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br MAIO DE 2007 • Ano 29 • Nº 5 • R$ 3,50

Rembrandt e os
judeus de Amsterdã
Pág. 20
índice
4 Prezados Amigos de Israel
Notícias de

ISRAEL
É uma publicação mensal da “Obra
Missionária Chamada da Meia-Noite” com
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Beth-Shalom” (Associação Beth-Shalom para
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A revista “Notícias de Israel” é publicada
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As opiniões expressas nos artigos assinados


são de responsabilidade dos autores.

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Registro nº 50 do Cartório Especial

O objetivo da Associação Beth-Shalom para


Estudo Bíblico em Israel é despertar e
fomentar entre os cristãos o amor pelo Estado
de Israel e pelos judeus. Ela demonstra o

17 O Gaon de Vilna: um Gênio Místico


amor de Jesus pelo Seu povo de maneira
prática, através da realização de projetos
sociais e de auxílio a Israel. Além disso,
promove também Congressos sobre a Palavra
Profética em Jerusalém e viagens, com a
intenção de levar maior número possível de
peregrinos cristãos a Israel, onde mantém a
Casa de Hóspedes “Beth-Shalom” (no monte
Carmelo, em Haifa).

20 HORIZONTE
• Rembrandt e os judeus de Amsterdã - 20
“Naquele dia, levantarei o tabernáculo a casa de Israel e com a casa de Judá”. Sem
caído de Davi, repararei as suas brechas; e, dúvida, esse versículo fala da renovação do povo
levantando-o das suas ruínas, restaurá-lo-ei judeu como o escolhido de Deus.
como fora nos dias da antiguidade” (Amós Deus renova, Ele não conserta. A maior parte
9.11). das pessoas procura melhorar sua vida, seu
Depois de todos os terríveis juízos sobre conforto, seu bem-estar. Até mesmo muitas
Israel, Deus fará algo novo. Antes de tratarmos a igrejas acreditam que podem melhorar o ser
respeito, devemos enfatizar que o livro de Amós é humano. Essa é a razão porque existem tantos
dirigido principalmente às dez tribos rebeldes de falsos ensinos. As igrejas e os ministérios de maior
Israel, mas não exclui Judá. No capítulo 1, sucesso são os que prometem uma vida melhor
versículo 3, Deus começa a pronunciar o juízo aos seus membros, com o pretexto de que se
sobre as nações vizinhas pelo que fizeram com tornarão melhores cristãos. Sobre esse tipo de
Israel: “Assim diz o SENHOR: Por três filosofia está baseada, por exemplo, a maçonaria,
transgressões de Damasco e por quatro, mas muitas igrejas seguem esse padrão,
não sustarei o castigo, porque trilharam a imaginando que homens corruptos podem ser
Gileade com trilhos de ferro” (Amós 1.3). aperfeiçoados com o objetivo de contribuirem
Apesar da distinção que fazemos entre Judá e as para uma sociedade melhor.
dez tribos, eles são um só povo. Todo o Israel Deus, porém, fez uma Nova Aliança: “Porque
experimentará tribulação, e o pior ainda está por esta é a aliança que firmarei com a casa de
vir. Esse período é conhecido como a “angústia de Israel, depois daqueles dias, diz o SENHOR:
Jacó”, “...ele, porém, será livre dela” Na mente, lhes imprimirei as minhas leis,
(Jeremias 30.7). também no coração lhas inscreverei; eu
A constatação de que os juízos descritos no serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.
livro de Amós são dirigidos principalmente às dez Não ensinará jamais cada um ao seu
tribos de Israel está baseada nas referências próximo, nem cada um ao seu irmão,
geográficas: lugares como Samaria, Betel e Gilgal dizendo: Conhece ao SENHOR, porque todos
estão localizados fora de Judá. Mas, do mesmo me conhecerão, desde o menor até ao
modo como no início do livro de Amós, também maior deles, diz o SENHOR. Pois perdoarei as
vemos no seu final que todo o Israel está incluído. suas iniqüidades e dos seus pecados jamais
O “tabernáculo de Davi” refere-se a Jerusalém, me lembrarei” (Jeremias 31.33-34).
a capital de Judá. O que significa a frase “o Quando chegará esse dia? Para sabê-lo, temos
tabernáculo caído de Davi”? Sabemos que não de nos voltar para o Novo Testamento, lendo as
se trata do tabernáculo semelhante a uma tenda, palavras ditas por Tiago em Atos 15.14-18:
que abrigou a arca da aliança até que Salomão “expôs Simão como Deus, primeiramente,
edificasse o templo. Uma dica são as palavras: visitou os gentios, a fim de constituir dentre
“repararei as suas brechas; e, levantando-o eles um povo para o seu nome. Conferem
das suas ruínas...” Essa é uma referência à com isto as palavras dos profetas, como
Jerusalém física e ao templo. Ruínas indicam está escrito: Cumpridas estas coisas,
construções de pedras, o que não pode ser dito voltarei e reedificarei o tabernáculo caído
do tabernáculo descrito em Êxodo 25-31. de Davi; e, levantando-o de suas ruínas,
Mas, a seguir lemos a promessa: “...restaurá- restaurá-lo-ei. Para que os demais homens
lo-ei como fora nos dias da antiguidade”. busquem o Senhor, e também todos os
Será que isso quer dizer que Jerusalém será gentios sobre os quais tem sido invocado o
reconstruída exatamente como era nos dias de meu nome, diz o Senhor; que faz estas
Davi? Penso que não. À medida que estudarmos coisas conhecidas desde séculos”.
os versículos seguintes, veremos que Deus Observamos uma interrupção no plano de Deus
realizará algo completamente novo, pois Ele não para Israel: “Deus, primeiramente, visitou os
faz consertos ou remendos. gentios”. Tecnicamente, isso não é correto,
Para melhor compreensão, será útil ler porque Ele visitou inicialmente o Seu povo Israel.
Jeremias 31.31: “Eis aí vêm dias, diz o No início, todos os crentes eram judeus, e o
SENHOR, em que firmarei nova aliança com acréscimo dos gentios teria causado divisões e

4 Notícias de Israel, maio de 2007


mal-estar. O que Tiago quis dizer foi que o acréscimo não serão
dos gentios à Igreja judaica teria que ser completado, arrancados”.
primeiramente – para “constituir dentre eles (os Meus
gentios) um povo para o seu nome (de Deus)”. prezados amigos:
Depois disso, se daria o cumprimento de Amós 9.11. essa é a verdadeira
É evidente que esse tipo de cumprimento não esperança de Israel. A
poderia ocorrer antes do estabelecimento dos judeus promessa irrevogável de Deus
em uma nação soberana na terra de Israel. Esse processo é que todos os inimigos dos judeus serão envergonhados
começou no dia 14 de maio de 1948, quando foi e que Ele perdoará todos os pecados do Seu povo,
proclamado o Estado de Israel, “como fora nos dias renovando-o, desde o menor até o maior – todos eles
da antiguidade”, ou seja, Jerusalém, Israel, a Terra conhecerão o Senhor!
Santa de Deus. Quanto à Igreja de Jesus, a ela não foi dada nenhuma
O que virá a seguir? “...para que possuam o promessa terrena (como as que foram dadas a Israel),
restante de Edom e todas as nações que são mas promessas celestiais. Entretanto, o que Israel
chamadas pelo meu nome, diz o SENHOR, que faz experimentará é uma maravilhosa representação, uma
estas coisas” (Amós 9.12). Ele se refere às nações bela imagem do que nos espera: também ceifaremos sem
(aos gentios), “que são chamadas pelo meu nome” cessar e viveremos com abundância, porque temos a
(a Igreja de Jesus). Portanto, o ajuntamento e a Jesus e Ele tem a nós. Cristo deu a vida pela Sua Igreja, e
restauração de Israel dependem da plenitude dos gentios é a Ele que esperamos ansiosamente!
(veja Romanos 11.25). Unido com vocês nessa firme esperança, saúdo com
Tiago vai um passo além: ele fala sobre os gentios, um sincero
sobre a ressurreição de Israel e, no versículo 17
menciona “os demais homens”, para que “busquem Shalom!
o Senhor, e também todos os gentios sobre os
quais tem sido invocado o meu nome. Portanto,
podemos fazer uma distinção entre a Igreja de Jesus, Arno Froese
Israel e aqueles que se converterão na Grande
Tribulação, depois que a Igreja tiver sido arrebatada da
terra. Após o restabelecimento de Israel e os juízos
sobre a terra, lemos em Apocalipse 7.9: “Depois
destas coisas, vi, e eis grande multidão que
ninguém podia enumerar, de todas as nações,
tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e
diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras
brancas, com palmas nas mãos”. Essa grande
multidão não é a Igreja, pois trata-se dos “demais
homens”.
A seguir, Amós escreve sobre o tempo em que o
reino de Deus será estabelecido na terra: “Eis que
vêm dias, diz o SENHOR, em que o que lavra segue
logo ao que ceifa, e o que pisa as uvas, ao que
lança a semente; os montes destilarão mosto, e
todos os outeiros se derreterão” (Amós 9.13).
Nessa época haverá colheitas ininterruptas e
superabundância.
Promessas especiais são feitas a “meu povo de
Israel”. Observe o versículo 14: “Mudarei a sorte do
meu povo de Israel; reedificarão as cidades
assoladas e nelas habitarão, plantarão vinhas e
beberão o seu vinho, farão pomares e lhes
comerão o fruto” (Amós 9.14). A eternidade
emergirá: “Plantá-los-ei na sua terra, e, dessa terra
que lhes dei, já não serão arrancados, diz o
SENHOR, teu Deus” (Amós 9.15). As promessas
eternas de Deus ao remanescente de Israel não excluem
a terra, pois “dessa terra que lhes dei, [os judeus]já

