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Ministério da Educação

Universidade Tecnológica Federal do Paraná


Campus Pato Branco
Diretoria de Pesquisa e Pós-Graduação
Programa de Pós-Graduação em Letras
PPGL

Resenha: A colonização é conivente com o analfabetismo

Camila Amanda Rossoni1

CANDIDO, Antonio. Literatura e subdesenvolvimento. In: ______. A educação pela noite e outros
ensaios. São Paulo: Ática, 1989, p. 140-180.

Antonio Candido inicia sua discussão sobre subdesenvolvimento e cultura citando Mário
Viera de Mello e fazendo uma perspectiva história da literatura desde a colonização até a
tomada de consciência sobre o subdesenvolvimento do Brasil. Assim, ele continua sua reflexão
sobre as características literárias de quando se tem noção do “atraso” e exemplifica situações
de países e continentes e alguns fatores que contribuem com essa falta de acesso a informação,
a qual pode ser o “analfabetismo”. Ele firma também que “é no passado imediato que
percebemos as linhas do presente” até porque na literatura de nosso continente há muita
influência do continente europeu, onde moram nossos colonizadores.
Há uma distinção no Brasil e da América Latina em relação a cultura do restante do
mundo ou dos países desenvolvidos. Ele acredita que há, por isso, uma ideia de “país novo”,
desse modo, muitos aspectos da literatura são surpresa, interesse pelas coisas exóticas. Um
exemplo do começo desse pensamento é a Carta de Colombo para o rei de Portugal na
colonização. Ela explana surpresa sobre nosso continente, demonstrando deslumbramento pelo
novo. Posteriormente, o Brasil se tornou sede do Império Português, até que devido a situação
política surgiu a ideia de liberdade e a América “conquistou” sua independência.
Essa valorização da pátria foi, então, herdada. Tanto que a literatura a representou no
Romantismo com o poema de Gonçalves Dias “Canção do exílio”. O qual representa o amor
pela pátria e a distingue dos outros lugares, firmando que ela é mais bonita e inspiradora. Para
Candido, essa valorização da natureza tenta compensar o atraso econômico, trazendo um certo
otimismo para a população. Um exemplo se dá também na Argentina, o escritor Rafael
Obligado distingue a pátria institucional da terra que seria o natural. A literatura Latino-
Americana bebeu desta vertente de promessas e esperanças.

1
Aluna na disciplina Literatura e Sociedade: diálogos culturais e comparativismos do Programa de Pós-Graduação
em Letras – PPGL.
Contudo, o otimismo não conseguiu persistir ao longo dos anos. Quando se deu
consciência do subdesenvolvimento e dos problemas sociais como a pobreza e infertilidade dos
solos, a perspectiva foi mudada. E, assim, iniciou-se a luta e a crítica social. Ela vem sendo
construída desde meados de 1930, mas se constituiu fortemente após a Segunda Guerra Mundial
nos anos de 1950. Dessa maneira, o crítico firma que o romance teve o papel de desmitificar e
trazer consciência a população. Porém, poucas pessoas tinham acesso a ele.
O analfabetismo foi um grande empecilho no papel da literatura. Primeiramente, em sua
existência por conta da pluralidade linguística de alguns países e em segundo lugar pela falta
de comunicação como editoras, bibliotecas, jornais. Desse modo, há pouco público para a
literatura e dificuldade dos escritores a se dedicarem apenas para ela por conta da baixa ou nula
remuneração. Outro fator que dificultava a disseminação dos textos e críticas era o governo que
não queria que elas fossem acessíveis ao povo. Contudo, não é apenas o analfabetismo que
explica o subdesenvolvimento. Candido exemplifica que podem também ser a falta de
comunicação e os maus hábitos editoriais que acentuam ele.
Mesmo assim, ainda há mais possibilidades para os escritores latino-americanos que para
os escritores da África e da Ásia, pois as línguas faladas são as mesmas dos seus colonizadores,
diferentemente desses outros continentes que na maioria tem sua língua e a língua dos
colonizadores para “escolher” em qual produzir literatura. Isso dificulta o acesso à leitura dos
povos de seus países, pois alguns não sabem a língua dos colonizadores; e, também, dificulta o
acesso do mundo, pois a maioria não conhece a língua desses países, então não conhece sua
arte literária.
Antonio Candido pontua, também, que é possível que o latino-americano possa ser
sempre um produtor de cultura para minorias, poucas pessoas que irão lê-los. Ainda há inúmeras
pessoas que não tem acesso à literatura erudita. E, quando esse público é alfabetizado, muitas
vezes irá buscar o rádio, a televisão, a história em quadrinhos e não a literatura. A cultura de
massa é um grande problema para os países subdesenvolvidos. Deve ser realizada uma
vigilância para que a literatura latino-americana não seja arrastada pela massa.
Outra reflexão a respeito do atraso e subdesenvolvimento da literatura, para o crítico, é
se voltar para os colonizadores ao escrever obras. Como a população de seus países não tinham
muito hábito de leitura, alguns escritores acabavam escrevendo nos moldes europeus para
conseguir atingir um público maior. Dessa forma, eles acabavam se dissociando de suas terras.
O que acontecia muito também, era a utilização de outros idiomas para isso.
A influência de outras literaturas também é um atraso para a latino-americana, porque
muitas vezes irá se escrever sobre temáticas que não condizem com os escritores e nem com o
público que irá ler. Muitas vezes o que se desenvolveu não foi algo novo, e sim um “afinamento
dos instrumentos recebidos”. Para a superação disso vem a produção de obras com inovação e
sem tanta influência de “fora”. Isso aconteceu, no Brasil, nas gerações de 1930 e 1940, as quais
beberam do Modernismo no Brasil e produziram obras com influência de artistas brasileiros
como Carlos Drummond de Andrade e Murilo Mendes. O regionalismo, também foi muito
importante para demonstrar a inovação e a verdadeira identidade desse povo que muitas vezes
estava escondido nos padrões estéticos europeus,
Todavia, seria ingênuo afirmar que não há mais relação entre a arte brasileira e latino-
americana com o restante do mundo. Cada vez mais a arte tem inter-relação. É impossível ter
um mundo fechado ainda mais na contemporaneidade, na qual todos bebemos de influências
globalizadas. Entretanto, ainda é possível inovar,

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