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Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e

Medicina do Trabalho [FUNDACENTRO]


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TRABALHO, SAÚDE E
AMBIENTE

Doenças associadas ao asbesto


e a prova pericial na Justiça do Trabalho

Geancarlo Borges Caruso

São Paulo
2014
Geancarlo Borges Caruso

Doenças associadas ao asbesto


e a prova pericial na Justiça do Trabalho

Dissertação apresentada ao Programa de


Pós-Graduação da Fundação Jorge Duprat
Figueiredo de Segurança e Medicina do
Trabalho – Fundacentro, como parte dos
requisitos para obtenção do título de Mestre
em Trabalho, Saúde e Ambiente.

Área de concentração: Segurança e Saúde


do Trabalhador

Linha de pesquisa: Estudo de Doenças


Relacionadas ao Trabalho

Orientador: Prof. Dr. Eduardo Algranti


Coorientador: Prof.Dr.Eduardo Garcia Garcia

São Paulo
2014
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Serviço de Documentação e Biblioteca – SDB / Fundacentro
São Paulo – SP
Erika Alves dos Santos CRB-8/7110

1234567890Caruso, Geancarlo Borges.

1234567890Doenças associadas ao asbesto e a prova pericial na Justiça do


1234567Trabalho [texto] / Geancarlo Borges Caruso. – 2015.
123456789075 f., enc. ; 29 cm.
1234567890Orientador: Eduardo Algranti.
1234567890Co-orientador: Eduardo Garcia Garcia.
1234567890Texto datilografado.
1234567890Dissertação (mestrado)–Fundação Jorge Duprat Figueiredo de
1234567Segurança e Medicina do Trabalho, São Paulo, 2015.
1234567890Avaliação da qualidade das perícias médicas lavradas nas ações
1234567indenizatórias julgadas pela Justiça do Trabalho em casos de doenças
1234567associadas à exposição ao asbesto.
1234567890Referências: f. 59-69.
12345678901. Indenização de doenças ocupacionais – Asbesto. 2. Asbesto –
1234567relação entre a profissão e a doença. 3. Papel da inspeção médica do
1234567trabalho. I. Algranti, Eduardo. II. Garcia Garcia, Eduardo. III. Título.

É expressamente proibida a comercialização deste documento tanto na sua forma impressa como
eletrônica. Sua reprodução total ou parcial é permitida exclusivamente para fins acadêmicos e científicos,
desde que na reprodução figure a identificação do autor, título, instituição e ano da dissertação.
AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Professor Doutor Eduardo Algranti pela orientação, pelo apoio


e confiança em mim depositados. Às colegas Fernanda Giannasi e
Giuliana Cambauva Orlandi Cassiano pela especial e afetuosa colaboração. Agradeço,
por fim, os Professores Doutores Ubiratan de Paula Santos e Eduardo Mello De
Capitani por terem aceitado participar desta pesquisa.
RESUMO

Introdução. Diversas doenças têm sido associadas à exposição ao asbesto. Há


dificuldades em estabelecer o nexo causal entre estas doenças e a atividade
desenvolvida pelo trabalhador. As vítimas têm buscado a tutela do Poder Judiciário para
ver reconhecidos como ocupacional a ocorrência desses agravos, demandando uma
atuação necessária do médico perito para subsidiar o juízo na tomada da decisão.
Objetivos. Avaliar a qualidade das perícias médicas lavradas nas ações indenizatórias
julgadas pela Justiça do Trabalho, tomando as doenças associadas ao asbesto como
causa base. Metodologia. Desenvolveu-se um instrumento de análise de nexo causal
baseado nos critérios de HILL (1965), através do qual foi avaliado o conteúdo dos laudos
periciais. Os 34 laudos periciais selecionados foram avaliados por dois julgadores de
forma independente. Analisou-se a concordância entre a avaliação dos julgamentos
interobservadores e intra-observador, e a concordância da sentença com o resultado da
perícia. Resultados. A correlação interobservador dos resultados entre as notas globais
foi moderada (r = 0,63004; P-valor ≤ 0,001). Entretanto, a correlação entre os quesitos
revelou que em 50% deles não houve concordância, e em 50% a concordância foi
considerada fraca. A reavaliação de 6 (seis) laudos periciais para análises
intraobservadores mostrou homogeneidade do julgamento. O resultado de 91,18% das
perícias foi acatado como fundamento nas sentenças proferidas. Conclusões. A
concordância interavaliadores foi considerada pobre em 50% dos quesitos e nula em
50% dos quesitos, o que pode refletir a baixa qualidade das perícias analisadas. A
concordância intraobservador foi boa, o que demonstrou consistência no preenchimento
do instrumento. Os resultados das perícias foram acatados em 91,18% dos casos, o que
evidencia que a conclusão do perito tem influência direta no julgamento da causa.

Palavras-chave: asbesto; prova pericial; Justiça do Trabalho; Brasil.


ABSTRACT

Introduction. Several diseases have been linked to asbestos exposure. There are
difficulties in establishing a causal relationship between these diseases and the activity
performed by the employee. The compensation claims filed by victims are processed in
the Labor Court, which analyzes the cause based on medical expertise. Objectives. To
assess the quality of legal medical investigations that examined the causal relationship
between asbestos exposure and disease. Methods. A questionnaire was created to assess
the quality of expert reports, based on Hill’s criteria of causation (1965). The 34
selected reports were evaluated independently by two experts. Inter-observer and intra-
observer agreement, and sentencing agreement with the result of expertise were
analyzed. Results. The inter-observer correlation between the overall scores was
moderate (r = 0.63004; P-value ≤ 0.001). However, the agreement between the
questions revealed that in 50% was null and in other 50% was considered weak. The
reevaluation of 6 expert reports for intra-observer analysis showed homogeneity of
answers. In 91.18% of cases, the judge accepted the result of the expert report.
Conclusions. The inter-observer agreement was considered poor in 50% of the
questions and null in the other 50%, which may reflect the low quality of the expert
reports. The intra-observer agreement was good, which pointed to the consistency of
responses to the items. The results of the expert reports show that the conclusion of the
expert has direct influence (91.18%) on the outcome of the lawsuit.

Keywords: asbestos; expert evidence; Labor Courts; Brazil.


24

LISTA DE QUADROS E ILUSTRAÇÕES

Quadro 1. Doenças associadas ao asbesto e sua relação com o trabalho (adaptado


de Schilling, 1984). ..................................................................................... 25
Quadro 2. Critérios de HILL (1965), adaptados para as doenças associadas ao
asbesto. ........................................................................................................ 26
Figura 1. Dispersão do percentual de pontuação, segundo Avaliador....................42
LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Reclamações trabalhistas com pelo menos um dos motivos abaixo


relacionados. TRT, 2ª Região. Período 2008-2014. ................................. 28
Tabela 2. Reclamações trabalhistas com pelo menos um dos descritores abaixo
relacionados antes da limpeza dos dados. TRT 2ª Região, 2005-2013 .. 33
Tabela 3. Reclamações trabalhistas com pelo menos um dos descritores abaixo
relacionados após a limpeza dos dados. TRT 2ª Região, 2005-2013 ..... 34
Tabela 4. Resultados do pré-teste do instrumento de avaliação, realizado em julho
de 2013. ....................................................................................................... 38
Tabela 5. Resultados das análises dos 34 laudos periciais selecionados, sobre
doenças associadas ao asbesto. TRT 2ª Região, 2005-2013 .................... 40
Tabela 6. Percentual de pontuação, segundo avaliador. TRT 2ª Região, 2005-2013.
..................................................................................................................... 41
Tabela 7. Distribuição dos motivos de demanda segundo avaliador. Número de
perícias analisadas e percentual. TRT 2ª Região, 2005-2013. ................ 43
Tabela 8. Distribuição conjunta dos motivos de demanda segundo Avaliador.
Número de perícias analisadas e percentual.TRT 2ª Região, 2005-2013.
..................................................................................................................... 43
Tabela 9. Distribuição conjunta dos motivos (casos com mais de 1 motivo
agrupados pela primeira descrição) de demanda segundo Avaliador.
Número de perícias analisadas e percentual. TRT 2ª Região, 2005-2013.
..................................................................................................................... 44
Tabela 10. Distribuição conjunta dos motivos (casos com mais de 1 motivo
agrupados pela segunda descrição) de demanda segundo Avaliador.
Número de perícias analisadas e percentual. TRT 2ª Região, 2005-2013.
..................................................................................................................... 44
Tabela 11. Resumo das análises interavaliadores, segundo pontos considerados.
TRT 2ª Região, 2005-2013. ........................................................................ 45
Tabela 12. Distribuição conjunta dos pontos atribuídos ao quesito 3 do
instrumento, segundo avaliador. .............................................................. 45
Tabela 13. Resultados do teste de consistência, realizado em agosto de 2014. TRT
2ª Região, 2005-2013. ................................................................................. 46
Tabela 14. Percentual de pontuação, segundo avaliador e avaliações. TRT 2ª
Região, 2005-2013. ..................................................................................... 46
Tabela 15. Distribuição conjunta dos motivos de demanda segundo avaliação.
Avaliador “A” e “B”. TRT 2ª Região, 2005-2013. .................................. 47
Tabela 16. Resumo das análises intra-avaliador, segundo pontos considerados.
TRT 2ª Região, 2005-2013. ........................................................................ 48
Tabela 17. Concordância entre a conclusão do perito a definição da demanda. TRT
2ª Região, 2005-2013. ................................................................................. 50
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 10
1.1. A motivação e a relevância do trabalho .............................................................. 10
1.2. Asbesto: conceito, mineralogia e propriedades ................................................... 10
1.3. A evolução do uso do asbesto no mundo ............................................................. 12
1.4. O asbesto e sua utilização no Brasil ..................................................................... 13
1.5. Os primeiros estudos a respeito das doenças associadas ao asbesto ................. 14
1.6. Os primeiros estudos publicados no Brasil ......................................................... 16
1.7. As doenças associadas ao asbesto ......................................................................... 18
1.7.1. Mecanismo de ação ............................................................................................. 18
1.7.2. A asbestose .......................................................................................................... 19
1.7.3. O câncer de pulmão associado ao asbesto ........................................................ 20
1.7.4. O mesotelioma ..................................................................................................... 20
1.7.5. As alterações pleurais não neoplásicas ............................................................. 21
1.7.6. A doença pulmonar obstrutiva crônica ocupacional ....................................... 22
1.7.7. Os critérios e dificuldades no diagnóstico ........................................................ 23
1.8. As doenças associadas ao asbesto e sua relação com o trabalho ....................... 24
1.9. As ações judiciais propostas pelas vítimas do asbesto ........................................ 27
2. OBJETIVOS ............................................................................................................. 30
2.1. Objetivo geral ......................................................................................................... 30
2.2. Objetivos específicos .............................................................................................. 30
3. MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................... 31
3.1. Delineamento do estudo ........................................................................................ 31
3.2. Etapas do estudo .................................................................................................... 31
3.3. População e amostragem ...................................................................................... 32
3.4. Fonte e coleta de dados.......................................................................................... 33
3.5. Equipe de trabalho ................................................................................................ 34
3.6. Desenvolvimento do instrumento ......................................................................... 34
3.7. Sistema de Pontuação ............................................................................................ 36
3.8. Pré-teste do instrumento ....................................................................................... 37
3.9. Consistência intra-avaliador................................................................................. 38
3.10. Análise dos dados ................................................................................................. 38
9

3.11. Considerações éticas ............................................................................................ 39


4. RESULTADOS ......................................................................................................... 40
4.1. Análise interavaliadores ........................................................................................ 40
4.2. Análise intra-avaliador ......................................................................................... 46
4.3. A conclusão do perito e o julgamento da causa .................................................. 49
5. DISCUSSÃO ............................................................................................................. 51
5.1. Da metodologia ...................................................................................................... 51
5.2. Do instrumento ...................................................................................................... 51
5.3. Resumo dos principais achados ............................................................................ 52
5.4. Concordância entre os avaliadores ...................................................................... 53
5.5. Concordância intra-avaliador .............................................................................. 55
5.6. Da concordância entre perícia e sentença ........................................................... 55
5.7. Limitações do estudo ............................................................................................. 57
6. CONCLUSÕES......................................................................................................... 58
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 59
APÊNDICE ................................................................................................................... 70
Apêndice A - Avaliação de Conteúdo de Perícias Médicas Judiciais em Doenças
Associadas ao Asbesto .................................................................................................. 71
Apêndice B - Instruções para o preenchimento do Instrumento de Avaliação de
Conteúdo Técnico em Perícias Médicas Judiciais por suspeitas de Doenças
Associadas ao Asbesto .................................................................................................. 73
10

1. INTRODUÇÃO

1.1. A motivação e a relevância do trabalho

No âmbito da Justiça do Trabalho, as ações indenizatórias decorrentes de


acidentes e doenças relacionadas ao trabalho são algo relativamente novo. Isso porque
estas questões vieram para a competência da Justiça do Trabalho após a promulgação da
Emenda Constitucional nº 45 de 2004. Com isso, os Juízes do Trabalho passaram a se
deparar com inúmeros casos de alegação de doenças ocupacionais (SILVA, 2010). Essa
nova competência colocou em destaque a figura do médico perito, responsável por
caracterizar a ocorrência destes agravos, com destaque para a investigação do nexo de
causalidade entre o fator de risco e a lesão (COLLUCI, 2014). E os pontos de
intersecção existentes entre o trabalho do médico perito e do juiz colocam nas mãos
daquele a responsabilidade de influir sobre a decisão judicial (MANZI, 2014).

Ocorre que tem havido dificuldades na realização das perícias médicas


judiciais no âmbito da Justiça do Trabalho, não obstante os parâmetros de avaliação ou
critérios já existentes para a elaboração de laudos, expedidos pelo Ministério da Saúde,
pelo Instituto Nacional do Seguro Social e pelo Conselho Federal de Medicina. Da
mesma forma, os Juízes do Trabalho, de modo geral, também se viram despreparados
para analisar esta questão, em face de complexidade da matéria envolvida (COLUCCI,
2014). Tendo em vistas estes fatores, esta pesquisa pretende avaliar a qualidade do
trabalho do médico perito no âmbito da Justiça do Trabalho, bem como verificar a
influência da conclusão do perito no julgamento da demanda. As doenças associadas ao
asbesto foram adotadas como causa base de investigação, em razão da ausência de
critérios claros para abordar esta questão de saúde, e do despreparo dos médicos para
diagnosticar estas doenças (FUNDACENTRO, 2006).

1.2. Asbesto: conceito, mineralogia e propriedades

1
O asbesto (ou amianto) é uma fibra de origem mineral que pode ser
encontrada em quase toda a crosta terrestre (CAPELOZZI, 2001). Ela é extraída de rochas

1
Os termos “asbesto” e “amianto” têm mesmo significado. No grego significam duas características deste
mineral que são respectivamente: incombustível (asbesto) e incorruptível (amianto) (TEIXEIRA, 1986).
Atualmente, as duas denominações são utilizadas de modo indiferente, sendo o termo amianto preferido
11

metamórficas eruptivas que, por um processo natural de recristalização, transformam-se


em material fibroso (CASTRO, GIANNASI E NOVELLO, 2003) 2. Por conta de suas
características físico-químicas as fibras de asbesto apresentam alta resistência à tração e
à degradação térmica.

O asbesto se divide em dois grandes grupos: o da serpentina e dos


anfibólios. O grupo da serpentina contém somente uma variedade – o crisotila –, de
características sedosas e flexíveis. Já no grupo dos anfibólios são conhecidas cinco
variedades: a crocidolita, a amosita, a antofilita, e duas outras variedades menos
comuns, a tremolita e a actinolita (FERRANTINI, 1986; NOGUEIRA, 1988; FERREIRA
FILHO E LINARES, 2009) 3.