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Norbert Lieth

Em Mateus 24, Jesus usa seis expressões que são muito úteis
na subdivisão do capítulo e para sua melhor compreensão:
1. Ainda não é o fim (Mt 24.6).
2. O princípio das dores (v.8).
3. A tribulação (v.9).
4. O fim (v.14).
5. O abominável da desolação (v.15).
6. Em seguida à tribulação (v.29).
Essas seis expressões servem de marcos referenciais, uma vez que ca- Esse levante generalizado,
da uma delas delimita um tempo específico e introduz uma nova fase oriundo do reino das trevas,
nos acontecimentos proféticos. do Iluminismo ao comunis-
mo e ao nacional-socialismo
(nazismo), intensificou-se no
Primeiro marco: ainda não é o fim período em que os judeus
“E ele lhes respondeu: Vede que ninguém vos engane. Porque muitos virão voltaram para sua terra, a
em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo, e enganarão a muitos. E, certamen- partir de 1882.
te, ouvireis falar de guerras e rumores de guerras; vede, não vos assusteis, por- “E, certamente, ouvireis fa-
que é necessário assim acontecer, mas ainda não é o fim” (Mt 24.4-6). lar de guerras e rumores de
Aqui Jesus fala de um tempo que ainda não é o fim, mas que é uma guerras...” (Mt 24.6). A Pri-
condição imediatamente anterior a ele, ou seja, que conduz ao fim lenta meira e a Segunda Guerra
mas inexoravelmente. foram chamadas de guerras
Nos versículos 4 e 5 o Senhor Jesus menciona a primeira onda de enga- mundiais porque, até então,
nos dos tempos finais, a sedução em nível político, ideológico e religioso. nada semelhante havia suce-
Depois que o cristianismo havia se firmado e expandido na Ásia Me- dido na História da humani-
nor e na Europa (até a Reforma), veio o grande engano. Novos arautos dade. Ambas foram devasta-
da salvação começaram a se manifestar e toda a Europa foi seduzida pe- doras: a Primeira Guerra
lo engano. Alguns tópicos desse processo enganoso: o Iluminismo, o Mundial ceifou a vida de 10
tempo dos grandes filósofos, a teoria da evolução, as muitas seitas, a milhões de pessoas, a Se-
teologia do “Deus está morto”. Então veio o marxismo-leninismo; do gunda Guerra Mundial cus-
socialismo surgiu o comunismo (1917). A partir de 1932, quando o na- tou a vida de 55 milhões. Na
cional-socialismo se levantou na Alemanha, homens como Hitler, verdade, elas tiveram de
Goebbels e Himmler foram os novos salvadores (messias), e na Itália o acontecer, mas ainda não
falso salvador foi Mussolini. significavam o fim: “porque é

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necessário assim acontecer, mas ainda em massa e de
não é o fim” (v.6). Certamente elas mísseis estratégi-
se originaram no reino das trevas, cos avança. Em
porém, por direcionamento divino tempo previsível,
foram fatores-chave para a funda- de 30 a 40 paí-
ção do Estado de Israel. A Primeira ses disporão des-
Guerra Mundial preparou uma ter- ses artefatos de
ra para um povo*; a Segunda Guer- guerra. O mun-
ra Mundial preparou um povo para do tornou-se ins-
essa mesma terra. É impossível tável e imprevisí-
frustrar os desígnios divinos! vel. Estabilidade
pacífica é uma
exceção...” (-
Segundo marco: o Neue Zürcher
princípio das dores Zeitung)
“Porquanto se levantará nação “...e haverá Marx, Lenin e Engels, do socialismo surgiu
o comunismo (1917).
contra nação, reino contra reino, e ha- fomes e terremotos
verá fomes e terremotos em vários lu- em vários luga-
gares; porém tudo isto é o princípio res; porém tudo
das dores” (Mt 24.7-8). Com es- isto é o princípio das dores” (Mt 24.7- trair e odiar uns aos outros; levantar-
sas palavras, em minha opinião, o 8). Fomes, epidemias (Lc 21.11) e se-ão muitos falsos profetas e engana-
Senhor Jesus descreve o tempo ime- terremotos são elementos que ca- rão a muitos. E, por se multiplicar a
diatamente anterior ao Arrebata- racterizam de modo especial a atual iniqüidade, o amor se esfriará de quase
mento, que prenuncia e introduz a situação mundial; eles são como todos. Aquele, porém, que perseverar
época da Tribulação. que seu selo, sua marca registrada. até o fim, será salvo. E será pregado
“...se levantará nação contra na- Pela mídia somos confrontados este evangelho do reino por todo o mun-
ção, reino contra reino...” Isso signifi- com a miséria da fome. A epidemia do, para testemunho a todas as nações.
ca revoluções, conflitos bélicos e da AIDS, os terremotos, os pavo- Então, virá o fim. Quando, pois, vir-
terrorismo, assim como vimos res, os maremotos e os atos de ter- des o abominável da desolação de que
acontecer após o fim da Guerra rorismo não se concentram mais falou o profeta Daniel, no lugar santo
Fria (depois do conflito entre o apenas em algumas regiões, mas se (quem lê entenda)...” (vv.9-15).
Ocidente e o Oriente e da queda do manifestam pelo mundo inteiro. Es- Esse texto descreve a primeira
Muro de Berlim) e como hoje acon- se é o “princípio das dores”. Dessa metade da Grande Tribulação, e
tece mundialmente (veja Lc 21.10). forma, o tempo da Tribulação está essas características perdurarão até
Um jornal suíço noticiou: cada vez mais próximo do nosso seu final.
Que o mundo seja pacífico e está- mundo. Portanto, aproxima-se Nessa ocasião o Arrebatamento
vel é refutado pelos fatos. Segundo também o momento do Arrebata- da Igreja já terá acontecido, pois es-
levantamento de um renomado institu- mento (que se dará antes da Tribu- tá escrito que “...aquele que perseve-
to de Hamburgo, no ano de 2004 lação). rar até o fim, será salvo”. Isso quer
houve 42 guerras e conflitos armados dizer: quem ainda estiver sobre a
no mundo, e conforme os dados de terra, terá de perseverar até o fim
um instituto estratégico de Pequim, Terceiro marco: da Tribulação ou morrerá como
após o término da Guerra Fria eclo- a Tribulação mártir. Isso não pode se referir à
diram em média dez novas guerras “Então, sereis atribulados, e Igreja, pois na época de Mateus 24-
por ano. A Índia e o Paquistão são vos matarão. Sereis odiados de todas as 25 ela ainda era um mistério, não
duas novas potências atômicas, e a nações, por causa do meu nome. Nesse sendo mencionada nesses capítulos.
disseminação de armas de destruição tempo, muitos hão de se escandalizar, Somente dois dias após proferir Seu
Sermão Profético Jesus falou dela a
Seus discípulos (veja Jo 14.2-3).
* Pelo fato da Grã-Bretanha ter conquistado a Palestina em 1917 e ter apoiado a formação de “Então, sereis atribulados, e vos
um lar nacional judeu através da Declaração Balfour. matarão. Sereis odiados de todas as

