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ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE

COOPERAÇÃO TÉCNICA ENTRE


BRASIL, BOLÍVIA E COLÔMBIA:
Teoria e Prática para o Fortalecimento
da Vigilância em Saúde de Populações
Expostas a Mercúrio

Brasília/DF - 2011
Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS)
Organização Mundial da Saúde (OMS)

COOPERAÇÃO TÉCNICA ENTRE


BRASIL, BOLÍVIA E COLÔMBIA:
Teoria e Prática para o Fortalecimento
da Vigilância em Saúde de Populações
Expostas ao Mercúrio

Brasília – DF
2011
© 2011 Organização Pan-Americana da Saúde

Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total dessa obra, desde de que citada a fonte e
que não seja para qualquer fim comercial.
A responsabilidade pelos direitos autorais de textos e imagens desta obra é da área técnica.

Tiragem: 1ª edição – 2011 – 300 exemplares

Elaboração, edição e distribuição


Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS)
Setor de Embaixadas Norte - Lote 19
Brasília-DF - CEP: 70800-400

Produção editorial
Capa, projeto gráfico, diagramação e revisão: All Type Assessoria Editorial Ltda.

Impresso no Brasil/Printed in Brazil

Ficha Catalográfica

Organização Pan-Americana da Saúde

Cooperação Técnica entre Brasil, Bolívia e Colômbia: Teoria e Prática para o Fortalecimento
da Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Mercúrio. Brasília: Organização Pan-Ameri-
cana da Saúde, 2011.

101 p.:...
ISBN 978-92-75-71658-8

1.Vigilância em Saúde – 2. Mercúrio – 3. Exposição Humana – 4. Cooperação Técnica. I. Or-


ganização Pan-Americana da Saúde

Cooperação técnica entre Brasil, Bolívia e Colômbia para o fortalecimento


da vigilância em saúde de populações expostas a mercúrio.

Títulos para indexação:


Em espanhol: Cooperación técnica entre Brasil, Bolivia y Colombia: teoría y práctica para el fortalecimiento de la
vigilancia de salud de Poblaciones expuestas a mercurio
SUMÁRIO

5 Apresentação

7 Capítulo 1: O Mercúrio

15 Capítulo 2: Toxodinâmica e Toxocinética

21 Capítulo 3: Efeitos Tóxicos do Mercúrio

29 Capítulo 4: Valores de Referência

41 Capítulo 5: Biomarcadores de Exposição ao Mercúrio

49 Capítulo 6: Metodologias de Análises de Mercúrio

63 Capítulo 7: Grupos de Populações Expostas a Mercúrio

71 Capítulo 8: Sistemas de Informação para Notificação de


Intoxicação e Exposição Humana a Substâncias Químicas

85 Capítulo 9: Critérios para o Diagnóstico das Intoxicações por


Mercúrio em Populações Expostas

97 Resumo da Cooperação Técnica e Recomendações




Agradecimentos

A todos os integrantes da Cooperação técnica entre Brasil, Bolívia e Colômbia para


o fortalecimento da vigilância em saúde de populações expostas a mercúrio, autores e
colaboradores convidados, instituições de ensino e pesquisa, instituições e setores de
governo que de alguma forma contribuíram para a realização desta cooperação técnica.

Ministros de Saúde
• Dr. Alexandre Padilha – Ministro de Estado da Saúde do Brasil
• Dra. Nila Heredia – Ministra de Saúde e Esportes da Bolívia
• Dr. Mauricio Santamaría – Ministro de Saúde e Proteção Sócial da Colômbia

Representantes da OPAS/OMS
• Engenheiro Diego Victoria – Representante OPAS/OMS no Brasil
• Dra. Ana Cristina Nogueira Representante OPAS/OMS na Colômbia
• Dr. Michel Theran. – Representante OPAS/OMS na Bolívia

Autores e Colaboradores
• Agnes Soares da Silva – OPS/OMS em Washington
• Alexandre Pessoa – Ambios Engenharia e Processos
• Alysson Feliciano Lemos – OPAS/OMS no Brasil
• Andrea P. Soler – Ministério da Proteção Social da Colômbia
• Arturo Diaz Gomes – Ministério da Proteção Social da Colômbia
• Ary Carvalho de Miranda – Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ
• Cássia de Fátima Rangel Fernandes – Ministério da Saúde do Brasil
• Casto Villarroel – Ministério de Saúde e Deportes da Bolívia
• Daniela Buosi Rohlfs – Ministério da Saúde do Brasil
• Danna Lara Holguin – Consultora Externa OPAS/OMS na Bolívia
• Diego González – OPAS/OMS no México
• Elisabeth Santos – Instituto Evandro Chagas – IEC/SVS
• Fernando Lugris – Presidente da Comissão Internacional de Mercúrio/PNUMA
• Guilherme Franco Netto – Ministério da Saúde do Brasil
• Heloisa Pacheco Ferreira – Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ
• Hirokatsu Akagi – Instituto Minamata
• Iracina Maura de Jesus – Instituto Evandro Chagas do Brasil – IEC/SVS
• Jaime Chincheros – Laboratorio de Calidad Ambiental de la Universidad Mayor de San Andrés, Bolivia
• Janaina Sallas – Ministério da Saúde do Brasil
• Jorge Mesquita Huet Machado – Ministério da Saúde do Brasil
• Luis Francisco Sanchez – Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA)
• Marcela Eugenia Varona – Instituto Nacional de Saúde (INS) da Colômbia
• Marcelo Oliveira Lima – Instituto Evandro Chagas – IEC/SVS
• Maria Paula do Amaral Zaitune – Ministério da Saúde do Brasil
• Marina Moreira Freire – Ministério da Saúde do Brasil
• Max Muñoz – Instituto Nacional de Saúde Ocupacional da Bolívia
• Nicanor Jové Aparicio – Ministério de Saúde e Deportes da Bolívia
• Pamela Paco – Pesquisadora Associada IRD, Bolívia
• Priscila Campos Bueno – Ministério da Saúde do Brasil
• Ricardo Torres – OPAS/OMS na Bolívia
• Ruth Marien Palma – Instituto Nacional de Saúde da Colômbia
• Susan Aparicio – Consultora Externa OPAS/OMS Bolívia
• Teofilo Monteiro – OPAS/OMS na Colômbia
• Volney Câmara Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ

4 Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS)


Cooperação Técnica entre Brasil, Bolívia e Colômbia para o Fortalecimento da
Vigilância em Saúde de Populações Expostas ao Mercúrio

Apresentação

O mercúrio é um metal que se encontra amplamente distribuído nos sistemas am-


bientais e utilizado de diversas formas pelo homem, entretanto esse metal representa
séria ameaça à saúde humana por ser altamente bioacumulativo e possuir diversos efeitos
nocivos à saúde.
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), em conjunto com
a Organização Mundial da Saúde (OMS), por meio do Comitê Intergovernamental de
Negociações sobre o mercúrio (INC), vem desde 2009 somando esforços para estabelecer
o banimento e o uso restrito do mercúrio e seus compostos entre todos os países-membros
da ONU. Dentre os diversos temas tratados no âmbito do INC, a saúde pública possui
lugar de destaque, abordando temas que vão desde a identificação de populações sob o
risco de exposição ao mercúrio até a comunicação de riscos e abordagem comunitária
para grupos de populações expostas.
Diversos países da América Latina foram e são reconhecidos mundialmente como
grandes produtores de ouro e a extração desse mineral sempre esteve atrelada ao uso
não controlado do mercúrio nos processos de mineração, acarretando sérios problemas
de contaminação ambiental e de exposição humana. A região da Amazônia ocupa lugar
de destaque nesse cenário.
Com base nesse contexto e no anseio de países como Brasil, Bolívia e Colômbia em forta-
lecerem os seus sistemas de saúde para a atuação frente a problemática da exposição humana
ao mercúrio, foi elaborado um termo de cooperação técnica organizado pela OPAS/OMS
para o fortalecimento da vigilância em saúde de populações expostas ao mercúrio. Quatro
foram as prioridades identificadas como necessárias para viabilizar o fortalecimento da
vigilância em saúde de populações expostas ao mercúrio, a saber: 1 – Vigilância em Saúde
(definição e implementação de instrumentos de notificação de casos; estabelecimentos de
sistemas de informação; percepção e comunicação de riscos). 2 – Metodologias analíticas de
quantificação de mercúrio (compartilhamento de técnicas e metodologias analíticas para
quantificação de mercúrio; controle de qualidade). 3 – Investigação e Pesquisa (Priorização
de linhas de pesquisa sobre mercúrio; Divulgação de informações). 4 – Atenção à saúde
(estabelecimentos de protocolos de diagnóstico e manejo clínico).
Fruto dessa cooperação técnica, esta publicação tem como objetivo fornecer valiosas
informações para aplicação na prática de conhecimentos sobre a identificação de grupos
sob o risco de exposição ao mercúrio, metodologias analíticas para quantificação desse
metal e notificação de casos de exposição e intoxicação nos sistemas de vigilância em
saúde dos países envolvidos.
O documento está estruturado em nove capítulos, apresentando nos capítulos iniciais
uma breve revisão sobre o mercúrio, suas características como toxodinâmica e toxocinética,
seus efeitos na saúde, principais biomarcadores de exposição utilizados para identificação
de populações expostas, seguido por uma descrição de metodologias analíticas para o

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mercúrio, em seguida o documento aborda os principais grupos de populações expostas


nos países, os procedimentos, fluxos e instrumentos utilizados para a notificação de
casos de exposição e intoxicação pelos sistemas de vigilância dos países, o documento é
finalizado com a descrição dos critérios para diagnóstico clínico de populações expostas
ao mercúrio.
Esperamos que esse documento não se converta em um referencial teórico e prático
apenas para os países participantes dessa cooperação técnica mas também para o demais
países da região, em especial aos países da região amazônica.

Engenheiro Diego Victoria


Representante da OPAS/OMS Brasil

6 Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS)


Capítulo 1: O Mercúrio
Alysson Lemos
Organização Pan-Americana da Saúde do Brasil

Franz Granados Troche


Instituto Nacional de Saúde Ocupacional INSO – Bolívia

Pamela Paco Velasco


Pesquisadora Associada IRD – Bolívia

Ruth Marien Palma Parra


Instituto Nacional de Saúde da Colômbia
Cooperação Técnica entre Brasil, Bolívia e Colômbia para o Fortalecimento da
Vigilância em Saúde de Populações Expostas ao Mercúrio

Introdução

O mercúrio é um metal que ocorre naturalmente no meio ambiente em diversas for-


mas, podendo ser organizadas em três grupos: mercúrio metálico ou mercúrio elementar,
mercúrio inorgânico e mercúrio orgânico. O mercúrio metálico é um metal brilhante,
branco-prateado, que se apresenta na forma líquida à temperatura ambiente 1. É um metal
altamente denso com uma densidade de 13,521 g/mL, pouco solúvel em água, com grande
facilidade de acumulação em sedimentos de cursos d’água 2.
Compostos inorgânicos de mercúrio ocorrem quando o mercúrio combina com
elementos como cloro, enxofre, ou oxigênio. Esses compostos são também chamados
de sais de mercúrio. A maioria dos compostos inorgânicos de mercúrio são pós brancos
ou cristais, exceto para o sulfeto de mercúrio, também conhecido como cinábrio ou
cinabarita, que é vermelho ficando preto após a exposição à luz. Quando o mercúrio
combina com carbono, os compostos formados são chamados de “orgânicos”, compostos
de mercúrio ou organomercuriais. Há um número potencialmente grande de compostos
de organomercuriais, porém, o composto orgânico de mercúrio mais comum no meio
ambiente é o metilmercúrio, também conhecido como monometilmercúrio. Na Tabela
1 são apresentadas algumas informações sobre as propriedades químicas do mercúrio.

Tabela 1 Propriedades químicas do mercúrio

Nome comum Mercúrio

Símbolo químico Hg (do termo em desuso hidrargírio)


Aspecto Líquido prateado
Na natureza existe como sulfetos de mercúrio (cinábrio), de arsênico (rejalgar), ferro
Fonte natural (piritas), misto (meta-ciánabrio negro), de antimônio (estibina), também diretamente
unido a minerais de zinco, cobre, ouro e chumbo
Peso atômico 200,61 g/mol
Estado físico Líquido (a temperatura ambiente)
Aspeto (cor e odor) Prateado sem odor característico
Ponto de fusão - 38,87 °C,
Ponto de ebulição 356,9 °C
Densidade 13,52137 g/cm3 a 25 °C
0.00000277 atmosferas a 25 °C (0.000002811 bares o 0.2811 Pa)
Pressão de vapor
0.00000852 atmosferas a 40 °C (0.000008626 bares o 0.862585 Pa)

equivalente a: (a 30 ° C)
Volume específico do vapor
saturado de mercúrio
equivalente a: (a 20 ° C)

Tensão superficial 4840 µN (484 dinas/cm), 6 vezes a mais que a água


O mercúrio elementar (Hg0) é solúvel em ácidos oxidantes como o ácido nítrico
(HNO3), ácido sulfúrico concentrado (H2SO4) e agua regia (HNO3 + H2SO4). É insolúvel
Solubilidade do mercúrio em ácido clorídrico (HCl). O vapor de mercúrio é mais solúvel em plasma, sangue e
hemoglobina que em água destilada ou em solução salina isotônica. Sua meia vida
em sangue é em media de 90 dias.
Fonte: Protocolo de vigilancia y control de intoxicaciones agudas por mercurio 6

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Capítulo 1: O Mercúrio

As formas naturais de mercúrio mais comumente encontradas no meio ambiente são


o mercúrio metálico, sulfeto de mercúrio, cloreto de mercúrio e metilmercúrio. Alguns
microrganismos e processos naturais podem alterar o mercúrio no ambiente de uma forma
para outra. O composto orgânico de mercúrio mais comum que os micro-organismos e os
processos naturais podem alterar para outras formas é o metilmercúrio. O metilmercúrio
é particularmente preocupante devido a sua característica de bioacumulação em peixes
de água doce e água salgada e mamíferos marinhos a níveis muitas vezes superiores aos
níveis encontrados no ambiente. Até a década de 1970, compostos de metilmercúrio e
etilmercúrio foram utilizados para proteger semente de grãos contra o ataque de fungos.
Entretanto, uma vez que os efeitos adversos para a saúde do metilmercúrio foram conhe-
cidos, o seu uso como fungicida foi proibido 1.
As fontes antropogênicas de mercúrio contribuem significativamente para os níveis
no ambiente e incluem as operações de mineração, processos industriais, queima de com-
bustíveis fósseis, produção de cimento, incineração de produtos químicos, de serviços de
saúde e resíduos urbanos. Atualmente os níveis de mercúrio na atmosfera são entre 3 a
6 vezes superiores aos níveis anteriores à industrialização 2.
Atualmente, dentre os usos do mercúrio podemos destacar: sua utilização como ca-
talisador na produção eletrolítica do cloro e da soda cáustica na indústria cloro-álcali. É
também usado em baterias domésticas, em vários tipos de lâmpadas elétricas, incluindo
as fluorescentes e as de descarga de alta densidade, em interruptores, retificadores e ter-
mostatos elétricos, em bombas de difusão a vapor de mercúrio, manômetros, barômetros,
e outros tipos de instrumentos de pressão, medição e calibração usados em laboratórios
analíticos, de pesquisas químicas, físicas e biológicas, em tubos de raio X, válvulas de
rádio, dispositivos de navegação, em amálgamas dentários, em pigmentos, como catali-
sador em reações poliméricas, em explosivos, em medicamentos e aplicações químicas,
no tratamento de minérios de ouro e prata, e para refino de metais, na produção de ácido
acético e acetaldeído a partir do acetileno, em taxidermia, em fotografia, na pintura e na
produção de seda artificial 4.
São vários os compostos de mercúrio usados em formulações farmacêuticas (entre eles
os sais à base de nitrato, iodeto, cloreto, cianeto, sulfato, tiocianato, brometo, acetato), e
perfazem cerca de 200 produtos registrados nos EUA. São usados, principalmente, como
conservantes em soluções nasais, oftálmicas, vacinas e produtos injetáveis 4.
Na Tabela 2 são apresentadas diversas formas de mercúrio e seus respectivos usos.

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Cooperação Técnica entre Brasil, Bolívia e Colômbia para o Fortalecimento da
Vigilância em Saúde de Populações Expostas ao Mercúrio

Tabela 2 Compostos de mercúrio e seus principais usos

NOMES USOS

Mercúrio metálico ou elemental


Indústria cloro-soda
Mineração de ouro
Equipamentos elétricos (pilhas, baterias, interruptores, acumuladores)
Fabricação de máquinas e instrumentos científicos e de laboratório,
termômetros, pirômetros e higrômetros, pluviômetros
Mercúrio metálico (Hg0) Cimentos, amálgamas, usados na odontologia e demais produtos de
obturação dental
Produtos químicos para fotografia, de películas, placas sensibilizadas e
papéis fotográficos
Lâmpadas e tubos de raios ultravioleta e infra-vermelho
Lâmpadas e tubos de descarga, fluorescentes e de outros tipos
Mercúrio inorgânico ou sais de mercúrio
Sulfeto de mercúrio HgS Pintura artística, instrumental científico, aparatos elétricos, ortodontia
Pilhas e baterias elétricas
Pomadas anticépticas
Óxido mercúrio HgO Pinturas protetoras para o casco de navios
Catalisador de reações químicas
Bactericida, fungicida, pesticida (proibidos)
Pomadas anticépticas, porcelana amalgamada, eletrodos, inseticidas,
Cloreto de mercúrio HgCI (Calomelano) Bactericidas, pinturas nacaradas, fogos de artifício, purgante, diurético e
anti-helmintos
Corrosivo usado como desinfetante, curtimento de couro, conservação
Cloreto Mercúrio HgCI2
de madeira, despolarizador de baterias secas, galvanoplastia, fotografia,
(Sublimado)
catalisador de reações orgânicas, reações em química analítica
Cloro amido de mercúrio CI(NH2)Hg Indústria cosmética e farmacêutica
Mercúrio de amônio Cremes para pele
Fulminato de mercurio Hg(CON) 2 Detonador de armas, corrosivo e venenoso
Mercurocromo (Pthaleina mercuria) Tinturas anticépticas
Meraluride, mercurofilina, mercaptomerin,
Diuréticos e biocidas
P-fenol sulfonato de mercúrio
Acetato de fenilmercúrio C8H8HgO2 Biocida e fungicida (TWA 0.1 mg/m3 ACGIH 1990-1991)
Nitrato de mercúrio Hg(NO3)2 Pinturas metálicas e fábricas de chapéu
Tiocianato de mercúrio Hg(SCN)2 Intensificador em fotografia
Mercúrio orgânico
Cloreto de etilmercúrio CH3CH2HgCl. Tratamento de sementes de algodão
Metilmercúrio (CH3Hg) Fungicida no tratamento de grãos e sementes
Acetato de metilmercúrio CH3COOHgCH3 Tratamento de sementes em geral
Timerosal (COO-Na+(C6H4)(S-Hg-C2H6)) Agente bacteriostático análogo ao mertiolate
Sulfato de metilmercúrio Tratamento de sementes em geral
Acetato de amônio dimetilmercúrio Tratamento de sementes
Cloruro de metoxietilmercurio Cereais e hortaliças
Acetato metoxietilmercurio Tratamento de sementes
Citrato de etoxietilmercurio Tratamento de sementes
Acetato de fenilmercúrio Controle de pragas
Hidroxi-mercuri-clorofenol Tratamento de sementes
Fenil-mercuri-úrea Tratamento de sementes
Fenil-mercuri-trietanolamonio Pastagem
8-Hidroxiquinoleato de metilmercúrio Plantas Ornamentais
Metil-mercuri-diciandiamida Tratamento de sementes
N-Etil-mercuri-toluensulfoanilida Tratamento de sementes
Fonte: Protocolo de vigilancia y control de intoxicaciones agudas por mercurio 6

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Capítulo 1: O Mercúrio

A exposição humana ao mercúrio pode ocorrer em diversas atividades em que o


mercúrio é utilizado nos processos produtivos, ou na manipulação de produtos que
contenham mercúrio como nas fábricas de baterias, termostatos, termômetros, esfigmo-
manômetros, medidores de pressão ou outros dispositivos de medição, ou interruptores.
Trabalhadores expostos ao mercúrio são o principal foco de uma avaliação da exposição
ocupacional, no entanto, os trabalhadores podem, por vezes, trazer o mercúrio para
suas residências através de roupas e calçados contaminados. Mineradores artesanais de
ouro são geralmente os mais expostos diretamente, ou através da manipulação direta ou
através da inalação dos vapores de mercúrio gerados durante a queima do amálgama
ouro-mercúrio. No entanto, em muitos casos, a queima da amálgama é feita nas casas, ou
em outros locais próximos aos familiares e outras pessoas, expondo esses grupos a níveis
elevados de mercúrio. A inalação de vapores de mercúrio é geralmente a via de exposição
mais importante e perigosa de exposição ao mercúrio metálico de garimpeiros e suas
famílias. Isso também é válido para os negociantes de ouro e as pessoas que habitam nas
proximidades das “lojas de ouro” 5.
O mercúrio nos ecossistemas pode ser introduzido tanto de forma natural como pela
atividade humana. O principal aporte natural do mercúrio diz respeito à precipitação dos
vapores de mercúrio, erupções vulcânicas e evaporação dos corpos hídricos. As estima-
tivas recentes indicam que as emissões naturais para a atomofera são da ordem de 2.000
a 6.000 toneladas por ano 2.
Algumas fontes importantes de emissões antropogênicas de mercúrio incluem:
• Produção de energia elétrica pela queima de carvão (maior fonte de emissões
atmosféricas);
• Produção de energia a partir de outros combustíveis fósseis;
• A produção de cimento e encineração de resíduos;
• Mineração e outras atividades que envolvem a extração metalúrgica e processamen-
to de matéria mineral virgem e reciclagens, incluindo a produção de ouro, ferro e
aço, ferro manganês, zinco e outros metais não-ferrosos.
O uso industrial do mercúrio pode resultar em diversas formas de exposição humana,
incluindo, principalmente dos trabalhadores em contato direto com qualquer forma de
mercúrio em seu local de trabalho.
A exposição humana ao mercúrio pode também ocorrer em populações que residem
nas proximidades de locais de lançamento de resíduos industriais em emissões atmosfé-
ricas ou na forma de efluentes sólidos e líquidos.
A seguir são descritas algumas situações frequentes de exposição humana ao mercúrio.

Amálgamas dentárias

Por mais de um século, uma liga barata de prata, cobre, estanho e mercúrio tem sido
utilizada na prática odontológica como o material preferencial para a obturação de den-
tes, estima-se que metade desse material é composto por mercúrio. O mercúrio liberado

12 Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS)


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Vigilância em Saúde de Populações Expostas ao Mercúrio

a partir das amálgamas pode assumir várias formas: vapor de mercúrio elementar, íons
metálicos e/ou partículas finas.
Amálgamas dentárias são a principal fonte de exposição ao mercúrio inorgânico para
a maioria das pessoas que tem mercúrio em obturações dentárias. Além disso, muitos tra-
balhadores em consultórios odontológicos são expostos ao mercúrio, através da produção
e utilização do mercúrio em obturações. Há evidências claras na literatura científica de
elevada carga corporal de mercúrio em dentistas e higienistas dentais 5.

