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REVISTA Portus Cale Nº 2 – ANO II Junho 2014

EDITORIAL

Academia do Conhecimento Portus Calle, Não tememos o futuro, porque ele se


quanto à sua missão, será no seio da determina na persistência, que a presente
sociedade, a partir da Cidade Invicta , criar Academia, se imbuiu na Defesa de uma
um movimento cívico de investigação, nova perspectiva social para um projecto
conhecimento e intervenção social, que global, que contemple uma pátria universal
aponte para a criação de um novo tipo de para a Língua Portuguesa que na sua mais
sociedade – uma sociedade que dê valor ao viva expressão será, a Lusofonia!
social, às pessoas, ao humanismo integral,
tendo por base um escopo de
conhecimentos que passa pela visão A Direção
espiritualista e por uma filosofia
cooperativista, nelas concentrando-se
princípios científicos, espiritualistas, sociais,
políticos e económicos, frutos originais do
pensamento cultural luso que se tem vindo
a projectar ao longo dos últimos nove
séculos!
REVISTA Portus Cale Nº 2 – ANO II Junho 2014

Comissão Editorial

Abreu Freire
Carlos Mota
Helena Peixoto
Jacinto Alves
Joaquim Paulo
Miguel Tato
Pedro Jorge Pereira

Neste Número:

- Figuras Portuenses
António Nobre
J.B

- E (quase) tudo os hipers, os “shoppings” e


os outros “tais” levaram
Pedro Jorge Pereira

- EMPREENDEDORISMO SOCIAL:
ARRISCAR NUMA ÉPOCA DE
DESCONFIANÇA
Helena Peixoto

- INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA DOUTRINA


DA CIDADANIA SOCIAL
Jacinto Alves

- Letras e Poemas
Joaquim Paulo
Helena Peixoto
REVISTA Portus Cale Nº 2 – ANO II Junho 2014

Segundo alguns autores, António Nobre


será o poeta mais “geneticamente
português”. Encarnando no Só, aquela
alma Lusitana tão ilustrada em Teixeira de
Pascoaes na sua obra definidora da
Saudade como tema e lema de Portugal.
O poeta, nasceu no dia 16 de Agosto de
1867, no Nº 467, da Rua Santa Catarina.

Na verdade, António Nobre teve a


felicidade inicial de nascer no seio de
família abastada portuense, com o dinheiro
que o seu pai grangeou no Brasil.
Frequentou os melhores colégios da cidade.
FIGURAS PORTUENSES Foi no Colégio Académico que conhceu e
privou com alguns consdiscipulos que
iriam ser determinantes no seu caminho de
António Nobre poeta, como Eduardo Coimbra, Hamilton
Araujo. Mas foi o convivio com a sociedade
da Praia de Leça de Palmeira, a esse Mar
inspirador, da forma contemplativa como a
sua Poesia se marcou. Aí criou poemas
como o “Dr. Oceano”, e escreveu muitos
dos seus “Primeiros Versos”.
Famosa ficou a Tertúlia que criou, o grupo
Boémia Nova, juntamente com amigos
dedicados, como: Homem de Melo,
Agostinho de Campos, António Fogaça,
Vasco da Rocha e Castro e Alberto Oliveira
entre outros.
Isto já em Coimbra, aonde permaneceu
apenas por dois anos, por inadaptação à
vida coimbrã, mas sobretudo o
aparecimento precoce da doença, Peste
Branca á época, a Tuberculose, que viria
cedo a roubar-lhe a vida. Sintomas que
O Poeta Só nessa mesma altura não foram
reconhecidos como tal e já em França, vai
ressurgir.
Recorrendo a Magalhães Basto e a António Em 1890 segue para a Sorbonne,
de Almeida, esse extraordinário autor frequentar um Curso de Direito
Portuense, pode ser revisto aquí. Internacional, com o objectivo de abraçar a
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vida diplomática.
Fará da Rue de Écoles, o seu novo
“Condado”, como em Leça da Palmeira, Poeta só, simbolo de uma época, em que os
aonde produzirá as restantes poesias do Deuses Amam aqueles que morrem cedo,
“SÓ”, altura em que publica o seu primeiro de tísica é certo.
livro.
Doença, fome surge de braço dado e a
Tuberculose terá um influencia
fundamental na evolução da sua poesia.
Regressa a Portugal, mas começa aí o seu
“Mal de Anto”, que se confunde com
Destino e Saudade, na procura
sebastianistica de uma cura para a doença.
“Ao mundo vim, mas enganado.
Sinto-me farto de viver: “ À beira mar em sonhos eu dormia,
Vi o que ele era, estou massado, Alta ia a lua, no cerúleo trono.
Vi o que ella era, estou massado. O mar cuspindo vagalhões, tossia
Não batas mais! Vamos morrer...”. Como tossem os tísicos no Outono.”

A poesia do Pessimismo, ou a mais “Quando ella passa a minha porta,


fabulososa história do contraste entre o Magra, lívida, quazi morta,
sonho de uma alma flébil e a realidade de E vae até á beira mar,
um mudo sem esperança nem ilusões. O P Lábios brancos, olhos pizados,
Portugal do pós Ultimatum, nas palavras de Meu coração dobra finados,
Fernando Pessoa. Meu coração põe-se a chorar...”
in Pobre Tysica

Temperamento lírico e romântico, sofre


como ninguém o mundo de promessas que
desaba e transforma a sua poesia numa Sua Poesia será musa inspiradora dos
lírica desesperada, esculpindo a mulher e a poetas da geração seguinte, mostrando a
árvore, o mar e o céu, numa tristeza e sua grandeza superior á época,
mistério de harmonia originais únicos. nomedamente em Mário de Sá Carneiro,
Figuras tocadas de tristeza e inocência, Fernando Pessoa, Teixeira de Pascoaes,
como se o seu túmulo antecipado fosse a José Régio...
forma de um berço, tocando nascimento e
morte no mesmo abraço. Poesia de
transição ente dois mundos, do romantico J. B.
desesperado e da nova esperança poética,
assumida em Orfheu, de uma
espritualidade mais profunda.
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extinção. Considere-se por exemplo os


