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Segundo ponto: O Princípio e Fundamento nos recorda nossa condição de criaturas e nossa
comunhão
com toda a criação, para que nos vejamos como seres dependentes. Tudo isso nos move a
expressar um sentimento de gratidão pessoal por nossa existência finita e desejar eleger
o bem em nome de Deus e da comunidade universal de vida na qual vivemos.
Tendo isto presente podemos proclamar com o salmista: “Eu te agradeço por tão
grande prodígio, e me maravilho com as tuas maravilhas” (Sl. 139,14).
No entanto, frequentemente nos sentimos inclinados a mostrar-nos orgulhosos e agressi-
vos com os outros seres vivos. Nossa cultura científica explica a evolução do homem e
sua composição física e química, mas não explica o sentido interior que possuímos de
nossa existência e nossas experiências de limite, fragilidade e dependência.
Uma reflexão sobre o Sl. 139 pode ajudar-nos a estimar nossa condição de criaturas.
Terceiro ponto: Este sentido de dependência para com outras criaturas da comunidade universal de
vida
nos convida a uma sadia amizade com elas.
Com a palavra “indiferença”, S. Inácio expressa a liberdade que necessitamos para
responder com generosidade, amor e esperança à ação do Espírito Santo em nossas vidas;
trata-se de um estado necessário do ser em nossa relação com todas as criaturas e com
Deus.
A liberdade espiritual constitui uma atitude básica em nossa relação com toda forma de
vida, e representa um desejo profundo de converter-nos em instrumentos da bondade e do
amor da Trindade em nosso universo.
Tudo isto nos situa diante do grande desafio que supõe o Princípio e Fundamento, e nosso
único desejo e nossa única eleição deveria ser unir-nos a toda a Criação para o maior
louvor, reverência e serviço à Trindade.
Quarto ponto: A liberdade inaciana gera respeito e cuidado para com as plantas, os animais, os seres
hu-
manos e os ecossistemas. É a base para gerar uma mudança em nossa atitude, de modo que
desejemos o bem-estar da comunidade de vida e consideremos tudo nela com um dom de
Deus.
S. Inácio não se refere à liberdade necessária para evitar o pecado e as faltas, mas à
liberdade que necessitamos para relacionar-nos de maneira sadia com os diferentes seres e
entes em nosso planeta Terra. É fundamental para adquirir a capacidade de amar e atuar
com o espírito e o coração de Cristo.
Tal liberdade evolui em cada um de nós, à medida que experimentamos o amor da
Trindade e desenvolvemos uma disposição que nos permite reconhecer e desejar tal estado.
“O humano é o ser no qual a Terra se tornou espiritualmente consciente, des-
pertou para a consciência, passou a ter consciência de si, voltando-se para si.
No humano, a Terra começa a refletir sobre si mesma, sobre seu significado,
sobre quem é na verdade. E assim, na nossa mais profunda definição e na nos-
sa mais profunda subjetividade, os humanos são a conscientização da Terra”.
(Miriam Therese MacGillis)
6. Colóquio
Faço um colóquio com as Três Pessoas Divinas. Por ex: “Dou-vos graças por minha
existência e por manter-me em vida”, ou faço uma oração para relacionar-me com os
demais seres do universo, ou peço a Jesus que me conceda seu espírito de
liberdade e amor para com todas as coisas, grandes e pequenas, ou prolongo
minha conversação com as Três Pessoas Divinas.
Termino com a oração que Jesus nos ensinou, à maneira dos maoríes de Nova
Zelândia:
“Espírito Eterno, criador da Terra, redentor da dor, doador de vida, fonte de tudo o que é e
será, Pai e Mãe de todos nós, Deus de amor, para quem a glória de Teu nome ressoa no céu
através de todo o universo!
Que os povos da Terra sigam o caminho de Tua justiça,
Que todo ser criado cumpra Tua vontade celestial,
Que Teu reino de paz e liberdade alimente nossa espe-
rança e desça sobre a terra.
Com o pão que cada dia necessitamos, alimenta-nos.
Pelas ofensas que infligimos uns aos outros, perdoa-nos.
Em tempos de tentações e provas, fortalece-nos.
Das penitências difíceis de superar, exime-nos.
Das garras de todo mal, livra-nos.
Porque reinas na glória do poder que é amor, agora e para sempre. Amém”.
“Ame toda a criação divina, sua totalidade e cada grão de areia nela contido.
Ame cada folha, cada raio da luz divina.
Ame os animais, ame as plantas, ame tudo.
E, se você amar cada coisa, acabará percebendo o mistério divino nas coisas”
(Dostoyevsky)