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Resumo: Este artigo analisa as principais idéias que compõem o pensamento de John Keynes. Além disso, ele faz
apontamentos sobre a aplicação dos postulados “keynesianos” na dinamização das economias locais, principalmente
na expansão da renda através das atividades de exportação e da intervenção do Estado na economia.
Palavras-chave: Keynes; Teoria Econômica; Emprego; Renda; Economia local.
Abstract: This article analyzes the main ideas that compose the John Keynes thought. Moreover, it makes notes on the
application of the Keynesian postulates in the dynamics of the local economies, mainly in the expansion of the income
through the activities of exportation and of the intervention of the State in the economy.
Key words: Keynes; Economic Theory; Employment; Income; Local Economy.
Resumen: Este artículo analiza las ideas principales que componen el pensamiento de John Keynes. Por otra parte,
hace notas sobre el uso de los postulados Keynesianos en la dinámica de las economías locales, principalmente sobre
el crecimiento de la renta, con las actividades de la exportación y con la intervención del estado en la economía.
Palabras clave: Keynes; Teoría Económica; Empleo; Renta; Economía Local.
*
Pesquisador associado do Groupe de recherche et d’interventions régionale (GRIR) da Université du Québec à
Chicoutimi (UQAC) do Canadá, professor adjunto do colegiado de Economia e pesquisador do Grupo de Estudos
e Pesquisas em Desenvolvimento Regional e Agronegócio (GEPEC) da Universidade Estadual do Oeste do Paraná
(UNIOESTE)/Campus de Toledo. (jandir@unioeste.br e jandirbr@yahoo.ca)
**
Professor auxiliar do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). (sinival@uel.br.)
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Revista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 6, N. 10, p. 11-20, Mar. 2005.
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da década de 1930 como um desajuste cíclico próprias pessoas empregadas) para provocar o
de curto-prazo. Para os neoclássicos não afluxo do volume de mão-de-obra e efetiva-
mente ocupado, com a qualificação de que a
eram suas teorias que estavam erradas, mas igualdade para cada unidade individual de tra-
as interferências artificiais, externas ao mer- balho pode ser alterada por combinações entre
cado, que provocavam as crises. O principal as unidades disponíveis para empregar-se,
desvio, segundo eles, era a inflexibilidade dos analogamente às imperfeições da concorrência
que qualificam o primeiro postulado. ( p. 18)
salários provocada pela interferência dos sin-
dicatos no mercado de trabalho e a influên- Keynes preservou o primeiro postula-
cia danosa do Estado no sistema de merca- do e negou o segundo. Segundo a teoria clás-
do. Essa seria a razão do grande número de sica, o excesso de trabalhadores desempre-
desempregados (HUNT & SHERMAN, gados se deve a sua recusa em trabalhar. Os
1977). Frente a estas interpretações, John trabalhadores desempregados não aceitari-
Keynes começa a construir um corpo teóri- am um salário nominal menor, que permiti-
co capaz de destruir as bases dos pressupos- ria às empresas contratar mais mão-de-obra.
Esse argumento comete a falha técni-
tos neoclássicos e infundir um novo modo
ca de subestimar a diferença entre o salário
de entender a economia, a partir de seus
real e o salário nominal. Tanto que o traba-
agregados.
lhador não estaria disposto a abandonar seu
emprego com a alta dos preços, embora te-
1.2. Teoria Keynesiana do emprego
nha resistência a perda do seu poder de com-
pra. Em outras palavras, o trabalhador co-
John Keynes, em um artigo intitulado nhece sua posição relativa no mercado de
“o fim do laissez-faire”, publicado original- trabalho, por isso, tenta preservar seus be-
mente em 1926, já fazia uma série de críticas nefícios em relação às outras categorias de
as doutrinas liberais. No entanto, na sua trabalhadores. Além disso, num período de
principal obra “A Teoria Geral do Emprego, recessão e altas taxas de desemprego, como
do Juro e da Moeda”, publicada original- a de 1929, os trabalhadores demitidos acei-
mente em 1936, são montados os elementos tariam facilmente ganhar menos num novo
de análise que vão questionar os pressupos- emprego para não ficarem desempregados.