seguintes dados: “O primeiro hipermercado em
Portugal surgiu a 10 de Dezembro de 1985. Ao
longo das duas décadas e meia que entretanto
passaram, abriram mais 74 unidades, o
comércio tradicional perdeu mais de 70% da
sua importância e fecharam cerca de 24 mil
lojas.”(1)
Ou seja, considerando a velocidade e a escala
de encerramento de pequenas lojas, podemos
dizer que qualquer dia já não restam lojas de
comércio tradicional (Segundo a Confederação
do Comércio e Serviços de Portugal (CCP),
E (quase) tudo os hipers, os ainda com base em dados da AC Nielsen, havia
“shoppings” e os outros “tais” levaram pouco mais de 18 mil lojas de comércio em
… Portugal em 2009 e em 1985 existiam mais de
42 mil.)” (2), caso algo de muito determinado e
efectivo não seja feito no sentido de inverter o
fenómeno. E a realidade é que pouco, ou em
muitos casos nada, está a ser feito para travar
esse processo.
Por outro lado é fundamental salientar que
existem inúmeras dimensões e aspectos que
não são passíveis de conter na dimensão
meramente estatística da questão.
É fundamental considerarmos que o comércio é
uma actividade praticamente intrínseca e
paralela à própria evolução da história da
Os discursos e as notícias sobre a recessão
humanidade. O comércio - e essencialmente
económica, sobre a austeridade e os seus
estamos-nos a referir a um Comércio Familiar e
efeitos, sobre a espiral de empobrecimento e
de Pequena/Média Escala (aquele que
retrocesso ao nível dos vectores de
predominou, para não dizermos que seria até
desenvolvimento estão na ordem do dia.
então o único modelo existente, na história da
Apesar disso, talvez não seja assim tão
humanidade nos últimos séculos) - foi e é uma
frequente conseguirmos encontrar reflexões,
actividade crucial para a vitalidade económica e
quer a nível de imprensa, quer a nível dos
por inerência social das comunidades locais.
diálogos de “rua”, sobre as verdadeiras causas,
e as causas mais profundas, que contribuíram e Inicialmente os “burgos” eram naturalmente os
contribuem em larga medida para esse cenário locais onde se desenvolvia o grosso da
de dita “crise”. actividade comercial e deram origem a uma
Um dos aspectos que estará, porventura, mais classe social designada de "burguesia", (o que
subestimado e que raramente é tido em representou de certa forma uma ruptura com os
consideração, levando em linha de conta por modelos tradicionais cingidos a uma lógica
exemplo as suas repercussões económicas, feudal que dividia as classes entre nobreza – ou
prende-se com o processo de brutal os que “exploravam” – e o povo – os que eram,
“desaparecimento” dos modelos de Comércio e de que maneira, “explorados”. Entrando na
Familiar e de Pequena/Média Escala - CFPME. equação também o “clero” que, em larga
O comércio tradicional tem vindo a caminhar a medida, constituía uma terceira classe que
passos largos para uma situação de quase pertencia mais à primeira ordem – os que
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exploravam, ainda que com outras nuances – local). E estamos a falar de um comércio
do que certamente à segunda – os que eram principalmente especializado numa determinada
“explorados”.). área, num determinado sector.
Estamos a falar sobretudo de um comércio Obviamente que as transformações mais
essencialmente de bens de primeira acentuadas deste género de estrutura de
necessidade (alimentos – pão, frutos, legumes, comércio aconteceram nos ditos países
etc. – madeiras, etc.) mas também de bens industrializados sobretudo após a II Grande
produzidos pelos diferentes ofícios existentes Guerra Mundial. Em Portugal aconteceu
então (ferreiros, sapateiros, pelames, etc.). sobretudo a partir da década de 80, muito em
Pode-se afirmar que era um comércio particular com a adesão (com tudo o que isso
predominantemente “directo”, em que o implicou a vários níveis) à Comunidade
produtor, ou artífice, vendia directamente ao Económica Europeia – C.E.E.
“consumidor”. Era portanto uma realidade em
O comércio - e num período de tempo que
que a existência de intermediários, ou o que
podemos considerar, do ponto de vista histórico,
hoje chamaríamos de retalhistas, era ainda algo
bastante curto - deixou de ser de uma matriz
marginal. As coisas foram-se modificando ao
essencialmente local, familiar e de
longo da história, nomeadamente com o
relativamente “pequena escala” para passar a
surgimento da já mencionada classe
ser de uma matriz essencialmente globalizada,
mercadora, a “burguesia”, mas começaram a
corporativa e de grande escala (o que não
modificar-se ainda mais acentuadamente na
significa que, muitas vezes, apesar de nos
Revolução Industrial. Ainda assim, e recorrendo
estarmos a referir a grupos de retalho
à própria história da cidade do Porto, podemos
gigantescos, a maior parte do capital gerado
afirmar que a produção “em massa" ou “em
não acabe por reverter para um grupo muito
série” – que acabou em muitos casos por ser o
restrito de indivíduos bilionários).
princípio do fim de vários desses ofícios
tradicionais e artesanais – não alterou Existem portanto diversos aspectos que
radicalmente, contudo, o modelo de permitem efectuar uma clara distinção entre um
produção/consumo. Ou seja, houve um modelo de comércio (tradicional e/ou de
incremento da actividade comercial em termos pequena escala) e o outro (grandes superficies
do aparecimento de novos modelos de e grande retalho).
comercialização, começaram a surgir mais lojas De entre esses vários aspectos aquele que
um pouco em contraponto ao modelo tradicional merece desde logo especial destaque prende-
de produção e venda directamente nas próprias se com o factor económico, sobretudo pela
“oficinas”, ou através de feiras e mercados mais forma leviana e até falaciosa como ele é
ou menos “oficiais”, mas essas lojas mantinham geralmente abordado.
um carácter essencialmente local (não obstante É rara a “notícia” (como quem diz … chamar
algumas delas efectuaram vendas um pouco notícia a textos que de rigor e reflexão
para todo o país e por vezes até para outros jornalística pouco ou nada têm …) que não
países), familiar e algo que se poderá hoje em destaca o número de postos de trabalho
dia classificar de … tradicional. Ou seja, gerados e o investimento efectuado pelo grupo
estamos a falar de estabelecimentos que, regra económico promotor do empreendimento em
geral, eram propriedade de uma única pessoa, causa (seja ele “shopping”, “hiper”, “super de
ou de uma família. E que comercializavam cadeia”, etc.).
essencialmente no local, “sobretudo na cidade” Ora bem, sendo que a criação desses postos de
onde estavam, sendo minoritárias as situações trabalho é um facto, a questão que urge colocar
de estabelecimentos com sucursais e é: Foi/é em alguma dessas circunstâncias
delegações a nível nacional ou sequer regional efectuado qualquer espécie de estudo que
(o que significa que estamos a falar de um permita avaliar o impacto da abertura e
comércio com um forte vínculo à comunidade concorrência directa desse investimento de
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“grande superfície/retalho” ao nível do Não é pois de estranhar que ao estarmo-nos a


encerramento de Lojas de Comércio Familiar e referir ao fenómeno da cada vez maior
de Pequena/Média Escala - CFPME? concentração em termos de centros e
Nomeadamente número de postos de trabalho mecanismos de distribuição implique referirmo-
perdidos (irremediavelmente)? nos a esse outro (ou no essencial não será o
Seria muito interessante se algum estudo desse mesmo?) fenómeno concomitante que é o da
género fosse realizado e pudesse ser cada vez maior concentração de entidades
contabilizado e efectuado um balanço entre produtoras, e o sector alimentar é disso um
postos de trabalho criados Vs postos de excelente exemplo (apesar de em muitas
trabalho “eliminados”. situações existirem dezenas de marcas
Não me restam muitas dúvidas que em diferentes muitas vezes, e numa observação
inúmeras situações, já para não dizer na quase mais atenta, chegamos facilmente à conclusão
totalidade, iria-se chegar facilmente à conclusão que muitas dessas marcas apesar de diferentes
que a “miragem” dos postos de trabalho criados entre si são propriedade de um conjunto muito
não passa disso mesmo e que, bem pelo restrito de grandes grupos económicos). Por
contrário, o grande comércio acaba por ter um exemplo, do nosso cabaz “habitual” de produtos
impacto muito negativo ao nível do “emprego”. alimentares quantas dessas marcas não são
Contribuindo pois para o agravamento do propriedade da “Nestlé”, da “Unilever”, etc?.
desemprego, como temos vindo a assistir desde Quando nos referimos ao comércio de grande
que o comércio de grande escala se tem vindo escala é importante reflectirmos também sobre
a disseminar e a apropriar do espaço a lógica e os modelos de consumo implícitos.
económico (ao que acrescentaria também O modelo que geralmente é “instituído” é, por
cultural) outrora pertença do comércio de inerência e definição, um estilo de consumo
pequena e média escala. Até porque a lógica do mais massificado e que acaba por ser mais
grande comércio é a de “automatizar” ao próximo daquilo que se pode designar por
máximo o próprio processo de consumo … consumismo do que propriamente consumo no
sendo concebido para funcionar com o menor seu sentido mais tradicional.
número possível, e por vezes até impossível, de Toda a dinâmica e estratégia dos grandes
trabalhadores. espaços comerciais centra-se pois numa
Isto só falando do aspecto “quantitativo”, porque permanente instigação ao consumo. Vezes sem
a nível “qualitativo” os postos de trabalho conta acabamos por adquirir não somente os
criados tendem a ser muito mais precários e produtos que com alguma objectividade
instáveis. necessitávamos mas também, por via de algum
Ao nível da produção e capacidade (quantitativa “aliciamento” e incentivo ao consumo, muitos
e qualitativa) de escoamento por parte do produtos que no fundo não tinhamos verdadeira
produtor (sobretudo se estivermos a falar de necessidade.
pequenos e médios produtores) também se Esse género de realidade acaba, ou acabava,
colocam questões bastante importantes … a por ser bastante mais raro nos
realidade é que com o “afunilamento” dos estabelecimentos de comércio de pequena
canais de distribuição (que se concentram cada escala. Geralmente quando íamos a alguma
vez mais “nas mãos” de cada vez menos mercearia acabava-mos por trazer somente
“retalhistas”, e cada vez mais nas mãos de aquilo que realmente pretendiamos inicialmente
grandes corporações do retalho: em Portugal adquirir.
por exemplo a Sonae distribuição e a Jerónimo Por aqui pode-se facilmente deduzir que a
de Martins - dois gigantes do retalho que escala de “desperdício” gerada (ou seja,
controlam, em conjunto, cerca de 60% do produtos que acabam por não ser adquiridos e
mercado nacional), as escolhas dos produtores, se tornam, por exemplo por uma questão de
sobretudo pequenos produtores, tornam-se prazos de segurança/validade, inviáveis para a
cada vez mais reduzidas, já para não dizer comercialização,) é enorme.
inexistentes. O desperdício (quando analisado na sua
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essência é uma “anormalidade” num processo estarmos a referir a estabelecimentos de


