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XXVII Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas

19 a 23 de julho de 2010 - Centro de Convenções - Ribeirão Preto – SP

EFEITOS DE DIFERENTES DENSIDADES DE PLANTAS DE Brachiaria decumbens EM


CONVIVÊNCIA com Eucalyptus grandis
1
PEREIRA, M. R. R.; 2SOUZA, G. S. F.; 3SILVA, J. I. C.; 4RODRIGUES; A. C. P.; 5MARTINS, D.
1
Faculdade de Ciências Agronômicas/UNESP, (14) 3811-7161, mariarenata10@hotmail.com
2
Faculdade de Ciências Agronômicas/UNESP, (14) 3811-7161, guilhermesasso@fca.unesp.br
3
Faculdade de Ciências Agronômicas/UNESP, (14) 3811-7161, joseiranc@hotmail.com
4
Faculdade de Ciências Agronômicas/UNESP, (14) 3811-7161, andreiacpr@hotmail.com
5
Faculdade de Ciências Agronômicas/UNESP, (14) 3811-7161, dmartins@fca.unesp.br

Resumo

O presente estudo teve como objetivo avaliar os possíveis efeitos da convivência de plantas de E.
grandis com diferentes densidades de plantas de B. decumbens. O delineamento experimental
adotado foi inteiramente casualisado, com quatro repetições; cada parcela constou de um vaso de 60
L de capacidade. As quantidades de plantas daninhas de braquiaria mantidas no vaso foram 0, 20,
40, 80 e 160 plantas m-2 juntamente com uma muda de eucalipto. Foram avaliadas ao final de oito
meses o incremento em altura e diâmetro e massa seca das plantas de eucalipto e braquiaria. Para
todos os parâmetros estudados a comunidade infestante influenciou o desenvolvimento das plantas
de E. grandis, sendo maior a redução do crescimento a medida em que se aumentou a densidade de
plantas de B. decumbens em convivência.

Palavras-chave: capim-braquiaria; eucalipto; matocompetição.

Abstract

This study aimed to evaluate the possible effects of coexistence of plants of E. grandis with different
densities of plants of B. decumbens. The experimental design was completely randomized design
with four replications, each plot consisted of a vessel of 60 L capacity. The quantities of weed
braquiaria maintained in the vessel were 0, 20, 40, 80 and 160 plants m-2 along with a change of
eucalyptus. Were evaluated at the end of eight months the increase in height and diameter and dry
weight of eucalyptus trees and grass. For all parameters studied the weed community influenced the
development of plants of E. grandis, a greater reduction in growth as it increased the density of plants
of B. decumbens in coexistence.

Key words: brachiaria; eucalyptus; weed competition

Introdução

As florestas plantadas com a cultura do eucalipto e pinus ocupam atualmente uma área em
torno de 6,1 milhões de hectares no Brasil (ABRAF, 2009), pois a implantação de maciços florestais
de rápido crescimento constitui-se na alternativa mais viável, pois promove oferta de madeira para
atender a demanda do mercado brasileiro e mundial e protege as reservas naturais.
As culturas florestais, como qualquer população natural, estão sujeitas a uma série de fatores
ecológicos que, direta ou indiretamente, podem afetar o crescimento de árvores e consequentemente
a produção de madeira, carvão e celulose. Na implantação de uma área de E. grandis no Brasil, a
atividade mais onerosa no primeiro ano é o controle de plantas daninhas, de acordo com estudo
realizado por Toledo et al. (1996).
A intensidade de competição por fatores ambientais como água, nutrientes e luz podem
limitar o crescimento das plantas, e depende diretamente da densidade populacional do eucalipto e
da comunidade infestante de plantas daninhas (Silva, 1993). Em estudo realizado por Silva et al.
(2004) a convivência da espécie B. brizantha com E. citriodora ou E. grandis reduziu o acúmulo de
biomassa seca do eucalipto, este fato pode ser explicado pela presença das plantas daninhas nas
áreas cultivadas reduz a produtividade, tanto pela competição direta pelos fatores de produção,
quanto pela interferência sobre as plantas cultivadas, como ocorre no caso da alelopatia.
Em grande parte das áreas florestais, as populações das plantas invasoras atingem elevadas
densidades populacionais e passam a condicionar fatores que são negativos ao crescimento e
produtividade das árvores e à operacionalização do sistema produtivo (Marchi, 1995).
O presente estudo teve por objetivo avaliar os possíveis efeitos da competição de diferentes
densidades de plantas de B. decumbens sobre o crescimento e desenvolvimento de plantas de E.
grandis.