Mediante um tratamento adequado, o asbesto origina fibras industrialmente


aproveitáveis (TEIXEIRA, 1986) e tem sido utilizado em milhares de atividades e como
matéria-prima numa série muito ampla de produtos (NOGUEIRA, 1988). Na construção
civil o asbesto tem sido empregado com o cimento na confecção de telhas; na
construção naval, na isolação de motores, isolação térmica e sonora; em aplicações
têxteis, para a fabricação de vestimentas de proteção contra o fogo, revestimentos de
salas de espetáculos, filtros para a indústria química; na indústria automobilística,
utilizado nos sistemas de freios de veículos (TEIXEIRA, 1986).

No entanto, devido às restrições ao uso do asbesto no mundo, muitas destas


aplicações foram abandonadas (FERREIRA FILHO E LINARES, 2009); outras, no entanto,
ainda são exercidas sob condições estritamente regulamentadas, apesar da deficiente
fiscalização (GIANNASI, 2012). Nos dias atuais, o uso do asbesto limita-se, praticamente,
a países em desenvolvimento (OMS, 2006; ALGRANTI E DE CAPITANI, 2014), em
projetos habitacionais e em redes de distribuição de água, principalmente em razão do
seu baixo custo de produção (FERREIRA FILHO E LINARES, 2009).

pelas línguas latinas e o termo asbesto pelas línguas anglo-saxônicas (NOGUEIRA, 1988). No presente
trabalho será utilizado o termo “asbesto”.
2
A principal diferença do asbesto em relação às demais variedades de silicatos não-asbestiformes é o
formato fibroso de sua apresentação, cuja relação cumprimento-diâmetro é maior ou igual a 3:1.
3
Os anfibólios não são mais minerados devido à restrição de seu uso; entretanto, os maiores depósitos de
crisotila em exploração apresentam contaminação geológica natural por anfibólios (ALGRANTI E DE
CAPITANI, 2014).
12

1.3. A evolução do uso do asbesto no mundo

O asbesto já era extraído há 2.000 anos pelos antigos romanos, de minas


situadas nos Alpes italianos (NOGUEIRA, 1988). Suas fibras foram utilizadas ao longo da
Antiguidade até o final da Idade Média na fabricação de mechas para as lamparinas,
panos para mesas e sudários para cremação. No entanto, todas estas aplicações
representavam apenas um uso marginal do asbesto. O grande desenvolvimento começou
mesmo na segunda metade do século XIX, para atender às necessidades advindas da
Revolução Industrial. A máquina a vapor precisava de um isolante resistente e maleável,
e tudo isto a fibra do asbesto proporcionava a um custo muito baixo (FERRANTINI,
1986). Desde então, a utilização industrial do asbesto alargou-se consideravelmente no
mundo moderno (NOGUEIRA ET AL., 1975). Até final do século XIX, 250 mil toneladas
de asbesto tinham sido exploradas pelo Homem (FERRANTINI, 1986). Com o aumento da
demanda, novos usos foram desenvolvidos para se tirar proveito da força, resistência e
flexibilidade das fibras.

Com a descoberta do fibrocimento por Ludwig Hatschek, no começo do


século XX, este mineral passou a ser utilizado na fabricação de telhas, tubos e divisórias
(entre outros produtos), o que conferiu ao asbesto grande importância econômica no
transcorrer do século. Em 1929, foi desenvolvido o processo de produção em massa de
tubos de fibrocimento para distribuição de água potável, coleta e rede de esgotos
(QUEIROGA E BARBOSA F. FILHO, 2006). Simultaneamente, o desenvolvimento da
indústria automobilística resultou em um aumento da demanda pela fibra nas fábricas de
freios, embreagens, gaxetas e juntas de motores (FERREIRA FILHO E LINARES, 2009).

No final da década de 1930, a aceitação pública do asbesto chegou ao seu


auge (ALONSO, 2000). Em 1936, a produção mundial era de 500 mil toneladas de fibras
(NOGUEIRA, 1986). Em 1950, essa produção atingiu a casa de 1 milhão de toneladas
(COSTA E FERREIRA JUNIOR, 1984). O asbesto também chegou a ser extensivamente
utilizado no período da Segunda Guerra Mundial até a década de 1960, na indústria
naval e na construção civil, especialmente nos Estados Unidos e na Europa, como
isolante térmico e acústico. Isso se deu pelas necessidades provocadas pelo incremento
13

dos transportes navais durante os eventos bélicos, e pelo aumento no número de


edifícios construídos após a guerra (FERRANTINI, 1986) 4.

Em 1973, a produção mundial de asbesto foi de cinco milhões de toneladas


(NOGUEIRA, 1986). Em 1980, o mundo já tinha consumido um total de 100 milhões de
toneladas de fibras de asbesto (FERRANTINI, 1986), das mais diversas variedades.

Atualmente, o crisotila corresponde à espécie mais abundante (99,9%) em


termos de produção e utilização mundial (ALGRANTI E DE CAPITANI, 2014). A produção
mundial em 2012 foi estimada em 2.004.568 toneladas, praticamente estável em relação
aos anos anteriores. A Rússia responde hoje pela maior produção mundial, com um
milhão de toneladas. Outros países que se destacaram foram: China (440.000 t), Brasil
(304.000 t) e Cazaquistão (240.000 t) (PEREIRA, 2013).

1.4. O asbesto e sua utilização no Brasil

O Brasil sempre esteve na lista dos maiores produtores, exportadores e


consumidores mundiais de asbesto-crisotila, sendo atualmente o 3º maior produtor, o 2º
exportador e o 4º consumidor. No entanto, no princípio, o país importava todo o asbesto
que consumia (GAZE, LEÃO E VASCONCELLOS, 2012; SANTANA ET AL., 2012).

Na década de 1920, iniciou-se a exploração em pequena escala de jazidas


brasileiras, principalmente da variedade crisotila (NOGUEIRA, 1988). As primeiras
jazidas com potencial econômico descobertas no território nacional datam de 1936.
Entre elas, destaca-se a mina de São Félix, localizada no antigo distrito de Poções (que
depois se tornou o município de Bom Jesus da Serra), no Estado da Bahia. No entanto,
por exaustão da mina, a lavra foi definitivamente desativada em 1967 (GARCIA, COORD.,
2010).

Em 1962 foi descoberta a ocorrência de asbesto na região central do Estado


de Goiás. Com a intensificação das pesquisas, viabilizou-se a mina de Canabrava, hoje a
maior do país. Localizada no Município de Minaçu, a mina de Canabrava iniciou suas
operações em 1967 (GIANNASI, 1994; FERREIRA FILHO E LINARES, 2009).

4
Com a Segunda Guerra Mundial, a questão “saúde e segurança no trabalho” tornou-se tema de segunda
ordem em relação às necessidades da produção bélica (MURRAY, 1986).
14

Na década de 1970, a produção nacional do asbesto ganhou força,


paralelamente ao processo de banimento da fibra nos países europeus (GAZE, LEÃO E

VASCONCELLOS, 2012). Com o desenvolvimento da mineração, a produção nacional


adquiriu a autossuficiência em 1985, com 165.062 toneladas/ano (FERREIRA FILHO E

LINARES, 2009).

Atualmente, a indústria brasileira do asbesto está dividida em dois grupos: a


extrativa (da mineração) e a de transformação (ALGRANTI E DE CAPITANI, 2014). A
fabricação de artefatos de fibrocimento, tais como caixas d’água e telhas, são
responsáveis por 97% do consumo interno; 2% destinam-se a indústria de materiais de
fricção e 1% é aplicado na fabricação de papelão celulose, têxteis e na indústria de
cloro-soda (FERREIRA FILHO E LINARES, 2009).

Ocorre que, as mesmas propriedades que fizeram do asbesto um material de


grande valor na indústria, no decorrer do século XX, também originaram muitas
doenças graves nos trabalhadores (CASTLEMAN, 2005).

1.5. Os primeiros estudos a respeito das doenças associadas ao asbesto

As observações sobre os efeitos nocivos da inalação de poeiras de asbesto


são tão antigas quanto o uso da fibra. Consta que Plínio, “O Velho”, na antiga Roma do
primeiro século da Era Cristã, já havia descrito a presença de doenças pulmonares em
escravos tecelões de lã de asbesto. Havia, ainda, o relato do uso de “máscaras
respiratórias” rudimentares, feitas de pele de bexiga de animais, como medida destinada
a evitar a inalação da poeira e aumentar a sobrevida dos escravos (ALONSO, 2000;
MENDES, 2000).

Na era moderna, o primeiro caso de fibrose pulmonar foi publicado pelo


médico inglês H. Montagne Murray, em 1906 (APUD. COSTA E FERREIRA JUNIOR,
1984). Posteriormente, em 1924, W. E. Cooke publicou outro caso de fibrose pulmonar
relacionada ao asbesto em um trabalhador na Inglaterra, e utilizou, pela primeira vez, o
termo “asbestose” para designar esta doença (APUD. CASTLEMAN, 2005).

Em 1930, dois Inspetores Médicos de Fábricas da Inglaterra, Edward


Merewether e Charles Price, apresentaram ao parlamento inglês relatório sobre os
15

estudos epidemiológicos referentes às doenças causadas pelo asbesto. Chamaram a


atenção para os métodos de prevenção e controle da exposição, baseados na supressão e
eliminação de poeiras. Este estudo resultou na adoção de medidas de segurança que
deveriam ser postas em prática nos locais de trabalho, e que seriam objeto de inspeções
médicas. O uso de equipamento de proteção respiratória também foi recomendado, mas
apenas como uma medida secundária de proteção, e não como substituto de medidas
preventivas, especialmente direcionadas ao controle da poeira na sua origem (APUD.
MENDES, 2000). Neste mesmo ano, a Organização Internacional do Trabalho realizou,
em Johanesburgo, na África do Sul, a primeira Conferência Internacional de
Pneumoconioses, onde o tema asbestose foi repetidamente discutido (ALGRANTI, 2005).

O primeiro reconhecimento de placas pleurais em conexão com


trabalhadores expostos ao asbesto foi feito por J.B. Sparks, em 1931. Já a primeira
descrição de placas pleurais foi feita, em 1942, por F.W. Porro, J.R. Patton e A.A.
Hobbs (APUD. MANNI E OURY, 2014).

O reconhecimento do asbesto como um agente de risco para o câncer


ocorreu em um período extremamente curto após os primeiros relatos, publicados na
década de 1940 (MURRAY, 1986). Em 1955, Richard Doll foi o responsável por
estabelecer, definitivamente, a associação causal entre a exposição ocupacional ao
asbesto e câncer de pulmão. Ele demonstrou que a frequência de câncer de pulmão em
trabalhadores da indústria têxtil que manipularam o asbesto, durante 20 anos ou mais,
era dez vezes a esperada na população em geral (DOLL, 1955).

Os estudos a respeito do mesotelioma como efeito da exposição à poeira de


asbesto começaram a aparecer na literatura médica e de higiene ocupacional. Trabalhos
da década de 1940 e de 1950 apontavam para esta possibilidade de associação causal, o
que foi confirmado pelos estudos realizados por WAGNER (1960), na África do Sul, e
SELIKOFF (1964), nos Estados Unidos. Desde então, multiplicaram-se os estudos
confirmando a exposição ao asbesto em cerca de 80 a 90% dos casos desse tipo de
tumor (SANTOS, 2014), mesmo após curtas exposições, ou de exposições em baixas
doses, mas, via de regra, após longo tempo de latência (MENDES, 2000).
16

Em 1977, a Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (IARC)


classificou todas as variedades do asbesto como carcinogênico para o ser humano –
Grupo 1 –, incluindo o crisotila (IARC, 1977) 5. Estudos clínicos e epidemiológicos, que
abrangem as últimas cinco décadas, sugerem que o asbesto também pode ser associado
com outros tipos de câncer, além de câncer de pulmão e mesotelioma. Na última
monografia da IARC (2012), o comitê de experts reconheceu haver associação positiva
entre exposição e câncer de colón e reto, mas o grupo restou dividido quanto a
considerar que as evidências fossem suficientemente fortes para classificá-lo com
evidência 1. Carcinomas de laringe e ovário também têm sido epidemiologicamente
associados com exposição ao asbesto (IARC, 2012).

1.6. Os primeiros estudos publicados no Brasil

No Brasil, o conhecimento dos problemas de saúde causados pela exposição


ocupacional ao asbesto adveio, originalmente, da detecção de casos de asbestose 6,7. Ao
que tudo indica, o primeiro trabalho foi publicado no país em 1956 e teve por título
“Higiene das Minas – Asbestose” (TEIXEIRA E MOREIRA, 1956). Os autores, Carlos
Martins Teixeira e Manoel Moreira, vinculados ao Serviço Médico da Divisão de
Fomento da Produção Mineral, do Departamento Nacional de Produção Mineral,
vinham realizando pesquisas sobre as condições higiênicas da indústria de mineração no
Brasil há vários anos (COSTA E FERREIRA JUNIOR, 1984). Após efetuarem minucioso
estudo clínico e radiológico de oitenta trabalhadores, os autores identificaram seis casos
de fibrose nas bases pulmonares compatíveis com formas iniciais de asbestose
(TEIXEIRA E MOREIRA, 1956).

5
A Associação Internacional para Pesquisa sobre Câncer, em inglês International Association for
Research on Cancer (IARC), é a agência especializada na pesquisa sobre o câncer, da Organização
Mundial de Saúde. Está localizada em Lyon, na França. A IARC identifica fatores ambientais que
possam aumentar o risco de câncer em humanos, e classifica as substâncias segundo seu caráter de
carcinogenicidade: Grupo 1: Reconhecidamente carcinogênico para humanos; Grupo 2A:
Provavelmente carcinogênico para humanos; Grupo 2B: Possivelmente carcinogênico para humanos;
Grupo 3: Não classificável como carcinogênico para humanos; Grupo 4: Provavelmente não-
carcinogênico para humanos.
6
Este escorço histórico apresenta estudos cuja população restringia-se apenas ao mercado formal.
7
Segundo GIANNASI (1996), a revisão da bibliografia brasileira mostrava “menos de uma centena de
casos de doenças atribuídas ao [asbesto] no Brasil”, sendo a maioria de asbestose, e poucos
concernentes ao câncer de pulmão e mesotelioma relacionados ao asbesto.
17

Passados quase vinte anos, outro caso de asbestose foi publicado por
NOGUEIRA ET AL. (1975). O trabalho, intitulado “Asbestose no Brasil: um risco
ignorado”, chamou a atenção para “a possibilidade de que casos dessa doença estejam
passando despercebidos no Brasil, onde é crescente e utilização do [asbesto] pela
indústria”. Acreditava-se, já naquela época, que numerosos outros casos de asbestose
estivessem sendo subdiagnosticados no país (NOGUEIRA ET AL., 1975). Desde então,
outros estudos foram publicados por ROLLEMBERG DOS SANTOS ET AL. (1979),
QUAGLIATO JR. (1980) e LYRA ET AL. (1982).

Em 1983, um estudo apresentado na Universidade Estadual de Campinas


chamou a atenção para um problema em fábricas de fibrocimento no município de
Leme (SP), por identificar 14 casos de asbestose em um registro local (COSTA, 1983).
Poucos anos depois, AMÂNCIO ET AL. (1988) verificaram alta prevalência de alterações
radiológicas compatíveis com asbestose em trabalhadores com mais de 10 anos de
exposição em fábricas de fibrocimento de médio porte no Estado de São Paulo 8.

Já a exposição e câncer de pulmão associado ao asbesto foi relatado no país


apenas em 1989, por ALGRANTI ET AL., e o mesotelioma, muito recentemente, em 1997,
por DE CAPITANI ET AL. Todos estes casos mostraram relação epidemiológica,
comprovada por meio de história ocupacional, com exposição ao asbesto (DE CAPITANI
ET AL, 1997).

Em 2001, ALGRANTI ET AL. avaliaram os efeitos não malignos da exposição


ao asbesto na indústria de fibrocimento no Brasil. Em 2005, BAGATIN ET AL. publicaram
os resultados da análise do ambiente de trabalho ao longo de seis décadas (1940-1996)
em minas de asbesto no país, demonstrando que a melhora progressiva em práticas de
higiene ocupacional é capaz de reduzir o risco de consequências não-malignas da
exposição ao asbesto.