Desmatamento

Os impactos do desmatamento em grande escala sobre os ecossistemas são numero-


sos. Em ambientes tropicais, a camada orgânica dos solos, naturalmente mantidos por
raízes de árvores, pode ser erodido durante o período das chuvas e esse processo erosivo
é potencializado pelo desmatamento e retirada da cobertura natural do solo. O mercúrio
acumulado nesses solos devido à deposição atmosférica também é liberado para rios e
lagos. Por exemplo, estudos na Amazônia brasileira identificaram situações de elevada
exposição de mercúrio através do consumo de peixes para algumas populações que vivem
em regiões sem contato algum com áreas de mineração de ouro na bacia hidrográfica
do Rio Tapajós 5.
Árvores e a vegetação em geral absorvem o mercúrio da atmosfera ao longo do tem-
po. As queimadas são em diversas regiões do planeta um dos métodos mais antigos de
desmatamento, sendo utilizado também no controle de pragas agrícolas. As queimadas
florestais mobilizam o mercúrio presente na biomassa e disponibiliza-o novamente na
atmosfera como vapor ou ligado a partículas. Atualmente, com a alta taxa de desmata-
mento pelo fogo nos países em desenvolvimento, as emissões de mercúrio provenientes
da queima de derivados de madeira são significativas 6.
A quantidade de mercúrio emitido anualmente pelo desmatamento na Amazônia
tem sido estimado em 0,78 kg/km² e 1,76 kg/km². As estimativas dependem da biomassa
da vegetação, a área queimada, níveis de mercúrio nas plantas e matéria orgânica (entre
0,02-0,3 mg/kg). Independentemente das diferenças nas estimativas de emissão, as quei-
madas assumem indiscutivelmente um importante papel nas emissões de mercúrio na
região Amazônica 5.
Nesse cenário, as populações que consomem peixes de corpos d’água impactados
pela contaminação de mercúrio ocasionada pelo desmatamento podem estar em risco
de maior exposição ao mercúrio. Por isso, essas populações poderiam ser identificadas
como prioritárias para avaliações aprofundadas.

Represamento de cursos d’água

A maioria dos estudos sobre os impactos ambientais oriundos da inundação em


reservatórios mostram o incremento dos níveis de mercúrio em peixes desses reserva-

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) 13


Capítulo 1: O Mercúrio

tório. Em muitos casos, esses aumentos resultam em níveis de mercúrio no pescado que
pode ser perigoso para regular o consumo humano. A criação de reservatórios favorece
a reciclagem da carga de mercúrio acumulado por anos no solo antes da inundação,
atuando também como eficiente “incubadora” para metilação do mercúrio. Populações
que consomem frequentemente pescado de reservatório e represas podem expostas a
níveis elevados de mercúrio e, portanto, poderiam ser identificadas como prioritárias
para avaliações aprofundadas 5.

Referências
1 U.S. Department of Health and Human Services. Public Health Service, Agency for Toxic
Substances and Disease Registry (ATSDR). Toxicological Profile for Mercury, marzo de 1999.
Disponível em: http://www.atsdr.cdc.gov/toxprofiles/tp46.pdf (Consultado em 18 de março de
2011).
2 Programa de desarrollo sostenible de la región de La Mojana, Colombia. Relatório Final de
Consultaria. Jesús Tadeo Olivero. Toxicología Ambiental. Organización de las Naciones Unidas
para la Agricultura y la Alimentación. Bogotá, 22 de outubro de 2002.
3 World Health Organization (WHO). Concise International Chemical Assessment Document
(CICAD) 50. Elemental Mercury and inorganic Inorganic Mercury compounds: human health
aspects. 2003. Geneva: World Health Organization.Ginebra.
4 Hacon S, Azedo F. Plano de ação regional para prevenção e controle da contaminação por
mercúrio nos ecossistemas amazônicos 2006.
5 Guidance for identifying populations at risk from mercury exposure. WHO y UNEP, 2008.
6 Instituto Nacional de Salud (Colombia). Protocolo de vigilancia y control de intoxicaciones
agudas por mercurio. Documento em revisão; 2011.

14 Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS)


Capítulo 2: Toxodinâmica e
Toxocinética
Alysson Lemos
Organização Pan-Americana da Saúde do Brasil

Andrea Patricia Soler


Ministério da Proteção Social da Colômbia

Max Muñoz Moreno


Instituto Nacional de Saúde Ocupacional INSO – Bolívia
Cooperação Técnica entre Brasil, Bolívia e Colômbia para o Fortalecimento da
Vigilância em Saúde de Populações Expostas ao Mercúrio

Toxicocinética do Mercúrio

Absorção, distribuição e eliminação

O mercúrio não possui nenhuma função fisiológica benéfica para o organismo humano.
Em qualquer uma das formas que se apresenta é tóxico para os seres vivos e para o meio
ambiente. Dependendo da forma físico-química em que se apresenta, o mercúrio possui
distintos processos cinéticos e efeitos tóxicos 1.

Mercúrio metálico

A absorção dessa forma de mercúrio se efetua principalmente através da inalação de


seus vapores. Quando se apresenta na forma líquida, pode ser absorvido pela pele, ainda
que não se saiba em qual proporção. Nessa forma, não sofre absorção significativa pelo
trato digestivo. Em caso de administração endovenosa, pode-se observar, de imediato,
embolia pulmonar, sem que haja ainda efeitos sistêmicos 2.
Uma vez inalado, os vapores são absorvidos em sua maior parte (80%) e daí se dis-
tribuem para o sangue, acumulando em altas concentrações no cérebro e nos rins. O
mercúrio se acumula também na pele, cabelo, fígado, glândulas salivares, testículos e nos
intestinos, entretanto em menor quantidade 3.
O mercúrio metálico atravessa facilmente a barreira hematoencefálica e a placenta.
Sua meia vida no organismo pode variar de poucos dias até vários meses. Os órgãos que
acumulam mercúrio por mais tempo são o cérebro, os rins e os testículos. A eliminação
do mercúrio se dá em pequena quantidade através da exalação em forma de vapores pelas
vias respiratórias. A maior quantidade é eliminada através das fezes e da urina; pequenas
quantidades são eliminadas através do suor, da saliva, das lágrimas e do cabelo. A maior
parte do mercúrio é excretado dentro de 60 dias, entretanto, uma pequena parte do mer-
cúrio acumulado no cérebro pode demorar até um ano para ser eliminado 3, 4.

Sais inorgânicos do mercúrio

Em baixas concentrações, esses compostos podem ser absorvidos pela vias gástricas.
A absorção dos compostos inorgânicos de mercúrio se dá mais frequentemente através da
via digestiva e também pela inalação. Esses compostos causam irritações graves na pele
e a absorção por essa via deve ser considerada. Depois de absorvido, os sais inorgânicos
do mercúrio passam ao sangue e se distribuem por igual entre o plasma e os eritrócitos,
se unem a proteínas plasmáticas e a grupos sulfidrilas. A distribuição se dá de forma
variável segundo a dose e o tempo de exposição. Em geral, grande parte do mercúrio
inorgânico absorvido se mantém depositado nos rins, fígado, trato intestinal, pele, baço
e nos testículos 2.

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Capítulo 2: Toxodinâmica e Toxocinética

A afinidade do mercúrio metálico e dos sais inorgânicos de mercúrio pelo rim se


deve à presença de uma proteína de baixo peso molecular – metalotioneína – que tende
a unir-se muito ativamente com o mercúrio.
Os sais inorgânicos de mercúrio praticamente não atravessam a barreira cerebral. A
eliminação desses compostos se dá principalmente através das fezes e de forma secundária
pela urina. A meia vida desses compostos é de 42 dias para 80% do que foi absorvido 2.

Compostos orgânicos de mercúrio

Esses compostos ingressam facilmente no organismo pelas vias respiratórias, digestiva


e dérmica. Os compostos orgânicos de mercúrio presentes no alimento e na água são ab-
sorvidos praticamente em sua totalidade pela via digestiva. Uma vez absorvidos, se unem
a outras substâncias orgânicas, por meio de grupos sulfidrilas, tais como aminoácidos,
peptinas, cistina e glutationa. No sangue se concentram, em grande quantidade, nos
eritrócitos (90%). Daí, passam a acumular-se no cérebro e nos demais órgãos do corpo,
mas se mantêm em elevadas concentrações no sangue 2.
No caso do metilmercúrio, quando ingerido é rapidamente absorvido pelo trato intes-
tinal (cerca de 95%), o fígado e o cérebro acumulam a maior parte do conteúdo corporal
total desse composto 2. Os compostos orgânicos de mercúrio, devido a sua lipossolubili-
dade, atravessam com facilidade as membranas biológicas, passando facilmente a barreira
hematoencefálica e a placenta. Uma parte do mercúrio, absorvido na forma de composto
orgânico, sofre processo de desmetilação, o que leva a aumento da concentração de mer-
cúrio inorgânico nos rins e fígado 1.
A eliminação dos compostos orgânicos de mercúrio se dá principalmente através das
fezes, e de forma secundária pela urina e cabelo. A excreção do metilmercúrio também
pode ocorrer pelo leite materno, porém em pequenas proporções. A meia vida de uma
população exposta a esses compostos é de 100 a 190 dias 2.
Dos compostos organomercuriais, o metilmercúrio é o que em geral recebe maior
atenção, uma vez que suas características toxicocinéticas o tornam especialmente tóxico
para o organismo humano 2.

Toxidinâmica do mercúrio

Os efeitos tóxicos do mercúrio inorgânico e orgânico são devidos a sua forma e se


unem aos constituintes orgânicos celulares ricos em grupos sulfidrilas, afetando assim
diversos sistemas metabólicos e enzimáticos da célula e suas paredes 4.
A ação tóxica do mercúrio sobre os sistemas enzimáticos é devido a precipitação de
proteínas sintetizadas pela célula, principalmente pelos neurônios e pela inibição de
grupos de várias enzimas essenciais. Na forma de íon se fixa em grupos celulares ricos
em radicais sulfidrila e altera vários sistemas metabólicos e enzimáticos da célula e sua
parede, inibe a síntese de proteínas da mitocôndria , afetando sua função energética. Nos

18 Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS)


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Vigilância em Saúde de Populações Expostas ao Mercúrio

rins diminui a atividade das fosfatases alcalinas do tubos proximais e altera o transporte
de potássio e ATP-ases na membrana. No sistema enzimático, inibe enzimas essenciais.
Por tudo isso o mercúrio pode causar lesão celular em qualquer tecido em que ocorra
acumulação em concentração suficiente 5.
Em vários órgãos, incluindo os rins, e igualmente ao cádmio, cobre e zinco, o mercúrio
induz a formação de metalotioneína, um receptor proteico de baixo peso molecular e se
une a elas, saturando seus próprios receptores. Quando ocorre o excesso de mercúrio ade-
ridos a metalotineína, pode causar alterações orgânicas no mesmo local de sua produção 5.
O metilmercúrio provoca uma diminuição dos anticorpos humoral. Tem sido obser-
vado um estímulo de resposta imunológica ocasionada por curtas exposições. Também
pode fixar-se sobre ácidos desoxirribonucleicos com desnaturalização ou ações reversí-
veis da adenina e timina, o qual poderia explicar alterações cromossômicas e anomalias
congênicas observadas durantes as intoxicações alimentares com metilmercúrio 4.

Referências
1 Repetto, M. Toxicología Avanzada. Capítulo 9: Estado Actual de la Toxicología del Mercurio.
Madrid: Ediciones Díaz de Santos; 1995.
2 Galvão, LA, Corey G. Mercúrio. Centro Panamericano de Ecologia Humana y Salud. Serie
Vigilancia (OPS/OMS), 1987 (7).
3 U.S. Department of Health and Human Services. Public Health Service, Agency for Toxic
Substances and Disease Registry (ATSDR). Toxicological Profile for Mercury, marzo de 1999.
(Consultado em 18 de março de 2011). Disponível em: http://www.atsdr.cdc.gov/toxprofiles/
tp46.pdf
4 Academia Nacional de Medicina. Seminario Internacional sobre clínica del mercurio.
Memorias. Antioquia, Colombia, 2003. Disponível em: http://www.anmdecolombia.net/
medicinacompletas/MEDICINA%20vol%2026%20(65)%20Junio%202004.pdf
5 Ramírez, A. Intoxicación ocupacional por mercurio. An. Fac. med. 2008; 69(1): 46-51.
(Consultado em 18 de março de 2011). Disponível em: http://www.scielo.org.pe/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S1025-55832008000100010&lng=es&nrm=iso

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) 19


Capítulo 3: Efeitos Tóxicos do
Mercúrio
Alysson Lemos
Organização Pan-Americana da Saúde do Brasil

Marcela Varona Uribe


Instituto Nacional de Saúde da Colômbia

Maria Paula do Amaral Zaitune


Ministério da Saúde do Brasil

Susan Aparicio Gutiérrez


Instituto Nacional de Saúde Ocupacional INSO – Bolívia
Cooperação Técnica entre Brasil, Bolívia e Colômbia para o Fortalecimento da
Vigilância em Saúde de Populações Expostas ao Mercúrio

Introdução

A exposição ao mercúrio e seus compostos pode causar vários danos à saúde, com
repercussões em diferentes órgãos e tecidos. Os fatores que determinam a ocorrência e
quão graves serão os efeitos na saúde decorrentes da exposição ao mercúrio incluem a
forma química que se apresenta o metal; a dose; a idade da pessoa exposta; a duração
da exposição; a via de exposição (inalação, ingestão ou absorção cutânea) e os padrões
alimentares de peixes e consumo de pescado 1.
A forma de intoxicação, aguda ou crônica, depende da intensidade e do tempo de
exposição que irão, por sua vez, determinar as alterações no organismo e na forma de
apresentação do quadro clínico. Nas agudas, a exposição se dá em um curto período de
tempo e em altas concentrações da substância, ocorrendo diminuição imediata e profunda
da função neurológica, claramente percebida, podendo levar até a morte 2.
Já nas intoxicações crônicas, as exposições repetem-se durante período prolongado
de tempo (meses, anos ou toda a vida) a baixas concentrações, ocorrendo acumulação da
substância toxica no organismo, quando houver desequilíbrio entre absorção e elimina-
ção do agente químico. Os efeitos fisiopatológicos decorrentes da exposição crônica ao
mercúrio, principalmente pela ingestão de peixes contendo metilmercúrio, apresentam-se
sutis, inespecíficos e com grande período de latência, sendo difíceis de diagnosticar na
avaliação clínica habitual, por sua caracterização subclínica 2.
Portanto, esse capítulo presta-se a mostrar os efeitos tóxicos nos diversos sistemas a fim
de contribuir na construção da história clínica do indivíduo exposto como também oti-
mizar recursos no sentido de direcionar melhor a solicitação de exames complementares.
Em geral, os alvos primários de toxicidade de mercúrio e seus compostos são o sis-
tema nervoso, os rins e o sistema cardiovascular, no entanto, outros sistemas podem ser
afetados incluindo os sistemas respiratório, gastrointestinal, hematológico, imunológico
e reprodutivo 3, 4, 5.

O mercúrio metálico ou elementar (Hg0)

A inalação é a principal via de absorção do Hg0 sendo rapidamente absorvido pelas


membranas alveolares até alcançar a circulação sanguínea e difundindo-se através da
barreira hematoencefálica 3. A exposição em curto prazo e a altas concentrações de vapor
Hg0 ocasiona efeitos respiratórios, cardiovasculares, gastrintestinais e até neurológicos,
como: falta de ar, dor torácica, tosse, náuseas, vômitos, diarreia e aumento da pressão
arterial 3, podendo desenvolver edema pulmonar, insuficiência respiratória e hemorragia
gastrintestinal 6. Outras possibilidades de sintomas podem ser visualizadas na Tabela 1.
Em caso de ingestão acidental ou voluntária de sais de mercúrio, os efeitos são relacio-
nados primeiramente ao sistema digestório, incluindo estomatite, dificuldade em ingerir
alimentos, salivação excessiva, dores abdominais, náusea, vômitos e diarreia. Podem

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) 23


Capítulo 3: Efeitos Tóxicos do Mercúrio

também ser observados danos renais, desde proteinúria, insuficiência renal por necrose
dos túbulos proximais até a falência total do órgão 1.
Nas intoxicações crônicas, o sistema nervoso é o alvo toxicologicamente mais sensível
ao Hg0 por atravessar a barreira hematoencefálica, sendo que as lesões incidem predo-
minantemente no córtex cerebral, especificamente na substância negra e nos lobos oc-
cipital e temporal. Dessa forma, os distúrbios neurológicos e comportamentais têm sido
relatados como os primeiros sinais da intoxicação que incluem: diminuição da memória
ou no desempenho de testes de função cognitiva, labilidade emocional, irritabilidade,
excitação, timidez excessiva, diminuição da autoconfiança, nervosismo, insônia; alterações
neuromusculares (fraqueza, atrofia muscular ou espasmos musculares), tremor, inicial-
mente afetando as mãos; polineuropatia (parestesia, perda sensorial de extremidades,
hiperreflexia, diminuição da velocidade de condução nervosa sensorial e motora) 3, 7, 8.
Alguns estudos sugerem que o Hg0 pode causar toxicidade reprodutiva, mas a maio-
ria deles indica que a exposição humana em longo prazo não afeta a capacidade de ter
bebês 3. Estudos com ratos sugerem que a exposição a Hg0 pode resultar em efeitos no
desenvolvimento comportamental 7.

O mercúrio inorgânico (Hg2+)

Dano aos rins é o desfecho final da exposição aos compostos de mercúrio inorgâni-
co. O efeito adverso mais comum observado com a exposição ao Hg2+ é a formação de
glomerulonefrite auto-imune 3, 7.
Não existem estudos que associam a exposição humana à Hg2+ com efeitos cancerí-
genos, mas há alguns dados que indicam que o cloreto de mercúrio pode ser um agente
mutagênico em células germinativas. Resultados positivos foram obtidos para aberrações
cromossômicas em múltiplos sistemas e as evidências sugerem que o cloreto de mercúrio
pode alcançar o tecido gonadal feminino. No entanto, danos aos rins são os mais encon-
trados 3, 7.

O metilmercúrio

O alvo crítico para toxicidade do metilmercúrio é o sistema nervoso. Como a principal


via de exposição humana é a digestiva, principalmente através do consumo de peixes e
frutos do mar que contêm o composto orgânico no tecido muscular, o mesmo é absor-
vido pelo trato gastrointestinal e atravessa prontamente a barreira hematoencefálica e
placentária, chegando ao cérebro e ao feto. As lesões ocorrem principalmente nos giros
pré e pós-central, temporal superior, na porção central do cerebelo, e gânglios da base.
Os indícios de neurotoxicidade mais comuns observados em adultos foram pareste-
sia, ataxia, alterações sensoriais, tremores, comprometimento da audição, constrição do
campo visual e dificuldade em caminhar 8, 9. Especialmente durante a gravidez, os efeitos
da exposição ao metilmercúrio são preocupantes, já que bebês podem apresentar uma

24 Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS)


Cooperação Técnica entre Brasil, Bolívia e Colômbia para o Fortalecimento da
Vigilância em Saúde de Populações Expostas ao Mercúrio

variedade de anormalidades do desenvolvimento neurológico, semelhante aos encon-


trados na paralisia cerebral, incluindo: atraso na deambulação e na comunicação verbal,
alteração do tônus muscular e dos reflexos tendinosos profundos e redução nos escores
dos testes neurológicos 3, 7, 10, 11.
Estudos em animais fornecem evidências limitadas de carcinogenicidade e outros
sugerem que a exposição ao metilmercúrio pode causar efeitos no sistema cardiovascular,
incluindo o risco elevado para infarto agudo do miocárdio e pressão arterial elevada 12, 13.

Tabela 1 Efeitos agudos e crônicos em decorrência da exposição a diferentes formas de


apresentação do mercúrio

Formas de apresentação
Tipo de exposição Efeitos para a saúde
do mercúrio

Tosse, dispneia, tontura, espasmos musculares, tremor,


hipertermia, traqueobronquite, bronquite aguda, pneumonia
Intoxicação aguda com química, insuficiência respiratória, cegueira súbita, irritabilidade,
Aguda. Caracterizada vapor de mercúrio nervosismo, delírios, alucinações, tendência suicida, ataxia,
pela aparição de efeitos disartria parestesias (mãos, pés, boca), perda da audição,
nas primeiras 24 horas da diminuição do campo visual, coma e morte.
exposição. Estomatite, gengivite, sialorreia, úlcera mucosa oral, dor
Intoxicação aguda com retroesternal, epigastralgia, disfagia, vômito, diarreia,
sais de mercúrio desidratação, choque hipovolêmico, gastrenterite aguda, queda
de dentes, insuficiência renal, anúria e morte.
Sistema nervoso: Transtornos psíquicos: irritabilidade, tristeza,
ansiedade, insônia e depressão, quadro denominado eretismo
mercurial. O sinal mais característico (senão o mais precoce) é o
tremor que pode iniciar na língua, lábios, pálpebras e dedos com
alteração na escrita, marcha, neuropatia periférica (transtornos
sensitivos nas mãos e pés) e redução do campo visual.
Digestivo. Estomatite mercurial com salivação excessiva, dor
gengival, úlceras na mucosa oral, queda prematura dos dentes,
halitose, sabor metálico. Além disso, pode apresentar náuseas,
vômitos e diarreia.
Crônica. É a exposição Ocular: Reflexo pardo na cápsula anterior do cristalino (sinal de
contínua ou repetida Akinson) e diminuição do campo visual.
Intoxicação crônica com
por tempo prolongado
vapor de mercúrio Renal: Proteinúria moderada, o que sugere a existência de
a baixas doses de um
agente. lesões glomerulares e tubulares; em ocasiões desenvolvendo-se
síndrome nefrótica.
Outras alterações. Dermatites de contato, com pápulas e
hiperqueratose observadas nos trabalhadores.
Efeitos teratogênicos, mutagênicos e cancerígenos.
Atravessam a barreira placentária e podem produzir aborto
espontâneo, natimortos e malformações congênitas, ainda
que não seja clara sua possível ação teratogênica. A Agência
Internacional para a Investigação de Câncer (IARC) não classifica
o mercúrio metálico ou seus compostos inorgânicos como
cancerígenos (classificação grupo 3 D).

