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São Paulo
Fevereiro/2016
CONVENIADA FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS - SÃO PAULO
elaborado por Pablo López Guelli e aprovado pela Coordenação Acadêmica, foi aceito como
pré-requisito para a obtenção do certificado do Curso de Pós-Graduação lato sensu MBA em
Gerenciamento de Projetos, Nível de Especialização, do Programa FGV Management.
Orientador
2
TERMO DE COMPROMISSO
_____________________________________
3
Dedicatória
com amor.
4
RESUMO
5
ABSTRACT
Audiovisual market is one of the best examples of an industry-based projects. However, this
same industry is not often quoted as a reference in the traditional management discourse. The
handouts and books used for two years in FGV management MBA addressing cases from
different areas, ranging from IT to the shipping industry, but the film management is not
mentioned by teachers or appears in the literature suggested by the Foundation. This study
aims to make a review of existing literature on the subject; then present a brief history of the
Brazilian film market setting, followed by a description of audiovisual production processes
and functions of the "project manager of the film", from the perspective of PMBOK. The goal
is to create an unprecedented literature on managing in the film area in Brazil and contribute
to independent producers in better managing their projects.
6
AGRADECIMENTOS
7
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 10
2.DESENVOLVIMENTO ........................................................................................................ 13
3. CONCLUSÕES .................................................................................................................... 53
4. POSSÍVEIS DESDOBRAMENTOS.................................................................................... 55
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 56
6. ENTREVISTAS E BIOGRAFIA ......................................................................................... 59
8
1. INTRODUÇÃO
[Para fazer cinema basta] uma câmera na mão e uma ideia na cabeça.
GLAUBER ROCHA, cineasta brasileiro e figura-chave do Cinema Novo1, 1965
Mais do que uma ideia na cabeça e uma câmera na mão, as produtoras precisam de bons CEOs.
MAURO GARCIA, presidente da Associação Brasileira de Produtoras Independentes, 20152
• Paradigma qualitativo
• Tipo de pesquisa
Fins: Explicativa/Exploratória
1
Movimento cinematográfico dos anos 50 que reivindicava um cinema realizado com mais realismo, mais conteúdo e mais barato. Foi
inspirado pelo Neorealismo dos cineastas italianos e pela ‘Nouvelle Vague’ francesa. Em contraponto aos filmes suntuosos produzidos pelos
estúdios Vera Cruz, o movimento pregava um cinema feito com “uma câmera na mão e uma idéia na cabeça” (nota do autor).
2
Entrevista com Mauro Garcia, presidente da ABPITV, a Associação Brasileira das Produtoras Independentes em 25/09/2015.
10
pesquisa e os mesmos autorizaram a divulgação de seus nomes nesse trabalho.
1.3 Cotextualização
No entanto, essa mesma indústria de natureza projetizada não costuma ser citada como
referência no tradicional discurso do gerenciamento. As apostilas e livros usados durante dois
anos no MBA de gestão da FGV abordam casos das mais diferentes áreas, que vão de TI à
indústria naval, mas o gerenciamento cinematográfico não é mencionado pelos professores
nem aparece na literatura sugerida pela Fundação Getúlio Vargas.
Em 2013 o segmento foi responsável pela criação de mais de 200 mil empregos, com
faturamento de R$ 22,2 bilhões, contribuindo com 0,54% do PIB - números que colocam o
3 Em 2001 o Brasil sancionou uma lei de investimento na produção e co-‐produção de obras cinematográficas; e em 2011 sancionou
outra
lei
que
impõe
aos
canais
de
televisão
por
assinatura
cotas
de
transmissão
de
produções
nacionais,
incluindo
uma
porcentagem
de
produtores
independentes,
o
que
tem
dado
grande
impulso
à
indústria
(nota
do
autor).
11
audiovisual em uma posição comparável à de outros setores, como Turismo e Esportes
(TELAVIVA, 2015).
O estudo fará primeiro uma revisão da literatura existente sobre o tema; depois apresentará
um breve histórico sobre a configuração do mercado cinematográfico brasileiro, seguido de
uma descrição dos processos de produção audiovisual e das funções do "gerente de projeto do
filme".
12
2. DESENVOLVIMENTO
Diante desse quadro seria razoável supor que a indústria cinematográfica tivesse desenvolvido
ao longo dos anos uma forma de gerenciamento robusta e bem definida que, quando aplicada
de maneira correta, garantiria automaticamente o sucesso do projeto, leia-se, do filme4. Mas
na prática não é isso que ocorre. Essa indústria possui características muito específicas e
difíceis de entender. E há muitas razões para isso: os filmes são produtos complexos; ninguém
sabe se gostou de um filme até assisti-lo; filmes entram e saem continuamente do mercado;
filmes competem entre si por mais espaço nos cinemas; um filme tem um final de semana
para conquistar o público; de cada 10 filmes produzidos, 7 perdem dinheiro (VELIKOVSKY,
2013).
Para o PMBOK, o sucesso de um projeto deve ser medido em termos da sua conclusão dentro
das restrições de qualidade, escopo, tempo e custo. Segundo essa definição, poderíamos dizer
que um longa-metragem foi um projeto de sucesso na medida em que o produto foi entregue
4
Por
produção
audiovisual
entenda-‐se
a
criação
de
filmes
longa
e
curta-‐metragem,
séries
e
programas
de
TV,
telefilmes,
filmes
publicitários,
documentários,
webséries
e
vlogs.
No
entanto,
este
trabalho
vai
focar
na
produção
de
longas-‐metragem
(nota
do
autor).
13
dentro do custo, escopo e prazo previstos. Mas como definiríamos a qualidade do produto?
Em projetos de engenharia ou farmacêutica, a qualidade pode ser planejada, construída,
testada e entregue para o cliente. No caso de um filme, como é definida essa qualidade? Quem
determina se aquele produto atendeu às expectativas? O diretor? A produtora responsável pelo
projeto? O público? A rentabilidade do filme? Uma película pode cumprir todos os quesitos
de qualidade que se esperava dela no começo do projeto, mas ser um retumbante fracasso de
renda e público.
Esse último ponto chama especialmente a atenção quando nos referimos ao gerenciamento na
indústria. Viabilidade econômico-financeira, payback, VPL e TIR são termos inerentes à
gestão de qualquer projeto. Segundo o PMBOK, os "ciclos de vida previstos" são aqueles em
que o escopo do projeto, bem como o tempo e custos exigidos para entregar o escopo são
determinados o mais cedo possível, sendo que o estudo de viabilidade encontra-se no estágio
inicial de todo processo. Conforme a figura abaixo, os projetos progridem por meio de uma
série de fases, em que cada uma foca um subconjunto de atividades de projeto e processos do
gerenciamento. Mas, de acordo com a maioria dos estudos consultados para este trabalho e as
entrevistas realizadas com profissionais da área sobre a rentabilidade na indústria, não é
possível prever o retorno financeiro de uma película - o que poderia inviabilizar o projeto,
segundo a ótica do PMI.
14
Essas são algumas das questões que mostram o nível de complexidade do gerenciamento de
projetos na indústria audiovisual. Se a qualidade de um filme é subjetiva, e é impossível
prever seu retorno financeiro, o que o "gerente do filme" pode fazer para que um projeto tenha
sucesso? Como e por quem é medido esse sucesso? Mais ainda: quem é o gerente de projeto
em uma produção fílmica?
Em busca de respostas para lidar com as incertezas da indústria do show business, acadêmicos
norte-americanos tentaram entender os motivos que levam ao sucesso ou fracasso dos filmes.
O objetivo era descobrir se havia uma "fórmula de sucesso" que garantisse o êxito das
produções.
O estudo descobriu, por exemplo, que a presença de uma estrela aumenta em 20% o número
de salas de exibição de um filme quando comparado com outro sem uma estrela no elenco. Os
autores encontraram essas e outras relações de fatores que têm o poder de influenciar o ROI.
Mas ressaltaram que "em nenhum caso há certeza do retorno financeiro porque todos os
5
As
distribuições
de
Lévy
são
uma
família
de
distribuições
que
permitem
diversas
possibilidades
de
simetrias,
além
de
terem
importantes
propriedades
matemáticas.
Essa
família
foi
caracterizada
por
Paul
Lévy
nos
anos
de
1920
e
1930
(nota
do
autor).
15
pontos analisados enfrentam a variância infinita da distribuição de Lévy”. (DE VANY;
WALLS, 2001). Após a análise, eles chegaram às seguintes conclusões:
2) Um filme envolve tantas variáveis que é impossível atribuir seu sucesso a fatores
individuais.
Alguns anos depois, outro estudo nessa mesma linha também apontou que a rentabilidade de
um projeto fílmico é absolutamente imprevisível (ELIASHBERG; ELBERSE; LEENDERS,
2005).
A ideia de que "ninguém sabe nada" foi de certa forma questionada por Thorsten Henning,
Mark Houston e Gianfranco Walsh. Eles fizeram uma análise de 300 filmes e afirmaram que a
“percepção de qualidade” pode, sim, ser um fator determinante para o sucesso financeiro da
película (HENNING; HOUSTON; WALSH, 2007). Diferentemente de De Vany e Walls, os
autores estudaram tanto fatores diretos quanto os indiretos e chegaram à conclusão de que a
"percepção de qualidade" (por parte do público e da crítica) é o principal determinante para o
sucesso econômico de um filme. Os autores mostraram empiricamente como prêmios em
festivais de cinema têm uma relação direta com essa percepção de qualidade e, portanto, com
a rentabilidade – o que justificaria os enormes investimentos em marketing e participação em
festivais em todo o mundo para apresentar o “produto” ao mercado.