8
Estudos mostram que a utilização do asbesto no Estado de São Paulo associa-se a padrões de
adoecimento que são absolutamente similares àqueles descritos em países que fizeram o uso intensivo
da fibra em diferentes tipos de processos (ALGRANTI, 2012).
18

1.7. As doenças associadas ao asbesto

O asbesto é a fibra sobre a qual mais estudos se fizeram em relação à saúde


humana (FERRANTINI, FERREIRA JR. E FARIAS, 1988). E é o agente ocupacional que se
relaciona, individualmente, com o maior número de mortes e casos de doenças no
mundo inteiro (OMS, 2006). Entre o grupo de doenças conhecidas por ter origem na
exposição ocupacional figura a pneumoconiose denominada asbestose e a formação de
placas pleurais (TEIXEIRA, 1986). Além disso, a fibra deste mineral é o agente com
maior impacto ocupacional na incidência de câncer de pulmão (50% dos casos) e
responsável por 90% ou mais dos casos de mesotelioma (SANTOS, 2014). Em adição, o
asbesto também é causalmente associado ao câncer de laringe e câncer de ovário
(IARC, 2012).

A maior incidência de doenças associadas ao asbesto vem da indústria de


fibrocimento, sendo a que mais consome a fibra. A atividade onde há menos doenças,
do ponto de vista ocupacional, é a mineração. A indústria têxtil é a que tem o maior
número de casos de câncer de pulmão associado ao asbesto (ALGRANTI, 2012).

1.7.1. Mecanismo de ação

As fibras de asbesto, por apresentarem uma estrutura diametral finíssima


(inferior a 3 micrômetros), uma vez inaladas pelo trabalhador, são capazes de penetrar
profundamente nas vias respiratórias (ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DA SEGURIDADE
SOCIAL, 2006) 9. As fibras se depositam nos alvéolos (cujos componentes celulares são
fundamentais para o adequado desempenho das funções de troca gasosa) e aí criam o
seu efeito inicial. Devido às suas características físico-químicas, os mecanismos
principais de defesa do organismo (os sistemas mucociliar, os macrófagos alveolares e o
sistema linfático), não conseguem impedir o acesso deste agente patológico ao
microambiente alveolar (ALGRANTI, ET AL., 2013).

As fibras inaladas, gradativamente, dão início a um processo de inflamação,


podendo provocar uma variedade de afecções. Quando estão em contato com o
revestimento dos brônquios podem causar perturbação à divisão celular e, depois de um

9
Um micrômetro equivale ao milionésimo de metro (1 × 10-6 m), e sua abreviatura é µm.
19

10
longo período de latência , dar início a uma transformação cancerígena. Algumas
fibras podem, inclusive, migrar para o exterior da cavidade pleural e provocar placas
11
pleurais ou mesotelioma (ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DA SEGURIDADE
SOCIAL, 2006).

Baixos limites de exposição também podem desencadear e/ou promover a


doença observada. Assim, não há limite seguro de exposição para o asbesto (ALONSO,
2000; ALGRANTI, 2012; IARC, 2012). O limite de exposição para o crisotila mais
restritivo do mundo (0,1 fibras/cm³) equivale a uma carga de inalação de mais de 50
milhões de fibras totais por dia, para o trabalho sedentário (CASTLEMAN, 2005), e está
associado a um excesso de risco estimado em 5/1000 para o câncer de pulmão, e 2/1000
para a asbestose (STAYNER ET AL., 1997).

1.7.2. A asbestose

A asbestose é a pneumoconiose causada pela inalação, deposição, retenção e


reação celular e tecidual do parênquima pulmonar às fibras de asbesto (ALGRANTI E DE
12
CAPITANI, 2014) . Trata-se de uma enfermidade potencialmente progressiva e
irreversível, que provoca um endurecimento do pulmão e pode levar à insuficiência
respiratória (ALONSO, 2000). É a terceira causa de óbito por pneumoconiose no mundo
(SANTOS, 2014).

A asbestose é comumente difusa, bilateral e inicia-se nos segmentos


inferiores, dorsais e periféricos dos pulmões. Caracteriza-se clinicamente por dispnéia
de esforço, crepitações nas bases, baqueteamento digital, este em fases tardias. Na fase
inicial é assintomática, apresentando, por esse motivo, dificuldade para o diagnóstico,
que somente poderá ser feito com uma detalhada história ocupacional e exames de
imagem. Nas fases mais avançadas a frequência de sintomas respiratórios é maior,

10
Entende-se por período de latência, o tempo decorrido entre o início da exposição e o reconhecimento
da doença (ALGRANTI ET AL., 2010).
11
A toxicologia do asbesto pressupõe a compreensão das propriedades aerodinâmicas, químicas, físicas,
entre outras, que favorecem a penetração fácil e profunda das fibras no sistema respiratório. As
manifestações clínicas dependerão: das características das fibras, da duração, frequência e intensidade
da exposição e, também, das características individuais (NETTO, 2012).
12
Esta definição não engloba alterações pleurais difusas ou em placas, atelectasia redonda, derrame
pleural e cânceres, relacionadas ao asbesto (SANTOS, 2014).
20

predominando a dispnéia progressiva e a tosse, geralmente seca (COSTA E FERREIRA


JUNIOR, 1984; BAGATIN E MEIRELLES, 2014; SANTOS, 2014).

A incidência, a gravidade e a precocidade da asbestose dependem da


intensidade e da duração da exposição. O tempo de latência é longo, sendo
inversamente proporcional a intensidade da exposição, geralmente superior a 10 anos
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001; SANTOS, 2014). Daí porque há possibilidade de a doença
se manifestar após o afastamento do trabalho.

1.7.3. O câncer de pulmão associado ao asbesto

A exposição ocupacional ao asbesto é o fator mais importante na produção


de câncer de pulmão relacionado ao trabalho (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001), sendo
responsável por cerca de um terço a metade dos casos (SANTOS, 2014). Pode ser uma
complicação relativamente frequente na evolução da asbestose (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2001), mas que com ela não se vincula diretamente, de modo que o câncer de pulmão
pode se manifestar ainda que o trabalhador não seja acometido por aquela doença
(CASTLEMAN, 2005). Assim como a asbestose, o câncer de pulmão associado ao asbesto
é uma doença cuja resposta guarda relação com a dose de exposição.

Atualmente, não se estabelece diferença de risco para o câncer de pulmão


entre as fibras. Tanto os anfibólios quanto o crisotila estão associados, como reforçam
estudos analisados recentemente pela IARC (IARC, 2012; SANTOS, 2014). Ademais, há
evidências que suportam o sinergismo entre a exposição ao asbesto e tabagismo como
causa de câncer de pulmão, mas observa que o grau de sinergismo ainda permanece
incerto (IARC, 2004) 13.

1.7.4. O mesotelioma

A exposição às fibras de asbesto é a principal causa do mesotelioma. É


considerado como agente carcinogênico completo, já que atua como iniciador e como
promotor do processo oncogênico. Trata-se de um tumor que acomete principalmente a

13
Diante desse grau de incerteza, Castleman (2005) propõe a seguinte questão: seria o tabaco a principal
causa de adoecimento por câncer de pulmão em trabalhadores expostos ao asbesto ou seria o asbesto o
agente que mata o trabalhador tabagista?
21

pleura e, em menos de 10% dos casos, o peritônio, o pericárdio e a túnica vaginal do


testículo (PRADO, CANZIAN E CHATE, 2014; SANTOS, 2014). O período de latência, entre
a primeira exposição e a manifestação do mesotelioma, é muito longo, podendo ser de
35 a 45 anos, ainda que alguns trabalhos mostrem períodos relativamente curtos, em
torno de 20 anos, porém raramente inferior a 15 anos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001).

Trata-se de doença que guarda relação linear com o tempo de latência e não
com a dose de exposição (ALONSO, 2000; SANTOS, 2014). Desta forma, são comuns os
relatos de casos em indivíduos com história de exposição de pequena monta ocorrida há
30 / 40 anos (SANTOS, 2014). A sobrevida média é de 6 a 18 meses, independentemente
das tentativas de tratamento. Comumente, a causa da morte é por extensão local e/ou
insuficiência respiratória. Os sintomas mais frequentes são: dispneia e dor torácica (90%
dos casos) e perda de peso (30%). No entanto, o mesotelioma ainda é uma doença
subdiagnosticada no país (CAMARGO, 2014).

1.7.5. As alterações pleurais não neoplásicas

As manifestações não malignas de exposição ao asbesto na cavidade pleural


incluem as placas pleurais circunscritas, o espessamento pleural difuso, atelectasia
redonda e o derrame pleural relacionado ao asbesto (SANTOS, 2014) 14.

As placas pleurais são a manifestação clínica mais comum das doenças


associadas ao asbesto. São áreas fibróticas reacionais nas partes médias e inferiores do
tórax, em geral bilaterais (ALGRANTI E DE CAPITANI, 2014). No entanto, a extensão das
placas não apresenta relação clara com exposição cumulativa (CAPELOZZI, 2001). As
placas são indicadores de risco para manifestação de futura asbestose, mesmo em
indivíduos estando afastados da exposição (SANTOS, 2014). Tendem a aumentar
lentamente de tamanho durante décadas e representam risco aumentado de doenças
neoplásicas associadas ao asbesto. Sua ocorrência guarda melhor correlação com o

14
A pleura é formada por duas membranas serosas. Uma que recobre o pulmão (a pleura visceral) e outra
que recobre a face interna da parede torácica (a pleura parietal). A cavidade pleural é um espaço virtual
delimitado pelas duas pleuras e que contém uma pequena quantidade de líquido em condições normais
com função de lubrificação, facilitando o deslizamento da pleura. A principal função da pleura e da
cavidade pleural é permitir a insuflação e o esvaziamento dos pulmões dentro do tórax. O tecido pleural
é constituído por células altamente reativas com repercussões locais proporcionais ao tipo de estímulo
inflamatório que sobre elas incidem (MARCHI, MIRANDA E CHIBANTE, 2014).
22

tempo de latência do que com a carga de exposição (SANTOS, 2014). Normalmente não
causam sintomas, têm pouca repercussão funcional e frequentemente são achados
radiológicos. Possuem um período de latência superior a 20 anos (ALGRANTI E DE
CAPITANI, 2014).

Já o derrame pleural pelo asbesto é o acúmulo de líquido no espaço pleural,


que pode ser resultante de processo patológico inflamatório (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2001). É um acometimento com maior incidência nos primeiros 10 anos de exposição
(SANTOS, 2014). O espessamento pleural difuso, que pode ser uni ou bilateral, é uma
sequência ao derrame pleural pelo asbesto (ALGRANTI E DE CAPITANI, 2014). Não é uma
característica da exposição, mas encontra-se presente em cerca de 10 a 20% dos
indivíduos cronicamente expostos. Tem um período de latência entre 10 e 15 anos
(SANTOS, 2014).

A exposição ao asbesto também está associada à ocorrência de atelectasia


redonda, uma complicação de doença pleural induzida pelo asbesto (CAPELOZZI, 2001).
Muitas vezes, apresenta-se como uma imagem nodular, provavelmente originada de
derrame pleural que, durante a reabsorção, acaba por torcer um pedaço do pulmão,
simulando um nódulo (SANTOS, 2014).

1.7.6. A doença pulmonar obstrutiva crônica ocupacional

A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é definida como uma


situação de limitação do fluxo aéreo que não é completamente reversível. Esta limitação
é geralmente progressiva e está associada a uma resposta inflamatória anormal dos
pulmões a partículas e/ou gases nocivos. Caracteriza-se por dispnéia aos esforços, tosse
e secreção brônquica (ALGRANTI, 2014).

O tabagismo é o principal fator de risco para o desenvolvimento da doença


na população em geral, responsável por cerca de 90% dos casos, e o mais estudado
(NASCIMENTO E JARDIM, 2014). Porém, causas ocupacionais vêm ganhando importância
como fator de risco para a doença (KNORST, 2014). Estima-se que haja 5 milhões de
portadores de DPOC no país, sendo que cerca de 1 milhão é decorrente de exposição
ocupacional. Isso significa que, possivelmente, um pouco mais de 1% da população
23

brasileira é portadora de doença respiratória obstrutiva atribuível ao trabalho


(ALGRANTI, 2014).

A intensidade e a duração da exposição, assim como a interação com outros


fatores e, ainda, a susceptibilidade do indivíduo, são fatores que contribuem, com maior
ou menor intensidade, para o desenvolvimento da doença (MENEZES E WEHRMEISTER,
2014). Os principais agentes e as atividades envolvidas são a exposição à poeiras
minerais, como o asbesto (SANTOS, 2014). No entanto, por se tratar de uma doença de
etiologia multicausal torna-se difícil o estabelecimento do nexo causal com o trabalho,
em casos suspeitos (ALGRANTI, 2014).

1.7.7. Os critérios e dificuldades no diagnóstico

O diagnóstico clínico das doenças associadas ao asbesto é feito,


primordialmente, por meio da integração entre a história ocupacional, o tempo de
latência, os sintomas (se presentes) e as alterações de imagem (ALGRANTI E DE
CAPITANI, 2014). Ou seja, baseia-se na entrevista detalhada do paciente quanto aos
dados ocupacionais de exposição e latência, sinais e sintomas, radiologia, provas de
função, exames citológicos seletivos, histopatologia e outros estudos laboratoriais
(CAPELOZZI, 2001). No entanto, uma adequada anamnese deve investigar não apenas o
passado profissional, mas também hobbies ou atividades de lazer do trabalhador (COSTA
E FERREIRA JUNIOR, 1984), que podem indicar a existência de nexos etiológicos de
importância.

A realização de exames complementares (principalmente as radiografias de


tórax, tomografia computadorizada dos casos suspeitos), deve ser feita mesmo que não
existam sintomas respiratórios (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001; CARNEIRO E ALGRANTI,
2014). Em situações de exceção (quando houver disparidade entre a história
ocupacional e os exames de imagem e/ou função pulmonar), pode ser indicada a biópsia
de pulmão para o esclarecimento do diagnóstico (SANTOS, 2014).

Quando a anamnese ocupacional for inconclusiva, ou deixar diversos pontos


importantes não esclarecidos, deve-se, sempre que possível, tentar uma visita técnica ao
ambiente de trabalho (ALGRANTI E DE CAPITANI, 2014). Além disso, deve-se solicitar à
24

empresa os dados sobre monitoramento ambiental dos produtos utilizados, para o


entendimento da possível relação causal (SANTOS, 2014). Inclusive, o relato do uso de
proteção individual, por parte do trabalhador, deve ser relativizado no raciocínio
diagnóstico, pois nem sempre o uso desse tipo de equipamento protege o trabalhador de
exposição inalatória significativa (ALGRANTI E DE CAPITANI, 2014).

No entanto, as doenças associadas ao asbesto ainda são consideradas de


grande complexidade diagnóstica (CAPELOZZI, 2001). Estas circunstâncias limitam, em
muitos casos, a definição etiológica dessas doenças. Além da falta de critérios claros
para abordar esta questão de saúde, há também o despreparo dos médicos para
diagnosticar estas doenças (FUNDACENTRO, 2006). Especificamente com relação à
pneumoconiose associada ao asbesto, existem erros na codificação e dificuldades de
diagnóstico específico para esta nosologia (CASTRO, 2007). Não raras vezes, casos de
asbestose são confundidos com pneumopatias comuns de origem não ocupacional
(CASTLEMAN, 2005). Inclusive, não há protocolo de diagnostico de asbestose
universalmente aceito (ALONSO, 2000). Outrossim, não é comum atribuir o câncer de
pulmão a uma prévia exposição ao asbesto. Raramente o diagnóstico é registrado com
essa associação causal (GIANNASI, 1999; SANTANA ET AL., 2012). Da mesma forma,
afirma-se a necessidade de definição precisa de critérios diagnósticos com relação ao
mesotelioma, no intuito de esclarecer provável relação causal com o asbesto nos novos
casos que venham a ocorrer (DE CAPITANI ET AL., 1997).