tos neoclássicos e gerar uma nova era no pen- Por outro lado, a idéia de flexibilidade
samento econômico. Na “Teoria Geral”, o dos salários (W), junto com os preços, era
economista inglês começa demostrando que um elemento fundamental para os ajustes
o desemprego não é causado pela recusa do no equilíbrio de mercado. Se os salários fos-
trabalhador em aceitar uma redução de salá- sem rígidos, isto é, se não oferecessem modi-
rio. Ele afirma que a taxa de desemprego ficações rápidas no decorrer do tempo, a idéia
pode variar sem que “haja qualquer mudan- do equilíbrio geral da economia no longo-
ça aparente nos salários reais mínimos exigi- prazo ficaria debilitada. Os ajustes rápidos
dos pelo trabalhador ou na sua produtivida- nos salários possibilitariam com que o siste-
de”. (KEYNES, 1970, p. 22). Assim, ele expõe ma buscasse sempre o ponto de equilíbrio no
da seguinte forma os dois postulados clássi- longo-prazo. A idéia da flexibilidade pode
cos sobre o emprego, que vão ser alvos de ser ilustrada com a figura 01.
duras críticas: Pela figura 1, o ponto de equilíbrio se-
I. O salário é igual ao produto marginal. ria aquele em que o salário real (W/P) possi-
Quer dizer que o salário de uma pessoa bilitasse uma interação entre as curvas de
empregada é igual ao valor que se perderia se
o emprego fosse reduzido de uma unidade
oferta de mão-de-obra (Ns) e a demanda de
(depois de feita a dedução dos outros custos mão-de-obra (Nd), a um dado nível de ocu-
que essa redução de produção evitaria), com a pação da mão-de-obra (N). Assim, o ponto
restrição de que a igualdade pode ser alterada, de equilíbrio possibilitava volumes adequa-
de acordo com certos princípios, pela dos de produção e de demanda, ou seja, a
imperfeição da concorrência e dos mercados”.
igualdade entre a oferta e a demanda. Para
II. A utilidade do salário, quando se emprega
dado volume de capital, é igual à desutilidade
qualquer mudança que retirassem a econo-
marginal desse mesmo volume de emprego . mia do ponto de equilíbrio por-se-iam em
Significa isto que o salário real de uma pessoa é ação forças que conduziriam a economia
o que precisamente basta (na opinião das novamente ao equilíbrio (A). Teoricamente,
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W/P
Ns Onde:
N = Nível de
ocupação da
W/P 0
mão-de-obra.
Nd W/P = Salário real.
N Ns = f (W/P)
N0
Nd= f (W/P)-1
Fonte: Keynes, 1970.
estes ajustes somente seriam possíveis com a essa parte de sua renda que ele poupa, assim
como faz com a parte que ele gasta. Diz-se que
idéia da flexibilidade dos salários e preços ele gasta quando procura obter satisfação
(P), já que o W/P é ponderado sobre o nível presente dos serviços e mercadorias que
geral de preços. Com isso, o equilíbrio de lon- adquire. Diz-se que ele poupa quando ele faz
go-prazo com pleno-emprego dos fatores de com que o trabalho e as mercadorias que ele
produção estaria sempre garantido. No en- compra sejam aplicados na produção da riqueza
de que espera derivar os meios de satisfação do
tanto, para Keynes (1970), os salários não futuro. (MARSHALL, 1988, p. 26-27).
eram flexíveis. Ele vai demonstrar essa idéia
Ora, para a teoria clássica está implíci-
a partir dos seus postulados sobre a deter-
to que a renda não gasta por um indivíduo
minação da renda.
será utilizada pelos empresários. Os empre-
sários investirão essa renda poupada pelas
1.3 Considerações sobre a determinação pessoas na compra de mercadorias e na
da renda. contratação de trabalhadores para o aumen-
to da produção. Em compensação, o poupa-
A economia clássica desde David dor espera receber no futuro, o valor poupa-
Ricardo, com exceção de Thomas Malthus, do acrescido de um ganho extra 1. Porém,
aceitava o postulado de Jean B. Say de que a para Keynes (1970), os clássicos enganavam-
oferta cria sua própria demanda. Além dis- se ao pensar que as decisões de abster-se de
so, os clássicos acreditavam que o total dos um consumo imediato, estão ligadas a de
salários pagos no processo de produção era
prover um consumo futuro, quando não
gasto na compra do produto. J. S. Mill (1986),
existe nenhuma relação simples entre elas.
na sua obra “Princípios de Economia Políti-
Admitida a igualdade entre o preço de pro-
ca”, expressa da seguinte forma essa idéia:
cura e da oferta da produção, deduz-se então
Os meios de pagamento das mercadorias são as
próprias mercadorias. O meio de pagamento uma série de hipóteses sobre a taxa de juros,
de cada pessoa pelas produções de outros indi- sobre o equilíbrio entre demanda e oferta de
víduos, consiste daquilo que ela mesma possui. emprego, sobre o papel da moeda no siste-
Todos os vendedores são inevitavelmente, e
ma e as vantagens do laissez-faire. Para com-
pelo significado da palavra, compradores.