natural de produção – consumo, pelo menos propietários originários do Bangladesh, da Índia,
nas proporções dantescas em que ocorre etc.
actualmente) que, face á nossa realidade Uma das “maravilhas” da globalização do
actual, acaba por nos parecer “normal” tem na comércio (postulada, entre outras, por mega
verdade múltiplas implicações e nuances: não organizações sem qualquer controlo
nos podemos esquecer que toda a produção democrático como a OMC – Organização
implica um consumo, muitas vezes Mundial de Comércio, o Banco Mundial e o
extremamente elevado, de recursos naturais, de Fundo Monetário Internacional) foi/é a
matérias-primas. Todo o processo tem um eliminação de muitas das barreiras
elevado impacto em termos de consumo alfandegárias que tinham ainda a capacidade
energético. Todo o processo, ainda para mais de proteger o comércio de base nacional, local,
numa economia exacerbadamente globalizada, etc. Muito basicamente diria que é um dos
tem um elevado impacto na forma como se fenómenos mais fundamentais na compreensão
organizam as relações de trabalho (ou será da forma como se estrutura a economia e as
exploração?) a nível global. Todo o processo sociedades actuais mas, não obstante, também
tem um impacto extremamente elevado ao nível um dos menos estudados e debatidos. É um
dos resíduos gerados (e na maior parte dos fenómeno crucial para compreender questões
casos lançados na Natureza sem tratamento tão fundamentais como as elevadas taxas de
adequado), ou não estivéssemos a referirmo- desemprego dos países ditos desenvolvidos,
nos ao conceito, precisamente, de desperdício como a designada “crise económica”, entre
… muitas outras (por exemplo, a crise ambiental).
Nessa óptica o desperdício que acaba por ser Nessa medida os nossos “mercados” são
uma consequência tida quase como secundária inundados com produtos provenientes “do outro
ou lateral no processo de produção-consumo lado do mundo” que nos chegam a preços,
capitalista é na verdade uma concepção que se regra geral, bastante inferiores mas com um
poderá considerar, face àquilo que foi exposto custo ambiental, laboral, social e até económico
anteriormente, profundamente errada e até extremamente elevado e pesado; apesar de
imoral … estarmos a falar de “custos” que raramente são
Obviamente que chegados a este ponto somos expressos no custo final dos bens que
obrigados a discutir se o próprio modelo adquirimos.
económico vigente, baseado numa concepção Ao nível do comércio local o surgimento deste
orientada para um crescimento económico tipo de estabelecimentos, na verdade “como
constante, fará de facto sentido ou se, pelo cogumelos”, tem tido também, a par dos
contrário, não fará cada vez mais sentido estabelecimentos de grande escala (cadeias de
pensarmos num modelo de “decrescimento” da desconto, supers, hipers, “shoppings”, out-lets e
economia em contraponto a este modelo afins), um impacto brutal e fatal no
exacerbadamente globalizado. No fundo desaparecimento do “Comércio Familiar e de
estaremos a falar de uma relocalização da Pequena/Média Escala”.
economia num modelo essencialmente baseado Existe também uma dimensão que importa, e
nos recursos e dinamismos locais. bastante, referir que se prende com a dimensão
Falando em economia globalizada, e voltando cultural. Se quisermos etnográfica também:
um pouco mais especificamente à questão dos Muito mais do que simples “lojas”, os
estabelecimentos de comércio, é importante estabelecimentos de “Comércio Familiar e de
para esta análise referirmos também uma outra Pequena/Média Escala” possuem um papel
realidade que são os “estabelecimentos muito importante ao nível da construção e
especializados na importação de produtos preservação da identidade cultural das
massificados a preço baixo”. No fundo aquilo comunidades locais. Naquilo que actualmente
que comunmente é conhecido como as “lojas se designa como um “património imaterial” mas
chinesas”, apesar de muitas vezes nos não só … existe também um património muitas
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vezes material, como o arquitectónico por comércio de um lado e o grande retalho do


exemplo, que se tem vindo a perder a um ritmo outro, por exemplo. Não está também em causa
vertiginoso. uma completa rejeição e aversão aos novos
O seu desaparecimento é, simultaneamente, modelos de comércio e consumo (grande
uma das principais causas e consequências do retalho, cadeias multinacionais, etc.) Acima de
processo de desertificação e degradação que tudo, o que está aqui em causa é o desequilibrio
tem vindo a suceder nas últimas décadas nos cada vez maior entre um modelo e outro. Tem-
Centros Históricos dos principais centros se assistido a uma lógica completamente
urbanos. O Porto é disso um exemplo “predatória” de quase completa substituição
“assustador”. Muitas vezes estamos a falar de (num período de tempo relativamente curto) de
ruas, por vezes quarteirões inteiros, que um modelo pelo outro, ao ponto de,
parecem um verdadeiro cenário de pós-guerra: actualmente, muitos de nós, e sobretudo as
casas, lojas completamente abandonadas e gerações mais jovens, só terem quase como
num avançado estado de degradação. referência os modelos de comércio mais
Assim sendo é-me extremamente difícil “modernos” e de maior escala. E são mais do
compreender como é tão poucas vezes que referência: são modelos quase exclusivos
estabelecido esse nexo causal, que na essência de consumo.
me parece evidente, entre a decadência do Existem muitas dinâmicas sociológicas, e
“Comércio Familiar e de Pequena/Média elementos identitários locais, cujo
Escala” e tantos dos fenómenos anteriormente desaparecimento do comércio tradicional leva
referenciados. Na verdade, muitas das também a uma, muitas vezes irreversível,
propostas muitas vezes avançadas e extinção.
implementadas por exemplo de chamada No fundo é toda a lógica de consumo, toda a
“requalificação urbana”, apesar de “travestidas” lógica relacional, que é também muito diferente
de comércio de pequena escala (por exemplo da lógica do grande retalho, que acaba por ser
considerando a dimensão das lojas), são, no muito mais automático, “impessoal” e em vários
essencial, dinâmicas de difusão do comércio de aspectos … desumanizado.
grande escala (dado que muitas vezes Há pois toda uma dimensão (ou várias
consistem em estabelecimentos de grandes dimensões) afectiva e cultural que se perde …
marcas, de cadeias multinacionais). resultando numa perda talvez até bem superior
Parece-me pois, de forma inequívoca, que a às próprias perdas em termos económicos (com
revitalização do comércio de pequena e média a deslocação dos recursos económicos da
escala, do comércio tradicional e/ou familiar, é economia local para os grandes centros
de importância fundamental para a própria financeiros globais, geralmente propriedade de
revitalização dos centros urbanos (mesmo os de um conjunto muito restrito de entidades e
pequena dimensão) e provavelmente vice- indivíduos), não obstante a importância que
versa. estas têm para a compreensão da crise
Parece-me ainda que uma relocalização da económica global actual.
economia, a reconstrução de economias de Chegados a este ponto as principais questões
carácter essencialmente local/regional, será que se colocam são:
fundamental para sairmos da situação de De quem é a principal responsabilidade por tudo
evidente colapso económico e laboral gerado isto e o que pode ou não ser feito para que as
pelo economia especulativa global. E, mais uma coisas sejam diferentes?
vez, o comércio dito de pequena e média O consumo possui hoje, portanto, um
escala, de comércio tradicional e/ou familiar, significado prático e sociológico profundo em
revela-se crucial. todo um contexto de neoliberalismo hegemónico
Chegados a este ponto da reflexão é importante à escala mundial: muito para além da sua
referir que a questão não é evidentemente função "pré-histórica" de satisfação de
linear, ou seja, a questão não reside no facto de necessidades essenciais, actualmente as
estarmos perante “bons” e “maus” … o pequeno supostas necessidades dos indivíduos –
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necessidades, desde logo, de forma frequente visão entre diferentes unidades de pequeno
artificialmente criadas e ampliadas até à comércio, apesar de muitas vezes se
exaustão pela poderosa indústria publicitária e localizarem, por exemplo, em áreas geográficas
departamentos de marketing das principais bastante próximas.
corporações multinacionais – são o pretexto De certa forma esse facto compreende-se pelo
ideal para reproduzir e disseminar o consumo envelhecimento e pela ausência de
enquanto instituição teológica (na medida em perspectivas futuras que caracteriza em larga
que funciona quase como se de uma religião se medida o sector. Não justificando isso por si só
tratasse), dogma cultural e mecanismo prático tudo.
de alienação colectiva, mas por via de um Isto sem prejuízo de haver também diversas
crescente processo de feroz competição e situações de comerciantes tradicionais que
estratificação individual materialista. simplesmente estarão na profissão “errada”,
Ou ainda, segundo Baudrillard: “O consumo considerando a atitude muitas vezes pouco
surge como conduta activa e colectiva, como amistosa, prepotente e em jeito de “estar a fazer
coacção e moral, como instituição. Compõe um favor ao cliente ao servi-lo” que adoptam.
todo um sistema de valores, com tudo o que No entanto o potencial, o valor das suas
este termo implica enquanto função de especificidades e características
integração do grupo e de controlo social.” [3] diferenciadoras, está todo lá …simplesmente
E isto equivale a dizer que todo este processo, não tem sido devidamente reconhecido,
e as próprias dinâmicas de comércio e consumo potenciado e, sobretudo, comunicado.
instituídas, não surgem “do nada” ou “por mero E chegamos pois à responsabilidade que têm
acaso”. Inscrevem-se evidentemente num as diversas entidades competentes, ou será
quadro mais amplo de disseminação de um tantas e tantas vezes incompetentes?
modelo ideológico neoliberal à escala global. E, A verdade é que quando falamos em
face à dimensão e poder dos mecanismos de “reconhecimento”, ou na ausência de
reprodução desse sistema que se tem vindo a reconhecimento pelo valor e valores do
tornar hegemónico, podemos facilmente ficar Comércio Familiar e de Pequena/Média Escala
com a sensação de que não há muito que Comércio Familiar – CFPME, essa ausência
possa ser feito … parte, vezes sem conta, das próprias entidades
No entanto importa referir que “a que mais deveriam fazer por ele. Na verdade
responsabilidade” é também dos próprios são as primeiras a apoiar projectos de grande
comerciantes. É evidente que a pressão e escala que frequentemente constituem a “pedra
impacto de todo o contexto económico e cultural lapidar” do que ainda subsiste de comércio de
é extremamente elevado, é evidente que é raíz tradicional.
quase impossível competir com o grande A responsabilidade também é, e bastante, de
comércio face a todos os instrumentos e cada um de nós. As nossas escolhas enquanto
mecanismos que este dispõem … Mas coloca- cidadãos, enquanto consumidores, são
se a questão: O que é que já foi feito, ou é feito, determinantes no sentido de definir se o nosso
pelos próprios comerciantes no sentido de dinheiro irá ser investido, por princípio, na
afirmarem as suas próprias mais-valias ou economia local, ao apoiarmos pequenas
comunicarem os seus próprios pontos fortes e unidades de comércio tradicional e/ou familiar
pontos diferenciadores? Diria que pouco … Há ou se, pelo contrário, estaremos a contribuir
algumas excepções, vários exemplos de ainda mais para o poder económico de uma
sucesso de estabelecimentos de pequeno grande corporação multinacional e a contribuir
comércio que têm sido capazes de se afirmar, e ainda mais para a economia capitalista global.
até com elevado sucesso nalguns casos, num Por isso diria que o factor essencial de toda
contexto de acentuada regressão do sector. esta “questão”, ou questões, é precisamente
Mas a verdade é que não tenho conhecimento esse enorme potencial que existe de podermos
de muitos casos que evidenciem uma fazer a diferença e podermos inverter rumos
significativa capacidade de cooperação, acção e que nos parecem irreversíveis e fatais.
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Há na verdade também vários óptimos possamos fazer mas, na verdade, isso é