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“E, por se multiplicar a iniqüidade,
o amor se esfriará de quase todos” (Mt
24.12). As leis serão mudadas, a
Lei de Deus será completamente ig-
norada, a Bíblia será rejeitada e a
conseqüência será uma apostasia
indescritível.
“Aquele, porém, que perseverar até
o fim, esse será salvo” (v.13). Aqui
trata-se daqueles que se converte-
rem durante a Tribulação e que
perseverarem na fé até seu fim.
“E será pregado este evangelho do
reino por todo o mundo, para testemu-
nho a todas as nações...” (v.14). Na-
da nem ninguém pode barrar essa
marcha vitoriosa do Evangelho de
Jesus. Por mais de dois mil anos
não foi possível impedi-lo de se es-
Na verdade, a Primeira e a Segunda Guerra Mundial tiveram de acontecer, mas
palhar, e isso também não aconte-
ainda não significavam o fim: “porque é necessário assim acontecer, cerá no tempo da Tribulação.
mas ainda não é o fim” (v.6). O Evangelho foi rejeitado, odia-
do e combatido, mas mesmo na se-
gunda metade da Tribulação ele se-
nações, por causa do meu nome. Nesse que provavelmente conduzirá a um rá proclamado até a volta de Jesus
tempo, muitos hão de se escandalizar, governo mundial único, a uma uni- em glória.
trair e odiar uns aos outros” (vv.9- ficação política e religiosa. Tratar-
10). A aliança de Israel com o Anti- se-á, assim, sem dúvida, do cumpri-
cristo e o último ditador mundial mento de Apocalipse 3.10: “Porque Quarto marco: o fim
provavelmente será firmada nesse guardaste a palavra da minha perse- “...Então, virá o fim” (v.14). O
momento, quando então começará verança, também eu te guardarei da termo “o fim” significa provavel-
a perseguição daqueles que não hora da provação que há de vir sobre o mente as últimas e mais fortes do-
aderirem a esse acordo. mundo inteiro, para experimentar os res de parto antes que a nova vida
“Levantar-se-ão muitos falsos pro- que habitam sobre a terra”. irrompa e Jesus volte.
fetas e enganarão a mui-
tos”. Agora se chega a
mais um patamar de en-
gano e sedução (veja o Fomes, epidemias (Lc 21.11) e terremotos são elementos que caracterizam de modo especial a
v.4). É a segunda onda de atual situação mundial; eles são como que seu selo, sua marca registrada.

enganos nos tempos fi-


nais. O fator desenca-
deante poderia ser o re-
cém-sucedido Arrebata-
mento da Igreja. Esse
engano consistirá da hu-
manidade toda unindo-se
numa única comunidade
mundial. Haverá uma in-
descritível solidariedade
entre os homens sob o
poderio do Anticristo,

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guém iria sobrevi- em hebraico se chama Armagedom”
ver. Romanos (Ap 16.14,16).
9.28 faz alusão a Quando Jesus diz: “Onde estiver
um juízo executa- o cadáver, aí se ajuntarão os abutres”
do de forma in- (Mt 24.28), penso que Ele está se
tensa: “Pois o Se- referindo a Jerusalém, onde será es-
nhor executará na tabelecida a abominação desoladora
terra a sua senten- e sobre a qual as nações, seduzidas
ça, rápida e defini- pelos demônios, se lançarão.
tivamente” (NVI).
“Porque surgi-
rão falsos cristos e Sexto marco:
falsos profetas ope- em seguida à Tribulação
A aliança de Israel com o Anticristo e o último ditador rando grandes si- “Logo em seguida à tribula-
mundial provavelmente será firmada durante a Tribulação,
quando então começará a perseguição daqueles que não nais e prodígios pa- ção daqueles dias, o sol escurecerá, a
aderirem a esse acordo. ra enganar, se pos- lua não dará a sua claridade, as estre-
sível, os próprios las cairão do firmamento, e os poderes
eleitos” (Mt dos céus serão abalados. Então, apare-
24.24). Na segun- cerá no céu o sinal do Filho do Ho-
Quinto marco: o da metade dos sete anos de Tribu- mem; todos os povos se lamentarão e
abominável da desolação lação haverá uma terceira e última verão o Filho do Homem vindo sobre
“Quando, pois, virdes o abomi- onda de engano. Comparado às duas as nuvens do céu, com poder e muita
nável da desolação de que falou o ondas anteriores, dessa vez o enga- glória. E ele enviará os seus anjos, com
profeta Daniel, no lugar santo...” no virá acompanhado de milagres e grande clangor de trombeta, os quais
(v.15). Aqui é descrita a metade sinais. Isso levará a um completo reunirão os seus escolhidos, dos quatro
dos sete últimos anos e o fator de- endemoninhamento da humanida- ventos, de uma a outra extremidade
sencadeante dos últimos três anos e de. Apocalipse 13.13 diz: “Também dos céus” (Mt 24.29-31). Depois do
meio. O abominável da desolação opera grandes sinais, de maneira que sofrimento, depois da Grande Tri-
consistirá do Anticristo se assentan- até fogo do céu faz descer à terra, bulação, o Senhor Jesus voltará
do no novo templo reconstruído em diante dos homens.” Três capítulos com poder e muita glória.
Jerusalém (veja 2 Ts 2.3-4). adiante, lemos: “porque eles
“Porque nesse tempo haverá grande são espíritos de demô-
tribulação, como desde o princípio do nios, operadores de Últimas
mundo até agora não tem havido e sinais, e se diri- exortações
nem haverá jamais. Não tivessem gem aos reis do “Aprendei, pois, a
aqueles dias sido abreviados, ninguém mundo inteiro parábola da figueira:
seria salvo; mas, por causa dos escolhi- com o fim de quando já os seus ra-
dos, tais dias serão abreviados” (Mt ajuntá-los para a mos se renovam e as
24.21-22). Esse período da história peleja do grande folhas brotam, sa-
mundial será tão terrível como ja- Dia do Deus To- beis que está próxi-
mais houve na terra, incomparável d o - P o d e r o s o . . . mo o verão. Assim
em sua magnitude, a maior angús- Então, os ajunta- também vós: quan-
tia já experimentada pelos homens. ram no lugar que do virdes todas estas
Se ele não fosse abreviado, ou seja, coisas, sabei que está
limitado a três anos e meio, nin- próximo, às portas”
(Mt 24.32-33). A
parábola da figueira
O “abominável da desolação” será o período da história mundial e as palavras: “Assim
tão terrível como jamais houve na terra, incomparável em sua também vós: quando vir-
magnitude, a maior angústia já experimentada pelos homens.
Se ele não fosse abreviado, ou seja, limitado a três anos e meio,
des todas estas coisas, sabei
ninguém iria sobreviver. que está próximo, às por-

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“Pois assim não sabeis em que dia vem o nosso
como foi nos Senhor. Mas considerai isto: se o pai
dias de Noé, de família soubesse a que hora viria
também será a o ladrão, vigiaria e não deixaria que
vinda do Filho fosse arrombada a sua casa. Por is-
do Homem” (v. so, ficai também vós apercebidos; por-
37). Antes da que, à hora em que não cuidais, o
vinda de Jesus Filho do Homem virá” (Mt 24.42-
a situação será 44). Não permita que sua “casa”
semelhante à seja arrombada! Coloque sua vida
dos dias de à disposição do Senhor! Entregue-
Noé. Até que se completa e totalmente a Ele,
o dilúvio inun- permitindo que Ele seja o guardião
“Logo em seguida à tribulação daqueles dias, o sol dasse a terra de sua casa! E mais: permita ser
escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão
do firmamento, e os poderes dos céus serão abalados. Então, (Gn 7.17), as enchido pelo Espírito Santo (veja
aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; todos os povos pessoas não Ef 5.18)!
se lamentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre as
nuvens do céu, com poder e muita glória. E ele enviará os
a c r e d i t a v am “Quem é, pois, o servo fiel e pru-
seus anjos, com grande clangor de trombeta, os quais que o fim esta- dente, a quem o senhor confiou os seus
reunirão os seus escolhidos, dos quatro ventos, de uma va próximo, e conservos para dar-lhes o sustento a
a outra extremidade dos céus” (Mt 24.29-31).
a porta da arca seu tempo? Bem-aventurado aquele
foi irremedia- servo a quem seu senhor, quando vier,
velmente fe- achar fazendo assim. Em verdade vos
tas”, significam: quando as pessoas chada por Deus (v.16). Também digo que lhe confiará todos os seus
virem os sinais da Tribulação, en- no que diz respeito à primeira fase bens. Mas, se aquele servo, sendo
tão a vinda de Jesus está às portas. da volta de Jesus, o Arrebatamento, mau, disser consigo mesmo: Meu se-
“Em verdade vos digo que não pas- as pessoas dirão que tudo está co- nhor demora-se, e passar a espancar os
sará esta geração sem que tudo isto mo sempre foi e que vai continuar seus companheiros e a comer e beber
aconteça” (v.34). Quem é “esta ge- assim. Elas não contarão com o Ar- com ébrios, virá o senhor daquele servo
ração”? A geração dos judeus que rebatamento. em dia em que não o espera e em hora
vivenciará o começo da Tribulação, “Porque, assim como foi nos dias que não sabe e castigá-lo-á, lançando-
que não perecerá até que Jesus te- anteriores ao dilúvio comiam e be- lhe a sorte com os hipócritas; ali have-
nha vindo. biam, casavam e davam-se em casa- rá choro e ranger de dentes” (Mt
“Passará o céu e a terra, porém as mento, até ao dia em que Noé entrou 24.45-51). Seja um servo prudente,
minhas palavras não passarão” na arca” (Mt 24.38). Sete dias de- uma serva boa e fiel. Atente à Pala-
(v.35). Com essa afirmação Jesus pois que Noé entrou na arca, o di- vra Profética, esteja esperando o
confirma tudo o que dissera ante- lúvio se derramou (veja Gn Senhor Jesus a qualquer momento
riormente, tudo o que anunciara, 7.1,4,7). Quando o Arrebatamento e distribua a Palavra como alimento
enfatizando que tudo acontecerá da Igreja tiver acontecido, em um no tempo certo!
com certeza, que seu cumprimento espaço de tem-
é mais certo que a duração da exis- po não especifi-
tência do céu e da terra. A Bíblia e cado, mas rela- Recomendamos:
as palavras de Jesus se cumprirão tivamente cur-
em todas as suas declarações. to, a Tribulação
“Mas a respeito daquele dia e hora sobrevirá de
ninguém sabe, nem os anjos dos céus, forma repentina
nem o Filho, senão o Pai” (v.36). e surpreendente
Dia e hora ninguém sabe, mas esta- sobre todos os
mos na expectativa de que Ele virá que habitam a
em breve, pois vivenciamos o cum- terra.
primento dos sinais que antecedem “Portanto, Pedidos: 0300 789.5152
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os juízos de Deus! vigiai, porque

