo Salomão, que foi para a UFRJ e
montou a Escola de Políticas Públicas. Como é que aquilo foi montado? No modelo da
Escola John Kennedy de Harvard. A ideia fundamental era você, com um observatório,
não é uma escola para discutir ciências sociais, nada disso, mas para formar políticas
públicas. E isso deu certo durante muitos anos, enquanto o Salomão esteve
funcionando na escola ele fez uma série de projetos, hoje ele levou a escola para a
Cândido Mendes. Hoje, até acho que ele está fora, porque virou Secretário Executivo
daquele Ministério de Assuntos Estratégicos do Planalto. Mas esse modelo, volto a
dizer, estilo MBA.
A SRA. GEIZA ROCHA - Não, não, não.
O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES – Estou falando do modelo da Escola de
Governo, Escola de Políticas Públicas.
Eu sou francamente favorável a que a gente comece a pulverizar a formação, no bom
sentido, com modelos como esse que eu falei. Você criar cursos superiores de
tecnologia em gestão municipal, em gestão pública, nessas áreas, porque esse é o
perfil adequado para você formar uma pessoa comprometida com aquilo.
A SRA. GEIZA ROCHA - No caso específico da Escola do Legislativo, é só
rapidamente, eles formam pessoas, inclusive alfabetizam as pessoas ainda que estão
trabalhando como empresa terceirizada, dentro da Assembléia Legislativa, que não
tiveram oportunidade de terminar o Ensino Fundamental e Médio. Então, é toda uma
formação que começa aí e vai até o MBA, porque também já tem cursos de
certificados de MBA. Ele vai pegar lá desde a base, passa pela educação de jovens e
adultos, e avança nessa questão do MBA para poder formar ali um corpo, e o mais
interessante é que também faz trabalhos itinerantes, quer dizer, não fica só aqui na
capital, no Rio, ele vai fazendo também debates interiorizando essa atividade. Na
medida em que a gente vai avançando não tem como abrir mão dessa discussão.
Passando para a plateia, Professor Geraldo Tavares.
O SR. GERALDO TAVARES – Geraldo Tavares, da UFF, inicialmente queria
parabenizar a Geiza pela escolha dos debatedores. Foi um debate muito enriquecedor
Acho que aprendi muito aqui com todos, com o debate.
Queria falar sobre um ponto que acho básico. Estou na universidade desde 92. Eu era
engenheiro. Também como o Paulo, eu sou velho. Eu não tenho 43, mas tenho 40
anos de formado. Então, uma das grandes surpresas que tive na escola de
Engenharia foi quando eu comecei a dar aula e eu, em 92, vi que estava dando aula
igualzinho às aulas que eu recebi em 66.
O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES – É verdade.
O SR. GERALDO TAVARES – E aí nessa época houve um troço muito estranho,
houve uma mudança na sociedade. Eu gosto de evolução. A gente saiu com a queda
do muro de Berlim da Revolução Industrial para a Era do Conhecimento. Aí eu vejo na
universidade todo mundo, posso falar muito mais na Elétrica, na escola de
Engenharia, todo mundo dando aula usando o paradigma da Revolução Industrial, que
era a linha de montagem. Você preparava um cara para ser obediente, não pensar,
ficar sentadinho quieto no lugar dele ali, e nós continuamos fazendo a mesma coisa. E
mudou. Nós estamos na Era do Conhecimento. Nós precisamos de um cara que seja
criativo, que tenha atitudes, e por aí vai. Aliás, gostei muito da chave.
O grande problema que eu vejo na educação superior, e também na educação do
empreendedorismo é a formação dos professores, que é a coisa básica. Nossos
valores são os valores da Revolução Industrial ainda. E como é que mudam esses
valores em uma universidade? Porque nós até como professores, não é só, como diz
um amigo meu lá, aprendizes de ditadores. (risos) Professor na universidade,
principalmente federal, tem um poder enorme. Não há reitor que faça você mudar sua
opinião ou mudar a sua maneira de agir na sala de aula.
Então como a gente faz? Aí eu tenho uma tremenda dúvida. Não sei. Eu não tenho
projeto ainda. Não sei como fazer. Como é que você faz para treinar os professores,
até na área de Engenharia mesmo? Porque um dos valores que tem para você
transmitir no atual teu curso de Engenharia é o valor de engenheirar?
De 90 para cá, aconteceu uma coisa na universidade que é: os engenheiros saíram da
universidade, porque as universidades não estão contratando mais professores de 20
horas e passaram a ser os doutores. E quando você fala, principalmente não com
doutor, mas com PHD, que é o doutor formado no exterior, aí é um “PHDEus”. Aí o
cara está convencido de que ele não é, que ele não é tecnólogo, que ele é cientista,
porque é um nome muito mais bonito. E também porque a CAPs valorizou dentro da
universidade a produção de papel, o paper. Se você produzir um paper sobre AIDS e
for publicado nacionalmente, você tem muitos mais pontos para sua carreira, para a
sua coleção funcional do que se eu descobrir um remédio que cura para a AIDS.
O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES - Porque é uma coisa mais séria, que é o
seguinte: na minha área, resistência de materiais, os livros-texto que nós podemos
adotar são do Chames, do Popov, do Merian e por aí vai. Eu não conheço livro do
Sergio Malta ou da Wilma de resistências de materiais, se eles fossem da área. Ou
seja, o estímulo à produção de textos nacionais nada vale na concepção de formação
de promoção nas universidades. Isso é seriíssimo, é tão sério quanto isso que você
está dizendo aí.
O SR. GERALDO TAVARES – Nós temos um problema sério. Por exemplo, se o
Niemeyer quiser dar aula na universidade ele não pode dar, se ele quiser fazer o
concurso, porque ele não tem, ele não é PHD ou doutor, e hoje em dia é um critério
básico na maioria das universidades federais só dá aula quem tem doutorado, no
mínimo. Então, você não pode contratar um cara que seja um profundo conhecedor do
assunto.
Aí eu tenho uma série de duvidas na parte de empreendedorismo. Você tem 20
milhões de empreendedores no Brasil. Desses 20 milhões deve ter alguns que devem
ser fantásticos e não são, mesmo que tenham nível superior, não são doutores. Como
é que você contrata um cara desse para a universidade para dar um curso do
empreendedorismo? Eu não acredito, realmente, que o cara possa dar um curso de