Ademais, os diagnósticos de doenças associadas ao asbesto, pelo longo


tempo de latência, são, com frequência, efetuados após a demissão ou aposentadoria do
trabalhador (COSTA, 2012; ALGRANTI E DE CAPITANI, 2014). Todos esses fatores
dificultam o diagnóstico específico, entrando na categoria comum de doenças, cuja
causa não é atribuída ao trabalho.

1.8. As doenças associadas ao asbesto e sua relação com o trabalho

Em linhas gerais, muitos critérios de classificação têm sido utilizados para o


entendimento da ocorrência de agravos relacionados ao trabalho, aplicáveis ao presente
estudo. Bernardino Ramazzini (1633-1714) parece ter sido o primeiro a classificar e
sistematizar as doenças segundo a natureza e o grau de nexo com o trabalho,
25

denominada por ele de “doenças do trabalhador” (MENDES, 2013). Muitos de seus


conceitos, emitidos na época de 1700, são utilizados até hoje em diversos países, para
fins médico-legais e previdenciários (MENDES, 2000). Num primeiro grupo, estão as
doenças diretamente causadas pela nocividade da matéria prima manipulada, e que
vieram a dar origem ao que se hoje conhece por doenças profissionais. Num segundo
grupo, estão as doenças produzidas pelas condições de trabalho e que mais tarde foram
denominadas doenças causadas pelas condições especiais em que o trabalho é realizado
(MENDES, 2005).

O Brasil adota uma classificação semelhante para o reconhecimento de


doenças relacionadas ao trabalho (MENDES E WAISSMANN, 2013). Trata-se da
classificação proposta por SCHILLING (1984). Schilling relacionou o grau entre a
exposição a um agente ocupacional e a doença em três grupos: o primeiro, denominado
Schilling I, é composto por doenças diagnosticadas e que têm relação direta (e quase
exclusiva) com uma exposição a um agente ocupacional; o grupo II de Schilling inclui
as doenças encontradas na população em geral, mas o trabalho pode ser considerado
como um fator contributivo para o seu aparecimento; o grupo III de Schilling inclui as
doenças nas quais o trabalho é provocador de um distúrbio latente, ou é agravador de
uma doença já estabelecida. A partir de SCHILLING (1984), é possível classificar as
doenças associadas ao asbesto da seguinte forma (Quadro 1):

Quadro 1. Doenças associadas ao asbesto e sua relação com o trabalho (adaptado de Schilling,
1984).
Classificação Doenças
 Doenças pleurais pelo asbesto;
Schilling I  Asbestose;
 Mesotelioma – com altíssima probabilidade de acerto
(superior a 90%), esta doença, em trabalhadores adultos com
história de exposição ocupacional sugestiva, também deve ser
classificada no grupo I de Schilling. O trabalho pode ser
considerado causa necessária na etiologia deste tumor, ainda que
outros fatores de risco possam atuar como coadjuvantes.
Os cânceres (de pulmão, de laringe e de ovário) e a doença
Schilling II ou III pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) associados ao asbesto, devem
ser classificados dentro do grupo II ou III da Classificação de
Schilling, em que o trabalho é considerado como fator de risco
associado com a etiologia multicausal dessas doenças.
Fonte: MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001.
26

Há, também, no caso do estudo das relações causais entre o trabalho e as


condições de saúde, os critérios epidemiológicos propostos por HILL (1965), e que
foram abordados recentemente no trabalho de KUNDI (2006), muito aplicáveis aos casos
de exposições ocupacionais e sua relação com o adoecimento dos trabalhadores
(MENDES E WÜNSCH FILHO, 2013). Hill definiu algumas condições mínimas para
estabelecer uma relação causal entre dois fatores, no caso, a doença investigada e seu
agente etiológico. São nove os critérios definidos, dispostos de acordo com o Quadro 2,
que segundo LEMEN (2004), apoiam a conclusão da relação entre a exposição ao asbesto
e doenças, notadamente entre o crisotila e o mesotelioma. No entanto, estes critérios não
trazem provas irrefutáveis a favor ou contra a hipótese de causa e efeito (HILL, 1965).
Foram estabelecidos de tal forma a proporcionar, no caso de serem atendidos, um
aumento da confiança no fator relacionado à doença (KUNDI, 2006).

Quadro 2. Critérios de HILL (1965), adaptados para as doenças associadas ao asbesto.


Critérios de Hill Comentários
Este critério é tipicamente quantitativo, e é definido pela magnitude da
1. Força da associação associação, medido por testes estatísticos apropriados. Quanto maior for o
risco relativo, há uma maior probabilidade de que a relação seja causal.
A associação é consistente quando os resultados são replicados em diferentes
2. Consistência
estudos, utilizando diferentes métodos.
Este critério é observado quando uma única causa que aparenta ser
verdadeira produz um efeito específico. Esta afirmação se torna favorecida
3. Especificidade no caso das doenças classificadas no grupo I de Schilling. No entanto, a
ausência de especificidade não nega uma relação causal, ainda mais quando
se está diante de doenças classificadas como Schilling II ou III.
A exposição à presumível causa deve preceder o aparecimento da doença.
Este critério é descrito como condição sine qua non do nexo de causalidade,
na medida em que deve estar sempre presente, a fim de proceder a uma
análise envolvendo os demais critérios (LEMEN, 2004). A relação temporal
deve ser observada com cautela quando se está diante de doenças com
4. Temporalidade
longos períodos de latência, como é o caso das doenças associadas ao
asbesto. Por esta razão, é de particular importância estabelecer a relação
temporal adequada entre o evento patológico e todas as exposições
inalatórias de risco a que foi submetido o trabalhador (ALGRANTI E DE
CAPITANI, 2014).
Diz respeito à intensidade e duração da exposição. Segundo este critério, a
dose determina a toxicidade. Toda substância química tem esse aspecto de
resposta a determinada dose. Assim, uma exposição mais intensa, ou mais
longa, a um agente agressivo, tem como resultado uma maior frequência ou
5. Relação dose-resposta gravidade da doença, em comparação àqueles com menor exposição. Se a
relação dose-resposta está presente, é mais provável que a associação
observada seja causal. No entanto, a ausência de uma resposta à dose não
invalida a causalidade. Com exceção ao mesotelioma, todas as doenças
associadas ao asbesto possuem uma resposta dependente à dose, sendo este
um critério importante para a abordagem do nexo causal. Continua
27

Critérios de Hill Comentários


Segundo este critério, é preciso que haja alguma base teórica, ou uma
6. Plausibilidade conexão lógica entre dois fenômenos, para postular uma relação causal entre
um fator e a doença, ou um fenômeno e outro.
Uma conclusão causal não deve apresentar conhecimento fundamentalmente
7. Coerência contraditório. Deve fazer sentido no contexto do estado atual dentro de um
dado campo.
O conhecimento de coisas pela prática ou observação. Segundo este critério,
a condição pode ser alterada, prevenida ou melhorada, por um esquema
8. Evidência experimental
experimental adequado. Em alguns casos, pode haver evidência animal ou
outra a partir de experimentos.
Em certas circunstâncias, o julgamento de um par de “exposição/efeito”
9. Analogia observado pode ser estendido para outro, cuja investigação causal não tenha
sido explorada, por um processo cognitivo de generalização.

Nota-se que a afirmação do nexo causal se torna favorecida no caso das


chamadas doenças profissionais, ou seja, nas condições classificadas no grupo I de
Schilling. Nestas hipóteses, a exposição é especifica para a ocorrência dessas doenças,
como o mesotelioma, as placas pleurais e a asbestose.

Por outro lado, alguns desfechos relacionados à exposição ao asbesto não


são específicos, como as neoplasias (excetuando-se o mesotelioma) e a doença
pulmonar obstrutiva crônica. Nestas condições, o trabalho é um dos fatores de risco
reconhecidos, mas não causa necessária. Assim, outros fatores devem ser abordados
para a conclusão final a respeito da contribuição do trabalho na etiologia dessas doenças
(AZAMBUJA E MENDES, 2005).

1.9. As ações judiciais propostas pelas vítimas do asbesto

A lavra, a industrialização e o uso do asbesto tiveram como resultado a


ocorrência de doenças graves aos trabalhadores. Por esta razão, produtores e indústrias
passaram a enfrentar diversas ações na Justiça, com pedidos de reparações (FERREIRA
FILHO E LINARES, 2009). Como reflexo do movimento de mobilização social, várias
associações foram criadas para defender os interesses das vítimas (GAZE, LEÃO E

VASCONCELLOS, 2012). Ocorre que, frequentemente, os trabalhadores têm agido


individualmente, recorrendo ao Poder Judiciário contra os seus ex-empregadores,
arcando sozinhos pelos custos e prejuízos decorrentes de doenças causadas pelo asbesto
(BARROS, 2014).
28

Estas ações de natureza indenizatória, movidas em decorrência de acidente


do trabalho e doença ocupacional, passaram a ser da competência da Justiça do
Trabalho após a promulgação da Emenda Constitucional nº 45 de 2004 (SILVA, LIMA E
LORENZO, 2011), e, sobretudo, após o julgamento do Conflito de Competência 7.204-1-
MG, pelo Supremo Tribunal Federal.

Segundo informação da Coordenadoria de Estatística e Gestão de


Indicadores (CEGI), do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, 268.468
reclamações trabalhistas foram distribuídas, no período de janeiro de 2008 até agosto de
15
2014, com relação aos motivos delineados . A Tabela 1 mostra o número de
reclamações trabalhistas distribuídas no âmbito do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª
Região, entre 2008 a 2014, com pelo menos um dos motivos alegados.

Tabela 1. Reclamações trabalhistas com pelo menos um dos motivos


abaixo relacionados. TRT, 2ª Região. Período 2008-2014.

Ano Acidente de Trabalho Doença Ocupacional Total

2008* 3.603 - 3.603


2009 32.816 - 32.816
2010 29.521 15.986 45.507
2011 29.553 24.361 53.914
2012 28.878 24.568 53.446
2013 25.773 22.869 48.642
2014 ** 15.883 14.657 30.540
Total 166.027 102.441 268.468
* A partir de novembro Fonte: CEGI nº 143/2014
** Até agosto

Como regra, no processo judicial também há a necessidade de uma


avaliação profunda do trabalhador, não só para a definição de seu diagnóstico, mas
também para verificar, em concreto, a ligação entre a doença alegada e o exercício do
trabalho. Essa é uma das funções típicas da atividade pericial, e de substancial
importância para a imputação da responsabilidade civil do empregador (OLIVEIRA,
2011).

15
Apenas a partir de 2008 que a Justiça Trabalho passou a cadastrar os processos ajuizados tendo como
motivo os acidentes do trabalho e as doenças ocupacionais, em atenção à Resolução nº 46, de 18 de
dezembro de 2007, do Conselho Nacional de Justiça.
29

Considerando as peculiaridades dessa atuação, define-se perícia médica


judicial como um ato médico, que será realizado como consequência de requisição
formal de uma autoridade judiciária, quando essa autoridade dela necessita para
formação de convicção na execução de suas funções (VILELA E EPIPHANIO, 2009).

No acidente do trabalho típico a presença do nexo fica bem evidente. Ocorre


que, a constatação do nexo de causalidade no caso das doenças relacionadas ao trabalho
exige cuidado maior, pois nem sempre é possível estabelecer com segurança se a doença
ocorreu por causa do trabalho (OLIVEIRA, 2011), ainda mais quando se está diante de
doenças classificadas no Grupo II ou III de Schilling, em que outros fatores de risco
devem ser levados em consideração. Sopesá-los, para estabelecer uma relação causal
coerente entre o fato e o dano, é o procedimento mais exaustivo para quem tem de
contribuir para o convencimento do julgador que o solicitou (PEREIRA JUNIOR, 2013).

Como visto, o instrumental principal para a tomada de uma relação causal


entre o adoecimento de um trabalhador e o agravo à sua saúde é a partir de um exercício
completo da boa prática médica, enriquecido pela realização e interpretação de uma boa
anamnese ocupacional (MENDES, 2013). Esta é uma das etapas mais difíceis e mais
importantes do processo diagnóstico (SOUTO, 2003), inclusive durante o trabalho
pericial em juízo. Além disso, o perito deverá responder às perguntas específicas que,
relacionadas ao problema médico avaliado, possam colaborar na formação da convicção
do magistrado. Para atingir esse objetivo, quanto mais extenso for o conhecimento
médico do perito, tanto melhor será a qualidade da avaliação (VILELA E EPIPHANIO,
2009). Daí o desafio de se avaliar a qualidade do trabalho do médico perito no âmbito
da Justiça do Trabalho, como forma de contribuir para o aperfeiçoamento da prestação
jurisdicional (SILVA, 2010).
30

2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo geral

O presente trabalho tem como objetivo geral avaliar a qualidade das perícias
médicas judiciais trabalhistas, lavradas pelo perito do juízo no âmbito do Tribunal
Regional do Trabalho da 2ª Região, em sede de dissídios individuais, no período 2005
até 2013, para verificar a forma e os instrumentos adotados na abordagem do nexo
causal entre a exposição ocupacional ao asbesto e as doenças a ela associadas.

2.2. Objetivos específicos

Como objetivos específicos, pretende-se:

1. Propor e avaliar um instrumento de análise da qualidade das perícias


médicas judiciais, utilizando as doenças associadas ao asbesto como causa base;

2. Gerar informações sobre a qualidade das perícias médicas judiciais e;

3. Verificar qual a influência da perícia na definição da sentença.


31

3. MATERIAL E MÉTODOS

Este capítulo apresenta o desenvolvimento metodológico empregado para a


condução da análise proposta neste trabalho.

3.1. Delineamento do estudo

Trata-se de um estudo retrospectivo, exploratório e descritivo, de corte


transversal, com enfoque de base quali-quantitativa.

3.2. Etapas do estudo

Para a realização deste estudo, foram percorridas oito etapas.

A primeira delas consistiu no levantamento da produção na literatura


científica, que compõe o referencial teórico desta pesquisa, utilizado para a elaboração
do instrumento de análise. Foram selecionados os artigos publicados por HILL (1965),
por KUNDI (2006), bem como o manual de procedimentos de doenças relacionadas ao
trabalho do Ministério da Saúde (2001).

Na segunda etapa ocorreu a seleção dos itens relevantes para a elaboração


do instrumento, com base neste referencial teórico.

A terceira etapa foi realizada em dois momentos distintos. O primeiro


consistiu na pesquisa dos processos representantes da população alvo. O segundo
momento versou na limpeza dos dados e obtenção de cópia dos laudos periciais, para
oportuna análise.

Na quarta etapa foi feito o convite a dois especialistas em doenças


associadas ao asbesto para aplicação do instrumento. O contato e o convite para a
participação nesta pesquisa foram realizados pessoalmente, para apresentar o
instrumento e as instruções de preenchimento.

Na quinta etapa houve a aplicação de um pré-teste, com a análise da


aparência e conteúdo do instrumento, por meio da avaliação dos itens pelos
especialistas. Esse procedimento permitiu verificar não apenas o grau de compreensão
32

do instrumento, mas também se as instruções e categorias de respostas aos itens


estavam claras, além de identificar itens problemáticos e propor soluções. Depois das
considerações dos especialistas e da realização do pré-teste, os itens abordados foram
avaliados e a versão final foi definida.

Na sexta etapa houve a correspondente avaliação, pelos especialistas, do


conteúdo dos laudos periciais que compõem a amostra desta pesquisa.

Na sétima etapa, os dados coletados foram codificados e transferidos para


um banco de dados no Microsoft Excel (versão 2007), para posterior análise estatística.

Ao final, 6 (seis) dos laudos foram sorteados para reavaliação, visando a


análise da concordância intra-avaliador.

3.3. População e amostragem

Compuseram a população deste estudo os laudos médicos que abordaram o


nexo causal entre a exposição ocupacional ao asbesto e a doença alegada.