10 Notícias de Israel, maio de 2007


O Fascinante Mundo
dos
Hassidim
Parte 3
Steve Herzig

Sem sombra de dúvida, o rabino Assemelha-se ao guru


Israel Ben Eliezer (também conhe- hindu porque guia
cido como o Besht e, ainda, como seus seguidores em
Ba’al Shem Tov) deixou permanen- todos os aspectos da
temente sua marca no judaísmo. O vida. Ele é quem lide-
movimento hassídico (i.e., ultra-or- ra seu povo ao deve-
todoxo) floresceu sob os seus cuida- kut, o apego leal a
dos. Todavia, o ensino hassídico Deus. O tsaddik, ou
não é uniforme e nem todos os ju- rebbe, é o responsável
deus concordam com o hassidismo. por conduzir seus se-
Embora o hassidismo conte com guidores à salvação de
muitos líderes locais, cada seita in- suas almas através da
terna tem um líder principal que é comunhão com Deus.
reverenciado, chegando a ser quase O Ba’al Shem Tov
adorado, pelos seus seguidores. Tal não deixou nenhum
líder é o cabeça de uma dinastia e documento escrito acerca de seus conhecidos por suas práticas de de-
seu cetro de autoridade normal- ensinamentos, porém, seus segui- voção religiosa, tais como, participar
mente passa para o seu herdeiro di- dores escreveram muitas histórias assiduamente do mikva [i.e., um ba-
reto ou para algum membro de sua sobre ele. Quando morreu em nho ou lavagem ritual]. Algumas ve-
família. 1770, esse líder, que era muito po- zes eles não seguem a Halacha [i.e.,
O Besht criou o clima para essa pular, tornou-se lendário. Suas as prescrições instituídas da lei judai-
situação com sua doutrina do ofício idéias se propagaram para centenas ca], como, por exemplo, o davnen
de tsaddik (i.e., “justo”). Os tsad- de comunidades localizadas por to- [i.e., recitar as orações prescritas na
diks, conforme se crê entre os hassi- do o território da Polônia, Lituânia liturgia judaica] no final de cada dia.
dim, são indivíduos que possuem e Ucrânia. Dezenas de rebbes surgi- O hassidismo se ramificou literalmen-
qualidades espirituais superiores. ram nas cidades do Leste Europeu te em centenas de dinastias rabíni-
Diferentemente da concepção bíbli- e muitos judeus os seguiam, por cas.1
ca quanto à pessoa do Messias, um acreditarem que eles detinham o Antes da Segunda Guerra Mun-
tsaddik não é visto como alguém conhecimento do caminho de dial, havia 3 milhões e meio de ju-
que trará a paz ao mundo. Pelo Deus. deus na Polônia. Conforme escreve
contrário, ele é um facilitador espi- As cidades de Satmar, Belz, Shneider, a “esmagadora maioria”
ritual que tem a missão de auxiliar Kotzk e Lubavitch deram origem e deles era de tradição hassídica.2
as pessoas a atuarem com felicidade seu nome às diferentes seitas do Belz’e: Tradição hassídica que
no mundo em que vivem. hassidismo que conhecemos na recebeu esse nome por causa de
Além de tsaddik, um líder hassí- atualidade. Chaim Shneider, espe- uma cidade situada na Galícia
dico também pode ser chamado de cialista no assunto, escreveu: (atualmente, sudeste da Polônia).
reb (um termo iídiche que denota Aos poucos, mas consistentemen- Foi instituída no século XIX pelo
respeito), ou rebbe, ou, ainda, rav. te, o hassidismo veio a ser aceito co- rav Dov. Seu traço distintivo é que
Os hassidim consideram o ofício do mo uma forma legítima de se guar- os homens casados ficam na sinago-
rebbe superior a todos os demais. dar o judaísmo. Os hassidim ficaram ga o dia todo para estudar o Talmud

Notícias de Israel, maio de 2007 11


quer pessoa que cresse na causa
sionista de entrar novamente pelas
portas da Shul [i.e., sinagoga]”.4 Os
satmar não recrutam membros
oriundos da comunidade judaica
não-praticante.
Lubavitch: Um dos movimen-
tos hassídicos mais conhecidos é o
Lubavitch, também designado pelo
termo Habad, um acróstico com as
iniciais das palavras hokmah, binah
e da’at – que, respectivamente, sig-
nificam: sabedoria, discernimento e
conhecimento.5 Os lubavitcher dese-
jam que os judeus não-praticantes
retornem à comunidade judaica que
pratica o judaísmo. Eles dirigem
aqueles “trailers mitzvah” [i.e., trai-
lers de boas ações], que são uma es-
pécie de ônibus adaptado em local
de adoração ambulante, com a fina-
lidade de transitar pelas comunida-
des judaicas à procura de homens
judeus sem chapéu para convidá-los
Um judeu ultra-ortodoxo acende as velas de Hanukah em Mea Shearim (bairro a usar filactérios e fazer as orações.
ortodoxo) na cidade de Jerusalém. Hanukah, que significa “dedicação”, também Seu último rebbe foi o famoso Me-
denominado “Festa das Luzes”, é um feriado que comemora a reconsagração do
templo de Jerusalém, após ter sido profanado por Antíoco Epifânio. nachem Mendel Schneerson do
Brooklyn, Nova York. Muitos de
seus seguidores crêem que ele é o
messias, mesmo depois da morte
e para orar. Eles vivem com o sus- vo judeu. Assim, escreveu Shnei- dele em 1994.
tento proveniente de doações gene- der, em 1948 o líder satmar “cho-
rosas dos homens de negócios e co- rou desconsolada-
merciantes da localidade. À seme- mente [...] por causa
lhança de uma dinastia, o ofício de do dano que a cria-
tsaddik é transmitido de pai para fi- ção do Estado Judeu Moishe Arye Friedman, à esquerda, um hassidim anti-sionista
extremista, aperta a mão do presidente iraniano Mahmoud
lho ou para membros da mesma fa- causaria e pela gravi- Ahmadinejad, durante uma conferência de negação do
mília. dade do pecado dos Holocausto. Ahmadinejad tem afirmado que a tentativa dos
nazistas de exterminar o povo judeu é um “mito”.
Satmar: É o tipo mais tradicio- judeus ao estabele-
nal de hassidismo. Originou-se nu- cerem seu próprio
ma distante cidade húngara, na re- poder governamen-
gião da Transilvânia. Os satmar dis- tal antes da chegada
tinguem-se como um dos poucos do ‘Mashiach’ [i.e.,
grupos judaicos que não dão apoio Messias] para redi-
ao estabelecimento do atual Estado mi-los”.3 Ele tam-
de Israel, por crerem que o mesmo bém lamentou a vi-
só deverá existir quando o próprio tória israelense na
Messias o instituir. Os satmar argu- Guerra dos Seis
mentam que o sionismo e a criação Dias, em 1967, “a
do Estado Judeu causaram o Holo- ponto de dar ordens
causto, como um juízo sobre o po- para impedir qual-