16
autor, incluir o boca-a-boca na análise de receita de um filme "pode reduzir
consideravelmente a margem de erro das previsões de rentabilidade" (LIU, 2006).
Ainda que em menor número, outros estudos optaram por analisar a questão do
gerenciamento nas produções fílmicas. Tracy Worley (WORLEY, 2005) mostrou como a
Teoria das Restrições6 (TOC) pode ser usada de maneira eficaz ao reconhecer todos os fatores
que podem causar o sucesso ou fracasso de um filme. O autor mostrou como o gerenciamento
por meio da TOC antecipa, reconhece e controla todos os fatores determinantes para o projeto
e ajuda a resolver de maneira positiva a maioria das incertezas do processo. A mais óbvia das
restrições em um projeto fílmico é o seu financiamento. O autor mostra como, por meio da
TOC, o gerenciamento dessa restrição pode otimizar a produção e reduzir seus riscos.
Além de estudos acadêmicos há diversos livros (nos Estados Unidos) que falam sobre a
produção cinematográfica. A maioria funciona como um guia, um passo-a-passo com o
objetivo de orientar os produtores a transitar pelos complexos caminhos da produção:
orçamentos, cronogramas, locações, elenco, equipamentos, festivais de cinema, marketing,
sindicatos, autorizações de uso de imagem, etc.
Os livros de Maureen A. Ryan, Eve Light Honthaner e Jane Barnwell são bons exemplos de
como é o processo de produção de um filme, mas pouco falam sobre o trabalho do gestor
responsável. Já os livros de Deborah Patz e Bastian Clevè apresentam pontos mais específicos
em relação ao gerenciamento. Apesar de também serem "livros-guia", os autores
eventualmente abordam o papel do gerente de projeto discorrendo sobre as características
desse profissional em um longa-metragem.
6
Paradigma
de
gestão
que
considera
qualquer
sistema
gerenciável
como
sendo
limitado
em
alcançar
a
maioria
de
seus
objetivos
por
um
número
muito
pequeno
de
restrições.
A
TOC
oferece
ferramentas
para
ajudar
na
melhoria
de
processos,
respondendo
a
quatro
perguntas:
O
que
mudar?
Para
que
mudar?
Como
mudar?
O
que
trará
a
melhoria
contínua
do
processo?
(nota
do
autor)
17
No Brasil, um dos raros livros é o do produtor Chris Rodrigues. Ele explica de forma didática
as funções básicas de cada profissional que compõe a equipe de produção de um filme e
apresenta uma série de documentos que são usados durante o processo (RODRIGUES, 2005).
A maioria dos estudos e livros aqui citados foi produzido nos Estados Unidos e, naturalmente,
fazem referência à realidade do mercado local. No Brasil, como veremos a seguir, ainda não
existe uma indústria do cinema no real significado da palavra "indústria". Só recentemente ela
começou a se profissionalizar. Provavelmente por isso há pouca literatura disponível.
- QUENTIN TARANTINO
Com o objetivo contextualizar o ambiente macro em que o "gerente do filme" atua, este
tópico vai traçar um breve histórico da configuração da indústria cinematográfica nacional
utilizando como base o livro "Cinema Brasileiro", de Sidney Ferreira Leite, e a tese de
doutorado de Arthur Autran, “O Pensamento Industrial Cinematográfico Brasileiro”,
posteriormente convertida em livro com o mesmo nome.
Apesar de existir no Brasil desde 1896, o cinema nunca conseguiu se consolidar plenamente
como indústria. Nesses 120 anos, o cinema brasileiro experimentou um período de relativo
18
êxito no exterior com o Cinema Novo e, recentemente, com alguns filmes da chamada
"Retomada" - que na prática significa a "reconquista" do mercado interno e do
reconhecimento internacional a partir de 1995 (FERREIRA, 2005). Durante esse período
houve inúmeras tentativas de construção de uma indústria independente e autosuficiente:
desde a criação de grandes estúdios para a produção de filmes (Cinédia, Atlântida, Vera Cruz,
Maristela), passando pela contratação de profissionais do exterior e a criação de órgãos
governamentais (INC, Embrafilme, Concine, Ancine) até a elaboração de diversas leis de
incentivo e fomento à atividade cinematográfica. Cada uma dessas iniciativas contribuiu de
alguma forma para a construção do mercado, mas este capítulo vai focar apenas nas atividades
das duas últimas instituições federais: a Embrafilme (1969-1990) e a Ancine (2003). Ambas
são as principais responsáveis pela atual configuração da indústria (FERREIRA, 2005).
Embrafilme
Buscando espaço no mercado, algumas empresas locais passaram a competir com os grandes
estúdios, as chamadas majors companies (o termo major está ligado à capacidade dessas
empresas de distribuir seus filmes mundialmente e em todas as mídias, além de produzir ou
financiar as produções. Esse modelo de atuação funciona até hoje em todo o mundo. Os
estúdios contratam projetos de uma produtora, financiam todas as fases de produção e
colocam a serviço do filme suas estruturas de produção, desde galpões de filmagem até
serviços de finalização).
Uma das mais emblemáticas tentativas de criação de uma indústria nacional autossuficiente
19
foi a inauguração da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, em São Bernardo do Campo,
em 1949 (AUTRAN, 2014). O italiano Franco Zampari e um grupo de empresários paulistas
decidiram copiar o modelo norte-americano de produção e construíram enormes estúdios com
o objetivo de produzir em terras brasileiras filmes com o mesmo padrão de qualidade da
indústria americana. O começo da empreitada foi promissor, com os estúdios produzindo mais
de 20 longas-metragens e documentários, entre eles “O Cangaceiro”, de Lima Barreto, e
“Caiçara”, de Adolfo Celi. Mas o mercado brasileiro tinha graves problemas estruturais,
especialmente em relação à distribuição e exibição dos filmes, que continuava nas mãos das
majors. Sem um sistema próprio de distribuição, a Vera Cruz começou a perder dinheiro
rapidamente, já que os distribuidores e exibidores ficavam com mais de 60% da arrecadação
dos filmes que ela produzia. Havia ainda uma grande dificuldade de inserção dos filmes
brasileiros no mercado internacional, já que eles falavam (e falam ainda hoje) quase
exclusivamente sobre questões locais, difíceis de serem compreendidas (e, portanto,
compradas) fora do Brasil. Ambos fatores retiravam da Vera Cruz a fonte de renda necessária
para a diluição dos enormes custos de suas produções, impedindo um ciclo sustentável de
investimentos em novos projetos (AUTRAN, 2014).
Como se isso não fosse suficiente, o "produto hollywoodiano" era praticamente imbatível. A
indústria americana investia pesadamente na construção de ídolos e mitos como estratégia de
sucesso para seus filmes e consolidação de sua hegemonia em nível mundial. Como resultado,
suas estrelas levavam milhões ao cinema. Por isso os filmes estrelados por atores como Gary
Cooper, Cary Grant, Jack Kerrigan e outros eram sucesso garantido de bilheteria. Nesse
contexto, a Companhia Vera Cruz, conhecida então como a “fábrica dos sonhos brasileira”,
rapidamente se transformou num pesadelo para seus acionistas e decretou falência, em 1954,
atolada em dívidas com os bancos (AUTRAN, 2014).
Nesse momento fica claro que, além de muito dinheiro, estúdios enormes, equipamentos de
ponta, técnicos de primeira linha e artistas talentosos, fazia-se necessário articular melhor a
produção com a distribuição, posto que este último setor se encontrava dominado pelo capital
estrangeiro e constitui-se no elo central que permite o acesso do filme ao mercado.
A rápida e estrondosa falência da Vera Cruz acabou servindo para uma ampla reflexão na
sociedade brasileira sobre a importância de uma indústria cinematográfica. Intelectuais,
cineastas e estudantes colocaram o debate sobre os destinos do cinema nacional na ordem do
20
dia. E tal reflexão foi decisiva para a ruptura com os velhos paradigmas sobre a indústria
cinematográfica e o significado dos filmes. (FERREIRA, 2005).
As experiências deixaram claro que era necessária uma intervenção do governo para
regulamentar o mercado, o que só se concretizou nos anos 60. A criação do Instituto Nacional
do Cinema (INC), durante o regime militar, em 1966, permitiu pela primeira vez o
desenvolvimento de uma ampla legislação sobre diversos aspectos da indústria, como os
critérios de permanência de filmes brasileiros em cartaz; fortalecimento da regulamentação
sobre os cinemas; estabelecimento de cotas de tela entre outras medidas positivas para a
incipiente indústria. Em 1969, o governo decidiu romper de vez o anacronismo em que se
encontrava a indústria em relação aos outros países e criou um programa de desenvolvimento
de uma “política cultural brasileira”. Nascia assim a Empresa Brasileira de Filmes S/A, a
Embrafilme, que embutia a idéia de desenvolvimentismo para a produção cinematográfica
nacional a partir da distribuição e promoção de filmes brasileiros no exterior. A empresa tinha
também como missão realizar mostras de cinema e apresentações em festivais, tendo sempre
como foco a difusão do filme nacional (CHALUPE, 2004).
