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HISTÓRIA DE MINHAS SOMBRAS PESSOAIS

“A crise ecológica está nos forçando a admitir que não somos a peça central da
criação. Ela está nos ensinando a substituir a arrogância e o desdém pela
humildade e pelo respeito no tratamento que damos às demais criaturas.
Estamos sendo chamados para uma metanóia, ou seja, para uma conversão
nos nossos relacionamentos com o mundo tal como ele foi criado”

Preâmbulo
Pecamos quando o medo nos impede contemplar o amor que flui da
Trindade para todas as criaturas e para toda a matéria. Para ser livre da
compulsão que S. Paulo descreve, devemos aceitar a graça para contemplar a
bondade e a beleza que há em nossa existência finita.
Por meio desta graça, somos capazes de afastar o desespero e o cinismo.
Evoluímos para chegar à nossa plenitude como seres humanos, totalmente
maduros, para chegar à aceitação compassiva de nossas imperfeições e as dos
outros. Este é o fundamento de uma liberdade em evolução.
1. Oferecimento de mim mesmo
Rogo à Trindade me conceda a graça de que durante este tempo de oração
todas as minhas intenções, ações, operações e sentimentos se dirijam somente
a seu serviço e louvor.
2. Preâmbulo ao mistério
Minha ecologia se fundamenta na relação com as pessoas e com as criaturas.
S. Paulo afirma que, por minha condição de membro da espécie humana, não
sou capaz de fazer o bem que quero mas o mal que não quero; sou cúmplice
do pecado dos outros contra as criaturas inocentes (Rom. 7,14-25).
3. Disposição de todo meu ser para o mistério
Imagino-me enredado e preso no meio de muitos males destrutivos que são
infligidos aos pobres e fracos, às criaturas vulneráveis e à terra, ao mar, ao
ar...: a violência de minha sociedade, minha acomodação e omissão, minha
insensibilidade e dureza de coração, a falta de espírito solidário...
Não vejo nenhuma saída; é um beco sem saída, como a noite escura da alma.
Imagino-me, com S. Paulo, escravo do pecado, fazendo precisamente o que
detesto, atuando contra minha vontade.
Silenciosamente recordo que estou na presença da Trindade; dou graças por
seu constante amor.
4. O desejo de meu coração
Peço alcançar a graça de obter uma contrição mais sincera por minha
irreverência e cumplicidade contra a vida que há em mim e no cosmos, assim
como o sentimento de admiração diante do paciente amor da Trindade para
comigo, apesar de minha deliberada implicação no mal.
Rezo para receber a graça da contrição e da cura. Busco o perdão e o dom de
perdoar
5. Pontos de reflexão e consideração
Primeiro ponto: Considero se meu estilo de vida está fundamentado no
cinismo ou na esperança, e
penso sobre o cuidado que dispenso à minha pessoa, ao meu
corpo e sobre o cuidado que tenho para com a terra, a água, o ar e os
ecossistemas. Examino quê esforço faço para estar informado e para mostrar
aos outros a realidade da ecologia do mundo.
No séc. XXI, o problema profundo com que nos defrontamos é biológico.
Poderemos evoluir para converter-nos em seres humanos plenos ou
seguiremos sem alcançar a plenitude de nossa humanidade?
Jean Vanier defende com paixão que “ser humano” é comprometer-se
individual e coletivamente com uma evolução que se reverta no bem de todos.
Isso requer que ouçamos o chamado do coração, mesmo que muitas vezes o
temor nos impeça seguí-lo.
O medo consome nossos corações. O medo é uma força terrível em todos nós
que envenena as ações de nossa vida. Nos assustam os que são diferentes, os
estrangeiros, os excluídos e aqueles que desafiam nossa autoridade e nossas
certezas; tememos o fracasso, a rejeição e a mudança.
“Creio que inclusive estamos mais assustados de nosso próprio coração”.
É o temor que nos impede ser mais humanos; esse é o abismo que separa os
seres humanos.

Segundo ponto: “Exclamação de admiração com intenso afeto” (EE.


60).
Considero a fidelidade com que o sol ilumina a terra para
que a vida se desenvolva e se multiplique, durante bilhões de anos; a
fidelidade com que a rotação do planeta nos traz a noite e o repouso. Recordo
como a água limpa, o ar e a boa alimentação me sustentam cotidianamente;
como a madeira das árvores me protegem dos rigores do tempo, como as
fibras das plantas e dos animais me servem de abrigo; recordo como os
micróbios produzem antibióticos para curar-me...
Fico admirado e assombrado diante da generosidade da natureza que me
proporciona todas as coisas boas em abundância.
Assim também, o amor, os cuidados e os sacrifícios de muitas pessoas e
criaturas fazem minha vida mais fácil e enchem-na de alegria. Os anjos e uma
infinidade de pessoas na Comunhão dos Santos me protegem dos perigos e
rezam, dia após dia, por mim.
Terceiro ponto: Considero como correspondi a toda esta fidelidade,
profanando e desfigurando o lar
que todos compartilhamos como irmãos.
Por que continuam me alimentando com paciência e humildade? Sinto uma
grande vergonha e confusão pelo fato de que me tenham mantido em vida.
Quarto ponto: Jean Vanier nos mostra que ao excluir Lázaro de nossa porta,
nos condenamos à soli-
dão e a não alcançar a plenitude como seres humanos.
Procedendo assim, rejeitamos o convite amoroso de Deus para sermos
verdadeiramente livres, para promover a diversidade e a integração na
comunidade da Terra e entrar de cheio na aventura da evolução.
“Suspeito que excluímos Lázaro porque tememos que nossos corações sejam
alcançados se estabelecemos uma relação com ele. Se escutamos sua história e
ouvimos seus lamentos de dor descobriremos que é um ser humano... e, aonde nos
leva esta descoberta?
A arriscar-nos a empreender uma aventura e a mudar o rumo de nossas vidas”.

6. Colóquio
Louvo a misericórdia da Trindade. Liberto
meus pensamentos e dou graças às Três
Pessoas Divinas por conceder-me a vida
até este momento. Estou determinado,
com a graça da Trindade, a afastar-me de
meu caminho de destruição e servir somente a Deus.
Peço a Maria que interceda junto ao seu Filho para que me conceda a graça
destes três favores:
* Conhecimento profundo de meus pecados e aborrecimento do prejuízo que ocasionam às pes-
soas e às comunidades das criaturas.
* Compreensão da desordem de minhas ações, para que, consciente delas, possa corrigir meu es-
tilo de vida.
* Percepção da capacidade da espécie humana para um conhecimento violento da engenharia, da
genética, da política, da economia, etc; percepção de nosso desespero, que nos leva a utilizar o
conhecimento para provocar a extinção de outras comunidades de seres vivos.

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