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O NASCER DE UMA ESTRUTURA

CONCEPÇÃO ESTRUTURAL DE EDIFÍCIOS DE CONCRETO ARMADO

PRÉ - DIMENSIONAMENTO DOS ELEMENTOS

A
escolha da posição de Atenção! Não existe uma
cada elemento de uma única solução correta, mas existem
estrutura e da forma de várias soluções incorretas!!!
interação entre esses elementos é chamada
de concepção estrutural. É uma etapa que
Para realizar o dimensionamento de
exige conhecimento, visão holística e
elementos estruturais é preciso determinar
criatividade. Ainda não pode ser feita
o carregamento sobre ele. Parte deste
automaticamente por programa de
carregamento se deve ao peso do próprio
computador! Não existe uma única solução
elemento. Como o peso depende do
- a correta -, mas existem escolhas mais
volume, faz-se necessário realizar um pré-
adequadas ou menos adequadas em função
dimensionamento. Realizado o pré-
dos parâmetros que estão sendo utilizados:
dimensionamento, é possível calcular, além
 Economia
do peso próprio, os vãos e as rigidezes dos
 Flexibilidade arquitetônica
elementos da estrutura, para então se partir
 Segurança
para a determinação dos esforços, para o
 Durabilidade dimensionamento e para o detalhamento.
 Tempo de execução

O QUE PRECISA SER LEMBRADO
Uma mesma edificação pode ter
diferentes soluções estruturais corretas. A seguir serão listadas algumas diretrizes
O que define a mais adequada ou a básicas que auxiliam o trabalho de
menos adequada são os parâmetros que concepção estrutural. Por se tratar de um
estão sendo considerados na decisão. É processo criativo, não existe sequência pré-
preciso ouvir o cliente e descobrir o que é determinada, mas, para os iniciantes, este
mais importante para ele! passo a passo pode servir de guia.
O nascer de uma estrutura – 1 – Notas de aula
Patrícia L. O. Maggi
São pontos importantes que devem ser lembrados:

 Escolher o sistema estrutural, Atenção!!! Você estará trabalhando com


avaliando que tipo de
representações planas de estruturas
contraventamento será suficiente.
 Lembrar da compatibilização com o tridimensionais. Uma planta de arquitetura,
projeto arquitetônico e com os por exemplo, mostra todos os elementos
projetos complementares. O BIM
pode ser um grande aliado nesta que estão sendo cortados por um plano a
etapa! 1,5 m do piso. Numa planta de fôrmas, da
 Em edifícios de múltiplos
pavimentos, analise primeiramente estrutura de um pavimento de edifício, o
o pavimento tipo. que se representa é o plano superior do
 Definir inicialmente a posição dos
pilares, seguidos das vigas e das pavimento em questão.
lajes.

Figura: Posicionamento de uma planta de fôrmas com relação ao corte de uma edificação

Em relação à posição dos pilares pode-se recomendar:

 Iniciar pelos cantos e pelas áreas  Procurar formar planos de pilares


comuns a todos os pavimentos,
alinhados, pois sua união com as
como caixas de elevadores e
escadas. vigas formarão pórticos que
 Verificar a posição da caixa d’água
contribuirão significativamente para
superior e posicionar seus pilares de
suporte. a estabilidade global do edifício.
 Respeitar vagas de garagem e áreas
 Distâncias usuais entre pilares estão
de circulação.
 Procurar levar todos os pilares até contidas entre 4m e 8m.
as fundações, evitando vigas de
 Observar as dimensões mínimas
transição.
 Procurar embutir os pilares nas estabelecidas pela norma brasileira.
paredes.

O nascer de uma estrutura – 2 – Notas de aula


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Quanto ao posicionamento de vigas e lajes: O QUE DIZ A NORMA BRASILEIRA
 Os vãos usuais de lajes de concreto
armado, sem protensão, variam A NBR 6118:2014 estabelece dimensões
entre 3,5m e 6m, sendo 8m uma mínimas para os elementos, além de valores
distância máxima ideal.
 Procurar embutir vigas em paredes. de cobrimentos nominais mínimos para os
 Observar as dimensões mínimas diversos tipos de armadura em função da
estabelecidas pela norma brasileira.
 Evitar paredes grandes apoiadas classe de agressividade do ambiente, a fim
sobre lajes. de garantir a durabilidade das estruturas.
 Respeitar vãos de portas e janelas.

Lajes maciças apoiadas em vigas, segundo a NBR 6118: 2014


Situação Altura mínima – h
(cm)
Lajes de cobertura não em balanço 7
Lajes de piso não em balanço 8
Lajes em balanço 10
Lajes que suportam veículos de peso máximo igual a 30 kN 10
Lajes que suportam veículos de peso superior a 30 kN 12
Vigas, segundo a NBR 6118: 2014

De acordo com a NBR 6118:2014, as vigas devem ter largura mínima 12cm. Estes limites
podem ser reduzidos, respeitando-se um mínimo absoluto de 10 cm em casos excepcionais,
sendo obrigatoriamente respeitadas as seguintes condições:

 alojamento das armaduras e suas interferências com as armaduras de outros


elementos estruturais, respeitando os espaçamentos e coberturas estabelecidos pela
norma;
 lançamento e vibração do concreto de acordo com a ABNT NBR 14931.

