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RESUMO
0 objetivo deste texto é o de estimular a reflexão e a discussão por lideranças e militantes sindicais
atuando no campo da saúde e trabalho, sobre as possibilidades de uso, pelo movimento sindical,
de método de investigação de acidentes do trabalho desenvolvido na década de 70 por
pesquisadores do Institut National de Recherche et Sécurité - INRS, França, conhecido como
Método de Arvore de Causas – ADC (5,20, 24).
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do sistema sócio-técnico aberto constituído pela empresa. Pode-se dizer que se trata ainda de
método clínico de investigação, implicando em pesquisa minuciosa dos fatores relacionados com a
ocorrência de cada acidente, denominados fatores de acidentes ou fatos e identificados
retrospectivamente, a partir da lesão. É considerado método que explora exemplarmente aspectos
envolvidos na ocorrência dos acidentes, particularmente os relativos à organização do trabalho.
0 método parte do pressuposto que, para ocorrer um acidente, alguma coisa variou em relaçã
forma habitual de realização do trabalho. Este é um conceito, o de variação, que constitui um de
seus fundamentos sendo que, em oposição a ele, é utilizado o conceito de fator habitual (ou
antecedente permanente) para designar fatos ou fatores de acidente presentes na situaçã
habitual de trabalho, isto é, sem ocorrência de acidente.
Na fase de coleta de dados, o método requer que sejam registrados apenas fatos objetivos,
passíveis de observação, sendo vedada a emissão de juízos de valor e a realização de
interpretações. Uma vez obtida a descrição de como o acidente aconteceu, da forma mais objetiva
possível, os fatos ou fatores de acidente são reelaborados sob forma de frases curtas, claras e
precisas, de modo que cada frase corresponda a apenas um fato ou fator de acidente. Cada um
dos fatos assim preparado é classificado em variação ou fato habitual e de acordo com o
componente da atividade em que se enquadre: indivíduo, tarefa, material ou meio de trabalho.
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Terminada essa primeira etapa, a árvore deve ser elaborada o mais precocemente possível,
recomendando-se que essa elaboração seja coletiva, com participação das pessoas direta ou
indiretamente envolvidas no acidente. Nessa fase, é imprescindível a identificação das relaçõ
lógicas existentes entre os fatos ou fatores de acidente pois a árvore, na verdade, constitui um
diagrama de causalidade, cabendo destacar a importância da diferenciação entre relações lógicas
e relações cronológicas. Elaborada a árvore, ela é então lida e interpretada, visando a
compreensão mais abrangente possível de como o acidente aconteceu.
Cabe salientar que a árvore de causas propicia a visualização de vários fatores implicados na
ocorrência do acidente, facilitando sua compreensão e mostrando de forma pedagógica tratar
de fenômeno pluricausal e, freqüentemente, bastante complexo. A árvore, por sua representaçã
gráfica de fácil apreensão e, sobretudo, por conter apenas fatos desprovidos de emissão de juízos
de valor e de interpretações, facilita também a comunicação e o diálogo entre os diferentes
interlocutores durante a discussão do acidente (19, 20).
Uma vantagem importante do método ADC reside na não exigência de conhecimento a priori do
processo de produção e de trabalho por parte do investigador, desde que esse disponha de
interlocutor capaz de fornecer as informações que vier a solicitar no decorrer da investigação do
acidente.
Como aspectos menos favoráveis, cabe mencionar que o método é apenas aparentemente fácil de
ser aplicado, exigindo domínio da linguagem, treinamento e reciclagens periódicas para sua
adequada utilização. Além disso devido à necessidade de descrever minuciosamente como foi o
desenrolar dos acontecimentos que culminaram com o acidente, de identificar, elaborar,
classificar e organizar os fatores de acidente, construir a árvore etc., consome tempo considerável,
não tendo sentido sua aplicação indiscriminada (5).
As condições gerais de segurança do trabalho podem ser conhecidas através de dados sobre a
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ocorrência e distribuição dos acidentes do trabalho, gravidade das lesões deles decorrentes, tipos
de acidentes mais freqüentes, tipos de acidentes que, com maior freqüência provocam lesõ
graves, etc. Estudos baseados em dados quantitativos (taxas de freqüência e de gravidade, número
de incapacitações permanentes - parciais e totais - numero de óbitos, custos econômicos e
financeiros dos acidentes, etc.) sem dúvida são importantes para definições de prioridades em
termos de prevenção.
Assim. por exemplo, a análise de acidentes graves e fatais revela que, em sua maioria, s
acidentes ou que ocorrem no trânsito, envolvendo veículos ou na construção civil envolvendo
quedas em altura e soterramentos. Estudos recentes mostram a violência urbana como fator
causal não negligenciável de acidentes de trabalho graves e fatais ocorridos no espaço da rua
acidentes de trajeto (17). No caso de amputações de dedos e mãos, estamos diante de acidentes que
majoritariamente envolvem máquinas com zonas de operação abertas e, ou partes móveis
desprotegidas (1, 29).
