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"É preciso convir que a real complexidade da vida social não pode resultar
numa explicação simplista: esta tem de traduzir a complexidade"
Michel Miaille
RESUMO
PALAVRAS – CHAVES
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Diretrizes e bases principiológicas do Código Civil de 2002. - Jus.com.br ... https://jus.com.br/imprimir/12712/diretrizes-e-bases-principiologicas-do...
RÉSUMÉ
Cet article analyse les nouvelles directrices et les principes conçues par le législateur
de 2002 au moment de l’élaboration du Code Civil, principalement sous le point de
vue de la socialité, de l’éthicité et de l’opérabilité. Il fait une incursion de caractère
historique-comparatif entre les diplômes de 1916 et de 2002, afin d’ébaucher les
principales différences idéologiques de ces codifications. Le présent étude est de
grand interêt, car révèle les influences du moyen historique-social sur l’élaboration
normative de 1916 et de 2002 et met en évidence sés conséquences pour le Droit
contemporain. Par l’analyse dogmatique sous une perspective critique, à l’emploi de
la méthode dialectique et de la méthode historique-comparative, on cherche
présenter ce diplôme dès sa genèse jusqu’à son existence actuelle, avec une
pondération de ses caractéristiques et importance.
MOTS CLÉ
1. INTRODUÇÃO
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O Código vigente pauta-se pela boa-fé, especialmente a objetiva (ou concepção ética
da boa fé), elevada, outrossim, à categoria de Princípio Geral de Direito. [02] A boa-fé
objetiva, neste sentido, é um princípio corrente das diversas áreas jurídicas
(Consumidor, Trabalho, Processo, Internacional...), não se cingindo ao Direito Civil.
Atendendo ainda o princípio da socialidade, julgou por bem o legislador lançar mão
da função social da propriedade. No caso da propriedade rural, esta deve atender ao
trinômio produtividade, meio ambiente equilibrado e relações trabalhistas
harmoniosas. A desatenção a qualquer desses requisitos enseja a expropriação
agrária, constitucionalmente prevista e reforçada pela legislação civil, ao idealizar a
supremacia do interesse social em detrimento do exagero individualista presente na
codificação anterior.
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[...] um Código Civil, enquanto lei geral, deve apresentar seus comandos de
forma suficientemente aberta, de maneira a permitir a função criadora do
intérprete. Tem que sair do positivismo exagerado que engessa o direito e
atrasa as transformações, para alcançar a fase pós-positivista do Direito.
Este formato adotado pelo Código de 2.002 constitui grande avanço na construção
do seu texto, muito embora tenha recebido severas críticas do professor José Paulo
Cavalcanti, invocado por Ricardo Fiuza. O citado mestre sustenta haver certo grau de
discricionariedade do juiz, que interpreta normas elásticas sacrificando-se, destarte,
o valor da certeza. [05]
Em sentido oposto, Ricardo Fiuza [06] alega que se reveste de maior gravidade ter-se
uma codificação defasada, sujeita a constantes reformas, caso ela não se valha de
uma interpretação flexível para o seu texto. A questão do arbítrio e da
discricionariedade judicial resolve-se com o duplo grau de jurisdição, com a garantia
da pluralidade de instâncias e a composição coletiva dos tribunais.
Destarte, pode-se concluir que os principais avanços do Código Civil são de ordem
principiológica e metodológica, que serão analisadas no presente artigo.
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que, após sua edição, todo Direito Civil Francês foi apagado da história e reescrito
pela nova codificação.
Norberto Bobbio, citado por Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona Filho, infere:
Toda lei nasce, sob certos aspectos, defasada, pois o legislador espelha-se na sua
história, no seu próprio passado para confeccioná-la. Programa leis para fatos sociais
que o cercam, e é cada vez mais difícil prever condutas humanas, posto que elas se
alteram a cada tempo, fator outro que leva à constante defasagem dos códigos.
Não prospera, de igual forma, a tese defendida pelos adeptos às reformas parciais do
texto, invocando em seu exemplo o Código Civil Francês (1.804) e o Código Civil
Alemão (BGB – 1.900), que estão em pleno vigor há mais de um século. Tais
legislações, como é sabido, foram modificadas e atualizadas com o passar dos anos, e
as atualizações sendo inseridas no próprio corpo do texto, de sorte que eles nunca
desatualizaram. No Brasil, a atecnia aliada à desorganização legislativa cuidou de
editar sucessivas leis extravagantes versando sobre tema tratado no Código Civil de
1.916, sendo que, em vez de se inserirem no texto codificado, simplesmente alterando
ou complementando dispositivos, essas leis revogaram artigos e até mesmo capítulos
inteiros do Código transformando-o em verdadeira "colcha de retalhos". [12]
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Em 2.002, quando o Código Civil de 1.916 foi revogado pelo seu sucessor, este já se
encontrava em desarmonia com os parâmetros sociais da atualidade. Vale citar como
exemplos, as arcaicas disposições do Direito de Família (alterado pela Lei 6.515, de
26 de dezembro de 1.977, que regulamentou a Emenda Constitucional n. 9, de 28 de
julho de 1.977, Lei do Divórcio, que derrogou vários artigos do Código Civil) e as
sucessivas Leis do Inquilinato, em detrimento das disposições do extinto Código.