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) 25


Capítulo 3: Efeitos Tóxicos do Mercúrio

Formas de apresentação
Tipo de exposição Efeitos para a saúde
do mercúrio

Efeitos no sistema nervoso central: Período prodrômico de


2 semanas a 2 meses com astenia, adinamia, apatia, medo,
depressão e deterioração intelectual. Posteriormente, há
parestesias em extremidades distais, língua e boca. Em um estado
mais avançado há ataxia, disartria, paralisia motora, diplopia,
campo visual estreito, cegueira, surdez, tremor intencional,
espasticidade, paralisia e pode sobreviver o coma ou a morte.
Crônica. É a exposição
Embriotoxicidade: Intoxicação pela exposição pré-natal:
contínua ou repetida
Intoxicação crônica por retardo no desenvolvimento motor, alteração psicológica,
por tempo prolongado
metilmercúrio incoordenação motora, ataxia, movimentos involuntários,
a baixas doses de um
paresias, paralisia muscular, perda da audição ou cegueira.
agente.
Intoxicação por exposição pós-natal: Transtornos mentais,
alterações na sensibilidade, parestesia distal em extremidades,
língua e lábios. Em casos graves se observa estreitamento do
campo visual, cegueira e alterações auditivas.
Mutagenicidade e carcinogenicidade: o metilmercúrio é um
potente agente mutagênico; alguns estudos mostram a presença
de aberrações cromossômicas com a exposição a esse composto.
Fonte: Protocolo de vigilancia y control de intoxicaciones por mercurio 14

Referências
1 Grigoletto, JC, Oliveira, AS, Munoz, SI, Alberguini, LB, Takayanagui, AM. Exposição
ocupacional por uso de mercúrio em odontologia: uma revisão bibliográfica. Ciência e Saúde
Coletiva 2008; 13(2): 533-42.
2 Pacheco-Ferreira H. Epidemiologia das substâncias químicas neurotóxicas. Em: Medronho RA,
Bloch KV, Luiz RR, Werneck GL. Epidemiologia. São Paulo: Atheneu; 2008: 577-86.
3 U.S. Department of Health and Human Services. Public Health Service, Agency for Toxic
Substances and Disease Registry (ATSDR). Toxicological Profile for Mercury, março 1999.
Atlanta, GA. (Consultado em: 10 de março de 2011). Disponível em: http://www.atsdr.cdc.gov/
toxprofiles/tp46.html.
4 United Nations Environment Programme (UNEP). Global Mercury Assessment. UNEP
Chemicals Mercury Programme. 2002. (Consultado em 10 de junho de 2011). Disponível em:
www.chem.unep.ch/mercury/Report/Final%20Assessment%20report.htm
5 United States Food and Drug Administration (US FDA). Mercury Levels in Commercial Fish
and Shellfish. 2006. (Consultado em: 10 de março de 2011). Disponível em: HYPERLINK
“http://www.cfsan.fda.gov/~frf/sea-mehg.html” www.cfsan.fda.gov/~frf/sea-mehg.html
6 Feldman, RG. Occupational & Environmental Neurotoxicology. Philadelphia: Lippincott-Raven,
1999, 500 pp.
7 U.S. Environmental Protection Agency (US EPA). Mercury Study Report to Congress, Volume
V: Health Effects of Mercury and Mercury Compounds. Washington, DC: Office of Air Quality
Planning and Standards and Office of Research and Development; 1997. EPA-452/R-97-007.
8 World Health Organization (WHO). Technical Report Series 922. Sixty-first report of the Joint
FAO/WHO Expert Committee on Food Additives (JEFCA) 2004; 133 pp.
9 Eto K, Tokunaga Y, Nagashima K, Takeuchi T. An autopsy case of Minamata disease
(Methylmercury poisoning)—Pathological viewpoints of peripheral nerves. Toxicologic
Pathology 2002; 30(6):714-22.
10 National Research Council (NRC). Toxicological Effects of Methylmercury. Washington, DC:
National Academy Press. 2000.
11 Programa de desarrollo sostenible de la región de La Mojana, Colômbia. Relatório Final de
Consultoria. Jesus Tadeo Olivero Toxicologia Ambiental. Organización de las Naciones Unidas
para la Agricultura y la Alimentación. Bogotá, 22 de outubro de 2002.

26 Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS)


Cooperação Técnica entre Brasil, Bolívia e Colômbia para o Fortalecimento da
Vigilância em Saúde de Populações Expostas ao Mercúrio

12 Virtanen JK, Voutilainen S, Rissanen TH, Mursu J, Tuomainen TP, Korhonen MJ, Valkonen VP,
Seppanen K, Laukkanen JA, Salonen JT. Mercury, fish oils, and risk of acute coronary events
and cardiovascular disease, coronary heart disease, and all-cause mortality in men in eastern
Finland. Arteriosclerosis Thrombosis Vascular Biology 2005; 25:228-33.
13 Grandjean P, Murata K, Budtz-Jørgensen E, Weihe P. Cardiac autonomic activity in
methylmercury neurotoxicity: 14-year follow-up of a Faroese birth cohort. 2004; 144(2):169-76.
14 Instituto Nacional de Salud (Colombia). Protocolo de vigilancia y control de intoxicaciones
agudas por mercurio. Documento em revisão; 2011.

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) 27


Capítulo 4: Valores de Referência
Alysson Lemos
Organização Pan-Americana da Saúde do Brasil

Andrea Patricia Soler


Ministério da Proteção Social da Colômbia

Danna Elizabeth Lara Holguín 


Consultora Externa – Organização Pan-Americana da Saúde da Bolívia

Maria Amélia Albergaria Estrela


Ministério da Saúde do Brasil

Max Muñoz Moreno


Instituto Nacional de Saúde Ocupacional INSO – Bolívia

Pamela Paco Velasco


Pesquisadora Associada IRD – Bolívia
Cooperação Técnica entre Brasil, Bolívia e Colômbia para o Fortalecimento da
Vigilância em Saúde de Populações Expostas ao Mercúrio

Introdução

Com base em avaliações de risco e outras considerações, vários países e organizações


internacionais estabeleceram níveis de ingestão diária ou semanal aceitáveis de mercúrio
ou metilmercúrio (níveis considerados seguros, sem risco apreciável à saúde), de acordo
com informações disponíveis.
O Comitê Misto FAO/OMS estabeleceu a ingestão tolerável semanal provisória
(PTWIs) parao mercúrio total de 5µg/kg de peso corporal e para metilmercúrio 1,6µg/
kg de peso corporal. A PTWI é a quantidade de uma substância que pode ser consumida
semanalmente durante uma vida inteira sem risco apreciável à saúde, usado para conta-
minantes alimentares, tais como metais com​​ propriedades cumulativas 1.
A dose de referência diária – RfD e a concentração de referência – RfC é uma esti-
mativa de uma exposição diária da população humana que é provável que seja sem risco
apreciável de efeitos deletérios não cancerosos durante toda a vida. Não é uma estimativa
direta de risco, mas sim um ponto de referência para avaliar os efeitos potenciais.
Para avaliar possíveis riscos devido à exposição de inalação, a EPA dos EUA estabe-
leceu uma concentração de referência de inalação – RfC parao mercúrio elementar de
0,3 µg/m3. Para o cloreto de mercúrio, o RfD desenvolvido pela EPA é de 0,3 µg/kg/dia e
para metilmercúrio de 0,1 µg/kg/dia, e uma concentração de referência de inalação (RfC)
parao mercúrio elementar de 0,3µg/m³de ar.
Muitos governos e organizações estimam a ingestão semanal tolerável/níveis de referên-
cia para a exposição ao metilmercúrio que não tenham efeitos adversos à saúde (Tabela 1).
A relação entre as concentrações de mercúrio encontradas no cabelo da mãe (assim como
no sangue do cordão umbilical) e as concentrações de metilmercúrio na dieta humana é
relativamente bem descrita assim, é possível estimar os níveis correspondentes de doses
de metilmercúrio na dieta humana considerados seguros.Variações entre os níveis de
referência refletem os pressupostos de risco diferentes de avaliação, conjuntos de dados, e
os fatores de incerteza empregados. Consequentemente, os níveis de referência resultantes
de metilmercúrio podem ser considerados relativamente consistentes 1.

Tabela 1 Níveis de Referência para metilmercúrio

Níveis de Referência
País / Organização (µg MeHg/Kg peso Ano
corpóreo/semana)

Canadá 1,4 1997


Japão 2,0 2005
Holanda 0,7 2000
Estados Unidos 0,7 2001
JECFA* 1,6 2003
Fonte: Guidance for Identifying Populations at Risk from Mercury Exposure 1
* Joint Expert Comittee on Food Additives

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) 31


Capítulo 4: Valores de Referência

Há uma série de incertezas em torno da determinação dos níveis de referência para


o metilmercúrio. O debate sobre quais estudos devem ser usados como base para defi-
nir um nível de segurança ainda continua entre os avaliadores de risco. Considerando
a quantidade de fatores, os níveis de referência não devem ser interpretados como um
limite de segurança entre o que é seguro e o que não é seguro. Ao contrário, há uma boa
dose de incerteza sobre o grau de risco para a saúde quando os níveis de referência são
excedidos. No entanto, pode-se dizer que qualquer risco é suscetível de aumentar com a
magnitude, frequência e duração.
O fato do consumo de peixes dominar a rota de exposição ao metilmercúrio para a
maioria das populações humanas faz muitos governos aconselharem uma mudança no
hábito alimentar (dieta) para limitar o consumo de peixe, onde os níveis de mercúrio
são elevados.
A Comissão do Codex Alimentarius adotou uma recomendação sobre os valores de
referência de metilmercúrio de 0,5 µg/Kg em peixes não-predatórios e 1,0 µg/Kg em peixes
predadores. O FDA dos EUA estabeleceu um nível de ação de 1,0 µg/Kg de metilmercúrio
em peixes e mariscos. A Comunidade Europeia permite 0,5 µg/Kg de mercúrio total nos
produtos de pesca (com algumas exceções). O Japão permite até 0,4 µg/Kg de mercúrio
total (ou 0,3 µg/Kg metilmercúrio) em peixes 2.

32 Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS)


Cooperação Técnica entre Brasil, Bolívia e Colômbia para o Fortalecimento da
Vigilância em Saúde de Populações Expostas ao Mercúrio

Limites sugeridos pela Comunidade Europeia

Na Tabela 2 são apresentados valores para exposição ocupacional e limites de mercúrio


em diversos compartimentos ambientais para alguns países e regiões.

Tabela 2 Limites sugeridos para exposição ocupacional e limites para água, solo e alimento

Meio Valor Organismo ou país

0,001 mg/l OMS


0,001 mg/l Comunidade Europeia, Canadá, Alemanha
0,001 mg/l Japão
Água potável
0,002 mg/l EEUU / EPA: Lei da água potável segura PL93-523 40 CFR 302.4
0,003 mg/l Suíça
Água
0,005 mg/l ex-USSR
0,0005 mg/l Comunidade Europeia, Alemanha [limite para tratamento natural]
Águas superficiais Comunidade Europeia, Alemanha [limite para tratamento físico e
0,001 mg/l
químico]
Irrigação 0,002 mg/l Alemanha
0,01 mg/m3 ACGIH / EEUU [valor TWA para compostos orgânicos]
0,01 mg/m3 Alemanha [valor MAK para compostos orgânicos]
0,025 mg/m3 ACGIH / EEUU [valor TLV]
Ar Local de trabalho 0,03 mg/m3 EEUU [valor STEL para compostos orgânicos]
0,05 mg/m3 Japão, Países. Baixos, Suécia, Finlândia
0,1 mg/m3 Alemanha [valor MAK para Hg metálico]
0,1 mg/m3 OSHA / EEUU [“limite máximo aceitável de concentração”]
0,3 mg/kg Países Baixos
0,8 mg/kg Suíça
Solo  
1,0 mg/kg Grã-Bretanha [jardins]
1,5 mg/kg Grã-Bretanha [jardins privados]
0,2 mg/sem. OMS [consumo máximo semanal de Hg orgânico]
Limites para consumo
0,3 mg/sem. OMS [consumo máximo semanal de Hg total]
humano
0,021 mg/día EEUU / US limite de exposição
Leite, queijo 0,01 mg/kg Alemanha
Alimento Ovo, carne, frango 0,03 mg/kg Alemanha
Embutidos 0,05 mg/kg Alemanha
Fígado, rins 0,1 mg/kg Alemanha
Peixes predadores 1 mg/kg Regulação 629/2008
mariscos 0,5 mg/kg Comunidade Europeia
Fontes:  Projeto GAMA 3

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) 33


Capítulo 4: Valores de Referência

Colômbia

Os valores de referência para as amostras biológicas são recomendados pelo Instituto


Nacional de Saúde, entidade tutelada pelo Ministério da Proteção Social da Colômbia,
na população não exposta e são expressos como mercúrio total. Níveis de mercúrio em
ar, água e alimentos são mostrados na tabela abaixo e são adotados pelo país:

Tabela 3 Valores de referência para o mercúrio na Colômbia

Matriz de mercúrio Limite Observação Instituição

Limites em Água
Água potável 0,001 mg/L Resolução 2115/07 5
Água para uso agropecuário 0,01 mg/L Água para uso agropecuário Decreto 1594/84 6
Água residual 0,01 mg/L Despejo na rede de esgoto Resolucão 3957/09 Bogotá D.C. 7
Água residual 0,00025 mg/L Despejo em cursos d’água Resolucão 3956/09 Bogotá D.C. 8
Limites no Ar
Hg exposição não laboral 0,001 mg/m³ EPA 3
10 – 20 ng Hg/
Hg em ar de zonas urbanas Decreto 602 de 1998 9
m3 ar
Hg em ar de zonas suburbanas 6ng Hg/m3 ar Decreto 602 de 1998 9
Mercúrio inorgânico 1 ano de
exposição
Limite máximo permitido < 1 mg/m3 (Padrão de qualidade do ar ou Resolução 610/10 Colômbia 10
níveis de emissão nas condições de
referência)
Local de trabalho 0,025mg/m3 ACGIH / EEUU [valor TLV], 1994 3
Limites em Alimentos
Consumo humano Consumo máximo semanal de Hg
1.6 mg/Kg P.C. FAO/WHO, 2007
(Hg orgânico) orgânico
Consumo máximo semanal de Hg
Consumo humano 5 µg/Kg P.C. FAO/WHO, 2007
total
Limite máximo de metilmercúrio
Pescado en pescado no depredador para o Codex Alimentarius
0,5 ug de Hg/g
consumo humano
Limites Biológicos
CTQ (Centro Toxicológico de
Sangue ≤ 20 μg /L Expresso como mercúrio total
Québec), 2011 4
CTQ (Centro Toxicológico de
Urina ≤ 50 μg /L Expresso como mercúrio total
Québec), 2011 4
OMS (Organização Mundial de
Cabelo ≤ 5μg /g Expresso como mercúrio total
Saúde), 2011 4

34 Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS)


Cooperação Técnica entre Brasil, Bolívia e Colômbia para o Fortalecimento da
Vigilância em Saúde de Populações Expostas ao Mercúrio

Brasil

Na Tabela 4 são apresentados os valores de referência para o mercúrio utilizados no


Brasil.

Tabela 4 Valores de referência parao mercúrio no Brasil

Amostra Limite Máximo Permitido Fonte/Referência Bibliográfica

Limites em Água
VIGIÁGUA, 2004
Água potável 0,001 mg/L
Portaria nº 518/2004 11
Água subterrânea
Consumo humano 0,001 mg/L
Dessedentação de animais 0,01 mg/L Resolução CONAMA n° 396 de 2008 12
Irrigação 0,002 mg/L
Recreação 0,001 mg/L
Água superficial (água doce)
Classe especial e classe1 0,0002 mg/L
Classe 2 0,0002 mg/L Resolução CONAMA n° 357 de 2005 13
Classe 3 0,002 mg/L
Classe 4 0,002 mg/L
Limites no Ar
Legislação Brasileira. Portaria nº 3.214,
Mercúrio: todas as formas exceto
0,04 mg/m3 de 08 de junho de 1978 14. (Jornadas
orgânicas
de até 48 h semanais)
0, 1 mg/m3 (PEL)A
Mercúrio inorgânico 0,05 mg/m3 (REL)B NIOSH, 2010 15*
10 mg/m3 (IDLH)C
0, 05 mg/m3 (TWA)D
Vapor de mercúrio NIOSH, 200415
0,025 mg/m3 (TLV)E
0,01 mg/m3 (TWA) e 0,03 mg/m3 (ST)F
0,01 mg/m3 (PEL)
Mercúrio Orgânico (Alquilmercuriais) NIOSH, 201015*
0,04 mg/m3 (REL)
2 mg/m3 (IDLH)
Limites em Sedimentos e Solo
Material dragado (sedimento de fundo de rio)
Nível 1 0,170 mg/Kg Resolução CONAMA n° 344 de 2004 16
Nível 2 0,486 mg/Kg
Solo
Valor de referência de qualidade 0,05 mg/Kg
Valor de prevenção 0,5 mg/Kg
Valor de intervenção Resolução CONAMA n° 420 de 2009 17
Área agrícola APMax 12 mg/Kg
Área residencial 36 mg/Kg
Área industrial 70 mg/Kg
Limites em Alimentos
Peixes
ANVISA, 1998
Peixes e produtos de pesca 0,5 mg/Kg
Portaria nº 685/9818
Peixes predadores 1,0 mg/Kg
Mercúrio total 5 µg/Kg peso corporal/semana FAO/WHO, 201119
Mercúrio orgânico 1,6 µg/Kg peso corporal/semana FAO/WHO, 201119

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) 35


Capítulo 4: Valores de Referência

Amostra Limite Máximo Permitido Fonte/Referência Bibliográfica

Mercúrio Inorgânico 4 µg/kg de peso corporal/semana FAO/WHO, 201119


Limites Biológicos
Sangue 5 – 10 µg/L (mercúrio total) WHO, 2008 1
Urina 50 µg/g creatinina (mercúrio total) WHO, 2008 1
Cabelo 7 µg/g** WHO, 2008 1
A: PEL = Permissible Exposure Limit (limite de exposição permissível da OSHA/EUA)
B: REL = Recommended Exposure Limit (limite de exposição recomendado do NIOSH/EUA)
C: IDLH = Immediately Dangerous to Life or Health level (concentração imediatamente perigosa à vida ou à saúde)
– trata-se da concentração máxima da qual, no caso de falha da máscara de respiração, pode-se escapar em até 30 minu-
tos sem dificuldades a tal procedimento e sem efeitos irreversíveis à saúde
D: TWA = Time Weighted Average (padrão média ponderada no tempo)
E: TLV = Treshold LimitValue
F: ST (ou STEL) = Short Term Exposure Limit (limite de exposição de curta duração)
* Dados atualizados em 2010
** Valor orientador

Bolívia

Em seguida são apresentados os valores de referência para a Bolívia (Tabela 5), estabe-
lecidos pelo Protocolo deMonitoramento e Controle de Populações Expostas a Mercúrio 20.

Tabela 5 Valores de referência parao mercúrio na Bolívia

Limite Máximo
Matriz de mercúrio Observação Instituição
permitido

Valores limites aceitáveis em água


Valor Máximo aceitável para Água
Norma Boliviana NB 512 de
Potável. Possíveis efeitos sobre a
Mercúrio; Hg 0,001 mg/L Requisitos para Água Potável
saúde por exposição que supere
(Dezembro de 2010) 20
esse valor.
Valores limites em outros tipos U.S. National Water Quality
Água superficial < 5 ng/L
de águas Criteria. 21
Valores limites em outros tipos
Água de irrigação 0,002 mg/L Alemanha DVGW, 1985. 20
de águas
Bolívia, Regulamento em Matéria
0,002 mg/L (diario) Valores limites em outros tipos de Contaminação Hídrica – Limites
Água residual
0,001 mg/L (mês) de águas permissíveis para descargas
líquidas (Anexo A-2), 2005. 20
Valor limite para qualidade do ar
Bolívia, Regulamento em Matéria
Mercúrio 1 µg/m3 Média aritmética anual de Contaminação Atmosférica
(Anexo 2), 2005. 20
Valores de referência para solos
Mariscos 0.3 mg de Hg/Kg Países Baixos, Terra Tech 6/94. 20

36 Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS)


Cooperação Técnica entre Brasil, Bolívia e Colômbia para o Fortalecimento da
Vigilância em Saúde de Populações Expostas ao Mercúrio

Limite Máximo
Matriz de mercúrio Observação Instituição
permitido

Mercúrio em solos 1 mg/Kg


Mercúrio em solo seco com
1.5 mg/Kg
pH < 7
Mercúrio em solo seco com
16 mg/Kg
pH > 7
Espanha, Real Decreto 1310/1990,
Mercúrio em lodos de 29 de octubre de 1990. 20
destinados a utilização 25 mg/Kg
agrária com pH < 7
Mercúrio em lodos
destinados a utilização 0.3 mg de Hg/Kg
agrária com pH > 7
Valores limites em Alimentos
1 parte de metilmercúrio para
Foods and Drugs Administration
Mariscos 1 ppm cada milhão de partes de
(FDA – EE.UU.) 20
pescados e mariscos.
Consumo humano Consumo máximo semanal de Hg
0,2mg/sem OMS, Clark 1992. 20
(mercúrio orgânico) orgânico
Pescados e mariscos 0.3 mg/Kg Comunidade Europeia, 1986 EDF. 20
Leite, queijo 0,01 mg/Kg Alemanha,Grossklaus 1989. 20
Valores limites referenciais em higiene industrial
Mercúrio elementar e Bolívia, Regulamento em Saúde
LMP-ED1= 0,025 mg/m3
formas inorgânicas Ocupacional INSO, 2008. 20
Compostos Orgânicos de Mercúrio:
Bolívia, Regulamento em Saúde
Compostos Alquílicos LMP-ED = 0,01 mg/m3
Ocupacional INSO, 2008. 20
Compostos Alquílicos LMP-EC2= 0,03 mg/m3 ACGIH 2007 (EE.UU.) 20
Índices Biológicos
Substância IB3 Observações Referência
Mercúrio inorgânico total 35 µg de Hg/g Tempo de amostragem: Antes do Bolívia, Regulamento em Saúde
em urina creatinina turno de trabalho. Notação B4 Ocupacional INSO, 2008. 20
Tempo de amostragem: Ao final
Mercúrio inorgânico total Bolívia, Regulamento em Saúde
15 µg de Hg/L do turno do último dia da semana
em sangue Ocupacional INSO, 2008. 20
de trabalho. Notação B.
O.M.S. Limites de exposição
profissional aos metais pesados
Mercúrio inorgânico total 50 µg de Hg/g
que se recomendam por razões
em urina creatinina
de saúde. Série Informes Técnicos.
647, 110-125 1980. 20
Maximum Concentrations
of the Work place and
Biological Tolerance Values for
Mercúrio orgânico em 10 µg de Hg/dL de
Working Materials 1986 VCH
sangue sangue
Verlagsgesellschaft m BH, D-6940
Weinheim. Federal Republic of
Germany 1986. 20
Fonte: Protocolo de vigilancia y control de poblaciones expuestas a mercurio 20.
1
Limite Máximo Permissível- de Exposição Dia (LMP-ED): É a concentração média ponderada no tempo previsto para um
dia de trabalho de 8 horas / dia e 40 horas semanais,em que um trabalhador pode ser exposto diariamente sem mostrar
efeitos adversos à saúde.
2
Limite Máximo Permitido – Exposição de curta duração (LMP-CE): É a concentração média ponderada pelo tempo, nor-
malmente de 15 minutos, não podendo ser ultrapassada em nenhum momento da jornada de trabalho.
3
Índice Biológico (I B)
4
B: concentração de fundo, o determinante pode estar presente em amostras biológicas tomadas em indivíduos que não
foram expostos ocupacionalmente, em concentrações que possam afetar a interpretação do resultado. Essas concentra-
ções de fundo estão incluídos no valor dos indicadores biológicos.