Os laudos selecionados foram lavrados por peritos médicos nomeados pelo


juízo e utilizados como prova nos autos dos dissídios individuais trabalhistas, julgados
em primeira instância, no período de 01/01/2005 a 31/12/2013, no âmbito da
competência do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, cuja sede abrange as
seguintes comarcas: São Paulo – Capital; Guarulhos e Região; Osasco e Região;
Baixada Santista; e Região do ABC. Foram excluídos do estudo os processos judiciais
julgados pela Justiça Comum, no período anterior a 2005, tendo como objeto os motivos
ora delineados.

A amostra objeto da análise foi direcionada para as comarcas de Santos, São


Paulo, São Bernardo, São Caetano do Sul, Santo André, Osasco e Diadema. Segundo
estudo realizado por ALGRANTI (2012), no período de 1996 a 2010, alguns destes
municípios fizeram uso intensivo da fibra, com uma mortalidade média por
mesotelioma superior à esperada para o Brasil e para o Estado de São Paulo. Além
disso, em uma avaliação prévia, ocorrida antes da limpeza dos dados, verificou-se que
33

estas comarcas concentram 78% do total dos processos judiciais envolvendo o tema
desta pesquisa.

3.4. Fonte e coleta de dados

Planejou-se a coleta de dados secundários provenientes da base eletrônica


disponível no site do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (www.trtsp.jus.br).
Através dessa ferramenta, realizou-se a busca por sentença, no link “Jurisprudência –
Pesquisa”, utilizando os seguintes descritores: “amianto” e “asbesto”. A pesquisa das
sentenças foi delimitada apenas por “Comarca”, conforme exposto. A pesquisa teve sua
coleta de dados realizada entre os meses de maio de 2013 a fevereiro de 2014.

O resultado obtido nesta ferramenta de busca foi de 139 processos judiciais


com sentenças proferidas. Ao final da seleção e limpeza dos dados, a amostra resultou
em 34 processos, com laudos médicos relacionados ao objeto dessa pesquisa. A limpeza
consistiu em eliminar os processos repetidos e aqueles que não abordaram a matéria
médica ora delimitada, de acordo com o período demarcado. Os laudos foram
anonimizados no que concerne ao nome das partes, do juiz sentenciante, assim como do
perito médico nomeado.

Os processos foram relacionados nas Tabelas 2 e 3:

Tabela 2. Reclamações trabalhistas com pelo menos um dos descritores


abaixo relacionados antes da limpeza dos dados. TRT 2ª Região, 2005-
2013
Descritores
Comarca Soma
Asbesto Amianto
São Paulo 20 41 61
Diadema 0 5 5
Osasco 4 5 9
Santo André 3 5 8
Santos 2 3 5
SBC 8 34 42
SCS 2 7 9
Total 39 100 139
Fonte: Pesquisa Jurisprudencial do TRT 2ª Região <www.trtsp.jus.br>
34

Tabela 3. Reclamações trabalhistas com pelo menos um dos descritores


abaixo relacionados após a limpeza dos dados. TRT 2ª Região, 2005-
2013
Descritores
Comarca Soma
Asbesto Amianto
São Paulo 12 11 23
Diadema 0 1 1
Osasco 2 2 4
Santo André 0 1 1
Santos 0 0 0
SBC 0 0 0
SCS 2 3 5
Total 16 18 34
Fonte: Pesquisa Jurisprudencial do TRT 2ª Região <www.trtsp.jus.br>

3.5. Equipe de trabalho

Os 34 laudos selecionados foram analisados, de forma independente, por


dois especialistas em doenças relacionadas ao asbesto, com a preservação das partes
envolvidas.

Os dois especialistas foram codificados em “A” e “B”, de forma a preservar


a imputação da nota ao avaliador.

3.6. Desenvolvimento do instrumento

As perícias médicas selecionadas foram avaliadas de acordo com o


instrumento de análise desenvolvido especificamente para este trabalho.

Os quesitos constantes do instrumento são derivados de duas vertentes: a


primeira diz respeito ao conhecimento específico sobre doenças associadas ao asbesto; e
a segunda é a utilização dos critérios de causalidade propostos por HILL (1965),
abordados recentemente no trabalho de KUNDI (2006), associados aos critérios
constantes do Capitulo 2, do Manual de Doenças Relacionadas ao Trabalho do
Ministério da Saúde (2001).

O instrumento é dividido em duas partes. A primeira parte do instrumento


contempla o motivo da demanda, ou seja, a doença objeto da reclamação, e que foi
35

analisada ao longo do trabalho pericial. Se o laudo abordou mais de um motivo, o


avaliador deve mencioná-los no instrumento. Há uma hipótese aberta (o motivo 8 –
demanda não especificada) a ser utilizada pelos avaliadores caso o perito não tenha
deixado claro em seu relatório qual das doenças associadas ao asbesto está sendo
avaliada.

Já a segunda parte do instrumento contém 7 quesitos fechados, e contempla


os critérios de causalidade que deveriam ser abordados durante a condução do trabalho
pericial em juízo. Os quesitos analisados apresentam respostas dicotômicas (sim; não) e
tricotômicas, nas perguntas que medem opiniões (sim; não; em parte).

O primeiro quesito busca verificar se a presença do agente (asbesto) no


ambiente de trabalho foi abordada pelo perito, em atenção aos critérios de Hill. Nesta
primeira etapa, os avaliadores devem apontar se o perito reconheceu ter havido a
exposição ao asbesto, seja por ter sido utilizado como matéria prima ou componente de
produtos manipulados pela empresa, ou se a exposição ocorreu de forma inadvertida,
reconhecida apenas após a suspeita da doença.

O quesito 2 teve como propósito examinar as considerações do perito


quanto à avaliação do efeito dose-resposta, característico das doenças associadas ao
asbesto (critério 5 de Hill). Nesta hipótese, os avaliadores abordaram se o perito
considerou evidências epidemiológicas, ou avaliações qualitativas e/ou quantitativas do
ambiente de trabalho.

Com base no quesito 3, os avaliadores analisaram se a conclusão do perito


quanto à abordagem da relação temporal entre a exposição ao agente e o desfecho em
análise era compatível com o tempo de latência característico da doença objeto da
demanda.

O quesito 4 cuidou de verificar se existiam dados satisfatórios no laudo


pericial que permitissem deduzir como foi confirmada a doença alegada, tal como se
exige para um adequado diagnóstico clínico.

O quesito 5 foi direcionado para a abordagem de dados e/ou discussão no


laudo pericial sobre os seguintes critérios de Hill: plausibilidade; conhecimento
36

epidemiológico sobre a associação; se os desfechos são específicos à exposição; se os


desfechos relacionados à exposição foram replicados em outros estudos.

O quesito 6 tratou do terceiro critério de Hill (a especificidade), aliado às


doenças associadas ao asbesto classificadas no grupo II ou III de Schilling. Nestes
casos, os avaliadores verificaram se o perito abordou as concausas de forma adequada
para a conclusão final.

O último quesito foi direcionado aos avaliadores, que puderam anotar, de


forma fechada (sim; não; em parte), se a conclusão do perito foi condizente com as
informações apresentadas no laudo pericial.

O instrumento destinou-se, portanto, a verificar se os laudos periciais


contemplaram os itens desejáveis para o estabelecimento da causalidade entre a
exposição ao asbesto e as doenças associadas.

O instrumento encontra-se no “Apêndice A”. As instruções para seu


preenchimento estão no “Apêndice B” deste trabalho.

3.7. Sistema de Pontuação

O escore resultante da aplicação deste instrumento foi calculado pela soma


da pontuação atribuída para cada quesito, e que pode variar de 0 a 2 pontos. O último
quesito, especificamente, por abordar a opinião dos especialistas quanto à conclusão do
perito, pode variar de 0 a 4 pontos. A primeira parte do instrumento, direcionada ao
motivo da demanda, não foi objeto de pontuação.

Nos quesitos 1, 2 e 4 há duas partes a serem avaliadas. A cada uma delas,


como um todo, foi atribuída a pontuação máxima de 2 pontos.

Nos quesitos 1 e 2 foi atribuído 1 ponto para cada parte. Caso a primeira
delas tenha sido considerada satisfatória pelos avaliadores, é que se pôde passar para a
análise da segunda parte do quesito. Nesta etapa sequencial, apenas o reconhecimento
de um dos itens abordados nestes dois quesitos foi satisfatório para a atribuição do
escore máximo.
37

O quesito 4 também foi desmembrado em duas partes. Da mesma forma, a


análise da segunda parte deste quesito dependeu de resposta total ou parcialmente
positiva (“sim=1 ponto” ou “em parte=0,5 ponto”) por parte dos avaliadores quanto à
pergunta do caput deste item. Assim, este quesito permitiu a pontuação fracionada na
casa do 0,5 pontos. Igualmente, considerou-se suficiente apenas o reconhecimento de
um dos itens abordados na segunda parte do quesito para a atribuição da nota.

O quesito 3 do instrumento não foi desmembrado, de modo que a pontuação


foi considerada máxima ou mínima, conforme o caso.

Já o quesito 5 foi desmembrado em quatro itens, cada um com pontuação de


25% do total permitido para o caso. Assim, nesta parte, também se pôde verificar
pontuação fracionada na casa do 0,5 pontos.

O quesito 6 do instrumento foi apreciado pelos avaliadores nas hipóteses de


motivos classificados como doenças do grupo II ou III de Schilling, e apenas nestes
casos é que a pontuação pode ser atribuída ao item. Ou seja, este quesito não foi
apreciado pelos avaliadores nas hipóteses de doenças Schilling I.

Por esta forma, o total possível para o instrumento é de 14 pontos, quando o


motivo da demanda se refere às doenças classificadas como Schilling I, e de 16 pontos
quando se estiver diante de doenças de origem multicausal (Schilling II ou III).

3.8. Pré-teste do instrumento

O instrumento passou por um pré-teste antes de adquirir sua forma


definitiva. O pré-teste foi realizado com a observância da metodologia adotada, tendo
como base quatro laudos que compõem a amostra desta pesquisa, selecionados de forma
aleatória. Os resultados preliminares obtidos com a realização do pré-teste não foram
submetidos às análises estatísticas. O objetivo foi verificar o grau de compreensão do
instrumento, além de identificar itens problemáticos e propor soluções, antes de definir
a versão final.

A Tabela 4 mostra os resultados do pré-teste, realizado em julho de 2013.


38

Tabela 4. Resultados do pré-teste do instrumento de avaliação, realizado em julho de


2013.

Motivo da Resultado
Perícia Avaliador Q1 Q2 Q3 Q4 Q5 Q6 Q7 Soma Proporção
demanda possível
1 A 1; 2 2 2 2 2 2 - 3 13 14 92,9
1 B 1; 2; 7 2 2 0 2 2 0 2 10 16 62,5
2 A 4 2 2 2 2 2 - 2 14 14 100
2 B 4 2 2 2 2 2 - 4 14 14 100
3 A 1; 2 2 0 0 2 0 - 2 6 14 42,9
3 B 1; 2 2 0 0 2 0 - 4 8 14 57,1
4 A 7 2 2 0 0 1,5 0 2 7,5 16 46,9
4 B 8 2 0 0 0 0 0 0 2 16 12,5

3.9. Consistência intra-avaliador

Para a avaliação da consistência intra-avaliador, foram reavaliados os


conteúdos dos laudos periciais em um segundo momento. A amostra para o teste de
consistência foi probabilística, obtida por sorteio manual. Foram selecionados 6 laudos
para este teste. Os números das perícias que compõe a amostra da pesquisa foram
escritos em cartões separados individualmente, colocados em uma urna, misturados e,
então, selecionados aleatoriamente, sem reposição, até atingir número pretendido. Os
laudos foram renumerados e reencaminhados aos avaliadores. Todas as reavaliações
foram efetuadas com trinta dias ou mais da avaliação inicial.

3.10. Análise dos dados

Após as avaliações, pelos especialistas, do conteúdo dos laudos periciais, os


resultados obtidos foram transferidos para uma planilha Excel, quando então foram
realizadas as análises quantitativas. Os valores obtidos nas avaliações foram
combinados em duas amostras: notas do Avaliador “A” e notas do Avaliador “B”. As
variáveis quantitativas foram expressas em termos de média, desvio-padrão (DP) e
mediana. As variáveis qualitativas foram expressas em termos de frequências absolutas
e relativas.

Para a comparação dos julgamentos interavaliadores foi utilizado o teste de


Mann-Whitney, próprio para verificar a distribuição das notas, isto é, se o julgamento
do Avaliador “A” tende a ter valores diferentes do que o do Avaliador “B”, ou se eles
39

têm a mesma mediana. A intensidade da associação entre estas duas variáveis foi
verificada pelo coeficiente de correlação de Spearman. Esta é a estatística adequada
para ser usada com variáveis numéricas quando suas distribuições são assimétricas e há
a ocorrência de observações atípicas (valores extrapolados entre as observações)
(DAWSON E TRAPP, 2003).

Para verificar a concordância entre os avaliadores em cada quesito do


instrumento foi calculado o coeficiente Kappa. O coeficiente varia de [-1 a 1], onde K =
1 reflete concordância perfeita, e K = 0 reflete a não concordância. O teste de hipótese
considera H0: K = 0, e reputa-se forte a concordância quando K ≥ 0,7. Para a
comparação do julgamento intra-avaliador foi utilizado o Teste de Postos Sinalizados de
Wilcoxon. O objetivo deste teste foi de avaliar alterações das notas atribuídas por um
mesmo avaliador em dois momentos distintos, no sentido de verificar se existem
diferenças significativas entre os seus resultados nas duas situações.

Para verificar a consistência dos julgamentos intra-avaliador, foi aplicado o


teste de McNemar (para amostras relacionadas a variáveis com duas categorias), e o
Teste de Simetria de Bowker (para amostras relacionadas para variáveis com três ou
mais categorias). Nestes testes, as notas atribuídas por um mesmo avaliador foram
utilizadas como o seu próprio controle. A hipótese nula (H0) considera que as
proporções sejam iguais nos dois momentos temporais diferentes.

Em todos os testes aplicados, os resultados foram considerados


significativos quando o nível de significância (P-valor) foi menor que 0,05, o que
implica na rejeição da hipótese nula. Os testes foram realizados com o auxílio do
programa SAS for Windows, versão 9.2 (SAS Institute Inc., Cary, NC, USA.).

3.11. Considerações éticas

A pesquisa foi desenvolvida com base em um banco de dados público.


Ainda que os nomes dos envolvidos estejam publicizados, manteve-se a
confidencialidade destes dados em todas as etapas da pesquisa. Não houve, outrossim,
conflito de interesse que pudesse prejudicar os resultados desta pesquisa, seja por parte
do pesquisador, seja por parte dos avaliadores.
40

4. RESULTADOS

Primeiramente, apresentam-se os resultados dos julgamentos


interavaliadores. Na sequencia, serão apresentados os resultados do teste de
consistência, consubstanciado no julgamento intra-avaliador. Por fim, serão
apresentados os resultados da análise do grau de influência da conclusão do perito na
definição da sentença.

4.1. Análise interavaliadores

Os resultados das análises dos laudos estão dispostos na Tabela 5.

