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A Raposa e as Uvas

Esta fábula de Esopo, também reescrita por Jean de La Fontaine, ensina que quando
não aceitamos as nossas próprias limitações, perdemos a oportunidade de corrigir as
nossas falhas…
Moral da História: É fácil desdenhar daquilo que não se alcança.

Uma Raposa, morta de fome, viu, ao


passar diante de um pomar, penduradas nas ramas de uma viçosa videira, alguns cachos
de exuberantes uvas negras, e o mais importante, maduras.
Não pensou duas vezes, depois de certificar-se que o caminho estava livre de intrusos,
resolveu colher o seu alimento.

Usou de todos os seus dotes, conhecimentos e artifícios para apanhá-las, mas como
estavam fora do seu alcance, acabou cansando-se em vão, e nada conseguiu.

Desolada, cansada, faminta, frustrada com o insucesso de sua empreitada, suspirando,


encolheu de ombros e deu-se por vencida.

Deu meia volta e foi-se embora, desapontada foi dizendo:


“As uvas afinal estão verdes, não me servem…”

Quando já estava indo, um pouco mais à frente, escutou um barulho como se alguma
coisa tivesse caído no chão… Voltou correndo pensando ser as uvas.

Mas quando chegou lá, para sua decepção, era apenas uma folha que havia caído da
parreira. A raposa, decepcionada, virou as costas e foi-se embora de novo.

Fábula de Esopo
Um Susto de História com uma Bruxa Feia e um Gato Preto

A noite estava completamente escura


mas não chovia… A temperatura até estava quente para a época, mas o gato preto estava
enroscado perto do lume. Dormitava. De vez em quando abria um olho a controlar os
movimentos da dona.
A fraca luz, na cozinha de paredes escurecidas pelo fumo, não deixava ver grande coisa,
mas os gestos – à custa de tantas repetições – já quase podiam ser feitos de olhos
fechados.

A velhinha, completamente vestida de negro, entoava a sua cantilena, enquanto mexia o


conteúdo da panela enegrecida pelo fumo da lenha.

Estás a imaginar a cena, não estás? O que tu não imaginarias – nem ela, provavelmente
– é que, nas redondezas, uma figura baixota, atarracada, mas com um chapéu enorme
que parecia fazê-la mais alta e roupas negras que praticamente a tornavam invisível no
negro da noite se encaminhava para sua casa e estava, aliás, já ali bem perto.

O chapéu em cone, de abas largas e de cor também negra; as roupas que vestia e
sobretudo aquela cara, em que não faltava um nariz disforme, onde saltava à vista uma
verruga – Sim! Tinha uma enorme verruga no nariz – a vassoura que trazia numa das
mãos e arrastava pelo chão… não havia engano possível… quem se aproximava, a
coberto da noite, era uma figura verdadeiramente sinistra.

Dentro de casa, calmamente, a velhinha lançava na panela uma pequena quantidade de


algo que tirara de um dos frascos alinhados no aparador perto de si – uma medida
sabiamente afinada pela experiência de muitos anos.

A sobrepor-se aos fracos sons que resultavam dos gestos tantas vezes repetidos e à sua
voz ainda melodiosa, ouviram-se cinco fortes pancadas na porta.

O gato abriu os olhos, levantou-se, eriçou os pelos, arqueou a coluna e saltou na


direcção donde viera aquele barulho que o incomodara no seu sono. A velhinha,
sobressaltada, calou-se e parou de mexer a panela negra de onde saíam abundantes
vapores e, penosamente, dirigiu-se à porta.

As mãos da simpática velhinha tremiam… e não era de frio.

Como já te contei, a temperatura até estava agradável…

O quê! Pensavas que era uma bruxa? Embora pudesse parecer, não! Não era uma bruxa!
Era mesmo apenas uma velhinha que, com mão trémula, abriu a porta devagar…

Olhou a bruxa nos olhos – olhos que mal se viam na carantonha horrível…

Esta sim, era uma bruxa! Aquela cara feiosa, com a enorme verruga no nariz – também
ele bastante avantajado e adunco – e um ar malévolo era, sem ponta de dúvida, a de
alguém que queria assustar, que queria que ninguém tivesse dúvidas de que estava na
presença de uma bruxa má.

A velhinha, com uma voz onde o susto parecia genuíno, perguntou:

– Porque é que tens uma cara tão feia?

– É para te pregar um susto! Um susto tão, tão grande…

E a bruxa esticava os braços, num gesto sugestivo, a ameaçar a velhinha de horrores


enormes.

– Só escapas se me deres já… aquilo que já sabias que eu hoje… cá viria procurar!

E a bruxa entrou pela casa com o ar decidido de quem sabe bem o que quer. Já dentro da
casa a sinistra figura pôs a mão à cara horrenda e, determinada, puxou pelo nariz.

Com a outra mão, pegou em algo que os dedos trémulos da velhinha seguravam… e
levou à boca. Depois, com a beiça lambuzada do chupa-chupa, deu um beijo doce à avó.

A vassoura, a máscara e o chapéu do disfarce do dia das bruxas lá ficaram, atirados para
um canto.

