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A filosofia econômica de David Hume e Francois Quesnay

Os escritos econômicos de David Hume e Francois Quesnay inserem-se em um contexto histórico de


ascenção do liberalismo e da filosofia burguesa. Ambos os autores, que escrevem na segunda
metade do século XVIII, abordam o problema econômico de um ponto de vista normativo-positivo.
Há em seus ensaios uma confluência entre a elaboração de “verdades” objetivas e proposições
idealistas acerca do funcionamento da vida social. A construção de categorias como “moeda”,
“dinheiro”, “riqueza”, “comércio”, “civilização” e – vale ressaltar – “raça” emerge da análise
científica de fenômenos socio-políticos. Um processo que marcará a edificação de um conjunto de
teorias e ideologias eurocêntricas sobre o funcionamento da economia mundial.

Para Hume, o desenvolvimento econômico de uma nação depende de vários fatores. De acordo com
ele, o valor, tanto para a sociedade como para o indivíduo, encontra-se na busca equilibrada do luxo
e do refinamento das artes e indústrias. O trabalho humano deve se guiar pela busca da opulência e
de excedentes, que teriam um efeito civilizatório devido à generosidade decorrente do excesso. Essa
geração de riqueza estaria na mão dos comerciantes e mercadores, cujo trabalho tem o maior valor
de todos, já que eles não sucumbem à escravidão dos servos, nem à tirania dos barões. O governo
nunca deve tentar obstruir essa busca por opulência, nem pela política monetária, tampouco pela
fiscal. Para Hume, a atuação do Estado não pode basear-se somente na busca desesperada dos
superávits comerciais e monetários, já que todo cálculo sobre a balança comercial é, por natureza,
impreciso e baseado em fatos e suposições. Uma afirmação que se deve a preocupações comuns em
sua época. O desenvolvimento interno e externo do comércio e das indústrias seria muito mais
vantajoso e deveria ser estimulado pela política monetária correta. Considerado um dos primeiros
expoentes da teoria quantitativa da moeda, Hume compara a moeda a um fluido que se espalha pela
nação. Quanto mais descentralizada for a posse da moeda, maior será o desenvolvimento das
atividades mercantis. A acumulação de metais preciosos nas nações não pode ser, nesse sentido, um
fim em si mesmo. Deve buscar muito mais manter o funcionamento daquilo que hoje conhecemos
por “variáveis reais”. O foco das políticas de governo precisa ser o estímulo ao espírito das artes e
indústrias, pois em países onde esse espírito é encontrado a moeda sempre retornaria, mesmo em
caso de evasão extrema de metais preciosos no curto-prazo. Nesse contexto, Hume aborda o crédito
público – mais restrito na época do padrão-ouro do que hoje. De acordo com ele, mesmo que o
crédito possa servir ao desenvolvimento de determinadas atividades comerciais e mercantis
importantes – e portanto à atração de metais preciosos para a nação – o governo não deve expandí-
lo de forma extrema, pois isso comprometeria o equilíbrio do flúido-moeda. Portanto, o luxo, a
opulência e o espírito das artes e da indústria são os elementos mais importantes para Hume. De
acordo com ele, nos tempos em que esses fatores se desenvolvem, toda a sociedade se desenvolve
junto e a ocupação dos trabalhdores é garantida, previnindo o despovoamento e a redução do nível
de vida da nação. Nesse ponto, há uma divergência em relação à Quesnay, que, enquanto fisiocrata,
confere uma importância muito maior à agricultura. Hume a considera uma arte importante, mas
não a coloca no cerne de sua análise.

De acordo com o francês, por outro lado, a renda líquida da nação depende em grande medida da
terra. As riquezas naturais constituiriam, sobretudo no caso francês, o elemento central de estímulo
à opulência do estado. Praticar o bom-preço dos bens agrícolas é fundamental nesse sentido, já que
“um reino sem minas só pode aumentar a massa de suas riquezas pecuniárias pela venda de gêneros
de sua agricultura ao exterior”. A visão de Quesnay sobre essas riquezas pecuniárias – a moeda – é
semelhante à de Hume. De acordo com ele, a moeda deve ser vista como uma riqueza especial, já
que ela representa o valor de troca de todas as demais mercadorias, deixando de ser um bem com
valor de uso intrínseco. Nada mais próximo da chamada teoria quantitativa da moeda. A opulência
de um Estado não decorreria da quantidade de moeda, mas do bom preço de mercadorias
comerciáveis. De acordo com Quesnay, a produção dessas mercadorias segue uma divisão social do
trabalho, que é visto como fonte primária de produção de valor. Uma visão que, diga-se de
passagem, tem certas semelhanças com a teoria marxiana do valor. Há, para o francês, uma classe
produtora, que assume o papel mais fundamental da economia, uma classe dos proprietários (cuja
grande maioria não é improdutiva, mesmo que não atue diretamente no setor agrícola) e uma classe
estéril (que serva as demais classes sobretudo com serviços e manufaturas) desprezível do ponto de
vista do produto líquido. Produto esse que só atingirá o seu nível máximo caso as políticas estatais
(sobretudo a tributária) de estímulo à agricultura e ao comércio exterior forem favoráveis. Vale
ressaltar, nesse ponto, que essa ideia terá um impacto no pensamento demográfico de Quesnay.
Para ele “a população de um reino cresce ou decresce na proporção em que cresce ou decresce a
renda desse reino”. Ou seja: a reprodução da força de trabalho e o tamanho da população
dependem da prática do bom-preço agrícola. Como esse preço tem uma relação direta com o valor
da própria força de trabalho, qualquer tecnologia ou máquina que substitua o trabalho humano é
bem vinda. Uma ideia muito presente ainda hoje, quando muito se acredita que a redução
generalizada do custo do trabalho faz automaticamente crescer o produto total.

Trabalho humano - Luca

Agricultura e riquezas naturais - Luca

moeda e metais preciosos - Luca

tamanho da população - Luca

governo e política econômica – Luca

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