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Rembrandt e os
judeus de Amsterdã
Pág. 20
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4 Prezados Amigos de Israel
Notícias de
ISRAEL
É uma publicação mensal da “Obra
Missionária Chamada da Meia-Noite” com
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Beth-Shalom” (Associação Beth-Shalom para
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A revista “Notícias de Israel” é publicada
também em espanhol, inglês, alemão,
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INPI nº 040614
Registro nº 50 do Cartório Especial
20 HORIZONTE
• Rembrandt e os judeus de Amsterdã - 20
“Naquele dia, levantarei o tabernáculo a casa de Israel e com a casa de Judá”. Sem
caído de Davi, repararei as suas brechas; e, dúvida, esse versículo fala da renovação do povo
levantando-o das suas ruínas, restaurá-lo-ei judeu como o escolhido de Deus.
como fora nos dias da antiguidade” (Amós Deus renova, Ele não conserta. A maior parte
9.11). das pessoas procura melhorar sua vida, seu
Depois de todos os terríveis juízos sobre conforto, seu bem-estar. Até mesmo muitas
Israel, Deus fará algo novo. Antes de tratarmos a igrejas acreditam que podem melhorar o ser
respeito, devemos enfatizar que o livro de Amós é humano. Essa é a razão porque existem tantos
dirigido principalmente às dez tribos rebeldes de falsos ensinos. As igrejas e os ministérios de maior
Israel, mas não exclui Judá. No capítulo 1, sucesso são os que prometem uma vida melhor
versículo 3, Deus começa a pronunciar o juízo aos seus membros, com o pretexto de que se
sobre as nações vizinhas pelo que fizeram com tornarão melhores cristãos. Sobre esse tipo de
Israel: “Assim diz o SENHOR: Por três filosofia está baseada, por exemplo, a maçonaria,
transgressões de Damasco e por quatro, mas muitas igrejas seguem esse padrão,
não sustarei o castigo, porque trilharam a imaginando que homens corruptos podem ser
Gileade com trilhos de ferro” (Amós 1.3). aperfeiçoados com o objetivo de contribuirem
Apesar da distinção que fazemos entre Judá e as para uma sociedade melhor.
dez tribos, eles são um só povo. Todo o Israel Deus, porém, fez uma Nova Aliança: “Porque
experimentará tribulação, e o pior ainda está por esta é a aliança que firmarei com a casa de
vir. Esse período é conhecido como a “angústia de Israel, depois daqueles dias, diz o SENHOR:
Jacó”, “...ele, porém, será livre dela” Na mente, lhes imprimirei as minhas leis,
(Jeremias 30.7). também no coração lhas inscreverei; eu
A constatação de que os juízos descritos no serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.
livro de Amós são dirigidos principalmente às dez Não ensinará jamais cada um ao seu
tribos de Israel está baseada nas referências próximo, nem cada um ao seu irmão,
geográficas: lugares como Samaria, Betel e Gilgal dizendo: Conhece ao SENHOR, porque todos
estão localizados fora de Judá. Mas, do mesmo me conhecerão, desde o menor até ao
modo como no início do livro de Amós, também maior deles, diz o SENHOR. Pois perdoarei as
vemos no seu final que todo o Israel está incluído. suas iniqüidades e dos seus pecados jamais
O “tabernáculo de Davi” refere-se a Jerusalém, me lembrarei” (Jeremias 31.33-34).
a capital de Judá. O que significa a frase “o Quando chegará esse dia? Para sabê-lo, temos
tabernáculo caído de Davi”? Sabemos que não de nos voltar para o Novo Testamento, lendo as
se trata do tabernáculo semelhante a uma tenda, palavras ditas por Tiago em Atos 15.14-18:
que abrigou a arca da aliança até que Salomão “expôs Simão como Deus, primeiramente,
edificasse o templo. Uma dica são as palavras: visitou os gentios, a fim de constituir dentre
“repararei as suas brechas; e, levantando-o eles um povo para o seu nome. Conferem
das suas ruínas...” Essa é uma referência à com isto as palavras dos profetas, como
Jerusalém física e ao templo. Ruínas indicam está escrito: Cumpridas estas coisas,
construções de pedras, o que não pode ser dito voltarei e reedificarei o tabernáculo caído
do tabernáculo descrito em Êxodo 25-31. de Davi; e, levantando-o de suas ruínas,
Mas, a seguir lemos a promessa: “...restaurá- restaurá-lo-ei. Para que os demais homens
lo-ei como fora nos dias da antiguidade”. busquem o Senhor, e também todos os
Será que isso quer dizer que Jerusalém será gentios sobre os quais tem sido invocado o
reconstruída exatamente como era nos dias de meu nome, diz o Senhor; que faz estas
Davi? Penso que não. À medida que estudarmos coisas conhecidas desde séculos”.
os versículos seguintes, veremos que Deus Observamos uma interrupção no plano de Deus
realizará algo completamente novo, pois Ele não para Israel: “Deus, primeiramente, visitou os
faz consertos ou remendos. gentios”. Tecnicamente, isso não é correto,
Para melhor compreensão, será útil ler porque Ele visitou inicialmente o Seu povo Israel.