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) 37


Capítulo 4: Valores de Referência

Referências
1 World Health Organization (WHO) y United Nations Environment Programme (UNEP).
Guidance for Identifying Populations at Risk from Mercury Exposure 2008.
2 UNEP. Global Mercury Assessment. UNEP Chemicals Mercury Programme. 2002. (Consultado
em julho de 2011). Disponível em: HYPERLINK “http://www.chem.unep.ch/mercury/
Report/Final%20Assessment%20report.htm” www.chem.unep.ch/mercury/Report/Final%20
Assessment%20report.htm
3 Projeto GAMA (Gestión Ambiental en la Minería Artesanal. (Consultado em 20 de agosto de
2011). (Consultado em julho de 2011). Disponível em: http://www.elika.net/datos/articulos/
Archivo_EN610/Berezi%20Mercurio%20Sep%202010.pdf e em: http://rainbow.ldgo.columbia.
edu/edf/text/mercury.html.
4 Instituto Nacional de Salud, Colombia. Protocolo de vigilancia y control de intoxicaciones
agudas por mercurio. Documento em revisão 2011.
5 Ministerio de la Protección Social (Colômbia). Resolução 2115 de 2007. (Consultado em julho
de 2011). Disponível em: http://www.alcaldiabogota.gov.co/sisjur/normas/Norma1.jsp?i=30008
6 República da Colombia. Decreto 1594 de 1984. (Consultado em julho de 2011). Disponível em:
http://www.corpamag.gov.co/archivos/normatividad/Decreto1594_19840626.htm, (acesso em
maio, 2011).
7 Secretaria Distrital de Ambiente de Colômbia. Resolução 3957/2009. (Consultado em julho de
2011). Disponível em: http://www.alcaldiabogota.gov.co/sisjur/normas/Norma1.jsp?i=37051
(acesso em Junho, 2011).
8 Secretaria Distrital de Ambiente de Colômbia. Resolução 3956/2009.. (Consultado em julho de
2011). Disponível em: http://www.alcaldiabogota.gov.co/sisjur/normas/Norma1.jsp?i=37048
9 Departamento Técnico Administrativo del Medio Ambiente de Colômbia (DAMA). Decreto
602 de 1998.. (Consultado em julho de 2011). Disponível em: http://www.minambiente.gov.co/
descarga/descarga.aspx
10 Ministro de Ambiente, Vivienda y Desarrollo Territorial de Colômbia. Resolução 610/10.
(Consultado em julho de 2011). Disponível em: http://www.alcaldiabogota.gov.co/sisjur/
normas/Norma1.jsp?i=39330
11 Vigiágua. Vigilância da qualidade da água para consumo humano. Painel de Informações em
Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador – PISAST. (Consultado em julho de 2011). Disponível
em: http//www.saude.gov.br
12 Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), Resolução CONAMA n° 396. (Consultado
em julho de 2011). Disponível em: www.mma.gov.br/conama.
13 Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Resolução CONAMA n° 357. (Consultado
em julho de 2011). Disponível em: www.mma.gov.br/conama.
14 Ministério do Trabalho, Brasil. Portaria núm. 3214, Diário Oficial da União, 08/06/1978. NR-
7, alterada pela Portaria 12, Secretaria de Segurança e Medicina do Trabalho, Ministério do
Trabalho, Diário Oficial da União, 14/06/1983. p. 10288-99.
15 National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH). Pocket Guide to Chemical
Hazards. (Consultado em julho de 2011). Disponível em: http://www.cdc.gov/niosh/topics/
mercury.
16 Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Resolução CONAMA n° 344. (Consultado
em julho de 2011). Disponível em: www.mma.gov.br/conama.
17 Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Resolução CONAMA n° 420. (Consultado
em julho de 2011). Disponível em: www.mma.gov.br/conama.
18 Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Portaria núm. 685/98. (Consultado em julho
de 2011). Disponível em: http//www.anvisa.gov.br.

38 Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS)


Cooperação Técnica entre Brasil, Bolívia e Colômbia para o Fortalecimento da
Vigilância em Saúde de Populações Expostas ao Mercúrio

19 FAO/WHO. Evaluation of certain contaminants in food: seventy-second report of the Joint FAO/
WHO Expert Committee on Food Additives. WHO technical report series, núm. 959, 2011.
20 Ministerio de Salud y Deportes de Bolivia, INSO, OPS/OMS. Protocolo de vigilancia y control
de poblaciones expuestas a mercurio. La Paz, Bolivia.
21 Reglamento en Materia de Contaminación Atmosférica, Decreto Supremo núm. 24176, de 08 de
diciembre de 1995: La Paz, Bolivia. Junho de 2011.

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) 39


Capítulo 5: Biomarcadores de
Exposição ao Mercúrio
Alysson Lemos
Organização Pan-Americana da Saúde do Brasil

Erika Montaño
Instituto Nacional de Laboratórios de Saúde INLASA
Ministério da Saúde e Esportes da Bolívia

Ruth Marien Palma Parra


Instituto Nacional de Saúde da Colômbia
Cooperação Técnica entre Brasil, Bolívia e Colômbia para o Fortalecimento da
Vigilância em Saúde de Populações Expostas ao Mercúrio

Introdução

As exposições humanas aos contaminantes químicos podem ser estimadas pela


quantificação dos níveis de contaminantes em vários tecidos do corpo. Essas medidas
também são conhecidas como marcadores biológicos ou biomarcadores, sendo conside-
radas ferramentas úteis para a vigilância em saúde e avaliação da exposição humana aos
contaminantes químicos. Os biomarcadores são sensíveis aos índices de exposição de um
indivíduo ao mercúrio, fornecendo uma medida da dose interna, que pode ser usada para
avaliar aos efeitos adversos á saúde e para melhoria dos diagnósticos clínicos 1.
Ao avaliar a adequação de um biomarcador de exposição em particular, é importante
considerar vários fatores como:
1. Como o biomarcador correlaciona-se com a exposição às várias formas de mercúrio.
2. Como o biomarcador correlaciona-se com a concentração de mercúrio no tecido-
-alvo.
3. Como o biomarcador correlaciona-se com a concentração do mercúrio no tecido-
-alvo e as variações de exposição ao longo do tempo.
4. Que tipo de biomarcador séria o mais adequado, considerando as características
culturais da população.
5. Que tipo de tecnologia está disponível para a quantificação do biomarcador.

Os seguintes meios biológicos podem ser usados c​​ omo biomarcadores para exposição
ao mercúrio em seres humanos:
• sangue;
• o sangue do cordão umbilical;
• cabelo;
• urina;
• o leite humano; e
• as unhas dos pés.
Existem diversos métodos analíticos disponíveis para determinar a concentração de
mercúrio. A escolha de um método analítico depende de vários fatores como os regula-
mentos de análise de cada país, as capacidades do laboratório, equipamentos analíticos
disponíveis e recursos humanos capacitados etc. Seja qual for o método de análise utili-
zado é extramemente importante o controle e a garantia de qualidade dos dados obtidos,
incluindo a determinação simultânea de amostras certificadas 2.
Amostragem de material biológico é um componente importante em estudos de
estimativas de exposição humana a contaminantes químicos. Para os pesquisadores, é
essencial a coleta de amostras biológicas e obtenção de informações clínicas a partir dos
participantes, sendo esses previamente informados e dispostos a participarem da pes-
quisa. De acordo com a Declaração de Helsinki, os participantes em estudos de pesquisa
médica devem dar o seu consentimento explícito informado e no caso de menores, esse

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) 43


Capítulo 5: Biomarcadores de Exposição ao Mercúrio

consentimento deve ser dado pelo responsável legal e os estudos devem ser aprovados
com conselhos de ética em pesquisa 2.
Os dados devem ser mantidos a salvo e seguros. Informações pessoais devem ser
mantidas em sigilo. Cientistas e responsáveis pelo estudo devem assegurar que todos os
participantes de seus estudos devem estar adequadamente protegidos contra danos injusti-
ficados decorrentes da liberação inadvertida de informações pessoais importantes. Vários
aspectos culturais e religiosos também devem ser considerados ao projetar um estudo
de avaliação da exposição. A aceitabilidade de coleta de sangue e de cabelo pode variar.

Sangue

A presença de mercúrio no sangue indica a exposição recente ou atual de mercúrio.


Existe uma relação direta entre as concentrações de mercúrio no sangue humano e
consumo de peixes contaminados com metilmercúrio. Como descrito anteriormente, o
metilmercúrio na dieta é rapidamente absorvido através do trato gastrointestinal e dis-
tribuída por todo o corpo pelo sangue. Normalmente, a concentração de metilmercúrio
no sangue atinge um máximo dentro de 4 a 14 horas e passa por depuração do sangue
para outros tecidos do corpo depois de 20 a 30 horas.
A Organização Mundial de Saúde considera a concentração normal média de mercú-
rio total no sangue entre 5 a 10 µg/L em indivíduos com ausência de consumo de peixes
contaminados. O National Research Council – NRC identifica 2 µg/L como a concentra-
ção normal média para populações com pouco ou nenhum consumo de peixe nos EUA.
A coleta, armazenamento e transporte de amostras de sangue dependem de inúmeras
necessidades. Além disso, a coleta de sangue é invasiva no indivíduo, que geralmente é
colhido de uma veia e requer equipamento estéril adequado e requer profissionais treina-
dos para garantir que as amostras serão coletadas de forma segura e adequada, e requer
o consentimento do indivíduo 1.

Cordão umbilical

O sangue do cordão umbilical também pode ser considerado como biomarcador, en-
tretanto é importante avaliar a pertinência da utilização desse tecido. Esse biomarcador
tem sido usado nos estudos originais em Minamata e em pelo menos dois estudos de
coorte. Em um estudo de validação, foi demonstrado que as concentrações de mercúrio
no sangue do cordão umbilical foram melhores para a caracterização da exposição do
metilmercúrio em crianças recém-nascidas do que o cabelo das mães. Esta amostra é fácil
de recolhimento no momento do parto. Em um estudo prospectivo nas Ilhas Faroe, os
biomarcadores de exposição principais foram as concentrações de mercúrio no sangue
do cordão umbilical e cabelo maternal obtidas no parto 1.

44 Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS)


Cooperação Técnica entre Brasil, Bolívia e Colômbia para o Fortalecimento da
Vigilância em Saúde de Populações Expostas ao Mercúrio

Cabelo

O cabelo sequestra o metilmercúrio durante a sua formação e mostra uma relação


direta com os níveis de mercúrio no sangue, fornecendo um método preciso e confiável
para medir os níveis de metilmercúrio no organismo. O sangue pode ser usado para es-
timar a exposição de curto prazo ao metilmercúrio diferentemente do cabelo. O cabelo é
a escolha preferida para muitos estudos, pois proporciona uma amostragem simplificada
e não invasiva para estimar a exposição de médio a longo prazo ao metilmercúrio. Uma
vez incorporado no cabelo, o mercúrio não volta para o sangue, portanto, caracterizando
como um bom marcador de longo prazo de exposição ao metilmercúrio. Estrutura do
cabelo depende da etnia e idade e isso pode afetar a incorporação de mercúrio. A cor
do cabelo e tratamentos químicos e fisicos podem remover o mercúrio do cabelo. Se o
cabelo é utilizado para estimar a dose de mercúrio todos esses fatores devem ser levados
em consideração.
Mercúrio total no cabelo é de aproximadamente 250 a 300 vezes maior que a concen-
tração de mercúrio no sangue no momento em que o cabelo é formado. O nível normal
de mercúrio no cabelo é de 1-2 ppm (ou 1-2 µg/g), entretanto, pessoas que consomem
peixe uma ou mais vezes por dia podem ter níveis de mercúrio no cabelo superiores a 10
ppm. A dose de referência USEPA corresponde a cerca de 1 ppm de mercúrio no cabelo
para pessoas que têm baixo consumo de peixe. Metilmercúrio geralmente constitui cerca
80% do mercúrio total em cabelos analisados ​​entre os consumidores de peixe. Portanto,
o mercúrio em cabelo é um ótimo biomarcador de exposição ao metilmercúrio e é mui-
tas vezes usado para caracterizar a exposição ao metilmercúrio 3. Cabelo não é tão bom
indicador de exposição ao mercúrio vapor como a urina é 1.
Medições dos níveis de mercúrio de forma sequencial no cabelo podem ajudar na
identificação de picos de exposições como, por exemplo, devido a variações de consumo
sazonal. Picos de exposições em exposição crônica têm sido identificados em alguns es-
tudos como um fator importante que contribui para efeitos adversos à saúde 3. O cabelo
cresce cerca de 1 cm por mês e isso possibilita a avaliação do perfil da exposição ao longo
do período 1.

Urina

A presença de mercúrio na urina geralmente indica exposição a compostos inorgânicos


e/ou mercúrio elementar 1. Níveis de mercúrio na urina são considerados a melhor medida
de exposições recentes a vapores inorgânicos de mercúrio ou mercúrio elementar, pois o
mercúrio na urina é utilizado para indicar os níveis de mercúrio presentes nos rins 2. No
entanto, como explicado anteriormente, o mercúrio inorgânico acumula no rim sendo
lentamente excretado pela urina. Portanto, os níveis de mercúrio na urina também pode
representar a exposição ao mercúrio elementar e/ou mercúrio inorgânico que ocorreu
em algum momento no passado.

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) 45


Capítulo 5: Biomarcadores de Exposição ao Mercúrio

A concentração de resíduos na urina pode variar significativamente devido à quan-


tidade de diluição com água, os testes para os contaminantes presentes na urina são
frequentemente expressas em unidades de contaminante µg por grama de creatinina. A
creatinina é um produto da decomposição da creatina, que é uma parte importante do
músculo. Ao longo do tempo, a molécula de creatina degrada gradualmente a creatinina.
A creatinina é um produto de resíduos, isto é, não pode ser usado pelas células para qual-
quer propósito construtivo. A produção diária de creatina e, posteriormente, creatinina
depende da massa muscular, que varia pouco na maioria das pessoas normais durante
longos períodos de tempo. A creatinina é excretada do organismo inteiramente pelos rins,
portanto, a medida de mercúrio por grama de creatinina µg é uma medida útil dos níveis
de mercúrio na urina. A estreita correlação entre os níveis de mercúrio elementar no ar
inalado e os níveis em urina tem sido relatadas. Níveis de mercúrio na urina raramente
ultrapassam 5 µg/g de creatinina em pessoas não estão expostas ao mercúrio 2.

Convertendo níveis biomonitoramento aos níveis de exposição

Os níveis de mercúrio são medidos em meio específicos como sangue, cabelo ou urina
e podem ser convertidos para uma estimativa de dose diária média ou nível de exposi-
ção, utilizando vários fatores de conversão. No entanto, existem limitações, incertezas e
variabilidade no uso desses fatores de conversão que devem ser considerados. Exposições
a diferentes formas de mercúrio como o mercúrio inorgânico presente em amálgamas
dentárias, ou metilmercúrio pelo consumo de peixe irá resultar em resultados diferentes
com relação aos níveis do tecido e depuração. Portanto, a exposição a diferentes formas
de mercúrio deve ser considerada. Além disso, como descrito nas seções anteriores desse
documento, há um intervalo de tempo entre a exposição de várias formas de mercúrio e
os níveis de mercúrio encontrados nos vários tecidos do corpo.
No entanto, a relação quantitativa entre os níveis de mercúrio no cabelo e sangue e dose
média diária dos níveis de mercúrio, principalmente metilmercúrio, são razoavelmente
bem compreendidos. Portanto, tais conversões de dose muitas vezes podem ser feitas com
razoável confiança, caso as informações sobre as formas de mercúrio são conhecidas.
Variações em populações específicas podem ser identificadas. Por exemplo, em uma
ingestão de metilmercúrio com uma média diária de 0,1 micrograma por kg de peso
corporal por dia (0,1 µg/kg por dia) por uma mulher adulta, estima-se concentrações de
mercúrio de cerca de 1 µg/g em cabelo, os níveis de sangue do cordão umbilical de cerca
de 5 a 6 µg/L e as concentrações de mercúrio no sangue de cerca de 4-5 µg/L. Essa relação
é em geral diretamente proporcional. Se a informação disponível indica que o metilmer-
cúrio é a principal forma de mercúrio de exposição da população, e estão disponíveis
dados sobre os níveis medidos no sangue ou cabelo, então a dose diária estimada pode
ser calculada. Mais informações sobre conversões podem ser obtidas, entre outras, nas
seguintes referências: EUA ATSDR, 1999; NRC, 2000; EUA EPA, 2001a, EUA EPA, 1997c
e EUA EPA, 1997d, a WHO 2004

46 Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS)


Cooperação Técnica entre Brasil, Bolívia e Colômbia para o Fortalecimento da
Vigilância em Saúde de Populações Expostas ao Mercúrio

Referências
1 World Health Organization. International Programme on Chemical Safety (IPCS).
Environmental Health Criteria 214, Human Exposure Assessment.Ginebra. 2000. (Consultado
em julho de 2011). Disponível em: http://www.inchem.org/documents/ehc/ehc/ehc214.htm
2 WHO y UNEP. Guidance for Identifying Populations at Risk from Mercury Exposure 2008.
3 McDowell, M.A., Dillion, C.F., Osterloh, J., Bolger, P.M., Pellizzari, E., Fernando, R., Montes
de Oca, R., Schober, S.E., Sinks, T., Jones, R.L., Mahaffey, K.R. (2004): Hair Mercury Levels in
US Children and Women of Childbearing Age: Reference Range Data from NHANES 1999-
2000. Environmental Health Perspectives. 112 (11): 1165-71. (Consultado em julho de 2011).
Disponível em:: http://www.ehponline.org/members/2004/7046/7046.html

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) 47


Capítulo 6: Metodologias de
Análises de Mercúrio
Iracina Maura de Jesus
Instituto Evandro Chagas – IEC/SVS/MS, Brasil

Jaime Chincheros Paniagua


Universidade Mayor de San Andrés, Bolívia

Marcela Varona Uribe


Instituto Nacional de Saúde da Colômbia

Marcelo Lima de Oliveira


Instituto Evandro Chagas – IEC/SVS/MS, Brasil
Cooperação Técnica entre Brasil, Bolívia e Colômbia para o Fortalecimento da
Vigilância em Saúde de Populações Expostas ao Mercúrio

Introdução

A identificação e quantificação de mercúrio em materiais biológicos e ambientais para


atendimento da Vigilância Ambiental em Saúde (VAS) e pesquisas científicas sempre exi-
giram dos analistas um cuidado diferenciado por diversos aspectos: a) como o mercúrio é
um elemento circulante na natureza, todos os procedimentos analíticos para quantificação
desse metal exigem ambientes com o máximo de limpeza, para aumento da confiabilida-
de e garantia de qualidade dos resultados; b) o mercúrio elementar é líquido e volátil a
temperatura ambiente, o que torna difícil os processos de abertura de amostras altamente
energéticas, ou seja, são necessários cuidados para evitar perdas por volatilização; c) os
estudos dos ciclos biogeoquímicos do mercúrio demonstram que na natureza esse metal
apresenta-se tanto na forma elementar quanto nas formas inorgânicas e orgânicas, sendo
estas últimas de maior toxicidade, informações que remetem a necessidade de análises
toxicológicas mais complexas que exigem procedimentos de especiação química, métodos
que, apesar dos avanços tecnológicos, ainda hoje são demorados e dispendiosos; d) em
alguns tipos de amostras biológicas e ambientais, os níveis de mercúrio são em níveis de
traços, exigindo o uso de equipamentos com detectores altamente sensíveis, processos
delicados de pré-concentração e uso de reagentes apropriados com alto grau de pureza 1-11.
Nas últimas seis décadas, quando as discussões dos efeitos tóxicos do mercúrio sobre a
saúde humana entraram na pauta dos fóruns científicos e governamentais, principalmente
após o incidente ambiental de Minamata no Japão no qual as pesquisas constataram da-
nos a saúde humana associados à ingestão de peixe contaminado com metilmercúrio, as
metodologias analíticas para identificação e quantificação de mercúrio receberam atenção
especial na busca de resultados confiáveis em paralelo a maiores exigências de controle de
qualidade. Concomitante ao desenvolvimento dessas metodologias, emergem discussões
cada vez mais aprimoradas sobre o ciclo biogeoquímico do mercúrio em diversas partes
do nosso planeta, através do qual a montagem de um verdadeiro quebra-cabeça exige
metodologias que os limites de detecção para níveis de ultratraços 12-21.
Nesse sentido, por exemplo, as análises de mercúrio em fluidos biológicos e bioindi-
cadores exigem critérios e etapas que devem ser conduzidos por profissionais altamente
qualificados e especializados, ou seja, a contínua capacitação e formação de especialistas
para o desenvolvimento dessas metodologias pode também ser considerada uma ferramen-
ta importante para o fortalecimento da Vigilância Ambiental do Mercúrio. Por tudo isso,
as metodologias de análises de mercúrio devem ser conduzidas observando-se diretrizes
práticas e hierárquicas, dependendo dos objetivos a serem atingidos e significância dos
resultados. Portanto, um fator importante para garantia de qualidade e confiabilidade
dos resultados é a seleção do tipo de matriz biológica ou ambiental a ser avaliada e como
os níveis de mercúrio nesta podem estar associados com as espécies químicas a serem
quantificadas através de métodos diretos ou indiretos, ou seja, nem sempre há necessidade
de se fazer especiação química ou quantificação utilizando-se inúmeros tipos de mate-

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Capítulo 6: Metodologias de Análises de Mercúrio

riais para que os dados sejam significativos dentro do escopo da Vigilância Ambiental
do Mercúrio 22-24.
Dessa forma, pensar na estruturação de laboratórios de ensaio com tecnologias para
quantificação de mercúrio total pode ser uma ação imediata coerente, que possibilitará
avanços para habilitação de laboratórios de ensaios que, consorciados com as informa-
ções epidemiológicas e clínicas, irão fortalecer a Vigilância Ambiental do Mercúrio. De
modo progressivo, pode-se então atingir o desenvolvimento de análises mais complexas
como procedimentos de especiação química, etapas que não devem ser esquecidas, mas
por sua complexidade, devem ser pensadas como metas de médios e longos prazos 25-32.
Os tipos de tecnologias para análises de mercúrio total nos últimos anos tornam-se
menos dispendiosos com a inserção de estudos que simplificam os métodos, reduzindo
custos e obtendo-se resultados mais diretos sem a necessidade de etapas de abertura quí-
mica de amostras, com destaque nos últimos anos para o desenvolvimento de métodos,
ainda experimentais, que usam novas ferramentas no campo da nanotecnologia e aperfei-
çoamento da fluorescência atômica. Apesar de algumas dessas metodologias apresentarem
limitações para uso em materiais cujos níveis de mercúrio são normalmente baixos (tra-
ços e ultratraços), não significa que as mesmas sejam menos importantes e não possam
efetivamente ser usadas nos laboratórios de ensaios do Setor Saúde, contribuindo para
quebra dos paradigmas associados às dificuldades em notificar populações expostas ao
mercúrio. Por todos esses aspectos e pensando principalmente em se fortalecer a Vigilância
Ambiental do Mercúrio sob os aspectos dos usos de metodologias viáveis e confiáveis, são
apresentadas na sequência informações técnicas compiladas de métodos de análises de
mercúrio que têm se demonstrado significativas e hierárquicas, uma contribuição sobre
a ótica de orientar a curto e médio prazo quais devem ser as metodologias com potencial
para utilização dentro da estruturação e conformação de laboratórios de ensaios especia-
lizados e capazes de realizar análises de qualidade em materiais biológicos e ambientais.