12 Notícias de Israel, maio de 2007


Os Detratores do Solomon Zalman (1720-1797). Ele o hassidismo se alastrasse a tal pon-
Hassidismo viveu em Vilna, uma cidade cogno- to que a Torah e o Talmude fossem
Junto com uma grande multidão minada de “Jerusalém da Lituâ- completamente substituídos por
de adeptos, o Ba’al Shem Tov tam- nia”,8 que estava repleta de sinago- orações emocionais, experiências
bém atraía uma quantidade de críti- gas e universidades, situada ao nor- místicas e pela Cabala (veja, a se-
cos. Eles consideravam que priori- te da região da Polônia onde o guir, o artigo “O Gaon de Vilna:
zar a alegria e o contentamento aci- hassidismo era mais proeminente. Um Gênio Místico”).
ma do estudo da Torah [i.e., o Apesar de seu brilhantismo (Solo- Ele considerava a posição do
Pentateuco] era um perigoso sinal mon fez um complexo discurso tal- tsaddik como idolatria, por acreditar
de declínio do judaísmo. No entan- múdico aos sete anos de idade), ele que promovia a adoração de seres
to, a verdade mais chocante foi a de recusou todos os títulos ou ofícios humanos. Em 1772, apenas dois
que, após a morte do Besht, seus públicos. Ao contrário do Besht, anos depois da morte do Besht, o
ensinos se propagaram ainda mais Solomon estudava o Talmude por Gaon determinou que os hassidim
rapidamente do que quando ele era dezoito horas todos os dias. Ele deviam ser excluídos da comunhão.
vivo. Os críticos perceberam que também estudava matérias secula- Ele foi ainda mais longe, a ponto de
aquele movimento precisava ser de- res, tais como geometria, astrono- declarar: “Eu permanecerei de
tido. Doze anos depois da morte do mia e medicina. “Dizem que ne- guarda e o dever de todo judeu
Besht,6 levantou-se um grupo deno- nhum tema judaico ou geral que ti- crente é repudiá-los [i.e., repudiar
minado os Mitnagdim, que traduzi- vesse alguma relação com o os hassidim], persegui-los com toda
do quer dizer “oponentes”.7 judaísmo era estranho ao conheci- espécie de aflição e subjugá-los,
O movimento de oposição real- mento dele”.9 porque eles [os hassidim] pecaram
mente começou com o aparecimen- Ele estudava o tempo todo e eli- em seu coração e são como uma fe-
to de um rabino chamado Elijah minava aquilo que poderia causar rida aberta no corpo de Israel”.10
distrações, Ao longo dos anos, os mitnagdim
fechando as se tornaram menos hostis ao hassi-
venezianas dismo, porque surgiu um oponente
Um “trailer-mitzvah” dos Hassidim-Lubavitch trafega pelo centro da janela até mais implacável que ameaçava a
de Manhattan. Uma foto do falecido rebbe de Lubavitch,
Menachem Schneerson, com seus olhos voltados para os mesmo du- ambos. O inimigo constituía-se
transeuntes, é exibida na lateral da carroceria do veículo. rante as ho- num grupo de homens cuja inten-
ras do dia, e ção era a de levar todo o povo ju-
estudava à deu, particularmente os judeus da
luz de velas. Polônia e da Rússia, a adotar a cul-
Finalmente, tura européia. Tal movimento rece-
ele ascen- beu o nome de Haskalah, ou seja,
deu para se Iluminação. As pretensões do Has-
tornar o kalah visavam a assimilação – uma
maior líder finalidade inaceitável para qualquer
espiritual e judeu praticante. O czar da Rússia,
intelectual Alexandre II, governou “com mão
da comuni- de ferro dentro de uma luva de peli-
dade judai- ca”.11 Ele tentou promover uma
ca nos tem- abertura nas grandes cidades para
pos moder- os judeus ricos, com o intuito de
nos. que eles investissem suas habilida-
O Gaon des e seu capital na ampliação do
de Vilna, comércio. Porém, a maioria dos ju-
como veio a deus não seria beneficiada com es-
ser conheci- ses decretos do governante russo e
do, tinha a estava muito cautelosa com a “be-
preocupa- nevolência” dele. Em conseqüência
ção de que da desconfiança dos judeus, inter-

Notícias de Israel, maio de 2007 13


pretada como má vontade em coo- corajamento para os crentes em 3. Chaim Shneider, “The Roots of Satmar”,
publicado em 5 de novembro de 2001 no
perar, os pogroms começaram seis Cristo saber que há pessoas, espe-
site http://hasidicnews.com/Satmar.shml.
semanas depois que Alexandre III cialmente judeus, que têm esse de- 4. Ibid.
subiu ao trono.12 sejo. Contudo, é de partir o cora- 5. “Hasidism”, publicado no site http://reli-
Foram esses pogroms – massacres ção, quando se constata que eles giousmovements.lib.virginia.edu/nmrs/ha-
sid.html.
autorizados pelo governo contra os canalizam seus esforços na direção 6. Yehuda Klausner, “The Hasidic Rabbinate,
judeus – que provocaram a imigra- errada. Viver de modo agradável a Part 1”, publicado no jornal on-line Rav-Sig:
ção em massa de judeus para os Es- Deus não implica líderes, roupas, Online Journal, através do site www.jewis-
tados Unidos, a qual proporcionou aparência exterior, nem comidas es- hgen.org/Rabbinic/journal/hasidic1.htm.
7. “Mitnaggedim”, publicado na Encyclopaedia
a sobrevivência do movimento has- peciais. Uma vida verdadeiramente Judaica, edição em CD-ROM.
sídico. piedosa (i.e., hassídica) só é possível 8. Deborah Pessin, The Jewish People, Nova
Embora haja muitas diferenças a partir do momento em que o co- York: United Synagogue Commission on
Jewish Education, 1953, vol. 3, p. 107.
de opinião dentro do movimento ração for “kosher” [“purificado”,
9. Samuel Kalman Mirsky, “Elijah Ben Solo-
hassídico, a respeito de questões termo hebraico que designa alimen- mon Zalman”, publicado na Encyclopaedia
como, liderança, o Estado de Israel tos preparados de acordo com os Judaica, edição em CD-ROM.
e a identidade do Messias, existe, preceitos judaicos, ou seja, “prepa- 10. Israel Klausner, “Elijah Ben Solomon Zal-
man”, publicado na Encyclopaedia Judai-
porém, um consenso maior na con- rado adequadamente”] pela fé no ca, edição em CD-ROM.
vicção de que, para os judeus, o Messias vivo e verdadeiro identifi- 11. Pessin, vol. 3, p. 161.
mundanismo e a assimilação cultu- cado na Bíblia. (Israel My Glory) 12. Ibid., vol. 3, p. 167.
ral num mundo gentílico são amea-
Steve Herzig é diretor
ças perigosas. A moderna tendên- dos ministérios norte-
cia, verificada nas elites de Holly- americanos de The
Friends of Israel. Recomendamos:
wood, de combinar o “carma” da
Ioga e da Nova Era com o estudo
da Cabala é um exemplo dessa assi-
milação perigosa que preocupa os
hassidim. Notas:
Os judeus hassídicos não estão 1. Chaim Shneider,
“The Roots of Hasi-
interessados na última moda; eles dism”, publicado no
querem preservar os elementos que site www.nycchitec-
ture.com/WBG/wbg- Pedidos: 0300 789.5152
os distinguem, com um desejo de jewish.htm. www.Chamada.com.br
agradar a Deus. Deveria ser um en- 2. Ibid.

Um dos centros de falsa adoração


No Parque Nacional de Tel-Dã, situado na região
montanhosa da Galiléia, os visitantes podem ver
o local onde os israelitas construíram santuários
nos lugares altos e, assim, violaram a ordem di-
vina de não adorar em nenhum outro lugar além
do templo em Jerusalém. À direita, encontra-se
a plataforma sobre a qual outrora se alicerçava
o santuário. No centro, pode-se identificar o lu-
gar onde ficava o altar sobre o qual os holocaus-
tos eram oferecidos. Os fundamentos e as pe-
dras datam dos tempos antigos, mas as estrutu-
ras de proteção montadas na parte superior são
recentes. O texto de 1 Reis 12.25-33 menciona
os dois locais de falsa adoração: Betel e Dã.
Confira, também, 2 Reis 10.29.

14 Notícias de Israel, maio de 2007


No alvorecer do século XVIII, os judeus da Europa tentavam
se recuperar de décadas marcadas por destruição e decepção.
Em 1648, um ucraniano chamado Bodgan Chmielnicki liderou
uma revolta contra a Polônia. Na violência que se seguiu, as tro-
pas de Chmielnicki aniquilaram mais de 100 mil judeus e destruí-
ram 300 vilarejos judaicos. Centenas de judeus que perderam
suas casas perambulavam na condição de refugiados. Todavia,
das cinzas surgiu um raio de esperança – um judeu de 38 anos,
chamado Shabbtai Zvi.

