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Fichamento texto “Sessenta Anos”

O processo de industrialização da economia brasileira, começa a partir do


desenvolvimento da economia cafeeira. A partir de 1850, houve uma rápida expansão e
uma aceleração nas décadas de 1870 e 1880 da disseminação do café como fator crucial
na economia. Em 1890, o desenvolvimento da economia está totalmente lastreado na
expansão do complexo cafeeiro, baseado no trabalho assalariado, com grande parte dos
lucros obtidos sendo reinvestidos em sua expansão.

A grande produção do café cria dois mecanismos de manutenção para apoiar o


produto, sendo o primeiro uma politica cambial de desvalorização, para diminuir o
impacto das quedas no cenário internacional e em contrapartida, uma politica de
valorização, através de estoques, para manter a renda elevada dos cafeicultores.

O Brasil no começo do século XX, era responsável por cerca de 70% da


produção de café mundialmente, sendo que internamente a produção do café
representava cerca de 60% de todas as exportações brasileiras, com isso era nítido sua
influência na economia.

Como dito anteriormente, o complexo cafeeiro permitiu a criação da indústria


brasileira, pois o café como núcleo da produção, foi necessário a criação de um sistema
de transporte para escoação do produto, assim surgindo um segmento urbano, atividades
comerciais e serviços financeiros para o financiamento da produção. Ademais, a
imigração promovida pelo auge da exportação, criou um mercado de trabalho urbano,
utilizado na indústria, através do trabalhador livre, gerando um mercado interno para a
indústria nascente de bens de consumo.

A estrutura criada para a importação será outro ponto fundamental para a


indústria nascente, pois garantia a subsistência da mão de obra, através da importação
de alimentos, insumos, bens de capital necessários para a indústria, como máquinas e
equipamentos.

Através da acumulação do capital cafeeiro, nasce o capital industrial, criado uma


dependência mútua, pois o primeiro depende do segundo para a reprodução da força de
trabalho e porque oferece oportunidades para a absorção dos lucros; e por outro lado a
indústria depende do café parar a geração de mercados para o consumo dos produtos e
gera a capacidade para importar maquinas, equipamentos e insumos.
A expansão do setor de gêneros alimentícios no Brasil, provem da necessidade
interna da manutenção da mão de obra atuantes na indústria e no complexo cafeeiro.
Com as guerras europeias e o início da I Guerra Mundial, a restrição na importação de
alimentos estimulou a expansão interna de sua produção, ao mesmo tempo que as crises
no setor cafeeiro estimulava a alocação desse capital no setor alimentício. Com isso seu
fortalecimento era fundamental tanto para a expansão cafeeira como na indústria, pois
assegurava uma estabilidade nos salários cujo eram gastos em alimentos e no
fornecimento contínuo da matéria prima necessária para o setor industrial.

Em 1920, a economia girava em torno do café, pulando sessenta anos a frente,


em 1980, a predominância da indústria na economia é indiscutível. A indústria brasileira
em 1978, representava cerca de 37,1% do Produto Interno Bruto, contra 11,8* da
agricultura. O Brasil atingiu a autossuficiência na produção de bens de consumo
corrente e de bens de consumo duráveis, com destaque para a indústria de bens de
produção no valor da transformação industrial. Para constatar tamanho crescimento da
indústria, pode-se apontar dados de 1973, ano de sucesso do “milagre econômico”, onde
a contribuição industrial para a formação bruta de capital atingiu 60%, colocando o
Brasil acima de países como Itália, Bélgica e países escandinavos. Porém possui-se uma
deficiência em comparação a países desenvolvidos como Estados Unidos e Alemanha,
na chamada “indústria de ponta”, refletida na inexistência de produção de máquinas,
computadores etc.

Além do grau de diversificação e integração avançada da indústria brasileira,


pode-se apontar o avanço na escala de produção, organização do trabalho e níveis de
produtividade, pois as grandes empresas nacionais, estatais e estrangeiras, funcionam ao
lado das pequenas e medias empresas, criando um laço de interdependência industrial
na cadeia produtiva.

Com isso, o avanço do capitalismo brasileiro é marcado pelas atividades de


apoio a indústria, como o comercio, sistema financeiro e de transportes, sendo estes
ligados a importância das atividades estatais para a gestão desse complexo organismo
econômico, onde a prestação de serviços públicos, nas áreas da saúde, educação,
segurança e sistema jurídico se tornam indispensáveis. Através desse avanço, houve
também o aumento extraordinário da importância das classes medias assalariadas na
estrutura do emprego urbano.
Os grandes centros urbanos criados a partir dessa rápida expansão da
industrialização nacional, repercutem na complexa situação em termos de emprego e
renda, pois as grandes cidades abrigam uma massa considerável de pessoas ocupadas
em atividades não diretamente subordinadas à organização do trabalho capitalista,
desenvolvendo outras formas de atividades econômicas, sendo não aproveitados pelo
núcleo capitalista. Isso é representado pela estreita dependência das várias formas de
trabalho, que são inerentes ao sistema capitalista, pois são criadas através do
crescimento da renda, ao mesmo tempo que são destruídas conforme avança o
desenvolvimento do capital.