Métodos tradicionais de análises de mercúrio total

A partir das características físicas e químicas do mercúrio, as metodologias de aber-


tura ácida e análises por espetrometria de absorção atômica com vapor frio (CV-AAS),
espectrometria de absorção atômica com geração de hidretos (HG-AAS), espectrometria
de absorção atômica com forno de grafite (GF-AAS), espectrometria de fluorescência
atômica (AFS) e espetrometria de massa acoplado com plasma induzido (ICP-MS) são
os mais extensamente utilizados para quantificação de mercúrio em materiais biológi-
cos e ambientais. Todas são tecnologias com boa sensibilidade, permitindo quantificar
mercúrio em níveis de traços e ultratraços. No entanto, a escolha dessas metodologias e
tecnologias envolve vários aspectos que abrangem desde o custo inicial das ferramentas
espectroanalíticas, a quantidade de reagentes utilizados nas etapas de abertura e os níveis
de interferências espectrais 33-51.

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Atualmente, avanços e a competitividade industrial têm possibilitado a diminuição


dos valores necessários para aquisição dessas tecnologias, apesar dos custos ainda con-
siderados elevados para aquisição de equipamentos que utilizam ICP-MS, incluindo-se
nesse caso também os custos de manutenção. Numa segunda faixa de custos iniciais
estão os equipamentos de GF-AAS, HG-AAS e AFS e na sequência os equipamentos de
CV-AAS. Os equipamentos de CV-AAS, além de menos onerosos, são disponibilizados
comercialmente em configurações voltadas exclusivas para análises de mercúrio total a
partir do uso de lâmpadas dedicadas e aprimoramentos espectrias. Essa configuração
direcionada dos equipamentos de CV-AAS além de sua versatilidade, diminuição de
custos e aplicabilidade em matrizes biológicas e ambientais, possibilitam aumento na
sensibilidade nas metodologias que usam esse tipo de tecnologia, pois de forma clássica os
limites de detecção da mesma são tão bons quanto os obtidos para metodologias que uti-
lizam equipamentos de ICP-MS, GF-AAS, HG-AAS e AFS. No entanto, apesar dos custos
mais elevados, destas metodologias citadas, principalmente para aquisição de tecnologias
espectroanalíticas, deve-se destacar que metodologias que utilizam ICP-MS apresentam
menores possibilidades de interferências espectrais e mascaramento dos resultados bem
como são executadas com menor quantitativo de reagentes. Deve-se destacar que os usos
dessas metodologias que utilizam tecnologias espectroanalíticas tornam imperativa a
necessidade de acompanhamento por analistas capacitados tanto nas etapas de preparo
de amostras quanto de quantificação 33-51
Essas observações, associadas às capacidades financeiras de cada país demonstram
que a utilização de metodologias com o uso de ICP-MS está distante das realidades eco-
nômicas regionais. Dessa forma, recomenda-se o uso de métodos empregando GF-AAS,
HG-AAS, AFS e CV-AAS. No entanto, escolher e aplicar cada uma dessas tecnologias
depende das condições laboratoriais intrínsecas de cada país, respeitando-se a necessidade
de validação das metodologias e participação em programas interlaboratoriais regionais e
internacionais para garantia da qualidade dos resultados. Outro aspecto a ser discutido é
a capacidade de emprego dessas metodologias em materiais biológicos e ambientais cuja
faixa de resultados pode envolver resultados em níveis muito baixos. Portanto, a aprovação
dessas metodologias tem que estar pautadas em programas de melhoria da qualidade e
dessa forma, garantia de resultados confiáveis que possam ser utilizados pela Vigilância
Ambiental do Mercúrio 33-51.
Como exemplo, nesse contexto, as metodologias para análises de mercúrio total,
implementadas e desenvolvidas no Brasil, em parceria com a JICA, nas duas últimas
décadas, apresentam características fundamentais que atendem aos requisitos iniciais
para implementação de rede de laboratórios de ensaios capacitados para quantificar mer-
cúrio com qualidade e confiabilidade. Apesar desse tipo de metologia utilizar CV-AAS,
o uso de critérios de qualidade e equipamento dedicados que possibilitam análises com
versatilidade em materiais ambientais e biológicos. Destaca-se também a boa robustez e
padronização da metologia para inúmeras matrizes, simplificando a adequação da mesma

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Capítulo 6: Metodologias de Análises de Mercúrio

para atendimentos das rotinas da Vigilância Ambiental do Mercúrio e necessidades das


pesquisas na Amazônia.
Nas últimas décadas, esse tipo de metodologia para análises de mercúrio total vem
obtendo excelentes resultados em programas de intercalibração internacional, tornando-
-se uma referência mundial nos aspectos de garantia de qualidade e confiabilidade. As
críticas sobre o uso dessas metodologias têm sido o uso de materiais específicos e cujas
tecnologias são japonesas, no entanto, a aquisição desses materiais tem sido facilitada atra-
vés de acordos internacionais bilaterais entre os países interessados e o governo japonês,
com intermediação da JICA. Por outro lado, outro aspecto que deve ser considerado na
discussão sobre o uso dessa metodologia na Pan-Amazônia é a existência de competên-
cia técnica de análise fixadas no Brasil, fator que pode facilitar a curto e médio prazo a
transferência de conhecimentos para os países vizinhos e dessa forma contribuir para o
fortalecimento da Vigilância Ambiental do Mercúrio.
A metodologia desenvolvida por Akagi consiste basicamente em etapas de homoge-
neização, descontaminação exógena e tratamento físico das amostras, esta última quando
necessário, como, por exemplo, durante as análises de mercúrio total no tecido capilar e
pescado, matrizes ambientais importantes para vigilância ambiental do mercúrio. Após
essa etapa, as amostras são pesadas e submetidas a aberturas ácidas e energéticas com
duração de cerca de 20 a 30 minutos, dependendo do tipo de matriz avaliada. Para essa
etapa é importante o uso de reagentes altamente purificados e com o máximo de isen-
ção parao mercúrio bem como o uso de reagentes cuja afinidade por elétrons minimiza
e até elimina a possibilidade de perdas por volatilização do mercúrio. Após essa etapa
que acontece em frascos de reação que suportam altas temperaturas, as amostras são
resfriadas e aferidas e encontram-se prontas para análises por CV-AAS. Ressalte-se que
esse procedimento é praticamente o mesmo para inúmeros tipos de matrizes biológicas
e ambientais, o que facilita a obtenção de dados pela Vigilância Ambiental do Mercúrio
e, dessa forma, amplia a capacidade de discussão da exposição ambiental a esse tipo de
contaminante 52.
Também devemos citar as metodologias utilizadas na Bolívia que usam a tecnologia
de CV-AAS associadas ao uso de equipamentos que acoplam sistemas de análises por
injeção de fluxo (FIA) e vêm sendo utilizadas para análises de mercúrio total em tecidos
animais. Essas metodologias consistem basicamente em abertura ácida, seguido de análises
por sistema que emprega CV-AAS e FIA 53.

Métodos de análise direta de mercúrio total

Os métodos para análises direta de mercúrio total são baseados nas etapas de combus-
tão das amostras e análise por espectrometria de absorção atômica (AAS). Apresentam
como grande diferencial o uso de métodos nos quais o tratamento das amostras é simpli-
ficado, resumindo-se normalmente a etapas de secagem e homogeneização dependendo
do tipo de matriz biológica ou ambiental que se deseja avaliar. Como pode ser observado,

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são métodos nos quais o uso de reagentes diminui significativamente, diminuindo também
os custos das análises, no entanto, dependendo dos níveis a serem quantificados podem
apresentar limitações de sensibilidade e robustez associadas a oscilações significativas
no background, fator característico dos equipamentos de combustão/pirólise devido aos
ruídos característicos na linha de base que limitam esse tipo de tecnologia. Essas barreiras
limitantes atualmente foram minimizadas com o uso de tecnologias on-line, que possibili-
taram etapas de preconcentração através de amalgamação e possibilitaram o aumento do
limite de detecção, permitindo a quantificação de mercúrio em níveis cada vez menores
nos mais variados tipos de amostras ambientais e biológicas. Complementarmente, essas
tecnologoias agregaram o uso de métodos de correção de background do tipo Zeeman,
modulando os sinais e diminuindo muito o ruído da linha de base.
Nesse contexto, três tecnologias vêm sendo amplamente utilizadas. A primeira desen-
volvida pela empresa Lummex International, baseado nas etapas de pirólise, amalgamação,
separação espectral com Zeeman e espectrometria de absorção atômica, utilizam aces-
sórios que permitem análises em amostras biológicas e ambientais, como, por exemplo,
sangue, água e ar, matrizes cujos níveis são normalmente muito baixos. Outra vantagem
desse tipo de tecnologia é a portabilidade com aplicação simplificada em atividades de
campo e possibilitando a obtenção de resultados imediatos, fator que pode contribuir
significativamente para o desenvolvimento da Vigilância Ambiental do Mercúrio. Uma
limitação desse tipo de tecnologia é a inserção manual e individual de amostras, o que
exige a presença permanente de operador durante as etapas de análises. Esse tipo de
metodologia com o uso da tecnologia Lummex vem sendo empregada com êxito para
quantificação de mercúrio total em amostras de sangue, urina e água na Colômbia e deve
ser entendida também como uma ferramenta importante para consolidação da rede de
Vigilância Ambiental do Mercúrio 33-51.
Tecnologia semelhante foi desenvolvida pela empresa Milestone no modelo DMA-80
baseado também nas etapas de pirólise, conversão catalítica, amalgamação e espectrome-
tria de absorção atômica, equipamento de alta sensibilidade aplicado a amostras sólidas
e líquidas é comercializado acompanhado de amostrador automático, fator que facilita e
torna menos contínua a presença de operador durante a etapa de análises. Uma limitação
dessa tecnologia apresentada no modelo DMA-80 é o uso de oxigênio analítico para me-
lhor desempenho do equipamento, o que delimita o uso em laboratório e, dessa forma,
não podendo ser usado em atividades de campo, como também não pode ser utilizado
para análises de mercúrio em amostras de ar. Apesar dessas limitações, esse tipo de tec-
nologia possui ampla possibilidade de aplicação nas atividades da Vigilância Ambiental
do Mercúrio, principalmente para disponibilização de resultados rápidos no atendimento
dos indivíduos que procuram atendimentos diretos nos laboratórios de ensaios.
Outra tecnologia de análises direta de mercúrio foi desenvolvida pela empresa Tele-
dyne Technologies Company, através dos modelos Hydra, que consiste na inserção de
amostras líquidas e sólidas que são submetidas às etapas de combustão e análises por
espectrometria de absorção atômica com vapor frio (CV-AAS), tecnologia que permite

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Capítulo 6: Metodologias de Análises de Mercúrio

acoplamento a amostradores automáticos resultando em maior agilidade nas etapas de


análises. O bom desempenho desse tipo de tecnologia consiste no uso, na etapa final da
técnica, de Espectrometria de Absorção Atômica com Vapor Frio (CV-AAS), metodologia
que amplia a sensibilidade do equipamento.
Ressalte-se que os métodos de análise direta de mercúrio total, apesar do reconhe-
cimento para algumas metodologias de agências ambientais, não são frequentemente
encontrados o uso em rodadas internacionais de intercalibração, fator essencial para
ampliar a sua utilização com garantias de qualidade.

Quantificação do mercúrio orgânico (especiação)

Métodos de especiação química para quantificação do mercúrio nas suas formas


orgânicas são necessários devido à elevada toxicidade das espécies orgânicas, quando
comparada as espécies inorgânicas. Muitas metodologias de especiação do mercúrio
foram desenvolvidas nas últimas décadas, utilizando tecnologias como cromatografia
líquida com espectrometria de massas (LC-MS), cromatografia gasosa com espectro-
metria de massas (CG-MS) e cromatografia gasosa com detector de captura de elétrons
(GC-ECD). Avanços significativos também foram conseguidos no desenvolvimento de
sistemas hibridos e sistemas on-line em fluxo, com destaque para tecnologias que com-
binam separações cromatográficas e detecção por métodos espectroanalíticos, como por
exemplo, LC-CV-AAS, LC-ICP-MS, LC-CV-FAS, CG-FAS 54-65.
Os usos de sistemas híbridos amplificam em muitas ordens de grandeza a sensibilida-
de para quantificação de mercúrio e melhoram a capacidade de especiação, no entanto,
demandam a necessidade de se acoplar tecnologias de excelente separação e tecnologias
espectroanalíticas, fato que praticamente dobra os custos para aquisição e desenvolvimento
desse tipo de metodologia. Novamente, o uso dessas metodologias demanda custos. Os
sistemas que utilizam cromatografia líquida ou gasosa acoplados a espectrômetros de
massa vêm se aperfeiçoando e tem demonstrado alta versatilidade para identificação e
quantificação de espécies organomercuriais (metilmercúrio, etilmercúrio, dimetilmer-
cúrio, fenilmercúrio, etc.), contudo, a aquisição e manutenção dos mesmos envolvem
custos elevados quando comparados a metodologias que utilizam GC-ECD, equipamentos
comercialmente disponíveis a baixo custo. Porém, o uso de CG-ECD, apesar de menor
custo para aquisição de tecnologias, exige etapas mais laboriosas de extração e separação
das amostras, sendo empregada principalmente para quantificação de metilmercúrio, a
forma mais tóxica do mercúrio. Outro aspecto metodológico importante é a necessidade
das amostras para análises estarem dissolvidas em fluidos para quantificação na maioria
dessas tecnologias, ou seja, exigem etapas de extração delicadas e cujas perdas podem ser
significativas. A maioria dessas metodologias permitem análises nos mais variados tipos
de matrizes, todavia os conhecimentos desses métodos de abertura ainda são limitados
a poucos centros de excelência 54-65.

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Conclusões

Avanços e fortalecimento de laboratórios com a capacidade de realizar ensaios de


especiação do mercúrio e permitam quantificar pelo menos os níveis de metilmercúrio
são importantes. No entanto, os elevados custos demandam que essa capacidade possa ser
focada em alguns centros de excelência que de forma conveniada atenderiam a Vigilância
Ambiental do Mercúrio, ou seja, nos patamares atuais, quantificar mercúrio total ainda
é um desafio e não menos importante que primeiro precisa ser uma meta a ser atingida
a curto e médio prazo.
Para que a Vigilância Ambiental do Mercúrio estabeleça sistemas de notificação
confiáveis pautados nos aspectos clínicos, epidemiológicos e laboratoriais, os dados de
mercúrio total são uma etapa inicial importante que permitirá aos governos dos países
da Pan-Amazônia identificar os riscos e estabelecer políticas públicas para garantia da
qualidade de vida dos indivíduos.
Para avaliação de mercúrio total ocorreram avanços significativos tanto no sentido
de aprimoramento de métodos tradicionais quanto ao uso de métodos de análises mais
diretos com menor manipulação de reagentes, denotando que ambos possuem boa apli-
cabilidade e viabilidade desde que se associados a mecanismos de controle de qualidade
que permitem a confiabilidade dos resultados.
Portanto, um dos aspectos mais importantes é a priorização das análises de mercúrio
total que devem estar associadas ao uso de critérios de qualidade com a contínua valo-
rização de participação em programas interlaboratoriais concomitante com a aplicação
e desenvolvimento de materiais de referência certificada (CRM). Não obstante, todos os
laboratórios de ensaio que venham a ser credenciados/habilitados a partir desses critérios
de qualidade, devem ser estimulados a médio e longo prazo para o desenvolvimento de sua
capacidade analítica para especiação química do mercúrio, pois os dados disponíveis nos
últimos 30 anos sobre os níveis de mercúrio nos ecossistemas amazônicos e populações
são alarmantes e demonstram que há necessidade de estudos futuros de especiação do
mercúrio para quantificação dos níveis de metilmercúrio.

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Capítulo 6: Metodologias de Análises de Mercúrio

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Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) 61


Capítulo 7: Grupos de Populações
Expostas a Mercúrio
Andrea Patricia Soler
Ministério da Proteção Social da Colômbia

Danna Elizabeth Lara Holguín


Consultora Externa – Organização Pan-Americana da Saúde da Bolívia

Danny Rejas Alurralde


Universidade Mayor de San Simón – Bolívia

Pamela Paco Velasco


Pesquisadora Associada IRD – Bolívia

Priscila Campos Bueno


Ministério da Saúde do Brasil
Cooperação Técnica entre Brasil, Bolívia e Colômbia para o Fortalecimento da
Vigilância em Saúde de Populações Expostas ao Mercúrio

Introdução

A contaminação por mercúrio ocasionada pelo homem ocorre de diversas formas:


descarga de resíduos e liberação direta para a atmosfera decorrente da mineração de metais
e outros, queima de combustíveis fósseis, além da incineração de resíduos sólidos, que
incluem o mercúrio volatilizado de resíduos de pilhas, e a fundição de cobre e zinco 1.
A mineração do ouro é um processo extrativista que gera diversos problemas ambien-
tais, parte deles decorrente do uso do mercúrio e do cianeto. Estima-se que, para cada
kg de ouro, 5kg de mercúrio é descartado para o ambiente, dos quais grande quantidade
chega às fontes de água. O uso indevido do mercúrio, principalmente na mineração do
ouro, produz poluição significativa, afetando o ar, água, solo, plantas, animais e, final-
mente, a saúde humana.
Essas atividades não são as únicas fontes de mercúrio. Os solos amazônicos são natural-
mente ricos em mercúrio 2, por outro lado as atividades antropogênicas (queimadas, des-
matamento, agricultura e mineração) aceleram a liberação do mercúrio para o ambiente 3.
O mercúrio é estável em solo cobertos com vegetação natural e quando a cobertura é
retirada o mercúrio facilmente é carreado para os ecossistemas aquáticos. Uma vez nos
ambientes aquáticos pode ser transformado em metilmercúrio o qual é assimilado pela
biota e mais tóxico que o mercúrio inorgânico 4. O metilmercúrio bioacumula-se ao longo
da cadeia trófica dos ambientes aquáticos e são um dos principais alimentos consumidos
pelas populações da região.
Determinados grupos populacionais merecem especial atenção no que se refere à
exposição ao mercúrio pelo fato de possuir maiores probabilidades de exposição a níveis
perigosos do mercúrio ou, em função de serem portadoras de enfermidades, podem
exacerbar os efeitos da intoxicação. São eles 5, 6, 7:
a) trabalhadores expostos ocupacionalmente ao mercúrio;
b) populações gerais vizinhas a fontes de poluição por mercúrio (minas, indústrias);
c) populações de regiões com contaminação por mercúrio, especialmente as ribeiri-
nhas e indígenas que têm no pescado sua principal fonte de proteínas;
d) pessoas que usam prolongadamente medicamentos mercuriais;
e) doentes do sistema nervoso central, doentes renais crônicos, doentes broncopul-
monares crônicos;
f) gestantes e crianças pequenas.
Vale destacar que o risco de intoxicação por mercúrio pode aumentar muito pela
sobreposição de algumas dessas condições.
A exposição ocupacional está ligada ao ambiente de trabalho, como mineração e
indústrias, geralmente associada aos garimpos de ouro ou às fábricas de cloro-soda e de
lâmpadas fluorescentes. Trata-se de uma contaminação pelas vias respiratórias, que atinge
o pulmão e o trato-respiratório, podendo ser identificada e quantificada pela dosimetria
do mercúrio na urina 8.

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) 65


Capítulo 7: Grupos de Populações Expostas a Mercúrio

A exposição ambiental, por sua vez, é provocada pela dieta alimentar, comumente pela
ingestão de peixes, e afetando diretamente a corrente sanguínea, provocando problemas
no sistema nervoso central. Sua comprovação é feita pela determinação do mercúrio no
cabelo ou no sangue 8. Nesse caso, a exposição pode ser estimada em, aproximadamente,
1 mg/dia pelo ar; até 2 mg/dia pela água e 20 mg/dia através dos alimentos, podendo,
nesse caso, atingir até 75 mg/dia, conforme a quantidade de peixes da dieta 9.
Dentre os grupos citados acima daremos destaques aqueles que se relacionam com:

Garimpo

O processo produtivo do ouro causa a exposição direta dos trabalhadores ao mercúrio


metálico nos ambientes de trabalho e a exposição indireta da população em geral que
esteja próxima às áreas garimpeiras. A partir do processo de metilação em sedimentos dos
rios, a contaminação dos peixes gera um perigo potencial de exposição ao metilmercúrio
para toda a população 10.
Em 1993 estimou-se que cerca de 6 milhões dos 30 milhões de trabalhadores na
mineração mundial, distribuídos em 40 países, atuavam na garimpagem. Em 1999 a
Organização Internacional do Trabalho (OIT) estimou um crescimento na estimativa de
mineiros artesanais, que chegavam a aproximadamente 13 milhões, distribuídos em 55
países. Dessa forma, a estimativa de pessoas que dependem dessa atividade para sobreviver
está em torno de 80 a 100 milhões 11.
Os garimpeiros artesanais podem ser considerados como grupo populacional mais
diretamente exposto ao mercúrio por meio do manuseio direto ou pela inalação dos
vapores do mercúrio gerados no processo de queima do amálgama de mercúrio-ouro.
Como usualmente esse processo é realizado no interior de suas residências, próximos a
familiares e outras pessoas, também podem ser consideradas populações expostas, tendo
como principal via de exposição a inalação do vapor de mercúrio metálico.
Outro importante grupo de expostos são os comerciantes que adquirem amálgamas
dos garimpeiros, com grande quantidade de mercúrio, e que são manipuladas em locais
inadequados, sem ventilação. Essa atividade gera risco para outro grupo populacional,
residente nas vizinhanças dessas lojas 12.

Indústrias de cloro-soda

A contaminação por mercúrio decorrente da indústria de cloro-soda teve grande des-


taque até a década de 80. Apesar de ainda existirem plantas que utilizam essa tecnologia,
a utilização do mercúrio vem sendo substituída representativamente nesse setor.
A produção de cloro e soda pode ser feita através de três processos principais: célula
com mercúrio, célula com diafragma de amianto e célula com membrana de troca iônica.
Enquanto em 1976, mais de 90% da produção brasileira de cloro usava células de
mercúrio, em 1992 somente 36% da produção utilizava essa tecnologia 13.

66 Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS)


Cooperação Técnica entre Brasil, Bolívia e Colômbia para o Fortalecimento da
Vigilância em Saúde de Populações Expostas ao Mercúrio

O mercúrio consumido pelas indústrias de cloro-soda não fica contido no produto


final, sendo parte recuperada e parte perdida no processo contaminando o ambiente.
Por esse motivo os principais grupos populacionais a serem considerados são dos
trabalhadores das indústrias que utilizaram essa tecnologia no passado, das que ainda
utilizam no presente, e das populações vizinhas a essas indústrias.

