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Resenha 4 – Luca Vilela Zwernemann

SANTOS, Leonardo. BNDES: internacionalização de empresas e o subimperialismo brasileiro.


Geousp – Espaço e Tempo (Online), v. 22, n. 1, p. 115-137, jan./abr. 2018.

O artigo de Leonardo Santos (UFF) debate as políticas de estímulo à


internacionalização das empresas brasileiras adotadas pelo Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), principalmente durante os governos
de Luiz Inácio Lula da Silva. Para entender a atuação do banco, o autor utilizou-se do
conceito de subimperialismo, desenvolvido por Ruy Mauro Marini na década de 1970.
De acordo com Marini, o subimperialismo seria uma fase específica do capitalismo
dependente, ou a forma que as economias periféricas assumem quando passam a
contar com monopólios e um setor financeiro forte. Santos mostra que vários autores
identificam essas características no Brasil, mas também discute algumas críticas a
essa tese. Fiori (2011), por exemplo, discorda da teoria, afirmando que o sistema
interestatal de poder na América Latina jamais se desenvolveu a ponto de surgir uma
potência hegemônica com aspirações imperialistas, tampouco empresas nacionais
que sejam militarmente e juridicamente protegidas por esta potência.

Santos recorre aos dados para clarear o debate. Em primeiro lugar, analisa os fluxos
de Investimento Estrangeiro Direto (IED) na América Latina entre 1980 e 2014, com
dados da UNCTAD. Comparando os números de 1980 e 2014, é possível observar
uma redução da importância do Brasil, da Argentina e da Venezuela nos IEDs
realizados no período, ao passo que a participação do Chile e do México cresceu
consideravelmente. Os motivos para essa queda da participação brasileira são
diversos e relacionam-se, entre outros, ao desenvolvimento regional do mercado
interno, de dimensões continentais.

Já em relação ao período que compreende os governos do Partido dos Trabalhadores


(2003 a 2015) Santos mostra que o BNDES cumpriu papel importante, elevando seus
desembolsos de R$ 33,5 para R$ 135,9 bilhões. O momento de maior expansão dos
empréstimos do Banco ocorreu durante a crise de 2008/09, quando Luiz Inácio Lula
da Silva lançou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), focado no setor de
construção civil. O autor mostra que os desembolsos do banco quase duplicaram
entre 2008 e 2010, puxados pela linha de financiamento de máquinas e equipamentos
(Finame).

No entanto, para não desviar da relação do banco com as empresas multinacionais


brasileiras – o assunto do artigo – o autor não se alonga a respeito da FINAME,
focando na linha de financiamento das exportações e importações (EXIM). Olhando
para os Desembolsos BNDES Pós-embarque das exportações financiadas por
categoria de uso, fica evidente que, no primeiro governo Lula, predominou o
financiamento de exportações de bens de capital, ao passo que, a partir de 2007 e
2008, cresceu a participação das obras de infraestutura de empresas brasileiras no
exterior.

Santos apresenta uma lista detalhada dessas obras e do valor total de cada
financiamento. Entre as obras mais polêmicas – instrumentalizadas e criticadas até
hoje por adversários políticos do Partido dos Trabalhadores – destacam-se o Porto
de Mariel, em Cuba e a Linha 5 do Metrô de Caracas, na Venezuela. Entre as
empresas brasileiras beneficiadas por essas linhas de crédito entre 2009 e 2015, por
sua vez, encontram-se a Embraer (44%), Odebrecht (39%) e Andrade Gutierrez (6%).

O rápido desmantelamento dessa lógica de expansão das empresas brasileiras,


executada pela Operação Lava Jato – que teve como alvo, além da Petrobras, as
empreiteiras brasileiras e o próprio BNDES – faz com que o Santos se posicione
contra a tese do subimperialismo. Além de ter fechado vários escritórios em outros
países, o BNDES rearticulou totalmente a sua política a partir de 2015, passando a
focar no financiamento de micro, pequenas e médias empresas.

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