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Natal
Novembro 2020
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Novembro 2020
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Agradecimentos
RESUMO
Esta pesquisa teve como objetivo discorrer sobre o trabalho realizado pela Banda Braille,
grupo musical da Escola de Música da UFRN, buscando relatar as experiências e os
desafios encontrados no desempenho das atividades do grupo, e de que forma essa
vivência contribui para o desenvolvimento dos seus integrantes. A escolha do objeto deste
estudo deu-se pelo envolvimento do pesquisador com o conjunto, e seu interesse em
investigar as práticas desenvolvidas em um grupo composto por deficientes visuais e
videntes. Os procedimentos metodológicos utilizados na investigação correspondem à
abordagem qualitativa e ao estudo de caso, e a coleta de dados foi feita por meio de
entrevistas semiestruturadas, fotos e postagens em redes sociais além de pesquisa
bibliográfica. Os resultados obtidos mostram que as interações construídas nas atividades
desenvolvidas pelo grupo possibilitaram o desenvolvimento tanto musical quanto
interpessoal entre todos os envolvidos.
ABSTRACT
This research aimed to discuss the work performed by Banda Braille, a musical group of
the UFRN School of Music, seeking to report on the experiences and challenges
encountered in the performance of the group's activities, and how this experience
contributes to the development of its members. The choice of the object of this study was
due to the involvement of the researcher with the set, and his interest in investigating the
practices developed in a group composed of visually impaired and seers. The
methodological procedures used in the investigation correspond to the qualitative
approach and the case study, and data collection was done through semi-structured
interviews, photos, and posts on social networks, as well as bibliographic research. The
results obtained show that the interactions built in the activities developed by the group
allowed the development of both musical and interpersonal among all involved.
LISTA DE SIGLAS
LISTA DE FOTOGRAFIAS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 12
2 METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO................................................................14
2.1 Pesquisa qualitativa e estudo de caso.........................................................................14
2.2 Escolha do campo.......................................................................................................14
2.3 Procedimentos da coleta de dados..............................................................................15
2.3.1 Pesquisa bibliográfica e documental .......................................................................15
2.3.2 Observação participante..........................................................................................15
2.3.3 Entrevistas semiestruturadas...................................................................................16
2.4 Termo de consentimento livre e esclarecido - TCLE..................................................16
2.5 Registros fotográficos e em áudio..............................................................................17
2.6 Organização e análise dos dados.................................................................................17
3 A EMUFRN e seus projetos de inclusão social .......................................................19
3.1 O primeiro passo .......................................................................................................19
3.2 O SEMBRAIN...........................................................................................................20
3.3 O programa Esperança Viva ....................................................................................21
3.4 As atividades do programa Esperança Viva...............................................................22
4 A Banda Braille ..........................................................................................................28
4.1 A história da banda ....................................................................................................28
4.2 Os objetivos do grupo.................................................................................................28
4.3 Os integrantes ...........................................................................................................29
4.4 O repertório e as atividades desenvolvidas ...............................................................30
5 O relato de uma experiência.......................................................................................30
5.1 Minha história na EMUFRN ......................................................................................30
5.2 Outros novos horizontes.............................................................................................31
5.3 Minha entrada na Banda Braille: experiências e desafios..........................................32
5.4 Os ensaios e apresentações.........................................................................................34
5.5 O aprendizado............................................................................................................37
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................39
REFERÊNCIAS.............................................................................................................42
APÊNDICES .................................................................................................................44
APÊNDICE A: Termo de autorização do Coordenador da Banda Braille para a realização
da pesquisa.......................................................................................................................45
11
1 INTRODUÇÃO
Nos últimos anos vemos crescer o debate sobre inclusão social e essa temática
passa a ser discutida nos diversos espaços educacionais. De acordo com o pesquisador
Ítalo Soares da Silva:
2 METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO
Antônio Carlos Gil (2010), citando Robert Yin (2005) afirma que atualmente o
estudo de caso “é encarado como o delineamento mais adequado para a investigação de
um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto real, onde os limites entre o
fenômeno e o contexto não são claramente percebidos” (GIL, 2010, p. 37).
como baterista do grupo desde o ano de 2018, tive a oportunidade de observar e vivenciar
a prática musical coletiva de videntes e deficientes visuais e a metodologia utilizada para
o seu desenvolvimento.
Na pesquisa, além apresentar um relato sobre a Escola de Música e seus projetos
de inclusão social, busco discorrer sobre a minha experiência no grupo evidenciando a
metodologia de trabalho utilizada. Compreendendo a Banda Braille como um importante
espaço para a formação musical e humana dos indivíduos envolvidos, procurei evidenciar
também o seu importante papel em relação às práticas musicais inclusivas.