Em 1665, Zvi declarou ser o muito em breve se tornaria um gi- paz de pregar um sermão talmúdi-
messias. Toda a Europa e o Oriente gante espiritual dentro da comuni- co. Aos 13 anos também dominava
Médio se alvoroçaram de alegria. dade judaica. Seu nome era Elijah com destreza as principais obras li-
Zvi contava com o maior cortejo de Ben (que significa “filho de”) Solo- terárias da Cabala (o misticismo ju-
seguidores messiânicos da história mon Zalman. Ele se tornou conhe- daico). Ele devia ter uma capacida-
judaica, desde os dias de Bar Kokh- cido pelo cognome Gaon (termo de mental impressionante, visto que
ba, o falso messias do século II d.C. que significa “gênio”) de Vilna, ou há uma quantidade enorme de his-
Mas a esperança morreu rapidamen- simplesmente, HaGra (i.e., um tórias sobre a sua habilidade de
te, depois que Zvi se converteu ao is- acróstico hebraico formado pelas lembrar praticamente de todos os
lamismo um ano mais tarde. As más iniciais de cada palavra do designa- textos sagrados, bem como de citar
notícias se espalharam com muita tivo “O Gaon Rabbi Elijah”). de cor as palavras que completam
rapidez, deixando a população judai- O Gaon de Vilna é uma persona- qualquer frase das Escrituras que ti-
ca em profundo abatimento. lidade tão venerada na história ju- vesse sido mencionada por alguém.
Além disso, a condição da edu- daica que uma coletânea de histó- Ele ganhou a reputação de ser um
cação judaica também não ajudava. rias lendárias e feitos heróicos se dedicado estudante de todos os es-
Muitos rabinos tradicionais ofere- avolumou a respeito dele. Hoje em critos judaicos reconhecidos oficial-
ciam pouquíssimo apoio espiritual, dia, é difícil discernir entre o que é mente (coletivamente denominados
porque davam ênfase à arte do pil- fato e o que é ficção em tal registro. de Torá). Além disso, ele buscava o
pul, um método de exposição e de- O que sabemos, com certeza, é isolamento nos bosques ou hiberna-
bate que procura solucionar contro- que ele foi uma criança brilhante, va em seu próprio aposento, man-
vérsias religiosas através de malicio- muito provavelmente um menino tendo sempre as janelas fechadas
sas interpretações de pormenores prodígio dotado de uma memória para evitar distrações durante o seu
do Talmude. fotográfica. Dizem que ele, aos 7 tempo de estudo da Torá. O Gaon
Em meio a todo esse ambiente, anos de idade, já tinha aprendido dormia apenas duas horas por noi-
no dia 23 de abril de 1720, nasceu tão bem o hebraico, o Antigo Tes- te, em vários períodos de sono que
em Vilna, na Lituânia, aquele que tamento e o Talmude, que era ca- não excediam trinta minutos.

Notícias de Israel, maio de 2007 15


O Gaon de Vilna também estu- vem esposa durante um período em seu retorno, exceto esta: “Eu não ti-
dou matérias seculares, tais como que viajou por toda a Europa. Não ve permissão do céu”.1 O Gaon
história, matemática e astronomia, se sabe a razão de tal viagem e afas- nunca conseguiu ir à Terra Santa,
mas apenas para aumentar sua ca- tamento da família. Alguns especu- mas alguns de seus seguidores con-
pacidade de compreensão da Torá. lam que ele acreditava ser um perío- seguiram e lá promoveram os ensi-
O mesmo verificou-se no estudo do do no qual intensificaria seus estu- namentos dele.
misticismo judaico. Ele acreditava dos da Torá. Aos 28 anos de idade
que a Cabala, conhecida como “a ele retornou ao convívio de sua fa-
Torá secreta”, só seria proveitosa mília e determinou-se a uma vida de A Batalha Contra o
para alguém que estivesse bem ali- estudo, oração e meditação, susten- Hassidismo
cerçado na “Torá revelada”, que tando sua família com um modesto Mais para o fim de sua vida, o
compreende os escritos bíblicos e ordenado semanal que seu tataravô Gaon de Vilna se envolveu em bata-
talmúdicos. O Gaon denunciou o reservara para estudiosos da Torá. lhas que não se restringiram aos au-
estudo especulativo da filosofia, Embora desfrutasse de uma ditórios estudantis. Ele foi preso,
opondo-se, assim, a muito do que o grande reputação por suas perspica- pelo menos duas vezes, por ajudar a
famoso rabino medieval Moses ben zes concepções desenvolvidas no seqüestrar um menino judeu que se
Maimon (ou Maimônides, também estudo da Torá, o Gaon de Vilna convertera ao catolicismo, a fim de
chamado de Rambam, que viveu em nunca aceitou nenhuma função pú- trazê-lo de volta ao judaísmo. En-
1135-1204 d.C.), usara como base blica importante. Ele se contentou tretanto, a batalha mais importante
para seus ensinos. em dar instrução particular a um do Gaon foi contra alguns de seus
O Gaon ainda arrumou tempo pequeno grupo de discípulos, que, próprios irmãos judeus.
para se casar. Quando tinha cerca posteriormente, disseminou suas O hassidismo, liderado pelo seu
de vinte anos de idade, ele se casou idéias e ensinamentos. O Gaon é fundador, Israel ben Eliezer (tam-
com uma jovem chamada Hannah. conhecido por ter escrito, pelo me- bém chamado de Ba’al Shem Tov,
Durante seus quarenta anos de ca- nos, setenta obras, que variam de ou seja, “mestre do bom nome”;
samento, o casal recebeu a benção comentários do Antigo Testamento 1700-1760 d.C.), teve seu início no
de ter sete filhos, os quais Hannah a exposições explicativas do Talmu- sudeste da Polônia e rapidamente
criou praticamente sozinha, já que de. Praticamente a metade de seus se propagou pela Lituânia, inclusive
o Gaon dedicou a maior parte de ensinos trata exclusivamente da Ca- em Vilna. Os rabinos tradicionais, a
seu tempo aos estudos. bala. Suas interpretações se torna- exemplo do Gaon de Vilna, viam
Nos primeiros anos de seu casa- ram tão respeitadas que ele está in- esse novo movimento como uma
mento, o Gaon ficou longe de sua jo- cluído entre os grandes sistematiza- ameaça a tudo o que criam ser mais
dores da lei judaica. precioso. Eles acreditavam que o
Quando já era um senhor de hassidismo dividiria a comunidade
meia-idade, houve um momento judaica. Tinham receio da ênfase
em que o Gaon de Vilna decidiu do hassidismo na fé e na emoção
emigrar para a Terra Santa. Ele dei- acima do estudo objetivo da Torá e
xou sua família e partiu sozinho, condenavam a revelação dos segre-
com o plano de trazer, posterior- dos da Cabala aos leigos. Acima de
mente, seus familiares. Todavia, tudo, eles consideravam o hassidis-
por alguma razão desconhecida, o mo como um rompimento com a
Gaon nunca concluiu seu projeto de tradição, o qual menosprezava a au-
imigração e retornou a Vilna. Ele toridade dos estudiosos da Torá e
nunca chegou a dar explicações seus legítimos pareceres oficiais.
mais detalhadas sobre as razões de Em conseqüência disso, o Gaon de
Vilna assinou dois decretos de ex-
comunhão dos hassidim, um em
1772 e outro em 1781. Para os tra-
O Gaon nunca conseguiu ir à Terra dicionalistas, o Gaon de Vilna lutou
Santa, mas alguns de seus seguidores
conseguiram e lá promoveram contra as ondas de elementos radi-
os ensinamentos dele. cais do hassidismo, enquanto de-