empreendedorismo se ele só fez estudar. Porque o problema do PHD que eu vejo hoje
em dia é o seguinte: o cara se formou, era bom aluno, o professor o convidou para
fazer um mestrado, ele fez o mestrado, foi um bom estudante. Aí o orientador dele o
convidou para fazer um doutorado, ele fez o doutorado, aí ele não consegue mais
voltar para o mercado. Então, faz o concurso na universidade e ele não concorre, por
exemplo, com um profissional que tenha 30 anos de experiência naquela área porque
o profissional não tem o titulo de doutor. Ele, de repente, que é recém-formado, ele
vira o professor da universidade que tem que orientar as pesquisas, e esse é um
problema sério que eu vejo sobre empreendedorismo, qual é a sugestão de vocês
para que a gente possa levar para a universidade esse pessoal com uma tremenda
experiência que possa passar principalmente os valores do empreendedorismo,
porque na chave, se você não tem valores, você não consegue passar valores que
você não tem, se você não tem entusiasmo por empreendedorismo, você não
consegue passar entusiasmos para os seus alunos.
Eu ouvi outro dia, na universidade, um aluno de um professor, dizendo o seguinte:
“Como é que um cara pode dar aula sobre bolsa de valores se o cara é pobre? Eu não
assisto à aula dele porque o cara só fala coisas que é abobrinha”, e, pensando bem,
tem razão. Eu gostaria que vocês comentassem esse assunto.
O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES – Eu posso fazer um comentário aí? Só um
minuto, nessa sequência, fomos visitar um departamento, fui eu e o Pelúcio, o Zé
Pelúcio Ferreira, na época Secretário de Ciência e Tecnologia, não, era presidente da
FINEP ainda, isso faz muitos anos, e nós fomos convidados a visitar uma
universidade, a universidade de London, no Estado de Ontário, no Canadá, e fomos à
faculdade de medicina, e eu assisti uma cena extraordinária, e daí para frente eu
sempre tomei todo cuidado com o médico que eu escolho porque eu aprendi lá como é
que funcionava o negócio, é essa questão do tempo integral e do PhDeusismo, o que
acontecia? Eu cheguei na universidade às 10 horas da manhã e fui para os
departamentos médicos, aí a secretária do departamento de clínica, uma secretária
estava de jeans, tênis, muito bonitinha, tranqüila, toda esportiva, como o ambiente
acadêmico exige, quando chegou duas horas da tarde, nós voltamos do almoço com o
professor e a secretária tinha se vestido num tremendo tailler, meia, salto alto, aí eu
perguntei: “Tem festa?”, ela disse: “Não, não, é que a partir de agora, o professor
fulano-de-tal vai começar a atender os seus clientes privados, dentro do hospital da
universidade e esses clientes pagam alto pelas consultas, então, eu tenho que me
vestir como uma secretária”, ou seja, o ambiente se transformou porque você exercia
uma ação empreendedora, o próprio professor sabia disso, ou seja, é o que eu digo,
por que a COPPE dá certo? A COPPE não dá certo porque a COPPE tem um monte
de doutores, a COPPE dá certo porque ela tem ao lado dela a COPPETEC que exerce
as funções que são as de levar a inovação e o empreendedorismo para as bancadas
de laboratório, acho que esse é o ponto crítico, quer dizer, aí você chega na faculdade
de medicina...
Quando eu contei essa história, um colega meu da faculdade de medicina, professor
da UFRJ me disse: “Bom, aqui eu costumo medir da seguinte maneira, eu olho pela
cor”, nessa época havia transparência ainda, “ se a transparência está muito
amarelada, aquele camarada não serve para ser meu médico, porque é sinal que os
casos clínicos que ele está apresentando são bem antigos”, então, esses pontos
acabam sendo fundamentais, eu, outro dia, criei um critério de avaliação, conversando
com o Ministro Fernando Haddad, eu disse: “Olha, para mim, um grande critério de
avaliação que existe hoje numa universidade é o seguinte: eu quero saber quantos ex-
alunos do curso de graduação estão dando aula na universidade”, porque se eu tenho
ex-alunos dando aula, é sinal de que esse universidade está formando bons
profissionais e essas coisas têm que ser consideradas, a questão crucial hoje na
universidade é que você criou uma carreira docente que não preserva as
peculiaridades das nossas profissões.
A SRA. GEIZA ROCHA – Não dialoga com as profissões.
O SR. PAULO ALCÂNTARA – Então, o que acontece é que você, por exemplo,
formava..., e eu tive aulas na escola de engenharia, em 1960, com indivíduos
extraordinários, eu jamais me esquecerei do Antônio Alves Noronha dando aula, eu
jamais me esquecerei do meu orientador de doutorado, que só tinha graduação,
Fernando Luis Lobo Barbosa Carneiro, que foi talvez o maior dos engenheiros civis da
história do Século XX, ele não tinha doutorado, não tinha mestrado, não tinha uma
graduação, entretanto, quando ele falava, se a COPPE tem o projeto da Petrobras, na
verdade, quem fez? Lobo Carneiro, todos aqui sabem disso, todos que trabalham em
engenharia, entretanto, essa política, essa idéia de você fazer pelo que você sabe,
pelo que você aprendeu pela tua experiência, desapareceu, entendeu? Acho que
esses pontos são fundamentais, a gente tem que mudar um pouco a carreira docente
e a confederação nacional da indústria do sistema S, está fazendo isso, com o Inova
engenharia, ela está criando programas piloto, a gente tem que tomar cuidado para
não ter uma expansão desenfreada que aí não vamos aguentar. Agora, esses pontos
são críticos. O ponto do livro-texto para mim é fundamental, quer dizer, não se prioriza
mais o professor que escreve um texto de graduação, hoje até está voltando um pouco
isso, está melhorando, mas continua dando prioridade para o paper na revista nível A,
Qualitas, nível 1, não é isso? E isso daí vai deixando para trás a elaboração de uma
cultura nacional que vai se perdendo no espaço. Quer dizer, a gente passou a não ter
livros em determinadas áreas.
A SRA. MARISA EGRÉGIAS – Bom dia a todos, meu nome é Marisa Egrégias, a
minha instituição é o Colégio Estadual Antonio Prado Júnior, faço parte do curso de
Turismo, da Secretaria Estadual de Educação, faço parte de um curso de Turismo,
que já existe há mais de 30 anos, e tem um novo formato, de 2000 pra cá. Esse curso
de Turismo, em 2008, acredito até que pelo reconhecimento, foi convidado pela