Pode-se observar o grau de internacionalização da produção na indústria


brasileira, pois somente uma parte da produção corresponde a setores com liderança
exclusiva de empresas publicas ou privadas. A oligopolização da indústria é
representada por 1/3 do valor da produção industrial do Brasil, derivada de mercados
altamente concentrados, com coeficientes de concentração superiores a 50%.

O setor de bens de consumo duráveis passou por uma rápida expansão,


ampliando sua participação na produção industrial de 2% em 1945, para 8% em 1973.
Esse processo sustentou a expansão de indústrias automobilísticas e eletroeletrônicas. O
destaque da indústria automobilística na economia se deve pela sua capacidade de
estimular outros segmentos através de sua demanda corrente. Assim com a indústria
automobilística, a indústria eletroeletrônica está totalmente internacionalizada, com a
presenças das principais empresas multinacionais no setor,

Os setores de bens não duráveis são basicamente os integrantes da cesta de


consumo dos trabalhadores e seu dinamismo depende em grande parte do crescimento
da massa salarial, que por sua vez está preso ao crescimento do emprego. Isso é
atribuído como fundamental nas decisões de investimento publico e privado e do
consumo capitalista, que afetam o setor de bens de capital e de consumo duráveis.

Esse setor conta com empresas internacionais que detém o controle dos
mercados tracionais concentrados e nos mercados de produção desconcentrados via
controle monopolístico das matérias primas e da comercialização da produção. Já as
empresas nacionais atuam nos mercados desconcentrados e competitivos, como o têxtil,
de vestuário e de calçados.
O sistema financeiro de habitação e crédito direto ao consumidor,
proporcionaram uma expansão do setor de bens de consumo durável, com enfoque na
indústria automobilística e da construção civil, apoiando-se na ampliação do
crescimento das margens de endividamento familiar. O provimento do capital de giro
das empresas era realizado pelos bancos comerciais, permitindo a aceleração das
atividades, acompanhadas adequadamente pela liquidez do sistema, tornando possível a
ampliação simultânea do montante das despesas financeiras e da massa de lucros.

Nesse período ocorreu uma rápida expansão do volume total de ativos


financeiros na economia, com taxas superiores ao crescimento do produto, ficando
evidente a ampliação das relações de débito-crédito dentro do sistema econômico.

A diversificação e ampliação dos instrumentos e agencias financeiras, ocorreu


sem que se preenchesse uma das principais lacunas do sistema financeiro privado
nacional: o financiamento do investimento, e portanto, o provimento de recursos a longo
prazo. Essa função coube essencialmente ao Estado, através do BNDE e bancos
estaduais de desenvolvimento e ao capital financeiro internacional.

Pode-se enumerar duas razões que determinaram o crescimento acelerado da


emissão de títulos públicos, com destaque para os de curto-prazo. Em primeiro lugar, a
expansão descontrolada da dívida externa, impulsionou o mecanismo de curto prazo,
com necessidade de conseguir novos recursos para pagar os juros e amortizar o
principal da dívida externa, obrigando a manutenção de taxas de juros internas muito
elevadas. Em segundo lugar, uma serie de concessões garantidas pelo Governo para
ajustar sua política econômica não foram incluídas no orçamento, essa não inclusão
desta dívida crescente, acarretou a necessidade de cobrir o próprio serviço da dívida
através de novas emissões de títulos da dívida pública.

Em suma, pode-se concluir que este setor tenha se expandido fortemente e


possua formalmente os instrumentos de um sistema financeiro moderno, porem
distorcido e incompleto, apresentando um descompasso com as necessidades financeiras
de longo prazo do setor industrial que tiveram de ser supridas pelo Estado e pelo capital
financeiro internacional.

A presença do Estado na economia brasileira é observada de maneira


“estrutural”, pois sua atuação é predominante nos setores de educação, previdência,
saúde, infraestrutura e na esfera produtiva através de empresas estatais. É justamente no
processo de criação e expansão de empresas publicas que reside a característica peculiar
do Estado brasileiro moderno.

O surgimento das empresas estatais se origina na tentativa de agilizar os serviços


públicos tradicionais, emperradas por uma burocracia arcaica, que eram anteriormente
serviços prestados por departamentos públicos da Administração Direta do Estado, em
níveis municipal, estadual ou federal. Com isso, surgem empresas de saneamento
básico, transporte público, planejamento urbanos, comunicações, administração
portuária etc.

