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Roncadores e Pegadores

1. A intenção é apresentar os defeitos dos peixes com vista ao reconhecimento dos mesmos por parte dos
homens e, consequentemente, a alteração do seu comportamento. Com os Roncadores, pretende-se criticar
a arrogância; com os Pregadores, o parasitismo/ oportunismo.
2. Entre São Pedro e os Roncadores estabelece-se uma relação de equivalência ao nível das atitudes: os
Roncadores são arrogantes e têm uma imagem de si próprios superior ao seu verdadeiro valor, tal como
Pedro, que fez promessas que não conseguiu cumprir.
3. a) Quem tem valor e mérito não tem necessidade de os exibir; b) Prometer muito, prematuramente, é sinal
de incumprimento.
4. O discurso oscila entre o plano dos peixes e o plano dos homens, estabelecendo uma equivalência entre
eles. Exemplos: “Nesta viagem […] vi debaixo dela o que muitas vezes tinha visto, e notado nos homens” (ll.
44-45); “Este modo de vida, mais astuto que generoso…não tinham remédio” (ll. 53-57); “Tomai o exemplo
dos homens” (l.76); “Não cuidei que também nos peixes havia pecado original” (ll.102-103). Deste modo,
Vieira dirige-se a um auditório fictício, os peixes, mas, inferencialmente, a um auditório real, constituído
pelos homens.
5. Os peixes mais pequenos aproveitam-se do Tubarão e juntam-se a ele, pelo que, quando este morre,
morrem os Pegadores também; Herodes foi morto por querer matar o Menino Jesus e, com ele, morreu
toda a família porque o seguia e dele dependia. Tal como os Pegadores seguem o Tubarão e dependem dele,
também os familiares de Herodes viviam na dependência do governador.
6. a) B / b) C

Voadores

1. Os Voadores consideram que têm barbatanas maiores do que as dos outros peixes e pretendem voar, apesar
de não terem asas. Estas características representam a presunção e a ambição humanas.
2. Através das interrogações, o orador interpela diretamente o auditório, o que confere mais força e vivacidade
ao discurso. Desta forma, mantém o auditório atento à mensagem que transmite.
3. Referindo-se a Santo António como “António”, o pregador origina uma situação de ambiguidade.
Implicitamente, poderá estar a referir-se também a ele próprio, António Vieira, enquanto pregador que
segue o exemplo de Santo António, como refere no capítulo I do sermão. Esta estratégia dará, assim, mais
credibilidade à sua mensagem, atendendo à especificidade do auditório.
4. É um aparte de Vieira, uma outra forma de se referir aos homens demasiado ambiciosos, o que confirma que
a obra é uma alegoria. O antecedente é “voadores”.
5. 1 – “Simão” / 2 – Oração subordinada adverbial final / 3 – “para não voar”

Polvo

1. O Polvo assemelha-se a um monge, a uma estrela, ostenta brandura e mansidão, sugerindo santidade e
bondade. São essas características que permitem dissimular-se e apanhar as suas presas desprevenidas. Os
comportamentos humanos nele representados são a dissimulação e a falsidade.
2. A água em que o Polvo se encontra é pura, clara e cristalina (uma vez que é reflexo do céu), o que significa
que nada pode ocultar ou dissimular; o Polvo, pelo contrário, é dissimulado e constitui-se como um
embuste, ou seja, não é verdadeiro e serve-se de artifícios para conseguir o que quer. O contraste com a
água amplifica a negatividade do Polvo.
3. a) A múltipla adjetivação antecedida de “tão”, confere ao texto um tom enérgico, enfatizado pela gradação e
pela repetição do som “t”. estes recursos estão ao serviço do deleite do auditório (delectare); evidenciam a
crítica aos defeitos do Polvo/ dos homens (docere) e permitem também ao orador persuadir o auditório,
levando-o a um comportamento oposto (movere). Estes recursos permitem pormenorizar os defeitos, que o
orador evidencia, conferindo-lhes, assim, um maior destaque.
b) Trata-se da enumeração e da gradação, que permitem ao orador obter um efeito de persuasão (movere);
c) Uso expressivo do imperativo e duas enumerações com sentidos opostos; desta forma, o orador “ensina”
(docere) mas também “persuade” (movere), pois destaca as qualidades de Santo António, por oposição aos
defeitos do Polvo (“dolo, fingimento, engano”), como forma de persuadir o auditório a seguir o exemplo do
Santo.
4. O paralelismo sintático ocorre no seguinte segmento textual “O Polvo com aquele seu capelo na cabeça,
parece um Monge; com aqueles seus raios estendidos parece uma Estrela; com aquele não ter osso nem
espinha, parece… (ll.3-6). Estamos perante uma construção sintática repetitiva, em que se subentende o
sujeito e se estrutura a frase recorrendo à repetição de expressões sublinhadas e ao predicativo do sujeito.
5. Partindo de uma premissa por todos conhecida – Judas como símbolo máximo de traição - , a estratégia
argumentativa surte efeito na medida em que o Polvo é censurado por ser ainda mais traidor do que Judas.
Enquanto Judas traiu o Mestre às claras e apenas o indicou aos algozes, o Polvo é mais dissimulado e falso,
uma vez que se veste de diferentes cores para se disfarçar e surpreender as suas presas, de quem é também
o executor.

Advertência

1. Neste excerto encarra-se a exposição dos argumentos a favor e contra o comportamento dos peixes (l.1),
tanto no plano geral como a nível particular, dando-se por terminada a exploração do conceito predicável
(l.2). Acrescenta-se, a encerrar esta parte, uma última advertência ao auditório, anunciada nas linhas 2 e 3 e
desenvolvida até ao final do capítulo.
2. Neste excerto, a crítica é feita àqueles que enriquecem com os bens alheios, e é apresentado o exemplo do
produto dos naufrágios.
3. O episódio bíblico – Cristo e São Pedro – é um exemplo ao serviço da moralidade que o orador pretende
destacar, ou seja, que é condenado todo aquele que fica com os bens alheios.
4. “Oh que boa doutrina era esta para a terra, se eu não pregara para o mar” (l.23).
5. Os homens incorrem na “morte eterna” quando cometem pecados de que não podem ser absolvidos (como
apoderar-se do que é alheio).

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