Secretaria Estadual de Turismo para participar, para fazer uma proposta, para
participar da carta consulta do Prodetur do Rio de Janeiro. Nós fizemos uma proposta
de formação em Turismo, na ocasião, e a proposta participa, hoje, do Prodetur do Rio
de Janeiro, na verdade, hoje, é o que encabeça o colégio, encabeça o Prodetur. Para
tanto, o colégio recebeu, até na época, não era Prefeito ainda, era Secretário de
Turismo, Sr. Eduardo Paes, uma quantia, de 500 mil dólares, para que nós
desenvolvêssemos o projeto e assim foi feito a partir daí e, depois, pela importância da
questão do turismo, da formação em Turismo no Rio de Janeiro, o projeto ganhou ares
novos. Projetamos afinal, foi dada essa possibilidade, que fossemos atrás de um
sonho, do que seria ideal, em termos de formação em Turismo, no Rio de Janeiro, e
daí projetamos a Escola de Turismo do Rio de Janeiro. E aí, eu estou contando essa
história para dizer o seguinte, a princípio, que pessoas, professores, empreendedores,
dentro da Secretaria Estadual de Educação, eu sou professora de sala de aula, sou
professora de turmas, trabalho no curso de Turismo, a gente está lá, a gente existe. E
não só dentro dessa perspectiva como também até, a gente vem se ajudando
também, nós temos esse grupo, tem um grupo que está hoje auxiliando outros
professores, no sentido de alavancar, de criar situações diferenciadas, a gente, por
exemplo, porque a gente tem um olhar em turismo, a gente entende, por exemplo,
que, dentro da educação normal de sala de aula, deveria estar lá um aprendizado de
surfe, por que não? A Austrália faz isso. Montanhismo, nós vivemos entre o mar e a
montanha, como assim a gente não tem dentro da sala de aula um aprendizado de
montanhismo, para a gente não se perder nas florestas, para a gente saber lidar com
o mar, velejar? A gente até tem feito, auxiliado, dentro do que é possível e do que está
proposto, essa busca. Então, o empreendedorismo existe dentro das escolas e dentro
dos níveis, digamos assim, professorado. No caso da Escola de Turismo, a gente
terminou esbarrando na situação que apesar de tudo isso estar caminhando dessa
forma, a gente hoje luta com uma questão de espaço. Segundo o responsável pela
Secretaria de Obras que é o contato mais próximo que a gente tem em relação do
Prodetur, há um interesse tão grande dessa construção, dessa escola, da existência
dessa escola que eles se propõe a levantar a escola se for necessário. Mas a gente
não tem um espaço físico.
Então talvez a minha fala vem muito do sentido de dizer que talvez a gente precise
também ajustar um pouco esse foco, o empreendedorismo está aí, a gente tem isso.
As escolas, talvez em alguma medida estão funcionando e os professores têm
também essa disponibilidade interna da mudança. Tudo bem, talvez eu e o meu grupo
que está aí vestindo a camisa, enfim, talvez não sejamos um percentual muito grande
dentro da rede toda mas que estão lidando com outros problemas e talvez muito
provavelmente de uma forma muito criativa. Estou comentando só pra gente pensar
isso também, talvez o foco possa por outros lugares.
O SR. MANOEL SERAFIM – Bom dia, eu sou Manoel Serafim do jornal Relato. Eu fico
analisando o nosso País, o país mais rico do mundo, não tem uma coisa tão rica como
essa no planeta, não sei porque descobriram isso tão cedo, podiam descobrir mais
tarde para não estar essa exploração terrível que está aí. Vejo este país atravessando
uma miséria terrível, uma violência. Tudo isso que está aí me leva a crer que quando
se fala em cultura nós estamos numa cultura errada, artificial, mesmo porque ela não é
nossa, era do português, invasor, estamos com ela na nossa cabeça, estamos sem
saber o que fazer porque a cada que passa fica pior, ela é artificial, não evoluiu, cada
vez fica pior e na verdade deixamos a nossa cultura lá pra trás porque como falava
Ruy Barbosa e o Darcy Ribeiro, o Tupi-Guarani, por exemplo, essa cultura original da
terra que nós abandonamos e pegamos uma que não é nossa. Acho que tiraram a
correntes dos nossos pés e botaram na nossa cabeça. Hoje estamos perdidos sem
saber o que fazer, lutando para evoluir sem conseguir, parece até que estamos
entrando num areal movediço, cada vez nos enterramos mais. Estão esperando as
inovações e cada vez se torna pior, pelo quadro que se vê, tudo parado e a gente vai
aprendendo a cada dia que passa com essas inovações que não levam a nada. E
ainda estão querendo Copa do Mundo, Olimpíadas, esperando um trocadinho que o
gringo traga para nós. Um país tão rico como esse e deixamos desperdiçar essa
riqueza, entregando de mão beijada para os outros, eu cansei de ver isso. Por
exemplo, em Serra Pelada, tiraram aquele ouro todo. Levaram para onde? O Paraguai
foi o primeiro exportador de ouro para o mundo, não tem ouro. E assim com os outros
minérios que temos, o país é o mais rico em minérios. Nós poderíamos estar bem
melhor no planeta, sem precisar depender disso ou daquilo. A nossa cultura não ajuda
e não vai ajudar porque eu não vejo solução para isso porque cada vez mais que
avançam lutando nisso ou naquilo, eu não vejo avançar em nada, não produz nada,
não criam. De lá de Oswaldo Cruz pra cá não fizeram mais nada. É como fala o
argentino: brasileiro é macaquito de imitação. Nós pegamos as coisas dos outros e
beneficiamos, mas nós não temos nada. Por que? Qual é o problema que está
havendo neste País? Será que as cabeças não funcionam? Não é possível, tão rico e
está na miséria. Países muito mais pobres do que o nosso está melhor do a gente. O
que está havendo com a nossa cabeça? Então nós temos que começar com a nossa
cultura. A cultura verdadeira é a Tupi-Guarani. Por que não pega essa cultura e leva
para as crianças nas escolas? Uma cultura original como a nossa, verdadeira. Vamos
evoluir a nossa cultura e deixar a cultura dos outros, é necessário, o saber não ocupa
lugar, você pode ter a cultura de todo mundo, que nem dizia o Rui Barbosa. Não tem
problema.
Mas a nossa, nós temos que ter, a verdadeira, e não ficar que nem macaco de
imitação, imitando as coisas dos outros. Onde nós vamos chegar? Explica. Em lugar
nenhum, porque nós temos um país tão rico do jeito que está e que não sabe nem
gerenciar o que temos.