Uma vez que a busca por informações para subsidiar uma pesquisa pode gerar
materiais que favoreçam a exposição dos envolvidos, a exemplo de fotos e registro em
vídeo e áudio, elaborei termos de autorização e consentimento direcionados ao
17
coordenador do projeto Banda Braille e aos integrantes do grupo para a realização das
entrevistas. Compreendendo a necessidade de autorização para a utilização dos dados,
mesmo que sejam utilizados apenas para fins acadêmicos, me alinho ao pensamento do
pesquisador Luiz Ricardo Silva Queirós (2013) que, em seu artigo “Ética na pesquisa em
música: definições e implicações na contemporaneidade”, esclarece:
Segundo Robert Yin, “provas observacionais são, em geral, úteis para fornecer
informações adicionais sobre o tópico que está sendo estudado” (YIN 2001, p 115).
Os registros fotográficos utilizados nessa investigação foram obtidos dos acervos
do Sembrain e de acervos particulares.
As entrevistas foram documentadas em áudio, sendo realizadas via telefone e
aplicativo WhatsApp.
3.2 O SEMBRAIN
As atividades destinadas a um público portador de necessidades especiais foram
aos poucos se multiplicando. Lideradas pela professora Catarina Shin e sua equipe, e
apoiadas pela UFRN elas foram pouco a pouco exigindo uma maior atenção e
demandando um maior volume de trabalho. Observou-se a necessidade de maior suporte
e fortalecimento das ações voltadas para a política de inclusão social. Nesse sentido, em
4 de dezembro de 2014, por meio de uma parceria da Escola de Música com a Comissão
Permanente de Apoio a Estudantes com Necessidades Especiais (CAENE/UFRN) é
inaugurado o SEMBRAIN – Setor de Musicografia Braille e Apoio à Inclusão.
• Musicalização Up
Foto 1. Apresentação de alunos e monitores do projeto Musicalização UP. Fonte: Arquivos do projeto.
EMUFRN
O encontro foi criado em 2013 como um desdobramento dos cursos de flauta doce
para pessoas com deficiência visual e do curso de musicografia Braille. Inicialmente
nomeado “Encontro Sobre o Ensino de Música para Pessoas com Deficiência Visual -
EMDV”, o encontro buscava discutir e refletir sobre questões inerentes ao ensino da
música para pessoas com deficiência visual. Em 2015 o evento aconteceu juntamente com
o Seminário de Música e Inclusão, apresentando atividades relacionadas a Educação
Musical e outros tipos de deficiência como autismo e surdez. De acordo com o
pesquisador Ítalo Soares da Silva (2019), em sua sexta edição realizada em 2018 o
encontro passou a se chamar Encontro Sobre Música e Inclusão - EMI (Foto 3, p.25) e a
incorporar as ações antes desenvolvidas no EMDV e no Seminário de Música e Inclusão.
Ainda segundo Silva:
Formado por deficientes visuais e videntes, o grupo vocal Vivendo o Canto (Foto
5, p.26) é um coral que surgiu em 2016 como uma forma de ensinar técnica vocal aos
integrantes do Grupo Esperança Viva. O Vivendo o Canto tem como objetivos propiciar
o ensino do canto e da técnica vocal, além de desenvolver estratégias metodológicas para
facilitar o aprendizado de pessoas com deficiência visual. O grupo preocupa-se em
promover a difusão e fruição cultural buscando contribuir com a instituição no sentido de
ampliar e fortalecer as atividades relacionadas à área de inclusão social
O grupo surgiu em 2014 como uma das atividades desenvolvidas nos cursos de
violão destinados a pessoas com deficiência visual. A Orquestra de Violões (Foto 6, p.27)
fez sua estreia em 2017 no V Encontro Sobre o Ensino de Música para Pessoas com
Deficiência Visual e III Seminário de Música e Inclusão, realizados na Escola de Música.
Atualmente o grupo é formado por discentes, docentes, servidores técnico-
administrativos e pessoas da comunidade externa com ou sem deficiência visual. A
Orquestra busca ampliar o repertório para essa formação, propiciar o desenvolvimento
técnico-musical de seus integrantes, divulgar as ações inclusivas desenvolvidas na
EMUFRN, bem como reforçar a importância da realização de atividades voltadas para o
universo da inclusão social
28
4 A Banda Braille
A Banda Braille (Foto 7, p.28) foi criada no ano de 2014 e sua origem está
relacionada às aulas de violão oferecidas pela Escola de Música para pessoas com
deficiência visual. O grupo, que era composto por docentes, servidores técnico-
administrativos, alunos do curso de licenciatura e pessoas da comunidade externa, fez sua
estreia dentro da programação cultural do III Encontro sobre Ensino de Música para
Pessoas com Deficiência Visual e I Seminário de Música e Inclusão. O evento foi
promovido pela EMUFRN em parceria com a CAENE e a Banda realizou sua
apresentação no dia 10 de dezembro de 2015.