A trajetória da Embrafilme é narrada por fases, que ficam bem caracterizadas pela sucessão
dos diretores gerais que estavam à frente das decisões da empresa (CHALUPE, 2004). A
primeira fase (1969 a 1974) foi um momento de reconhecimento do ambiente cinematográfico
nacional, cujo intuito era definir quais seriam os rumos da empresa. Entre 1974 e 1978 deu-se
a mais profícua das fases do mercado de filmes no país, quando a classe cinematográfica
assumiu a direção das atividades da estatal, com o cineasta Roberto Farias, nomeado diretor
da empresa. A Embrafilme começou então a participar também do financiamento dos filmes,
inclusive assumindo os riscos de produção. Nesse período criaram-se ainda as primeiras
medidas de regulamentação e fiscalização do mercado (CHALUPE, 2004).
Collor deu início à abertura comercial do país, até então uma das mais fechadas do mundo,
com a redução gradual das tarifas de importação (CURRY; GASPARIN, 2012), e abriu
caminho para as mudanças que viriam no governo FHC. Este pautou-se por um ideário que
tinha no liberalismo econômico (abertura comercial e privatizações) sua característica mais
forte, com iniciativas que mudaram a relação entre Estado e mercado (BRASIL ESCOLA,
2010). Seu alvo central foi quebrar alguns dos alicerces do Estado nacional-
desenvolvimentista, vigente desde a época de Getúlio Vargas, e reduzir a participação estatal
nas atividades econômicas.
Em linha com esse novo cenário surgem as chamadas “agências reguladoras”, autarquias com
a missão de orgarnizar a ação de entidades públicas e privadas e criar regras para direcionar o
mercado para uma competição baseada no aperfeiçoamento da qualidade de bens e serviços.
A Ancine (Agência Nacional do Cinema) nasceu nesse contexto. Ela foi criada como uma
agência reguladora com objetivo de fomentar a produção, a distribuição e a exibição de obras
cinematográficas e videofonográficas em seus diversos segmentos de mercado, assim como
promover a auto-sustentabilidade da indústria nacional nos vários elos da cadeia produtiva
(ANCINE, 2009).
Nesse momento tem início uma tentativa de (re) organização a indústria audiovisual no país,
22
que ficou à deriva com a extinção da Embrafilme, por meio de uma série de mecanismos de
fomento (direto e indireto), incentivos e estímulos oferecidos para a produção, distribuição e
exibição de obras individuais (AUTRAN, 2014). Dentre tais mecanismos destacam-se os
incentivos fiscais, em que são utilizados créditos tributários para financiar produções ou
coproduções realizadas por produtores independentes (como a Lei Rouanet) e os programas
de fomento desenvolvidos diretamente pelo poder público, como o Fundo Setorial
Audiovisual (FSA), que hoje é o mais importante estímulo para o mercado. Ele é composto
pela Condecine, que é a Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica
Nacional, um tributo pago em cada contrato de produção audiovisual (ANCINE, 2009).
Os valores do FSA eram tímidos no início, da ordem de R$ 30 milhões por ano. Com esse
montante, o governo conseguia abrir alguns poucos editais por ano, mas o valor era muito
baixo para estimular a indústria. Esse panorama mudou radicalmente com a chegada da Lei
12.485 (ANCINE, 2013), de contribuições tributárias do Fundo das Telecomunicações, que
entrou em vigor em setembro de 2012. A partir desse momento o FSA passa a ser o maior
financiador da indústria audiovisual do país, com um orçamento anual que passou de R$ 30
milhões em 2011 para R$ 989 milhões em 2013 (ANCINE, 2013).
"A partir de 2012 cada uso de celular passou a gerar um imposto que cai diretamente no caixa
do Fundo Setorial, o que implicou numa mudança enorme. A outra mudança é a organização
[por parte da Ancine] de um calendário bianual de editais, que começou a vigorar em outubro
deste ano [2015]. Isso dá previsibilidade e escala para a indústria. Muda completamente a
relação das empresas com o mercado, que agora ficará parecido com o de outros países".7
Isso quer dizer que a partir de 2015 os canais de TV e cinemas poderão se planejar com dois
anos de antecedência e saber o que poderão comprar para suas grades de programação, algo
que até então não acontecia. O governo abria editais em datas esporádicas e imprevisíveis, de
forma que o mercado tinha mais garantias de conseguir seus "produtos" para veiculação se os
comprasse fora do Brasil.
"A indústria nacional é totalmente subsidiada. Mas, na medida em que agora ela tem
um caixa de fomento como o FSA, e previsibilidade de entrega por meio do calendário de
editais, os canais de TV e circuito de cinema têm garantias que determinado filme vai ser
7 Entrevista com Mauro Garcia, presidente da ABPITV, a Associação Brasileira das Produtoras Independentes em 25/09/2015
23
produzido e chegará no mercado em uma data pré-estabelecida. Por isso a indústria na prática
ainda não existe, mas agora ela está começando a se formar".8
8
Entrevista
com
Mauro
Garcia,
presidente
da
ABPITV,
a
Associação
Brasileira
das
Produtoras
Independentes
em
25/09/2015
9
Por
"produtores
independentes"
entenda-‐se
os
profissionais
(ou
as
produtoras)
que
atuam
fora
das
grandes
empresas
de
radiodifusão
(sistema
de
transmissão
de
voz
via
sinais
radiofônicos)
e
que
conseguem
financiamento
para
suas
obras.
Nos
EUA,
cuja
configuração
do
mercado
é
completamente
diferente,
o
termo
"produtor
independente"
é
aquele
que
consegue
fazer
seus
filmes
fora
dos
grandes
estúdios
-‐
Fox,
Warner,
Disney,
Paramount,
Universal
(nota
do
autor).
24
ideia que se tem de indústria cinematográfica no Brasil ainda está ligada diretamente às
questões de qualidade artística e técnica, de forma que o que determina o sucesso de um filme
é a opinião (subjetiva) dos responsáveis pelo mesmo, seja do diretor do filme ou a produtora
responsável. Para a imensa maioria dos estudos consultados e citados neste trabalho, no
entanto, quem determina o sucesso do "projeto filme" é única e exclusivamente o público.
Esse sentimento no Brasil ainda é tão forte que deixa em segundo plano a preocupação com a
configuração do mercado, das possibilidades de esse mercado amortizar investimentos ou de
gerar lucratividade que estimule os investidores a continuar na atividade (AUTRAN, 2014).
10 http://fsa.ancine.gov.br/resultados/desempenho/retorno-‐do-‐investimento
25
C 5 5 9.300.000,00 5.782.615,05 62,2%
A lógica adotada faz sentido quando analisamos os filmes subsidiados de forma isolada. Um
exemplo: o documentário “Segredos da Tribo”, do diretor José Padilha (Ônibus 174, Tropa de
Elite, Robocop, Narcos), captou via isenção fiscal mais de R$ 417 mil (ANCINE, 2014), por
meio da produtora Zazen, do próprio diretor. O filme fala sobre um conflito entre
antropólogos por causa dos índios Ianomâmi e foi exibido em 2013 em duas salas de cinema.
Teve um retorno financeiro de R$ 6.272,00, com público total de 775 pessoas. Em outras
palavras, o contribuinte brasileiro pagou (já que o governo deixou de arrecadar) cerca de $
400 mil por uma obra que rendeu R$ 6 mil e foi vista por menos de 800 pessoas.
Olhando do ponto de vista exclusivo do retorno financeiro, e sem levar em consideração que
essa produção criou empregos temporários e gerou renda para todos os envolvidos, o estado
brasileiro teve um prejuízo considerável. Até há pouco tempo isso não era um problema. O
gerente não se preocupava se o filme seria visto por 5 milhões ou 50 pessoas. Mas hoje a
realidade é outra. Com um fracasso dessa magnitude, a produtora Zazen terá mais dificuldade
para captar recursos por meio da Ancine. Na prática, como as mudanças são muito recentes, a
maioria das produtoras ainda opta por fazer cinema como uma forma de "apresentação de
portfólio", quase como um hobby. Ou, como disse um produtor de uma das maiores empresas
de audiovisual do Brasil, "fazer um filme é algo autoral, como um filho que a gente cria
durante 5 anos".
"Hoje ninguém entra num projeto com a expectativa de retorno financeiro. O mercado
brasileiro não tem maturidade suficiente. As produtoras não visam lucro com longas-
metragem. Elas querem mais o reconhecimento e exposição da empresa, funciona como
porftólio. Talvez a empresa acerte um 'golpe' e o filme seja um sucesso de renda e público,
mas as empresas entram no projeto sabendo que não vão ganhar dinheiro. Sucesso, no Brasil,
é conseguir fazer um filme bom com o orçamento que você tem".11
11 Entrevista com Jatir Eiró, produtor executivo da Bossa Nova Filmes em 12/09/2015
26
Como resumiu o próprio José Padilha (OGLOBO, 2013), hoje uma produtora não consegue se
manter apenas fazendo filmes, até porque os projetos cinematográficos demoram anos por
conta da tempo de liberação das verbas pela Ancine e também pela própria dinâmica do
negócio. A produtora O2, do cineasta Fernando Mereilles (Cidade de Deus, O Jardineiro Fiel)
é outro bom exemplo de como (ainda) funciona a realidade brasileira. Até 2011, a empresa
vivia quase que exclusivamente de publicidade, comerciais para a televisão, e só recentemente
passou a acrescentar o cinema em seu portfólio de maneira "mais comercial e menos autoral"
(LORENTE, 2014).