Indústrias de lâmpadas

O desenvolvimento e diversificação do parque industrial brasileiro resultou em uma


maior diversificação de usos do mercúrio no país. Entre esses usos, destacam-se a indústria
eletroeletrônica, principalmente no que se refere a lâmpadas fluorescentes e baterias. O
mercúrio nessas indústrias, ao contrário da indústria de cloro-soda, é liberado do processo
industrial junto ao produto final, de forma que seu destino final pode estar direcionado
para aterros sanitários ou depósitos de resíduos sólidos 14.
Na produção de lâmpadas fluorescentes e a vapor de Hg, podem ser utilizados entre
12 a 120 mg de Hg, dependendo do tipo da lâmpada, do cumprimento e do diâmetro do
bulbo 15.
Seu processo produtivo é caracterizado por 4 etapas: a abertura, a lavagem, a confecção
das peças e a embalagem. Podem ser considerados pontos críticos desse processo a etapa
de abertura e o descarte de seus efluentes 16.
Nesse sentido, também devem ser considerados os trabalhadores e a população que
reside no entorno de áreas onde esses equipamentos são descartados inadequadamente.
Quanto ao ambiente de trabalho, o processo de introdução de mercúrio encapsulado
na lâmpada reduz a exposição dos trabalhadores 15.
Com relação ao ambiente, e certamente à saúde da população, um dos grandes pro-
blemas é a perda de mercúrio após descarte final das lâmpadas em lixos comuns. O con-
siderável aumento do consumo de lâmpadas fluorescentes e sua destinação inadequada
podem representar um grande risco na medida em que a quantidade de mercúrio gerada
pode atingir grandes proporções.

Consumo de biota contaminada

Dentre as populações que sofrem o maior impacto relacionado à contaminação ambien-


tal por mercúrio estão aquelas que se alimentam de peixes contaminados por mercúrio,
especialmente as comunidades ribeirinhas, incluindo aí as indígenas.
O consumo diário de peixes, durante um longo período, correspondente a 200 mi-
crogramas de mercúrio (isto é, consumo de 500 gramas de peixe contendo 400 ng/g de
mercúrio), acarreta o acúmulo de 50 µg/g de Hg no cabelo (OMS, 1990). Vale destacar
que para os grupos considerados de maior vulnerabilidade (gestantes, lactantes e recém-
-nascidos), os fatores citados não oferecem segurança.

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) 67


Capítulo 7: Grupos de Populações Expostas a Mercúrio

As populações ribeirinhas da Bacia Amazônica são dependentes do consumo de


peixe, chegando a consumir em média 200 gramas por dia. Concentradores naturais de
mercúrio, sua quantidade nesses animais depende do alimento, da idade e do tamanho.
Por isso na análise da contaminação por mercúrio deve-se levar em conta não somente
a quantidade de peixe consumida como também da espécie escolhida 8.
Segundo Passos (2008), em termos de exposição das comunidades amazônicas, dife-
rentes bioindicadores revelam teores médios de mercúrio em cabelo superiores a 15 µg/g,
colocando-as entre os mais altos níveis reportados em todo o mundo 17.

Grupos de maior vulnerabilidade: gestantes, lactantes e


recém-nascidos

As gestantes, as lactantes e as crianças apresentam determinadas particularidades que,


aliadas às características do mercúrio, tornam esses grupos populacionais mais vulneráveis.
Os compostos orgânicos de mercúrio podem ter efeitos adversos no feto, uma vez
que o metilmercúrio da mãe é transportado rapidamente pela barreira placentária até
ele. Oxida-se no sangue do embrião, e a partir de então não possui mais possibilidade de
eliminação, causando sérios danos, principalmente a nível neurológico 18.
Estudos recentes evidenciaram que concentrações de mercúrio no cabelo acima de
70 µg/g em gestantes representam um incremento no risco com aparecimento de efeitos
neurológicos para o recém-nascido na ordem de 30% 19.
O mercúrio inorgânico tem menor capacidade de atravessar a barreira placentária,
sendo encontrado em maior quantidade no líquido amniótico, além de ser transportado
pelo leite materno.
Schvartsman (1982) aponta quatro momentos críticos em relação à exposição ocupa-
cional ao mercúrio em mulheres 20:
1. fase pré-implantação – em que pode ocorrer mutagênese química;
2. primeiro trimestre da gravidez – em que pode ocorrer teratogênese a nível de
distúrbios neurológicos;
3. terceiro trimestre da gestação – em que podem ocorrer fetopatias (espasticidade,
amaurose, manifestações neurológicas);
4. lactação – em que o mercúrio pode ser levado ao bebê via leite materno.
Durante a lactação, o mercúrio é transportado pelo leite materno de mães contami-
nadas. Aliada a uma intensa absorção, o rim imaturo dos bebês promove uma excreção
menor das contaminações, fazendo com que o bebê, nos seus primeiros anos de vida,
atinja taxas de contaminações mais altas.
O desenvolvimento incompleto da barreira hemato-encefálica (sangue cérebro) faz com
que uma proporção maior de contaminantes seja capaz de atingir o cérebro, perturbando
o desenvolvimento do sistema nervoso central.

68 Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS)


Cooperação Técnica entre Brasil, Bolívia e Colômbia para o Fortalecimento da
Vigilância em Saúde de Populações Expostas ao Mercúrio

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Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) 69


Capítulo 8: Sistemas de
Informação para Notificação de
Intoxicação e Exposição Humana a
Substâncias Químicas
Alysson Lemos
Organização Pan-Americana da Saúde do Brasil

Fabiana Godoy Malaspina


Ministério da Saúde do Brasil

Janaina Sallas
Ministério da Saúde do Brasil

Marcela Varona Uribe


Instituto Nacional de Saúde da Colômbia

Susan Aparicio Gutiérrez


Instituto Nacional de Saúde Ocupacional INSO – Bolívia
Cooperação Técnica entre Brasil, Bolívia e Colômbia para o Fortalecimento da
Vigilância em Saúde de Populações Expostas ao Mercúrio

Bolívia

Até o momento não existe procedimentos de notificação específica para intoxicação


por mercúrio, entretanto houve a incorporação de uma seção na ficha de notificação de
agrotóxicos da SNIS (Serviço Nacional de Informação em Saúde), que inclui os casos de
intoxicação por substâncias químicas.
Apesar desses inconvenientes, houve a formulação de uma proposta de notificação
que está sob revisão (Anexo I).
A notificação de casos ocorrerá em vários níveis: no centro de saúde da comunidade
ou população, que preenche ficha de notificação para encaminhar ao INSO (Instituto
Nacional de Saúde Ocupacional) se for um caso que envolve trabalho e/ou SNIS para
fins epidemiológicos, no local também serão tomadas amostras de sangue e urina para
ser enviado ao laboratório de referência. Posteriormente, o paciente será transferido para
um centro terciário para nova avaliação e tratamento, se necessário.

Brasil

No Brasil, entre os sistemas nacionais de informação em saúde existentes, alguns se


destacam em razão de sua maior relevância para as ações de vigilância epidemiológica.
Em primeiro lugar está o Sistema Nacional de Agravos de Notificação (SINAN) seguido
pelo Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (SINASC) e Sistema de Informações
de Mortalidade (SIM). Além disso, existem outras possibilidades de fontes de dados,
a saber: dados do Ministério do Trabalho; dados da Previdência Social, e dos Centros
de Informação e Assistência Toxicológica (CIAT) consolidados pelo Sistema Nacional
de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), entre outros. Existem ainda sistemas
construídos com o propósito de operar a sistemática de pagamento de internações e
procedimentos no SUS: Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS); Sistema de
Informações Ambulatoriais (SIA/SUS).
O SINAN, desenvolvido em 1998, tem por objetivo o registro e processamento dos
dados sobre doenças e agravos de notificação em todo o território nacional, fornecendo
informações para análise do perfil da morbidade e contribuindo dessa forma para a
tomada de decisões de acordo com o âmbito de gestão. Sua utilização efetiva permite a
realização de diagnóstico dinâmico da ocorrência de um evento na população; podendo
fornecer subsídios para explicações causais de doenças e agravos de notificação compul-
sória, além de vir a indicar riscos, contribuindo, assim, para a identificação da realidade
epidemiológica de determinada área geográfica 1.
A notificação é a comunicação de ocorrência de determinada doença ou agravo à saúde,
feita à autoridade sanitária por profissionais de saúde ou qualquer cidadão, para fins de
adoção de medidas de intervenção pertinentes. É a ferramenta imprescindível à vigilância
epidemiológica, por constituir fator desencadeador do processo “informação/decisão/
ação”, tríade que sintetiza a dinâmica de suas atividades. Além disso, deve disponibilizar

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) 73


Capítulo 8: Sistemas de Informação para Notificação de Intoxicação e Exposição Humana a Substâncias Químicas

o suporte necessário para que o planejamento, decisões e ações dos gestores, em deter-
minado nível decisório (municipal, estadual e federal), se baseie em dados concretos 2.
O marco legal no Brasil para a notificação compulsória de intoxicações exógenas
por substâncias químicas, incluindo agrotóxicos e metais pesados, se deu em 2010 com
a publicação da Portaria 2.472, atualizada e revogada pela Portaria Ministerial nº 104
de 26 de janeiro de 2011 3. No Anexo II está disponibilizada a ficha de investigação de
intoxicação exógena 4.
Conforme consta na ficha, a definição de caso suspeito é todo aquele indivíduo que
tendo sido exposto a substâncias químicas (agrotóxicos, medicamentos, produtos de uso
doméstico, cosméticos e higiene pessoal, produtos químicos de uso industrial, drogas,
plantas e alimentos e bebidas), apresente sinais e sintomas clínicos de intoxicação e/ou
alterações laboratoriais provavelmente ou possivelmente compatíveis.
A notificação compulsória é obrigatória a todos os profissionais de saúde, médicos,
enfermeiros, odontólogos, médicos veterinários, biólogos, biomédicos, farmacêuticos e
outros no exercício da profissão, bem como os responsáveis por organizações e estabele-
cimentos públicos e particulares de saúde e de ensino, em conformidade com os artigos
7º e 8º, da Lei nº 6.259, de 30 de outubro de 1975. Ainda nesta Lei, seu artigo 11 dita que
uma vez recebida a notificação a autoridade sanitária é obrigada a proceder à investigação
epidemiológica pertinente para elucidação do diagnóstico e averiguação da disseminação
da doença na população sob o risco 5.
Os eventos considerados como de importância para a saúde pública de abrangência
nacional descritos no anexo II da Portaria nº 104/2011 (agregados de casos e/ou óbitos
devido a exposição a substâncias químicas), a partir da aplicação da avaliação de risco
de acordo com o anexo II Regulamento de Saúde Internacional (RSI-2005) e uma vez
classificados como Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN) e
Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII), devem ser notificados
imediatamente, no prazo máximo de 24 horas, às Secretarias de Saúde Estaduais, Muni-
cipais, Distrital e a SVS. Essa notificação imediata é feita através de formulário próprio e
posteriormente com a investigação epidemiológica; os casos confirmados de intoxicação
exógena devem ser notificados no SINAN no prazo de até 07 dias 3 (Anexo III).
Os canais de comunicação para notificação dos ESPIN e/ou ESPII disponibilizados
pela SVS/MS são o disque notifica (0800-644-6645) ou endereço eletrônico (notifica@
saude.gov.br) e formulário “NOTIFICA” disponível no endereço eletrônico http://www.
saude.gov.br/svs. Esses canais de informação são coordenados pelo Centro de Informa-
ções Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS) em articulação com as áreas técnicas
da SVS/MS 3.

Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde – CIEVS

O CIEVS foi instituído pela Portaria nº 30, de 07 de julho de 2005, e inaugurado em


março de 2006 6. A Rede Nacional de Alerta e Resposta às Emergências de Saúde Pública

74 Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS)


Cooperação Técnica entre Brasil, Bolívia e Colômbia para o Fortalecimento da
Vigilância em Saúde de Populações Expostas ao Mercúrio

(Rede CIEVS) é formada por uma unidade central, estruturada no Ministério da Saúde,
e tem ramificações nos estados, municípios e distrito, geralmente identificadas como
Unidades de Resposta Rápida (URR). Ao todo, são 50 URR ligadas as 23 secretarias es-
taduais de saúde e do Distrito Federal e 26 Secretarias Municipais de Saúde de capitais,
e uma unidade nacional 7. 
Todas as notificações que chegarem pelo Disque Notifica, pelo e-notifica ou detectadas
no noticiário nacional serão comunicadas imediatamente às secretarias estaduais de Saúde
e avaliadas pela Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), para terem sua veracidade e
relevância epidemiológica verificadas, considerando o local de ocorrência, magnitude e
urgência. Após esse procedimento será definida a necessidade de apoio e/ou participação
direta do Ministério da Saúde nas ações de prevenção e controle.
De posse da informação, a secretaria estadual ou municipal de Saúde tem condições
de adotar, de forma ágil, as medidas adequadas para a investigação epidemiológica e
bloqueio da disseminação de doenças. O Ministério da Saúde passa a acompanhar,
nesse momento, e por meio do CIEVS, o comportamento epidemiológico da doença ou
agravo e estará pronto para enviar equipes treinadas para detecção e resposta de surtos,
sempre que for necessário. Os casos que se configurarem como de relevância nacional
serão investigados pela Unidade de Respostas Rápidas (URR) da SVS que utilizará a es-
trutura tecnológica do CIEVS para acionar técnicos, especialistas, redes de profissionais,
secretarias de saúde, laboratórios e institutos de pesquisa. O CIEVS visa, assim, ser um
mecanismo facilitador para a integração das equipes de campo com os gestores e técnicos
dos diversos níveis dos SUS. 
Os eventos e agravos de notificação imediata são monitorados pelo CIEVS e pela
área técnica responsável de forma a assegurar uma resposta eficiente e oportuna, junto
às secretarias estaduais e municipais de saúde 8. Mais informações pelo site: http://svs.
aids.gov.br/cievs/.

Colômbia

As notificações são definidas como o processo pelo qual diferentes atores comunicam
oficialmente a presença ou ausência de eventos de interesse de saúde pública, tornando-se
obrigatória a notificação. Tornando-se a notificação e a rede de entidades que notificam
a espinha dorsal do sistema.
Notificação na Colômbia é realizada seguindo o protocolo de monitoramento e con-
trole da intoxicação aguda desenvolvido no Instituto Nacional de Saúde, cujo objetivo é
realizar um acompanhamento contínuo e sistemático de casos de acordo com processos
estabelecidos para a comunicação, alimentação e análise dos dados para gerar informações
de forma oportuna, válidas e confiáveis ​​para orientar medidas de prevenção e controle
do evento. Tem como objetivos específicos:
• Fortalecer o sistema de notificação em todos os casos de exposição aguda ao mer-
cúrio no país.

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) 75


Capítulo 8: Sistemas de Informação para Notificação de Intoxicação e Exposição Humana a Substâncias Químicas

• Melhorar a qualidade dos dados para a análise de informações epidemiológicas


em nível municipal, departamental e nacional.
• Consolidar a ferramenta de captura de informação e análise para gerar orientações
com base na identificação de fatores e verificação de tendências locais e nacionais
para apoiar a tomada de decisões e o estabelecimento de medidas de intervenção
de saúde.
• Fornecer uma ferramenta de apoio na gestão, controle e vigilância de eventos de
intoxicação por mercúrio para as autoridades locais.
• Fornecer uma ferramenta de informação e apoio na formulação de planos, progra-
mas e projetos para a prevenção e gestão das intoxicações por mercúrio no país.
Por meio do protocolo de vigilância de intoxicações por mercúrio, é definida a me-
todologia de abordagem para os processos estabelecidos de notificação, coleta e análise
de dados a orientação de prevenção e controle dos casos de intoxicação aguda, a nível
nacional, departamental e municipal.
Os atores incluídos no sistema de vigilância são: Ministério da Proteção Social – Ponto
Focal Nacional, Instituto Nacional de Saúde – Subdireção de Vigilância e Controle em
Saúde Pública, Unidades Notificadoras, que são entidades de caráter nacional, departa-
mental, distrital e municipal e as unidades primárias de geração de dados que são entidades
públicas e privadas que captam os eventos de interesse da saúde pública.

Processo de vigilância

O fluxo de informação é gerado a partir das unidades primárias geradoras de dados


(UPGD) para o município e em seguida para o nível nacional ou internacional, se ne-
cessário. Do nível nacional se envia a retroalimentação para os departamentos e a partir
dos departamentos aos municípios, bem como de cada nível de informações é enviado
para asseguradoras.

Notificação

As UPGD são responsáveis ​​por captar e notificar com periodicidade semanal, nas
formas e estruturas definidas, a presença do evento de acordo com definições de caso
contido no protocolo.
Os dados devem estar contidos em arquivos simples, a estrutura e características
definidas e contidas nos documentos técnicos que fazem parte do subsistema de infor-
mação para a notificação de eventos de interesse em saúde pública do Instituto Nacional
de Saúde – Ministério da Proteção Social.

76 Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS)


Cooperação Técnica entre Brasil, Bolívia e Colômbia para o Fortalecimento da
Vigilância em Saúde de Populações Expostas ao Mercúrio

Pontualidade dos relatórios

Imediata: Todos os casos de intoxicação aguda confirmada e definida como parte de


um alerta surto ou epidemia são relatados imediatamente (por telefone, fax ou e-mail)
a partir do UPGD para a unidade municipal, distrital ou departamental, para início da
investigação de campo dentro de 24 horas após a notificação. A unidade notificadora
municipal configura o surto local. Se o município não tem capacidade para atendê-lo, é
solicitado apoio imediato para o distrito ou nível departamental e, se necessário, para o
nacional.
Semanal: casos agudos ou crônicos são relatados semanalmente com estrutura e con-
formidade mínima estabelecidas no subsistema de informações para o monitoramento
do evento individualmente, utilizando a ficha única notificação (Anexo IV).
Ajuste período epidemiológico: As informações devem ser corrigidos e ajustados ao
sistema dentro de quatro (4) semanas de calendário após a notificação.
Nem as direções departamentais, distritais ou municipais de saúde nem as entidades
administradoras de planos de benefícios, nem qualquer outro organismo podem modi-
ficar, reduzir ou acrescentar os dados nem a estrutura magnética. Não obstante de que
as UPGD e os entes territoriais podem ter informações adicionais para seu próprio uso.
Notificação negativa é definida para um evento e sua ausência nos registros individuais
de uma notificação semanal obrigatória para as UPGD que fazem parte da Rede Nacional
de Vigilância. O Ministério da Proteção Social tem um fluxograma para notificação de
eventos que é mostrada a seguir na Figura 1:

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) 77


Capítulo 8: Sistemas de Informação para Notificação de Intoxicação e Exposição Humana a Substâncias Químicas

Figura 1 Fluxograma de informação

Trocar: Instituto Nacional de Salud de Colombia 9

Nesse fluxograma em nível internacional se encontram a OMS e OPAS, que são infor-
mados, pelo Ministério da Proteção Social (MPS), sobre qualquer evento de interesse em
Saúde Pública. O MPS informa o Instituto Nacional de Saúde (INS) que é o encarregado
da vigilância nacional por meio do SIVIGILA (Sistema de Vigilância por Laboratório).
Por sua vez, o INS é notificado pelas entidades de nível departamental, distrital ou mu-

78 Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS)


Cooperação Técnica entre Brasil, Bolívia e Colômbia para o Fortalecimento da
Vigilância em Saúde de Populações Expostas ao Mercúrio

nicipal, denominadas unidades de notificação departamental, distrital ou municipal, as


Instituições Sociais do Estado (ESEs) e as unidades geradoras de dados.
A ficha de notificação contém informação do paciente relevante para a determinação
da intoxicação (Anexo IV)

Referências
1 Ministério da Saúde (Brasil). Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância
Epidemiológica. Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan: normas e rotinas
/ Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância
Epidemiológica. Brasília: Ministério da Saúde. 2006; 80 p.: il.– (Série A. Normas e Manuais
Técnicos).
2 Ministério da Saúde (Brasil). Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância
Epidemiológica. Guia de vigilância Epidemiológica / Ministério da Saúde, Secretaria de
Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica. Brasília: Ministério da
Saúde. 2009; 7:63-77.
3 Ministério da Saúde (Brasil). Portaria n.º 104, de 26 de janeiro de 2011. Define as terminologias
adotadas em legislação nacional, conforme o disposto no Regulamento Sanitário Internacional
2005 (RSI 2005), a relação de doenças, agravos e eventos em saúde pública de notificação
compulsória em todo o território nacional e estabelece fluxo, critérios, responsabilidades e
atribuições aos profissionais e serviços de saúde. Diário Oficial da União, Poder Executivo.
Brasília, DF, 26 jan. 2011; 18:37-38.
4 Ministério da Saúde (Brasil). Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan, 2007.
(Consultado em setembro de 2011). Disponível em: http://dtr2004.saude.gov.br/sinanweb/
5 Brasil. Lei n.º 6.259, de 30 de outubro de 1975. Dispõe sobre as organizações de Vigilância
Epidemiológica, sobre o Programa Nacional de Imunizações, estabelece normas relativas à
notificação compulsória de doenças, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Poder
Executivo, Brasília, DF, 31 out. 1975.
6 Ministério da Saúde (Brasil). Portaria n.º 30, de 7 de julho de 2005. Institui o Centro de
Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde, define suas atribuições, composição e
coordenação.
7 Ministério da Saúde (Brasil). Secretaria de Vigilância em Saúde. Centro de Informações
Estratégicas e Resposta em Vigilância em Saúde. Gerência Técnica de Alerta, Monitoramento e
Operações de Resposta de Saúde. Diretrizes para a Classificação dos Centros da Rede CIEVS,
2010. 2.ª ed. p.20.
8 Ministério da Saúde (Brasil). Secretaria de Vigilância em Saúde. Centro de Informações
Estratégicas e Resposta em Vigilância em Saúde. Brasília, DF, 2011. (Consultado em setembro de
2011). Disponível em: http://svs.aids.gov.br/cievs/
9 Instituto Nacional de Salud (Colombia). Protocolo de vigilancia y control de intoxicaciones
agudas por mercurio. Documento em revisão; 2011.