Pilares, segundo a NBR 6118: 2014

Aa seção transversal de pilares não deve apresentar dimensão menor que


19 cm. Em casos especiais, permite-se a consideração de dimensões entre 19 cm e 14 cm,
desde que se multipliquem as ações a serem consideradas no dimensionamento por um
coeficiente adicional n, estabelecido pela norma. Em qualquer caso, não se permite pilar com
seção transversal de área inferior a 360 cm2.

n = 1,95 – 0,05 . b

Sendo b a menor dimensão da seção transversal do pilar, em cm.

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Classes de agressividade ambiental, segundo NBR 6118:2014.
Classe de Risco de
agressividade Agressividade Tipo de ambiente deterioração da
ambiental estrutura
Rural
I Fraca Insignificante
Submersa
II Moderada Urbana 1, 2 Moderada
Marinha 1
III Forte Grande
Industrial 1, 2
Industrial 1, 3
IV Muito forte Elevado
Respingos de maré

1
Pode-se admitir um microclima com uma classe de agressividade mais branda (um nível acima) para
ambientes internos secos (salas, dormitórios, banheiros, cozinhas e áreas de serviço de apartamentos
residenciais e conjuntos comerciais ou ambientes com concreto revestido com argamassa e pintura).
2
Pode-se admitir uma classe de agressividade mais branda (um nível acima) em: obras em regiões de
clima seco, com umidade relativa do ar menor ou igual a 65%, partes da estrutura protegidas de chuva
em ambientes predominantemente secos, ou regiões onde chove raramente.
3
Ambientes quimicamente agressivos, tanques industriais, galvanoplastia, branqueamento em
indústrias de celulose e papel, armazéns de fertilizantes, indústrias químicas.

Cobrimento nominal, em função da classe de agressividade ambiental NBR 6118:2014.


Classe de agressividade ambiental
Elemento I II III IVc
Cobrimento nominal (mm)
Lajeb 20 25 35 45
Viga ou pilar 25 30 40 50
Elementos
estruturais em
30 40 50
contato com o
solod

b
Para a face superior de lajes e vigas que serão revestidas com argamassa de contrapiso, com
revestimentos finais secos tipo carpete e madeira, com argamassa de revestimento e acabamento,
como pisos de elevado desempenho, pisos cerâmicos, pisos asfálticos e outros, as exigências desta
ϕ
tabela podem ser substituídas por c ≥ .
15 mm
c
Nas superfícies expostas a ambientes agressivos, como reservatórios, estações de tratamento de
água eesgoto, condutos de esgoto, canaletas de efluentes e outras obras em ambientes química e
intensamente agressivos, devem ser atendidos os cobrimentos da classe de agressividade IV.
d
No trecho dos pilares em contato com o solo junto aos elementos de fundação, a armadura deve ter
cobrimento nominal ≥ 45 mm.

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d = h – c -  - /2
ALTURA INICIAL DAS LAJES A esta altura o diâmetro das armaduras ()
não é conhecido. Portanto, deve ser
A altura útil de uma laje maciça de concreto
estimado.
é a distância do centro da armadura até a
face comprimida. O cobrimento nominal (c) deve ser adotado
respeitando os valores mínimos
Na figura é possível observar que a menor
estabelecidos pela norma.
altura útil (d) é dada por:

Figura: Relação entre altura total e altura útil de uma laje de concreto armado

O pré-dimensionamento de lajes pode ser Onde:


feito utilizando equações que relacionam
  x : menor vão da laje;
seus vãos com a altura útil. Essas equações
  y : maior vão da laje.
foram obtidas da experiência prática.
Uma borda pode ser considerada engastada
Para as lajes com bordas apoiadas e/ou
quando, pelo menos, 2/3 de seu
engastadas, a altura útil pode ser pré-
comprimento contém outra laje adjacente.
dimensionada por:
Bordas apoiadas sobre vigas, mas que não
2,5  0,1  n   * tenham lajes adjacentes devem ser
d
100
consideradas simplesmente apoiadas,
Sendo:
conforme ilustrado na figura.
 n: número de bordas engastadas

 x
 *  
0,7   y

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Figura: Esquema estrutural de lajes em função da existência ou não de continuidade

Para as lajes em balanço, pode-se adotar o Para o início do projeto de uma estrutura é
critério: possível se fazer uma estimativa das alturas
das vigas utilizando as relações indicadas na

d x tabela.
0 ,5  
Sendo: Altura – h – estimada para vigas
Altura estimada
Situação
  x : menor vão da laje; (cm)

 : coeficiente que leva em Viga biapoiada hest  o
10
consideração o tipo de aço utilizado. Tramo externo de o
hest 
viga contínua 10
Coeficientes  para pré-dimensionamento de Tramo interno de 
hest  o
lajes maciças, adaptado da NBR 6118:1978. viga contínua 12
Tipo de aço  para lajes maciças o
Viga em balanço hest 
CA 50 25 5
CA 60 20
Sendo:

  o : vão livre da viga.