Todas essas mudanças citadas são muito recententes em termos de mercado e ainda levará
anos até que a indústria desenvolva uma mentalidade puramente comercial, como a norte-
americana, para usar um exemplo extremo. De qualquer forma, e o que interessa para este
estudo é que, com essa nova realidade, o gerente de projetos tem uma responsabilidade cada
vez maior na coordenação de um filme. Agora espera-se dele uma entrega que obtenha algum
retorno financeiro. Daí vem a observação do presidente da ABPITV que está abertura do
TCC:
"Mais do que uma ideia na cabeça e uma câmera na mão, as produtoras hoje precisam de bons
CEOs, gente capaz de administrar um negócio complexo, de fazer planejamento, controle de
gastos, gerenciamento de pessoas, análise se mercado e carteira de clientes. A "produtora de
dois amigos" que se juntam para fazer filmes já não funciona mais".13
12
Entrevista
com
Ary
Piny,
produtor
executivo
da
O2,
em
10/09/2015
13
Entrevista com Mauro Garcia em 25/09/2015
27
2.1.4 O gerente do filme
Como visto até aqui, o gerente de um filme está inserido em um ambiente incerto, em que não
é possível prever o ROI de um projeto; em uma indústria que na prática inexiste, quase 100%
subsidiada; em um mercado moldado e dominado por empresas e produtos norte-americanos;
em um setor que nos últimos anos recebeu um súbito aumento de demanda; que desde 2012
tem à sua disposição uma enorme fonte de financiamento; com novos players que precisam de
gestores eficientes para atender a essa demanda; cujo produto (o filme) é complexo, caro de se
fazer e depende de uma equipe grande de profissionais especializados trabalhando de forma
intensa e harmônica num curto espaço de tempo.
Nesse contexto, quem é a pessoa que tem o controle de todo o processo? Que comanda e
integra as equipes técnica e artística; controla o orçamento; contratos; locações; gerencia
aquisições, riscos, tempo, pessoas? Há diferentes respostas para essa pergunta entre os
profissionais da área. Mas neste trabalho vamos definir a figura do produtor executivo (PE)
como o "gerente do filme", uma vez que este foi o cargo mais citado pelos entrevistados para
este trabalho e também o mais presente na literatura revisada.
No único artigo encontrado no site do PMI sobre gerenciamento audiovisual (RHYNE, 2008),
o autor faz uma compilação de diferentes definições de quem seria o gerente. Apesar de se
mostrar frustrado pelo fato de não ter encontrado um "gerente formal" nas produções de
cinema, ele ressalta que 5 das 8 fontes consultadas afirmam que o principal responsável pelo
filme equivale a alguma das variações do cargo de produtor.
É importante destacar que apesar das semelhanças que existem nos processos de produção
cinematográfica, o mercado não funciona da mesma forma em todos os lugares. Nos Estados
Unidos, por exemplo, o produtor executivo é o "homem do dinheiro", a pessoa que vai criar o
projeto, conseguir a verba e vender a ideia para os estúdios executarem o filme. No Brasil, o
produtor executivo está mais ligado à execução do projeto, mas não existem regras fixas.
Como se trata de um mercado novo, muitas vezes as funções se misturam, se confundem ou
simplesmente ainda estão em fase de formação. No Brasil, dependendo da empresa, o PE
pode tanto participar de todas as etapas da produção - do desenvolvimento da ideia até a
comercialização do filme - como apenas da parte mais "gerencial", executando o projeto que
recebeu com um escopo, orçamento e data de entrega, sem ter contato com o financiamento e
a comercialização.
No Brasil é mais comum que o PE já receba o projeto com o "time criativo" montado (diretor,
diretor de fotografia, diretor de arte e atores principais) e a partir daí ele tem a missão de
entregar o produto com a qualidade, tempo e custo esperados. Vamos considerar neste TCC
uma situação hipotética em que o produtor executivo se envolve em todas as cinco etapas do
processo, coordenando, supervisionando, controlando e integrando as equipes artística e
técnica.
O produtor executivo
O cargo de produtor executivo é certamente um dos mais complexos quando falamos sobre o
processo de produção de um filme. Essa função exige conhecimentos técnicos, psicológicos,
legais, uma enorme capacidade organizacional e de liderança. O PE precisa estar disponível
durante as 24 horas do dia em todas as fases do processo. Seu trabalho é dar à equipe de
filmagem toda a estrutura necessária para que os artistas possam executar sua arte da melhor
forma possível, enquanto controla o dinheiro da produção com mão de ferro. Trata-se de uma
29
das poucas pessoas na equipe que participa de todo o processo de produção, do começo ao
fim. Ele é o principal responsável pelo projeto e conhece todos os detalhes do projeto.
O PE não faz parte do "time criativo". Ele não se envolve com o roteiro, não tem influência na
escolha dos atores e tampouco vai tomar decisões sobre a direção do filme (responsabilidade
do diretor). Sua função é oferecer as melhores condições de trabalho a todos e proteger os
interesses da produtora (ou seus próprios interesses, se for um produtor independente), por
isso ele tem o controle gerencial, financeiro, logístico e organizacional sobre todos os
aspectos da produção.
A função do produtor executivo representa o eterno conflito entre negócio e arte, por isso
espera-se dele uma postura equilibrada, que saiba conviver com um nível bastante elevado de
estresse diário. Em hipótese alguma ele deve se envolver em problemas com os artistas, que
são extremamente sensíveis. O PE raramente precisa ir até o set de filmagem. Seu local de
trabalho é a produtora, onde ele gerencia planilhas de Excel, telefonemas furiosos, produtores
ansiosos e muitas outras questões relacionadas ao filme e todos seus aspectos
(HONTHANER, 2010).
Para entender o trabalho do produtor executivo sob a ótica do PMBOK vamos comparar a
metodologia de gestão de projetos com as etapas de produção de um filme:
30
Grupos de Processos do PMBOK vs Etapas de produção de um filme
Encerramento Distribuição
Com um projeto com potencial nas mãos, o produtor executivo vai tentar atrair nomes de peso
(estrelas e diretores famosos) e levar para o filme o que há de melhor no mercado,
transformando assim aquele produto em algo mais atraente para as empresas que vão investir
no projeto. Geralmente, e junto com o dono da produtora, ele decidirá quem será o "time
criativo" do filme - o diretor, atores principais, diretor de fotografia e diretor de arte. Ao
mesmo tempo, ele busca financiamento para a obra, já com um plano de negócios montado
para levantar o dinheiro necessário (seja público ou privado). Em uma situação hipotética em
que o financiamento está garantido com a participação desse pequeno, mas importante grupo -
afinal é o rosto dos atores e as decisões do diretor que serão lembrados pelos consumidores - o
produtor executivo recebe o sinal verde para executar o projeto (PESSE, 2008).
A partir desse momento ele tem cerca de 3 meses para achar as locações onde serão gravadas
as cenas, contratar o resto da equipe e destrinchar o roteiro em pequenas cenas para ter uma
ideia precisa do custo e tempo da produção. A essa altura o PE já sabe o valor exato que terá
para trabalhar. Se ele tem R$ 3 milhões para fazer o filme em 6 semanas, deverá executar a
obra com mão de ferro para não estourar o orçamento e ter tudo sob controle para não perder
diárias de gravação e comprometer o cronograma. Não há margem para erros ou
improvisações em um negócio em que uma diária pode passar de R$ 200 mil.
O tempo do desenvolvimento vai variar de acordo com o tamanho da produção, mas durante
esse processo há 5 atividades que são comuns à maioria dos projetos cinematográficos e que
demandam total atenção por parte do produtor executivo (PESSE, 2008).
1. Análise de mercado
Um dos erros mais frequentes entre produtores é achar que o filme é mais importante do que a
parte comercial do projeto. O termo show business não é ao acaso: é 50% arte e 50% negócio.
Se fosse 100% arte seria show art, o que não é o caso. Um filme é sem dúvida uma forma de
arte, e muito cara de ser produzida, por isso é importante que o produtor tenha em mente
durante a fase de desenvolvimento que o aspecto comercial é tão importante quanto o próprio
filme. Um bom exemplo de relação arte-comercial é "O Projeto Bruxa de Blair". Esse filme
32
foi um projeto de baixo custo que tinha como objetivo principal gerar lucro para todos os
envolvidos e com um plano de negócios muito bem definido. Seus produtores conseguiram
investimento privado de US$ 350 mil, e o filme acabou arrecadando US$ 300 milhões em
todo o mundo (LEVISON, 2013).
As produtoras têm (ou deveriam ter) missão, visão e valores, assim como metas e objetivos a
curto e longo prazos. Isso as ajuda na escolha dos tipos de produtos que devem ser
trabalhados. Por isso a gestão de projetos está cada vez mais relacionada com a gestão do
negócio. Não se trata mais de uma atividade operacional isolada - e no setor audiovisual não é
diferente. Isso cria uma necessidade por parte das empresas de alinhar os negócios da
organização com seus objetivos estratégicos. No ambiente extremamente competitivo em que
vivemos, um produtor executivo terá mais chance de sucesso na área se conseguir atuar com
artista e gerente de projeto ao mesmo tempo (LEVISON, 2013).