Assim, pode-se afirmar que o código marca a tendência ideológica de seu tempo,
necessitando abranger todos os aspectos da complexa e multifacetária cadeia de
relações privadas. Código, para Stolze e Pamplona Filho, é "um sistema de regras
formuladas para reger, com plenitude e generalidade, todos os aspectos das
relações privadas, proporcionando a segurança necessária às relações sociais". [16]
Neste contexto, surge o Código Civil de 1.916, que reunia 1.807 artigos e era
antecedido pela Lei de Introdução ao Código Civil (inicialmente, tratava-se da Lei n.
3.071/16, a qual foi ulteriormente revogada pelo Decreto-Lei n. 4.657/42). Os
Códigos Francês de 1.804 e Alemão de 1.900 exerceram forte influência na
elaboração deste diploma legal, tendo sido adotadas várias de suas concepções. [17]
Foi o referido Código elaborado em sua concepção original por Clóvis Beviláqua em
1.899, discutido por longos anos no Congresso Nacional e tendo recebido influência
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de Ruy Barbosa.
Embora avançada para sua época, o Código Civil de 1.916 foi envelhecendo,
especialmente depois da Segunda Guerra Mundial (1.939-1.945), em virtude das
grandes transformações econômicas e sociais sofridas pelo País. Efetivamente, a
população que era, na sua maioria rural, passou a ser, em grande parte, urbana, e a
industrialização do País veio complementar a produção agrícola, que também se
modernizou. O Brasil, que era exportador de café e que importava a quase-totalidade
dos produtos industrializados, passou a ter uma economia quase auto-suficiente em
vários setores, colocando-se entre as quinze maiores potências do mundo. Essas
transformações e as novas tecnologias estavam, pois, a exigir uma nova legislação
tanto do direito civil como do direito comercial. [19]
O Código Civil de 1.916 permaneceu em vigor por quase 90 anos, o que levou à
defasagem do seu texto. Em virtude desse fato, inúmeras leis extravagantes
modificaram matérias analisadas pelo diploma (vide Lei do Divórcio e Inquilinato, já
citadas). Ao seu lado, outras leis surgiram, cuidando de matérias paralelas, como o
Código das Águas, Código de Minas, a nova Lei de Introdução ao Código Civil, a Lei
de Registros Públicos, o Código de Defesa do Consumidor.
a) Parte Geral: continha as normas e princípios gerais aplicáveis à esta parte e à parte
especial, produzindo, assim, reflexos em todo ordenamento jurídico. Tratava das
Pessoas (Naturais e Jurídicas – sujeitos da relação jurídica), dos Bens (objetos da
relação jurídica) e os fatos jurídicos (os quais disciplinavam as formas de criar,
modificar e extinguir direitos, tornando possível a aplicação da parte especial);
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b) Parte Especial - era subdividida em: Direito de Família, Direito das Coisas, Direito
das Obrigações e Direito das Sucessões.
Segundo a doutrina, coube aos pandectistas a ideia de inserir uma Parte Geral no
Código Civil, contendo princípios gerais aplicáveis à parte especial. Teixeira de
Freitas foi o responsável, no Brasil, na sua Consolidação das Leis Civis (1.858), pela
estruturação do Código Civil com Parte Geral. Tal fato se deu antes mesmo do
advento do BGB alemão.
Infere-se mencionar, ao final, que o Código Civil de 1.916 é reconhecido por sua
clareza e precisão técnica, constituindo-se verdadeira obra de arte legislativa. As
evidências apontadas neste artigo no tocante à ideologia norteadora da produção
desse codex não têm o condão de não o apreciar como instrumento legislativo
elaborado para sua época. Em verdade, a falha foi permitir que o Código de 1916
permanecesse em vigor por longas décadas, oferecendo institutos aplicáveis a uma
sociedade capitalista colonial e agrária para regulamentar um contexto totalmente
alterado por razões históricas, econômicas, sociais e culturais.