exemplos de novos projectos, expressando precisamente, vezes sem conta, o pretexto para
novas tendências, que têm vindo a surgir. não fazermos nada. E tudo aquilo que
Existem alguns exemplos interessantes de possamos fazer que seja mais do que nada é
cooperativas de consumo, cujos propósitos vão por si … muito mais do que nada.
justamente no sentido de aumentar o grau de A reflexão já vai longa … muito já foi dito mas
controlo e de responsabilidade do próprio muito mais ficou por dizer. Sobretudo, muito
consumidor no processo de consumo. Algo que mais há a fazer por cada um de nós para que os
contraria a tendência que tem sido fomentada nossos modelos de consumo (e claro, produção
pelas grandes corporações de tornarem o e distribuição) possam ir mais de encontro
consumidor num ser cada vez mais permeável àquilo que no fundo sabemos que é mais
aos ataques de comunicação corporativa correcto: uma maior justiça económica, social e
(publicitária, promocional, etc.) e, por outro lado, ambiental.
num ser com cada vez menos importância nas E uma caminhada de mil passos começa …
decisões em termos de funcionamento dos com o primeiro passo. (5)
mecanismos de produção-distribuição-consumo. Vamos a isso?
Qual é a percentagem de pessoas que se
preocupa verdadeiramente com as condições Pedro Jorge Pereira
em que foram fabricadas as calças que vestem? Formador e Activista Eco-Social
Qual é a percentagem de pessoas realmente Dinamizador do C.3C´s – Centro para o
dispostas a abdicar de comprar vestuário, só a Consumo Crítico e Consciente e das O.3C´s
título de exemplo, da sua marca favorita pelas – Oficinas para o Consumo Crítico e
condições em que esta produz (ou manda Consciente, no Porto, bem como do Projecto
produzir) as suas roupas? Será provavelmente Terramote351 – Desenvolvimento, Formação
uma percentagem muito reduzida, e Turismo Eco-Social.
particularmente num país como Portugal onde
ainda vivemos inebriados pelas maravilhas que Correcção Ortográfica:
a recentemente (sobretudo nas últimas 3 Sofia Barradas
décadas) sociedade de consumo nos “promete”.
Mas, apesar de reduzida, é precisamente nessa C.3C´s – Centro para o Consumo Crítico e
minoria - talvez mais consciente, talvez mais Consciente
empenhada na descoberta e criação de email: centro.3cs@gmail.com
modelos de consumo alternativos - que reside facebook:
em grande medida a esperança e possibilidade http://www.facebook.com/centrotrescs.cons
de os processos de consumo poderem umoconsciente
caminhar num sentido de maior justiça social,
maior responsabilidade ambiental, maior Grupos Informativos/Discussão
sedimentação de estruturas e modelos numa Google Groups:
economia de base local. A agricultura de base http://groups.google.com/grupo/C3Cs
local e comunitária é um óptimo exemplo. Os Facebook:
diversos projectos que têm surgido de hortas https://www.facebook.com/groups/23879050
comunitárias, nomeadamente em contexto 9582976
urbano, são importantes numa dimensão tão
valiosa como é a da auto-produção. São Terramote351 - Desenvolvimento, Formação
igualmente importantes as várias feiras e e Turismo Eco-social
mercados" alternativos que permitem um email: terramote351@gmail.com
contacto mais directo e humanizado entre blog: http://terramote351.blogspot.pt/
produtores (por exemplo artesãos) e facebook II:
consumidores também. https://www.facebook.com/Terramote351
Poderá parecer que há muito pouco que facebook:
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Pedro Jorge Pereira


email: ecotopia2012@gmail.com
telf. 93 4476236
facebook:
https://www.facebook.com/pedro.j.pereira

(1) Lima, Ana Paula; (2010). Mais de 24 mil


lojas fecharam as portas desde chegada dos
hipermercados. Jornal de Notícias 2010 12Dez
10, [Em linha]. Disponível em
<http://www.jn.pt/PaginaInicial/Economia/Interior
.aspx?content_id=1731436>. [Consultado em
2012 04Abril 19].

(2) Idem

(3) Baudrillard, J. (1996). A sociedade de


consumo. Lisboa, Edições 70.