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Material e Métodos

O experimento foi realizado no Núcleo de Pesquisas Avançadas em Matologia (NUPAM), na


Fazenda Experimental Lageado, pertencente à Faculdade de Ciências Agronômicas/UNESP,
campus de Botucatu/SP, nos meses de junho de 2009 a fevereiro de 2010 com temperatura média
25o.
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, com quatro repetições.
Os tratamentos foram constituídos de cinco densidades de plantas de B. decumbens sendo: 0, 20,
40, 80 e 160 plantas m-2, que foram cultivadas em bandeja de isopor com celulas contendo o
substrato comercial Plantimax, o mesmo usado nos tubetes para a produção das mudas de
eucalipto. As plantas de braquiaria, que estavam em media com 10 cm de altura, foram
transplantadas para os vasos 15 dias após o plantio das mudas de eucalipto, e estas estavam em
média com 30 cm de altura. Após o transplante das plantas de braquiária os vaso foi coberto com o
mesmo substrato já citado, a fim de se evitar a emergência de outras plantas daninhas. A densidade
populacional da braquiaria foi mantida durante todo experimento através da eliminação de outras
espécies invasoras.
Cada repetição constou de um vaso de 60 L de capacidade, preenchido com solo de textura
argilosa (50,4% de argila, 25,7% de silte e 23,9% de areia), este foi peneirado e adubado de acordo
com as necessidades da cultura e recomendações do Boletim 100 (IAC, 1997) e com base na
análise química (Tabela 1). Durante a condução do experimento, fez-se a complementação da
fertilização aplicando-se

Tabela 1. Análise química de fertilidade do solo.


pH M.O P resina mmol/dm3 V
3 3
CaCl2 g/dm mg/dm H+Al K Ca Mg SB CTC (%)
5,2 24 24 34 5,3 28 19 53 87 61

Ao final do experimento foram avaliados os seguintes parâmetros: incremento de altura e


diâmetro (altura/diâmetro das plantas após 240 dias – altura/diâmetro das plantas no momento de
plantio) e massa seca das plantas de eucalipto (parte aérea total) e de braquiaria, em estufa de
circulação forçada de ar, a 60o ± 2o C por 72 horas.
Os resultados encontrados foram submetidos à análise de variância pelo teste F e a análise de
regressão que foram realizadas pelo programa Sisvar, as equações foram ajustadas, sendo
adotados os modelos de regressão linear e polinomial, os quais apresentaram significância menor
que 5% de probabilidade.

Resultados e Discussão

Na Figura 1 esta representado graficamente o incremento em altura de plantas de E. grandis,


em convivência com diferentes densidades de plantas de B. decumbens, 8 meses após o
transplantio. Observou-se reduções significativas no incremento em altura das plantas submetidas
aos tratamentos em comparação às plantas testemunhas, sendo de 32% nas plantas em convivência
com 20 e 40 plantas de B. decumbens m-2, não havendo diferenças entre estes dois tratamentos.
As plantas de eucalipto submetidas à convivência com 80 plantas de B. decumbens m-2
tiveram seu incremento em altura reduzido em 58,7% e com 160 plantas m-2 em 68%. Pode-se inferir
que a partir de 80 plantas m-2 de B. decumbens o crescimento em altura das plantas de eucalipto
ficou comprometido, visto que mesmo duplicando a densidade de plantas de braquiaria para 160
plantas m-2, a redução do incremento não evolui na mesma proporção. Estes resultados são
corroborados por Toledo (2002), em que a redução da altura de plantas de um clone híbrido de
eucalipto no primeiro ano de convivência com B. decumbens foi de 27 a 51%.
De acordo com Gonçalves et al. (2000) a taxa de crescimento de plantas de eucalipto no
campo é pequena nos 3 primeiros meses após transplantio das mudas, pois esta é a fase de
estabelecimento da plantas que direciona grande quantidade de fotoassimilados e nutrientes para o
crescimento das raízes para assegurar o suprimento de água e de nutrientes, posteriormente há uma
grande expansão foliar e maior crescimento apical, sendo esta fase a mais sensível à competição
com as plantas daninhas, pois todos os fotoassimilidos estão direcionados para a formação das
copas. Em situações de baixas disponibilidade de água e nutrientes, as plantas daninhas tem maior
influencia sobre as de eucalipto devido a seu alto poder competitivo e maior capacidade de
adaptação à condições ambientais adversas (Silva et al., 1997).