Atualmente a Banda Braille integra o Programa Esperança Viva da EMUFRN, e
tem como coordenadores os professores Catarina Shin (coordenação geral), Ticiano
Damore (coordenação musical), e Elizabeth Kanzaki (coordenação administrativa).
O grupo desempenha um importante papel na área da inclusão social, uma vez que
integra videntes e deficientes visuais em uma prática que, rompendo as barreiras da escola
vem conquistando plateias e se destacando como grupo artístico da UFRN.
4. 3 Os integrantes
informações a respeito do curso e me candidatei a uma vaga. Lembro bem como foi a
entrevista, eu estava super nervoso. O professor fez algumas perguntas e logo em seguida
pediu para eu repetir a escala de Dó maior com ele me acompanhando ao piano. Dessa
forma se iniciou o meu caminho pela música e as minhas descobertas nesse universo
mágico.
Antes de entrar na banda eu, como baterista, fazia normalmente a contagem sem
ter uma preocupação excessiva com o resto da banda. Fazia um compasso de contagem e
todos já se mantinham atentos e sempre no campo de visão um do outro. No trabalho com
a Banda Braille, entretanto, essa prática de anos precisava ser repensada. Esse aspecto
relacionado ao fazer musical foi sem dúvida um dos grandes desafios para mim enquanto
profissional da música. A necessidade de desenvolver a empatia e de pensar o próximo
34
com certeza me fez desenvolver uma nova percepção em vários aspectos e certamente
continuará contribuindo para que a minha trajetória musical se dê de forma contínua e
sempre aberta para agregar novos conceitos e para enxergar a diversidade sob um novo
prisma.
Nos ensaios que acontecem em dias normais, ou seja, aqueles que não sucedem
uma apresentação, podemos observar outra dinâmica. A prática em conjunto adquire um
caráter mais pedagógico. Longe de ser apenas um momento de repetição mecânica das
músicas, é uma oportunidade de aprendizado onde o aluno é levado a refletir sobre o que
está aprendendo e estimulado a encontrar soluções para os seus erros. São nesses
momentos que acontecem a escolha e montagem do repertorio, a passagem das músicas,
os ajustes nas partes harmônica e melódica, enfim, é o momento de trabalhar todos os
aspectos e deixar tudo bem definido, como o formato da música, os arranjos, o discurso
dos cantores. Nesses ensaios também são experimentadas novas músicas que porventura
possam ser incorporadas ao repertorio da banda. Após esses momentos, quando todos já
conhecem a música e o arranjo que foi definido, é preciso inseri-la no repertorio, analisar
em qual sequência vai ser colocada. Para isso, alguns fatores como a tonalidade, o ritmo,
e o estilo musical são observados.
A Banda Braille procura sempre levar alegria por meio de um trabalho que é
executado com muito carinho e respeito ao público e, acima de tudo, esse trabalho é de
alguma forma responsável por trazer à luz questões de cidadania, respeito ao próximo,
empatia entre as pessoas; e sempre com o objetivo de construir uma sociedade igualitária,
onde todos tenhamos os mesmos direitos e oportunidades.
5.5 O aprendizado
Para mim é de grande importância fazer parte da Banda Braille, não apenas em
termos artísticos e musicais, mas, sobretudo, no que se diz respeito à minha existência,
meus conceitos e postura diante das dificuldades apresentadas pela vida. Esse é um legado
que vou carregar durante toda minha caminhada. Não obstante as pessoas tenham a
tendência de tratar indivíduos com deficiência como coitadinhos, não obstante nossa
sociedade ainda classifique pessoas como inválidas, incapazes, excepcionais e até mesmo
anormais, nada disso encontrei na Banda Braille. No grupo, encontrei pessoas
maravilhosas, pessoas fortes, aguerridas, que nos estimulam e nos encorajam com os seus
exemplos de superação. Com esse convívio, aprendi que nessa luta pela inclusão de
pessoas com deficiência, o importante é que todos estejamos juntos pelo reconhecimento
dos direitos de todos os cidadãos e pela quebra de paradigmas ainda encravados na
sociedade e que permanecem se perpetuando por meio dos costumes sociais.
