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As questões feministas já estavam presentes antes do

movimento organizado

Resumo​: O que a sua avó tem a ver com o feminismo radical? Você já se fez essa pergunta?
Essa etnografia é fruto do meu segundo semestre cursando antropologia e nela eu me
proponho a analisar, por meio do feminismo radical, a história da minha avó que é uma
mulher pernambucana que veio para São Paulo aos seus 18 anos na tentativa de fugir da
fome. A história da vida dela - que hoje ela compartilha comigo - é marcada pela violência de
classe e a violência masculina. Nesse trabalho, passo por temas como violência doméstica,
estupro, pedofilia e prostituição e como a pobreza vulnerabiliza ainda mais as mulheres no
sistema patriarcal capitalista de supremacia branca.

Por​ ​Nayane Macedo - Cientista social em formação.


São Paulo - 2020.
Email: ​nayanemacedo210@gmail.com​.
"I suggest to you that if any society took seriously what it means to have half of its
population raped, battered (...), we would be turning government buildings into shelters. We
would be opening our churches to women and saying, 'You own them. Live in them. Do what
you want with them.' We would be turning over our universities."​1

Andrea Dworkin,
Live and Death​.

Maria​2 acorda por volta das 11h da manhã. Por vezes ela passa a madrugada acordada, por
consequência de dores insuportáveis que sente nos joelhos, nas pernas e nas costas. Ela
geralmente acorda com seus netos - que moram na casa do fundo com a mãe - gritando pela
avó desde às 9h da manhã. Eles tomam café juntos e depois cada um vai fazer suas coisas.
Ela fica em casa e ao decorrer do dia faz o que pode na casa; senta na frente do portão; passa
o tempo com seus netos ainda pequenos - uma tem 6 e outro tem 12; cuida deles quando a
mãe deles não está; atende suas clientes da Avon e de outras revistas do gênero. De tarde para
a noite ela passa mais um café e come mais um pão. Ela também assiste TV, principalmente
jornais e programas religiosos. Depois ela come a comida que fez no almoço ou prepara
alguma janta e fica vendo TV em sua cama até a hora de dormir.

Ela também é a minha avó. Eu sou de 2000 e ela de 1948. Eu faço parte de um movimento
feminista organizado e ela nunca tinha ouvido falar sobre movimentos feministas antes de
mim. Todavia, é nas nossas conversas que eu percebo que tudo o que eu luto hoje também
tem a ver com ela. Ao ouvi-lá eu percebo que as questões do movimento feminista estavam
presentes sem ela precisar ler diversos livros e teorias. Se faz notável em nossas conversas a
consciência das dores que sente por todas violências que sofreu, apesar de negligenciada por
todas as instituições estatais e sociais. Nesse sentido, apesar do conflito intergeracional que se
dá pela na nossa relação de avó e neta, a qual nos leva a diferentes perspectivas dos cenários
de violência, há também uma solidariedade e compreensão porque o que ela passou não é um
caso isolado ou do passado, mas sim o que reuni a classe feminina: vivências semelhantes
marcadas de diferentes formas pela violência masculina, a qual se articula em um sistema
patriarcal capitalista de supremacia branca. É nessa compreensão e respeito que fomos

1
​“Sugiro que se qualquer sociedade levasse a sério o que significa ter metade de sua população estuprada,
maltratada (...), estaríamos transformando prédios do governo em abrigos. Estaríamos abrindo nossas igrejas
para as mulheres e dizendo: ‘Toma, é sua. Viva nelas. Faça o que quiser com elas.’ Estaríamos entregando
nossas universidades”. (Tradução feita por Aline Rossi).
2
​Nome alterado pela preservação da minha avó.
construindo um espaço seguro que viabiliza o diálogo de assuntos que carregam feridas que
se mantêm abertas.

Apesar das diferentes perspectivas por conta da dinâmica intergeracional que constrói a nossa
relação de avó e neta, eu também tenho aprendido muito em nossos diálogos sobre o próprio
feminismo. É notável que as pautas feministas já estavam lá antes do movimento organizado,
uma vez que o movimento feminista que vai na raiz da violência patriarcal constrói a teoria
por meio da vivência. Já que é a vivência que deve guiar a teoria, em vez de uma teoria criar
uma vivência incompatível com a materialidade que decorre a vida. Dessa forma, encontro na
história da minha avó a teoria feminista radical, a qual é construída por meio da análise de
muitas sobreviventes sobre suas próprias vivências e perspectivas. Entre as falas da minha
avó - ainda que distante do movimento organizado - consigo enxergar proximidade com
mulheres organizadas como Andrea Dworkin e Natacha Orestes, que teorizaram por meio da
suas perspectivas como sobreviventes de diversas violências. Entretanto, também observo o
custo que teve na vida da minha avó não ter suporte de nenhum movimento organizado ou da
teoria feminista, que serve para auxiliar a compreensão sobre o que se passou e se passa em
nossas vidas, e assim nomea-los. O custo para ela foi ser cooptada pela igreja, agravando
ainda mais todas as negligências que já havia sofrido.

Maria nasceu em 1947 no Estado de Pernambuco. Vivia em uma roça com seus pais e seus
irmãos. Aos 5 anos de idade já havia começado a carpir. A sua infância e adolescência foi
marcada pela violência doméstica. Entre as inúmeras surras que levou de seu pai e que
marcam seu corpo até o dia de hoje, ela se recorda principalmente de uma das vezes em que
seu pai deixou sua pele em carne viva após ela se desentender com a sua irmã. Por
decorrência dos seus machucados, ela decidiu ir para a casa do seu tio buscando socorro pelas
suas feridas vivas, só que pela manhã seguinte o seu pai já apareceu na casa de seu tio. Ela se
recorda que ele amolou um facão na pedra e disse que levaria ela viva ou morta de lá. Nisso,
ele entrou dentro da casa de seu tio e falou que deixaria uma marca no corpo dela que nunca
sairia porque a surra anterior tinha sido insuficiente para ela aprender. Seu pai apenas foi
impedido porque o tio disse que ele não poderia entrar na propriedade dele fazendo o que
quisesse, mas seu pai poderia levar ela, já que ela era propriedade dele. Nisso, o seu primo
interviu dizendo que seu pai deveria respeitar a casa de seu tio e que aquele tipo de confusão
nunca foi necessária ali. Depois de uma discussão enorme, tudo se acalmou apenas por
intermédio do diálogo composto pelas vozes masculinas ali presentes.
Entre inúmeras violências que seu pai a submetia, ela também relata que sua mãe apenas se
envolveu uma vez, mas seu pai empurrou ela no chão e disse para ela não se meter. Maria
também ressalta que, tirando esse momento, “seu pai sempre foi muito bom para a mãe”. Já
que tirando essa vez que a mãe dela se intrometeu, ela nunca tinha visto ele encostar em sua
mãe. Como ela também ressalta que ele era um bom pai para ela, ainda que houvesse todas as
agressões. Contudo, ao ouvir tais afirmações de minha avó, me surgiu o questionamento se
ele realmente era bom para a mãe dela ou se a obediência de sua mãe ajudava a evitar
agressões, ou ainda, se a violência doméstica não seria a expressão da dominação do homem
perante ao que ele considera sua propriedade. Uma vez que a violência doméstica é sobre
ensinar a menina a ser obediente por meio do medo. Diante de tal cenário a menina vai
aprendendo qual é o seu lugar perante o homem: que é o lugar da obediência, do silêncio e da
serventia. Por isso que a mãe de minha avó não ousava interferir, porque ela não sentia que
tinha esse direito. Em um momento de desespero em que ela tentou se opor, ela foi agredida
novamente para lhe ensinar qual é o seu lugar perante o seu marido, já que em um súbito
momento ela havia se esquecido. Desse modo, a socialização orientada de acordo com os
papéis sexuais vai direcionando qual o lugar da menina e qual o lugar do menino. Ensina ao
menino que ele pode bater na mulher e que ele pode explorar seu trabalho doméstico, seu
corpo e seu psicológico, enquanto ensina para a menina temer e ser explorada.