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Incremento de altura de E. grandis (cm)
100
ŷ= 0,0359x2 ‐ 3,0146x + 92,422  R² = 0,95
80

60

40

20

0
0 20 40 60 80 100 120 140 160

Densidade de plantas  de B. decumbens  (m‐2 )

Figura 1. Efeito de densidades de plantas B. decumbens sobre o incremento em altura de plantas de


E. grandis. Botucatu/SP, 2009/2010.

Conforme verificado nos resultados de altura, não houve diferenças entre os incrementos em
diâmetro das plantas de E. grandis em convivência com B. decumbens nas densidades de 20 e 40
plantas m-2, sendo 40% menor que o incremento das plantas sem convivência com plantas daninhas.
A redução do incremento em plantas mantidas em convivência com 80 e 160 plantas m-2 foi
de 63,2 e 77%, respectivamente.
De acordo com estudos realizados por Zen (1987) o diâmetro de plantas de E. grandis foi
reduzido em 38 e 35,7% em convivência com sapé (Imperata brasiliensi) e samambaia (Pteridium
aquilinum), respectivamente, aos 28 meses após plantio das mudas de eucalipto. Corroborando
estes resultados, Remor et al. (2008) verificou redução de 51% do diâmetro das plantas de eucalipto
em convivência com plantas daninhas, 12 meses após o transplantio das mudas e Bezutte et
al.(1995) também observaram que a partir de 4 plantas por m-2 o capim-braquiaria interfere
significativamente no crescimento inicial de mudas de eucalipto, reduzindo em média 28% o diâmetro
do caule e 18% na altura das plantas, 190 dias após o transplantio.
Na Figura 3 observa-se a curvas de massa seca de plantas de E. grandis e B. decumbens,
submetidas a diferentes densidades de convivência com a mesma. As reduções de massa seca nas
plantas de eucalipto foram significativas, sendo de 29% quando em convivência com 20 plantas de
capim-braquiaria m-2, e de até 77% com 160 plantas m-2.
Neste tratamento a diferença média da altura em comparação com a testemunha, livre de
plantas daninhas, foi de 84 cm. Quando compara-se o acúmulo de massa seca das plantas de
eucalipto com das plantas de capim-braquiaria, verifica-se que a partir da densidade de 20 plantas m-
2
, a massa das mesmas ultrapassa a das plantas de eucalipto. Pode-se também inferir que a
competição interespecífica da espécie B. decumbens não reduziu a massa seca das mesmas, até a
densidade de 160 plantas m-2, demonstrando o alto poder competitivo desta espécie.

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Incremento de diâmetro de E. grandis 
12
ŷ = 0,0048x2 ‐ 0,3994x + 10,744  R² = 0,92
10

(mm) 8

0
0 20 40 60 80 100 120 140 160

Densidade de plantas  de B. decumbens  (m‐2 )


 
Figura 2. Efeito de densidades de plantas B. decumbens sobre o incremento em diâmetro de plantas
de E. grandis. Botucatu/SP, 2009/2010.

A redução crescente da massa seca das plantas de E. grandis em convivência com


diferentes densidades de plantas de B. decumbens, como também a redução dos outros parâmetros
avaliados neste estudo, pode ser devido a inúmeros fatores como por exemplo a competição por
água, que de acordo com diversos pesquisadores, é um dos principais fatores responsáveis pela
sobrevivência e desenvolvimento de espécies arbóreas utilizadas em reflorestamento, como
verificado por Pitelli et al. (1988) os efeitos da interferência das plantas invasoras durante o primeiro
ano do crescimento de Eucalyptus pellita foram mais drásticos no período de abril a setembro,
quando ocorreu severa restrição hídrica na região.

350
ŷ = ‐0,0077x2 + 3,1781x ‐ 0,8123  R² = 0,99
300
Massa seca  de plantas (g)

250

200

150

100 ŷ = 0,0531x2 ‐ 4,2135x + 104,14  R² = 0,97


50

0
0 20 40 60 80 100 120 140 160
Densidade de plantas  de B. decumbens  (m ‐2 )
E. grandis B. decumbens

Figura 3. Acúmulo de massa seca de plantas de B. decumbens e E. grandis em função da


densidade de plantas em convivência. Botucatu/SP, 2009/2010.

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Literatura Citada

Anuário Estatístico da ABRAF. Disponível na Internet: <http://www.abraflor.org.br >. Acessado em 14


de março 2010.

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