39
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
experiencias vividas em grupo ajudam a trabalhar elementos que são essenciais para a
formação de seus integrantes como autoconfiança, determinação, autoestima, e que, por
meio da inclusão, reafirmam a ideia de que o deficiente pode fazer o que ele quiser. Esse
sentimento vem transformando e empoderando essas pessoas, levando à quebra de
barreiras e, acima de tudo, desconstruindo o estereótipo de coitadinho, de incapaz.
Nos dias de hoje, a banda está se adaptando à nova realidade em que vivemos,
tendo que se reinventar enquanto banda. No momento realizamos nossas práticas sob a
forma de encontros virtuais. Para manter o grupo em atividade estamos gravando um
vídeo em formato de mosaico para apresentar como material produzido durante esse
período de incertezas em que nos encontramos.
Sempre caminhando junto com a música, seja em qual contexto for e sempre
procurando evoluir nesse caminho em construção. É nesse contexto de evolução que a
Banda Braille desponta com um elemento inovador no ambiente acadêmico, mas não
apenas isso, a banda também leva as suas discussões a todos os ambientes da sociedade.
Trabalhar com pessoas com alguma deficiência é ensinar à sociedade que todos somos
iguais, e cada um é o que é, e que essa premissa precisa ser respeitada.
Diante desse tema, o trabalho desenvolvido não só pela Banda Braille, mas por
todos os grupos que realizam atividades de inclusão se faz necessário nesse contexto,
trazendo as discussões, desenvolvendo estratégias, levando sugestões, ou seja abrindo
espaço na comunidade para que pessoas que muitas vezes estão à margem, sejam vista e
que possam ser inseridas no berço da sociedade.
E seguindo nessa minha trajetória posso concluir que o esforço desprendido por
todos que fazem parte desse maravilhoso projeto vale muito. Não obstante seja preciso
aprimorar, fazer adequações, corrigir o curso durante o trajeto, se adaptar às diversidades
encontradas e driblar os obstáculos que porventura venham a surgir, não é apenas
necessário, é fator imprescindível a manutenção de projetos de inclusão social como esse
41
da Banda Braille. Eles são base de cidadania para a formação de uma sociedade integrada
com todos os segmentos e representações sociais, promovem a socialização, o respeito
entre as pessoas e suas diferenças. E esses são alguns elementos que ajudam a formatar
um mundo melhor, por meio de valores como o amor, a fraternidade, a empatia, e
sobretudo por saber que esses preceitos morais e sociais são inalienáveis da humanidade.
42
REFERÊNCIAS
FIGUEIREDO, Sérgio Luiz Ferreira de. O ensaio coral como momento de aprendizagem:
a prática coral numa perspectiva de educação musical. 1990. 144 f. Dissertação
(Mestrado) – Departamento de Música da UFRGS, Porto Alegre, RS.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. Ed. São Paulo: Atlas,
2010.
SILVA, Ítalo Soares da. Encontro sobre música e inclusão da UFRN: gênese, trajetória e
discussões. In: VII Encontro Sobre Música e Inclusão. 7.2019, Natal/RN. Anais.
Natal/RN, 2019. p. 54-74.
YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Trad. Daniel Grassi – 2. Ed.
Porto Alegre: Bookman, 2001.
Projeto Banda Braille. [Site institucional SIGAA/UFRN]. Acesso em: 28 outubro 2020
Projeto Coral ViVendo o Canto – grupo vocal para pessoas com deficiência visual. [Site
institucional SIGAA/UFRN]. Acesso em: 28 outubro 2020
Projeto Curso de Flauta Doce para Pessoas com Deficiência Visual. [Site institucional
SIGAA/UFRN]. Acesso em: 28 outubro 2020
Projeto Flauta Doce para Pessoas com Deficiência Visual e Grupo Esperança Viva. [Site
institucional SIGAA/UFRN]. Acesso em: 28 outubro 2020
Projeto Grupo Esperança Viva 2020. [Site institucional SIGAA/UFRN]. Acesso em: 28
outubro 2020
APENDICES
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APÊNDICE A
TERMO DE AUTORIZAÇÃO
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Ticiano Maciel Damore
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APÊNDICE B
Termo de autorização do Coordenado do projeto Banda Braille, para a utilização
de seu nome real
TERMO DE AUTORIZAÇÃO
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Ticiano Maciel Damore
47
APÊNDICE C
TCLE referente à entrevista dos músicos integrantes da Banda Braille.
TERMO DE AUTORIZAÇÃO
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Músico integrante da Banda Braille