Até a política que está havendo aí. Você (TRECHO ININTELIGÍVEL) vamos formar
políticos. Formar políticos? Mais do que eles estão formados? Querer roubar mais
ainda? Botam dinheiro na cueca, botam dinheiro na meia..

A Sra. GEIZA ROCHA – Manuel, Manuel?

O SR. MANUEL – Hum?

A Sra. GEIZA ROCHA – É só para o senhor ser mais conciso e a gente fechar essa
discussão, porque tem outras pessoa querendo falar.

O SR. MANUEL – Vou fechar, mas é necessário, porque tem que sair daqui pessoas
com a mente certa, sabendo do que está acontecendo neste País e não se elevar
pelas fantasias da renovação onde não leva a nada.

Nós temos que criar, desenvolver o QI, o raciocínio, para alcançar a plenitude e a
razão. Muito obrigado.

O SR. CLAYTON – Bom dia para todos. Eu estou aprendendo muito, mas a Educação
começa em casa. Se tiver uma estrutura em casa, o aluno vai bem no colégio. Hoje
em dia, nos colégios públicos em que você aprende, muitas pessoas não estão
aprendendo; saem do colégio sem a base e entra na faculdade e não consegue
avançar, não consegue terminar porque não tem estrutura na família e também não
tem condição.

O professor ganha mal; o professor não ganha bem, está ganhando mal e fica
dando...fica em quatro lugares para dar aula, quatro colégios para ganhar um salário
razoável. E o governo ao invés de ajudar, de dar aulas de empreendedorismo para os
professores, que precisam aprender empreendedorismo para lidar com os alunos e
para passar aquilo que aprendem nos colégios, com a Educação, e passar para o
aluno, para o aluno sair com a cabeça bem formada, para entrar numa faculdade e
sair formado e ser um grande administrador, empresário, um advogado, um excelente
advogado.

Bom dia para todos. É só isso que eu queria deixar.

O SR. VINÍCIUS MORO– Bom dia, meu nome é Vinícius e eu sou administrador da
Prefeitura Municipal de Maricá.

Bem, as dúvidas que eu tinha foram todas ficando, praticamente. Parabéns aí aos
debatedores. Eu só queria que falasse um pouco mais da participação da sociedade
nessa questão do empreendedorismo.
Eu gosto muito de dar exemplos próprios assim, que eu presenciei. Por exemplo,
quando eu estava na faculdade, assim que eu entrei, eu fui procurar emprego. Eu me
formei em Administração na UFF e fui procurar emprego.

E eu vi uma resistência – nem tanto dos meus pais, mas da minha avó, dizendo: “Vai
procurar emprego, para quê? Vão pensar que você está precisando. Você não precisa
de emprego. Estuda, se forma e depois você vai entrar no mercado de trabalho”.

E quando a gente vê – até em filme americano – é uma cultura diferente. Eu falo da


classe média. Uma cultura de empreendedorismo: o garoto, quando é pequeno, já
pega a bicicleta e vai vender leite, vai vender jornal, e então acho que nossa
sociedade, o papel...não sei. A televisão poderia contribuir muito; a imprensa; de estar
plantando essa ideia do empreendedorismo e do trabalho como uma coisa digna.

E às vezes tem gente que fala que “você vai estudar e não vai trabalhar”. A própria
faculdade, minha formação, os piores alunos, entre aspas, são os mais bem sucedidos
hoje no mercado de trabalho, talvez porque tinham características que a faculdade não
valorizava, que é a atitude, esse lado empreendedor.

E aqueles que eram mais “caxias”, que eram “nota 10”, com CR acima de 9 – como
encontrei uma, que fui fazer um concurso público e eu estava disputando no nível
superior e ela, que era a melhor aluna da minha sala, estava fazendo para o ensino
médio, porque não se sentia ainda preparada.

Então, era isso que eu queria que fosse colocado, a questão da sociedade, o papel da
classe média e da imprensa. E que alguém pudesse falar também de como anda a
política de microcréditos aqui no Brasil.

O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES– Isso é com o Sérgio.

(RISOS)

A SRA. GEIZA ROCHA – Eu volto então aqui para a mesa, a gente não tem mais
pergunta na plateia, então, a ideia é a gente fazer os últimos comentários, rebater um
pouco do que foi dito, quer dizer, fazer essa dinâmica, e aí para as considerações
finais.

Sérgio.

O SR. SÉRGIO MALTA – Com relação ao microcrédito produtivo, ele tem acesso ao
crédito as pequenas empresas em geral. Isso tem crescido muito, esse crescimento
das pequenas empresas. Com a lei geral da pequena empresa não só os bancos
oficiais, mas todo o sistema bancário de certa maneira o sistema produtivo de
empresa média para cima já estava um pouco saturado e então começou a atacar
fortemente esse segmento, existem as carteiras de crédito importante para as
pequenas empresas, isso é recente. É até bom que seja recente, porque se as
pequenas empresas tivessem tomado dinheiro emprestado quando os juros estavam
altíssimos, talvez tivesse quebrado. Na verdade, esse movimento de pequena
empresa, a abertura de pequena empresa em geral se faz com capital próprio tomado
de familiares, amigos, mas agora, isso que também era obstáculo para a prosperidade
das pequenas empresas, que é o acesso ao crédito, vem se desenvolvendo muito no
Brasil nesse passado recente.

Como mensagem final, gente, eu quero dizer o seguinte: o Brasil está vivendo um
momento de grande prosperidade. Nós achamos que essa prosperidade vai ser
sustentável, ou seja, está entrando não num ano de prosperidade, mas numa era de
prosperidade, em que as pequenas empresas e os empreendedores vão ter papel
muito importante porque o principal problema brasileiro ainda é o da justiça social.
Para vencer esse problema, tem que ter educação principalmente, é a principal arma,
mas tem que ter também o papel maior da pequena empresa na economia e no
sistema brasileiro.

Existe uma referência, quanto maior o papel da pequena empresa na economia,


menor a desigualdade social. Os países do norte da Europa, o papel das pequenas
empresas chegam a 50% da economia nacional. Aqui, embora seja um grande
empregador, embora 99% das empresas sejam pequenas empresas, ainda
corresponde a algo entre um quarto e um terço da riqueza nacional, dependendo de
como se calcula, porque ainda existe uma informalidade muito grande, que a gente
não tem números exatos sobre isso.

Aumentar o papel da pequena empresa no Brasil significa contribuir para distribuir


essa riqueza. Os grandes projetos, as grandes empresas, os megaprojetos criam a
riqueza, mas a distribuição dessa riqueza espacial e geográfica e humanamente se dá
através das pequenas empresas.

Eu acho que o que tem acontecido num passado recente, nesta década, da virada do
século para cá, tem sido esse fortalecimento. E isso tem se realizado eu acho que em
cima de um consenso nacional, do qual um produto importante, como citou o Paulo, foi
a lei da pequena empresa, outros produtos foram as iniciativas legislativas da Alerj no
sentido de facilitar, através das diversas comissões econômicas, a Frente Parlamentar
da Pequena Empresa que existe na Alerj, de facilitar a pequena empresa, que ela
possa ser criada, que ela possa se desenvolver.

Aqui no Rio de Janeiro, temos o ICMS que está incluído no Super Simples, que é o
menor de todos os grandes Estados brasileiros. É importante que as empresas
possam viver sua vida, criar emprego, gerar riqueza.

