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Resenha 2 – Luca Vilela Zwernemann

PREBISCH, Raúl. La política de inversiones extranjeras. In: PREBISCH, Raúl. La


cooperación internacional en la política de desarrollo latinoamericana. Santiago de
Chile: CEPAL, 1973. Cap.2, p.14-43

Entre 1950 e 1953, período em que foi criado, no Brasil, o Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico (BNDE) – atual BNDES – o valor médio anualmente
investido na América Latina foi de 421,7 milhões de dólares. De acordo com Prebisch
(1973), esse valor mostrava a insuficiência do esforço internacional no
desenvolvimento econômico da América Latina. Preocupado com esse baixo volume
de crédito, causado pela deterioração dos termos de troca e pelas restrições ao
crescimento interno decorrentes da situação adversa da balanço de pagamentos, o
economista argentino escreveu “LA COOPERACION INTERNACIONAL EN LA
POLITICA DE DESARROLLO LATINOAMERICANA“, um livro importante para
compreender o contexto em que foram criados os primeiros bancos de
desenvolvimento na América Latina.

Já no início do livro, o autor advoga a necessidade de um programa interamericano


de investimentos, advertindo, no entanto, que esse programa teria que ser totalmente
diferente do Plano Marshall, também implementado naquele período. Isso porque o
Plano Marshall não era um plano de empréstimos comuns, mas sim de ajudas
financeiras, com taxas de juros e condições que seriam impraticáveis no mercado
latino-americano, menos devastado pela Segunda Guerra Mundial do que o mercado
europeu.

Contudo, para Prebisch, os investimentos estrangeiros seriam necessários


temporariamente para permitir o desenvolvimento autônomo dos países latino-
americanos. O autor ressalta que estrutura de consumo da região e a deterioração
dos termos de troca produziam uma taxa poupança relativamente baixa, de modo
que, para alcançar um coeficiente de investimentos de 20% do PIB em 1953, o aporte
líquido de capital externo deveria ter sido de 6% do PIB, algo em torno de seis vezes
mais do que o observado naquele período.

Em seguida, o autor estima um valor satisfatório – 1 bilhão de dólares por ano – para
os investimentos estrangeiros que seriam realizados entre 1955 e 1957, mostrando
que os aportes não deveriam exceder em muito esse montante, pois isso elevaria
sobremaneira a carga financeira e estrangularia ainda mais a balança de pagamentos
dos países da América Latina. Por esse mesmo motivo, diz o autor, os empréstimos
aos países da região deveriam ser realizados com capitais provenientes de bancos
públicos internacionais, que praticavam taxas de juros menores e possuíam uma
visão de longo prazo sobre as demandas da América Latina. O autor se refere, mais
especificamente, ao Banco de Exportações e Importações dos Estados Unidos (EXIM
Bank of the United States), que havia financiado, anos antes, a construção de um
parque industrial siderúrgico no Brasil e no Chile.

Prebisch adverte, no entanto, que tal política de captação de recursos públicos


externos deveria ser feita de maneira extremamente cautelosa e coordenada. Isso
porque os mercados latino-americanos – e esse é o ponto principal do autor – não
possuíam escala suficiente para absorver capitais e mercadorias em grandes
quantidades. Somente um programa coordenado de investimentos, que ampliasse o
intercâmbio comercial entre os países da região, seria capaz de dar sustentação a
um ciclo de crescimento e desenvolvimento. Uma medida desse programa seria a
criação de um fundo especial inter-americano, do qual participariam inclusive os EUA.
Em 1959, alguns anos depois, isso de fato ocorreu, com a criação do BID. Pode-se
dizer, portanto, que o texto de Prebisch ajuda a explicar o contexto em que surgem
os primeiros Bancos de Desenvolvimento na América Latina.

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