Em 1.969, o eminente jurista Miguel Reale foi convidado para coordenar a Comissão
que elaboraria um novo diploma legal, cujo anteprojeto foi publicado em 1.972 e
republicado, com nova versão, em 1.974, passando a constituir o projeto n. 634/75, o
qual foi discutido durante trinta anos no Congresso Nacional até tornar-se o atual
Código Civil. [21]
O projeto foi elaborado pelos professores José Carlos Moreira Alves (Parte Geral),
Agostinho de Arruda Alvim (Direito das Obrigações), Sylvio Marcondes (Atividade
Negocial), Ebert Chamoun (Direito das Coisas), Clóvis do Couto e Silva (Direito de
Família), Torquato Castro (Direito das Sucessões). Compõe-se de duas partes: Parte
Geral e Parte Especial. A primeira é dividida em três livros – Das Pessoas, Dos Bens e
Dos Fatos Jurídicos. [22] A segunda subdivide-se em cinco livros, a saber: Direito das
Obrigações, Direito de Empresa, Direitos Reais, Direito de Família e Direito das
Sucessões. [23]
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A lenta tramitação no Congresso fez com que o referido código fosse atropelado por
leis especiais e pela própria Constituição Federal de 1988, como já salientado. Em
decorrência dessa razão, foi levado à Câmara dos Deputados pelo Deputado Ricardo
Fiúza, relator da Comissão Especial encarregada da elaboração do novo diploma, o
projeto de Lei n.6.960/2002 (atual Projeto de Lei n. 276/2007), havendo proposta de
alteração de 183 artigos [24] ainda no período de vacatio legis, visando aperfeiçoar
dispositivos do novo Código. [25]
A inércia do Congresso Nacional, que protelou a votação do projeto 634/75 por três
décadas, extraiu o brilho da atualidade de alguns institutos do anteprojeto de Miguel
Reale, que só não se tornou uma legislação natimorta dado a institutos genialmente
elaborados como a eticidade, assentada na boa-fé, a função social, seja ela do
contrato ou da propriedade, e as cláusulas gerais. A flexibilidade de interpretação da
norma civil, norte seguido pela nova codificação, permite que o direito se modernize,
sem que haja excesso de alterações no texto original, com o fim de permanentemente
atualizá-la.
Como salienta Venosa, a grandeza de uma codificação reside, entre outros aspectos,
justamente no fato de poder adaptar-se, pelo labor diuturno dos magistrados e
doutrinadores, aos fatos que estão por vir. Aí está o caráter de permanência de um
código, que contribuirá para a efetiva concretização do Direito. [26] Dentro dessa
concepção, é possível inferir que o Código atual foi projetado antevendo situações
futuras em vários institutos, como, por exemplo, a delineação da função social do
contrato e da propriedade como meio de justapor o interesse social ao individual,
institutos estes limitadores da autonomia da vontade, princípio que reinou na era
liberal. Esses institutos agregam tendências modernas do Direito Civil e, já na década
de 1.970, foram trabalhados pelo legislador.
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Quanto à estrutura, o código atual conta com 2.046 artigos, seguindo o modelo
germânico, colocando as matérias em ordem metódica, divididas em Parte Geral e
Parte Especial.
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O novo Código Civil brasileiro surge como referência do início de uma nova fase do
direito comercial brasileiro, contribuindo para a sua evolução no país, ao contrário
do que possa sugerir, de imediato, a unificação legislativa realizada. O Código Civil de
2002 aparece para transpor o período de transição do direito comercial,
consolidando-o como o direito da empresa, maior e mais adequado para disciplinar o
desenvolvimento das atividades econômicas no país. Questiona-se, entretanto, se
essa evolução não poderia resultar de uma legislação autônoma que reformasse o
Código Comercial sem inserir normas comerciais no bojo do Código Civil. [33]
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No campo dos contratos, o novo Código Civil inova, ao asseverar que a boa fé objetiva
deve ser respeitada tanto na execução quanto na conclusão do contrato.
a) preservação do Código vigente naquilo que fosse possível, para que não houvesse
uma ruptura jurídica repentina entre as legislações. No mais, a doutrina e a
jurisprudência aplicáveis ao código anterior poderiam ser utilizadas em parte na
nova codificação;
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f) Adotar a divisão do Código Civil em Parte Geral e Parte Especial, esta dividida em
Direito das Obrigações, Direitos Reais, Direito de Família, Direito das Sucessões,
Direito de Empresa.
a) compreensão do Código Civil como a lei básica, mas não global, do direito privado;
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Segundo Miguel Reale [37], o Código Civil de Beviláqua teve sua construção orientada
pela mentalidade individualista assentada em dados populacionais, pois à época de
sua produção 80% da população vivia em zona rural. Na atualidade, tendo em vista a
industrialização, expansão do setor terciário da economia, acelerada urbanização, a
população volta-se para áreas urbanas, o que imprimiu maior caráter social à Lei
Civil de 2.002.