PRÉ-DIMENSIONAMENTO DE VIGAS
O vão livre é a distância entre as faces dos
A largura das vigas normalmente é escolhida
apoios da viga ou, no caso de viga em
de forma a embuti-las na alvenaria.
balanço, a distância entre a face do apoio e
a extremidade livre.

Figura: Tipos de tramos de uma viga contínua

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as distâncias entre eixos em razões que
variam entre 0,45  e 0,55  , conforme
ilustra a figura.
PRÉ-DIMENSIONAMENTO DE PILARES
Adota-se 0,45.l em pilares de canto ou de
O pré-dimensionamento de pilares pode ser
extremidade, na direção da sua menor
feito estimando-se a parcela de carga do
dimensão e 0,55.l nos seus complementos.
pavimento que cada um irá absorver, em
função de sua área de influência. Nas demais situações, as distâncias entre
pilares são divididas ao meio.
A área de influência de cada pilar num
pavimento pode ser estimada dividindo-se

Figura: Exemplo de distribuição das cargas de um pavimento para os pilares, em função de suas posições

A força atuante no pilar é resultado da considerando a compressão centrada. Como


multiplicação da sua área de influência por os pilares de edifícios são submetidos à
uma carga uniformemente distribuída no flexo-compressão, pode-se aplicar um
pavimento. Para considerar o tramo mais coeficiente de majoração em função da
carregado (pavimento inferior) essa força posição do pilar no pavimento.
deve ser multiplicada pelo número de Coeficiente de majoração da carga em função
pavimentos. Essa definição de força está da posição do pilar

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Posição do pilar  c é o coeficiente de segurança do concreto,
Intermediário 1,3
adotado igual a 1,4 para combinações
Extremidade 1,5
Canto 1,8 normais de carga e s é o coeficiente de
Desta forma: segurança do aço adotado igual a 1,15.

O coeficiente de 0,85 introduzido na


Fp =  . A . p . n
equação deve-se ao efeito Rüsch, que
considera a queda da resistência quando são
A carga distribuída nos pavimentos aplicadas cargas de longa duração na
pode ser adotada entre 7 e 13 kN/m2. estrutura. Este efeito é melhor detalhado
em Rüsch (1981).
Da resistência dos materiais:

F =.A PLANTA DE FÔRMAS

Sendo assim, a área da seção transversal de


A planta de fôrmas é uma representação da
cada pilar pode ser estimada força atuante
estrutura de um pavimento na qual, além
pela sua resistência:
das dimensões, é indicada a numeração de
Fp cada elemento.
Ap 
 id
O pilar é um elemento perpendicular ao
Sendo: pavimento e que pode atravessá-lo, nascer
 Fp: força atuante no pilar ou morrer nele.
 id: tensão ideal de cálculo Pilar que passa: existe no pavimento inferior
e continua existindo no pavimento superior.
 id  0,85  fcd    fyd

Onde: Pilar que morre: existe no pavimento


inferior, mas não continua no pavimento
 fcd: resistência de cálculo do
superior.
concreto, fcd = fck / c;
Pilar que nasce: não existe no pavimento
  : taxa geométrica de armadura
inferior, mas existe no superior.
longitudinal, que pode ser adotada
igual a 3%; Para essas diferentes situações deve-se

 fyd: tensão de escoamento de adotar uma convenção para representação,

cálculo do aço, fyd = fyk / s. que pode ser a sugerida:

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A seguir é mostrado um exemplo de planta
de fôrmas.

Figura: Exemplo de planta de fôrmas

de obras de concreto armado. Rio de


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Janeiro: ABNT, 1978.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
ADÃO, F. X.; HEMERLY, A. C.. Concreto TÉCNICAS. NBR 6118 – Projeto de estruturas
Armado novo milênio: Cálculo prático e de concreto - Procedimento. Rio de Janeiro:
econômico. Rio de Janeira: Interciência, ABNT, 2014.
2002. MARGARIDO, A. F.. Fundamentos de
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS estruturas: um programa para arquitetos e
TÉCNICAS. NBR 6118 – Projeto e execução engenheiros que se iniciam no estudo das

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estruturas. São Paulo: Zigurate Editora,
2001.
PINHEIRO, L. M.. Fundamentos do concreto
e projeto de edifícios. São Carlos: USP, 2009.
RÜSCH, Hubert. Concreto armado e
protendido. Propriedades dos materiais e
dimensionamento. Rio de Janeiro: Campus,
1981.

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