Após essa auto-análise, a produtora terá de definir se o projeto que está desenvolvendo tem
como objetivo final retorno financeiro imediato; aumento do portfólio da empresa; se a ideia é
fazer carreira em festivais de cinema para exposição da marca (o nome da produtora); ou se
pretende apenas pagar as contas dos custos de produção para viabilizar o projeto por "carinho
ao filme". Essa última opção é muito comum no Brasil. Muitos filmes são pensados desde seu
início como "projetos autorais", ou seja, quando todos os envolvidos já sabem que o filme não
vai fazer dinheiro. Essas questões precisam ser definidas na etapa de desenvolvimento. A
33
missão da produtora deve ser baseada em uma cuidadosa estratégia, que leva em conta o
tamanho/custo da produção, as relações com as distribuidoras, oportunidades de negócio e
outras variáveis como:
• Projeção de venda líquida (o valor arrecadado menos os gastos com marketing, taxa
dos distribuidores, taxa dos exibidores e outros);
Dessa análise vai surgir uma missão que deve ser alcançável e racional. E essa missão deve
ser servir de base para a criação de um bom roteiro. Essa compreensão preliminar do lado
comercial do projeto aumenta as chances de um retorno sobre o investimento positivo - ainda
que não existam modelos confiáveis sobre como fazer filmes de sucesso. Como um "gerente
tradicional" na fase de Iniciação do grupo de processos, durante o desenvolvimento o produtor
executivo terá de definir os objetivos do projeto, seu escopo final e o destino dos recursos
financeiros conseguidos.
2. Desenvolvimento do projeto
A ideia para um projeto fílmico pode chegar por vários caminhos e os produtores devem
analisar todas as possibilidades com cuidado antes de dar início ao seu desenvolvimento.
Como mencionado, em primeiro lugar eles devem fazer uma análise de mercado e decidir se
vale a pena o investimento de tempo e dinheiro. Um projeto começa com uma ideia que pode
vir de um livro antigo (A Batalha das Termópilas); de um novo sucesso de vendas (50 Tons
de Cinza); de um livro que passou desapercebido pelo grande público (Tropa de Elite); de
uma história inventada por um roteirista (Estômago); de uma notícia de jornal (o traficante
brasileiro fuzilado na Indonésia); de uma história real; de outro filme já existente; de uma
peça de teatro, etc. Uma boa maneira de verificar o potencial da história e minimizar os riscos
do projeto é buscar "fórmulas" semelhantes no mercado.
Em resumo, os produtores têm de saber qual é o diferencial do projeto, quais seus pontos
fortes e fracos (análise SWOT) e quem são os talentos necessários (diretores, atores,
roteirista) para que aquela produção tenha mais chance de sucesso com o público - e ao
mesmo tempo buscar parceiros (canais e distribuidores) que podem se interessar pela ideia.
3. Desenvolvimento do roteiro
Caso a história já exista, a produtora deverá negociar sua adaptação às telas. O tempo do
início dessa negociação até a finalização de um roteiro bem estruturado pode demorar vários
meses. A não ser que seja uma história "hardnews", como o caso do brasileiro Jean Carlos de
Menezes, assassinado em Londres em 2005 ao ser confundido com um terrorista. Nesses
casos há uma "competição" entre os interessados em comprar os direitos da história para
transformá-la em filme e ela vai às telas de forma relativamente rápida. É importante que
nessa etapa os advogados participem das negociações para garantir que todas as permissões
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para exploração dos direitos de imagem estejam em ordem. É muito difícil conseguir essas
permissões depois que a fase de desenvolvimento já terminou e o roteiro está pronto para ser
filmado (CLEVÈ, 1994).
O roteiro é a pedra angular sob a qual a maioria das decisões do projeto serão tomadas ao
longo dos próximos meses. Ele apresenta o conceito e o desenvolvimento da história. É como
uma bíblia. O tempo e custo do filme dependem do roteiro; os atores participam ou não da
história a partir da leitura do roteiro; a localização das filmagens, estúdios, roupas e efeitos
especiais e muito mais dependem do que foi estabelecido pelo roteiro. Em última análise, o
que uma equipe de filmagem faz é filmar um roteiro (PESSE, 2008). Como visto até agora, há
diversos fatores que podem contribuir para o sucesso de um filme: a presença de estrelas, a
"percepção de qualidade" por parte do público, análises de mercado, etc. Mas há um ponto em
que vários produtores coincidem: ter um bom roteiro é meio caminho andado para que o
projeto funcione.
O roteiro contém os requisitos do filme, uma parte fundamental para a definição do escopo e
dos objetivos do projeto. Quando os requisitos não são claros, a chance de o projeto não ter
sucesso é grande. Coletar os requisitos é o processo de determinar, documentar e gerenciar as
necessidades e requisitos das partes interessadas a fim de atender aos objetivos do projeto. O
principal benefício deste processo é o fornecimento da base para definição e gerenciamento
do escopo do projeto como um todo, incluindo o escopo do produto final - o filme. Um
requisito é uma declaração de algo que alguém precisa. Ele deve ser claro, compreensível,
alcançável e verificável - exatamente como o roteiro. Eles serão a base para construção da
EAP, a Estrutura Analítica do Projeto, cujo objetivo é decompor o projeto em partes menores,
tornando-o assim mais fácil de ser gerenciado (PMBOK, 2015). No caso de um filme, essa
divisão recebe o nome de análise técnica: o roteiro é dividido em cenas para que o produtor
executivo possa ter uma dimensão precisa do custo, tempo e escopo daquela produção
(PESSE, 2008).
Assim como um gestor "tradicional", após a coleta dos requisitos (por meio da análise do
roteiro), o produtor executivo deverá organizar a EAP do filme. O planejamento dos custos,
tempo, aquisições, RH, comunicações, escopo, riscos, stakeholders, qualidade e integração
será construído com base no roteiro. Tanto em indústrias como tecnologia da informação,
farmacêutica e engenharia, quanto na indústria audiovisual, a inexatidão na elaboração dos
requisitos em um projeto são sinônimos de problemas à vista: a qualidade final do produto se
36
torna uma incógnita; o escopo fica indefinido; frustram-se expectativas; os relatórios se
tornam vagos; há problemas de integração e, como consequência de tudo isso, haverá muito
retrabalho ao longo do projeto.
O exercício de destrinchar o roteiro tem um duplo objetivo: ao mesmo tempo que cria uma
fundação sólida para o planejamento, ele também serve de guia para o PE controlar o projeto
desde o começo. Essa atividade gera uma série de benefícios como cronogramas realistas,
orçamentos confiáveis e logística inteligente. Nesse momento o PE começa a fazer o
planejamento do filme, a principal atividade do desenvolvimento: serão estabelecidos um
rigoroso cronograma e um orçamento minucioso que foi obtido por meio da análise técnica.
As cenas começam a ser organizadas de forma que elas serão gravadas em uma sequência
lógica e econômica.
Outra função do PE é gerenciar as locações, que são os locais onde serão gravadas as cenas do
filme, junto com os profissionais de outras áreas. O PE vai analisar o roteiro com o objetivo
de preparar a logística para eventuais viagens e mobilizações necessárias durante as
gravações. A ideia é comprimir as filmagens ao máximo durante cada mobilização da equipe
e equipamentos, já que esses deslocamentos geram custos altíssimos para a produção. A
escolha dos demais atores também começa na fase de desenvolvimento e preparação, quando
o produtor executivo levanta uma série de possibilidades de acordo com o tipo de produção
que será realizada (RYAN, 2010). As estrelas já foram contatadas, assim com o diretor e os
diretores de fotografia e arte. O PE contrata um diretor de casting, que vai receber CVs, fazer
testes e eventualmente gravar algumas cenas com os pretendentes para se certificar que está
fazendo a escolha certa. O objetivo é montar um time que funcione bem na tela do cinema.
É crucial que todas essas decisões sejam tomadas na fase de desenvolvimento e preparação,
uma vez que na pré-produção e produção a máquina já deve estar rodando a todo vapor e não
haverá muito tempo para correções. Eventuais mudanças podem comprometer o tempo e o
custo do projeto, que é o pesadelo de todo produtor executivo. No cinema, quanto maior o
tempo de produção, maior será o orçamento. Depois de algumas semanas de trabalho o roteiro
está fechado e não deverá sofrer mais alterações significativas; o plano de filmagem está
estabelecido; o orçamento está dentro do valor que a produtora tem para executar o filme e a
equipe está contratada: tudo está pronto para que o filme entre na fase de pré-produção. Em
resumo, o produtor executivo tem em mãos a "EAP do filme".
37
A etapa mais barata de todo o processo de produção de um filme é seu desenvolvimento. Mas,
tendo em vista a sua importância para um projeto, pode ser interessante para as produtoras
independentes começar a investir mais tempo e dinheiro nesse estágio. Afinal, como se diz no
meio cinematográfico: "É possível fazer um filme ruim com um bom roteiro, mas é
impossível fazer um bom filme com um roteiro ruim.” (GUELLI, 2015)
PRÉ-PRODUÇÃO (PLANEJAMENTO)
Um produtor experiente só precisa ler superficialmente o roteiro para ter uma boa ideia do
tamanho da produção, ou seja, quantos dias de filmagem serão necessários, quantos atores,
figurantes, viagens, locações, tamanho da pós-produção, etc. Neste momento o PE começa a
lidar diariamente com boa parte das atribuições que terá ao longo do trabalho: análise técnica
do roteiro; cronograma de gravação; checagem de locações; controle rigoroso do orçamento;
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elenco e sindicatos; autorizações; contratação de equipe; aluguel de equipamentos;
armazenamento de cenários/roupas; seguros para os profissionais e equipamentos; preparação
para a pós-produção (BARNWELL, 2008). O PE deve criar uma planilha para cada uma das
cenas dos roteiro, com todas as informações necessárias para a execução daquela cena, de
forma que o número final de planilhas deve ser o mesmo que o número de cenas do filme. A
análise técnica demanda uma contínua e eficiente comunicação entre a equipe. Cada chefe de
departamento (produção, arte, fotografia, figurino, áudio) deve transmitir a quantidade de
informação suficiente para que o PE obtenha uma leitura perfeita do que o diretor pretende
fazer em cada cena. Só assim é possível calcular com precisão o custo e cronograma da
produção.