Com esse espírito social, a nova codificação traz como um dos seus princípios [39]
noteadores a Socialidade, segundo o qual há "prevalecência do interesse coletivo
sobre o individual, dando ênfase à Função Social da Propriedade e do Contrato e à
posse-trabalho..." [40]
Neste sentido, vale transcrever a lição de Judith Martins-Costa e Gerson Luiz Carlos
Branco, citados por Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho:
No Contrato de Adesão, segundo Orlando Gomes, [44] "uma das partes tem que
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George Ripert explana: "Em alguns contratos a posição das partes é tal que um dos
contratantes é obrigado a tratar nas condições que lhe são ao mesmo tempo
oferecidas e impostas pela outra parte. Deu-se a estes contratos o nome de
contratos de adesão" [45] Segundo informa Ripert, foi Saleilles o autor da expressão.
Ora, como asseverou Ripert, não se pode medir a força das vontades com um
dinamômetro [46] , sendo certo que o consentimento, tradicionalmente manifestado,
mediante prévia discussão, inexiste nessa modalidade contratual. Todavia, tal
apanágio não lhe descaracteriza a natureza de contrato. Destarte, igualar a adesão ao
consentimento manifestado após prévia discussão implicaria uma valoração
extremada da manifestação da vontade do aderente.
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Até a entrada em vigor do Código Civil atual, o Código de Defesa do Consumidor era,
praticamente, a medida legislativa protetiva na contratação por intermédio da
adesão. Com o advento do novo Código, a função social do contrato se apresenta
como poderoso princípio a ser empregado no combate às iniquidades nestes
contratos. [47]
Como salienta Caio Mário da Silva Pereira, a Função Social do Contrato desafia a
concepção clássica de que os contratantes tudo podem fazer, porque estão no
exercício da autonomia da vontade. O reconhecimento da inserção do contrato no
meio social e da sua função como instrumento de enorme influência na vida das
pessoas, possibilita um maior controle na vida das partes. Invocando-se este
princípio pode-se evitar a inserção de cláusulas que prejudiquem o interesse social
em nome do individual, por exemplo. [49]
Art. 421: A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código
Civil, não elimina o princípio da autonomia contratual, mas atenua ou reduz
o alcance desse princípio quando presentes interesses metaindividuais ou
interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana.
Orlando Gomes [50] entende que há três casos em que a violação da função social do
contrato deve levar à ineficácia superveniente do contrato. São elas: lesão à
dignidade da pessoa humana, impossibilidade de obtenção da finalidade última
visada pelo contrato e ofensa a interesses coletivos.
Por fim, cumpre consignar que a concepção moderna de função social do contrato
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hipótese do artigo 188, II, do Código Civil, quando determina que não constituem
atos ilícitos aqueles praticados no caso de deterioração ou destruição da coisa alheia
ou lesão à pessoa, com finalidade de remover perigo iminente. O magistrado, em face
desta situação, apenas preenche a determinação inserida na norma, isto é, constata a
existência, no caso narrado, de perigo iminente, que deixa de caracterizar a ilicitude
da destruição ou deterioração da coisa. [56]
Ética é o comportamento que confia no homem como um ser composto por valores
que o elevam ao patamar de respeito pelo seu semelhante e de reflexo de um estado
de confiança nas relações desenvolvidas, quer negociais, quer não negociais. É na
expressão Kantiana, a certeza do dever cumprido, a tranqüilidade de boa consciência.
[58]
A boa-fé objetiva pode ser visualizada no artigo 422 do Código Civil, pelo qual "os
contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em
sua execução, os princípios da lealdade e da boa-fé". A boa-fé objetiva atua com
dúplice função, neste sentido: a de princípio geral do Direito e a de cláusula geral a
ser preenchida pelo aplicador do Direito no caso concreto. [60]
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A boa-fé objetiva está aliada a deveres anexos, os quais estão implícitos em todos os
negócios jurídicos, dispensando expressa previsão. Como deveres anexos, Flávio
Tartuce, ao invocar as lições de Judith Martins-Costa e de Clóvis do Couto e Silva,
elenca:
Reza o artigo 113 do Código Civil que na interpretação dos negócios jurídicos, o
exegeta deve levar em conta a boa-fé e os usos e costumes do lugar da interpretação.
Depreende-se deste dispositivo que a boa-fé atua como meio auxiliar na própria
interpretação contratual, ao lado dos usos e costumes.
A boa-fé, neste caso, deve ser analisada à luz do que preceitua, outrossim, o artigo 112
do Código Civil, segundo o qual nas "declarações de vontade se atenderá mais à
intenção das partes do que ao sentido literal da linguagem". Este artigo revela a
segunda concepção de boa-fé: a noção de boa-fé psicológica, baseada na intenção,
designada boa-fé subjetiva.
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A teoria do Abuso do Direito diz que o exercício de direito que excede seus limites,
atingindo negativamente direito alheio, conduz à figura do exercício irregular do
Direito, cerne do abuso. Logo, todo direito será exercido dentro da perspectiva da sua
finalidade e função social. Maiores desvios com relação a estas finalidades, podem
caracterizar o abuso de Direito.