A socialização feminina ensina desde cedo para a menina a sua responsabilidade perante o
cuidado da casa e o cuidado emocional e físico da família, como também aprende que seu
corpo deve estar disponível ao acesso masculino. Desse modo, a violência física que uma
menina passa na infância também carrega a violência psicológica. A menina é ensinada a
amar seu agressor, ela é ensinada a perdoá-lo e entender que ele apenas queria seu bem ou
que essa era a natureza dele. Ela é ensinada que o seu pai é o seu herói porque ele é o
exemplo da casa, ele é o provedor do lar, ainda que ele também seja seu agressor. Esses
processos de fragilização e docilização, levam a menina a naturalizar e internalizar sua
condição subalterna perante a classe masculina, e assim ela vai se tornando cada vez mais
vulnerável e suscetível à exploração e manipulação masculina.

A dominação masculina sob a classe feminina é historicamente institucionalizada, sendo essa


mais uma característica da sociedade patriarcal que estamos inseridas. O pátrio poder é um
termo que remete ao direito romano ​pater potestas:​ direito absoluto e ilimitado conferido ao
pai, considerado chefe da organização familiar, sobre a mãe e seus filhos. Esse termo estava
na Constituição brasileira até entrar em vigor o Código Civil no ano de 2002 que substituiu o
termo "pátrio poder” por “poder familiar”. A partir disso, a Natacha Orestes (1986), que é
uma mulher que é lésbica, mãe, professora de literatura e sobrevivente de pedofilia, tem
utilizado a plataforma do Instagram para defender a perspectiva da sobrevivente de pedofilia
e conectar feministas à luta antipedofilia. Nesse sentido, Orestes têm analisado a sociedade a
partir da perspectiva do pátrio poder. Ela percebeu, analisando a sua própria história e seu
entorno, que o pátrio poder é uma ferramenta de análise para pensar a posse dos territórios e
posse dos corpos femininos. Já que, ainda que o termo tenha sido substituído no Código Civil
por “poder familiar”, há em nossa cultura patriarcal o exercício do pátrio poder que
estabelece que a mulher e seus filhos são propriedades masculinas, sendo esse o pilar que
concebeu a propriedade privada.

A Gerda Lerner (1920-2013), em seu livro A Criação do Patriarcado, analisa como o


patriarcado foi concebido por meio da retificação feita pelos homens das meninas e mulheres:

“Na sociedade mesopotâmica, bem como em qualquer outro lugar, a dominância


patriarcal na família tomava várias formas: a autoridade absoluta de homem sobre
os filhos; a autoridade sobre a esposa limitada por obrigações recíprocas com os
parentes dele; e o concubinato. (....) O pai tinha o poder de vida e morte sobre seus
filhos. Tinha o poder cometer infanticídio por abandono ou desamparo.” (LERNER,
2019, p. 126).

Apesar do tempo ter alterado as sociedades nas quais vivemos com leis e costumes que se
diferenciam em vários aspectos das sociedades do passado que Lerner estava se referindo, se
faz necessário analisar as sociedades do passado. Visto que tais sociedades do passado
influenciaram na concepção de nosso atual modelo social, por meio da cultura patriarcal que
haviam concebido. A cultura, por sua vez, é responsável por moldar a personalidade dos
indivíduos, como explicou a antropóloga Margaret Mead (1901-78) em sua pesquisa
“Adolescência em Samoa”. Por meio da comparação entre a sociedade estadunidense e a
sociedade samoana, Mead analisa que a adolescência “revoltosa” não é algo natural da
humanidade, mas sim um produto de um ambiente cultural e social específico. Ou seja, a
personalidade é moldada por um ambiente social e cultural específico. Nesse sentido, ainda
que o termo “pátrio poder” seja retirado da lei, ele está enraizado na cultura patriarcal que
estamos inseridos, sendo assim responsável por moldar nossos comportamentos e costumes.
Em um texto para Sangra Coletiva, Natacha Orestes escreveu:

“Esse pacto ainda pouco debatido no movimento de emancipação das mulheres,


pacto este entre os homens e o Estado, foi por muito tempo chamado de “bons
costumes”, mas nunca passou de pátrio poder, ou seja, de poder coletivo de
propriedade dos homens sobre as mulheres instituído pelo governo.” (ORESTES,
2020).

A violência doméstica é justamente o exercício do pátrio poder. De acordo com os dados do


Fórum Brasileiro de Segurança Pública de 2019, uma mulher é vítima de violência doméstica
a cada dois minutos. Outra pesquisa de 2019 realizada pelo Datafolha a pedido do Fórum
Brasileiro de Segurança Pública, constatou que 42% das vítimas apontaram a casa como local
da agressão. Além disso, uma pesquisa sobre como é ser uma menina no Brasil, realizada em
2015 pelo Énois Inteligência Jovem, em parceria com o Instituto Vladimir Herzog e o
Instituto Patrícia Galvão, levantou que 41% das meninas já haviam sofrido agressão física,
sendo que 51% eram violência familiar, e os outros 63% correspondem a pessoas próximas
da menina como: professores, parceiros e chefes, e apenas os 3% restantes correspondem a
desconhecidos. Nessa mesma pesquisa de 2015, 84% das meninas relataram sofrer agressão
verbal. Ademais, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2020,
considerando o contexto de isolamento social na vida de meninas e mulheres no Brasil,
evidenciou que a violência doméstica aumentou, enquanto as denúncias diminuíram.