Nesta etapa o PE também vai lidar com recursos humanos, negociação, gerenciamento de
custo e riscos. Toda a equipe de produção se reúne pela primeira vez; o time criativo decide o
tom e aparência do filme; as cenas começam a ser ensaiadas pelos atores e os milestones do
projeto são estabelecidos; os equipamentos são checados e testes de câmera, som, lentes e
iluminação começam a ser feitos; as locações são visitadas pela última vez junto com os
diretores de fotografia, de arte, de som, elétrica e maquinária; os demais técnicos são
contratados e começam os testes de cena com os atores (PESSE, 2008).
Nessa fase tem início também a gestão de riscos do filme, uma das etapas mais importantes do
projeto. Os produtores se reúnem e estabelecem os principais desafios que vão enfrentar ao
longo dos próximos meses. Em seguida eles apresentam soluções para cada um desses
desafios, com o objetivo de evitar atrasos e estouros de orçamento. Há produtores que
consideram a pré-produção a fase mais importante do projeto. Se há problemas nessa etapa, o
projeto começa errado e tem grandes chances de terminar da mesma forma.
Se o orçamento já está alinhado com a realidade da produção da maneira mais eficiente e com
o melhor custo-benefício possível, o PE agora precisa montar um cronograma de filmagem.
Por uma questão de eficiência e economia, os filmes nunca são filmados continuamente, ou
seja, o roteiro nunca é seguido pela sequência natural da história. O cronograma é construído
de forma que as cenas sejam agrupadas numa ordem que permita o uso mais eficaz do tempo,
das locações, do pessoal e dos recursos técnicos disponíveis. Esse mapa de produção será
discutido à exaustão com o diretor e o assistente de direção do filme (o braço direito do
diretor) até que todos estejam de acordo com o fluxo de trabalho.
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Como cada gravação envolve um pequeno exército de profissionais (dependendo do tamanho
da produção) e pode custar milhares de reais, a indústria criou mecanismos ultra-eficientes
para não perder tempo e dinheiro. Não é viável deixar uma equipe de mais de 80 pessoas
esperando parar de chover para gravar uma cena. É imprescindível ter um plano B no
planejamento. O PE deve ter em mente todas essas precauções na hora de detalhar o mapa de
produção. Ainda assim, ele deve ter jogo de cintura para mudar rapidamente as locações e o
cronograma porque é praticamente impossível encontrar a perfeição artística, financeira e
logística ao mesmo tempo. O diretor é o autor criativo da obra e sempre pedirá tudo o que
considera necessário para executar sua visão. O trabalho do PE é ajudá-lo a conseguir o que
ele quer, sempre e quando isso seja possível. De forma que, além de uma comunicação fluída,
nesse momento o PE começa também deve saber gerenciar as expectativas das partes
interessadas.
1. Análise de roteiro
O roteiro é estudado e cuidadosamente analisado, não apenas pelos produtores, mas também
pela parte técnica da equipe. Após essa análise técnica chega-se ao stripboard14, que aponta
tudo o que é necessário para a realização de cada cena e também uma sequência prática e
econômica das filmagens. Agora o PE tem na sua frente um “mapa de produção”.
2. Definição de escopo
Os produtores começam então a levantar os custos de produção, separando cada uma das
etapas que compõem um filme. A análise técnica do roteiro é que vai definir o escopo do
projeto.
3. Lições aprendidas
Para o PE ter mais segurança na elaboração de um orçamento, ele pode rever os orçamentos
anteriores em projetos similares em que ele ou a produtora trabalharam. Os projetos têm
14
Decomposição detalhada de cada cena de um filme (nota do autor).
40
sucessos e fracassos em diferentes pontos do ciclo de vida, por isso é fundamental que as
lições sejam registradas durante todo o processo. Segundo o PMI, “as lições aprendidas
devem ser registradas, a fim de fornecer um repositório centralizado para facilitar seu uso,
além de ser comunicadas de maneira consistente”. Da mesma forma, é muito importante que a
produtora ou o PE tenham um registro de projetos anteriores.
4. Uso da experiência
Conhecimento dos valores de mercado é muito importante na hora de compor um orçamento.
O produtor precisa ter uma ideia de valores dos preços cobrados por diretores de fotografia,
atores, figurantes, etc. Ter em mente uma base de valores e uma agenda com muitos contatos
vai acelerar a velocidade em que o orçamento será feito.
5. Negociação
O produtor executivo deve partir da premissa que tudo é negociável. Desde a contratação de
estrelas, passando por alugueis de carros antigos, ele precisa usar seu poder de negociação a
todo instante para manter a produção dentro do orçamento previsto. O orçamento está entre os
trabalhos cruciais do produtor e nunca deve ser feito de forma isolada ou sem referências.
Após esse trabalho e com consenso entre as partes envolvidas, o PE tem um mapa confiável
dos custos que será usado junto com o cronograma. Isso não significa que não haverá
mudanças no projeto, mudanças acontecem sempre em filmes. No entanto, esses parâmetros
vão orientar as mudanças para que elas estejam alinhadas com o tempo e custo da obra.
PRODUÇÃO (EXECUÇÃO)
O grupo de Execução consiste dos processos executados para concluir o trabalho definido no
plano de gerenciamento do projeto (que foi feito na pré-produção) a fim de cumprir as
especificações do mesmo. Este grupo de processos envolve coordenar pessoas e recursos,
gerenciar as expectativas das partes interessadas, e também integrar e executar as atividades
do projeto em conformidade com o plano de gerenciamento do projeto (PMBOK, 2015). Uma
grande parte do orçamento do projeto será gasta na execução dos processos do grupo de
processos de execução.
1. Gastos diários
Uma lista e um resumo dos gastos por diária. Esse relatório é extremamente detalhado,
descreve tudo o que foi gasto no dia, como os cachês dos atores, alimentação, transporte, etc.
42
2. Relatório diário de produção
É um relatório que resume o progresso da equipe de produção. Ele lista quais cenas do roteiro
já foram gravadas, relatório da equipe de áudio e outras informações.
3. Ordem do dia
Trata-se de uma ferramenta de planejamento. A ordem do dia detalha as atividades do dia
seguinte, de forma que o produtor pode sempre calcular quanto vai custar a próxima diária,
quem são os atores que devem estar no set, onde serão gravadas as cenas, etc.
5. Projeções semanais
Trata-se de uma projeção dos gastos da semana seguinte. Como dito, o PE dá uma atenção
especial ao orçamento nesta fase. O roteiro é muito importante, o cronograma é essencial, o
time criativo é imprescindível. Mas quem manda na vida do PE agora é o orçamento. Por isso
ele fica atento a tudo que possa alterar de alguma forma os custos do projeto e trabalha
constantemente para manter o projeto dentro do budget inicial. Manter o orçamento sob
controle é possivelmente a mais admirada característica em um produtor executivo. Por outro
lado, a inabilidade em controlar os custos pode custar milhares de reais a mais numa
produção, ou mesmo inviabilizá-la, além de custar a reputação do produtor envolvido.
6. Edição do material
A edição começa enquanto o filme está sendo gravado. Isso acontece porque, em caso de
necessidade de se refazer uma cena, a qualidade do filme ficará comprometida porque a
equipe já terá debandado. Por isso a edição começa durante a produção. Os editores começam
a cortar as cenas assim que elas são gravadas, garantindo um controle de qualidade do produto
final. Os editores são contratados na fase de pré-produção porque eles precisam entender o
conceito do filme desde o início do projeto. Começar o trabalho de edição ao mesmo tempo
em que se grava as cenas do filme aumenta a eficiência da produção: o processo fica mais
rápido e barato. Com o filme todo estruturado é hora de entrar na fase de pós-produção.
43
acompanhar, analisar e organizar o progresso e o desempenho do projeto (PMBOK, 2015). O
principal benefício deste grupo de processos é a medição e análise do desempenho do projeto
a intervalos regulares, em ocorrências apropriadas ou em condições excepcionais, a fim de
identificar as variações no plano de gerenciamento do projeto. O grupo de processos de
monitoramento e controle também envolve:
A pós-produção é o momento em que o produtor executivo tem uma visão sobre a saúde do
projeto como um todo. Agora ele terá de identificar as mudanças que certamente acontecer
por conta das variações no plano de gerenciamento. Como nessa etapa acumulam-se as cenas
com problemas, é comum que a pós-produção consuma quase 1/3 de todo o orçamento,
dependendo do tamanho da produção (PESSE, 2008).
A pós-produção tem início depois que todas as cenas do filme foram gravadas. Trata-se do
último processo fílmico e é o momento em que o produtor executivo vai verificar o
desempenho técnico do filme. Sua presença nessa etapa depende muito da
quantidade/complexidade do trabalho que ainda precisa ser feito, mas geralmente ele tem
pouca atuação na pós-produção. O trabalho (complemento da edição, efeitos especiais, efeitos
sonoros, trilha) já havia sido organizado previamente pelo PE, que geralmente delega essa
função para outro produtor ou supervisor de pós-produção.