Jeremias 31.31: “Eis aí vêm dias, diz o No início, todos os crentes eram judeus, e o
SENHOR, em que firmarei nova aliança com acréscimo dos gentios teria causado divisões e
Em Mateus 24, Jesus usa seis expressões que são muito úteis
na subdivisão do capítulo e para sua melhor compreensão:
1. Ainda não é o fim (Mt 24.6).
2. O princípio das dores (v.8).
3. A tribulação (v.9).
4. O fim (v.14).
5. O abominável da desolação (v.15).
6. Em seguida à tribulação (v.29).
Essas seis expressões servem de marcos referenciais, uma vez que ca- Esse levante generalizado,
da uma delas delimita um tempo específico e introduz uma nova fase oriundo do reino das trevas,
nos acontecimentos proféticos. do Iluminismo ao comunis-
mo e ao nacional-socialismo
(nazismo), intensificou-se no
Primeiro marco: ainda não é o fim período em que os judeus
“E ele lhes respondeu: Vede que ninguém vos engane. Porque muitos virão voltaram para sua terra, a
em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo, e enganarão a muitos. E, certamen- partir de 1882.
te, ouvireis falar de guerras e rumores de guerras; vede, não vos assusteis, por- “E, certamente, ouvireis fa-
que é necessário assim acontecer, mas ainda não é o fim” (Mt 24.4-6). lar de guerras e rumores de
Aqui Jesus fala de um tempo que ainda não é o fim, mas que é uma guerras...” (Mt 24.6). A Pri-
condição imediatamente anterior a ele, ou seja, que conduz ao fim lenta meira e a Segunda Guerra
mas inexoravelmente. foram chamadas de guerras
Nos versículos 4 e 5 o Senhor Jesus menciona a primeira onda de enga- mundiais porque, até então,
nos dos tempos finais, a sedução em nível político, ideológico e religioso. nada semelhante havia suce-
Depois que o cristianismo havia se firmado e expandido na Ásia Me- dido na História da humani-
nor e na Europa (até a Reforma), veio o grande engano. Novos arautos dade. Ambas foram devasta-
da salvação começaram a se manifestar e toda a Europa foi seduzida pe- doras: a Primeira Guerra
lo engano. Alguns tópicos desse processo enganoso: o Iluminismo, o Mundial ceifou a vida de 10
tempo dos grandes filósofos, a teoria da evolução, as muitas seitas, a milhões de pessoas, a Se-
teologia do “Deus está morto”. Então veio o marxismo-leninismo; do gunda Guerra Mundial cus-
socialismo surgiu o comunismo (1917). A partir de 1932, quando o na- tou a vida de 55 milhões. Na
cional-socialismo se levantou na Alemanha, homens como Hitler, verdade, elas tiveram de
Goebbels e Himmler foram os novos salvadores (messias), e na Itália o acontecer, mas ainda não
falso salvador foi Mussolini. significavam o fim: “porque é
Em 1665, Zvi declarou ser o muito em breve se tornaria um gi- paz de pregar um sermão talmúdi-
messias. Toda a Europa e o Oriente gante espiritual dentro da comuni- co. Aos 13 anos também dominava
Médio se alvoroçaram de alegria. dade judaica. Seu nome era Elijah com destreza as principais obras li-
Zvi contava com o maior cortejo de Ben (que significa “filho de”) Solo- terárias da Cabala (o misticismo ju-
seguidores messiânicos da história mon Zalman. Ele se tornou conhe- daico). Ele devia ter uma capacida-
judaica, desde os dias de Bar Kokh- cido pelo cognome Gaon (termo de mental impressionante, visto que
ba, o falso messias do século II d.C. que significa “gênio”) de Vilna, ou há uma quantidade enorme de his-
Mas a esperança morreu rapidamen- simplesmente, HaGra (i.e., um tórias sobre a sua habilidade de
te, depois que Zvi se converteu ao is- acróstico hebraico formado pelas lembrar praticamente de todos os
lamismo um ano mais tarde. As más iniciais de cada palavra do designa- textos sagrados, bem como de citar
notícias se espalharam com muita tivo “O Gaon Rabbi Elijah”). de cor as palavras que completam
rapidez, deixando a população judai- O Gaon de Vilna é uma persona- qualquer frase das Escrituras que ti-
ca em profundo abatimento. lidade tão venerada na história ju- vesse sido mencionada por alguém.