Todos esses dados - especificamente o último que considera o contexto de pandemia -


revelam que a casa é o lugar mais perigoso para meninas e mulheres. A casa, que deveria ser
o lugar de acolhimento e proteção, torna-se um cativeiro de exploração psicológica,
doméstica e sexual, sendo as meninas e mulheres consideradas propriedade dos homens de
sua família. A escritora Andrea Dworkin (1946-2015) - que foi sobrevivente de pedofilia,
violência doméstica e prostituição - participou de uma conferência de 3 dias promovida pelo
Conselho do Texas (EUA) sobre Violência Familiar em Austin Texas em 1992, e em seu
discurso disse que “it is staggering to understand that the place where a woman is most at
jeopardy is in fact her own home.”​3 (DWORKIN, 1997, p. 152.). Ela também diz que a
mulher espancada está sob um toque de recolher, sendo que o policial é o seu marido. No

3
​“É assombroso entender que o lugar onde uma mulher mais está em perigo é, de fato, sua própria casa.”
(Tradução feita por Aline Rossi).
caso da minha avó, o policial seria o pai dela. Dworkin salienta como isso é sobre uma tortura
em todos os aspectos da vida da vítima:

“When you are battered, over time, you are physically tortured. I am not speaking in
hyperbole. (...) I mean that batterers purposefully, seriously torture the women that
they’re hurting. They do it physically. Sometimes they use degrees of force so
unconscionable as to be impossible to believe: for instance, hitting a woman with a
big wooden beam; using knives on a woman; using a baseball bat on a woman.
Sometimes the woman is tied up and tortured and it is called sex when she is hurt.
She is often sleep deprived, purposefully, the way she would be if she were in a
prison. He takes her life and he messes with it in order to fracture it, to break it into
little pieces so that she has no life left. The effects of sleep deprivation on prisoners
who are being tortured are not any different than the effects of sleep deprivation on
battered women.” (DWORKIN, 1997 p. 154.)​4​.

Além disso, ela também diz como isso leva ao enlouquecimento:

“When you live in a world that’s governed by laws you don’t understand and can’t
understand, you can be destroyed mentally by that world. No human being can live
being subjected to the irrational hatred of another person in intimacy, in their
private life. (...) But when in your intimate life you are going to be hurt and you
don’t know why, and you don’t know when, and you don’t know how— you only
know if not today then Tomorrow— it will drive you mad. And then they will say,
‘Ah-ha, you see, she was mad’. The fear that the battered woman experiences is
beyond the power of any language I have to express to you.” (DWORKIN, 1997 p.
155.)​5

4
​“Quando você é espancada, com o tempo, você é fisicamente torturada. Eu não estou falando hipérbole. (...)
Quero dizer que os agressores propositalmente torturam gravemente as mulheres que estão sofrendo. Eles fazem
isso fisicamente. Às vezes eles usam graus de força tão inconcebíveis que são impossíveis de acreditar: por
exemplo, acertar uma mulher com uma grande viga de madeira; usar facas em uma mulher; usar um taco de
beisebol numa mulher. Às vezes, a mulher é amarrada e torturada e é chamada de sexo quando é machucada.
Ela é muitas vezes privada de sono, propositalmente, do jeito que seria se estivesse em uma prisão. Ele tira a
vida dela e mexe com ela para fratura-lá, para quebrá-la em pequenos pedaços para que ela não tenha mais vida.
Os efeitos da privação do sono nos prisioneiros que estão sendo torturados não são diferentes dos efeitos da
privação do sono nas mulheres agredidas.” (Tradução feita por Aline Rossi).
5
​“Quando você vive em um mundo que é regido por leis que você não entende e não pode entender, você pode
ser destruída mentalmente por esse mundo. Nenhum ser humano pode viver sendo submetido ao ódio irracional
de outra pessoa na intimidade, em sua vida privada. (...) Mas quando, em sua vida íntima, você vai se machucar
e você não sabe por que, e você não sabe quando, e você não sabe como — você só sabe se não hoje, então
amanhã — isso vai te deixar louco. E então eles dirão: ‘Ah-ha! Viu? Ela era louca.’ O medo que a mulher
espancada experimenta está além do poder de qualquer linguagem que tenho para te expressar. Tem a ver com
cada pequeno detalhe de sua vida.” (Tradução feita por Aline Rossi)
Reconheço a narrativa de Maria nas palavras de Andrea Dworkin - que também carrega
consigo sua própria experiência - porque ao ouvir minha avó é notável como ela se sentia
temerosa na presença do pai. Em mais um exemplo dado por ela, ela diz que qualquer coisa
servia de motivo para ela apanhar, por exemplo se seu pai pedisse algo para ela levar até ele,
e caso ela apenas olhasse para alguma irmã que estava mais próxima já era um motivo para
ele bater nela. Não era necessário dizer nada, apenas um olhar já serviria de motivo. Além de
ser uma condição de um medo constante, ela também se encontra em uma posição de não
poder dizer não; não poder recusar. Isso afeta diretamente a sua subjetividade uma vez que
ela não é compreendida como um ser íntegro com suas próprias vontades e sentimentos, mas
como uma serviente. Dworkin também diz como isso é um tipo de constrangimento que só
pessoas em cativeiro podem sentir:

“There’s also something deeper: a shame— a kind of shame that I believe only
people in captivity can feel— when you are 6​​ forced to do things that are incredibly
degrading to you; to follow the orders of somebody else, for instance, just because
he gives them, just because you are afraid. You experience within yourself a lack of
self-respect so bottomless that there is no self to respect.” (DWORKIN, 1997 p.
156).

Entre tantas violências, Maria também tinha que lidar com a violência de classe. Ela relata
que na roça de sua família, a terra possibilitava apenas plantar mandioca de seis em seis
meses. Com a mandioca colhida, eles preparavam a farinha: um pouco pra comer e um pouco
pra vender na tentativa de comprar alguma outra coisa. Quando buscavam por plantar algum
outro alimento como feijão eles tinham que andar dias debaixo de sol por alguma terra que
pudesse ser alugada e passavam cerca de 15 dias, sendo que tudo que crescia - ainda que
pequeno para ser colhido - eles já preparavam pelo tamanho da fome que ela e família
passava. Por decorrência da miséria e sem perspectiva de vida alguma na região por não
haver emprego e nem terem terra boa, ela decidiu aos 18 anos ir para o Estado de São Paulo
em busca de um emprego para fugir da fome e conseguir enviar algum dinheiro para a
família. Algumas irmãs mais velhas que ela já haviam tentado a vida em São Paulo, só que
quando chegavam aqui já casaram, e assim paravam de enviar dinheiro para a família. O fato

6
​“Há algo mais profundo: uma vergonha — um tipo de vergonha que eu acredito que só pessoas em cativeiro
podem sentir — quando você é forçada a fazer coisas que são incrivelmente degradantes para você; seguir as
ordens de outra pessoa, por exemplo, só porque ele as dá, só porque você tem medo. Você experimenta dentro
de si mesma uma falta de auto-respeito tão sem fundo que não há ‘eu’ para respeitar.” (Tradução feita por Aline
Rossi)
delas pararem de enviar dinheiro para a família fez seu pai se opor a sua viagem quando ela
lhe deu a ideia, e foi à base de muita insistência, como também devido a grande necessidade
que seu pai acatou a ideia. Mas foi também com uma condição: ela não poderia se casar até
ele conseguir se aposentar.

Chegando em São Paulo sem saber ler nem escrever, ela começou a trabalhar em uma fábrica
de plástico.