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) 79


Capítulo 8: Sistemas de Informação para Notificação de Intoxicação e Exposição Humana a Substâncias Químicas

Anexo I – Proposta da ficha de notificação, Bolívia

ESTADO PLURINACIONAL DE BOLIVIA


MINISTERIO DE SALUD Y DEPORTES
INSTITUTO NACIONAL DE SALUD OCUPACIONAL
BOLETA DE NOTIFICACIÓN INDIVIDUAL DE VIGILANCIA EPIDEMIOLOGICA PARA MERCURIO

Nombre completo del paciente:

Edad: Años Meses

Sexo: 1. Masculino 2. Femenino

Fecha de inicio de síntomas: Día Mes Año

Residencia: Departamento Provincia

Localidad Dirección completa

Teléfonos

Principal actividad que realiza:

Síntomas principales:

Muestra enviada: Sangre Orina Otro

Establecimiento de salud:

Localidad: Departamento:

Nombre del que informa:

80 Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS)


Cooperação Técnica entre Brasil, Bolívia e Colômbia para o Fortalecimento da
Vigilância em Saúde de Populações Expostas ao Mercúrio

Anexo II – Ficha de investigação para intoxicação exógena, Brasil

República Federativa do Brasil SINAN


Ministério da Saúde SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE AGRAVOS DE NOTIFICAÇÃO Nº
FICHA DE INVESTIGAÇÃO INTOXICAÇÃO EXÓGENA
Caso suspeito: todo aquele indivíduo que, tendo sido exposto a substâncias químicas (agrotóxicos, medicamentos, produtos de
uso doméstico, cosméticos e higiene pessoal, produtos químicos de uso industrial, drogas, plantas e alimentos e bebidas),
apresente sinais e sintomas clínicos de intoxicação e/ou alterações laboratoriais provavelmente ou possivelmente compatíveis.
1 Tipo de Notificação
2 - Individual

2 Agravo/doença Código (CID10) 3 Data da Notificação


T 65.9 | | | |
Dados Gerais

INTOXICAÇÃO EXÓGENA | | |
4 UF 5 Município de Notificação Código (IBGE)
| | | | | |
6 Unidade de Saúde (ou outra fonte notificadora) Código 7 Data dos Primeiros Sintomas

| | | | | | | | | | | | |
8 Nome do Paciente 9 Data de Nascimento
| | | | | | |
Notificação Individual

10 (ou) Idade
1 - Hora
2 - Dia 11 Sexo M - Masculino 12 Gestante 13 Raça/Cor
F - Feminino 1-1ºTrimestre 2-2ºTrimestre 3-3ºTrimestre
3 - Mês 4- Idade gestacional Ignorada 5-Não 6- Não se aplica 1-Branca 2-Preta 3-Amarela
| | 4 - Ano I - Ignorado
9-Ignorado 4-Parda 5-Indígena 9- Ignorado
14 Escolaridade
0-Analfabeto 1-1ª a 4ª série incompleta do EF (antigo primário ou 1º grau) 2-4ª série completa do EF (antigo primário ou 1º grau)
3-5ª à 8ª série incompleta do EF (antigo ginásio ou 1º grau) 4-Ensino fundamental completo (antigo ginásio ou 1º grau) 5-Ensino médio incompleto (antigo colegial ou 2º grau )
6-Ensino médio completo (antigo colegial ou 2º grau ) 7-Educação superior incompleta 8-Educação superior completa 9-Ignorado 10- Não se aplica

15 Número do Cartão SUS 16 Nome da mãe

| | | | | | | | | | | | | | |
17 UF 18 Município de Residência Código (IBGE) 19 Distrito
| | | | | |
20 Bairro 21 Logradouro (rua, avenida,...) Código
Dados de Residência

| | | | |
22 Número 23 Complemento (apto., casa, ...) 24 Geo campo 1

25 Geo campo 2 26 Ponto de Referência 27 CEP


| | | | - | |
28 (DDD) Telefone 29 Zona 1 - Urbana 2 - Rural 30 País (se residente fora do Brasil)
| | | | | | | | | 3 - Periurbana 9 - Ignorado

Dados Complementares do Caso


31 Data da Investigação 32 Ocupação

| | | | | | |
Antecedentes Epidemiológicos

33 Situação no Mercado de Trabalho


09 - Cooperativado
01- Empregado registrado com carteira assinada 05 - Servidor público celetista 10- Trabalhador avulso
02 - Empregado não registrado 06- Aposentado 11- Empregador
03- Autônomo/ conta própria 07- Desempregado 12- Outros_____________
04- Servidor público estatuário 08 - Trabalho temporário 99 - Ignorado
34 Local de ocorrência da exposição
1. Residência 2.Ambiente de trabalho 3.Trajeto do trabalho 4.Serviços de saúde
5.Escola/creche 6.Ambiente externo 7.Outro ___________________ 9.Ignorado
35 Nome do local/estabelecimento de ocorrência 36 Atividade Econômica (CNAE)

37 UF 38 Município do estabelecimento Código (IBGE) 39 Distrito


Dados da Exposição

| | | | | |
40 Bairro 41 Logradouro ( rua, avenida, etc. - endereço do estabelecimento)

42 Número 43 Complemento (apto., casa, ...) 44 Ponto de Referência do estabelecimento 45 CEP


| | | | - | |
46 (DDD) Telefone 47 Zona de exposição 48 País (se estabelecimento fora do Brasil)
1 - Urbana 2 - Rural
| || | | | | | | | 3 - Periurbana 9 - Ignorado
Intoxicação Exógena Sinan NET SVS 09/06/2005

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) 81


Capítulo 8: Sistemas de Informação para Notificação de Intoxicação e Exposição Humana a Substâncias Químicas

49 Grupo do agente tóxico/Classificação geral


01.Medicamento 02.Agrotóxico;uso agrícola 03.Agrotóxico/uso doméstico 04.Agrotóxico/uso saúde pública
05.Raticida 06.Produto veterinário 07.Produto de uso Domiciliar 08.Cosmético/higiene pessoal
09.Produto químico de uso industrial 10.metal 11.Drogas de abuso 12.Planta tóxica
13.Alimento e bebida 14.Outro _______________ 99.Ignorado
Agente tóxico (informar até três agentes)
50 Nome Comercial/popular
Princípio Ativo

1 - _______________________________________________ 1 - _______________________________________________

2 - _______________________________________________ 2 - ______________________________________________

3 - _______________________________________________ 3 - ______________________________________________
51 Se agrotóxico, qual a finalidade da utilização
1.Inseticida 2.Herbicida 3.Carrapaticida 4.Raticida 5.Fungicida
6.Preservante para madeira 7.Outro________________ 8.Não se aplica 9.Ignorado
Dados da Exposição

52 Se agrotóxico, quais as atividades exercidas na exposição atual 1ªOpção:


01- Diluição 05-Colheita 09-Outros
02-Pulverização 06- Transporte 10-Não se aplica 2ªOpção:
03- Tratamento de sementes 07-Desinsetização 99-Ignorado 3ªOpção:
04- Armazenagem 08-Produção/formulação

53 Se agrotóxico de uso agrícola, qual a cultura/lavoura


___________________________________________________________________________________________
54 Via de exposição/contaminação
1ªOpção:
1- Digestiva 4-Ocular 7-Transplacentária 2ªOpção:
2-Cutânea 5-Parenteral 8-Outra
3-Respiratória 6-Vaginal 9-Ignorada 3ªOpção:

55 Circunstância da exposição/contaminação

01-Uso Habitual 02-Acidental 03-Ambiental 04-Uso terapêutico 05-Prescrição médica inadequada


06-Erro de administração 07-Automedicação 08-Abuso 09-Ingestão de alimento ou bebida 10-Tentativa de suicídio
11-Tentativa de aborto 12-Violência/homicídio 13-Outra:___________________________ 99-Ignorado

56 A exposição/contaminação foi decorrente do trabalho/ 57 Tipo de Exposição


ocupação?
1 -Aguda - única 2 -Aguda - repetida 3 - Crônica
1 -Sim 2 -Não 9 - Ignorado 4 - Aguda sobre Crônica 9 - Ignorado
58 Tempo Decorrido entre a Exposição e o Atendimento

| 1 - Hora 2 - Dia 3 - Mês 4 - Ano 9- Ignorado


Dados do Atendimento

59 Tipo de atendimento 60 Houve hospitalização? 61 Data da internação


62 UF
1 -Hospitalar 2 -Ambulatorial 3 - Domiciliar
4 -Nenhum 9 - Ignorado 1 -Sim 2 -Não 9 - Ignorado
| | | | | | | |
63 Município de hospitalização Código (IBGE) 64 Unidade de saúde Código

| | | | | | | | | | |
65 Classificação final 1 - Intoxicação confirmada 2 - Só Exposição 3 -Reação Adversa
4 -Outro Diagnóstico 5 -Síndrome de abstinência 9 -Ignorado
66 Se intoxicação confirmada, qual o diagnóstico
Conclusão do Caso

___________________________________________________________________________________ CID - 10 | | |
67 Critério de confirmação 68 Evolução do Caso
1 - Laboratorial 1 - Cura sem sequela 2 - Cura com sequela 3 - Óbito por intoxicação exógena
2 - Clínico-epidemiológico 3 - Clínico 4 - Óbito por outra causa 5-Perda de seguimento 9-Ignorado
69 Data do óbito 70 Comunicação de Acidente de Trabalho - CAT. 71 Data do Encerramento
| | | | | | | 1 - Sim 2 - Não 3 - Não se aplica 9 - Ignorado | | | | | | |
Informações complementares e observações
Observações:

Município/Unidade de Saúde Cód. da Unid. de Saúde


Investigador

| | | | | |
Nome Função Assinatura

Intoxicação Exógena Sinan NET SVS 09/06/2005

Fonte: Ministério da Saúde. Sinan, 2007

82 Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS)


Cooperação Técnica entre Brasil, Bolívia e Colômbia para o Fortalecimento da
Vigilância em Saúde de Populações Expostas ao Mercúrio

Anexo III – Instrumento de decisão para avaliação e notificação de


eventos que possam constituir em ESPIN, relacionada à Vigilância
em Saúde Ambiental, adaptado do Anexo II do RSI (2005), para
utilização no Brasil

Ministério da Saúde
Secretaria de Vigilância em Saúde
Centro de Informações Estratégicas e Resposta em Vigilância em Saúde.
Instrumento de decisão adaptado do anexo II do RSI (2005) para avaliação dos eventos que possam se constituir
Emergências de Saúde Pública de Importância Nacional/Internacional
Versão 2010

Eventos detectados pelos Serviços de Vigilância em Saúde

1Um caso suspeito de um dos agravos 1Eventos que envolvam os agravos (casos
abaixo é uma ESPIN. Esses eventos Qualquer evento com suspeitos ou confirmados) a seguir, sempre
demonstram um maior risco de potencial importância à deverão conduzir à utilização do algoritmo a
disseminação nacional/internacional: saúde pública, que não fim de avaliar se cumprem os critérios
• Carbúnculo ou Antraz; os listados nas caixas ao estabelecidos para serem classificados como
• Dengue (Sorotipo IV); lado, deverá conduzir à ESPIN.
• Febre do Nilo Ocidental; • Botulismo;
• Influenza Humana por novo Subtipo utilização do algoritmo. • Cólera;
Viral; • Febre Amarela;
• Peste; • Hantavirose;
• Poliomielite; • Doença de Chagas Aguda;
• SARS-CoV; • Doença conhecida sem circulação ou com
• Varíola; circulação esporádica no território nacional;
• Tularemia. • Raiva Humana;
• Sarampo;
Surto ou agregado de casos ou óbitos: • Rubéola;
• Difteria; • Síndrome de Rubéola Congênita;
• Meningite Viral; • DTA em navios ou aeronaves;
O impacto do evento sobre a
• Doença Meningocócica; • Surto ou agregado de casos e/ou óbitos por
• Rubéola; saúde pública é grave? Influenza Humana;
• Sarampo. • Alteração no padrão epidemiológico de
doença que constam no Anexo I da Portaria
de notificação compulsória e outras doenças;
Sim Não • Doença de origem desconhecida;
• Exposição a contaminantes químicos;
• Exposição à água para consumo humano fora
dos padrões preconizados pela SVS;
• Exposição ao ar contaminado, fora dos
O evento é incomum ou O evento é incomum ou padrões preconizados pela Resolução do
inesperado? inesperado? CONAMA;
• Acidentes envolvendo radiações ionizantes e
não ionizantes por fontes não controladas,
por fontes utilizadas nas atividades
Sim Não Sim Não industriais ou médicas e acidentes de
transporte com produtos radioativos da
classe 7 da ONU;
• Desastres de origem natural ou
antropogênica quando houver desalojados ou
Há risco significativo de Há risco significativo de
desabrigados ou quando houver
propagação nacional e/ou propagação nacional e/ou
comprometimento da capacidade de
internacional? internacional?
funcionamento e infraestrutura das unidades
de saúde locais em conseqüência do evento;
• Doença, morte ou evidência de animais com
agente etiológico que possam acarretar a
Sim Não Sim Não ocorrência de doenças em humanos.

Há risco significativo de restrições ao


comércio ou a viagens nacional e/ou
internacional?
Neste momento não se
classifica como ESPIN/ESPII.
Reavaliar quando houver
Sim Não maiores informações.
Monitorar no Alerta CIEVS.

ESPIN - Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional e/ou Risco de Saúde Pública de Importância Internacional.
Monitorar na Lista de Emergências de Saúde Pública.

1Definição de caso Segundo o Guia de Vigilância Epidemiológica 2009.

Fonte: Ministério da Saúde, 2010

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) 83


Capítulo 8: Sistemas de Informação para Notificação de Intoxicação e Exposição Humana a Substâncias Químicas

Anexo IV – Ficha de notificação e informação do paciente para a


determinação da intoxicação

Intoxicación por plaguicidas Cód: 360 | Intoxicación por fármacos Cód: 370 | Intoxicación por metanol
Cód: 380 | Intoxicación por metales pesados Cód: 390 | Intoxicación por solventes Cód: 400 |
Intoxicación por otras sutancias químicas Cód: 410 | Intoxicación por monóxido de carbono y otros
gases Cód: 412 | Intoxicación por sustancias psicoactivas Cód: 414
REG-R02.001.4040-003 V:00 AÑO 2010
RELACIÓN CON DATOS BÁSICOS
A. Nombres y apellidos del paciente B. Tipo de ID* C. No. de identificación

* TIPO DE ID: 1 - RC : REGISTRO CIVIL | 2 - TI : TARJETA IDENTIDAD | 3 - CC : CÉDULA CIUDADANÍA | 4 - CE : CÉDULA EXTRANJERÍA | 5 - PA : PASAPORTE | 6 - MS : MENOR SIN ID | 7 - AS : ADULTO SIN ID

4. DATOS DE LA EXPOSICIÓN
4.1. Intoxicación por
1 Plaguicidas 2 Medicamentos 3 Metanol 4 Solventes 5 Metales pesados

6 Monóxido de carbono y otros gases 7 Sustancias psicoactivas 8 Otras sustancias químicas

4.2. Nombre del producto

4.3. Tipo de exposición


1 Ocupacional 2 Accidental 3 Intencional 4 Intencional 5 Reacción adversa 6 Delictiva 7 Farmacodependencia 8 Desconocida
suicida homicida
4.4. Actividad que se realizaba en el momento de la exposición a sustancias químicas (marque con una X una o más)
1 Proceso de elaboración 2 Almacenamiento, venta y transporte 3 Aplicación agrÍcola 4 Uso domiciliario
5 Uso salud pública 6 Uso industrial 7 Tratamiento humano 8 Tratamiento veterinario
9 Actividad social 10 Desconocido 11 Otra
4.5. Si marcó la casilla (11), Otra, de la pregunta anterior, escriba cual es

4.6. Fecha de exposición 4.7. Hora (0 a 24) 4.8. Vía de exposición


1 Respiratoria 2 Oral 3 Dérmica 4 Ocular
Día Mes Año
5 Desconocida 6 Intramuscular/ 7 Otra
Intravenosa
4.9.Si marcó la casilla (7), Otra, de la pregunta anterior, escriba cual es

5. OTROS DATOS
5.1. Escolaridad 5.2. ¿Embarazo actual?
1 Sin escolaridad 2 Primaria 3 Secundaria 4 Universitaria 1 SÍ 2 No

5.3. ¿Afiliado a A.R.P? 5.4. Nombre de la A.R.P


1 SÍ 2 No
Código
5.5. Estado civil
1 Soltero 2 Casado 3 Unión libre 4 Viudo 5 Divorciado

6. SEGUIMIENTO
6.1 ¿El caso hace parte de un brote? 6.2. Número de casos de este brote 6.3 Investigación epidemiológica del brote/alerta
1 SÍ 2 No 1 Sí 2 No

6.4 Fecha
Fechade
investigación
investigación
epidemiológica
del brote brote 6.5. Hora de investigación 6.6. Situación de alerta 6.7. Fecha de informe
1 Sí 2 No
Día Mes Año Brote (0-24 horas) Día Mes Año

6.8. Nombre del responsable 6.9. Teléfono celular o fijo

84 Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS)


Capítulo 9: Critérios para o
Diagnóstico das Intoxicações por
Mercúrio em Populações Expostas
Heloisa Pacheco-Ferreira
Universidade Federal do Rio de Janeiro – Brasil

Iracina Maura de Jesus


Instituto Evandro Chagas – IEC/SVS/MS – Brasil

Marcela Varona Uribe


Instituto Nacional de Saúde da Colômbia

Maria Paula do Amaral Zaitune


Ministério da Saúde do Brasil
Capítulo 9: Critérios para o Diagnóstico das Intoxicações por Mercúrio em Populações Expostas

Introdução

Na bacia amazônica, pesquisas com ribeirinhos que utilizam o pescado como principal
fonte alimentar demonstram índices de mercúrio no cabelo (Hg-C) que estão entre os mais
elevados do mundo, sobretudo na bacia do rio Tapajós. Também tem sido evidenciado o
mesmo em povos indígenas e moradores próximos a hidrelétricas que tiveram considerável
área desmatada para formação de seus reservatórios, sendo fortes indicadores de que essas
populações precisam ser monitoradas clinicamente, de forma a se verificar a presença
de sintomas e sinais compatíveis com a intoxicação ocasionada pelo metilmercúrio 1-6.
A exposição ao mercúrio elementar, decorrente da mineração de ouro, destacando-se
a de pequena escala ou garimpagem, ocorre em diversas regiões da Amazônia e, embora
os trabalhadores sejam os principais expostos, a população em geral pode estar exposta
ao vapor de mercúrio nas adjacências dos locais de mineração, ou mesmo dos locais
comerciais ou residenciais que praticam a queima do amálgama de ouro e mercúrio em
área urbana 7-10.
Diante desse panorama, a discussão sobre os aspectos clínicos e neurológicos da in-
toxicação por mercúrio faz-se importante e atual, com a discussão dos critérios diagnós-
ticos e das diretrizes terapêuticas, de forma a contribuir para a vigilância em saúde das
populações expostas ambientalmente e ocupacionalmente a esse metal. A formulação de
estratégias, tanto no campo conceitual como de intervenção, para pensá-lo a partir das
especificidades nacionais, enquadra-se no debate nacional e internacional sobre exposição
humana à ação de tóxicos.

Abordagem diagnóstica interdisciplinar

A avaliação clínica e neuropsicológica dos trabalhadores e das populações expostas


ambientalmente ao mercúrio assume um caráter interdisciplinar tanto pela complexi-
dade da exposição quanto pela interface com diversas áreas do conhecimento, como a
psicologia, neurologia, toxicologia, entre outras e articula-se com as ações de vigilância
em saúde no campo da saúde do trabalhador e ambiental.
A detecção precoce dos efeitos causados por esta substância é de fundamental impor-
tância de forma a se prevenir sequelas irreversíveis em nível do sistema nervoso central
e periférico, garantindo, assim, medidas adequadas de tratamento e vigilância das popu-
lações expostas. As etapas da avaliação estão detalhadas a seguir 11, 12.

Etapas da Avaliação

Enfermagem: coleta de sinais vitais e de material para exames laboratoriais — indica-


dores biológicos de exposição, de acordo com o tipo de exposição ocupacional e ambiental
das populações expostas.

86 Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS)


Cooperação Técnica entre Brasil, Bolívia e Colômbia para o Fortalecimento da
Vigilância em Saúde de Populações Expostas ao Mercúrio

Aspectos ocupacionais e epidemiológicos: História Ocupacional e Ambiental: histó-


ria ocupacional passada e atual, local de moradia, hábitos alimentares, migração, renda,
escolaridade, estado civil, tabagismo, etilismo, avaliação de equipamento de proteção
pessoal, lazer e hábitos no trabalho (tabagismo, lavar as mãos e corpo) e outros aspectos
do perfil epidemiológico.
Clínica: anamnese espontânea e uma anamnese dirigida. Contempla, também, da-
dos da história fisiológica, história patológica pregressa (com ênfase nas neuropatias,
distúrbios endócrinos, metabólicos e cardíacos), história familiar, história social, uso de
medicamentos (frequente, atual ou passado), seguidos de um exame clínico detalhado,
com ênfase no sistema neurológico e da solicitação dos exames laboratoriais e exames
complementares (eletroencefalograma com mapeamento cerebral – ECG, eletroneuro-
miografia – EMG ou outros), nos casos indicados.
Psicológica: com objetivos prognósticos, com a realização da anamnese e aplicação
dos testes neuropsicológicos. A bateria de testes é composta por instrumentos específicos
para avaliar funções que podem estar alteradas em decorrência da exposição ocupacional
a substâncias neurotóxicas 12. A bateria a ser escolhida é definida a partir da realidade local
e da capacidade da equipe de saúde local em aplicá-la, com psicólogos capacitados na área.
A utilização dos testes neuropsicológicos, nos anos recentes, por avaliarem funções
corticais e subcorticais, proporcionou maior acuidade no exame das pessoas ao identificar
precocemente alterações em populações expostas a poluentes químicos ocupacionais e
ambientais. Entretanto, esses mesmos tetes apresentam algumas limitações, como a pos-
sibilidade de lidar com déficits preexistentes à exposição, e as normas dos mesmos são
em sua maioria, categorizadas para a população geral e não para subgrupos específicos
como aqueles expostos ocupacional e ambientalmente a substâncias neurotóxicas 12.
Evidentemente, a escolha dos testes e sua aplicação determinam a qualidade e precisão
das respostas obtidas.
Em relação ao mercúrio orgânico, os estudos neuropsicológicos têm tido uma apli-
cação mais recente, principalmente em crianças, de forma a avaliar o desenvolvimento
psicomotor.
A questão que se coloca para as populações tradicionais da Amazônia quanto à apli-
cação dos testes neurocomportamentais, é que a maioria desses não está normatizado
no Brasil, apresentando dados validados para as populações americana e europeia 13. A
compreensão das perguntas formuladas, assim como a escolaridade interferem na perfor-
mance dos testes, o que sugere que os valores obtidos podem ser sub ou superestimados
quando comparados a outros grupos populacionais.
Além dessas etapas descritas, podem ser necessários outros níveis de avaliação espe-
cializada do paciente. Após esses momentos, a discussão de caso individual, com uma
abordagem interdisciplinar, estabeleceria a interface das diversas disciplinas envolvidas
no processo de avaliação, inclusive com os dados da avaliação ambiental e das condições
de trabalho apontadas pelos estudos específicos. Merecem especial atenção crianças,
mulheres em faixa reprodutiva e/ou amamentando e gestantes. Deve ser aplicado por

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) 87


Capítulo 9: Critérios para o Diagnóstico das Intoxicações por Mercúrio em Populações Expostas

pessoal treinado, após teste-piloto para avaliar a compreensão por parte dos trabalhadores
e da população em geral.
Vale destacar que a entrega dos resultados dos exames deve ser feita individualmente à
população avaliada, seguida da notificação dos casos identificados. As diretrizes terapêuti-
cas serão discutidas a seguir, de acordo com o tipo de exposição e/ou a forma do mercúrio.

Critérios Diagnósticos

O requisito primário para o diagnóstico de intoxicação por mercúrio, tanto do me-


tilmercúrio como do metálico é a história de exposição ambiental e/ou ocupacional. Os
casos a serem acompanhados são os indivíduos expostos que apresentem sinais e sintomas
característicos de intoxicação e/ou apresente resultados laboratoriais alterados. Detalham-
-se, em seguida, os critérios clínicos diagnósticos nas intoxicações crônicas para as duas
formas principais de mercúrio.