É claro que nem todo mundo nasceu para ser empreendedor e empresário. Tem que
ter certas características, tem que ter persistência, tem que ter curiosidade, tem que
ter até certo carisma, tem que ter planejamento, tem que ter ousadia, possibilidade de
correr riscos calculados. Nós já temos 20 milhões, quase 20% da população
economicamente ativa que exerce essa atividade, empreende.

Eu acho que se você que está ouvindo a gente tem essas qualidades, ou pensa que
tem, procure o SEBRAE. Se não quiser procurar o SEBRAE, deve ter a associação
comercial da sua cidade, ou o sindicato do comércio, o sindicato da indústria, enfim,
procure as entidades que cuidam desse assunto, para poder se informar mais, porque
o momento é esse. Acho que as empresas vão ... Isso é importantíssimo nessa era de
prosperidade que o Brasil, e o Rio especialmente – o Rio, com tudo isso que vai
acontecer no Rio, certamente vai crescer mais, vai prosperar mais do que o Brasil,
recuperar um pouco uma colocação que já teve no passado; desculpe eu te corrigir,
mas o Rio é o segundo PIB.

A SRA. WILMA FREITAS - Segundo PIB, está certo.

O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES - Segundo PIB, mas por causa do royalty.

O SR. SERGIO MALTA - E São Paulo que se cuide, porque com o pré-sal aí!

A SRA. WILMA FREITAS - É. Nós vamos ultrapassar São Paulo, com certeza.

O SR. SERGIO MALTA - Eu não sei, mas a gente tem que ser otimista.

A SRA. WILMA FREITAS- Tem que ser otimista!

O SR. SERGIO MALTA - E faço o convite para que aqueles que estão estudando que
pensem em empreender e aproveitem essa onda de crescimento que o Rio e o Brasil
vão viver esses próximos anos.

A SRA. GEIZA ROCHA - Maravilha.

Só um adendo, uma pequena interrupção: quem estiver com celular, por favor desliga,
porque dá uma interferência aqui nos microfones e acaba alterando a discussão.

O SR. PAULO ALCÂNTARA - É o Orlando. O Orlando está com o celular ligado.

A SRA. WILMA FREITAS - Bom, eu gostaria de fechar essas questões que foram
colocadas, fazendo um elogio aí à Escola de Turismo.

É bom porque cite, eu fui professora estadual também, fui diretora de uma escola
estadual, uma escola centenária, que é o Liceu de Humanidades de Campos. Eu acho
que um projeto dessa natureza tem que ser fomentado no dia a dia do estudante da
escola regular, principalmente da escola pública, porque a escola pública tem um
ponto que a escola privada não consegue trazer, que é a diversidade, o convívio com
os diferentes. Então você tem num mesmo ambiente o menino que tem pouca
condição financeira, o que é abastado, e depende muito da equipe de docentes que
está ali e da direção dessa escola fazer com que essas pessoas cheguem até ela.
Então atrair para a escola um projeto como a Escola de Turismo, num estado em que
o turismo é um dos grandes fomentadores e um dos grandes movimentadores da
economia, acho que é digno de elogio. Parabéns. Acho que isso é muito bom. E
realmente, é introduzir a inovação, o empreendedorismo dentro do seio da escola, de
tudo o que acontece lá dentro, de uma forma estruturada, respondendo a um projeto
como o Prodetur, que tem uma importância muito grande.

A gente viu ao o Prodetur Nordeste o que foi. Agora o Prodetur do Sul e Sudeste, o
que aconteceu. Então parabéns à Escola. Conheço a Prado Júnior, me relacionei
muito com ela na época em que eu trabalhava no Estado.

Uma outra questão que quero dizer aqui é o seguinte: acho que o Sr. Manoel, quando
fez as suas colocações, é uma colocação aguerrida, é uma colocação que vem ... A
gente percebe que ele tem assim ... Ele quer ver esse Brasil, que é dele, do jeito que o
Brasil precisa crescer. Mas não são essas questões externas que vão interferir. Eu
acho que esse Brasil vai continuar sendo rico, vai continuar crescendo e acho que,
com a ajuda de todo nós vamos conseguir chegar nesse Brasil diferente, que
precisamos ter.

E eu queria fechar dizendo uma coisa para ... Aliás, para você que perguntou sobre o
microcrédito. Desculpe, eu não me lembro o seu nome.

A SRA. GEIZA ROCHA - Vinicius.

O SR. VINICIUS – Vinicius.

A SRA. WILMA FREITAS - Eu acho que existe uma grande possibilidade de o


empreendedorismo nascer e chegar ao microcrédito, porque você precisa entender
que tem um processo, que é o da Educação. Ali dentro tem uma estratégia, chamada
Empresa Junior ou Empresa Baby, agora que o Paulo acabou de inaugurar. A
Empresa Junior ou Empresa Baby sai dali para uma incubadora, que é o
prosseguimento, é naturalmente uma trilha a ser seguida. E tem que vir ao encontro
dessa incubadora, desses grandes pequenos negócios que estão surgindo, o subsídio.
Então o microcrédito realmente pode ser um grande fomento para que as pequenas
empresas prossigam. E a gente tem visto algumas experiências de muito sucesso aí
no Brasil, na área do microcrédito.

Eu vou um pouquinho mais além, porque nós precisamos pensar em microcrédito


enquanto os estudantes ainda estão na formação. Nós precisamos fomentar esses
pequenos negócios de forma planejada, estruturada, sem riscos maiores, mas
enquanto elas estiverem amparadas por alguns organismos, porque só assim a gente
vai conseguir trabalhar com algumas perspectivas de futuro bem diferenciadas.

E a minha mensagem final aqui é dizer para vocês que eu espero que esse Fórum
prossiga, que ele traga frutos, porque eu acho que para a gente sair para uma nova
perspectiva para este Estado nós precisamos de debates como esse, de diálogos
muito claros com a sociedade, com a universidade, com outras instituições que fazem
girar a sociedade civil organizada, mas também têm projeto concreto com produtos,
com prazos e metas a serem cumpridas. Acho que fica esse desafio para as pessoas
que estão nos ouvindo, para vocês que estão aqui na platéia, de pensarmos, nós já
estamos com o diálogo aberto, pesquisas já estão sendo construídas como o IPEA e
outros institutos de pesquisas, a própria FGV que tem mostrado para a gente, trazido
demonstrativos maravilhosos. Está faltando a outra perna começar a acontecer Acho
que com o apoio da ALERJ e do próprio Fórum, a gente pode pensar em futuro de
médio prazo em constituir aí um grupo para um projeto realmente acontecer, de fato,
num tempo que é o de agora, porque ele é rico, propício e fértil para as novas idéias.

