Você está na página 1de 2

Instituto de Relações Internacionais

ANTI-ESTADISMO NO BRASIL

Aluno: Gabriel Gama de O. Brasilino


Orientador: Jimmy Casas Klausen

Introdução
2013 foi um ano marcante para a democracia contemporânea brasileira. Em junho deste
ano milhões de brasileiros ocuparam ruas e praças em protesto ao aumento no preço do
transporte público; à realização da Copa do Mundo FIFA de Futebol – que aconteceria no ano
seguinte; aos escândalos de corrupção na realização do megaevento esportivo e em outros
setores; entre diversas outras pautas e demandas sociais, como educação, saúde e segurança.
Um elemento que uniu muitos movimentos sociais naquelas manifestações, que ficaram
conhecidas como as “jornadas de junho”, foi um sentimento de oposição à autoridade do
Estado. Em 2015, novas demonstrações tomaram corpo em diversas cidades do país. Nesse
contexto, pode-se dizer que a pauta central foi a reeleição da presidenta Dilma Rousseff,
questionada por movimentos sociais de direita. Novamente foi possível identificar discursos
anti-estadistas. Essa pesquisa busca explorar esses discursos, suas fundamentações
ideológicas e como se tornaram base para a mobilização política na democracia
contemporânea brasileira.

Objetivos
Desenvolver uma genealogia do recente anti-estadismo brasileiro, expresso de formas
diferentes tanto nos protestos contra a copa do mundo FIFA em 2013 quanto nos protestos
anti-PT em 2015, ambos paradoxalmente um produto e uma contestação de uma sociedade
“governamentalizada” (Foucault, 2007) configurada por burocracias e segurança, e um regime
de redistribuição de renda com inclinação de esquerda navegando em forças contraditórias
como o boom de commodities e a neoliberalização do capitalismo global; (2) articular
sistematicamente as diferenças e similaridades entre anti-estadismo na esquerda e na direita;
(3) rastrear movimentos e ideologias anti-estadistas recentes no Brasil a uma historia
intelectual mais geral do anarquismo e do libertarianismo; (4) analisar o significado de redes
políticas e de financiamento que conectam movimentos e ideologias anti-estadistas no Brasil a
defensores e ativistas anti-estadistas (a) nos Estados Unidos e (b) na Argentina.

Metodologia
Era para ser um aumento “regular” no preço das passagens, “devido à inflação”, mas
diversos movimentos sociais ocuparam as ruas, não só pelo aumento de R$0,20 centavos, pela
crise de representatividade da democracia brasileira. Em várias cidades, o preço das passagens
voltou ao preço anterior, com um sentido simbólico para a organização política autônoma e
para as transformações que são demandadas. O transporte público nas grandes cidades é
reconhecido por sua qualidade, preços abusivos, esquemas de corrupção, oligopólios, políticas
de concessão ou “parcerias público-privadas”. Chama atenção o fato de que estas empresas
financiam campanhas eleitorais de governadores, prefeitos e vereadores, revelando
contradições fundamentais da e para a democracia brasileira. O aumento no preço por si não
pode explicar a decisão de milhões de pessoas de ocupar ruas e praças. Outras demandas co-
protagonizaram as manifestações de 2013.
O Movimento Passe Livre (MPL) foi um importante ator nesses processo,
especialmente na cidade de São Paulo, onde vem pautando o debate na direção da
Instituto de Relações Internacionais

universalização do serviço, que deveria ser público, gratuito e de qualidade. Na semana em


que foi anunciado o aumento dos preços, o MPL se mobilizou, de forma autônoma e
horizontal, convidando a população para ocupar as ruas, com discursos que desafiavam a
autoridade do Estado e a lógica de mercantilização do transporte público. As manifestações,
de modo geral, se organizaram de forma autônoma e horizontal, sem lideranças partidárias e
com discursos “radicais” contra o governo e as empresas. Não podemos deixa de mencionar a
participação dos Black Blocs e suas performances contra bancos e outros símbolos do
capitalismo financeiro. Organização “autônoma” e “horizontal”, “apartidarismo”, anti-
estadismo, ação “radical” são expressões recorrentes na literatura anarquista. Segundo
Bakunin (1990), é o que a população realmente quer: livre auto-organização e administração
de suas próprias relações “de baixo para cima”, sem intervenção ou violência. O Estado não
cumpre essa função porque, por mais vermelha que seja uma democracia, é em sua essência
uma máquina governando as massas através de uma minoria privilegiada (p. 24). A partir
dessa discussão podemos identificar elementos anti-estadistas nas mobilizações político-
sociais em 2013, anti-verticais, hierárquicos ou autoritários.
Com maior incidência nas manifestações anti-Dilma e anti-PT de 2015, podemos
identificar o Movimento Brasil Livre (MBL), formado por integrantes do Estudantes Pela
Liberdade (EPL), que também participaram em 2013. O MBL vem articulando um discurso
de oposição ao governo PT sob explícita influência da literatura e contemporâneos
libertarianistas. A solução anti-estadista segundo Rothbard estaria na provisão de serviços por
agências privadas competitivas, enquanto o Estado é visto como uma agência compulsória
monopolista (GORDON, 2007). Essa discussão nos permite identificar elementos anti-
estadistas daquele discurso, as relações do MBL com corporações privadas e parlamentares de
direita, e as fundamentações ideológicas dos seus discursos.
Assim, essa pesquisa busca investigar os recentes discursos do anti-estadismo no Brasil
utilizando uma variedade de métodos, incluindo (a) entrevistas com manifestantes e ativistas
no Rio de Janeiro e São Paulo, (b) uma genealogia do discurso e da identidade política anti-
estadista, (c) análise de discurso em websites, declarações e documentos associados com os
protestos de 2013 e 2015, (d) história intelectual (incluindo alguma pesquisa de arquivos) para
situar o MPL e o MBL nos contextos das teorias anarquista e libertarianista, (e) comparações
alvo entre o Brasil, Argentina e Estados Unidos.

Conclusões
A pesquisa ainda está em andamento e algumas das propostas são, demonstrar não só as
diferenças mas também as similaridades entre os discursos anti-estadistas da esquerda e da
direita; a relação desses discursos com correntes transnacionais; as características próprias,
históricas e contemporâneas do anti-estadismo no Brasil.

Referências
BAKUNIN, Mikhail. Stadism and Anarchy. New York, Cambridge University Press, 1990.

FOUCAULT, Michel. Security, Territory, Population: lectures at the Collège de France,


1977-78. New York, Palgrave Macmillan, 2007.

GORDON, David. The Essential Rothbard. Auburn, Ludwig von Mises Institute, 2007.

Você também pode gostar