Em uma de nossas conversas ela também me relatou que foi apenas recentemente que ela
descobriu que tinha uma palavra para o que ela havia vivenciado. Eu perguntei a ela o que
havia passado e qual palavra tinha descoberto. Então ela encostou em sua cama, olhou para
baixo e disse ‘estupro’. A partir disso ela começou a me contar o que tinha acontecido: havia
conhecido um homem na fábrica em que trabalhava, no seu horário de almoço. Ele parecia
simpático e conhecido entre os funcionários. Logo eles começaram a sair para comer juntos
no horário de almoço, e em um certo dia ele a chamou para ir conhecer a família dele. Ela me
contou que eles pegaram um ônibus juntos, foram até um lugar bem distante e quando ela
indagou sobre a localização da casa, ele disse que era preciso apenas fazer um caminho entre
a mata e depois chegaria na casa. Eles caminharam entre a mata, e em certo momento ele
parou e tentou segurá-la com muita força. Colocou o pênis para fora e rasgou sua roupa. Em
pleno desespero ela conseguiu dar um chute nele e saiu correndo entre a mata sem parar por
nenhum segundo. Saiu correndo e desesperada com a roupa rasgada até conseguir chegar em
um ponto de ônibus. Ela também disse que assim que chegou tinha um ônibus parado - e
acredita que isso foi Deus. Ela entrou no ônibus com a roupa rasgada, olhares desconfiados,
mas que foi acolhida por outras mulheres ali no ônibus, as quais perguntavam preocupadas
porque ela estava daquele jeito. Ela também disse que depois desse dia nunca mais conversou
com esse homem. Parou de almoçar no refeitório, e passou a comer em uma salinha com
medo de se encontrar com ele. Além disso, ela relatou que vivia com medo, e também não
conseguiu confiar em nenhum homem durante alguns anos. Outra coisa que minha avó ainda
disse nessa conversa é que ela tinha muito medo de ser violada porque para as mulheres
violadas apenas restavam as casas de prostituição.

Em outras conversas ela retoma o assunto sobre as casas de prostituição. Como há casos de
mulheres que já foram prostituídas na família então é um assunto que se faz presente. Em um
desses momentos ela relatou perceber que muitas vezes que uma menina acaba se casando,
sofre diversas violências no casamento até chegar em tal ponto que ela não suporta mais, e
como não tem como se sustentar acaba sucumbindo a essas casas. Em outro momento ela
disse sobre como mulheres prostituídas são muitas vezes vítimas de pedofilia, pobres e sem
muitas oportunidades na vida, já que também é uma característica que também observamos
na nossa família. Nessas conversas eu acabo me lembrado das palavras da Dworkin, que
teorizou a partir de sua perspectiva de sobrevivente de prostituição e incesto, em que ela diz:

“We have to take on prostitution as an issue: not a debating issue; a life-and-death


issue. Most prostituted women in the West are incest victims who ran away from
home, who have been raped, who are pimped when they are still children— raped,
homeless, poor, abandoned children.” (DWORKIN, p. 173)​7

A realidade observada pela minha avó e por Dworkin faz parte da condição da classe
feminina que se encontra suscetível à exploração sexual. Uma vez que a socialização vai
deixando ela fragilizada. Além de que somado aos fatores de classe e raça, mulheres são
ainda mais marginalizadas, e assim propensas a sucumbir a coerção econômica da
prostituição. Em uma reportagem do Jornal Alma Preta sobre o trabalho das mulheres da
ONG Mulheres da Luz, que busca dar suporte para as mulheres prostituídas da região da Luz,
é exposto que o perfil é de mulheres negras, pobres e analfabetas, e nessa região específica se
destaca também o perfil de mulheres mais velhas entre 40-70 anos. Cleone, uma mulher
ex-prostítuida que ajudou a conceber a ONG, elucida que “muitas buscam na prostituição a
fuga de famílias patriarcais.” São meninas e mulheres que não suportam mais todas as
violências sexuais e físicas que sofrem em casa. São mulheres que são chefes de família e
precisam dar o que comer para seus filhos. São mulheres que precisam ter algo para comer.
São mulheres que muitas vezes não têm nem a passagem de volta para casa. São mulheres
desabrigadas.

Historicamente as mulheres têm sido retificadas; tratadas como mercadorias dos homens.
Sendo que tais sociedades contribuíram pela construção da nossa atual sociedade, como
explicou Gerda Lerner:

“O comércio de mulheres, um fenômeno observado em sociedades tribais em

7
​“​Temos que assumir a prostituição como um problema: não um tema de debate; mas uma questão de vida ou
morte. ​A maioria das mulheres prostituídas no Ocidente são vítimas de incesto que fugiram de casa, que foram
estupradas, que são cobiçadas quando ainda são crianças — crianças estupradas, sem abrigo, pobres e
abandonadas.” (Tradução feita por Aline Rossi)
diversas regiões pelo mundo afora, foi identificado pelo antropólogo Claude
Lévi-Strauss como a principal causa da subordinação feminina. Pode assumir várias
formas, tais como a remoção forçada de mulheres de suas tribos (roubo de noivas);
defloramento ritual ou estupro; casamentos arranjados. É sempre precedido de tabus
sobre endogamia e pela doutrinação de mulheres, da mais tenra infância em diante,
para aceitação de sua obrigação para com seus parentes no sentido de consentir com
casamentos impostos” (LERNER, 2019, p. 77).

Um exemplo do que a Lerner pontua está no trabalho do Max Gluckman (1911-1975) em


“Rituais de rebelião no sudeste da África”, ao analisar a vida familiar Zulu:

“O gado entra nessa série de conflitos primeiramente como o mais importante item
de propriedade disputado pelos homens, além da posição. Havia na época
abundância de lei. Outra importante fonte de conflitos eram as mulheres. Porém,
num certo sentido, mulheres e gado se identificavam, embora — e, talvez, portanto
— fossem tabu entre si, já que o homem precisava de gado para dar como prestação
matrimonial por sua esposa. (...) Embora o casamento fosse a meta de todas as
mulheres, as moças estavam sujeitas a sofrer ataques histéricos durante os anos de
namoro, que eram imputados à magia amorosa de seus pretendentes. Quando uma
moça se casava, era substituída em casa por gado e seu irmão usava esse gado para
obter ele próprio uma noiva. A estabilidade do casamento do irmão, estabelecida
com esse gado, dependia da estabilidade do casamento da irmã e do fato dela ter
filhos; pois, teoricamente, se ela se divorciasse (o divórcio na prática era muito raro
entre os Zulus) ou se fosse estéril, seu marido podia reclamar de volta o gado usado
pelo cunhado para casar-se. Assim, o gado passou a simbolizar não só a maneira
pela qual uma moça se tornava esposa, mas também o conflito entre irmãos e irmãs,
sendo o irmão o herdeiro do casamento da irmã do gado do grupo. A irmã era
excluída dessa herança devido ao seu sexo.” (GLUCKMAN, 2011, p. 12 - 13).