Tabela 5. Resultados das análises dos 34 laudos periciais selecionados, sobre doenças associadas ao
asbesto. TRT 2ª Região, 2005-2013
Motivo Resultado
Perícia Avaliador Q1 Q2 Q3 Q4 Q5 Q6 Q7 Soma Proporção
da demanda possível
1 A 1; 2 2 2 2 2 2 - 3 13 14 92,86
1 B 2 2 2 2 2 2 - 4 14 14 100
2 A 4 2 2 2 2 2 - 4 14 14 100
2 B 2 2 2 2 1,5 2 - 2 11,5 14 82,14
3 A 1; 2 2 0 0 2 0 - 2 6 14 42,86
3 B 4 2 2 2 1 2 - 4 13 14 92,86
4 A 1; 2 2 0 2 2 2 - 2 10 14 71,43
4 B 8 2 0 0 0 0,5 - 2 4,5 14 32,14
5 A 8 2 2 0 0 0 - 0 4 14 28,57
5 B 8 2 2 0 0 0 - 0 4 14 28,57
6 A 4 2 2 2 2 2 - 4 14 14 100
6 B 4 2 2 2 2 2 - 4 14 14 100
7 A 2 2 2 2 2 2 - 4 14 14 100
7 B 8 2 2 0 2 2 - 2 10 14 71,43
8 A 2 2 2 2 2 2 - 0 10 14 71,43
8 B 8 2 0 0 1,5 0,5 - 2 6 14 42,86
9 A 1; 2; 7 2 0 2 2 2 2 4 14 16 87,5
9 B 1; 2 2 0 0 1,5 1,5 - 2 7 14 50
10 A 4 2 2 2 2 2 - 4 14 14 100
10 B 4 0 1 2 1 2 - 4 10 14 71,43
11 A 1; 7 2 2 0 2 2 2 4 14 16 87,5
11 B 8 0 0 0 1,5 0,5 1,5 2 5,5 14 39,29
12 A 8 2 0 0 0 - 2 4 12 33,33
12 B 8 2 2 2 0 1 - 4 11 14 78,57
13 A 1; 2; 7 2 0 2 2 2 2 2 12 16 75
13 B 2 2 2 2 2 2 - 2 12 14 85,71
14 A 1 0 0 0 2 0 - 0 2 14 14,29
14 B 9 2 2 2 2 1,5 - 0 9,5 14 67,86
15 A 4 2 2 2 2 2 - 4 14 14 100
15 B 2; 4 2 2 2 2 2 - 4 14 14 100
16 A 2 0 0 2 1,5 0 - 2 5,5 14 39,29
16 B 2 0 2 2 2 2 - 2 10 14 71,43
17 A 4 2 2 2 2 2 - 2 12 14 85,71
17 B 4 0 1 2 2 0,5 - 0 5,5 14 35,71
Continua
41

Motivo Resultado
Perícia Avaliador Q1 Q2 Q3 Q4 Q5 Q6 Q7 Soma Proporção
da demanda possível
18 A 1 2 0 0 2 0 - 2 6 14 42,86
18 B 8 2 0 0 2 1,5 - 2 7,5 14 53,57
19 A 2; 7 2 2 2 2 2 2 4 16 16 100
19 B 8 2 2 2 2 2 - 2 12 14 85,71
20 A 1; 2 2 0 0 2 0 - 0 4 14 28,57
20 B 1; 2 0 0 0 2 0 - 0 2 14 14,29
21 A 1; 2 2 2 2 2 0 - 2 10 14 71,43
21 B 8 2 0 0 2 0,5 - 0 4,5 14 32,14
22 A 1; 2 2 2 2 2 2 - 4 14 14 100
22 B 8 2 2 2 2 2 - 4 14 14 100
23 A 1; 2 2 0 0 2 0 - 4 8 14 57,14
23 B 2 2 0 0 2 0 - 0 4 14 28,57
24 A 1; 2 2 2 2 2 2 - 4 14 14 100
24 B 1 2 2 2 2 2 - 4 14 14 100
25 A 1; 2 2 0 2 2 2 - 3 11 14 78,57
25 B 2 2 2 2 2 2 - 2 12 14 85,71
26 A 1; 2 2 0 0 2 2 - 0 6 14 42,86
26 B 2 2 2 2 2 2 - 2 12 14 85,71
27 A 4 2 2 2 2 2 - 4 14 14 100
27 B 4 2 2 2 2 2 - 4 14 14 100
28 A 11 0 0 0 1,5 0 - 0 1,5 14 10,71
28 B 11 0 0 2 2 0 0 0 4 16 25
29 A 4 2 2 2 2 2 - 4 14 14 100
29 B 4 2 2 2 2 2 - 4 14 14 100
30 A 1; 2 2 2 2 2 2 - 4 14 14 100
30 B 1; 2 2 2 2 2 2 - 3 13 14 92,86
31 A 8 2 0 2 2 0 - 2 8 14 57,14
31 B 1 2 0 0 2 0 - 3 7 14 50
32 A 2 2 2 2 2 1 - 3 12 14 85,71
32 B 2 2 2 0 2 2 - 1 9 14 64,29
33 A 8 2 0 2 2 0,5 - 0 6,5 14 46,43
33 B 8 2 0 0 2 0 - 0 4 14 28,57
34 A 10 2 0 0 2 0,5 - 4 8,5 14 60,71
34 B 10 2 0 0 2 0 1,5 3 8,5 16 53,13

A Tabela 6 apresenta os valores de pontos globais segundo os avaliadores.

Tabela 6. Percentual de pontuação, segundo avaliador. TRT 2ª


Região, 2005-2013.
Avaliador n Média DP Mediana Mínimo Máximo P-valor
A 34 70,94 28,67 76,79 10,71 100,00 0,3656
B 34 66,16 27,77 71,43 14,29 100,00

Embora os laudos analisadas pelo Avaliador “A” tenham recebido um


percentual ligeiramente maior comparado aos analisados pelo Avaliador “B”, essa
diferença não foi estatisticamente significativa (P-valor = 0,3656).
42

A Figura 1 apresenta a dispersão dos pontos em volta da linha estimada, que


associa o percentual de pontuação do Avaliador “B” em função do percentual de
pontuação do Avaliador “A”, juntamente com o limite de confiança (área sombreada).

Figura 1. Dispersão do percentual de pontuação, segundo Avaliador.

O valor obtido do coeficiente de correlação de Spearman (r = 0,63004)


representa uma relação linear de 63%, entre os avaliadores “A” e “B”. Isso significa que
os avaliadores estão positivamente correlacionados, ou seja, caminham num mesmo
sentido. No entanto, apesar desta correlação ser significativa (P-valor ≤ 0,001), ela não é
muito intensa. Observa-se 10 pontos abaixo do limite inferior, 9 pontos acima do limite
superior, e 8 pontos dentro do limite de confiança. Isso mostra que o Avaliador “A”
tende a atribuir pontos percentuais mais altos em relação ao Avaliador “B”. Baseado nos
dados apresentados é possível afirmar que os avaliadores concordam em termos gerais,
mas não com a mesma magnitude.

A Tabela 7 apresenta a distribuição dos motivos da demanda. Neste aspecto,


percebe-se que o Avaliador “A” assinalou mais de um motivo com mais frequência que
o Avaliador “B” (P-valor = 0,006). O Avaliador “A” assinalou apenas um motivo em
55,9%, e mais de 1 motivo em 44,1% dos casos. Já o Avaliador “B” assinalou 1 motivo
em 88,2% e mais de um motivo em 11,8% dos casos.
43

Tabela 7. Distribuição dos motivos de demanda segundo avaliador. Número


de perícias analisadas e percentual. TRT 2ª Região, 2005-2013.
Avaliador
Motivo assinalado A B
n % n %
1 Motivo 19 55,9% 30 88,2%
Doença pleural pelo asbesto 2 5,9% 2 5,9%
Asbestose 4 11,8% 8 23,5%
Mesotelioma 7 20,6% 6 17,6%
Demanda não especificada 4 11,8% 11 32,4%
Nódulos nos pulmões - - 1 2,9%
Câncer gastrointestinal 1 2,9% 1 2,9%
Asma ocupacional 1 2,9% 1 2,9%
2 Motivos 13 38,2% 4 11,8%
Doença pleural pelo asbesto + Asbestose 11 32,4% 3 8,8%
Doença pleural pelo asbesto + DPOC 1 2,9% - -
Asbestose + Mesotelioma - - 1 2,9%
Asbestose + DPOC 1 2,9% - -
3 Motivos 2 5,9% 0 0,0%
Doença pleural pelo asbesto + Asbestose + DPOC 2 5,9% - -
Total Geral 34 100% 34 100%

A Tabela 8 mostra a distribuição de motivos dos avaliadores “A” e “B”. A


área sombreada corresponde a opiniões em que mais de um motivo foi assinalado.

Tabela 8. Distribuição conjunta dos motivos de demanda segundo Avaliador. Número de perícias
analisadas e percentual.TRT 2ª Região, 2005-2013.
Avaliador b Doença Demanda Nódulos DPA +
pleural pelo não nos Câncer Asma DPA + Asbestose DPA + Asbestose + Asbestose +
asbesto (DPA) Asbestose Mesotelioma especificada pulmões gastrointestinal ocupacional Asbestose + DPOC DPOC Mesotelioma DPOC Total
Avaliador a n % n % n % n % n % n % n % n % n % n % n % n % n %
Doença pleural pelo asbesto (DPA) - - - - - - 1 2.9% 1 2.9% - - - - - - - - - - - - - - 2 5.9%
Asbestose - - 2 5.9% - - 2 5.9% - - - - - - - - - - - - - - - - 4 11.8%
Mesotelioma - - 1 2.9% 5 14.7% - - - - - - - - - - - - - - 1 2.9% - - 7 20.6%
Demanda não especificada 1 2.9% - - - - 3 8.8% - - - - - - - - - - - - - - - - 4 11.8%
Nódulos nos pulmões - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 0 0.0%
Câncer gastrointestinal - - - - - - - - - - 1 2.9% - - - - - - - - - - - - 1 2.9%
Asma ocupacional - - - - - - - - - - - - 1 2.9% - - - - - - - - - - 1 2.9%
DPA + Asbestose 1 2.9% 4 11.8% 1 2.9% 3 8.8% - - - - - - 2 5.9% - - - - - - - - 11 32.4%
DPA + Asbestose + DPOC - - 1 2.9% - - - - - - - - - - 1 2.9% - - - - - - - - 2 5.9%
DPA + DPOC - - - - - - 1 2.9% - - - - - - - - - - - - - - - - 1 2.9%
Asbestose + Mesotelioma - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 0 0.0%
Asbestose + DPOC - - - - - - 1 2.9% - - - - - - - - - - - - - - - - 1 2.9%
Total 2 5.9% 8 23.5% 6 17.6% 11 32.4% 1 2.9% 1 2.9% 1 2.9% 3 8.8% - - - - 1 2.9% - - 34 100.0%

Para fins de análise de concordância entre os avaliadores “A” e “B” quanto


ao motivo da demanda, os dados foram reagrupados de acordo com as tabelas 9 e 10.

A Tabela 9 apresenta o resultado considerando apenas o primeiro motivo


mencionado, para os casos de mais de um motivo. Assim, os motivos “Doença pleural
pelo asbesto” e “Asbestose” ficaram mais concentrados. O coeficiente Kappa demonstra
um valor considerado de concordância pobre (K = 0,351, P-valor < 0,0001).
44

Tabela 9. Distribuição conjunta dos motivos (casos com mais de 1 motivo agrupados pela primeira
descrição) de demanda segundo Avaliador. TRT 2ª Região, 2005-2013.

Avaliador b Doença pleural Demanda não Nódulos nos Câncer Asma


pelo asbesto Asbestose Mesotelioma especificada pulmões gastrointestinal ocupacional Total
Avaliador a n % n % n % n % n % n % n % n %
Doença pleural pelo asbesto 4 11.8% 5 14.7% 1 2.9% 5 14.7% 1 2.9% - - - - 16 47.1%
Asbestose - - 2 5.9% - - 3 8.8% - - - - - - 5 14.7%
Mesotelioma - - 2 5.9% 5 14.7% - - - - - - - - 7 20.6%
Demanda não especificada 1 2.9% - - - - 3 8.8% - - - - - - 4 11.8%
Nódulos nos pulmões - - - - - - - - - - - - - - 0 0.0%
Câncer gastrointestinal - - - - - - - - - - 1 2.9% - - 1 2.9%
Asma ocupacional - - - - - - - - - - - - 1 2.9% 1 2.9%
Total 5 14.7% 9 26.5% 6 17.6% 11 32.4% 1 2.9% 1 2.9% 1 2.9% 34 100.0%

Considerando o segundo motivo agrupado, para os casos de mais de um


motivo, nota-se que os motivos “Asbestose” e “DPOC” ficaram mais concentrados
(Tabela 10), porém o coeficiente Kappa apesar de ter aumentado (K = 0,492, P-valor <
0,0001), o valor estimado ainda é considerado concordância fraca.

Tabela 10. Distribuição conjunta dos motivos (casos com mais de 1 motivo agrupados pela segunda
descrição) de demanda segundo Avaliador. TRT 2ª Região, 2005-2013.

Avaliador b Doença pleural Demanda não Nódulos nos Câncer Asma


pelo asbesto Asbestose Mesotelioma DPOC especificada pulmões gastrointestinal ocupacional Total
Avaliador a n % n % n % n % n % n % n % n % n %
Doença pleural pelo asbesto - - - - - - - - 1 2.9% 1 2.9% - - - - 2 5.9%
Asbestose 1 2.9% 10 29.4% 1 2.9% - - 5 14.7% - - - - - - 17 50.0%
Mesotelioma - - 1 2.9% 6 17.6% - - - - - - - - - - 7 20.6%
DPOC - - - - - - - - 2 5.9% - - - - - - 2 5.9%
Demanda não especificada 1 2.9% - - - - - - 3 8.8% - - - - - - 4 11.8%
Nódulos nos pulmões - - - - - - - - - - - - - - - - 0 0.0%
Câncer gastrointestinal - - - - - - - - - - - - 1 2.9% - - 1 2.9%
Asma ocupacional - - - - - - - - - - - - - - 1 2.9% 1 2.9%
Total 2 5.9% 11 32.4% 7 20.6% 0 0.0% 11 32.4% 1 2.9% 1 2.9% 1 2.9% 34 100.0%

No entanto, mesmo com o agrupamento dos motivos múltiplos, a


concordância interavaliadores foi fraca. O fato do Avaliador “B” ter marcado “Demanda
não especificada” em 32,4% dos casos analisados, enquanto que o Avaliador “A” em
11,8%, foi o fator que mais contribuiu para a fraca concordância observada.

Em seguida, foi analisada a concordância entre os avaliadores quanto à


resposta aos quesitos 1 a 7 do instrumento. O resumo das análises interavaliadores
segue disposto na Tabela 11.

Nos quesitos 1, 3 e 4 não houve evidência de concordância significativa


entre os avaliadores, como se nota pelos valores de Kappa e do valor de P, para cada
45

item. O quesito 6, especificamente, foi o que registrou o menor número de


preenchimento por parte dos avaliadores, já que apenas 11,8% dos casos envolviam
doenças classificadas no grupo II ou III de Schilling. Esta circunstância impossibilitou a
aplicação dos testes, porém, empiricamente, pode-se afirmar não haver evidência de
concordância entre os avaliadores também nessa questão. Já os quesitos 2, 5 e 7
apresentaram uma concordância fraca entre os avaliadores.

Tabela 11. Resumo das análises interavaliadores,


segundo pontos considerados. TRT 2ª Região, 2005-2013.

Pontos Interavaliadores
considerados Kappa P-valor Concordância
Quesito 1 0,3704 0,0735 Não
Quesito 2 0,3245 0,0464 Fraca
Quesito 3 0,1845 0,4575 Não
Quesito 4 0,2194 0,0731 Não
Quesito 5 0,3390 0,0044 Fraca
Quesito 6 * - - Não
Quesito 7 0,2653 0,0158 Fraca
* Resultados empíricos

Apesar de a nota global das avaliações apresentar concordância moderada,


os resultados das questões individuais mostram uma ausência ou fraca concordância.
Com o intuito de verificar se esta concordância dependia da opinião dos avaliadores
quanto à completude de informações constante nos laudos, foram analisados somente os
dez casos em que houve concordância positiva entre os avaliadores, representada pela
nota 2 à primeira parte do quesito 7. Considerando os 10 casos em que os avaliadores
“A” e “B” foram concordantes, os valores obtidos não foram significativos. Apenas o
quesito 3, reprodução da Tabela 12, se obteve um Kappa com forte concordância (K=1,
P-valor = 0.0222 ).

Tabela 12. Distribuição conjunta dos pontos atribuídos ao


quesito 3 do instrumento, segundo avaliador.
Avaliador B
0 2 Total
Avaliador A N n n
0 2 0 2
2 0 8 8
Total 2 8 10
46

4.2. Análise intra-avaliador

Foi selecionada uma amostra composta por 6 laudos, dentro do universo dos
34 avaliados, para a realização do teste de consistência. Nesta oportunidade, cada
avaliador reanalisou o mesmo laudo, e essas análises foram comparadas com o objetivo
de verificar a consistência do avaliador.