16 Notícias de Israel, maio de 2007


fendia o judaísmo tradicional e a Contudo, apesar de ser tão ex- de Deus ou de anjos. Certa feita,
erudição. traordinário, ele também cometeu quando um convertido ao judaísmo
Em 1797, no terceiro dia de cele- erros. O Gaon falhou ao conferir foi preso, o Gaon se ofereceu para
bração da Festa dos Tabernáculos aos escritos extrabíblicos a mesma libertá-lo através da aplicação de
(do hebraico Sukkot), o Gaon de Vil- autoridade que conferia à Bíblia. seus poderes oriundos da Cabala
na faleceu. O funeral dele atraiu cen- Só existe uma Torá e esta não Prática. A participação do Gaon no
tenas de pessoas. Durante muitos inclui o Talmude, nem os escritos misticismo judaico também envol-
anos, peregrinos judeus visitaram o cabalísticos, nem quaisquer outros via a comunhão com espíritos. O
local onde o Gaon foi sepultado, por textos não-canônicos. Apenas os 66 Gaon alegava que conhecia segre-
acreditarem que tal ato trazia recom- livros do Antigo e do Novo Testa- dos que lhe foram revelados pelos
pensa e benção às suas vidas. mentos constituem a Palavra de patriarcas Jacó e Moisés, bem como
Deus revelada. pelo profeta Elias e por falecidos ra-
O Gaon de Vilna também se binos que praticavam a Cabala. Ele
Seus Pontos equivocou em seus princípios de in- chegou ao ponto de admitir que,
Fortes e Fracos terpretação. Tal como muitos ou- antes de completar treze anos de
Como acontece com qualquer tros rabinos, o Gaon acreditava que idade, tentara criar um golem (i.e.,
pessoa, a vida multifacetada do todo texto das Escrituras, até mes- uma criatura inanimada feita de
Gaon de Vilna foi marcada tanto mo cada letra, possui quatro níveis barro, que recebe fôlego de vida por
por pontos fortes quanto por pon- de interpretação: 1) o sentido claro intermédio de rituais cabalísticos).
tos fracos. Por exemplo, o Gaon ou literal; 2) o sentido indireto ou Essa aceitação do misticismo, atre-
acertadamente deu ênfase ao valor alegórico; 3) o sentido homilético; e lado às distorções das Escrituras e
da oração, crendo que a correta 4) o sentido místico ou oculto. As ao relacionamento com espíritos
motivação era o que realmente im- passagens bíblicas geralmente são enganadores, mancha a reputação
portava. Ele também estava certo mal entendidas ou torcidas em seu do Gaon, a qual, do contrário, seria
na conclusão de que as soluções pa- significado devido a esse tipo de maravilhosa.
ra as necessidades espirituais do ser hermenêutica. Em vez disso, a regra Na maioria dos casos, a influên-
humano se encontram dentro da geral de interpretação devia ser a cia dos heróis intelectuais ultrapas-
Palavra de Deus e ensinava que a seguinte: não procure nenhum ou- sa os limites da realidade e o Gaon
chave para a memorização são os tro sentido que não o sentido claro de Vilna não é exceção. Em virtude
sentimentos legítimos: “O caminho ou literal, a menos que o texto níti- de seu conhecimento da Torá e de
para se superar uma memória fraca da e intencionalmente apresente sua piedade, dizem que ele possuía
é aprender com amor e temor ao uma linguagem figurada, pois, do poderes sobrenaturais. As bênçãos
Céu, ou seja, a Deus [...] aquilo contrário, você pode chegar a uma que ele proferia sobre o povo su-
que para alguém é precioso, perma- interpretação absurda. postamente se concretizavam. Ele
nece em sua memória”.2 Talvez o erro mais clamoroso do dava a entender que podia curar os
O Gaon cria que o caminho para Gaon tenha sido o apoio que deu à cegos, predizer o futuro e proteger
se dominar uma língua maldizente Cabala. Ele cria piamente na auto- sua comunidade dos ataques de in-
é elogiar as outras pessoas. Ele tam- ridade desses escritos místicos ju- surgentes que pilhavam os vilarejos.
bém acreditava que o meio de se daicos e ensinava que uma pessoa Chegam mesmo a dizer que ele te-
confiar em Deus e ter vitória contra não podia compreender o texto cla- ria evitado que uma bala de canhão
os desejos carnais é aprender a estar ro da Torá sem estudar a Cabala. explodisse.
contente com aquilo que se tem. Para dizer a verdade, ele também Na verdade, esses relatos inacre-
Naturalmente, o Gaon se distin- acreditava que o aprendizado da ditáveis são desnecessários para que
guiu mais no campo do conheci- Cabala era um requisito necessário o povo judeu seja agradecido ao
mento da Torá. Ele desejava de- para trazer o Messias. Gaon de Vilna pelo legado que dei-
monstrar a absoluta unidade entre a As convicções mís-
Torá escrita e a, assim chamada, ticas do Gaon incorpo-
Torá oral [i.e., transmitida oralmen- ravam a “Cabala Práti- Veja esclarecimentos e alertas sobre a Cabala
te], provando que ambas se consti- ca”, o uso de amuletos e o misticismo no artigo Os Mistérios da
tuem numa única obra divinamente e encantamentos que Cabala (na edição 4/07).
transmitida. continham os nomes

Notícias de Israel, maio de 2007 17


xou. Perante os olhos de seu povo, ele foi um modelo de
Recomendamos:
diligência, dedicação aos estudos e devoção. Em pratica-
mente todas as comunidades judaicas, o impacto da vida
dele ainda se faz sentir até o dia de hoje. (Israel My Glory)

Bruce Scott é representante regional de The Friends of Israel em New


Hope, no estado de Minnesota, EUA.

Notas:
1. Betzalel Landau, The Vilna Gaon: The Life and Teachings of Rabbi
Eliyahu the Gaon of Vilna, Brooklin, NY: Mesorah Publications, Ltd., Pedidos: 0300 789.5152
1994, p. 161. www.Chamada.com.br
2. Ibid. p. 54.

O Misterioso Golem
Um dos mais estranhos ensinos da Cabala trata da criação do legendário golem. Alguns cabalis-
tas alegam que, com os ingredientes certos (tal como o barro) e o pronunciamento de fórmulas
apropriadas, cabalistas piedosos podem criar e dar vida a seres sem alma, semelhantes a ho-
mens, chamados golems.
Golem quer dizer “substância informe”. O termo aparece apenas uma vez nas Escrituras, quan-
do o salmista declara que Deus o viu quando era “substância ainda informe” (Sl 139.16). O mais
famoso golem no folclore judaico é o que foi supostasmente trazido à vida pelo rabino Judah
Loew, no século XVI, em Praga. Seu golem tinha mais de 3,30 metros de altura e conta-se que ele
protegeu os judeus de Praga contra aqueles que os acusavam através do infame “libelo de san-
gue”. A lenda diz que, quando o golem continuou a crescer e a agir descontroladamente, o rabi-
no Loew teve que destruí-lo. Muitos acreditam que essa história foi a base para a novela Franken-
stein, escrita por Mary Shelley.

no antigo bairro judaico de Vlooien-


Rembrandt e os burg, foram realizadas várias mostras.
Quatro destas aconteceram no Rem-

judeus de Amsterdã brandthuis, o Museu da Casa de Rem-


brandt, residência do artista de 1639
até 1658, que foi transformada em
museu em 1911. E, a poucas quadras
Um dos mais importantes ar- Rembrandt e sua obra ocuparam o dali, o Museu Histórico Judaico tam-
tistas de todos os tempos, o gran- centro das atenções do mundo das ar- bém participou, com a exposição “The
de mestre do barroco holandês vi- tes no ano de 2006, que marcou o Jewish Rembrandt”, em novembro de
veu e trabalhou durante duas dé- quarto centenário de seu nascimento. 2006.
cadas em sua residência no bairro Ao redor do mundo realizaram-se ex- Desde o século XIX, a relação entre
judeu de Amsterdã, de onde saí- posições, sobretudo na Holanda, terra Rembrandt e os judeus tem sido alvo
ram seus melhores trabalhos. natal do grande pintor. Em Amsterdã, de estudo. Os historiadores são unâni-