(4) Lao Tsé


REVISTA Portus Cale Nº 2 – ANO II Junho 2014

EMPREENDEDORISMO SOCIAL: mundial, consequência do crash bolsista de 1929


ARRISCAR NUMA ÉPOCA DE
em Nova Iorque. A saída da crise passou, nos
DESCONFIANÇA
EUA, pelo “New Deal” e na Europa, por um
reforço de medidas de proteção social. Mas a
Atualmente, esta é uma das palavras mais
Europa veria ainda mais agudizar-se a sua
referidas como forma de escapar à crise. Por
situação com a Segunda Guerra Mundial.
todo o lado nos incitam a tomar nas nossas mãos
No final da guerra, a Europa destruída
a criação do próprio emprego.
encetava um caminho de reconstrução onde os
E como podemos arriscar quando todos
empreendedores foram fundamentais. Arriscar
os dias somos bombardeados com notícias de
numa época de crise foi uma das formas mais
fecho de empresas? Como arriscar quando as
eficazes para a Europa se reerguer.
notícias destacam e empolam muito mais os
Então, porque tememos tanto atualmente
insucessos que os sucessos? E a nossa
arregaçar as mangas e encetar novos projetos?
autoestima é um alvo à espera da destruição.
Todos sabemos que o empreendedorismo
Pessoalmente, gostaria de poder
é o principal fator promotor do desenvolvimento
desenvolver a minha própria ideia de negócio,
económico e social de um país. Identificar
até porque sei concretamente o que quero e o
oportunidades e conseguir transformá-las num
que não quero na minha hipotética empresa. Mas
negócio lucrativo é o papel do empreendedor.
como concretizar esta ideia sem a ajuda de um
O empreendedor deve ter como
sistema bancário que quer garantias exacerbadas
característica básica o espírito criativo e de
face ao valor dos empréstimos? E quem
pesquisa. Deve continuamente procurar novos
empresta dinheiro a um desempregado quando
caminhos e novas soluções, alicerçando-se numa
este pretende criar o seu próprio negócio? Quem
constante preocupação com a melhoria do
“arrisca” colocar quantias substanciais nas mãos
produto final. O empreendedor não pára, não
de um homem ou mulher que apenas tem como
estagna no tempo. Acompanha as frenéticas
garantia o “saber fazer”?
mudanças e reage por antecipação, sem nunca
Para provocar uma rutura neste sistema
descorar uma pesquisa consolidada e uma
estagnado teremos de passar inevitavelmente por
exaustiva avaliação dos riscos, dos pontos fortes
uma cultura de iniciativa.
e pontos fracos. O empreendedor caminha, de
Durante os anos 30 do século passado
mão dada, com o marketing e as relações
viveu-se na Europa a primeira crise à escala
humanas. Olha a inovação sem receio de ficar
REVISTA Portus Cale Nº 2 – ANO II Junho 2014

desatualizado porque a sua meta é uma busca de a empresa social como uma das formas eficazes
constantes transformações sonhando com a de criação daquilo que todos sonhamos: um
perfeição. No entanto, tem consciência que a mundo sem pobreza.
perfeição é uma espécie de mito do eterno Quando conhecemos, com algum detalhe,
retorno e nunca está terminada. Mas não desiste esta revolução que o microcrédito vem
na sua busca incessante. É este o seu néctar, o concretizando, seja no país berço de Yunus, o
seu alimento, que o faz ressurgir das cinzas a Bangladesh, seja um pouco por todo o mundo,
cada insucesso. começamos a olhar duma forma diferente e
Então, se todos sabemos que nos tomamos consciência de que vivemos num
empreendedores está o segredo do motor de uma mundo norteado por um capitalismo selvagem e
civilização, porque lhe damos (Estado e total ausência de valores. Há que fazer diferente.
Sociedade) tão pouco apoio? Porque os E como? Devemos assumir-nos, enquanto
incentivamos tão pouco? sociedade, como incapazes de liderar este
Positividade, organização, criatividade e processo de mudança?
inovação são qualidades que não faltam ao povo Cada vez mais acredito que não… A
português. Mas será que temos a disposição mudança passa pela sociedade civil. Pela forma
necessária para assumir os riscos? O como esta reage às crises e acorda para as
empreendedor é aquele que tem esta capacidade necessidades daqueles que nos rodeiam. O
de os assumir e de os conseguir vencer. segredo está no empreendedorismo social.
O Prémio Nobel da Paz Muhammad Neste contexto, o empreendedor tem
Yunus, que conheci pessoalmente durante uma como objetivo a maximização deste capital
visita que fez a Portuga, foi o incitador de social (o poder da capacidade humana)
enormes mudanças da minha perspetiva pessoal desenvolvendo programas, iniciativas e ações
face ao mundo empresarial (conceitos como para que a sua comunidade, região ou país se
crédito sem garantias, crédito sobretudo a desenvolvam de forma sustentável. A mais eficaz
mulheres num contexto muçulmano, crédito num é fomentando a participação no “espaço público”
espírito de grupo e entreajuda e tudo isto com a todos, mesmo aos que se encontram em
taxas de recuperação de capital próximas de situação de exclusão ou de risco.
100%). Assumindo a incapacidade da O empreendedor social utiliza técnicas de
participação do estado no fomento do gestão, inovações produtivas, utilização
empreendedorismo, Muhammad Yunus defende sustentável de recursos naturais e muita, muita
REVISTA Portus Cale Nº 2 – ANO II Junho 2014

criatividade para fornecer produtos e serviços


que possibilitem a melhoria das condições de
vida.
A lógica da ação visa promover a
autonomia e responsabilidade dos destinatários,
sendo que estes também devem ter um papel
ativo e participante na própria ação. Mais do que
“dar o peixe” é ensinar a pescar. O grande
objetivo é superar os desafios sociais e por isso é
fundamental a sustentabilidade. A
sustentabilidade financeira deve ser mais do que
uma preocupação de sobrevivência, deve ser um
fim em si, um requisito basilar para nortear a
existência do projeto.
Como Florence Nigthingale, uma das
primeiras empreendedoras sociais durante a
Segunda Guerra Mundial, devemos perder o
medo e deixar de nos isolarmos nos nossos
próprios infortúnios, trabalhando em equipa,
arriscar de forma sustentável e sustentada, tendo
o bem comum e a felicidade do outro como
meta. Porque nenhum de nós é feliz, ainda que
tenha um enorme espólio ou bens materiais, se
estiver sozinho.
É assim que eu vejo o empreendedorismo
e o seu benefício para toda a comunidade, pelo
que esta tem todas as razões para o estimular e
apoiar.