O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES - Bem, eu vou abordar três, das quatros
intervenções, porque o Vinício já foi muito bem respondido pelas intervenções do
Sérgio e da Wilma.

A Mariza foi muito elegante ao colocar a sua questão, porque de fato ela demonstrou
uma coisa para todos nós. Às vezes, é preciso que as políticas públicas sejam
capazes de estabelecer prioridades para a solução dos problemas, e colocar essas
prioridades de fato na prática. Quer dizer, quando ela levantou a questão do espaço,
ela de fato levantou um problema que precisa ser resolvido pela Secretaria de
Educação ou pela Secretaria de Obras ou até pela Secretaria de Planejamento no
sentido de dizer a Escola Prado Júnior no seu curso de turismo é uma prioridade
porque ela passa a ser determinante na realização, na concepção dos objetivos de
política de turismo do Rio de Janeiro, e ela precisa de mais espaço. Quer dizer, é uma
maneira que a gente tem de dar um recado elegante. Como eu sou do Conselho
Estadual de Educação, vou sair daqui e vou comentar com a Secretaria, da
necessidade de pensar em como vai garantir isso. Porque acho que você colocou a
coisa de uma forma extremamente britânica mesmo, elegantérrima. Mas, o recado
chegou e eu me comprometo a pelo menos ser o intermediário desse recado.

O Clayton colocou uma coisa importantíssima e eu acho que nós temos um problema
para resolver muito sério. Lá na Zona Oeste, eu trabalho numa universidade da Zona
Oeste, nós criamos um projeto pelo negócio da família na escola. Quer dizer, o
Senador Cristóvão Buarque disse muito bem que o ponto crítico do Brasil hoje é a
família. Ele não quis dizer que á a família legalmente constituída. Não é isso. Ele quis
dizer que na família surge a idéia da educação. E nós observamos um dado que eu
considero crítico, nas escolas da Zona Oeste, você sabe que na Zona Oeste, banda
de Realengo, Santíssimo, etc, você tem um índice de IDH mais baixo. Não é muito
baixo, mas entre os doze índices do Rio de Janeiro está em 10º lugar. Quer dizer são
índices relativamente preocupantes.

E aí nós criamos, na Pró-reitoria de inspeção, um programa chamado: Mãe também


faz arte. Arte no sentido verdadeiro, estrito, não no sentido lato da arte que a criança
faz de molecagem e outras coisas. A ideia é de trazer mães que estão
desempregadas para a escola, e tivemos o apoio da Márcia, do SEBRAE, para isso,
para a gente trazer as mães para oferecer a elas cursos de arte, artesanato, para que
com a artesania elas fossem capazes de construir uma política própria, familiar de
emprego e renda. Para vocês terem uma ideia, todo o ano de 2009, e a população da
Zona Oeste não é pequena, dessa região que estou falando: Bangu, Realengo, Padre
Miguel, Vila Valqueire, já é um pouco, Sulacap, Santíssimo, etc, nós conseguimos 20
mães. Por quê? Porque nós não atingimos aqueles que são os verdadeiros
intermediários desse processo, que são os diretores das escolas, das creches e os
professores. Depois tentamos um outro processo que era o de aproveitar o tempo livre
das salas de aula, nas Escolas Municipais, para nós oferecermos programas de
aprendizagem e de empreendedorismo num nível bem básico, para trazer os pais
desempregados das comunidades, para que houvesse programa de empreendimento.
Também não fomos muito bem sucedidos.

Quer dizer, nós temos que entrar numa política que seja capaz de atingir a família
nesse sentido. Isso é muito difícil. E isso, eu volto a dizer, depende de fato, dos meios
de comunicação. Acho que esse é um ponto crítico.

A intervenção do Manoel, eu me preocupei bastante, acho que a grande vantagem


que nós temos aí na Assembléia Legislativa é porque vivendo numa sociedade
democrática todas as funções devem ser colocadas e devem ser respeitadas.

Mas eu discordo totalmente de alguns dos seus pontos de vista.


Quer dizer, eu acho que não podemos ser xenófobos e achar que uma cultura Tupi-
Guarani vai resolver o problema de um país no Século XXI, porque, como foi dito aqui,
estamos em outra sociedade. A sociedade colonialista acabou. Ela deu origem à
sociedade industrial que deu origem à sociedade do conhecimento. Você falando me
lembrou uma história que vivi com o Ministro Renato Archer que foi um dos grandes
homens da história deste país, foi o primeiro Ministro da Ciência e Tecnologia e me
convidou em 1986, eu era um pró-reitor de pesquisa na UFRJ, na época, para
organizar um debate chamado Ciência e Tecnologia Numa Sociedade Democrática, e
que aconteceu por todo o país. E a idéia dele era o que acontece hoje com as
semanas nacionais de ciência e tecnologia. Mas só que a idéia dele era colocar a
intelectualidade, o pensamento universitário, ao lado das lideranças das populações.
E, uma senhora, presidente da Associação de Moradores, fez uma proposição
concreta. Ela disse: “- Olha, eu queria propor que passássemos para resolver o
problema de saneamento das favelas do Rio de Janeiro utilizando tubulações canos
de bambu em instalações de bambu, porque temos o bambu”- o que seria um pouco
essa cultura da utilização daquilo que existe no país, o que foi refutada, aliás, para
mim surpreendentemente, por um líder de movimentos populares dizendo: “- Não, do
outro lado da baía nós temos a maior produção de dutos, canos, manilhas de barro em
toda a região que vai de São Gonçalo até Campos. O que temos que fazer não é
desenvolver tecnologia para produzir cano de bambu, o que temos que desenvolver
políticas de governo, que utilize aquilo que nós temos para resolver o problema de
saneamento, porque senão estaremos jogando a universidade do conhecimento para
trás”.

Está é a questão fundamental. O conhecimento não para. O conhecimento joga o


mundo para frente e não podemos ficar retidos naquele conhecimento que deve ser
respeitado, que tem méritos, foi importante, deve ser preservado, o que faz parte da
nossa cultura, mas que não pode deixar e tem que dar, lugar ao novo, ao moderno,
que vai realmente permitir o avanço social.

Já imaginou, isso foi em 86, no início do governo Sarney, quando começou, foi o
primeiro Ministério da Ciência e Tecnologia, se tivéssemos hoje, quase 24 anos
depois, desenvolvido uma política de bambu? E hoje o que teríamos feito daquelas
centenas de olarias que existem naquela região e outras no Brasil?

Temos que entender que o novo veio para mudar, não pode ser usado com
perversidade. Essa é uma questão crítica que a gente tem que resolver.