Além disso, a condição da edu- daica que uma coletânea de histó- Ele ganhou a reputação de ser um
cação judaica também não ajudava. rias lendárias e feitos heróicos se dedicado estudante de todos os es-
Muitos rabinos tradicionais ofere- avolumou a respeito dele. Hoje em critos judaicos reconhecidos oficial-
ciam pouquíssimo apoio espiritual, dia, é difícil discernir entre o que é mente (coletivamente denominados
porque davam ênfase à arte do pil- fato e o que é ficção em tal registro. de Torá). Além disso, ele buscava o
pul, um método de exposição e de- O que sabemos, com certeza, é isolamento nos bosques ou hiberna-
bate que procura solucionar contro- que ele foi uma criança brilhante, va em seu próprio aposento, man-
vérsias religiosas através de malicio- muito provavelmente um menino tendo sempre as janelas fechadas
sas interpretações de pormenores prodígio dotado de uma memória para evitar distrações durante o seu
do Talmude. fotográfica. Dizem que ele, aos 7 tempo de estudo da Torá. O Gaon
Em meio a todo esse ambiente, anos de idade, já tinha aprendido dormia apenas duas horas por noi-
no dia 23 de abril de 1720, nasceu tão bem o hebraico, o Antigo Tes- te, em vários períodos de sono que
em Vilna, na Lituânia, aquele que tamento e o Talmude, que era ca- não excediam trinta minutos.
Notas:
1. Betzalel Landau, The Vilna Gaon: The Life and Teachings of Rabbi
Eliyahu the Gaon of Vilna, Brooklin, NY: Mesorah Publications, Ltd., Pedidos: 0300 789.5152
1994, p. 161. www.Chamada.com.br
2. Ibid. p. 54.
O Misterioso Golem
Um dos mais estranhos ensinos da Cabala trata da criação do legendário golem. Alguns cabalis-
tas alegam que, com os ingredientes certos (tal como o barro) e o pronunciamento de fórmulas
apropriadas, cabalistas piedosos podem criar e dar vida a seres sem alma, semelhantes a ho-
mens, chamados golems.
Golem quer dizer “substância informe”. O termo aparece apenas uma vez nas Escrituras, quan-
do o salmista declara que Deus o viu quando era “substância ainda informe” (Sl 139.16). O mais
famoso golem no folclore judaico é o que foi supostasmente trazido à vida pelo rabino Judah
Loew, no século XVI, em Praga. Seu golem tinha mais de 3,30 metros de altura e conta-se que ele
protegeu os judeus de Praga contra aqueles que os acusavam através do infame “libelo de san-
gue”. A lenda diz que, quando o golem continuou a crescer e a agir descontroladamente, o rabi-
no Loew teve que destruí-lo. Muitos acreditam que essa história foi a base para a novela Franken-
stein, escrita por Mary Shelley.
mes em afirmar que foi pela mão do guém antes dele fez as coisas “co-
mestre holandês que se percebeu uma muns” da humanidade parecerem tão
visível mudança na forma como os ju- profundamente humanas, sérias e inte-
deus eram retratados nas artes plásti- ressantes.
cas. Há quem chegue a considerá-lo Calcula-se que Rembrandt tenha
um “artista judaico”, apontando o fato criado mais de 600 pinturas, estiman-
de ter vivido no bairro judeu e de um do-se que tenha feito acima de 300
terço de suas obras retratarem perso- gravuras e 1.400 desenhos. Alguns de
nagens ou temas bíblicos – fato pouco seus quadros são um registro vívido da
comum na Holanda protestante do sé- Amsterdã de sua época. Seus desenhos,
culo XVII, pois os temas religiosos não a maior parte dos quais não assinados,
tinham apelo para os protestantes ho- são notáveis pela soltura dos traços, ao
landeses. passo que os retratos e auto-retratos evi-
denciam profunda sensibilidade às sutis
nuanças das emoções humanas.