O Gluckman também analisa que “legalmente, as mulheres eram sempre menores, aos
cuidados de pai, irmão ou marido.” (GLUCKMAN, 2011, p. 11). Ou seja, as mulheres Zulus
eram propriedade masculina tal como o gado. Nesse sentido, Lerner pontua que a reificação,
a qual se deu por meio da exploração da sexualidade e capacidade reprodutiva do sexo
feminino, originou o patriarcal, como tornou possível a própria escravidão:

“A opressão das mulheres precede a escravidão e a torna possível. (...) A partir


disso, o parentesco estruturou as relações sociais de tal forma, que mulheres eram
comercializadas para casamento e homens tinham certos direitos sobre mulheres
que estas não tinham sobre eles. A sexualidade e o potencial reprodutivo das
mulheres se tornaram mercadorias a ser comercializadas ou adquiridas para servir às
famílias; então, as mulheres eram consideradas um grupo com menos autonomia do
que os homens.” (LERNER, 2019, p. 112).

Desse modo, a lógica da prostituição é fruto dessa mesma lógica que mercatilizou e
escravizou historicamente o corpo feminino, uma vez que as mulheres “são consideradas
mais coisas do que seres humanos” (LERNER, 2019 p. 51). Essa lógica patriarcal que
enxerga a classe feminina equivalente a um rebanho de gado tem estruturado nossa
sociedade e moldado nossa cultura, por isso que no século XXI mulheres e meninas ainda são
tratadas como uma mercadoria passível de ser traficada e prostituída. O Jornal El País fez
uma matéria sobre o livro “El Proxeneta” de Mabel Lozano, em que ela reúne dezenas de
entrevistas com Miguel, conhecido como “o Músico”, em que ele revela a realidade por traz
das casas de prostituição espalhadas por todos os povoados, cidades e estradas da Espanha.
Em uma dessas entrevistas o cafetão Miguel, responsáveis por uma rede de tráfico e
prostituição na Espanha, diz que “trafiquei mulheres por mais de 20 anos, comprava e vendia
como se fossem gado”.

O casamento heterossexual, por sua vez, se insere nessa mesma lógica prostituinte. Há uma
relação histórica entre o casamento e a prostituição. Já que em sociedades patriarcais, como
foi analisado por Lerner e observado em estudos como o de Gluckman, as meninas e
mulheres eram reificadas devido ao seu potencial reprodutivo. Assim, a cerimônia de
casamento mediada pela simbologia do pai passando sua propriedade ao noivo, condicionou
as mulheres desde novas ao controle sexual dos homens em tais sociedades. Nesse sentido, o
casamento heterossexual em nossa sociedade é mais um benefício masculino, uma vez que os
homens têm acesso sexual ao corpo feminino, além da exploração doméstica e psicológica da
mulher, já que ela fica responsável pelo cuidado emocional e físico da família, o que também
está vinculado à lógica do pátiro poder que vigorou em nossa Constituição e continua
vigorando em nossa cultura.

Entretanto, ainda que o casamento se insira nessa lógica prostituinte que considera a mulher e
seus filhos propriedade do marido, há diferenças entre a mulher que está submetida ao
casamento heterossexual e a mulher em situação de prostituição, já que a mulher prostítuida
está condicionada ao estupro em série, como disse Dworkin:
“We cannot change what is wrong with our feminism if we are willing to accept the
prostitution of women. Prostitution is serial rape: the rapist changes but the raped woman
stays the same; money washes the man’s hands clean.” (DWORKIN, 1997 p. 173)​8

Além disso, há também outra diferença descomunal entre o casamento e a prostituição: a


mulher prostituída está à margem da sociedade, sem prestígio social ou segurança material,
enquanto a mulher casada está dentro da normal heterossexual, a qual lhe confere prestígio
social e segurança material. Assim, se faz compreensível que mulheres como minha avó
prefiram um casamento com seu algoz do que estar submetida a diversos algozes diferentes
em casas de prostituição.

Ela se casou aos 25 anos, logo quando seu pai conseguiu se aposentar. Assim cumpriu sua
promessa de só se casar quando seu pai se aposentar porque não precisaria enviar mais
dinheiro para ele. Até então seu salário era dividido entre as despesas dela aqui em São Paulo
e sua família em Pernambuco. Minha avó também comenta que o fato das mulheres pararem
de enviar dinheiro para o pai ao se casarem se deve ao fato de que muitas vezes a mulher era
proibida de trabalhar pelo marido ou ele controlava seu dinheiro.

A socialização não falha, pois como já foi elucidado neste trabalho, a cultura molda a
personalidade e, a personalidade, por sua vez, é construída e internalizada por meio da
socialização. Desse modo, o casamento de minha avó também foi marcado pela violência
masculina.

Entre as histórias de violências presentes no casamento dela, uma delas é marcada tanto pela
violência masculina quanto pela violência de classe. Desde que ela começou a trabalhar,
estava guardando dinheiro para trazer seus pais de Pernambuco aqui para São Paulo. Quando
conseguiu acumular uma quantidade razoável resolveu contar ao seu marido, meu avô. Só
que ele ficou obcecado pelo dinheiro quando ela contou porque ele colocou na cabeça que
gostaria de voltar para o Estado do Maranhão, sua terra natal. Assim, ele decidiu se demitir
do trabalho e organizar a mudança, apesar de ser contra a vontade de minha avó e com o

8
​“Não podemos mudar o que está errado com o nosso feminismo se estivermos dispostas a aceitar a prostituição
das mulheres. Prostituição é estupro em série: o estuprador muda, mas a mulher estuprada permanece a mesma;
o dinheiro lava as mãos do homem.” (Tradução feita por Aline Rossi).
dinheiro dela. Chegando lá não demorou muito para o dinheiro acabar, e sem emprego e sem
terras para plantar, ela voltou novamente a passar fome por dias, só que dessa vez ela estava
grávida de seu primeiro filho, que é o meu pai. Com o tempo foi ficando cada vez mais
deprimida e sem perspectiva nenhuma, o que resultou em uma primeira tentativa de suicídio
após ficar três dias sem comer absolutamente nada. Essa tentativa se repetiu mais uma vez,
mas minha avó não entrou em detalhes. Ao me relatar o sofrimento que passou nessa época,
com muita angústia e lágrimas nos olhos, ela apenas buscou enfatizar que ela não gostaria
realmente de tirar a própria vida e que era apenas o diabo confundindo os seus pensamentos e
se aproveitando da situação. Por fim, eles conseguiram retornar a São Paulo por meio da
ajuda de parentes do meu avô que moravam no Maranhão.

Alguns anos se passaram, e eles se estabilizaram novamente aqui em São Paulo. Ela
engravidou mais duas vezes, tendo três filhos ao todo - dois meninos e uma menina mais
nova. Todavia, mais uma violência masculina cruzou a sua vida: a pedofilia.