Os resultados do teste de consistência encontram-se no na Tabela 13.

Tabela 13. Resultados do teste de consistência, realizado em agosto de 2014. TRT 2ª Região, 2005-2013.

Motivo
Resultado
Consistência Perícia Avaliador da Q1 Q2 Q3 Q4 Q5 Q6 Q7 Soma Proporção
possível
demanda
1 28 a 11 0 0 0 1,5 0 0 1,5 14 10,71
1 28 b 11 0 0 2 2 0 0 0 4 14 28,57
2 24 a 1 2 2 2 2 2 4 14 14 100,00
2 24 b 1 2 2 2 2 2 4 14 14 100,00
3 8 a 2 2 2 2 2 2 0 10 14 71,43
3 8 b 8 2 0 0 1,5 0,5 2 6 14 42,86
4 19 a 2;7 2 2 2 2 2 2 4 16 16 100,00
4 19 b 8 2 2 2 2 2 2 12 14 85,71
5 3 a 1;2 2 0 0 2 0 2 6 14 42,86
5 3 b 4 2 2 2 1 2 4 13 14 92,86
6 25 a 4 2 2 2 2 2 4 14 14 100,00
6 25 b 2 2 2 2 2 2 2 12 14 85,71

A Tabela 14 apresenta os valores do percentual de pontos para cada


avaliador segundo as avaliações (1ª e 2ª).

Tabela 14. Percentual de pontuação, segundo avaliador e avaliações. TRT 2ª


Região, 2005-2013.
Avaliador Avaliação n Média DP Mediana Mínimo Máximo P-valor
A 1ª 6 70,83 37,28 85,72 10,87 100,00 0,8750
A 2ª 6 75,00 32,89 87,50 10,71 100,00
B 1ª 6 72,02 30,51 85,71 25,00 100,00 0,2500
B 2ª 6 75,00 25,76 87,50 35,71 100,00
47

De modo geral, a diferença entre as análises na primeira e na segunda


avaliação não foi significativa, tanto para o Avaliador “A” (S = -1, P-valor = 0,8750),
quanto para o Avaliador “B” (S = -4, P-valor = 0,2500), ou seja, não há evidência de
inconsistência nas análises feitas pelos avaliadores ao revisar os laudos selecionados.

Para testar a homogeneidade marginal dos pontos atribuídos, foi aplicado o


teste de McNemar (QM) ou o Teste de Simetria de Bowker (QB), quando apropriado. De
modo geral, o teste de hipótese considera H0: resposta_1ª avaliação = resposta_2ª avaliação, e a
rejeição da hipótese inicial implica na não homogeneidade das probabilidades
marginais.

Em relação aos motivos de demanda, não há evidência de não


homogeneidade nas avaliações, tanto para o Avaliador “A” (QB = 4,000, P-valor =
0.9977), quanto para o Avaliador “B” (QB = 2.000, P-valor > 0,999).

A tabela 15 apresenta a distribuição conjunta dos motivos de demanda


segundo avaliação.

Tabela 15. Distribuição conjunta dos motivos de demanda segundo avaliação. Avaliador “A” e “B”.
TRT 2ª Região, 2005-2013.
2 ª Avaliação Doença
pleural pelo Asma DPA + Asbestose
asbesto (DPA) Asbestose Mesotelioma ocupacional Asbestose + DPOC Total
1ª Avaliação n % n % n % n % n % n % n %
Doença pleural pelo asbesto (DPA) - - 1 16.7% - - - - - - - - 1 16.7%
Asbestose - - - - - - - - 1 16.7% - - 1 16.7%
Mesotelioma - - 1 16.7% - - - - - - - - 1 16.7%
Asma ocupacional - - - - - - 1 16.7% - - - - 1 16.7%
DPA + Asbestose - - - - 1 16.7% - - - - - - 1 16.7%
Asbestose + DPOC - - - - - - - - - - 1 16.7% 1 16.7%
Total (Avaliador a) 0 0.0% 2 33.3% 1 16.7% 1 16.7% 1 16.7% 1 16.7% 6 100.0%

2 ª Avaliação Doença DPA +


pleural pelo Demanda não Asma Asbestose
asbesto (DPA) Asbestose Mesotelioma especificada ocupacional OU DNE Total
1ª Avaliação n % n % n % n % n % n % n %
Doença pleural pelo asbesto (DPA) - - - - - - - - - - 1 16.7% 1 16.7%
Asbestose - - 1 16.7% - - - - - - - - 1 16.7%
Mesotelioma - - - - 1 16.7% - - - - - - 1 16.7%
Demanda não especificada (DNE) - - 1 16.7% - - 1 16.7% - - - - 2 33.3%
Asma ocupacional - - - - - - - - 1 16.7% - - 1 16.7%
DPA + Asbestose OU DNE - - - - - - - - - - - - 0 0.0%
Total (Avaliador b) 0 0.0% 2 33.3% 1 16.7% 1 16.7% 1 16.7% 1 16.7% 6 100.0%
48

Com relação à segunda parte do instrumento, os resultados das análises


quantitativas (Tabela 16) mostraram não haver evidência de não-homogeneidade no
preenchimento pelos avaliadores.

Tabela 16. Resumo das análises intra-avaliador, segundo pontos


considerados. TRT 2ª Região, 2005-2013.

Pontos Intra-avaliadores
considerados Q (A) P-valor (A) Q (B) P-valor (B) Homogeneidade
Quesito 1 - - - - Sim
Quesito 2 1.000 > 0,999 - - Sim
Quesito 3 1.000 > 0,999 2.000 0,5724 Sim

Quesito 4 1.000 0,8013 1.000 0,8013 Sim

Quesito 5 2.000 0,5724 1.000 0,9856 Sim

Quesito 6 * - - - - Sim/Não
Quesito 7 0.000 > 0,999 2.000 0,9197 Sim
* Resultados empíricos: o resultado foi Sim para o Avaliador “A” e Não para o
Avaliador “B”.

Como se pode observar, no primeiro quesito ocorreu concordância perfeita


entre as avaliações, tanto para o Avaliador “A” quanto para o Avaliador “B”. Como não
houve pares discordantes, o teste de homogeneidade não foi calculado.

Em relação ao segundo quesito, o teste de McNemar não evidenciou não


homogeneidade nos percentuais marginais do Avaliador “A” (QM = 1.000, P-valor >
0.999). Para o Avaliador “B”, também não foi identificado inconsistência, porque não
houve pares discordantes.

Em relação ao quesito 3, os testes não forneceram evidências que pudessem


rejeitar a hipótese de homogeneidade entre a 1ª e 2ª avaliações, tanto para os dados do
Avaliador “A” (QM = 1.000, P-valor > 0,999), quanto para os dados do Avaliador “B”
(QB = 2.000, P-valor = 0,5724).

Em relação ao quarto quesito, os testes não forneceram evidências que


pudessem rejeitar a hipótese de homogeneidade entre a 1ª e 2ª avaliações, para ambos os
avaliadores (QB = 1.000, P-valor = 0,8013 para os dois avaliadores).
49

No quesito 5, o teste de simetria não identificou diferença significativa entre


a 1ª e a 2ª avaliações, tanto para o Avaliador “A” (QB = 2.000, P-valor = 0,5724) quanto
para o Avaliador “B” (QB = 1.000, P-valor = 0,9856), ou seja, não houve evidência que
pudesse rejeitar a hipótese de homogeneidade entre as avaliações.

O sexto quesito não apresentou número suficiente de registros para


aplicação dos testes. O Avaliador “A” atribuiu 2 pontos em 1 perícia na 1ª avaliação,
que foi replicada na 2ª avaliação. O Avaliador “B” atribuiu 0 ponto na 1ª avaliação, mas
não replicou na 2ª avaliação. Empiricamente, o Avaliador “A” se mostrou mais
consistente, em relação ao avaliador “B”, com a ressalva de estar considerando apenas
uma perícia.

Em relação ao último quesito, o teste de simetria não identificou diferença


significativa entre a 1ª e a 2ª avaliações, tanto para o Avaliador “A” (QB = 0,000, P-
valor > 0,999) quanto para o Avaliador “B” (QB = 2.000, P-valor = 0,9197), ou seja, não
há evidência de rejeitar a hipótese de homogeneidade entre as avaliações.

Desta forma, os avaliadores apresentaram, de modo geral, consistência no


preenchimento do instrumento na 1ª e na 2ª avaliações.

4.3. A conclusão do perito e o julgamento da causa

Por fim, verificou-se o grau da concordância entre a conclusão do perito a


definição da sentença, quanto ao aspecto do nexo causal.

Em 70,59%, os peritos concluíram pela ocorrência do nexo nos casos


avaliados. Em 91,18% dos casos (31/34), o magistrado de 1º grau acolheu integralmente
as conclusões periciais como fundamento da sentença, o que demonstra uma
concordância forte entre ambos.

Nos casos em que houve julgamento de recurso por parte do Tribunal


Regional do Trabalho da 2ª Região, em apenas em 2 deles ocorreu a reforma da
sentença, não obstante ter havido a constatação do nexo causal por parte do perito.
50

Portanto, como regra, o Juiz do Trabalho toma a prova pericial como base
de sua fundamentação, até por não ter domínio dos conhecimentos médicos necessários
para avaliar estas questões específicas.

A Tabela 17 mostra a concordância entre a conclusão do perito a definição


da demanda.

Tabela 17. Concordância entre a conclusão do perito a definição da demanda. TRT 2ª


Região, 2005-2013.
Resultado do Recurso
Perícia Abordagem do nexo causal Resultado da sentença
no TRT 2ª Região
1 Sim Procedente Não houve recurso
2 Sim Procedente Procedente
3 Sim Procedente Procedente
4 Sim Procedente Procedente
5 Não Improcedente Improcedente
6 Sim Procedente Improcedente
7 Não Improcedente Improcedente
8 Sim Procedente Não julgou o mérito
9 Sim Procedente Não julgou o mérito
10 Não Improcedente Não houve recurso
11 Não Improcedente Improcedente
12 Não foi constatada a doença Não julgou o mérito Não houve recurso
13 Sim Procedente Procedente
14 Não Improcedente Improcedente
15 Sim Procedente Procedente
16 Não Improcedente Não houve recurso
17 Sim Procedente Improcedente
18 Sim Procedente Procedente
19 Não Improcedente Improcedente
20 Não Improcedente Não houve recurso
21 Sim Procedente Procedente
22 Sim Procedente Procedente
23 Sim Improcedente Improcedente
24 Sim Procedente Procedente
25 Sim Procedente Procedente
26 Sim Procedente Procedente
27 Sim Procedente Procedente
28 Não Improcedente Improcedente
29 Sim Procedente Anulação
30 Sim Procedente Aguardando Julgamento
31 Sim Improcedente Não julgou o mérito
32 Sim Procedente Procedente
33 Sim Improcedente Improcedente
34 Não Improcedente Não houve recurso
51

5. DISCUSSÃO

5.1. Da metodologia

Esta pesquisa utilizou-se de um estudo de corte transversal, do tipo


observacional, desenhado para observar “O que está acontecendo?” (DAWSON E TRAPP,
2003) com relação à prova pericial médica, lavradas nos autos dos processos julgados
no âmbito da competência do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, o maior
Tribunal da Justiça do Trabalho do país (CNJ, 2014).

A população desta pesquisa correspondeu aos laudos de perícias médicas


que abordaram o nexo causal entre a exposição ocupacional ao asbesto e doenças,
lavrados em reclamações trabalhistas julgadas em primeira instância. Selecionou-se para
esta pesquisa uma amostra, baseada em métodos não probabilísticos. A amostra foi
formada por conveniência e direcionada para os seguintes municípios: Santos, São
Paulo, São Bernardo, São Caetano do Sul, Santo André, Osasco e Diadema. De acordo
com ALGRANTI (2012), alguns destes municípios apresentaram, no período de 1996 a
2010, uma mortalidade média por mesotelioma superior à esperada para o Brasil e para
o Estado de São Paulo.

5.2. Do instrumento

Para atingir aos objetivos traçados, elaborou-se um instrumento com base,


primordialmente, nos critérios de causalidade apresentados no artigo publicado por HILL
(1965). Este é considerado um dos trabalhos mais citados em pesquisa na área da saúde,
aplicável, inclusive, ao caso das exposições ditas ocupacionais e sua relação com o
adoecimento dos trabalhadores (MENDES E WÜNSCH FILHO, 2013). Apesar de tais
critérios terem sido construídos para uma abordagem epidemiológica do nexo causal
entre um fator de risco e a doença, podem ser utilizados numa perspectiva clínica,
inclusive durante a atuação do médico enquanto perito numa ação individual. Por esta
razão, os critérios de Hill foram adotados na elaboração do instrumento utilizado nesta
pesquisa.
52

O instrumento de análise do conteúdo dos laudos periciais contemplou todos


os critérios de Hill, com exceção da força da associação (critério 1) e evidência
experimental (critério 8), por entender não cabíveis na avaliação proposta.

5.3. Resumo dos principais achados

Os resultados das análises quantitativas mostraram que os laudos periciais


obtiveram, de um modo geral, um escore considerado bom, numa avaliação de 0 a 100.
A nota média global atribuída pelos avaliadores “A” e “B” foi de 68,55 pontos.
Inclusive, houve uma correlação positiva entre os avaliadores quanto à análise dos
laudos, tendo sido considerada estatisticamente significante.

No entanto, é de se destacar que, apesar de ter havido uma avaliação


positiva, os especialistas discordaram em diversos aspectos quando à observância, por
parte dos peritos, dos itens abordados no instrumento. De acordo com os resultados, em
50% dos casos não houve evidencias de concordância entre os avaliadores, e nos outros
50% a concordância observada foi considerada fraca.

Não obstante a fraca ou nula concordância entre os julgamentos dos dois


avaliadores, os resultados da análise intra-observador não demonstraram haver
evidências de inconsistência nas análises individuais. A diferença do julgamento de
cada observador na primeira e na segunda avaliações não foi significativa, o que
mostrou consistência no preenchimento do instrumento.

As análises também demonstraram haver forte concordância entre a


conclusão do perito e o resultado da demanda, especificamente com relação à
ocorrência do nexo causal entre o fator de risco e a doença alegada. Nos 23 casos em
que houve julgamento do mérito em 2º grau (67,65%), manteve-se em 19 deles
(82,61%) a decisão ancorada na conclusão do laudo pericial. Esse resultado evidencia
que a conclusão do perito tem influência direta no julgamento da causa pelas instâncias
ordinárias.
53

5.4. Concordância entre os avaliadores

A ausência ou a fraca concordância entre os avaliadores “A” e “B” deve-se


a diversos aspectos. Em primeiro lugar, é de se destacar que houve grande diferença em
relação à identificação do motivo da demanda, comparando o julgamento dos dois
avaliadores. O Avaliador “A” marcou mais de um motivo (44,1%) com mais frequência
que o Avaliador “B” (11,8%). Apenas um motivo foi assinalado em 55,9% pelo
Avaliador “A” e em 82,2% pelo Avaliador “B”. Nota-se que o motivo “Demanda não
especificada” foi marcado em 11,8% dos casos analisados pelo Avaliador “A”, e em
32,4% pelo Avaliador “B”, fator considerado de grande contribuição para a fraca
concordância entre as análises.

Assim, é possível observar, de modo geral, que a doença alegada no


processo não foi apresentada de forma adequada pelo médico perito em seu laudo.
Inclusive, em algumas situações, os peritos apresentaram poucos dados sobre a história
ocupacional do trabalhador, o que dificultou a extração de dados relevantes pelos
avaliadores. Este é um fator que pode ter contribuído para a limitação da definição
etiológica das doenças nos processos analisados. Além disso, o perito revelou, em
alguns casos, desconhecimento sobre o tema, confundindo uma doença por outra, apesar
de cada uma ter uma semiologia própria. Em mais de uma oportunidade, os peritos
confundiram asbestose com placas pleurais. Este também pode ser considerado outro
fator a corroborar a fraca concordância entre aos avaliadores quanto à identificação do
motivo da demanda.