Um artista extraordinário
Rembrandt Harmenszoon van Rijn
nasceu em 15 de julho de 1606, na ci- Rembrandt e os judeus
dade holandesa de Leyden e morreu Em 1631, o pintor radicou-se em
em Amsterdã, em 1669. Na época, a Amsterdã, logo se tornando conhecido
Holanda protestante, finalmente livre e próspero. Em pouco tempo se alçou
Rembrandt Harmenszoon van Rijn: pintor,
do domínio da Espanha católica, tor- à posição de principal retratista da
desenhista e gravador, tecnicamente
nara-se potência econômica e oásis de Holanda. Em 1639, já casado, com- brilhante, foi um dos grandes
tolerância e abrigo para os persegui- prou uma ampla casa no número 4 da mestres do barroco.
dos. A prosperidade comercial, aliada rua Breestraaat, na ilhota de Vlooien-
ao respeito à individualidade, incenti- burg, entre os vários canais da cida-
vara a criatividade dos artistas, desen- de. Na época, o bairro era o centro
cadeando um período extraordinário: do mercado de arte e da vida judaica, durante quase duas décadas, no cora-
a Época de Ouro da pintura holande- pois grande parte de seus habitantes, ção da vida judaica foi, sem sombra
sa (1584-1702). A arte deixara tam- elementos cultos e de posses, perten- de dúvida, fundamental para moldar
bém de ser exclusividade dos nobres e ciam à “Nação Portuguesa” (a respei- sua visão sobre os judeus. Vale lem-
da Igreja, passando a ser artigo de to, leia o artigo “Os judeus portugue- brar que em nenhum outro país da Eu-
consumo da burguesia comercial; e ses de Amsterdã”, na edição 3/07). ropa Rembrandt teria tido permissão
Amsterdã se tornou o maior mercado Todas as casas vizinhas à mansão de viver no bairro judaico. Segundo
de arte não-estatal da Europa. de Rembrandt eram ocupadas ou de alguns teóricos, ao conviver tão de
Nesse período, de extraordinária propriedade de ricos comerciantes se- perto com o judaísmo, o pintor, pro-
produção artística, resplandeceu o gê- faraditas, como Daniel Pinto, os ir- testante que estudara a Bíblia a fundo,
nio de Rembrandt. Pintor, desenhista e mãos Rodrigues, Isaac de Pinto, Ba- identificou-se com a cultura e a reli-
gravador, tecnicamente brilhante, foi ruch Osorio, entre outros. A poucas gião judaica. Para outros, essa convi-
um dos grandes mestres do barroco. quadras da residência do artista vivia vência próxima e diária mudou a per-
Além de dominar a técnica do chia- o rabino Menasseh ben Israel, a mais cepção do artista quanto aos judeus,
roscuro – a arte de jogar com contras- importante personalidade judaica da permitindo-lhe construir uma imagem
tes de luz e escuridão, o mestre atingiu cidade e, provavelmente, uma das calcada em sua experiência pessoal e
uma nova percepção, a profunda mais famosas na Europa da época. não nos estereótipos carregados dos
compreensão da natureza humana. Rembrandt manteve, durante anos, preconceitos vigentes na Europa do
“Não há, na história da pintura, artis- profunda amizade com o rabino, in- século XVII.
ta que tenha penetrado tão profunda- clusive tendo ilustrado, com quatro de Ele não apenas morava em Vlooien-
mente, com tanta dúvida e angústia, suas gravuras, um de seus tratados, burg – interagia com os vizinhos, cons-
no problema das relações entre o ho- “Piedra Gloriosa”. É famoso em todo truindo laços de amizade e profissionais.
mem e seu mundo”, escreveu o histo- o mundo o portrait do rabino realiza- E, graças a isso, o mundo pôde vislum-
riador de arte Pierre Cabanne. Nin- do por Rembrandt. O fato de viver, brar através dos seus olhos a crônica da
vida judaica na Holanda. Conta-se, por Rembrandt mudou sua forma de retra- do século XVII a tratar temas judaicos,
exemplo, que o comerciante de diaman- tá-los. O artista descartou as velhas mas o que o diferenciava era o cuida-
tes Alphonso Lopez costumava receber o imagens de judeus, comuns na arte oci- do que tinha ao retratar fatos, situações
artista em sua casa, para que ele pudes- dental – associadas a demônios, ga- e personagens ligados ao povo dos
se apreciar e estudar sua coleção de nância, maldade e traços muitas vezes “Homens da Nação”. Em sua tela
obras de arte, que incluía quadros de animalescos. Os judeus de Rembrandt “Moisés quebrando as Tábuas da Lei”,
Rafael e Tintoretto, entre outros. apresentam feições delicadas e transmi- diferentemente do que se costumava ver
Muitos de seus trabalhos foram fi- tem profundas emoções, extraídas das em outras reproduções artísticas, Rem-
nanciados e adquiridos por patronos e várias situações da vida humana. brandt mostra Moisés carregando duas
clientes judeus, principalmente de ori- Suas obras são mais do que um Tábuas e não um pedaço de rocha si-
gem sefaradita, grandes admiradores documento histórico do período – per- mulando a divisão em duas estelas.