Entretanto a bruxinha notou:

– Cheira bem! Estavas a cozinhar?

– Estou a fazer sopa. Está quase pronta. Queres um pratinho?

– Claro! Isso pergunta-se? A sopa da avó é a melhor do mundo. O resto do chupa fica
para depois…

E a menina deu a mão à avó e, seguidas pelo pachorrento gato preto, dirigiram-se à
cozinha.

Por Favor, Por Favor


Havia uma vez uma pequena expressão chamada “Por Favor”
que morava na boca de um menino. Os ”Por Favor” moram em todas as bocas, embora
com frequência as pessoas se esqueçam de que lá estão.
Mas para ficarem fortes e felizes, todos os “Por Favor” devem ser tirados das bocas de
vez em quando, para tomar um pouco de ar. Eles são como peixinhos de aquário, que
sobem à tona para respirar.
O “Por Favor” do qual irei falar morava na boca de um menino chamado Daniel. Só
uma vez, em muito tempo, o tal “Por Favor” teve oportunidade de sair; pois Daniel,
lamento dizer; era um menino muito malcriado; que quase nunca se lembrava de dizer
“Por Favor”.
– Dê-me um bocado de pão! Quero água! Dê-me aquele livro! – Era a forma como ele
pedia as coisas.
Os seus pais ficavam muito tristes com isso. Já o coitado do “Por Favor” ficava na ponta
da língua do menino, aguardando uma oportunidade para sair. Estava cada dia mais
fraco.
Daniel tinha um irmão mais velho, chamado João. Tinha quase dez anos; e era tão
educado quanto Daniel era malcriado. Por isso, o seu “Por Favor” recebia muito ar e era
forte e bem-disposto.
Um dia, ao pequeno-almoço, o “Por Favor” de Daniel sentiu que precisava tomar ar,
mesmo que para isso tivesse de fugir. Foi o que fez – fugiu da boca de Daniel, e
inspirou longamente. Depois, arrastou-se pela mesa e saltou para a boca de João.
O “Por Favor” que morava lá ficou muito zangado.
– Sai! – Gritou ele. – Aqui não é o teu lugar! Esta boca é minha!
– Eu sei – respondeu o “Por Favor” de Daniel. – Eu moro na boca do irmão do teu
senhor. Mas, meu Deus! Não sou feliz lá. Eu nunca sou usado. Nunca recebo ar puro!
Pensei que me deixaria ficar aqui por um dia ou dois, até eu me sentir mais forte.
– Mas é lógico – disse gentilmente o outro “Por Favor”. – Eu compreendo. Fique;
quando o meu senhor me utilizar, sairemos juntos. Ele é bom, e eu tenho a certeza de
que não se importará em dizer ““Por Favor”” duas vezes. Fique o tempo que desejar.
Ao meio-dia, ao almoço, João quis um pouco de manteiga e disse:
– Pai, pode-me passar a manteiga, “Por Favor” – “Por Favor”?
– Claro -, disse o pai. _ Mas por quê tanta educação?
João não respondeu. Voltou-se para a mãe, e disse:
– Mãe, dê-me um bolinho, “Por Favor” – “Por Favor”?
A mãe sorriu.
– Vou dar-te o bolinho, querido; mas porquê dizer ““Por Favor”” duas vezes?
– Eu não sei -, respondeu João. – As palavras apenas saem.
Tita, “Por Favor” – “Por Favor”, dê-me um pouco d’água!
Nesse momento, João ficou um pouco assustado.
– Tudo bem -, disse o pai. – Não há problema nenhum. Mas não é necessário dizer tanto
“Por Favor”.
Enquanto isso, o pequeno Daniel continuava a falar daquela forma mal-educada:
– Quero um ovo! Quero um pouco de leite! Dá-me uma colher! – Mas, de repente, ele
parou a escutar o irmão. Achou que seria engraçado falar como o João; por isso,
começou: – Mãe, dê-me um bolinho, m-m-m?
Ele estava tentando dizer ““Por Favor”” – mas como?
Ele não sabia que o seu pequenino “Por Favor” estava sentado na boca de João. Tentou
outra vez, pedindo a manteiga:
– Manteiga, a manteiga, m-m-m?
E só conseguiu dizer isto.
A coisa continuou o dia inteiro, e todos ficaram a pensar o que estava errado com os
dois meninos. Quando anoiteceu, ambos estavam muito cansados, e Daniel estava tão
aborrecido que a mãe os mandou mais cedo para cama.
Mas na manhã seguinte, logo que se sentaram para o pequeno-almoço, o ““Por Favor””
de Daniel correu de volta a casa. Ele tinha tomado tanto ar puro no dia anterior que
estava a sentir-se bastante forte e feliz. E, no momento seguinte, ele voltou a ser arejado
quando Daniel disse: – Pai, “Por Favor”, corte a minha laranja! Meu Deus! A expressão
saiu fácil, fácil! Soava tão bem como quando João a pronunciava – e João dizia apenas
um ““Por Favor”” naquela manhã.
E daquele dia em diante, o pequeno Daniel tornou-se tão educado quanto o irmão.

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