Quando minha avó voltou do Maranhão trouxe consigo uma menina da família porque minha
avó achava que a menina teria mais oportunidades aqui em São Paulo do que ela teria no
Maranhão. Só que depois de certo tempo a menina começou a adoecer. Ela estava fraca e
cheia de dores, mas minha avó não entendia então a levou ao médico. A doutora a examinou
e apenas disse para minha avó que a menina deveria comer menos doces. Minha avó me
contou que ela não entendeu e disse para doutora que ela não estava dando doces para a
menina, até porque eles não tinham dinheiro para isso, mas a médica não mudou o
diagnóstico. Minha avó saiu do hospital frustrada, mas só compreendeu depois que o
diagnóstico não estava errado. O que acontecia era que minha avó dava o dinheiro da
passagem para o meu avô ir buscar um emprego - ele estava desempregado e ela conseguia
um pouco dinheiro revendendo produtos -, só que ele pegava esse dinheiro para comprar
doces para essa menina, em vez dele ir buscar um emprego. Em um certo dia minha avó
pegou em flagrante meu avô abusando dessa menina e expulsou ele de casa aos gritos. A
menina foi recolhida por uma espécie de ‘conselho tutelar’ e quando minha avó foi visitá-la,
ela contou tudo a ela e disse que não tinha contado porque ela achou que minha avó não iria
acreditar nela. Minha avó descobriu que o meu avô também abusava da minha tia - que na
época também era uma menina - e ela também não contava por motivos de medo e
constrangimento.
Mas ela ter ousado denunciar uma violência intrafamiliar teve um custo: ela foi demonizada
por todos ao seu redor, desamparada e mais uma vez violentada.

Minha avó foi espancada por seu segundo filho, meu tio. Ele tinha em média 19 anos e bateu
tanto nela que quebrou a canela dela e ela saiu desesperada pela rua chorando e sangrando
porque ele queria matá-la. Ele associou a culpa do abuso que as meninas sofreram a ela,
sendo que o abusador era meu avô e ela nem sabia. Ele se sentiu no direito de bater na mãe -
que é uma mulher e também vítima dessa história -, em vez de bater no abusador que é o seu
pai e um homem. Isso é, para mim, parte da análise do pátrio poder na cultura brasileira que a
Orestes tem desenvolvido.

Além disso, meu tio vivia armado e falava que se alguém se aproximasse da minha avó ele
iria dar um tiro. Enquanto minha avó era xingada por todos, meu avô estava foragido da
polícia porque apesar de estar pela vizinhança ninguém tinha coragem de denunciar.

Minha avó ficou sozinha e adoeceu. Entre a casa e o hospital ela voltou novamente a passar
fome porque não tinha nada para comer em casa. Além disso, ninguém ousava visitá-la. E
minha tia, que na época estava com 13 ou 14 anos, passava o tempo todo na rua porque
também havia ficado revoltada com tudo que havia acontecido.

Quando isso tudo aconteceu, minha avó também foi pedir ajuda para os pastores da igreja.
Ela me contou que eles apenas ofereceram tratamento para o meu avô, como se a pedofilia
fosse uma doença. Mas para ela e as duas meninas abusadas não houve nenhum tipo de
suporte. Não ofereceram nenhum apoio para as sobreviventes, mas sim para o homem
abusador porque ele era muito querido por todos, então minha avó ficou mal vista por ter
exposto a situação. Ao mesmo tempo que também recaiu sobre ela a culpa, porque
questionavam por que ​ela havia deixado o que ela nem sabia que estava acontecendo, mas
não ​ele ​por ter feito o que fez.

Percebo que minha avó enxerga a igreja como o alívio de todas as dores que ela sofreu. Teve
até alguns momentos que ela havia me dito que tudo que ela sofreu foi uma forma de “testar a
fé dela e torná-la mais próxima de Deus”. Só que a eu enxergo como mais uma vítima de
negligências e violências de instituições sociais e estatais porque ela não recebeu nenhum
suporte em nenhum momento. Então quando ela veio para São Paulo, conheceu a igreja, e
“aceitou Jesus", a igreja acabou sendo o único suporte que ela encontrou em sua vida. Foi por
meio da bíblia e do apoio de um pastor que minha avó conseguiu aprender um pouco a ler e
escrever e também foi na igreja o único lugar que lhe deu respostas - ainda que não fosse as
respostas que ela precisava. Além disso, minha avó também aprendeu que pela sua fé ela
deveria perdoar todos os seus agressores, por isso que cada vez que ela me contava da
agressão de algum homem ela também dizia que não odiava ele.

Dworkin chama essa postura de “pecado do orgulho”:

“In all these years I have thought and talked to other women about battery, having
experienced it, there is one form of blame I think we deserve: Christians call it the
sin of pride. The pride is that we believe that for the sake of love we can endure
anything. And we make a stand— because of pride— to endure anything. We
cannot. We must not. We should not. Our shoulders do not have to carry that
weight. We do not bear the burden of all the love in the world, such that we are
annihilated, for the sake of somebody else’s life, or for the more selfish sake of
proving that we’re really good women; really good, honest, loving mates; that really
‘we didn’t deserve it— look, were still here. Yes, he did something terrible; but
look, here we are, prepared still to love him’.” (DWORKIN, 1997 p. 156). 9​

Nesse sentido, entendo que minha avó viu na igreja um apoio que ela não encontrou em
nenhum outro lugar, mas é necessário questionar qual tipo de apoio foi esse que ela
encontrou. A igreja, ao associar a violência masculina ao demônio e às doenças, está apenas
relativizando a própria violência masculina e mais uma vez condenando a sobrevivente,
porque ela é levada a desenvolver uma maternidade comportamental direcionada ao próprio
agressor, em vez de ter seu sofrimento validado e compreendido.

Outra coisa que me parece descabido ao associar a violência masculina às doenças e


demônios é que, dessa forma, praticamente quase toda classe masculina estaria adoecida e
endemoniada. Sendo que na realidade é às custas do adoecimento das meninas e mulheres

9
​“Em todos esses anos, eu pensei e conversei com outras mulheres sobre agressão, tendo experimentado isso, e
há uma forma de culpa que eu acho que merecemos: os cristãos chamam isso de ‘pecado do orgulho’. O orgulho
é que acreditamos que, em prol do amor, podemos suportar qualquer coisa. E nós tomamos uma posição — por
causa do orgulho — de suportar qualquer coisa. Nós não podemos. Não devemos. Nós não deveríamos. Nossos
ombros não precisam carregar esse peso. Nós não carregamos o fardo de todo o amor do mundo, de tal forma
que somos aniquiladas pelo bem da vida de outra pessoa ou pelo egoísmo de provar que somos realmente boas
mulheres; muito boas, honestas, companheiras amorosas; que realmente ‘nós não merecíamos, viu?, ainda
estamos aqui. Sim, ele fez algo terrível; mas olhe, aqui estamos nós, ainda preparadas para amá-lo’.” (Tradução
feita por Aline Rossi).
que os homens têm construído as sociedades patriarcais. Nessa perspectiva, Natacha Orestes
tem teorizado que a pedofilia - comumente associada à doenças - se trata de um projeto
político patriarcal e eugenista, como escreveu:

“As instituições governamentais e não-governamentais têm tratado a temática da


pedofilia de uma forma despolitizada, liberal, atribuindo a “vontade de estuprar
crianças” a um transtorno mental ou até mesmo a uma orientação sexual, como se
essa “vontade” fosse originada e encerrada no campo de uma “individualidade
doente” ou de um ”fetiche sexual individual” paralelo à norma heterossexual
quando, na verdade, essa “vontade” foi o motor da modernização e industrialização
do país, não paralelo, mas intrínseco à heteronormatividade. Ao analisar a história
de nossas avós e bisavós, chegamos à constatação de que grande parte delas, senão
a maioria, foi engravidada menina, criança ou adolescente, em meio à modernização
do Brasil, que ocorreu justamente no momento em que as fronteiras do país foram
abertas a imigrantes brancos pelo então ditador Getúlio Vargas, pois acreditava-se
na eugenia como modelo de civilização e progresso para a nação. Isso significa que
meninas – crianças e adolescentes – eram estupradas, engravidadas e tomadas como
escravas domésticas como uma forma legítima de formação de família.”
(ORESTES, 2020)

Ela também salienta que:

“A pedofilia, por sua vez, é um projeto político de controle reprodutivo e étnico


para realizar a manutenção intergeracional da vulnerabilização feminina por meio
da naturalização da exploração das meninas, que crescem e se tornam mulheres
dessensibilizadas para a própria realidade.” (ORESTES, 2020)

Orestes analisa como a pedofilia é um projeto político colonizador, uma vez que não é
possível colonizar um território sem antes colonizar os corpos femininos presentes nesse
território. Em sua análise ela retoma ao Alvará Régio de 4 de abril de 1775 feito pelo
Marquês de Pombal, nesse alvará ele promoveu o casamento entre jovens indígenas e homens
brancos com o objetivo de se apropriar mais rapidamente de terras por meio do acesso aos
corpos das meninas e mulheres indígenas. Orestes também analisa como isso ainda é prática
recente, já que por meio do exemplo da política eugenista do governo Vargas que buscou
incentivar a imigração para embranquecer a população às custas dos corpos de meninas e
jovens negras e indígenas. Como também se mantém presente por meio da Lei da Alienação
Parental (LAP).
Nesse sentido, a Orestes tem se dedicado pela revogação da Lei da Alienação Parental (LAP)
Nº 12.318 ​que é uma lei baseada em uma pseudociência construída por Richard Gardner, um
pedófilo militar estadunidense. Em uma das ​lives​10 que ela fez em seu perfil do Instagram, ​ela
explica que essa lei parte da caricatura patriarcal da mãe que é histérica e aliena a criança
contra o pai porque a mãe não suporta a ideia de ser abandonada pelo homem, desse modo
utiliza a criança como objeto contra o pai, a partir da “invenção” de que o pai abusou da
criança. Oreste também pontua que é uma lei utilizada precisamente contra as mães porque a
realidade não é neutra ainda que a lei se diga “neutra”. ​Por decorrência, essa lei
institucionalizou uma ​fake news ao alegar que as mulheres em massa fazem falsas denúncias
sobre estupro paterno, quando é evidente que na realidade o que acontece são homens
estuprando crianças em massa.

A pedofilia também não é uma violência neutra, mas sim parte da violência masculina porque
ao considerarmos as estatísticas é uma violência exercerdida majoritariamente pelo sexo
masculino. O Anuário Brasilerio de Segurança Pública de 2019 levantou que quatro meninas
de até 13 anos são estupradas por hora no Brasil, sendo que 75,9% das vítimas, mesmo as que
têm mais de 14 anos, possuem algum tipo de vínculo com o agressor. São parentes,
companheiros, amigos. Em 96,3% dos casos, os autores são homens.

Orestes é uma mãe lésbica e sobrevivente de abuso infantil e estupro. Ela foi ameaçada pela
LAP, sendo que quando tentou processar o estuprador, ela que acabou sendo processada por
narrar um estupro. Ao ouvir a história da Natacha e outras vítimas da Lei da Alienação
Parental sempre fico pensando na história da minha avó e que se fosse hoje ela possivelmente
seria processada injustamente por meio da LAP. Até porque a minha avó já era vista como
mentirosa por todos, enquanto meu avô passou a vida toda negando mesmo sendo pego no
flagra. Logo, seria bem possível ele recorrer a denúncia que ela fez sobre ele por meio da
LAP e tratar ela como alienadora, como tem ocorrido com tantas mães.​11

Orestes também pontua, em uma de suas postagens, que:

10
https://www.instagram.com/tv/CAsN_oQH4z1/.
11
No Instagram da Sangra Coletiva tem uma live com relatos de três mães vítimas da LAP
https://www.instagram.com/tv/CI1vD02JjM3/.
“Um país que protege pais que estupram suas filhas é um país que ‘produz’ condições
necessárias para ser uma colônia de exploração sexual.” (ORESTES, 2020)

A pedofilia é, portanto, um projeto político patriarcal que visa aliciar desde cedo as meninas,
para que fiquem fragilizadas, e assim suscetíveis à exploção masculina. Ela atua da mesma
forma que outras violências masculinas, já que também é fruto da concepção de que a classe
masculina tem direito sobre o corpo feminino e vulnerável das crianças. Entretanto, é
necessário enfatizar que a violência masculina não é natural, mas algo socialmente
construído.

A antropóloga Margaret Mead em seu livro Sexo e Temperamento (1935) explica por meio
de sua pesquisa feita na Nova Guiné em 3 sociedades diferentes que muito do que julgamos
próprio de cada sexo é na verdade socialmente construído. Uma vez que se notou diferentes
relações entre homens e mulheres em tais aldeias:

“Nem os Arapesh nem os Mundugumor tiram proveito de um contraste entre os


sexos; o ideal Arapesh é o homem dócil e suscetível, casado com uma mulher dócil
e suscetível; o ideal Mundugumor é o homem violento e agressivo, casado com uma
mulher também violenta e agressiva. Na terceira tribo, os Tchambuli, deparamos
verdadeira inversão das atitudes sexuais de nossa própria cultura, sendo a mulher o
parceiro dirigente, dominador e impessoal, e o homem a pessoa menos responsável
e emocionalmente dependente. Estas três situações sugerem, portanto, uma
conclusão muito definida. Se aquelas atitudes temperamentais que tradicionalmente
reputamos femininas - tais como passiveidade, suscetibilidade e disposição de
acalentar crianças - podem tão facilmente ser erigidas como um padrão masculino
numa tribo, e na outra ser prescrita para a maioria das mulheres, assim como para a
maioria dos homens, não nos resta mais a menor base para considerar tais aspectos
de comportamento como ligados ao sexo. E esta conclusão torna-se ainda mais forte
quando observamos a verdadeira inversão, entre os Tchambuli, da posição de
dominância dos dois sexos, a despeito da existência de instituições patrilineares
formais.” (MEAD, 2000, p. 268)

Nessa perspectiva, Lerner também analisa que os papéis sexuais é uma construção social:

“O fato de mulheres terem filhos ocorre em razão do sexo; o fato de mulheres cuidarem dos
filhos ocorre em razão do gênero, uma construção social. É o gênero que vem sendo o
principal responsável por determinar o lugar das mulheres na sociedade.” (LERNER, 2019, P.
47 - 48).