Com relação aos 7 quesitos analisados, a fraca e a nula concordância entre


os avaliadores podem ser atribuídas aos seguintes fatores: muitas vezes, os laudos não
informam adequadamente como se caracterizaram as exposições e foram incompletos
quanto à descrição de exames que embasaram a solicitação do reclamante. Além disso,
alguns peritos misturaram os conceitos de tempo de exposição e de latência.

De modo geral, os peritos se limitaram a expor sobre as doenças associadas


ao asbesto, sem ir cotejando com o caso em análise, para, ao final, concluírem pela
existência nexo causal. Ademais, muitas das conclusões constantes no laudo não foram
feitas de forma adequada, por não apresentarem amparo nos resultados dos exames
54

descritos. Assim, o resultado final pode até ter sido atendido, mas a discussão a respeito
do tema não foi considerada satisfatória pelos avaliadores.

Houve, também, certa desconsideração a respeito da exposição ao asbesto


como fator de contribuição para a ocorrência de certas doenças, em especial para
aquelas classificadas nos Grupos II ou III de Schilling (principalmente para o câncer de
pulmão com histórico de tabagismo associado).

A pobre concordância observada entre os avaliadores pode ser um reflexo


da dificuldade relatada por SANTOS (2014): de modo geral, há uma dificuldade do
médico, clínico e do trabalho, em conseguir compreender os riscos do trabalho ao
conversar com um paciente ou trabalhador. Nestas situações, podem ocorrer, segundo
SOUTO (2003), três situações de erro na formulação do diagnostico, aplicável à espécie:

1) diagnosticar em excesso: isso pode ser explicado por dificuldade do


médico, que poderia ter sido levado pela ansiedade a diagnosticar acima da realidade,
por displicência, ou ainda como expediente para não assumir a responsabilidade de uma
decisão;

2) diagnosticar de menos, de modo a não fazer o diagnóstico de uma doença


presente. Isso pode ocorrer por superficialidade na anamnese, por falta de conhecimento
ou por má interpretação dos achados clínicos; e

3) diagnosticar de modo equivocado, em razão da falta de conhecimento ou


interpretação errada dos dados coletados. Esse caso, na maioria das vezes acontece por:
exame físico incompleto; exames complementares sem indicação precisa ou com
interpretação malfeita; formulação errada do problema ao considerar-se apenas uma
possibilidade de diagnóstico.

Em razão disso, ficam prejudicados não apenas o diagnóstico, mas também


a exploração clínica e estabelecimento do próprio nexo causal (ALGRANTI E DE
CAPITANI, 2014).
55

5.5. Concordância intra-avaliador

A reanálise de 6 (seis) dos laudos foi feita em um segundo momento com o


objetivo de verificar a consistência do julgamento de cada avaliador. Os resultados
mostraram haver homogeneidade e consistência no preenchimento do instrumento pelos
avaliadores, na 1ª e 2ª avaliações, com nível descritivo (valor de P) considerado
significativo para todos os quesitos, inclusive para o item “Motivo da Demanda”.
Assim, houve a confirmação da hipótese testada, segundo a qual: a resposta_1ª avaliação =
resposta_2ª avaliação.

Com isso, é possível deduzir que a fraca ou a nula concordância observada


entre os julgamentos dos avaliadores não se deve ao conteúdo do instrumento ou mesmo
a forma como ele foi aplicado. Esse resultado pode ser explicado em razão de as
perícias terem sido, de modo geral, pouco objetivas, o que dificultou a extração de
dados relevantes. É de se considerar, ainda, que muitos laudos continham extensas
transcrições de trechos, capítulos de livros ou publicações técnicas, que pouco
acrescentavam à conclusão final.

5.6. Da concordância entre perícia e sentença

Os resultados evidenciaram haver forte concordância entre a conclusão do


perito e o resultado da demanda. No julgamento de primeiro grau, o juiz acolheu a
conclusão do perito em 91,18% dos casos.

Outros trabalhos qualitativos apresentaram resultados semelhantes. O estudo


realizado por SILVA, LIMA E LORENZO (2011) analisou as bases racionais das decisões
dos juízes da Justiça do Trabalho de Salvador, Bahia, nos casos de acidentes de trabalho
e doenças ocupacionais, e constatou que o juiz, de modo geral, se posiciona conforme a
perícia realizada.

MANZI (2014) também apresentou resultado similar. Ele estudou, de forma


qualitativa, o paralelo e as intersecções existentes entre a atividade do juiz na construção
da decisão judicial e do perito na construção do laudo pericial. Como resultado,
apresentou não ser incomum se deparar com a mera transcrição das conclusões do perito
56

nas sentenças judiciais, demonstrando, ao final, preocupação com a falta de uma análise
crítica pelo juiz sobre o trabalho do perito.

No entanto, nossa pesquisa identificou que em 3 dos 34 casos analisados


(8,82%), este padrão no julgamento não foi observado. Nas Perícias 23, 31 e 33 a
concordância entre a conclusão do perito e a decisão do juiz, quanto à ocorrência do
nexo causal, foi nula. Nestes 3 casos, houve o reconhecimento da origem ocupacional
da doença alegada no processo, mas o magistrado que proferiu a sentença afastou a
conclusão do perito e julgou a demanda com base em outros elementos de prova
constantes dos autos.

Em um destes casos (Perícia 33), o trabalhador foi diagnosticado pelo perito


como sendo portador de asbestose. Porém o magistrado afastou o nexo causal em razão
do pouco tempo de exposição e de latência. Inclusive, as seguintes circunstâncias
observadas: ter sido o reclamante fumante por aproximadamente quinze anos; e ter feito
uso, durante a jornada de trabalho, de equipamento de proteção individual (EPI),
tornaria, na visão do magistrado, inconsistente a conclusão pericial. Já nas Perícias 31 e
23, apesar de ter sido reconhecido o nexo causal, o magistrado sentenciante não acolheu
o pedido formulado na demanda em razão da doença alegada ter sido considerada
assintomática pelo perito (placas pleurais), de modo a não comprometer a capacidade
para o trabalho. Estes fatores constantes do laudo contribuíram de forma decisiva para a
formação do convencimento do magistrado, não obstante ter sido outra a conclusão do
perito.

De acordo com a Tabela 17 supra, em apenas 2 dos 34 casos analisados


(5,88%) houve a reforma da decisão pelo Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região,
quando do julgamento de recurso. Esse resultado mostra consonância com aqueles
apresentados por MANZI (2012): sentenças fundadas em laudos periciais possuem
estatisticamente uma maior possibilidade de ser mantidas em eventuais recursos. A
razão por que tal situação ocorre é explicada, empiricamente, da seguinte forma:

O perito sente-se confortável, porque, mesmo sabendo-se ou desconfiando


estar equivocado, conta que o juiz poderá corrigir seus eventuais equívocos
ao sentenciar, por não estar vinculado ao laudo. O juiz, mesmo correndo o
risco de errar, prefere avalizar o laudo, para errar em boa companhia ou ter
uma sentença menos permeável à reforma. O Tribunal, mesmo ratificando o
57

erro, terá nos autos somente elementos que corroborem o equívoco,


tornando-o aparentemente um acerto. O mais nefasto é que, cria um
precedente espúrio e precedentes servem de modelo para outras decisões,
num círculo vicioso inaceitável (MANZI, 2012).

Portanto, essas situações denotam a importância que a perícia médica possui


no âmbito das ações indenizatórias decorrentes de doenças ocupacionais.

5.7. Limitações do estudo

Por fim, é necessário admitir algumas limitações da pesquisa.

Uma primeira restrição foi quanto à amostra empregada. O fato de ter sido
utilizada amostragem não-probabilística impediu a generalização dos resultados para a
população. O reduzido tamanho da amostra também foi um fator limitante para a
aplicação de alguns testes estatísticos. Amostras maiores poderiam proporcionar maior
robustez nos resultados. Ademais, a existência de poucos trabalhos correlatos dificultou
a comparação dos resultados.

Outra limitação refere-se ao instrumento de análise. Os quesitos, apesar de


fechados, permitem interpretações pelos avaliadores, circunstância que também pode ter
influenciado na fraca concordância observada com relação às análises
interobservadores.
58

6. CONCLUSÕES

Apesar das limitações encontradas, os objetivos foram atingidos. O


instrumento de análise se mostrou consistente para avaliação da qualidade dos laudos
médicos que compuseram a amostra desta pesquisa.

Como conclusão, percebeu-se, de modo geral, uma baixa qualidade dos


laudos lavrados nos processos analisados. Essa situação evidenciou-se na elaboração de
laudos não padronizados e, por vezes, pouco claros.

Não obstante, a perícia médica não deve ser avaliada mecanicamente com o
rigor e a frieza de um instrumento de precisão. Nem sempre há certeza absoluta de que
certo fato foi o que produziu certo dano. Apesar de todos os recursos propedêuticos
disponíveis, em razão de o diagnóstico basear-se fundamentalmente em evidências, suas
interfaces apresentam um grau de incerteza.

Os diagnósticos médicos quase sempre são probabilísticos. Sendo assim, no


caso das doenças relacionadas ao trabalho, basta um grau elevado grau de probabilidade
da sua ocorrência para que se possa atribuir o nexo com o trabalho. Este fato é relevante
para que dele o juiz tenha conhecimento no julgamento da questão, ainda mais quando
se percebeu um elevado índice de aceitação da conclusão do perito na definição da
demanda (91,18% dos casos).
59

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70

APÊNDICE
71

Apêndice A - Avaliação de Conteúdo de Perícias Médicas Judiciais em Doenças


Associadas ao Asbesto

Avaliação de Conteúdo de Perícias Médicas Judiciais em Doenças Associadas ao


Asbesto
Perícia nº
Motivo da Demanda
1. Doença pleural pelo asbesto
2. Asbestose
3. Câncer de pulmão associado ao asbesto
4. Mesotelioma
5. Câncer de laringe
6. Câncer de ovário
7. DPOC
8. Demanda não especificada
9. Nódulos nos pulmões
10. Câncer gastrointestinal
11. Asma ocupacional

Utilize 1 para SIM e 2 para NÃO

1. O perito informa se o agente (asbesto) foi caracterizado no ambiente de trabalho?

Em caso positivo:

- Reconhecido através de relatórios técnicos provenientes de órgãos públicos ou da


própria empresa

- Reconhecido por ser uma das matérias primas do processo produtivo da empresa

- Reconhecido por ser um agente componente de produtos instalados e/ou manipulados


na empresa

- Reconhecido apenas após suspeita de doença associada ao asbesto

2. O perito considerou se a magnitude da exposição ao agente (asbesto) era suficiente


para se observar o efeito em questão?

Em caso positivo, foi baseado em:

- Evidências epidemiológicas

- Evidências de avaliação qualitativa

- Evidências de avaliação quantitativa


72

3. O perito aborda se a relação temporal entre exposição ao agente e o desfecho em


análise é compatível?

4. O perito verificou se o(s) desfecho(s) que moveram o reclamante a entrar com o


processo tiveram o(s) diagnóstico(s) confirmado? (sim, não, em parte= 8)

Em caso positivo:

- Por métodos de imagem

- Por provas de função pulmonar

- Por métodos de anatomia patológica

- Por sintomas clínicos

5. Na perícia em análise a associação (ou sua ausência) entre a exposição ao asbesto e


o(s) desfecho(s) referidos(s) tiveram os itens abaixo descritos abordados?

- Plausibilidade biológica

- Associação epidemiológica reconhecida

- Especificidade em relação à exposição referida

- Consistência em estudos publicados

6. No caso de demandas referentes aos desfechos 3,5,6 e 7, considerados como Grupo


II ou III de Shilling, outros fatores de risco foram levados em consideração na perícia?

Em caso positivo:

Em sua opinião foram adequadamente consideradas para a conclusão final? (sim, não,
em parte= 8)

7. Ao Avaliador:

As informações constantes no laudo pericial justificam a conclusão do perito? (Sim,


Não, em parte= 8)

Na sua opinião, a conclusão do perito foi adequada? (Sim, Não, em parte= 8)


73

Apêndice B - Instruções para o preenchimento do Instrumento de Avaliação de


Conteúdo Técnico em Perícias Médicas Judiciais por suspeitas de Doenças
Associadas ao Asbesto

Objetivo:

O instrumento anexo destina-se a verificar se os laudos periciais referentes à demandas


por doenças associadas ao asbesto contemplam os itens desejáveis para o
estabelecimento de causalidade, de forma adequada.

Conteúdo:

As questões constantes no questionário são derivadas de duas vertentes: a primeira é o


conhecimento específico sobre doenças associadas ao asbesto, e a segunda é a utilização
do texto clássico de Hill (1965) sobre causalidade, associado aos critérios constante no
Capitulo 2 do Manual de Doenças Relacionadas ao Trabalho do MS (2001), e ao texto
de Kundi (2006) que discute os critérios de Hill.

O instrumento não contempla os critérios de Hill referentes a força (critério 2) e de


verificações experimentais (critério 7), por se entender que não são cabíveis na
avaliação proposta.

Instruções de Preenchimento:

Perícia nº: As perícias serão anonimizadas e enviadas ao especialista em numeração


sequencial. Este numero deve ser utilizado como identificador da avaliação.

Motivo da Demanda: Verificar e assinalar as doenças (desfechos) que estão sendo


demandados na petição. Com frequência, a petição inclui mais de uma e o perito deve
mencioná-las. O motivo 8 (Demanda não especificada) deve ser utilizado no caso do
perito não deixar claro qual das doenças associadas ao asbesto (opções 1 a 7) estão
sendo avaliadas.

Questão 1: Verificar se a presença do agente (asbesto) no ambiente de trabalho foi


mencionada e/ou confirmada pelo perito, e de que forma. Atentar para a última
74

pergunta: “Reconhecido apenas após suspeita de doença associada ao asbesto” – o


sentido da questão refere-se apenas a casos em que a exposição foi inadvertida, sem
conhecimento prévio (Ex: trabalhadores que se apresentam com placas ou
mesotelioma, sem informação de trabalho anterior em indústria típica ou sem
conhecimento de exposição ao asbesto em outras situações).

Questão 2: Verificar se houve considerações no laudo pericial que abordam alguma


forma de avaliação do efeito dose-resposta. Podem ser utilizados critérios
epidemiológicos (outros casos existentes) ou avaliações de ambiente de trabalho, sejam
qualitativas ou quantitativas.

Questão 3: Segundo Hill, a relação temporal é o principal critério de associação.

Questão 4: Verificar se há dados no laudo pericial que permitam deduzir como (e, se) o
perito confirmou a doença alegada. Notar que há opção “em parte” – significa que não
há dados satisfatórios no texto que permitam deduzir que o perito confirmou a doença
(Ex: no caso de duas doenças alegadas, o perito só aborda o diagnóstico de uma
delas).

Questão 5: Verificar se há dados e/ou discussão no laudo pericial sobre os critérios de:

- Plausibilidade

- Conhecimento epidemiológico sobre a associação

- Se os desfechos são específicos à exposição

- Se os desfechos relacionados à exposição referida foram replicados em estudos


publicados.

Questão 6: Alguns desfechos relacionados à exposição ao asbesto não são específicos,


como as neoplasias (excetuando-se o mesotelioma) e a doença pulmonar obstrutiva
crônica. Nestes casos é desejável que o perito tenha abordado as concausas de forma
adequada para a conclusão final. O especialista deverá reconhecer se o perito abordou
75

uma ou mais concausas (sim ou não), e se a abordagem foi adequada (sim, não, em
parte)

Questão 7: Ao final, o avaliador deve anotar se a conclusão do perito foi condizente


com as informações apresentadas no laudo pericial e, também, com a opinião do
avaliador.

Todas as perícias serão avaliadas por dois especialistas, de forma independente.


Posteriormente, serão pontuadas pelo autor da pesquisa para fins de análise dos
resultados.

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