Cristiano Chaves de Farias faz ligação entre a teoria do abuso de Direito e a boa-fé
objetiva ao enunciar:
[...] não se pode deixar de reconhecer uma íntima ligação entre a teoria do
abuso de direito e a boa-fé objetiva – princípio vetor dos negócios jurídicos
no Brasil (arts. 113 e 421, CC) – porque uma das funções da boa-fé objetiva
é, exatamente, limitar o exercício de direitos subjetivos (e de quaisquer
manifestações jurídicas) contratualmente estabelecidos em favor das partes,
obstando um desequilíbrio negocial". [69]
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No campo contratual, dispõe o Código Civil, no seu artigo 112, já invocado, que na
interpretação negocial, o exegeta deve se ater mais à vontade das partes que ao
sentido literal do instrumento. Logo, a real intenção das partes é valorizada em
detrimento do sentido lingüístico contratual, o que revela a necessidade de estar
presente a boa-fé subjetiva.
6. CONCLUSÃO
1. O Código Civil de 1916 foi concebido para uma sociedade paternalista, colonial,
com ranço ainda feudal, agrária, rural, constituída por maioria de analfabetos. Há
nítida influência liberal em seu texto, com exaltação do individualismo, expressos,
por exemplo, na supervalorização da autonomia da vontade, na indestrutibilidade
contratual, no valor absoluto conferido à propriedade. A mentalidade burguesa
reinante à época assimilou com relativa facilidade os ideais desta codificação, pois
temiam qualquer intervenção do Estado na economia.
O Código de Beviláqua é constituído por 1.897 artigos e era antecedido pela Lei de
Introdução ao Código Civil (inicialmente, tratava-se da Lei n. 3.071/16, que foi
ulteriormente revogada pelo Decreto-Lei n. 4.657/42). Os Códigos Francês de 1.804 e
Alemão de 1.896 exerceram forte influência na elaboração deste diploma legal, tendo
sido adotadas várias de suas concepções. Teve como mentor Clóvis Beviláqua, que
em 1.899 o elaborou. Recebeu, inclusive, influência de Ruy Barbosa. O referido
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diploma é conhecido pela sua grandiosidade técnica, pela sua precisão jurídica,
embora já não atendesse mais aos anseios sociais impostos pela nossa época.
Insta gizar que, mesmo diante deste texto com estruturas que permitem uma
interpretação flexível, o projeto 634/75 permaneceu excessivo tempo aguardando
aprovação, o que gerou uma legislação natimorta para alguns assuntos, conforme já
salientado. A solução parece transcender o campo das emendas, pois o Código
poderá trazer para o seu interior apenas matérias pacificadas e amadurecidas pela
doutrina e jurisprudência nacional. Assuntos como clonagem, ficam reservados às
leis esparsas.
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A tendência é a propagação das leis esparsas na medida em que o Código Civil for se
tornando arcaico, com institutos que não atendam mais aos anseios sociais. Isto se
deu com a lei civil de 1.916, que passou a conviver com grande número de leis
esparsas que substituíam os institutos defasados constantes em seu texto.
Savigny, citado por Orlando Gomes [75], referia-se à codificação como "fossilização
jurídica", desprovida de vida, que emperrava o curso natural da evolução jurídica. O
Direito deveria pautar-se, neste contexto, pela pragmática e pelos costumes, e em
tudo aquilo que fosse reflexo da consciência jurídica popular.
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A eticidade tem como corolário a boa-fé, que pode ser subjetiva (concepção
psicológica da boa-fé, ligada ao plano da intenção das partes), ou objetiva (concepção
ética da boa-fé, pautada pela honestidade, lealdade, pela própria ética). A boa-fé
objetiva é um princípio empregado nos mais diversos ramos do Direito, tais como
Consumidor, Trabalhista, Empresarial, Processual... É um verdadeiro Princípio Geral
do Direito.
4. Ao final, mister instar que o objetivo deste artigo não foi em nenhum momento
criticar as codificações analisadas, quais sejam, de 1.916 e de 2.002. Procurou-se,
através do método dialético e histórico-comparativo, analisar as influências sociais e
históricas na elaboração normativa, considerando que a norma deve atender ao
momento histórico e socioeconômico a que ela se dirige. Norma que não possui
finalidade delineada e elo com as circunstâncias históricas, socioeconômicas,
culturais da sociedade é desprovida de função social. A dicção do artigo 5° da Lei de
Introdução ao Código Civil deve ser invocada: "Na aplicação da lei, o juiz atenderá
aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum". Pois bem, os fins
sociais de uma norma só serão claramente revelados diante da contextualização
socioeconômica, histórica, cultural desta norma. Caso contrário, a norma perde sua
finalidade social e se volta contra o bem comum, inclusive. [77]
Nesta ordem de ideias, não se teceram críticas ao Código Civil de 1.916 enquanto
diploma legislativo, mas ressaltou-se o descompasso da longevidade do sobredito
diploma, que não atendia mais às perspectivas sociais da época, o que revelava a
ausência de contextualidade socioeconômica e histórica da legislação.