Um aspecto importante a ser considerado ao se pensar a questão da prevenção dos acidentes diz
respeito às concepções desse fenômeno que a experiência quotidiana ainda nos tem revelado.
Entre trabalhadores, militantes e dirigentes sindicais, membros de comissões internas de
prevenção de acidentes - CIPA, técnicos de segurança, diretores de empresa, enfim, entre
profissionais com formações as mais variadas, constata-se ainda a persistência da concepçã
fatalista acerca dos acidentes do trabalho que, atribuídos ao azar, ao destino, à vontade de Deus
são, a partir dessa ótica, inevitáveis!
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Para ilustrar a difusão desta concepção, tome-se, como exemplo, um acidente domiciliar banal
que ocorre quando uma criança, ao pegar uma garrafa de vidro com água na geladeira, deixa
escapar de suas mãos, o que faz com que se espatife no chão. Nessas circunstâncias o que costuma
ocorrer é a criança ser advertida, algumas vezes aos berros, por sua falta de cuidado ou por seu
comportamento desastrado, aceitando-se, sem questionar, o fato da segurança depender
exclusivamente de seu comportamento, passando ao largo do fato de estar sendo utilizado
recipiente de vidro, acessível a mãos infantis, para água na geladeira! Isto significa a aceitaçã
tácita de situações extremamente frágeis do ponto de vista da segurança, no caso, doméstica.
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Inicialmente, cabe dizer que, na França, onde o método ADC foi desenvolvido, organizaçõ
sindicais de trabalhadores tem contribuído para sua difusão como instrumento útil na luta contra
os acidentes do trabalho 13, 14, 16).
Sem dúvida, uma forte razão para aplicação do método ADC por profissionais do movimento
sindical decorre de suas potencialidades enquanto ferramenta capaz de auxiliar a superação da
cultura da culpa.
A árvore de um acidente, na qual vários fatores estão inseridos de forma articulada e lógica,
constitui instrumento pedagógico que permite demonstrar com facilidade a natureza pluricausal e
a complexidade dos acidentes, facilitando a interlocução entre os vários envolvidos na análise e,
mais uma vez, dificultando culpar o acidentado.
Na medida em que a árvore permite desnudar fatores, ainda que remotos em relação à lesão, mas
nem por isso menos importantes na produção do acidente, mostrando simultaneamente como eles
se relacionam entre si, contribui para a compreensão do fenômeno de forma abrangente com
conseqüências positivas em termos de prevenção.
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Embora inicialmente o método pareça simples, na verdade sua aplicação exige domínio de
linguagem suficiente para que o acidente seja descrito de forma precisa e clara, que os fatos sejam
elaborados sob forma de frases curtas, etc. Sobretudo é imprescindível o conhecimento de seus
conceitos fundamentais, o respeito aos seus princípios e regras, de modo que, sendo aplicado
corretamente, seja possível atingir o objetivo de esclarecer como o acidente ocorreu, superando o
vício de procurar culpados, o que em nada contribui para a prevenção.
As dificuldades expostas acima tem sido chamadas de dificuldades intrínsecas do método e est
relacionadas ao domínio do mesmo. No Brasil, cabe acrescentar ainda sua pouca difusão atrav
de textos em português e que o abordem com a necessária profundidade. As publicações originais,
em francês, com o decorrer do tempo foram sendo objeto de aperfeiçoamentos que permaneceram
esparsos em varias publicações de difícil acesso. Isso certamente acabou contribuindo para o
abandono, entre nós, de princípios fundamentais do método, revelado pela análise de algumas
publicações (15, 18).
Nossa experiência mostrou que, quando se inicia o uso do método, nem sempre é fácil evitar erros
na identificação do que é fato, julgamento ou interpretação e, caso não seja dada a devida atençã
para esse aspecto, corre-se o risco de incorrer em falha grave. É preciso estar sempre atento para
não elaborar árvore de culpados, expressão cunhada, já alguns anos, por pesquisador do INRS.
Outra dificuldade também detectada - e sofrida por nos no início - diz respeito ao estabelecimento
de relações entre fatos ou fatores de acidente, com ocorrência de confusões freqüentes entre
relações lógicas e relações cronológicas. Na aplicação do método, quando da elaboração da árvore,
tem grande importância o estabelecimento das relações lógicas.
Em algumas ocasiões tem sido difícil a obtenção de consenso sobre os fatos ocorridos. Nessas
situações, se não conseguirmos por meio de estudo do processo de trabalho ou da técnica utilizada
ou por meio de obtenção de novas entrevistas, obter informações esclarecedoras, temos optado
pelas informações fornecidas pelo acidentado.
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propunham a utilizá-la. Apesar da aparente adoção do método por algumas empresas francesas,
com elaboração árvores de causas tecnicamente corretas, estas não apresentavam melhorias ou
progressos quanto à segurança do trabalho.