Maria Helena Peixoto


REVISTA Portus Cale Nº 2 – ANO II Junho 2014
base fundamental à doutrina por nós, denominada -
Doutrina da Cidadania Social, cuja apresentação e
desenvolvimento estão feitos no meu segundo livro
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA “Ensaio Sobre a Doutrina do Quinto Império – Uma Nova
DOUTRINA DA CIDADANIA SOCIAL Perspetiva Social”.
Inspirados no Grau Maçónico 30º. – Cavaleiro Kadosh,
Ao pretender iniciar esta minha análise ao fomos, portanto, conduzidos a uma reflexão profunda
Tema: “Introdução ao Estudo da Doutrina da Cidadania sobre o significado prático daquele mesmo Grau
Social” pretendo antes de mais dar um especial realce ao Filosófico, o que nos levou a planear um projeto literário
emérito escritor e investigador das questões ligadas à que envolvesse uma trilogia sobre o tema - Reflexões
Simbologia; ao Mítico e ao Sagrado, com especial Sobre a Doutrina do Quinto Império – projeto literário que
destaque relativamente às suas investigações sobre a se iniciou com o nosso primeiro romance “Operação:
História Iniciática de Portugal, estou-me referindo a Victor Quinto Império”, onde introduzimos alguns novos
Manuel Adrião; desenvolvimentos relativamente à Maçonaria Operativa no
Século XXI e finalmente no que diz respeito ao Mito do
Victor Manuel Adrião, é um dos mais importantes Quinto Império, fomos procurar fundamentos à História
defensores e divulgadores da Ordem de Mariz que fez Iniciática de Portugal procurando converter aquele numa
parte de uma Ordem Maior e que deve ter tido a sua nova doutrina ideológica tendo por base a espiritualidade e
origem na desaparecida Atlântida. Esta mesma Ordem o conhecimento científico e a essa mesma doutrina
está igualmente relacionada com as Ordens dos ideológica passámos a chamar de Doutrina da Cidadania
Templários; de Avis e de Cristo! Social!
Essa mesma espiritualidade e conhecimento científico
fomos encontrá-los na Doutrina do Racionalismo Cristão,
Victor Adrião, nas suas pesquisas desenvolveu um fundada pelos portugueses Luiz de Mattos e Luiz Alves
trabalho de análise extremamente interessante sobre o Tomaz em 1910, na Cidade de Santos – Brasil. Luís de
Grau 30 – Cavaleiro Kadosh, do Rito Escocês Antigo e Matos, natural de Chaves, foi um ilustre maçom e grau
Aceito da Maçonaria Universal. A doutrina contida no Grau 33º. Tendo sido o fundador e codificador do Racionalismo
Trigésimo - Cavaleiro Kadosh, converge para dois Cristão. Ao longo da sua vida fez uma aturada
princípios distintos, o primeiro situa-se na “Escola” e o investigação sobre as diferentes religiões e movimentos
segundo no “Templo”, o que vem a significar filosóficos que no decorrer dos séculos foram idealizados
simbolicamente no primeiro o desenvolvimento do por entidades, tais como: Krishna, na Índia e Hermes, no
conhecimento científico, seguido do conceito do “Templo”, Egipto. Estes importantes expoentes do espiritualismo,
o que representa a procura e desenvolvimento constante ambos defendiam o princípio da reencarnação e das vidas
das virtudes ou qualidades morais que acompanham a sucessivas. Outras personalidades importantes foram
evolução do ser humano. igualmente estudadas por Luís de Matos, como por
exemplo o fundador do Espiritismo, Alan Kardek. Outros
grandes pensadores e filósofos foram também estudados,
Os princípios consagrados nos conceitos “Escola e tais como: - – Buda; Sócrates; Platão; Descartes; tendo de
Templo”, projetam uma imagem representada por uma igual forma investigado doutrinas ligadas à Cabala;
dupla escada designada por - “Escada dos Mistérios” e Hermetismo e Maçonaria e daí conseguir extrair uma
que dispõe de dois sentidos – um ascendente e outro síntese para uma nova doutrina que inicialmente foi
descendente, o primeiro refere-se à “Escola”, onde designada por Espiritismo Racional e Científico Cristão,
diferentes conceitos de ordem científica são apresentados para mais tarde passar a chamar-se Racionalismo Cristão,
e no sentido descendente ali estão consagradas as tratando-se, portanto de uma doutrina que não pode ser
virtudes ou atributos do espírito humano no seu longo classificada como religião, mas sim uma forma avançada
processo de evolução realizado na sua descida ao planeta de espiritualismo fundamentado em princípios racionais e
através da reencarnação e da sua desencarnação e científicos, tratando-se na realidade de uma doutrina
ascensão aos planos superiores espirituais. Dentro dos profunda, vasta e eclética. O nosso terceiro livro encontra-
princípios da Ciência e da Espiritualidade que se ainda numa fase embrionária, contudo, poderemos já
caracterizam o Grau Filosófico do Cavaleiro Templário adiantar de que se trata de um novo romance que vai dar
Kadosh, procurámos situar a nossa reflexão numa área continuidade ao tema apresentado no nosso primeiro livro
em que uma dada conceituação filosófica tivesse prefeito – “Operação: Quinto Império”.
enquadramento e esse mesmo enquadramento situou-se
precisamente na questão transcendente do Mito do Quinto
Império do Padre António Vieira; de Fernando Pessoa ou
de Agostinho da Silva que a partir do ano de 1910, no
Século XX, deixou de ser um Mito para passar a ser uma
doutrina espiritualista, profunda, vasta e eclética, No nosso segundo livro “ Ensaio Sobre a Doutrina do
designada por Racionalismo Cristão que está servindo de Quinto Império – Uma Nova Perspetiva Social “ já
publicado em fins de 2013 – Chiado Editora. Ao termos
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escrito esta nossa obra pensámos estar a realizar uma imediato a ideia de universalidade! Terá o culto do Espírito
experiência inédita em termos histórico/espiritualistas, ao Santo alguma ligação direta ou indireta com o
analisar uma doutrina filosófica, racional e científica e de Racionalismo Cristão?
inspiração cristã, cujas raízes são efetivamente de origem
lusitana e consequentemente ligadas à História de
Portugal e do Brasil. E o Padre António Vieira com o seu Quinto Império? A
Cruz e a Rosa são símbolos bem representativos daquele
Não se trata de uma doutrina estrangeira e muito menos que é o Patrono do Racionalismo Cristão!
importada do Brasil, mas sim de uma doutrina idealizada e
fundada por portugueses em terras brasileiras; O
Racionalismo Cristão, não sendo de forma alguma uma De facto, trata-se de um movimento doutrinário que
religião é a consequência de um estudo profundo encerrando conhecimentos fundamentais sobre o que seja
consubstanciado numa doutrina filosófica e espiritualista, o espírito humano – a sua origem, natureza e atributos, a
sendo essencialmente portadora de uma base racional e razão de ser da sua existência e a sua inserção natural no
científica. próprio Universo, compreendendo a finalidade da VIDA
INTELIGENTE, demonstrando a existência da VIDA FORA
Na verdade, neste nosso trabalho procurámos analisar e DA MATÉRIA e que a Morte não interrompe a
aprofundar o mito ligado ao Quinto Império que Vida,comprovando assim a importância que a ação do
historicamente notáveis poetas e pensadores lusos Pensamento tem através do uso do livre arbítrio e que
procuraram notabilizar, considerando ser sempre uma orienta as atividades dos seres humanos e finalmente o
“demanda do povo português na sua busca do“graal da porquê da nossa existência como seres vivos e
espiritualidade!” inteligentes que passa pela Evolução através de
sucessivas reencarnações neste planeta escola que se
O Racionalismo Cristão pode ser considerado uma das chama Terra em conformidade com os insondáveis
bases inspiradoras da Lusofonia por se encontrar desígnios da FORÇA CRIADORA (Deus), portanto, trata-
implementado em quatro países: - Brasil; Portugal; Cabo se de uma nova doutrina espiritualista, profunda, vasta e
Verde e Angola! No entanto, esta Doutrina é na sua eclética!
essência e finalidade espiritista e espiritualista, racional e
científica e de inspiração cristã, fundamentalmente Na abordagem política e sociológica feita ao Racionalismo
humanista e universalista. Ela na realidade não tem o seu Cristão, podemos retirar importantes ilações, fazendo
exclusivo apenas em dois países – Portugal e o Brasil, projeções sobre as implicações que uma tal doutrina de
mas sim no seu todo pertence efetivamente à âmbito espiritualista e espiritista poderá vir a gerar e os
Humanidade! resultados refletem-se no desenvolvimento de uma
ideologia de inspiração cooperativista, tendo como pilares
Quando nos referimos à “singularidade lusitana” que da sustentação princípios espiritualistas; científicos;
mostrando-se sob a capa de aparente submissão a Roma económicos e políticos e que passaremos a designar por
Papal, nos vem do rosacrucianismo templário; da – Doutrina da Cidadania Social!
fundação e linhagem joanicas dos Fiéis-de-Amor,
convergentes na Ordem dos Cavaleiros de Cristo que se
transferiu de Portugal para o Brasil e Goa e para outras A Doutrina da Cidadania Social poderá dar origem a um
importantes partes do mundo; novo tipo de sociedade, onde fatores ligados ao lucro; à
propriedade privada e a diferentes circunstâncias
Não terá sido por acaso que essa mesma “singularidade associadas aos mesmos irão sofrer profundas alterações e
lusitana” convertida numa ação de “descolonização não vão ser as ideologias já por nós apontadas – o
religiosa” feita pelo Rei D. Dinis, ao institucionalizar o Culto marxismo; a social-democracia; o socialismo democrático;
do Espírito Santo e segundo Rainer Daehnhardt, emérito o neoliberalismo ou ainda a democracia cristã que irão ter
historiador luso-alemão e autor de importantes obras qualquer tipo de expressão ou influência nessa nova
ligadas à História de Portugal, destacando-se um dos seus sociedade do futuro, onde a democracia participativa terá
livros intitulado – Portugal – A Missão que Falta Cumprir, um peso determinante e expressivo; onde as gerações
entendeu como sendo uma ação que foi interferir na mais idosas virão a ter uma importância fundamental para
colonização religiosa implementada por Roma. o desenvolvimento espiritual e material das novas
comunidades do Século XXI.
Uma primeira questão se põe:- alguma vez foi dada uma
explicação sobre a origem do símbolo que na forma de um
delta está desenhado na base superior dos edifícios onde Na História a experiência dela surgida ao longo dos
estão sediadas as filiais do Racionalismo Cristão? séculos vai-nos permitir no início do Século XXI, pensar e
Apresentando regra geral nas respetivas frontarias quatro admitir uma nova perspetiva social sobre a viabilidade de
colunas que numa perspetiva simbólica representam a um novo movimento cívico – o Movimento Cívico
cruz de Cristo virada para os quatro pontos cardeais da Português para a Cooperação – MCPC,fundamentado na
Terra – Norte- Sul; Leste e Oeste, o que nos transmite de História de Portugal e na cultura filosófico/espiritualista do
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povo português. Tal iniciativa poderia ser comparada a de um milhão de anos de luta extrema pela sua
uma tentativa de restaurar a histórica Ordem de sobrevivência e continuidade como ser vivo e atuante.
Cristo, como uma grande irmandade nacional embora Milhares e milhares de reencarnações em corpo físico
sofrendo importantes alterações e obedecendo a foram necessárias para que o Homem atingisse a
orientações de ordem cívica, democrática, espiritualista e capacidade de dispor de livre-arbítrio, conquista máxima
científica básicas e adequadas ao novoestatuto de que nós seres humanos alcançámos como avançada
cidadania social. expressão de evolução material, intelectual e espiritual.