Outro conjunto de empresas estatais surgem através do processo de


industrialização, através de produção de bens intermediários essenciais ao
desenvolvimento, mas cuja escala de produção e prazo de lucro para retorno do
investimento realizado eram muito longos para o interesse privado. Este segmento,
chamado de Setor produtivo Estatal compõe empresas no setor petrolífero, aço,
mineração e energia elétrica. O conjunto dessas empresas foi responsável por 20% do
total de investimentos realizados no Brasil em 1970.

Essas empresas produzem importantes efeitos na economia, como compradores


de bens de capital e matérias primas, estimulando a construção civil e viabilizados
novos empreendimentos industriais que utilizam seus produtos.

O Estado também se estende a coordenação e indução de decisões privadas, com


instrumentos de política econômica, através de ações monetárias, fiscal, cambial e
operações de crédito. Em relação ao crédito, pode-se citar o maior banco comercial do
brasil, o Banco do Brasil, que é controlado pelo Estado brasileiro e possui papel
fundamental no financiamento das atividades econômicas do país.

O Governo intervém também nas relações de capital/trabalho, através da fixação


de índices de reajuste salarial que devem ser obrigatoriamente seguidos e através da
fixação do salário mínimo.

A propriedade fundiária no Brasil é altamente concentrada. Esse padrão de


ocupação da terra se manteve com o deslocamento da fronteira agrícola para a região
Centro Oeste e Norte, com o estímulo governamental sob a forma de incentivos fiscais e
de crédito para os grandes proprietários.
As formas de organização da produção, apesar de desiguais, obtiveram
extraordinário avanço no processo de modernização da agricultura, com o uso intensivo
de máquinas agrícolas no plantio e na colheita, uso de herbicidas e outros insumos
químicos diminuindo as necessidades de mão de obras na agricultura. Porém essa
modernização estimula o desemprego nas áreas rurais e expulsão do trabalhador do
campo.

Houve também uma expansão de produtos de exportação, incentivado pela


política governamental. O crédito agrícola, foi fortemente subsidiado pelo Governo,
sendo concedido para as maiores propriedades, que possuem maiores garantias para os
empréstimos, além disso, foram oferecidos vários incentivos ficais. Com esses fatores,
houve uma grande estimulação para a exportação em detrimento da produção voltada
para o mercado interno.

A exportação no processo produtivo continua a ser o café, porém corresponde


apenas uma parte do total. Houve uma grande diversificação na pauta de exportação,
incluídos produtos como o mineiro de ferro e produtos industrializados, que
representaram cerca de 56% do total das exportações em 1979.

O crescimento das exportações dos manufaturados foi apoiado em subsídios


concedidos pelo Governo, com atuação no setor de crédito, fiscal e cambial.

Portanto, pode-se analisar que no curto espaço de sessenta anos a economia


brasileira passou por um processo de constituição e desenvolvimento da indústria a
níveis extraordinariamente acelerados. No século XIX e início do XX, o Brasil era uma
economia agroexportadora recém-saída do regime escravista, o mercado de trabalho mal
havia nascido, amparado na imigração. Não se produzia os alimentos necessários ao
consumo da população trabalhadora, a indústria era nascente e dispersa, ambientada em
uma nação sem vínculos orgânicos.

Apesar da fragilidade econômica cafeeira, ela escondia um dinamismo ímpar. O


cultivo e comercialização do café envolviam uma serie de atividades conexas, como o
transporte ferroviário, o financiamento, produção de alimentos e o comercio interno.
Esta capacidade de estimular a divisão social do trabalho, desenvolvendo a troca e
especialização, tende a atingir rapidamente a maturidade econômica, preparando o
terreno para a industrialização.
Os efeitos benéficos da crise de 29 podem ser compreendidos através da
densidade dos interesses econômicos e políticos que constituídos em tono do complexo
cafeeiro. Nesse sentido, a política de defesa do nível de renda posta em pratica pelo
Estado, em 1930, no ato de impor a força desses interesses, acabou enfraquecendo a
capacidade de comando do café, sem transferir para as mãos da indústria ainda incapaz
de comandar.

É através da perda do comando na economia do café, e a incapacidade da


indústria de assumir esse papel, que emerge um Estado para impor as suas próprias
regras e vontades do interesse nacional, tomando para si encargos impostos pelo avanço
da industrialização e controlando o empresariado nacional.

Assim na história da industrialização brasileira, a implementação da siderurgia,


exploração do petróleo e da energia elétrica e posteriormente a indústria de máquinas e
equipamentos, acabam se transformando em questão nacionais, em que a solução é
encaminhada pelo Estado.

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