Mercúrio metálico

O diagnóstico de hidrargirismo (intoxicação crônica por mercúrio metálico) de


natureza ocupacional é essencialmente epidemiológico e clínico, fundamentando-se na
história ocupacional e na observação de sintomas e sinais clínicos e laboratoriais. Na
região amazônica, existem relatos de efeitos clínicos associados à exposição ao vapor de
mercúrio, tais como irritabilidade, nervosismo, ansiedade, depressão, tremor, perda de
memória, alterações dermatológicas, sialorreia, gosto metálico, irritação ocular, dispneia 7,
14, 15
, bem como alterações em testes neuropsicológicos 9. A frequência de tremor, o tempo
de reação e a estabilidade postural podem estar alterados, quando mensuradas através
de testes neuromotores computadorizados em indivíduos expostos ocupacionalmente 17.

Critérios para o diagnóstico de hidrargirismo

Clínico: presença do comprometimento da memória, afetando o registro, o armaze-


namento e a evocação de novas informações; processamento de informações alterado,
de modo que o indivíduo tem progressivamente dificuldade em responder a mais de
um estímulo de cada vez, deterioração das habilidades motoras (apraxias) e percep-
ção (agnosias); atividades do dia-a-dia prejudicadas; ausência de distúrbios sistêmicos
e/ou outra doença do sistema nervoso central que poderiam acarretar déficit cognitivo 20.
Em fase avançada da intoxicação ocorrem alterações motoras, como alterações da
marcha entre outras e achados neurológicos focais como alterações de sensibilidade,
reflexos e nistagmo 25.
Exames complementares: normais (EEG, TCC, RM) ou com alterações inespecíficas
(por exemplo, EEG com lentificação). Os exames complementares servem para a exclusão
de outras condições que poderiam provocar quadros neurológicos e neurocomportamen-

88 Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS)


Cooperação Técnica entre Brasil, Bolívia e Colômbia para o Fortalecimento da
Vigilância em Saúde de Populações Expostas ao Mercúrio

tais que não o hidrargirismo. Sugere-se a eletroneuromiografia, eletroencefalograma e


outros a critério médico.
Laboratorial: dosagem de mercúrio na urina (Hg-U) ajustado pela creatinina e no
sangue (Hg-S). Hemograma completo, glicose, ureia, creatinina, hepatograma e urinálise,
nível de proteína na urina, N-acetil-beta-d-glicosaminidase (NAG) na urina, Alanina
desidrogenase (ALA-D) 17. Esses testes não são necessários para o diagnóstico, cuja
orientação depende do contexto clínico-epidemiológico, porém são importantes para
avaliar a saúde e efeitos do mercúrio, devendo ser analisados em conjunto com os dados
ambientais de exposição.
Diagnóstico diferencial: intoxicações por outras substâncias químicas, patologias
infecciosas, uso de álcool, história de doenças neurológicas, história clínica de doença
renal, psiquiátricas, uso de medicamentos, entre outras 14, 15, 18, 25.
Diretrizes terapêuticas: em casos de confirmação da intoxicação, o afastamento da
exposição deve ocorrer imediatamente, não se permitindo a reexposição. A normaliza-
ção ou estabilidade dos níveis biológicos das substâncias, após afastamento do ambiente
de trabalho, não descaracteriza a intoxicação e nem constitui critério para retorno a um
ambiente ou função de risco de exposição 11, 12.
Recomendam-se:
• Tratamento das intercorrências clínicas.
• Reposição de vitaminas e sais minerais.
• Acompanhamento psicoterápico, nos casos de perturbações psíquicas e sociais.
• Readaptação profissional.
• Acompanhamento clínico semestral ou a critério médico de acordo com o quadro
apresentado pelo paciente.
A equipe de saúde local deve prestar o suporte inicial de acordo com quadro clínico
apresentado, realizar a notificação e encaminhar o paciente para atendimento de média
e alta complexidade no Sistema de Saúde (no caso do Brasil, o Sistema Único de Saúde
– SUS). Deve ser orientada a coleta de amostra para pesquisa de mercúrio no sangue
(Hg-S) e urina (Hg-U).
Não basta apenas identificar momentaneamente a situação de saúde dos trabalhadores.
Faz-se necessário monitoramento clínico periódico, acompanhado de monitoramento
biológico e ambiental, com o objetivo de prevenir as sequelas irreversíveis, de forma que,
na presença de sinais e sintomas característicos de intoxicação, esses sejam imediatamente
afastados do trabalho e tenham seus direitos trabalhistas garantidos.

Metilmercúrio

A Doença de Minamata – DM (intoxicação por metilmercúrio) pode ser observada


pela seguinte sequência de sintomas apresentados pelos pacientes.

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) 89


Capítulo 9: Critérios para o Diagnóstico das Intoxicações por Mercúrio em Populações Expostas

Critérios para o diagnóstico da Doença de Minamata – DM (intoxicação


por metilmercúrio)

Clínico em baixos níveis de exposição: distúrbios do sono, dor de cabeça


fadiga, dificuldade de concentração, depressão, perda de memória, diminuição da coor-
denação motora fina, dores musculares e articulares, câimbras musculares; desconforto
gastrointestinal, frequência cardíaca alterada, hipertensão, tremor, dormência ou formi-
gamento em torno da boca 19.
Clínico em níveis mais alto de exposição: dormência ou formigamento nas mãos e
pés, andar desajeitado, dificuldade para caminhar (ataxia), fala arrastada, visão de túnel,
diminuição da acuidade visual, tremor, movimento anormal dos olhos e diminuição da
audição 20-25.
Os sintomas e sinais referidos não devem ser considerados isoladamente. Dessa
maneira, um exame neurológico detalhado é necessário para o diagnóstico, associado
à história de exposição dos habitantes. A combinação dos seguintes sintomas deve ser
considerada: distúrbios sensitivos e ataxia; distúrbios sensoriais e suspeita de ataxia,
distúrbios de equilíbrio e diminuição concêntrica bilateral do campo visual; distúrbios
sensitivos e diminuição concêntrica bilateral do campo visual e outros distúrbios oftál-
micos ou da audição 20-25.
A presença isolada do distúrbio sensitivo e da ataxia não pode ser considerada como
intoxicação pelo metilmercúrio 20-25.
Esses sintomas e sinais, na ausência de distúrbios sistêmicos e/ou outra doença do
sistema nervoso central que poderiam acarretá-los, associados aos dados epidemiológicos
e/ou dos biomarcadores e na presença de exames complementares normais (EEG, TCC,
RM) ou com alterações inespecíficas, confirmariam o diagnóstico.
Laboratorial: pesquisa de mercúrio no cabelo (Hg-C) e no sangue (HG-S), hemograma
completo, glicose, ureia, creatinina, hepatograma, nível de proteína na urina, N-acetil-
-beta-d-glicosaminidase (NAG) na urina, Alanina desidrogenase (ALA-D) 25. Como em
relação ao mercúrio metálico, embora esses testes não sejam essenciais ao diagnóstico, os
mesmos contribuem de forma relevante para a avaliação da saúde e efeitos do mercúrio
e devem ser analisados em conjunto com os dados ambientais de exposição.
Complementares: eletroneuromiografia, campimetria e outros a critério médico.
Servem para a exclusão de outras condições que poderiam provocar quadro clínico,
neurológico e neuropsicológico que não a DM, assim como também para avaliar danos
maiores e com efeitos prognósticos.
Diagnóstico diferencial: doenças infectocontagiosas, psiquiátricas, neurológicas,
alcoolismo, uso de medicamentos e outras substâncias psicoativas e uso de agrotóxicos
e outras exposições a substâncias químicas 12, 14.

90 Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS)


Cooperação Técnica entre Brasil, Bolívia e Colômbia para o Fortalecimento da
Vigilância em Saúde de Populações Expostas ao Mercúrio

Diretrizes terapêuticas

Orientação nutricional: as estratégias de comunicação de risco devem considerar di-


versos aspectos, principalmente quando se tratar de populações tradicionais da Amazônia,
cujo alimento principal é o peixe. Essas estratégias devem proporcionar uma orientação
adequada para que os mesmos possam escolher adequadamente os tipos de peixes,com
baixos níveis de mercúrio de forma a não perder essa dieta nutritiva 26, 27.
Recomendam-se:
• Tratamento das intercorrências clínicas.
• Reposição de vitaminas e sais minerais, a critério médico.
• Acompanhamento psicoterápico, nos casos de perturbações psíquicas e sociais.
• Acompanhamento clínico semestral ou a critério médico, de acordo com o quadro
apresentado pelo paciente.
A equipe de saúde local deve prestar o suporte inicial de acordo com quadro clínico
apresentado, realizar a notificação e encaminhar o paciente para atendimento de média e
alta complexidade no Sistema Único de Saúde com brevidade. Deve ser orientada a coleta
de amostra para pesquisa de mercúrio no cabelo (Hg-C) e sangue (Hg-S) .
No Quadro 1 (em anexo) apresenta-se uma lista de doenças e seus respectivos CID-
10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças) e problemas ligados à saúde que
podem ser relacionadas à exposição ao mercúrio e seus compostos, nos termos da Portaria
nº 1.339 de 18/11/1999, MS, Brasil, 1999 28.

Conclusões

Em relação à intoxicação crônica por mercúrio metálico (hidrargirismo), temos tido


o relato de diversos casos nos mais variados estados e países, sem uma correspondência
equivalente nas notificações, o que se torna prioritário nesse momento para o desen-
volvimento de ações de vigilância e atenção integral a estas populações. No entanto, no
caso da Doença de Minamata, a sua não identificação até o momento na Amazônia pode
fundamentar a hipótese de que a mesma poderá não ocorrer na Amazônia com todas suas
características patológicas. Evidencia-se essa possibilidade, considerando as diferenças
ambientais em Minamata e a questão ambiental na Amazônia assim como as caracterís-
ticas sociais, culturais, econômicas e genéticas das populações envolvidas e a presença de
outras enfermidades no ambiente amazônico, bem diferente das que ocorrem no Japão 29
Alguns estudos, mesmo considerando as diferentes metodologias utilizadas, apontam
para a possibilidade de a região Amazônica estar presenciando indicativo de ação silenciosa
dessa substância nos ribeirinhos expostos 29-32, com o provável surgimento da expressão
clínica da intoxicação por mercúrio na Amazônia. Não se pode deixar de reconhecer que
existem diferenças pontuais, específicas e queixas entre as populações expostas que me-
recem especial atenção, já que estas podem atuar como indicadores na detecção precoce

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) 91


Capítulo 9: Critérios para o Diagnóstico das Intoxicações por Mercúrio em Populações Expostas

de sinais e sintomas com potencial de reversibilidade tanto na enfermidade de origem


ocupacional como ambiental.
O estado da arte sobre a contaminação ambiental pelo mercúrio na Amazônia tem
apontado claramente no sentido de se adotar estratégias preventivas e de monitoramento
dessa contaminação, pois, hoje já não cabe, pelos avanços obtidos no campo da saúde
ambiental, esperar que as populações apresentem sintomas clássicos da doença, para
intervir e evitar maiores danos.
Nesse sentido, os saberes das populações expostas, tanto de trabalhadores como das
tradicionais da Amazônia, devem ser incorporados aos estudos desses agravos. A litera-
tura tem mostrado que essas populações conseguem distinguir diferenças, mesmo sutis
ou imperceptíveis talvez para pessoas de outras culturas, sobre, por exemplo, elementos
que compõem seu território e que exprimem o nível de percepção de sua complexidade
33
”. E, pensando na biodiversidade amazônica, não podemos esquecer que, nessa floresta,
além da imensa diversidade de insetos e plantas, também vive um povo, com toda sua
pluralidade 34.
Tais considerações são prioritárias para subsidiar as medidas de intervenção visando o
treinamento das equipes locais de saúde para ações de diagnóstico, tratamento e notificação
das intoxicações, contribuindo para o desenvolvimento de uma proposta de Vigilância
em Saúde das populações expostas, a ser assumido pelo Sistema de Saúde, articulando-as
com as ações de Vigilância Sanitária, Epidemiológica e Ambiental no Campo da Saúde
Ambiental e da Saúde do Trabalhador.

Referências
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92 Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS)


Cooperação Técnica entre Brasil, Bolívia e Colômbia para o Fortalecimento da
Vigilância em Saúde de Populações Expostas ao Mercúrio

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Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) 93


Capítulo 9: Critérios para o Diagnóstico das Intoxicações por Mercúrio em Populações Expostas

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28 Brasil. Ministério da Saúde. Decreto nº 1339 de 18 de novembro de 1999.
29 Pacheco-Ferreira H. Estudo dos efeitos a saúde em populações ribeirinhas expostas ao mercúrio
na Amazônia. Tesis de Doctorado. NAEA –UFPA, Belém, Pará; 2000.
30 Lebel J, Mergler D, Branches F, Lucotte M, Amorim M, Larribe F y Dolbec J. Neurotoxic effects
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31 Grandjean P, White R, Nielsen A. Methylmercury neurotoxicity in Amazonian children
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32 Araujo MA. Relatório Técnico Monitoramento do risco de neurotoxicidade em populações
ribeirinhas da Amazônia relacionado a contaminação ambiental por mercúrio: Vila de Barreiras,
Itaituba, Pará; maiode 2002.
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Grandes Projetos. Castro E, Moura EF, Maia MCS (orgs.). Editora Universitária-UFPA/Belém,
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34 D’Incao MA. Limites culturais na responsabilidade de conservação da biodiversidade. En: A
Amazônia e a crise da modernização. D’Incao MA, Silveira I M (orgs.). Museu Paraense Emilio
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94 Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS)


Cooperação Técnica entre Brasil, Bolívia e Colômbia para o Fortalecimento da
Vigilância em Saúde de Populações Expostas ao Mercúrio

ANEXO

Quadro 1 Lista de doenças e seus respectivos CID-10 (Classificação Estatística Internacional


de Doenças) e problemas ligados à saúde que podem ser relacionadas à exposição
ao mercúrio e seus compostos

Efeitos tóxicos do mercúrio e seus compostos T56.1


Efeitos Tóxicos Agudos T57.1
Encefalopatia Tóxica Aguda G92.1
Encefalopatia Tóxica Crônica G92.2
Outros transtornos mentais decorrentes de lesão e disfunção cerebrais e de doença física F06
Transtornos de personalidade e de comportamento decorrentes de doença, lesão e de disfunção de
F07
personalidade
Transtorno Mental Orgânico ou Sintomático não especificado F09
Episódios Depressivos F32
Neurastenia (Inclui “Síndrome de Fadiga) F48.0
Ataxia Cerebelosa G11.1
Outras formas especificadas de tremor G25.2
Transtorno extrapiramidal do movimento não especificado G25.9
Arritmias cardíacas I49
Gengivite Crônica K05.1
Estomatite Ulcerativa Crônica K12.1
Dermatite Alérgica de Contato L23
Doença Glomerular Crônica N03
Nefropatia Túbulo-Intersticial induzida por metais pesados N14.3
Transtorno Cognitivo Leve F06.7
Fonte: Portaria nº 1.339 de 18/11/1999, MS, Brasil, 1999 28.

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) 95


Resumo da Cooperação Técnica e
Recomendações
Alysson Lemos
Organização Pan-Americana da Saúde do Brasil

Jorge Mesquita Huet Machado


Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ

Ricardo Torres
Organização Pan-Americana da Saúde da Bolívia

Teófilo Monteiro
Organização Pan-Americana da Saúde da Colômbia
Cooperação Técnica entre Brasil, Bolívia e Colômbia para o Fortalecimento da
Vigilância em Saúde de Populações Expostas ao Mercúrio

Esta publicação é fruto da cooperação técnica entre Brasil, Bolívia e Colômbia orga-
nizada pela Organização Pan-Americana da Saúde – OPAS/OMS, tendo como objetivo o
fortalecimento dos sistemas de saúde para a atuação frente à problemática da exposição
humana ao mercúrio. Quatro foram as prioridades identificadas como necessárias para
viabilizar o fortalecimento da vigilância em saúde de populações expostas ao mercúrio,
a saber:
1. Vigilância em saúde (definição e implementação de instrumentos de notificação
de casos; estabelecimentos de sistemas de informação; percepção e comunicação
de riscos).
2. Metodologias analíticas de quantificação de mercúrio (compartilhamento de
técnicas e metodologias analíticas para quantificação de mercúrio; controle de
qualidade e capacitação).
3. Investigação e pesquisa (priorização de linhas de pesquisa sobre mercúrio; divul-
gação de informações).
4. Atenção à saúde (estabelecimentos de protocolos de diagnóstico e manejo clínico).

Durante a cooperação foram realizadas três reuniões, a primeira ocorreu de 01 a 03


de dezembro de 2010 na cidade de Bogotá, na Colômbia. Nessa reunião, foram definidas
as prioridades para a cooperação técnica.
A segunda reunião ocorreu de 03 a 05 de maio de 2011 na cidade de La Paz, na Bolívia.
Nessa reunião foi definida, entre os três países, uma proposta de declaração de princípios
para os sistemas de vigilância, a saber: “Proporcionar para as autoridades e sociedade um
sistema de vigilância em saúde que permita promover a saúde, prevenir, identificar, avaliar
e controlar os riscos por exposição a substâncias químicas, com base nos princípios da
oportunidade, equidade, universalidade e solidariedade, considerando o contexto social
e cultural das populações”.
A terceira reunião ocorreu no Brasil de 13 a 16 de setembro de 2011 na cidade de
Ananindeua-PA, na sede do Instituto Evandro Chagas (IEC). Essa foi a reunião de en-
cerramento da cooperação técnica, com a apresentação de diversos produtos, discussão
de desafios futuros e compromissos entre os países no âmbito da vigilância em saúde de
populações expostas ao mercúrio. Dentre os convidados é importante destacar a participa-
ção do presidente da comissão internacional de negociação do mercúrio (INC/PNUMA),
Fernando Lugris, além de representantes dos três países; também estiveram presentes os
representantes da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), partici-
pantes do projeto de Vigilância em Saúde Ambiental da Amazônia.
Dentre os produtos obtidos por esta cooperação técnica, três merecem destaque. O
primeiro deles diz respeito aos instrumentos e procedimentos para a notificação de casos
de intoxicação por mercúrio bem como de outras substâncias químicas. Brasil e Colôm-
bia já possuíam os instrumentos e fluxos definidos e diversos pontos foram discutidos
e aperfeiçoados durante a cooperação, entretanto é consenso entre todos que esse é um
processo contínuo de aperfeiçoamento. Mesmo que a Bolívia tenha gerado um instrumento

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) 99


Resumo da Cooperação Técnica e Recomendações

de notificação, ainda não o tem implementado e gerado o fluxo de informação definidos,


com base na experiência do Brasil e da Colômbia, foi possível a elaboração de protocolo
de vigilância em saúde de populações expostas ao mercúrio.
O segundo produto foi a capacitação em análises de mercúrio total e metilmercúrio
em amostras biológicas e ambientais (tecido capilar, sangue, urina, pescado e sedimentos)
A capacitação foi organizada pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS), a
Coordenação Geral de Vigilância Ambiental em Saúde (CGVAM/SVS/MS) e o Instituto
Evandro Chagas (IEC/SVS/MS). A capacitação teve como instrutores os profissionais da
Seção de Meio Ambiente (SAMAM) do Instituto Evandro Chagas sob a supervisão dos
doutores Hirokatsu Akagi e Sonoda, peritos japoneses enviados pela Japan International
Cooperation Agency (JICA). Esta atividade pode ser entendida como o embrião para con-
solidação de uma futura Rede Internacional de Colaboração Técnica e Tecnológica entre
os países da região amazônica e, dessa forma, avançar no processo de fortalecimento da
vigilância em saúde ambiental na região. O terceiro produto é a edição dessa publicação
elaborada por especialistas dos três países.
Esta cooperação também possibilitou a definição de uma rede de relacionamento
denominada Rede de Vigilância em Saúde por Exposição ao Mercúrio (REDVIGIMER).
A rede tem como missão a democratização de informações, intercâmbio de experiências,
formação de grupos para discussões específicas, contribuindo para o fortalecimento da
área de vigilância em saúde de populações expostas ao mercúrio. A página web da rede
pode ser acessada pelo seguinte endereço: http://bvs.per.paho.org/redvigmer/p/index.html

Recomendações

Mesmo com todo avanço e esforços para o fortalecimento da vigilância em saúde de


populações expostas ao mercúrio, existem várias lacunas de conhecimento e processos
que ainda merecem especial atenção de forma a possibilitar avanços concretos para a
vigilância, dentre as quais podemos identificar as seguintes recomendações:
• Necessidade de estabelecimento de protocolos de diagnóstico clínico para popula-
ções expostas ao mercúrio, considerando todas as suas possíveis formas.
• Necessidade de utilização de metodologias de avaliação de risco à saúde humana
como suporte para as ações de vigilância em saúde, construindo um cenário de
risco com o estabelecimento de áreas prioritárias e definição de fontes de emissão
e de exposição humana.
• Utilização dos indicadores de vigilância em saúde ambiental acordados pelos pa-
íses da OTCA; estão previstos três indicadores de acompanhamento do processo
de vigilância: a incidência de casos de intoxicação por mercúrio, identificação de
populações expostas, e a identificação de áreas prioritárias.
• Ampliar a REDVIGMER para os países da OTCA de maneira oficial através dos
mecanismos do Tratado.

100 Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS)


Cooperação Técnica entre Brasil, Bolívia e Colômbia para o Fortalecimento da
Vigilância em Saúde de Populações Expostas ao Mercúrio

• Necessidade de ampliação da capacidade analítica dos países para quantificação


do mercúrio em amostras ambientais e biológicas.
• Necessidade de estabelecimento de programas de intercalibração entre laboratórios.
• Promover a melhoria dos sistemas de notificação de intoxicação, com vistas à
redução da subnotificação e estabelecer uma linha de base para, a partir daí visua-
lizarmos a redução dos casos e possibilitar a avaliação das medidas de prevenção.
• Estabelecer critérios para a definição de áreas prioritárias de populações expostas
ao mercúrio, que permitirão delimitação de áreas para a implementação de me-
didas de prevenção.
• Promover a capacitação dos profissionais de saúde para a atuação junto à problemá-
tica da exposição humana ao mercúrio, estabelecendo um programa de formação
em vigilância em saúde na região.
• Considerar a mobilização do mercúrio natural relacionado com atividades antro-
pogênicas, configurando uma importante fonte de mercúrio para o ecossistema
amazônico.
• Solicitar junto à terceira sessão do Comitê Internacional de Negociação de pre-
paração de instrumento global juridicamente vinculante em Mercúrio, INC-3
a inclusão das fontes de mercúrio ocasionadas pelo incremento das atividades
antropogênicas múltiplas, de queima de biomassa, desmatamento e aceleração de
processos erosivos na documentação que está em negociação.
Esta publicação foi elaborada com o aporte de vários profissionais dos três países que
integram essa cooperação conjunta, com suficiente experiência nos temas tratados em
cada um dos capítulos, orientados a fortalecer os programas de vigilância em saúde de
populações expostas ao mercúrio, para a qual esta publicação aporta suficientes elementos.

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) 101


ISBN: 978-92-75-71658-8

9 789275 716588

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