Analisando a implantação do método ADC em duas grandes empresas francesas, Pham (26)
observou que aquela que havia estabelecido previamente os objetivos dessa implantação, os
recursos a serem utilizados e o tempo a ser dedicado às analises dos acidentes, ou seja, a empresa
na qual a implantação do método ADC era parte da estratégia global de segurança do trabalho,
obteve melhores resultados.
Em estudo sobre a implantação do método em usina atômica francesa (9) foi observada a
existência de freios e autocensura na investigação dos acidentes. Entre as causas apontadas para
tal fato, destacaram-se: a) o temor de fazer emergir o papel real de superiores hierárquicos na
origem dos acidentes e as possíveis sanções daí decorrentes; b) a ausência de autoridade, da área
de segurança. para agir em relação aos antecedentes mais distantes da lesão; c) a prática de
restringir as investigações aos limites alcançados pela função da segurança, delimitando a
dimensão da investigação. Estas três condições, intimamente relacionadas, põem em relevo as
influências que as relações de poder no interior da empresa podem ter em relação às práticas de
investigação de acidentes, mesmo quando a iniciativa de implantação do método foi decisão da
própria empresa.
Em nossa opinião, isso se deve, em parte, ao fato de aplicarmos o método para investigação de
acidentes em cuja gênese encontram-se, particularmente, fatores relacionados a aspectos da
organização do trabalho, não contemplados nas Normas Regulamentadoras – NR.
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Infelizmente não são conhecidos relatos de experiências sindicais de utilização do método, apesar
da existência de iniciativas de sindicatos em sua difusão (10, 31). Também não existem relatos de
avaliações de desempenho na aplicação do método por parte de profissionais treinados em cursos
patrocinados pelo movimento sindical, bem como acerca de resultados do uso do método em
termos de mudanças nas práticas sindicais frente aos acidentes de trabalho ou de conquistas de
melhorias de condições de segurança do trabalho.
Do nosso ponto de vista, dentre os objetivos de utilização do método ADC pelo movimento sindical
está o de analisar os acidentes de trabalho de modo a evidenciar sua pluricausalidade e
complexidade, possibilitando contraposição à cultura da culpa, a sensibilização de trabalhadores e
de diretores de empresas, de modo a contribuir para a prevenção desses fenômenos sabidamente
previsíveis e preveníveis.
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medidas de prevenção.
Enfim. deve-se ter sempre em mente a necessidade de que os meios necessários sejam colocados
disposição dos investigadores para que possam, se necessário, afastar-se da empresa, visitar o
acidentado em sua residência, utilizar assessorias, ter acesso a profissionais de diferentes escalõ
hierárquicos da empresa, e tudo o mais que for julgado importante para a realização de uma boa
investigação.
Simard (30), para quem a prevenção apresenta inegáveis vantagens econômicas, questiona o fato
de poucas empresas assumirem plenamente a gestão de riscos, mesmo considerando os ganhos em
termos de produtividade e sua opinião é que as empresas não operam segundo modelo de pura
racionalidade econômica mas, sobretudo, em função do estado das relações sociais e da evoluçã
cultural da sociedade. Este autor acrescenta que a prevenção ainda não existe como um
movimento social e. nos domínios do trabalho, sua existência encontra fortes resistências por
questionar interesses estabelecidos, notadamente aqueles dos engenheiros de produção admitir a
imperfeição da organização sócio- técnica do trabalho por eles concebido.
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Será que este nível de aprofundamento nas investigações deve existir apenas em casos de
catástrofes!
Antes de finalizar cabe assinalar que o método ADC é um dos, não o método de investigação de
acidentes. Não tem indicação para investigar todo e qualquer acidente. Por sua complexidade,
necessidade de profissional treinado, e dispêndio de tempo não tem indicação de utilização em
situações de perigo evidente como já comentado anteriormente. Tais situações, geralmente podem
ser identificadas através de inspeções, com descrições de como o acidente aconteceu.
0 método ADC constitui ferramenta que deve ser utilizada no âmbito de uma política de saúde do
trabalhador global do movimento sindical. Em nossa opinião, a adoção desse método como
medida isolada, provavelmente apresentará resultados pouco expressivos.
Os acidentes do trabalho, entretanto, apresentam uma dimensão que não pode ser esquecida que
a da violência e da negação de direitos de cidadania. Os acidentes envolvem aspectos técnicos.
abordáveis por métodos de investigação dentre os quais se situa o ora exposto e analisado. Mas,
sobretudo, os acidentes envolvem aspectos jurídicos e sociais. Sua ocorrência denuncia a violência
a que os trabalhadores estão submetidos nos locais de trabalho, indicando que, nesses espaços, a
condição de cidadania. de usufruto de direitos sociais e individuais previstos em lei, ainda não est
sendo respeitada. Autores que estudam o acidente como forma de violência (8, 12) lembram que,
lutar contra as causas dos acidentes, e lutar pelo controle do planejamento e organização do
trabalho, o que inclui melhorias de condições de higiene e segurança.
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