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Repúdio ao Pregão Eletrônico para Serviços de Engenharia

A sistematização das compras públicas, permitida pelo


desenvolvimento da tecnologia da informação, foi um grande avanço
no combate à má gestão pública e à corrupção, permitindo também
uma maior igualdade nas oportunidades de fornecimento de bens e
serviços aos governos. A introdução do Pregão Eletrônico foi um
grande avanço para o Brasil e seu uso deve ser difundido e
incentivado.
Mas engana-se a sociedade e seus representantes ao considerar o
Pregão Eletrônico um elixir mágico, capaz de solucionar todos os
problemas envolvendo as contratações do poder público. Como
também enganam-se aqueles que consideram o menor preço o mais
importante, senão único, fator de seleção de prestadores de serviços
de engenharia e arquitetura.
O projeto em tramitação na Comissão de Assuntos Econômicos do
Senado é fruto do desconhecimento dos resultados das licitações de
todas as esferas no país e da necessidade eleitoreira de responder à
opinião pública, face aos escândalos revelados diariamente na mídia.
Enquanto os holofotes apontam para obras superfaturas e devios de
recursos públicos, ficam às sombras, longe das manchetes, milhares
de esqueletos inacabados por falta de capacidade financeira da
contratada, acidentes fatais por falta de qualificação técnica dos
profissionais empregados e os custos financeiros e sociais da má
seleção de prestadores de serviços.
A inversão do processo licitatório, priorizando o preço sobre a
qualidade técnica, é uma aberração. Sua defesa só é possível por
parte daqueles que ignoram a complexidade de um projeto de
engenharia, que desrespeitam a formação acadêmica dos
profissionais e técnicos e, acima de tudo, não têm consciência do
quanto desconhecem do histórico dos processos licitatórios brasileiros
e das obras de infra-estrutura do país.
O Jornal O Estado de São Paulo, em seu editorial de 10 de outubro,
defende a adoção do pregão eletrônico e a mudança nas regas
licitatórias usando argumentos, no mínimo, infantis. Imaginar que a
competição permitirá a manutenção da qualidade enquanto reduzem-
se os preços é o mesmo que defender o fim do controle alfandegário
na Ponte da Amizade, imaginando que assim conterá os preços da
indústria.
Pior ainda é querer acelerar os processos de licitação, como se
fossem estes os responsáveis pelos atrasos nas entregas das obras
públicas.
Não é segredo que as políticas erráticas e temerárias de gestão de
pessoal de todas as esferas dos mais diversos governos brasileiros
afastaram os profissionais mais qualificados, que a falta de
investimentos desmantelou os departamentos técnicos e a
proliferação de cargos políticos quase eliminou a pouca eficiência do
serviço público.
Por isto, defender um sistema licitatório que elimine o julgamento
técnico prévio, assumindo ser constante e homogêna a qualidade
entre todas as empresas, onde o poder público brasileiro paga
rigorosamente em dia todas suas contas e as fraudes acontecem na
contratação dos sserviços, não nas medições e alterações posteriores
de projetos é imaginar que o Brasil é a nova ilha da fantasia, bem
diferente dos fatos noticiados diariamente pela imprensa.
A aprovação deste Projeto é uma atitude eleitoreira de alto risco para
a sociedade brasileira. Os senhores Senadores tem o dever de
defender os brasileiros de aventuras populistas na contratação de
serviços de engenharia. Pois, se os custos relativos à infra-estrutura
já começam a travar o desenvolvimento brasileiro, acrescentar o
risco aos cidadãos a este custo é no mínimo irresponsável.

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