Desse modo, todas as violências as quais a minha avó e outras mulheres de minha família
foram submetidas se devem ao gênero. Sendo que, em nossa sociedade, o gênero é
socialmente construído por meio de uma hierarquia sexual, na qual a mulher deve ser
maternal e passiva, enquanto ao homem cabe ser agressivo e racional. Essas características
são atribuídas como naturais, quando na verdade é algo socialmente construído que
internalizamos e naturalizamos por meio da socialização. Assim, os agressores de minha avó
não são doentes ou endemoniados, muito menos com algum tipo de predisposição genética
para estuprar e violar, eles apenas são homens plenamente encaixados em sociedade que
ensina homem a abusar e explorar e a mulheres a serem vulneráveis ao abuso e exploração. E
tratar o comportamento masculino violento como algo natural é relativizar a violência
masculina e condenar as sobreviventes, em vez de tomar medidas eficazes em combate a essa
cultura patriarcal, e isso se passa por ouvir a perspectiva das sobreviventes e priorizá-las.

Meu avô foi preso dois anos depois do ocorrido porque ainda que ele estivesse na vizinhança
ninguém tinha coragem de denunciar porque ele era muito querido por todos. Ele ficou
alguns anos preso. Enquanto ele estava preso minha avó era demonizada e tratada como
mentirosa. Mas ele se casou novamente depois que saiu da cadeia. Sua nova esposa odiava
minha avó, e como todos da minha família por parte de mãe que viviam alegando que ela era
mentirosa. Até que ele abusou da neta da sua nova esposa. A partir disso, ele foi expulso para
fora de casa e ela finalmente acreditou na minha avó, só que se ela tivesse acreditado antes
uma vítima teria sido poupada.

O corpo da minha avó ainda carrega cicatrizes da surra que levou de seu próprio filho, como
também carrega marcas da violência de seu pai. Existem também aquelas que não são
visíveis, aquelas marcas presentes dentro de si. Em algumas de nossas conversas minha avó
caiu em lágrimas, ainda que ela se esforçasse para contar histórias tão cruéis com
naturalidade de quem quer aparentar estar bem. Mas eu sei que ela não está, então eu apenas
abracei ela e deixava ela chorar porque às vezes chorando é a única forma que temos para
aliviar o fardo que é carregar todos os dias essas marcas. Seu olhar às vezes distante e suas
dores insuportáveis no corpo demonstram uma vida fragilizada por violências a que nenhuma
mulher deveria ser submetida. Porém, muitas ainda estão passando pelas mesmas coisas todos
os dias aqui no Brasil.

Depois de me contar histórias tão difíceis ela sempre me dizia “eu fui uma mulher muito
forte”, e sim, vó, a senhora é uma mulher muito forte, mas gostaria que não tivesse que ser.

A história de Maria não acaba aqui com esse trabalho, ela ainda está construindo sua
narrativa e a reinventando da forma que é possível para ela. Além disso, reconheço com
tristeza que as histórias que consegui colocar nesse trabalho foram apenas algumas das
violências masculinas e de classe que minha avó passou. Há outras das quais não consigo
desenvolver por falta de tempo, mas em nossas conversas consigo sempre encontrar as pautas
feministas das quais luto.

Todas as violências que a minha avó passou foram agravadas por conta de sua classe social.
Isso se deve ao fato de que toda menina ou mulher marginalizada por fatores de classe é
ainda mais vulnerável à violência masculina. Nesse sentido, o movimento feminista radical é
essencialmente anticapitalista, pois como elucidou Dworkin:

“We have to take on poverty: not in the liberal sense of heartfelt concern but in the
concrete sense, in the real world. We have to take on what it means to stand up for
women who have nothing because when women have nothing, it’s real nothing: no
homes, no food, no shelter, often no ability to read. We have to stop trivializing
injuries and insults to women the way our political systems do.”​12
(DWORKIN, 1997 p. 173)

Por meio da história da minha avó também percebo a necessidade do movimento das
mulheres organizado para construir um lugar de acolhimento e protagonismo para as
sobreviventes. Como também percebo a necessidade de lutar por um futuro em que nenhuma
menina ou mulher seja submetida a nenhum tipo de violência simplesmente por nascer do
sexo feminino. Além disso, observo a necessidade da organização feminista como uma forma
de auxiliar meninas e mulheres para compreenderem o que se passa em suas vidas. Nenhuma

12
​“Temos que enfrentar a pobreza: não no sentido liberal de preocupação sincera, mas no sentido concreto, no
mundo real. Nós temos que assumir o que significa defender as mulheres que não têm nada, porque quando as
mulheres não têm nada, é nada MESMO: nenhum lar, nenhuma comida, nenhum abrigo, muitas vezes nem
capacidade de ler. Temos que parar de banalizar os ferimentos e insultos às mulheres como fazem nossos
sistemas políticos.” (Tradução feita por Aline Rossi).
menina ou mulher deveria ser levada a acreditar que o seu agressor é doente ou endemoniado
porque isso apenas ensina a ela que o seu agressor importa mais que ela, que seu agressor é
vítima em um sistema que o benefícia, e isso é apenas mais uma espécie de tortura para a
verdadeira vítima. Meninas e mulheres têm que ser capazes de reconhecer a violência que
foram submetidas para conseguirem nomear porque só nomeando é possível reivindicar
justiça e lutar contra isso. Meninas e mulheres, como a minha avó, tem que ser vistas como
sujeitos de transformação social porque a narrativa da sobrevivente deve guiar a teoria, de
modo que não haja brecha entre a teoria e a prática, como explicou a Bell Hooks (1952):

“Mari Matsuda nos disse que ‘nos contam a mentira de que na guerra não existe
dor’ e que o patriarcado torna essa dor possível. Catharine Mackinnon nos lembra
de que ‘há certas coisas que sabemos na nossa vida e cujo conhecimento nós
vivemos, além de qualquer teoria que já tenha sido teorizada’. Fazer essa teoria é o
nosso desafio. Em sua produção jaz a esperança da nossa libertação; em sua
produção jaz a possibilidade de darmos nome a toda a nossa dor - de fazer toda a
nossa dor ir embora. Se criarmos teorias feministas e movimentos feministas que
falem com essa dor, não teremos dificuldade para construir uma luta luta feminista
de resistência com base nas massas. Não haverá brecha entre a teoria feminista e a
prática feminista.” (HOOKS, 2017, p. 104)

Em uma das conversas com a minha avó contei para ela que eu faço parte de um movimento
feminista organizado antipedofilia. Expliquei a ela porque a pedofilia movimenta a divisão
sexual do trabalho e outras pautas dialogadas na Sangra Coletiva, e ela foi entendendo
conforme complementava com as suas vivências. Ela chorou, me abraçou e agradeceu. As
histórias de mulheres como a minha avó é o que me aproxima do próprio movimento
feminista e me da força para continuar, apesar da dor que é estar conscientemente em guerra
com o patriarcado capitalista de supremacia branca.

Dedicado a todas as sobreviventes da violência masculina, como minha avó.


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