Uma questão que o Vinícius falou, que acho que é um problema muito sério na família
brasileira. A família brasileira continua credencialista. Quando fui estudar Engenharia,
no almoço de domingo, os comentários que ouvi eram os seguintes: Existem cinco
profissões no Brasil – fiz o vestibular em 62 – padre, engenheiro, médico, advogado e
funcionário do Banco do Brasil. As outras profissões não existem na visão. Isso era
comentário de tios e depois acrescentaram os militares e para a mulher a professora
primária do Instituto de Educação. Essa era a cabeça da sociedade brasileira, que não
se modificou muito, porque não fomos capazes, através dos meios de comunicação,
de mostrar que hoje existem os tecnólogos e outras profissões. As pessoas ficam
estarrecidas, perplexa, quando alguém fala que é um designer. A primeira coisa que o
indivíduo diz – nós dois ouvimos isso de uma renomada pessoal da sociedade cultural
do Rio de Janeiro - “Ah! Ele é um artista”. Foi ou não foi? Vejam vocês uma coisa
interessante. A família não está acostumada com as novas profissões. Acho que a
gente viu o Fórum, fica uma sugestão aqui, o Fórum devia se preocupar em analisar o
futuro das profissões e, ao mesmo tempo, as profissões do futuro. Isso seria um tema
interessante para o Fórum discutir. O futuro das profissões versus as profissões do
futuro. Fizemos dois seminários com o Arnaldo Niskier e foi muito interessante, porque
fizemos o ano passado. Um grupo do conselho administrativo do CIEE começou a
discutir isso. Por quê? Porque as pessoas não entendem que o futuro das profissões
está na mudança cirúrgica delas, assentindo em cursos que hoje têm cinco anos, e
continuarem a serem oferecidos em cinco anos, numa época em que os
conhecimentos ficam obsoletos em três anos e meio, quatro anos. Por que razão nós
temos cursos em determinadas áreas – não vou me restringir a uma ou duas para não
gerar polêmica -, que poderiam ser perfeitamente oferecidos em dois ou três anos?
Por que razão as profissões não são vistas de uma outra forma, de uma maneira mais
clara em relação àquilo que nós discutimos aqui ao longo de muito tempo, nessa
reunião, da aferição dos saberes e das competências e habilidades dos indivíduos.
Essas coisas têm que ser colocadas em discussão muito rapidamente. E esse é o
papel do Fórum.

A SRA. GEIZA ROCHA - Nem só em discussão, mas acho que ainda tem que partir
pra para a prática.

O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES - Eu também acho. Agora, acho que nós, no
Fórum, temos que ter uma estratégia de inaugurar projetos pilotos. Quer dizer, eu
sempre sou muito prudente, às vezes, excessivamente prudente, e eu tenho muito
medo de grandes projetos estaduais ou nacionais, porque a minha visão é de que isso
acaba não dando certo, pela resistência. Então, um projeto piloto em que você designa
a instituição A, a instituição B, a instituição C, capta recursos na Faperj ou na
InvestRio e cria um programa tipo subvenção econômica para lançar os projetos
pilotos, dando um prazo para o andamento daquele projeto, sob a supervisão de um
comitê executivo daqui do nosso Fórum, eu acho que isso pode dar bons resultados.

Agora, o que dá resultado mesmo é essa discussão. Eu acho que vocês estão de
parabéns pela organização. Quer dizer, nós é que fomos privilegiados aqui pela
possibilidade de participar de um debate como esse. Porque alguém falou aí que
aprendeu muito. Eu acho que é o contrário: eu, pelo menos, aprendi muito aqui,
ouvindo as intervenções de todos vocês, todos, sem exceção. E cada uma das
palavras de vocês me lembrou de coisas que as universidades, dos livros-textos, da
apropriação de tecnologias, do corporativismo, da resistência, da necessidade de olhar
melhor as políticas públicas para que elas virem fatos, da necessidade de convencer a
sociedade de que o moderno tem que surgir em lugar do antigo sem desmerecer o
antigo.

A história de um país, o conceito de nação, Manoel, está ligado à preservação das


tradições. Eu não tenho nenhuma dúvida no que eu vou dizer agora: o problema
fundamental da união européia está num fato concreto. Ao final do século XVIII, início
do século XIX, o conceito de país, de formação de país, nos Estados Unidos, estava
ligado ao trem, à banda tocando as marchas militares, à família, à comunidade, à
moeda e à bandeira. Essas coisas, na união européia, desapareceram. A moeda hoje
é um símbolo nacional, e na união européia, hoje, você tem uma única moeda. É
evidente que isso contribuiu. Melhorou? Melhorou. Por incrível que pareça, melhorou.
Só que o conceito de nação se modificou.

Quando nós tínhamos um problema com o Paraguai, nós resolvíamos indo lá e saindo
na briga com o Solano Lopes. Hoje, quando a gente tem um problema, com a
Bombardier do Canadá, a gente vai pra OMC, para Organização Mundial do Comércio,
porque o agente não é mais o estado nação, são as grandes... Quando surge o
problema da bomba nuclear no Irã, vai o presidente da República pra lá, vai o
primeiro-ministro da Turquia, mas a discussão vai acabar no Conselho de Segurança
da ONU.

Quando você discute a pesquisa no mundo, hoje, você não fala do grupo de pesquisa
da Fiocruz, ou da UFRJ ou da USP ou da Unicamp ou da PUC do Rio de Janeiro, você
fala no projeto Genoma ou no projeto de terapias celulares, que têm grupos
espalhados pelo mundo inteiro, e você não consegue identificar quem está fazendo.
Essas questões mudaram a face do mundo, e o mundo precisa entender que o
conceito de fronteira mudou completamente, e isso muda o conceito de educação.
Porque nós temos que ter, hoje, mobilidade transnacional. Os franceses e alemães
estão indo ocupar os postos de trabalho dos espanhóis. Tem índice de vinte e cinco
por cento, vinte por cento de desemprego na Espanha, mas não tem posto de trabalho
para oferecer porque está cheio lá - não é verdade, Sergio? -, está cheio de francês e
de alemão, que veio dos IUTs, das Université Du Technologie, das Technical School e
aquelas coisas todas da Alemanha, vão pra lá pra ocupar os postos de trabalho.

O primeiro-ministro do Canadá, numa conferência em Montreal há alguns anos, eu o


ouvi dizer o seguinte: “Olha, eu não abro mais postos de trabalho aqui porque senão
pelo Pacífico vai entrar muito chinês. Porque não tenho quem ocupe‟‟.