O conceito de fraternidade começa-se a desenvolver a A influência exercida pelo Faraó Akhenaton foi tão grande
partir do reinado do Faraó Akhenaton, é pois a partir deste que se veio a estender aos Essénios e aos Cristãos
Faraó egípcio que se começa a vislumbrar o sentido da primitivos e finalmente aos Templários que na realidade
fraternidade, nomeadamente no seio das confrarias de foram o ramo administrativo e militar de uma Ordem
pedreiros e artífices que sustinham e desenvolviam todo o Secreta que por detrás dos Cavaleiros do Templo agiam
tipo de construções que então existiam na sociedade sob nomes diferentes, mas mais frequentemente sob a
egípcia. sigla do Ministério do Sinai, os filhos da Luz!
As regras a seguir estão aí e todos os dias as temos de
cumprir tendo uma boa prática moral no sentido de
Akhenaton, é o primeiro a fundar e a desenvolver o trabalharmos a “pedra bruta” que são precisamente as
conceito do deus único, representado pelo disco solar nossas fraqueza e defeitos, estudando e raciocinando
através de uma nova religião onde a dignidade humana sobre as questões sérias da vida e sobre a origem da
começava a dar os seus primeiros passos e com ela o nossa própria existência e a razão por que cá estamos?!
florescer dos princípios da igualdade humana, da
solidariedade e sobretudo o cultivo da espiritualidade. Na verdade devemos tentar compreender o significado
simbólico da Circulatura do Quadrado ao invés
As diferentes correntes filosóficas então geradas a partir da Quadratura do Círculo, sendo este precisamente o
da religião monoteísta de Akhenaton, nomeadamente as domínio da matéria sobre o espírito quando a primeira
três religiões – Judaísmo; Cristianismo e Islamismo, premissa é o domínio do espírito sobre a matéria!
sempre condenaram e combateram os maus sentimentos
dos seres humanos, ameaçando-os através dos tempos Há uma forma de pensamento que nos conduz
com a condenação das suas almas com as penas do efetivamente à evidência das realidades da VIDA
Inferno e outras condenações terríveis. O medo tem sido a existentes neste mundo material que se chama planeta
melhor instrumento das religiões para controlarem as Terra! Estamos de facto subordinados às leis da Natura e
imensas massas dos seus seguidores e fiéis. por essa razão a Ciência tem uma ação determinante na
nossa forma de viver! É conhecendo o mecanismo das leis
A falta de espiritualidade, a ignorância e a imposição do naturais que nós vamos compreender; respeitar e agir em
império do medo foram sempre o principal meio com que completa harmonia com a vida do espírito e com as
as classes sociais dominantes utilizaram para melhor realidades do Universo.
dominarem e controlarem as multidões animalizadas,
ignaras e inconscientes, originando nos seres humanos Há uma Ciência consubstanciada na educação científica
mais evoluídos grandes sofrimentos e aqui destaca-se a da vontade que nasceu em 1910, na Europa em que os
ação desenvolvida pelos iniciados que portadores de uma respetivos fundadores se foram inspirar nos ensinamentos
maior consciência de si mesmos e do mundo cruel que a Sabedoria do Antigo Egipto lhes transmitiu quando
envolvente e através do seu trabalho manual, intelectual e souberam traduzir os hieróglifos descobertos por si! Essa
artístico, procuraram na base da união protetora dos mesma Ciência nada tem a ver com qualquer tipo de
princípios da fraternidade, solidariedade, gerados por uma religião ou misticismo, pairando muito acima das coisas
espiritualidade mais avançada deram origem às confrarias comuns do mundo e essa mesma ciência está contida no
de trabalhadores, tais como as organizações de “Conhecimento Perdido! “
construtores de catedrais que ocorreram na Idade Média.
A Espiritualidade é um atributo próprio do espírito humano,
A Terra, no contexto geral dos diferentes mundos que pois a religião sendo uma criação gerada pela imaginação
rolam o espaço infinito sideral é um dos muitos mundos do Homem, enquanto a Espiritualidade faz parte do próprio
físicos classificados como uma escola onde as primeiras desenvolvimento intelectual, emocional e espiritual que
classes de espíritos ou almas humanas, partículas da caracterizam o crescimento natural do ser humano.
Inteligência Universal (Deus) iniciam a sua aprendizagem,
difícil, dura, inconsciente e lenta, apenas dependente
numa fase primária da sua capacidade instintiva e O Povo Português com todos os seus defeitos e atrasos,
animalesca! comparativamente com outros povos dispõe de uma certa
" Singularidade" que o distingue e que o tem levado a
situações inéditas através da História da Humanidade! É a
"Singularidade" que nos distingue! A história mítica ligada
Para que surgisse o primeiro homo sapiens decorreu mais ao " Encoberto", o Rei D. Sebastião, o Desejado na
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realidade não é um "mito", mas sim algo determinante na racionalismo materialista procurando-se encontrar uma
vida e história dos Portugueses! O "Encoberto" existe e ele doutrina verdadeiramente humanista, universalista de base
está "adormecido" no inconsciente coletivo dos racional e científica demonstrando de que a Morte não
Portugueses. Fernando Pessoa, referia-se no seu Poema interrompe a Vida e a Vida existe fora da Matéria.
Mensagem – ". Falta cumprir-se, Portugal." O " Encoberto"
não será necessariamente uma pessoa, mas sim algo Naturalmente que na vertente política e na ideologia
consistente e objetivo, tal como o " Santo Graal" não é a doutrinária desenvolvida no livro a democracia
taça por onde Jesus, o Cristo bebeu o seu último vinho, representativa perde parte da sua importância a favor da
mas sim algo relacionado com a Espiritualidade, democracia participativa, onde o cidadão comum irá
sentimentos elevados e nobres onde paira ainda assumir maiores responsabilidades cívicas.
um "olhar" muito específico sobre um Conhecimento
Universal e Único! Finalmente quando nos referimos à vertente
sócio/económica, procuramos desenvolver uma inovadora
O " Encoberto " poderá ser uma doutrina espiritualista que ideologia que neutralize por completo a ação nociva do
explica e nos leva ao conhecimento dos grandes enigmas “lucro” estando aquela corporizada numa nova
da VIDA e nos diz finalmente – DONDE VIMOS? QUEM organização laboral onde o trabalho e os rendimentos
SOMOS? PORQUE EXISTIMOS? E QUAL O NOSSO sejam repartidos de modo a poder-se generalizar um
DESTINO FINAL? Uma vez chegados até aqui, dispomos verdadeiro rendimento mínimo de cidadania socialmente
finalmente dos elementos necessários que vão permitir a equitativo e extensivo a qualquer cidadão!
criação de uma ideologia a que achámos por bem
chamar – Doutrina da Cidadania Social,” que tem como Na verdade, o livro – “Ensaio Sobre a Doutrina do Quinto
suportes quatro pilares que são: a Sobriedade; a Império – Uma Nova Perspetiva Social”, pretende abrir
Solidariedade; a Cooperação e a Espiritualidade. caminho para uma desejável solução para a atual crise
portuguesa, abrindo novas condições para que muitos
O tema central do nosso segundo livro –“Ensaio Sobre a milhares de portuguesas e portugueses, nomeadamente
Doutrina do Quinto Império – Uma Nova Perspetiva Social” os desempregados de longa duração venham a ter uma
uma vez que se trata de um ensaio sobre uma nova nova perspetiva para um futuro feliz e progressista!
ideologia doutrinária de inspiração lusófona e
fundamentada em quatro vertentes que passamos a Naturalmente que temos vindo a pensar sobre a melhor
enumerar: a vertente espiritualista; a vertente política; a forma de analisarmos a sociedade atual, nomeadamente
vertente social e a vertente económica. no que nos diz respeito e que está circunscrita à
civilização ocidental!
Infelizmente e observando-se o atual estado das
sociedades, tanto no Ocidente como no Oriente, observa- Os conceitos de cooperativismo e de cooperação, são
se a lastimável situação dessas mesmas sociedades, efetivamente distintos, mas na realidade complementam-
imperando em algumas, governos totalitários; noutras e se distribuindo-se noutros novos conceitos ligados ao
salvo honrosas exceções, vigora uma falsa democracia humanismo; universalismo; evolucionismo; municipalismo
dominada e dirigida por uma ideologia neoliberal, onde o e ecologismo; democracia representativa e participativa e
fator social vai sendo sistematicamente destruído e onde o nesta nova perspetiva os conceitos de universalismo;
trabalhador vê cada vez mais reduzidos os seus direitos humanismo e evolucionismo estão por sua vez
em favor dos especuladores financeiros, dos empresários relacionados com concepções associadas ao
gananciosos e exploradores ou ainda a ação perniciosa e espiritualismo e espiritualidade humanas, tendo como
tentacular das multinacionais que têm vindo a sugar a bases a defesa do princípio da Evolução fundamentada na
riqueza das nações. reencarnação ou nas vidas sucessivas, onde e nos planos
racional e científico fica provado de que a Morte Não
Neste segundo livro, pretendemos apresentar uma nova Interrompe a Vida e a Vida Existe Fora da Matéria!
ideologia doutrinária, onde é admitido de que efetivamente A Doutrina da Cidadania Social, vai-se inspirar
as gerações mais idosas vão ter uma importância decisiva efetivamente em todos aqueles esquemas ideológicos que
na formação das novas sociedades do futuro sempre em a própria Filosofia ao longo da História da Humanidade
função da sua espiritualidade, sensibilidade e experiência tem vindo a desenvolver. Aqui e objetivamente teremos de
de vida. Dentro da mesma orientação são traçadas novas juntar àqueles diferentes conceitos um fator de ordem
dinâmicas na consolidação das defesas das classes básica que é precisamente a Ciência representada por
trabalhadoras, dotando as suas todos os seus ramos científico e técnicos e à Ciência
organizações sindicais com novos instrumentos de deverá ser junta a própria História particularizando ou
combate contra as investidas do neoliberalismo do Século generalizando os diferentes e imensos eventos ocorridos
XXI. ao longo da vivência humana neste planeta, devendo ser
os mesmos estudados e comparados e daí extraírem-se
No nosso livro e na sua vertente espiritualista esta as devidas ilações para utilização e benefício da
fundamenta-se na tentativa de encontrar o ponto Humanidade!
equidistante, diremos geométrico que irá definir o
posicionamento entre o fundamentalismo religioso e o A forma institucional da Doutrina da Cidadania Social, irá
sempre ao encontro de propostas vindas tanto das
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esquerdas como das direitas do leque alargado do espetro Defensor do Quinto Império, sempre virado para a prática
político que visam fundamentalmente o bem-estar e o do bem comum e para o progresso da Humanidade no seu
desenvolvimento de uma dada comunidade regional, sentido mais lato!
nacional ou internacional. Na sua componente ideológica e
a par das diferentes propostas apresentadas aquela Assim o futuro militante do M.C.P.C. Terá de se submeter a
igualmente defenderá sempre a implementação e uma prévia preparação e formação para que possa vir a
desenvolvimento de todas as iniciativas e ser de facto um novo cidadão da nova ordem económica e
empreendimentos que visam a prática de uma doutrina social que está prestes a despontar!
cooperativista e cooperante ou seja: o cidadão poder
exercer democraticamente a sua ação de cidadania social
e onde o Voluntariado assume uma posição de relevância Com esta minha “Introdução ao Estudo da Doutrina da
social Cidadania Social" pretendendo retirar algumas ilações
interessantes sobre as potencialidades que oferece
o MCPC – Movimento Cívico Português para a
Fundamentados nestes mesmos princípios orientadores Cooperação, que inspirado nos princípios desenvolvidos
da Doutrina da Cidadania Social, teremos toda a vantagem na Doutrina da Cidadania Social, poderá gerar um novo
em corporizar a sua natureza e estrutura num “Movimento partido político denominado P.C.I.P. – Partido Cooperativo
Cívico”, no qual se poderão associar pessoas e Inovador Português, que teria como objetivo a
verdadeiramente interessadas em “cooperar” para a mobilização dos Portugueses para a realização de um
criação de uma nova ordem económica e social que possa Projeto Global que venha a contemplar uma Pátria
vir a ser a pedra basilar de uma sociedade Universal da Língua Portuguesa que na sua mais viva
verdadeiramente espiritualista, solidária e empenhada no expressão será a Lusofonia!
desenvolvimento de novos valores para o progresso
material e espiritual da Humanidade Jacinto Alves, escritor e investigador, autor dos livros
"Operação: Quinto Império - 2010 - Editora Ecopy/Porto;
Objetivamente a Doutrina da Cidadania Social "Ensaio Sobre a Doutrina do Quinto Império - Uma Nova
materializada no MCPC - terá como colunas mestras o Perspectiva Social" - 2013 - Chiado Editora
estudo inspirador e norteador do Racionalismo Cristão; o
estudo e prática dos princípios contidos no Zoismo –
Educação Científica da Vontade e finalmente no estudo e
aprofundamento da doutrina cooperativista que António
Sérgio, tão ativamente defendeu! Outras disciplinas, tais
como: o municipalismo; a ecologia; as democracias
representativa e participativa, nomeadamente esta última
deverá ser objeto de um estudo, aprofundamento e
desenvolvimento importantes, pois, obviamente como uma
das componentes ideológicas principais do M.C.P.C. será
a implementação da “democracia participativa”!
Certamente que agora no Século XXI, não vamos
converter cada cidadão nacional num monge cavaleiro,
sujeito a duras regras de conduta moral e material, mas
esse mesmo novo cidadão terá que assumir uma nova
postura perante a nova sociedade que se avizinha e essa
mesma nova postura terá de passar por uma auto-
disciplina moral e material; pela defesa dos verdadeiros
valores assentes na espiritualidade humana; por uma
conduta sóbria quando relacionada com consumismos
desregrados; pelo desenvolvimento de um sentido de
solidariedade mais forte e sincero; no desenvolvimento do
espírito de empreendedorismo e abdicação das riquezas e
luxos fáceis que o capitalismo desumano de uma maneira
tão insensível e frenética tem vindo a provocar na
Humanidade!