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do produto.
O grupo de processos de Encerramento consiste dos processos executados para finalizar todas
as atividades de todos os grupos de processos de gerenciamento do projeto, visando concluir
formalmente o projeto e as obrigações contratuais. Este grupo de processos verifica se os
processos definidos estão completos em todos os grupos de processos a fim de encerrar o
projeto ou uma fase do projeto, da forma apropriada, e define formalmente a finalização do
projeto ou da fase (PMBOK, 2015).
Por outro lado, o Encerramento de um filme envolve também sua distribuição e exibição. Isso
porque não importa qual o gênero do filme, se drama ou documentário, o objetivo final de
uma produção cinematográfica é sempre o mesmo: distribuição e exibição do produto. Todo o
processo descrito anteriormente é feito com o único objetivo de fazer o filme chegar no
consumidor, tal qual um produto numa prateleira de supermercado.
Antes disso, no entanto, é feito um "teste de qualidade" com uma audiência escolhida para dar
opinião sobre o filme. É um momento crítico que vai definir o marketing do projeto e uma
garantia para todos os envolvidos que o filme está pronto para ser lançado para uma audiência
massiva. É importante “testar” a audiência para saber se o público-alvo do projeto foi
alcançado. Se foi, como ele reagiu durante a exibição? Após a sessão-teste as pessoas
recebem um cartão com um questionário cuidadosamente preparado. Algumas são escolhidas
para fazer parte de um grupo de discussão, onde as percepções e atitudes podem ser mais bem
exploradas. O resultado desse teste pode alterar completamente a cara do filme. Esse processo
é muito comum em países de mercados mais desenvolvidos como o europeu e o norte-
americano e basicamente tem como objetivo principal atender as expectativas do cliente.
Trata-se de uma velha prática em negócios, e no cinema não é diferente: um cliente feliz
sempre volta. A realização de testes no Brasil não era muito comum, mas na medida em que a
45
indústria nacional começou a se profissionalizar, essas sessões têm sido cada vez mais
frequentes. Elas ajudam as empresas a ter um termômetro do potencial da película, o que vai
minimizar os riscos da produção e aumentar as chances de sucesso do filme (PESSE, 2008).
Uma vez que todo o processo está concluído e o "produto" já está pronto, testado e com
qualidade aprovada pelas partes interessadas, é hora de colocá-lo à disposição do público nos
cinemas e outras plataformas de exibição, que são denominadas "janelas" - um período de
exclusividade de um conteúdo em determinada mídia. Por exemplo, a primeira janela dos
filmes quase sempre é a sala de cinema (CHALUPE, 2010). Eles serão exibidos apenas nessas
salas durante um tempo determinado, que vai depender da aceitação ou não por parte do
público. Cumprido esse primeiro duto de distribuição, o filme será explorado em uma segunda
janela, geralmente TV por assinatura, TV aberta, suporte físico (DVD, Blu-Ray) e internet
(online pago, streaming) e VOD - vídeo on demand ou "por encomenda" (Netflix, Hulu).
Quando o PE tem de lidar com os distribuidores, ele precisa usar suas habilidades de
negociação para garantir o melhor acordo com o distribuidor, apontando com precisão o
potencial do filme, como um vendedor oferecendo um produto para um possível cliente. Uma
vez feita a "venda", o distribuidor vai trabalhar o lançamento do produto nos cinemas para
que a película atinja todo seu potencial. O distribuidor é quem cria as campanhas de
marketing e realiza ações promocionais para vender o produto ao mercado com o objetivo de
alcançar ou superar as expectativas de receita. Para atingir o público almejado será necessário
que o filme seja lançado com o número exato de cópias, cobrindo o número apropriado de
regiões geográficas. Caso contrário haverá desperdício de cópias ou falta delas, ocasionando
prejuízo para a produção em ambos casos (CHALUPE, 2010).
Uma vez que todo o processo de negociação e análise está concluído, o filme vai finalmente
às telas. E seu desempenho nos 3 primeiros dias após o lançamento é determinante para o
tempo que aquela produção vai ficar em cartaz, assim como seu resultado nas demais janelas.
Essa avaliação, que é feita pelos três agentes (produtora, distribuidora e exibidores), é
realizada a partir do total de espectadores do primeiro final de semana de exibição (sexta,
sábado e domingo). Se o filme teve um bom desempenho nesses três dias (no Brasil é
considerado bom desempenho quando a obra ultrapassa a marca de mil espectadores por
cópia), significa que o filme ficará mais tempo em cartaz e os envolvidos ainda lucrarão com
vendas em DVD, venda para as TVs aberta e fechada e VOD.
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A distribuição é o elo central, a ponte entre o (filme) e sua disponibilização (exibição), entre o
emissor (diretor) e o receptor (público). Com o filme pronto, o distribuidor será o responsável
por sua circulação nas diferentes janelas de exibição, em diversos territórios e para públicos
variados. A exibição é a última fase da mediação entre o público e o filme. As salas de
exibição, os cinemas, são os PDVs, os pontos de venda da atividade cinematográfica. O
exibidor cinematográfico é o proprietário das salas, e o elo entre o espectador e o produtor do
filme (CHALUPE, 2010).
Em termos econômicos, podemos comparar a exploração dos filmes em salas de cinema com
a comercialização de produtos industrializados: o produtor fabrica o produto (o filme); o
distribuidor coloca e faz o marketing do produto nas salas de cinema, que por sua vez
pertencem aos exibidores.
Ao final das 5 etapas de produção fílmica fica claro que o produtor executivo é um
profissional que deve ter um excelente conhecimento de gerenciamento de projetos. Seja
numa produção independente de baixo custo ou um blockbuster de milhões de reais, o PE
sempre terá de lidar com um complexo quebra-cabeças de planilhas, pessoas, egos, técnicos,
logística, pressão e outras variáveis que demandam deste profissional uma avançada expertise
em gestão.
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Por isso foram desenvolvidas uma grande quantidade de práticas e ferramentas de gestão que
são usadas em todas as etapas de produção de um filme. Segue aqui uma lista dessas
ferramentas (GUELLI, 2015):
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18. Ordem do dia: É um doc. derivado do plano de filmagem que contém todas as sequências a
serem filmadas na diária, em ordem (COMUNICAÇÃO, CRONOGRAMA).
19. Plano de filmagem: listas e instruções detalhadas (atores, alimentação, transporte, roupas,
previsão do tempo, etc) necessárias para o dia de filmagem (CRONOGRAMA,
INTEGRAÇÃO, CUSTO).
20. Cross plotting: método de gerenciar recursos humanos. Permite uma exibição visual de
locações diárias e disponibilidade. (RH, CUSTOS)
21. Controle de mudança: produtores avaliam o impacto que eventuais mudanças terão no tempo
e custo do filme. (ESCOPO)
22. Dailies: checagem das cenas do filme logo após a gravação. Garante a qualidade e dá
coerência ao filme. (QUALIDADE)
23. Monitores wireless: imagens ao vivo do que está sendo gravado para os principais gerentes
do projeto, ajuda a manter a visão artística (QUALIDADE).
24. Quadro de produção: cronograma de filmagem. (ESCOPO)
25. Relatorio de produção: relatório diário do AD, horas trabalhadas, páginas do roteiro
gravadas, etc (QUALIDADE, TEMPO, CUSTOS, RISCOS).
26. Rádios e fones de ouvido: usados para manter constante comunicação no set de filmagem.
Facilita mobilidade e logística (COMUNICAÇÃO, RISCOS)
27. Vídeo-conferência: ajuda o diretor a monitorar e guiar as gravações remotamente e de várias
localidades. (CUSTOS, TEMPO)
Em outubro de 1994, três estudantes entraram em uma floresta em Maryland, nos Estados
Unidos, para fazer um documentário sobre a lenda de uma bruxa local. Eles jamais foram
vistos novamente. Um ano depois, as imagens foram encontradas (LEVISON, 2010).
Essa foi a sinopse do filme "O projeto Bruxa de Blair", que mostra os últimos 5 dias dos três
jovens perdidos na floresta. Coisas estranhas e assustadoras ocorrem durante a aventura, todas
devidamente registradas e, um por um, os estudantes começam a desaparecer, até que não
sobra ninguém - apenas a câmera e as fitas.
Lançado em outubro de 1999, o filme teve a segunda maior bilheteria da história do cinema
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independente norte-americano (US$ 300 milhões) e um ROI de 41.383% (413 vezes o valor
do custo da produção). Esses números não aconteceram por acaso. Eles vieram precedidos por
um minucioso plano de negócios, no qual os produtores apresentaram uma ideia cujo timing
era ideal para um filme daquela natureza (LEVISON, 2010):
• No mesmo ano haviam sido lançados, com grande sucesso, "O sexto
sentido", "A casa almadiçoada" e "A múmia", todos filmes de mistério/terror.
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O Internet Movie Database (também conhecido pelo acrônimo IMDb; traduzindo para o português: Base de Dados de Filmes na Internet) é
uma base de dados online de informação sobre música, cinema, filmes, programas e comerciais para televisão e jogos de computador,
atualmente pertencente à Amazon.com (nota do autor).
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os atores improvisar as falas, criaram situações assustadoras e imprevistas durante as
gravações (por exemplo acordá-los durante a madrugada com pauladas na barraca onde
dormiam), os atores não sabiam exatamente o que fazer em várias ocasiões e ficaram
extenuados, com fome, sede, sono. De forma que, ao ver o filme, as pessoas realmente
ficavam na dúvida se a história era real ou falsa (LEVISON, 2010).