Então esses conceitos mudaram completamente o mundo. O conceito de nação hoje é


inteiramente diferente daquele que nós vivemos no final do século XIX. Essas coisas
todas têm que ser consideradas. Agora, isso não significa que nós percamos as
nossas tradições, as nossas peculiaridades e a nossa história, porque senão nós
vamos perder a nossa identidade. Essa é que é a questão fundamental.
Aí eu me lembro, só pra encerrar, aquele filme do Cacá Diegues, acho que foi do Cacá
Diegues, Bye Bye Brasil. Não foi? Ele foi feito em cima de uma novela que tava
passando na TV Globo chamada, que tinha um conjunto das Frenéticas... Hein?
Dancing Days. Exatamente. Eu me impressionei por esse filme pelo seguinte, porque
ele apresentava uma cidade no interior do agreste, no interior do agreste, onde todas
as meninas iam às 20 horas para a praça assistir televisão, a novela, e todas elas iam
de meia soquete, aquela meia soquete dobrada, porque as garotas da novela usam
meia soquete dobrada. Que isso? Isso é uma coisa real. Você hoje liga tua televisão e
você assiste a BBC, a CNN, o canal português, a SIC, o canal espanhol. Então, a
cultura está entrando, a cultura não nacional está entrando por todos os lados. E você
tem que ter mecanismos de preservação da tua cultura. Por isso que um país hoje não
pode sobreviver sem ministério da cultura. Se você chega na França, como o Sérgio
morou lá décadas, ou pelo menos 8, 10 anos, sabe disso muito melhor do que todos
nós aqui, o Sérgio sabe perfeitamente, que na França o ministério da cultura garante a
preservação da identidade nacional. Então, isso não acontece na França. Mas tá
correndo o risco de acontecer em Portugal e na Espanha; tá correndo o risco de
acontecer na Grécia, entendeu? Porque a falta de preservação da identidade nacional
acaba fazendo tudo isso. Então esse é o grande desafio da sociedade. É como... E
nosso, nas universidades, no sistema S, no SEBRAE, na Assembleia Legislativa.
Juntar todos nós para que nós não façamos aqui simplesmente inovação tecnológica.
Isso é o verdadeiro conceito do desenvolvimento sustentável. Desenvolvimento
sustentável não é só o meio ambiente. Preservação das identidades culturais também
está, agora não significa, o que me desculpem a franqueza, isso pode acabar virando
xenofobia. Nós não aceitarmos o que vem de fora, o que nos interessa para o nosso
progresso. Isso é absolutamente determinante para o progresso das nações.
Então eu queria agradecer. Eu adorei participar desse debate. Se eu pudesse ficava
aqui até 18 horas.
A SRA. GEIZA ROCHA - Infelizmente a gente vai ter que fazer um compacto dessa
uma hora. Mas eu também adorei. Eu também adorei o debate. Eu acho que é
superimportante esse diálogo. E a gente conseguiu estabelecer a partir desse projeto,
que só foi viável por conta da parceria com o SEBRAE Rio que cedeu o espaço e toda
essa infraestrutura para a gente poder avançar nessas discussões.
Esse projeto, Cadernos do Fórum, além do debate que a gente pôde compartilhar aqui
com vocês, ele vai ser exibido na TV Alerj e vai se transformar também numa série de
publicações. São cinco cadernos do Fórum que dão então uma continuidade e a idéia
de que a gente não pode só discutir, a gente tem que partir pra ação e partir pra
propostas concretas pra, enfim, chegar ao desenvolvimento que a gente pretende.
Então eu queria passar, por fim, a palavra ao nosso anfitrião, que foi o primeiro a ser
chamado por conta disso, e aí a gente encerrar esse debate e avançar nessas
propostas. Amanhã o tema é... segue, é uma continuação dessa discussão de
educação. A gente vai pra inovação, discutindo a inovação na prática, perfil já dentro
da empresa, o que é esse profissional que se quer pro futuro e aí, em seguida, a gente
vai discutir mobilidade urbana na quinta-feira e na sexta consumo consciente.
Sérgio.
O SR. SÉRGIO MALTA - Geiza, eu queria expressar a alegria da equipe do SEBRAE
de estar tendo essa parceria com o Fórum da Alerj para organizar esse debate. Eu
acho que essas reflexões certamente vão ser muito importantes pra desenhar o futuro
do Rio nesse momento legal do Rio de Janeiro.
A SRA. GEIZA ROCHA- Maravilha. Obrigada, obrigada a todos vocês. (Palmas)
Presentes no debate “Cadernos do Fórum 2010 – Educação e Empreendedorismo”

18/05/2010

Mesa:

- Paulo Alcântara Gomes – presidente da Redetec

- Sergio Malta – superintendente do Sebrae-Rj

- Wilma Freitas - gerente de desenvolvimento educacional do Senac-Rio

Platéia:

- Anderson Nascimento Nunes - presidente da Associação Moradores do Bairro


do Carmo, Queimados

- Armando Clemente - secretário executivo da Rede de Tecnologia do Rio de


Janeiro (REDETEC)

- Celso Silva de Carvalho - administrador postal sênior dos Correios

- Cezar Kirszenblatt - gerente da área de estratégias e diretrizes do Sebrae/Rj

- Cleyton Carlos Silprnagel – Repórter do Jornal o Relato

- Érica Lewis - área de cultura empreendedora da PUC-Rio

- Geraldo Martins Tavares - coordenador do programa de ecoeficiência da


Universidade Federal Fluminense (UFF)

- José Alberto S. Aranha – Diretor do Instituto G~enesis – Puc- Rio

- Laura Suarez - assessora parlamentar da FECOMÉRCIO -Rj

- Lícia Castelo Branco - coordenadora de eventos do SindRio

- Lucinda Pinto e Silva - chefe de gabinete da Secretaria Municipal de Esportes


Turismo e Lazer do Rio de Janeiro

- Manoel Serafim da Silva – presidente do Jornal o Relato

- Marcia Aguiar – especialista em educação a distância do Sistema Nacional de


Aprendizagem Comercial (SENAC)
- Maria Helena Martins Furtado - diretora técnica da Sociedade Nacional de
Agricultura (SNA)

- Mario Borghini - gerente de desenvolvimento econômico do Instituto Pereira


Passos (IPP)

- Marisa Egrejas de Melo - professora docente I do Colégio Estadual Antônio


Prado Júnior

- Patrícia Mattos do Carmo - coordenadora de projetos do Sebrae-Rj

- Rui Alberto A dos Santos - assessor da reitoria da Universidade Estadual do


Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

- Vinícius Môro da Mata - administrador da prefeitura de Maricá

- Fabiana Leite - analista de políticas públicas do Sebrae-Rj

- Francisco Marins

- Urbano Leite – coordenador do Fórum de Economia Solidária do Município do


RJ - FESM

- Adriana Homem de Carvalho – diretora de capacitação e eventos da


Associação brasileira de Empresas de Eventos (ABEOC)

- Moizelina S. Pavão – assessoria de projetos e gestão de renda da Economia


Solidária (ECOSOL )

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