Eis, pois de uma forma simples o novo modelo do cidadão


do Quinto Império que embora não assuma a figura do
monge cavaleiro que caracterizou a Ordem de Cristo, nos
Séculos XIV; XV e XVI, mas sempre assumindo um
espírito de missão, podendo ser considerado um Cavaleiro
REVISTA Portus Cale Nº 2 – ANO II Junho 2014

LETRAS E POEMAS Sonhaste ao crescer…


E serás porto seguro,
Enseada calma em fim de tarde…
Ser Mulher
E um dia…
És jovem
Ao partir…
Trazes nos olhos
Sorrirás serena,
A fúria dos sonhos,
Com a doçura de quem cumpriu uma missão.
E na alma
Porque foste,
O ímpeto da mudança
Filha!
Sorves a vida sôfrega,
Mãe!
E respiras de fôlego
Avó!
Como se não existisse amanhã…
Mas, sobretudo
Porque soubeste
Os anos passam…
Ser Mulher!
E dás conta
Que os dias, os meses e os anos
Passaram vertiginosos a voar
Helena Peixoto
Olhas as tuas mães cheias de nada…
8 de Março de 2014,
E pensas no que fizeste… Dia Internacional da Mulher
Mas uma voz pequenina,
Com a doçura de mel duma criança,
Chama-te baixinho…
Mãe!...
E os teus olhos iluminam-se
E abres os braços
Como abres a alma
E acolhes na ternura de um abraço…

Os netos virão um dia


E repetirás palavra por palavra
As histórias com que
REVISTA Portus Cale Nº 2 – ANO II Junho 2014

LETRAS E POEMAS

O Olimpo está cheio


de nós pequenos
Deuses de carne
dos nossos pecados
contra-a-natura
da nossa areia
diarreia cerebral
deste tempo alucinante
no deserto
da nossa sede
não aplacável pela
fruta da época
de Hades e do
que à Grécia de dor
os velhos Bárbaros infligiram

Abandonam a Europa
nas suas margens
cada vez mais um gueto
eco de um outro mundo
de outros Deuses.

Joaquim Paulo

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