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Horizonte

mes em afirmar que foi pela mão do guém antes dele fez as coisas “co-
mestre holandês que se percebeu uma muns” da humanidade parecerem tão
visível mudança na forma como os ju- profundamente humanas, sérias e inte-
deus eram retratados nas artes plásti- ressantes.
cas. Há quem chegue a considerá-lo Calcula-se que Rembrandt tenha
um “artista judaico”, apontando o fato criado mais de 600 pinturas, estiman-
de ter vivido no bairro judeu e de um do-se que tenha feito acima de 300
terço de suas obras retratarem perso- gravuras e 1.400 desenhos. Alguns de
nagens ou temas bíblicos – fato pouco seus quadros são um registro vívido da
comum na Holanda protestante do sé- Amsterdã de sua época. Seus desenhos,
culo XVII, pois os temas religiosos não a maior parte dos quais não assinados,
tinham apelo para os protestantes ho- são notáveis pela soltura dos traços, ao
landeses. passo que os retratos e auto-retratos evi-
denciam profunda sensibilidade às sutis
nuanças das emoções humanas.
Um artista extraordinário
Rembrandt Harmenszoon van Rijn
nasceu em 15 de julho de 1606, na ci- Rembrandt e os judeus
dade holandesa de Leyden e morreu Em 1631, o pintor radicou-se em
em Amsterdã, em 1669. Na época, a Amsterdã, logo se tornando conhecido
Holanda protestante, finalmente livre e próspero. Em pouco tempo se alçou
Rembrandt Harmenszoon van Rijn: pintor,
do domínio da Espanha católica, tor- à posição de principal retratista da
desenhista e gravador, tecnicamente
nara-se potência econômica e oásis de Holanda. Em 1639, já casado, com- brilhante, foi um dos grandes
tolerância e abrigo para os persegui- prou uma ampla casa no número 4 da mestres do barroco.
dos. A prosperidade comercial, aliada rua Breestraaat, na ilhota de Vlooien-
ao respeito à individualidade, incenti- burg, entre os vários canais da cida-
vara a criatividade dos artistas, desen- de. Na época, o bairro era o centro
cadeando um período extraordinário: do mercado de arte e da vida judaica, durante quase duas décadas, no cora-
a Época de Ouro da pintura holande- pois grande parte de seus habitantes, ção da vida judaica foi, sem sombra
sa (1584-1702). A arte deixara tam- elementos cultos e de posses, perten- de dúvida, fundamental para moldar
bém de ser exclusividade dos nobres e ciam à “Nação Portuguesa” (a respei- sua visão sobre os judeus. Vale lem-
da Igreja, passando a ser artigo de to, leia o artigo “Os judeus portugue- brar que em nenhum outro país da Eu-
consumo da burguesia comercial; e ses de Amsterdã”, na edição 3/07). ropa Rembrandt teria tido permissão
Amsterdã se tornou o maior mercado Todas as casas vizinhas à mansão de viver no bairro judaico. Segundo
de arte não-estatal da Europa. de Rembrandt eram ocupadas ou de alguns teóricos, ao conviver tão de
Nesse período, de extraordinária propriedade de ricos comerciantes se- perto com o judaísmo, o pintor, pro-
produção artística, resplandeceu o gê- faraditas, como Daniel Pinto, os ir- testante que estudara a Bíblia a fundo,
nio de Rembrandt. Pintor, desenhista e mãos Rodrigues, Isaac de Pinto, Ba- identificou-se com a cultura e a reli-
gravador, tecnicamente brilhante, foi ruch Osorio, entre outros. A poucas gião judaica. Para outros, essa convi-
um dos grandes mestres do barroco. quadras da residência do artista vivia vência próxima e diária mudou a per-
Além de dominar a técnica do chia- o rabino Menasseh ben Israel, a mais cepção do artista quanto aos judeus,
roscuro – a arte de jogar com contras- importante personalidade judaica da permitindo-lhe construir uma imagem
tes de luz e escuridão, o mestre atingiu cidade e, provavelmente, uma das calcada em sua experiência pessoal e
uma nova percepção, a profunda mais famosas na Europa da época. não nos estereótipos carregados dos
compreensão da natureza humana. Rembrandt manteve, durante anos, preconceitos vigentes na Europa do
“Não há, na história da pintura, artis- profunda amizade com o rabino, in- século XVII.
ta que tenha penetrado tão profunda- clusive tendo ilustrado, com quatro de Ele não apenas morava em Vlooien-
mente, com tanta dúvida e angústia, suas gravuras, um de seus tratados, burg – interagia com os vizinhos, cons-
no problema das relações entre o ho- “Piedra Gloriosa”. É famoso em todo truindo laços de amizade e profissionais.
mem e seu mundo”, escreveu o histo- o mundo o portrait do rabino realiza- E, graças a isso, o mundo pôde vislum-
riador de arte Pierre Cabanne. Nin- do por Rembrandt. O fato de viver, brar através dos seus olhos a crônica da

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vida judaica na Holanda. Conta-se, por Rembrandt mudou sua forma de retra- do século XVII a tratar temas judaicos,
exemplo, que o comerciante de diaman- tá-los. O artista descartou as velhas mas o que o diferenciava era o cuida-
tes Alphonso Lopez costumava receber o imagens de judeus, comuns na arte oci- do que tinha ao retratar fatos, situações
artista em sua casa, para que ele pudes- dental – associadas a demônios, ga- e personagens ligados ao povo dos
se apreciar e estudar sua coleção de nância, maldade e traços muitas vezes “Homens da Nação”. Em sua tela
obras de arte, que incluía quadros de animalescos. Os judeus de Rembrandt “Moisés quebrando as Tábuas da Lei”,
Rafael e Tintoretto, entre outros. apresentam feições delicadas e transmi- diferentemente do que se costumava ver
Muitos de seus trabalhos foram fi- tem profundas emoções, extraídas das em outras reproduções artísticas, Rem-
nanciados e adquiridos por patronos e várias situações da vida humana. brandt mostra Moisés carregando duas
clientes judeus, principalmente de ori- Suas obras são mais do que um Tábuas e não um pedaço de rocha si-
gem sefaradita, grandes admiradores documento histórico do período – per- mulando a divisão em duas estelas.
das artes plásticas, em geral, e os mitem-nos perceber, a partir da temá- A coleção de obras com temática
maiores colecionadores da época, na tica dos seus quadros, a cultura holan- judaica inclui vários óleos, entre os
cidade. Entre eles, contavam-se Sa- desa e as relações entre as duas co- quais os mais famosos são dois com o
muel D’Orta, Caspar Duente, a família munidades. Ao retratar os “Homens mesmo nome: “A noiva judia”. O pri-
d’Acosta Curiel e Ephraim Bueno, fa- da Nação” (ou “Nação Judaica Portu- meiro, de 1665, representa um casal
moso médico e pensador, também re- guesa”, como os judeus portugueses se que alguns acreditavam ser o poeta
tratado por suas mãos. auto-designavam), Rembrandt não se sefardita Miguel de Barrios (1625-
Para os historiadores da arte, a re- presta tão somente a captá-los como 1701) e sua esposa, no entanto, não
lação de Rembrandt com os judeus po- em um instantâneo fotográfico; o seu há provas definitivas disso. O outro
de ser analisada através de suas obras. olhar adiciona e soma a riqueza resul- óleo foi pintado por Rembrandt em
Apesar de, no início da carreira, tê-los tante do seu convívio entre esse povo. 1684. Outros quadros famosos são:
representado, em alguns de seus qua- Abraham Bredius, uma das grandes “O médico judeu Ephraim Bueno”, de
dros, segundo os estereótipos negativos autoridades em Rembrandt, relacionou, 1647; “Retrato de um judeu” e “Velho
costumeiros, não há como negar que no conjunto da obra do pintor, aproxi- com gorro vermelho de pele, em uma
madamente duzentos retratos de poltrona”, ambos de 1654. O Livro de
homens, excetuando-se os que Ester inspirou obras como “O Triunfo
ele fez de si mesmo e de fami- de Mordechai”, de 1641, e “Hamã e
Em sua tela “Moisés quebrando as Tábuas da
Lei”, diferentemente do que se costumava ver em liares: dentre esses, trinta e sete o rei Assuero no banquete de Ester”,
outras reproduções artísticas, Rembrandt mostra judeus. Entre as obras do Museu de 1660. Entre as gravuras e dese-
Moisés carregando duas Tábuas e não um peda- Casa de Rembrandt constam os nhos podemos destacar os retratos de
ço de rocha simulando a divisão em duas estelas. portraits de dois líderes comuni- Menasseh ben Israel (1636) e de Eph-
tários judeus, com chapéus pre- raim Bueno (1647), “Abrahão e Isa-
tos de abas largas, barba curta, que”, 1645, “Uma sílfide ou A grande
típicos membros da aristocracia noiva judia”, de 1635. Este último re-
de Amsterdã no período. Esses trata uma noiva que tem nas mãos a
trabalhos comprovam a diferen- ketubá, o contrato judaico de casa-
ça entre a vida judaica local e mento. Vemos ainda a famosa gravu-
no restante da Europa. ra “Judeus na sinagoga”, de 1648,
Quando retratava cenas ins- em que o pintor retrata membros da
piradas nos textos bíblicos, Rem- comunidade asquenazi de Amsterdã.
brandt tinha sempre a preocu- (extraído de www.morasha.com.br)
pação de reproduzir de manei-
ra correta a simbologia judaica. Bibliografia:
A inclusão do alfabeto hebraico, – Cabanne, Pierre, Rembrandt, Ed. Profils de
l’art Chêne, 1991.
por exemplo, em qualquer um – Bockemuhl, Michael, Rembrandt, Ed. Tas-
de seus trabalhos, era sempre chen.
– Artigo de Ivy Judensnaider Knijnik, “Rem-
acompanhada por minuciosos brandt e os judeus em Amsterdã: algumas
estudos, visando a perfeita re- considerações entre arte e ciência”, Revista
Digital Art, abril de 2005.
produção das letras. Rembrandt – http://www.rembrandthuis.nl, Museu Casa
não era o único artista holandês de Rembrandt.

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