Não muito distante dessa realidade, foi o Código Civil de 2.002, que aguardou
décadas para obter aprovação legislativa, nascendo, ipso facto, com tons de
desatualização, a qual será superada pelas emendas e leis esparsas. Não houve,
destarte, crítica à obra legislativa de 2.002 que, pelo contrário, graças à sua
engenhosidade fez superar o atraso dos grandes merecedores de críticas deste
contexto: deputados e senadores que compõem o Congresso Nacional, que não se
empenharam em votar o projeto n. 634/75 em tempo hábil.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DELGADO, Mário Luiz, Jones, Figueiredo Alves (coord.). Novo Código Civil
(Questões Controvertidas). São Paulo: Método, 2006.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil (Teoria Geral do Direito Civil).
26. ed.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. 6. ed. São Paulo: Saraiva,
2008, v. I.
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REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 1986.
TARTUCE, Flávio. Direito Civil. 3 ed. São Paulo: Método, 2008, v. III.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil (Parte Geral). 9 ed. São Paulo: Atlas,
2009, v. I.
WALD, Arnoldo. Direito Civil (Introdução e Parte Geral). 11 ed. São Paulo:
Saraiva, 2.009, v. I.
NOTAS
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127-128
16. GAGLIANO, op. cit., p. 44.
17. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. 6. ed. São Paulo:
Saraiva, 2008, v. I, p. 20. Para Sílvio Rodrigues: "A fonte primordial de nosso
Direito Civil é o direito romano. Embora o Código de 1.916 tenha colhido
grande número de suas soluções nas Ordenações do Reino e nas legislações
portuguesas e brasileiras anteriores à sua publicação; embora nele se
encontre nítida influência do Código Napoleônico de 1.804 e do Código
Alemão de 1.896, aquela primeira asserção não se infirma, pois estes
monumentos legislativos se inspiraram, diretamente, na legislação
justinianéia" (Direito Civil – Parte Geral. 34.ed. São Paulo: Saraiva, 2003,
v. I, p. 10)
18. VENOSA, op. cit., p. 101
19. WALD, op. cit., p. 87.
20. Ibid., p. 88.
21. Ibid., p. 88.
22. Dentre as alterações da Parte Geral do Código Civil contidas no Projeto
originário e aprovadas pela Câmara dos Deputados, merecem destaque: (a) –
Inclusão de um capítulo dedicado aos Direitos da Personalidade; (b) –
Disciplina da ausência incluindo seus efeitos na sucessão provisória e
definitiva; (c) – Delineamento da diferença entre associações e sociedades,
estas últimas de natureza civil ou empresarial; (d) – Adoção da categoria dos
negócios jurídicos, com sua disciplina própria; (e) – Reconhecimento e
disciplina da lesão enorme incluída no elenco dos defeitos dos negócios
jurídicos. In: FIÚZA, Ricardo. Novo Código Civil: principais alterações
na Parte Geral (http://jus.com.br/artigos/512) . Jus Navigandi, Teresina,
ano 5, n. 47, nov. 2000. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/512>.
Acesso em:12 mar. 2009.
23. WALD, op. cit., p. 88.
24. Em sentido contrário a algumas emendas, manifesta-se Miguel Reale: "É claro
que o Código aprovado não constitui obra perfeita, isenta de erros ou de
lacunas, mas, em se tratando de extensa unidade sistemática, tudo aconselha a
submetê-lo à experiência, antes de se pretender alterar-lhe os principais
mandamentos. Não tem sentido, por exemplo, que se queira incontinenti
mudar artigos que foram objeto de cuidadoso estudo ao longo de 27 anos de
tramitação, como é o caso do dispositivo que estabelece os requisitos da
formação da pessoa natural, pretendendo-se que, além da concepção do ser
humano, se faça referência ao "embrião" dela resultante". REALE, Miguel.
Emendas ao Código Civil (http://jus.com.br/artigos/3818) . Jus Navigandi,
Teresina, ano 7, n. 63, mar. 2003. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos
/3818>. Acesso em: 12 mar. 2009.
25. GONÇALVES, op. cit., p. 23.
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janeiro de 1.919, que modificou 200 dispositivos do velho Code. (Ibid, p. 21).
