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GIRA/UFBA
QUEM O PARTIDO QUER ELEGER?
A MULHER NEGRA NA DISPUTA DAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE
2016 EM SALVADOR, BAHIA1
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Trabalho apresentado no VI Seminário da Pós Graduação em Ciências Sociais: Cultura, Desigualdade e
Desenvolvimento - realizado entre os dias 09, 10 e 11 de novembro de 2016, em Cachoeira, BA, Brasil.
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Introdução
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As mulheres não são as únicas sub-representadas na política brasileira – junto a elas
temos grupos étnicos, comunidade LGBT e deficientes, que são, por sua vez, os mais
invisibilizados e pouco aparecem em pesquisas. Os grupos apontados são
historicamente subalternizados, vivenciando diariamente formatos discriminatórios
interseccionais, que barram suas entradas nas esferas de poder.
Nas candidaturas das eleições de 2016, foram observadas 224.079 (47,5%) candidaturas
de negras e negros, 1.584 (0,34%) candidaturas indígenas. Já entre os eleitos, as negras
e negros somaram 25.855 (40,9%), e os indígenas 170 (0,26%) (Fig.2; Fig.3). Da
comunidade LGBT, apenas 26 foram eleitas e eleitos, apenas um deles para prefeitura,
de um total de 377 candidatos e candidatas. Sobre os deficientes, porém, não dá dados
disponíveis no site do TSE e em outros sites de pesquisa, o que encontramos são
matérias sobre eleitores deficientes e alguns candidatos que colocam no nome na urna a
palavra deficiente, como é o exemplo de: Leo dos Deficientes, que ficou como suplente
para o cargo de vereador em Goiânia-PE.
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Uma das candidatas deficientes que tivemos contato foi Cristina Santana, candidata não
eleita à vereadora em Salvador-Ba, ativista do movimento de deficientes, atriz, cientista
social, que sentiu durante toda campanha as dificuldades de ser mulher, negra e
deficiente visual. A única dos candidatos e candidatas que teve santinhos em braile
distribuídos na capital baiana, o que nos surpreende pelo grande número de deficientes
na cidade, que faz parte do nordeste, região que possui maior número de deficientes do
país, que chega a 24% da população brasileira, segundo o IBGE. Diante da escassez de
dados, os resultados mostrados não possuem dados sobre deficientes.
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No estado da Bahia, em termos de representatividade, os resultados não foram
diferentes: dos 413 prefeitos e 4.545 vereadores eleitos, somente 614 (12,3%) são
mulheres; 3.587 (72,3%) são negras ou negros (com maioria se autodeclarando pardos)
e 14 (0,28%) são indígenas. Não foi eleito nenhum prefeito indígena ou membro da
comunidade LGBT.
Nas eleições desde ano, tivemos, de acordo com o TSE, 493.534 candidaturas em todo o
Brasil, sendo 156.317 candidaturas do sexo feminino. Para o cargo de vereador e
vereadora, foram 460.651 candidaturas em todo o Brasil. Dessas, 151.390 (32,9%) são
de mulheres, mas somente 15,3% (70.265) de mulheres negras (Fig.5). Considerando
somente as mulheres que se auto-declararam pretas, essa proporção é de 2,8% do total
de candidatas a vereadoras em todo o Brasil.
Interseccionalizando esse dado, observamos que, entre as mulheres eleitas, apenas 2.865
(4,9%) são negras. Destas, as auto-declaradas pretas são somente 331, o que equivale a
menos de 1% das cadeiras legislativas de todo Brasil (Fig.6). Mulheres estas que são
maioria da população, somam menos de 6% da composição do legislativo, o que
corresponde a diferentes fatores interccionados que as mulheres negras vivem,
diferentes das brancas.
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Em termos de representatividade feminina, o Norte e Nordeste lideraram, com o Estado
do Rio Grande do Norte a frente de todos com 28% de mulheres eleitas. No estado da
Bahia, os resultados não foram diferentes: dos 4.536 vereadores eleitos, 554 (12,2%)
são mulheres – destas, apenas 383 (8,4%) são negras (Fig.7), mas as auto-declaradas
pretas somam somente 56 (1,2%) em toda Bahia.
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Figura 7: Mulheres Negras nas Eleições Municipais da Bahia em 2016 – candidatas e
eleitas.
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III - Partidos políticos e as candidaturas de mulheres negras
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abastadas, com dificuldades ainda maiores de financiamento, pois precisarão de valores
altos de doações por parte de pessoas físicas. Ponto pouco preocupante para os grandes
milionários que concorrem e mantêm campanhas de determinados candidatos, portanto
a medida é controversa ao que se propõe, chegando a aumentar o caixa dois de
campanhas e levando a possível perda de controle dos órgãos públicos sobre o
financiamento.
A entrada das mulheres na política, segundo Miriam Grossi e Sônia Miguel (2001), tem
sido feita a partir da participação em movimentos sociais, como líderes comunitárias,
em sindicatos ou muitas vezes através de relacionamentos familiares com um homem
político de sua rede de parentesco, como pai ou marido. A progressão política natural
ocorre dos movimentos sociais, sindicais e lideranças comunitárias para as candidaturas,
mas o contrário tem sido muito observado, mulheres e muitos homens, galgando os
pleitos por rede de parentescos ou relacionamentos familiares, candidatos estes sem
histórico político e de militância, um verdadeiro “nepotismo” político. Nesse sentido, a
disputa eleitoral ainda é uma arena desigual para as mulheres, pois são minorias nas
duas formas de ingressos.
A participação das mulheres na política foi estimulada a partir das cotas eleitorais,
previstas no artigo 10, §3º, da Lei 9.504/97, que estabeleceu que cada partido ou
coligação preencherá o mínimo de 30% (trinta por cento) e o máximo de 70% (setenta
por cento) para candidaturas de cada sexo. A cota passou a ser obrigatória em 2009 e
por uma resolução do TSE, permitiu que fosse negado o registro da chapa que estiver
fora da proporção. Todo esse esforço legislativo ainda não garantiu a paridade de gênero
nos processos eleitorais, visto que, na maioria dos partidos, o número de mulheres
candidatas não passa dos 30% obrigatórios por lei.
Vimos ao longo da pesquisa que as mulheres são colocadas para “preencher o mínimo”,
nunca vistas como candidatas de fato para o pleito, o que torna a ausência de
participação de mulheres na política um problema crônico em nosso país. As mulheres
negras são sujeitas historicamente a uma dupla discriminação, pelo racismo e pelo
sexismo (GONZALES, 1984, p 224) são, nesse sentido, as mais sub-representadas na
política brasileira, uma vez que as mulheres brancas não sofrem racismo (Fig.9.1;
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Fig.9.2). A articulação do racismo e o sexismo faz com que as mulheres negras sejam
sub-representadas nas diversas esferas de poder, e não somente a política.
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São Caetano –Salvador-BA, e uma das coordenadoras da Rede de Mulheres Negras da
Bahia aponta insatisfações com o partido, o qual praticamente não financiou sua
campanha, que teve o aporte de menos de 10 mil reais. O partido pelo qual disputou foi
o mesmo em que militou durante toda a sua vida e mesmo diante de convites de outros
partidos se viu a pleitar por este, o que demonstra o caráter ideológico de sua
candidatura.
Referências
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Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc). Sub-representação de negros, indígenas e
mulheres: Desafio à democracia. Brasília, 2014.
Fontes Consultas
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