das artes plásticas, em geral, e os mitem-nos perceber, a partir da temá- A coleção de obras com temática
maiores colecionadores da época, na tica dos seus quadros, a cultura holan- judaica inclui vários óleos, entre os
cidade. Entre eles, contavam-se Sa- desa e as relações entre as duas co- quais os mais famosos são dois com o
muel D’Orta, Caspar Duente, a família munidades. Ao retratar os “Homens mesmo nome: “A noiva judia”. O pri-
d’Acosta Curiel e Ephraim Bueno, fa- da Nação” (ou “Nação Judaica Portu- meiro, de 1665, representa um casal
moso médico e pensador, também re- guesa”, como os judeus portugueses se que alguns acreditavam ser o poeta
tratado por suas mãos. auto-designavam), Rembrandt não se sefardita Miguel de Barrios (1625-
Para os historiadores da arte, a re- presta tão somente a captá-los como 1701) e sua esposa, no entanto, não
lação de Rembrandt com os judeus po- em um instantâneo fotográfico; o seu há provas definitivas disso. O outro
de ser analisada através de suas obras. olhar adiciona e soma a riqueza resul- óleo foi pintado por Rembrandt em
Apesar de, no início da carreira, tê-los tante do seu convívio entre esse povo. 1684. Outros quadros famosos são:
representado, em alguns de seus qua- Abraham Bredius, uma das grandes “O médico judeu Ephraim Bueno”, de
dros, segundo os estereótipos negativos autoridades em Rembrandt, relacionou, 1647; “Retrato de um judeu” e “Velho
costumeiros, não há como negar que no conjunto da obra do pintor, aproxi- com gorro vermelho de pele, em uma
madamente duzentos retratos de poltrona”, ambos de 1654. O Livro de
homens, excetuando-se os que Ester inspirou obras como “O Triunfo
ele fez de si mesmo e de fami- de Mordechai”, de 1641, e “Hamã e
Em sua tela “Moisés quebrando as Tábuas da
Lei”, diferentemente do que se costumava ver em liares: dentre esses, trinta e sete o rei Assuero no banquete de Ester”,
outras reproduções artísticas, Rembrandt mostra judeus. Entre as obras do Museu de 1660. Entre as gravuras e dese-
Moisés carregando duas Tábuas e não um peda- Casa de Rembrandt constam os nhos podemos destacar os retratos de
ço de rocha simulando a divisão em duas estelas. portraits de dois líderes comuni- Menasseh ben Israel (1636) e de Eph-
tários judeus, com chapéus pre- raim Bueno (1647), “Abrahão e Isa-
tos de abas largas, barba curta, que”, 1645, “Uma sílfide ou A grande
típicos membros da aristocracia noiva judia”, de 1635. Este último re-
de Amsterdã no período. Esses trata uma noiva que tem nas mãos a
trabalhos comprovam a diferen- ketubá, o contrato judaico de casa-
ça entre a vida judaica local e mento. Vemos ainda a famosa gravu-
no restante da Europa. ra “Judeus na sinagoga”, de 1648,
Quando retratava cenas ins- em que o pintor retrata membros da
piradas nos textos bíblicos, Rem- comunidade asquenazi de Amsterdã.
brandt tinha sempre a preocu- (extraído de www.morasha.com.br)
pação de reproduzir de manei-
ra correta a simbologia judaica. Bibliografia:
A inclusão do alfabeto hebraico, – Cabanne, Pierre, Rembrandt, Ed. Profils de
l’art Chêne, 1991.
por exemplo, em qualquer um – Bockemuhl, Michael, Rembrandt, Ed. Tas-
de seus trabalhos, era sempre chen.
– Artigo de Ivy Judensnaider Knijnik, “Rem-
acompanhada por minuciosos brandt e os judeus em Amsterdã: algumas
estudos, visando a perfeita re- considerações entre arte e ciência”, Revista
Digital Art, abril de 2005.
produção das letras. Rembrandt – http://www.rembrandthuis.nl, Museu Casa
não era o único artista holandês de Rembrandt.