30. Preferimos a terminologia "Direito Empresarial", tal como foi codificada em
2.002. É bom esclarecer que a terminologia inicialmente adotada e preferida
pelo legislador foi "Da Atividade Negocial", versão alterada pela Câmara dos
Deputados.
31. Aliás, tal construção unificadora foi obra de Cesare Vivanti, que após alcançar a
unificação das obrigações civis e comerciais no Direito Italiano, em 1.942, com
a promulgação do Código Civil, retratou-se publicamente pelo equívoco
dogmático e metodológico cometido.
32. REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 28.ed. São Paulo: Saraiva,
2009, v. I, p. 22
33. TADDEI, Marcelo Gazzi. O Direito Comercial e o novo Código Civil
brasileiro. Jus Navigandi, Teresina, ano 6, n. 57, jul. 2002. Disponível em:
<http://jus.com.br/artigos/3004>. Acesso em: 04 abr. 2009.
34. REALE, Miguel. Visão geral do novo Código Civil . Jus Navigandi,
Teresina, ano 6, n. 54, fev. 2002. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos
/2718>. Acesso em: 03 mar. 2009.
35. Diretrizes elencadas pelo professor Miguel Reale In : REALE, Miguel. Visão
geral do novo Código Civil. Jus Navigandi, Teresina, ano 6, n. 54, fev.
2002. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/2718>. Acesso em: 03 mar.
2009.
36. LISBOA, Roberto Senise. Manual de Direito Civil (Teoria Geral do Direito
Civil). 5.ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 65 – 66.
37. REALE, Miguel. Visão geral do novo Código Civil . Jus Navigandi,
Teresina, ano 6, n. 54, fev. 2002. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos
/2718>. Acesso em: 03 mar. 2009.
38. GAGLIANO, op. cit., p. 44 - 45
39. Segundo Miguel Reale: "Princípios são, pois, verdades ou juízos fundamentais,
que servem de alicerce ou garantia de certeza a um conjunto de juízos,
ordenados em um sistema de conceitos relativos a da porção da realidade. Às
vezes também se denominam princípios certas proposições que, apesar de não
serem evidentes ou resultantes de evidências, são assumidas como fundantes
da validez de um sistema particular de conhecimentos, como seus
pressupostos necessários". Filosofia do Direito. 11. ed. São Paulo: Saraiva,
1986, p. 60.
40. DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil (Teoria Geral do Direito
Civil). 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2.009, v. I, p.53
41. Martins-Costa, Judith e Branco, Gerson Luiz Carlos apud GAGLIANO, Pablo
Stolze, PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil (Parte
Geral). 10.ed. São Paulo: Saraiva, 2.008, v. I, p. 51-52.
42. REALE, Miguel. Visão geral do novo Código Civil . Jus Navigandi,
Teresina, ano 6, n. 54, fev. 2002. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos
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/2718>. Acesso em: 03 mar. 2009. Outros exemplos podem ser citados, tais
quais a Função Social da Posse (Posse-Trabalho e Posse-Moradia), que diminui
o prazo para a usucapião extraordinária de 15 anos para 10 anos se o possuidor
tiver estabelecido no imóvel sua moradia e desenvolvido atividade produtiva
nesta área possuída. Outrossim, a usucapião ordinária tem o prazo reduzido de
10 anos para 5 anos, caso haja valorização pela produtividade pelo possuidor do
imóvel. Verdadeiro leading case acerca do tema Função Social da Posse-
Moradia, como expressão de valor relacionado à dignidade humana, foi
pronunciada no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, onde se reconheceu
o direito à moradia a uma senhora que vivia na favela e teria sua casa demolida
pelo poder municipal em virtude da construção de seu imóvel em área proibida.