Uma comparação que se pode fazer no Brasil em termos de planejamento aconteceu com o
blockbuster nacional "Dois filhos de Francisco", que estreou em agosto de 2005 para se
tornar a produção brasileira de maior público da retomada (5,3 milhões de espectadores).
O filme, que narra a infância dos cantores sertanejos Zezé Di Camargo e Luciano e o
esforço de seu pai para transformá-los em uma dupla de sucesso, combinou um grande
número de ações para seu lançamento e foi pensado como um produto para fazer dinheiro
em todo o Brasil. Ajudou muito fato de ter sido uma co-produção da Globo Filmes,
distribuído pela Sony (CHALUPE, 2010).
Para o filme "Dois filhos de Francisco" foram pagos à Globo Filmes o equivalente a 15%
do custo para veiculação na TV, pouco mais de um milhão de reais. Se o filme não tivesse
sido uma co-produção com a Globo Filmes o valor da publicidade seria de 7 milhões de
reais (BUTCHER, 2006).
Outra ação produzida pela TV Globo para o mesmo filme foi uma aparição surpresa da dupla
Zezé Di Camargo e Luciano em uma sessão normal de Dois filhos de Francisco em um
cinema paulista. Uma câmera capaz de captar imagens no escuro mostrou a reação
emocionada da platéia durante a projeção e, quando as luzes se acenderam, Zezé Di Camargo
e Luciano entraram cantando na sala de cinema, para comoção dos espectadores. A
“reportagem” sobre a sessão foi ao ar no Fantástico (BUTCHER, 2006).
A divulgação de Dois filhos de Francisco teve início quase um ano antes de lançamento,
com a apresentação de trailers durante os shows da dupla pelo Brasil. Outra forma foi a
criação do site www.amordepai.com.br no qual o público que se cadastrava recebia por
email pequenos trechos do filme, informações e novidades sobre o lançamento.
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Silveira) e os atores não faziam parte do "star system" nacional.
Todos esses elementos que poderiam ter sido empecilhos para o filme na verdade
funcionaram como atração de um público diferenciado, e não apenas o público-alvo
primário (fãns da dupla sertaneja). Esse trabalho de formação de um público-alvo mais
amplo teve início desde o desenvolvimento do projeto, na concepção da narrativa do filme
e no plano de negócios. No final, as ações de divulgação surtiram o efeito esperado,
levando 5,3 milhões de espectadores ao cinema em 18 semanas de exibição e renda de 36
milhões de reais – a maior da história do cinema brasileiro. (CHALUPE, 2010).
3. CONCLUSÕES
O objetivo deste trabalho foi fazer uma abordagem acadêmica em relação ao gerenciamento
de projetos dentro da indústria cinematográfica e entender se o gerente de um filme (definido
aqui como o produtor executivo) utiliza em seu trabalho, de forma consciente ou inconsciente,
as melhores práticas de gestão sugeridas pelo PMBOK.
Um filme não pode ser pensado em blocos separados que não conversam entre si, mas como
uma série de etapas em que toda a cadeia dialoga constantemente. Se uma parte falhar, todo o
projeto fracassa: se o roteiro não estiver bem estruturado, o filme não terá um enredo
envolvente; se o diretor de fotografia errar a mão, a imagem visual pode causar o fracasso do
filme; se o gerente de produção não tiver as contas sob controle, a produtora pode ficar sem
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verba para pagar as diárias de produção; se o compositor não entregou a trilha sonora, os
produtores terão de comprar música e isso pode estourar o orçamento; se o ator principal tiver
um problema de saúde, o filme fica sem sua estrela.
Neste sentido pode-se concluir que as ferramentas e técnicas de gerenciamento sugeridas pelo
PMBOK são usadas constantemente em projetos audiovisuais. Elas ajudam efetivamente na
gestão dos processos cinematográficos como um todo, e em todas suas etapas. Também fica
evidente pela dinâmica desse mercado que o processo de gerenciamento de produção fílmica é
extremamente individual. Cada produtor executivo trabalha de uma forma bastante particular
para alcançar o sucesso de um projeto, não há um manual de "como se fazer um filme".
Conclui-se ainda que, para ter mais chances de êxito, esse profissional precisa ter
conhecimentos razoáveis de gestão de projetos, uma vasta experiência no cinema (e de
preferência também em outras áreas), capacidade de liderança, conhecimentos
administrativos, técnicos, artísticos e ser extremamente organizado e equilibrado.
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Outra questão a ser levada em conta é que o produtor executivo tem de lidar tanto com a parte
comercial quanto com a parte criativa de um projeto. Em outras indústrias isso seria
considerado um paradoxo capaz de levar o projeto ao fracasso; mas, no mercado de filmes,
trata-se de uma condição sine qua non para que ele tenha êxito. Essas diferenças fazem com
que o uso das ferramentas e de gerenciamento sejam basicamente as mesmas adotadas por
profissionais de outras indústrias, mas a aplicação delas no mundo do show business é feita de
forma particular à dinâmica dessa indústria.
Podemos concluir ainda que o produtor executivo deve ter uma visão comercial do projeto,
não apenas artística. Ter uma mentalidade empreendedora e visão de negócios vai ajudá-lo a
tomar decisões melhores. Mesmo em um mercado praticamente 100% subsidiado com
dinheiro público, como o brasileiro, ele deve saber criar um plano de negócios para um filme,
ser capaz de organizar um projeto alinhado com as necessidades do mercado e saber vendê-lo.
Mesmo que seja muito difícil conseguir financiamento privado no Brasil, o mercado está
mudando rápida e radicalmente, por isso é importante ter essa visão empreendedora - isso se
ele quiser ter sua própria empresa e tocar seus projetos de forma independente. Encontrar uma
ideia original, organizar um plano de negócios, conseguir financiamento, executar a obra com
toda sua complexidade e transformar aquela ideia inicial em um produto que vai gerar
dinheiro não é uma tarefa fácil para a realidade brasileira. Mas está longe de ser impossível.
4. POSSÍVEIS DESDOBRAMENTOS
Por último, e não menos importante, os estudos citados como referência neste trabalho
também contêm informações que podem ser úteis para os produtores brasileiros. Apesar de
terem sido realizados nos Estados Unidos, uma indústria incomparavelmente mais madura do
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que a brasileira, podemos concluir que a "qualidade" do filme e a percepção dessa qualidade
por parte do público são fatores que aumentam consideravelmente as chances de retorno
financeiro. Por qualidade entenda-se não apenas a técnica, imagens, som, atuações excelentes
e direção incrível, mas sobretudo histórias de interesse humano, que tenham a ver com o
momento do país (ou do mundo, que é o padrão que os norte-americanos buscam para vender
seus produtos) e, portanto, mais fáceis de serem vendidas para o grande público.
Apesar de parecer algo óbvio, uma análise dos filmes do mercado brasileiro nos últimos anos
e as entrevistas com os produtores locais deixam explícito que a mentalidade do "filme
autoral" e subsidiado com dinheiro público ainda é muito forte no Brasil. Mudar essa
mentalidade, portanto, é o grande desafio dos novos produtores independentes brasileiros nos
próximos anos - e ter conhecimento das melhores práticas e ferramentas de gerenciamento de
projetos poderá ajudá-los nesse objetivo.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FONTES DIGITAIS
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(1999) and The Devil Inside (2012). Acesso em 01/08/2015.
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Transmedia.pdf
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Reduce the Terror of the Box Office? Acesso em 23/06/2015.
http://people.stern.nyu.edu/wgreene/entertainmentandmedia/Devany%26Walls.pdf
WALSH, Gianfranco. Determinants of Motion Picture Box Office and Profitability. Acesso
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http://www.marketingcenter.de/lmm/research/publications/download/I21_Hennig-
Thurau_Houston_Walsh_RMS_2007.pdf
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Management. Acesso em 09/11/2015.
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CUSHMAN, Mike. The virtual organisation - Lessons from the film industry. Acesso em
02/08/2015.
http://www.lse.ac.uk/management/documents/research/is-working-papers/ISIG-WP-72.PDF
GASPARIN, Gabriela. Planejado contra hiperinflação, plano Collor deu início à aberuta
comercial. Acesso em 22/07/2015.
http://g1.globo.com/economia/noticia/2012/09/planejado-contra-hiperinflacao-plano-collor-
deu-inicio-abertura-comercial.html
ENTREVISTADOS
BIOGRAFIA
Pablo López Guelli trabalhou como jornalista durante 15 anos em empresas como TV Globo, G1,
jornais Folha e Estado de São Paulo, Terra Networks, Editora Abril, TV NHK (Japan Broadcasting
Corporation), MediaPro (Espanha) e foi correspondente na Europa pela rádio CBN e Globo News.
Formado em Comunicação Social (PUC/SP) e Relações Internacionais (Ortega y Gasset/Madri),
possui pós-graduação em "Roteiro de Cinema" e outra em "Documentário para TV", ambas na
Espanha, e um MBA em "Gestão Estratégica de Projetos" pela FGV/SP.
Em 2011 fundou a Arte Bruta Filmes, onde durante 5 anos foi o principal responsável pela produtora,
coordenando todos os trabalhos da empresa. Em 2012 produziu e dirigiu o documentário "Un instante
en nuestras vidas", que ganhou o Prêmio Castilla y León, na Espanha, de melhor filme sobre a
imigração espanhola na América Latina.
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