O desembargador Wellington Pacheco Barros reconheceu o direito à moradia
como expressão da dignidade humana. Em seu lapidar voto asseverou: "Dessa
feita, do exsurgente dos autos, não há dúvida quanto à irregularidade da
construção da apelada, que não apenas não possui projeto, como, igualmente
desprovida de alvará de edificação. Além da impossibilidade de regularização
da obra, por se situar a construção, em zona fronteiriça à via férrea, área de
edificação proibida. Outrossim, não contestara, a recorrido, os fatos referidos
acima, pelo que se tornaram incontroversos, conforme bem acentuara o
magistrado a quo (fls. 66-72).Desse modo, tem-se que a área onde se situa a
moradia da apelada é uma favela construída junto aos trilhos da linha férrea,
no Município de Bento Gonçalves. Por óbvio, que sendo moradora de uma
favela e, como por ela mesmo alegado na sua contestação, é o recorrido
pessoa pobre, totalmente desprovida de recursos para, no caso de ter sua
habitação demolida, conseguir outra para morar, seja por aquisição ou
aluguel. Portanto, decisão, neste momento, de provimento da apelação do
Município acarretaria o ônus de jogar a recorrida, juntamente com sua
família, literalmente na rua, quiçá para inflar ainda mais o número dos
brasileiros, que sem casa para morar, vêem-se obrigados a recorrer à
cobertura das pontes e viadutos. Dessa feita, diante das circunstâncias do
caso concreto, sendo o nosso Brasil, país onde a desigualdade sócio-
econômica é absolutamente vergonhosa e indignante, a responsabilidade do
Poder Judiciário não pode ser apenas frente ao direito, mas, também, com a
sociedade como um todo e com próprio ser humano, para, nos casos em que
for de seu alcance, resguardar a dignidade de sua condição. Ademais, decisão
em sentido inverso poderia advir se o Município tivesse agido no momento em
que ocorreram as invasões, cumprindo, assim, seu papel fiscalizatório, mas
não após uma omissão de anos. Por tais fundamentos, não se está, aqui, a
dizer que as construções, como a da apelada, no local objeto deste feito, não
constituem uma irregularidade e uma insegurança não só para os usuários
da linha férrea, como, também, para os próprios habitantes do local, e que ao
Município está vedada a demolição das construções irregulares, pois,
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69. Farias, Cristiano Chaves de Apud BARROS, João Álvaro Quintiliano. Abuso de
direito . Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 727, 2 jul. 2005. Disponível em:
<http://jus.com.br/artigos/6944>. Acesso em: 03 mar. 2009.
70. Para tanto, rever o Enunciado 25 do CJF/STJ. Neste mesmo sentido, tem-se o
Enunciado n. 170 do CJF/STJ, pelo qual "A boa-fé objetiva deve ser observada
pelas partes na fase de negociações preliminares e após a execução do
contrato, quando tal exigência decorrer da natureza do contrato".O Tribunal
de Justiça do Rio Grande do Sul já se manifestou diversas vezes favorável à
aplicação da boa-fé objetiva a fase de negociações preliminares do universo
contratual, como se vislumbra: "Contrato. Teoria da Aparência.
Inadimplemento. O trato, contido na intenção, configura contrato, porquanto
os produtores, nos autos anteriores, plantaram para CICA, e não tinham por
que plantar, sem a garantia da compra" (TJRS, Embargos Infringentes, Proc.
591083357, Terceiro Grupo de Câmaras Cíveis, Rel. Juiz Adalberto Libório
Barros, j. 01.11.1991). A mesma corte entendeu pela aplicação da boa-fé objetiva
à fase pós-contratual, ao decidir: "Inscrição no SPC. Dívida paga
posteriormente. Dever do credor de providenciar a baixa da inscrição. Dever
de proteção dos interesses do outro contratante, derivado do princípio da
boa-fé contratual, que perdura inclusive após a execução do contrato
(responsabilidade pós-contratual)" (TJRS, Proc. 71000614792, j. 01.03.2005,
3ª Turma Recursal Cível, Juiz Relator Eugênio Facchini Neto).
71. DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil (Teoria das Obrigações
Contratuais e Extracontratuais). 25. ed. São Paulo: Saraiva, 2.009, v. III,
p. 32.
72. DELGADO, op. cit., p. 177.
73. Ibid., p. 177.
74. REALE, Miguel. O novo Código Civil e seus críticos (http://jus.com.br
/artigos/2711) . Jus Navigandi, Teresina, ano 6, n. 54, fev. 2002. Disponível
em: <http://jus.com.br/artigos/2711>. Acesso em: 15 mar. 2009.
75. GOMES, Orlando. Introdução ao Direito Civil. 18.ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2001, p.62.
76. GAGLIANO, op. cit., v. I, p. 36.
77. Ives Gandra da Silva Martins Filho assevera o seguinte sobre Bem Comum e
Interesse Individual: "Se, por um lado, o bem comum é a potencialização do
bem particular, por outro, tem primazia sobre o bem particular, pois o bem de
muitos é melhor do que o bem de um só. Assim, se cada componente da
comunidade é bom, o conjunto desses componentes é ótimo, uma vez que
acresce ao bem particular de cada um a perfeição do conjunto. Isto porque, no
bem do todo, está incluído o bem de cada uma das partes. Daí que se deva
preferir o bem comum ao bem próprio. E daí também que, quando amamos o
bem em toda a sua integralidade, é quando melhor nos amamos a nós mesmos.
Na verdade, ao se buscar o bem comum, busca-se necessária e
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Autor
Rodrigo Alves da Silva
SILVA, Rodrigo Alves da. Diretrizes e bases principiológicas do Código Civil de 2002.
Análise histórico-comparativa ao Código Civil de 1916. Revista Jus Navigandi,
ISSN 1518-4862, Teresina, ano 14, n. 2145, 16 maio 2009. Disponível em:
https://jus.com.br/artigos/12712. Acesso em: 21 ago. 2020.
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