(MILL, 1986, p. 104). provar suas hipóteses, Keynes (1970) propo-
Mill (1986) afirmava que qualquer au- rá o princípio da demanda efetiva.
mento de produção leva necessariamente a
um aumento equivalente dos meios de pa- 1.4 O princípio da demanda efetiva
gamento dessa produção. Como corolário a
essa teoria, Marshall (1988) concluirá que a Antes de tratar do princípio da deman-
abstenção individual do consumo leva ine- da efetiva será ocasional definir alguns con-
vitavelmente a um investimento na produ- ceitos: O primeiro é o de custo de fatores, par-
ção de riqueza. ticularmente o custo do emprego da mão-
O Total da renda de um homem é despendido de-obra. O segundo é o custo de uso, ou seja,
na compra de serviços e de mercadorias. De o custo dos bens comprados a outros empre-
fato, diz-se usualmente que um homem gasta endedores mais o custo da utilização do seu
uma parte de sua renda e poupa a outra parte.
Mas é um familiar axioma econômico que um equipamento. Cabe salientar que a diferen-
homem compre trabalho e mercadorias com ça entre o valor da produção resultante e a
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soma dos custos de fatores e de uso, é o lu- ção de oferta global e a função de procura
cro ou a renda do empreendedor. global seriam iguais. Na suposição que “a
Assim, o custo de fatores é a renda dos oferta cria sua própria procura”, então “o
fatores de produção sob a ótica do empre- preço da procura global (ou produto) sem-
endedor. A soma dos custos de fatores mais pre se ajusta a qual for o valor de N, o pro-
o lucro será a renda total resultante do em- duto D adquire um valor igual ao preço da
prego fornecido pelo empreendedor. Do pon- oferta global Z que corresponde a N”.
to de vista do empreendedor, convém algu- (KEYNES, l970, p.37 e 38). Assim, segundo
mas vezes chamar produto de um dado vo- os clássicos, o volume de emprego é
lume de emprego, ao rendimento global (RE) indeterminado, salvo na medida em que a
que ele resulta, ou seja, o custo dos fatores desutilidade marginal do trabalho lhe fixe
mais o lucro. O preço da oferta global dos um limite superior. Se isso fosse verdade, o
produtos resultantes do emprego é a retri- pleno emprego seria facilmente atingido, pois
buição esperada pelo empresário. O preço a concorrência entre os empresários levaria
da oferta total é líquido do custo de uso, este sempre a um aumento do emprego, até que
só será somado ao preço da oferta total, no a oferta global desse, fosse inelástica. Neste
preço pago pelo comprador. ponto, um aumento da procura efetiva não
Dado o estágio da técnica, dos recur- levaria a um aumento da produção.
sos e dos custos de fatores por unidade de Supondo que os salários nominais e
emprego, o volume deste é fixado pelo mon- outros custos permaneçam sem variação
tante que os empresários esperam receber da monetária, quando o emprego aumenta,
correspondente produção, ou seja, eles fixam aumenta também a renda global. Como a
o emprego no ponto de máximo da diferen- propensão marginal a consumir é menor que
ça entre o produto e o custo de fatores. um (1), o consumo aumentaria, mas não na
A figura 2 ilustra esta relação, onde Z mesma proporção do aumento da renda. A
é a oferta global resultante do emprego de diferença entre o produto e o consumo é a
N homens e D é a função de procura global. poupança. A economia estará em equilíbrio
O volume de emprego fica estabelecido no se a poupança for igual ao investimento re-
ponto de intercessão da função da procura alizado pelos empresários. Quanto a isto,
global com a função da oferta global. Neste Keynes (1970) afirma que a justificativa para
ponto que são maximizadas as previsões de a criação de empregos reside na existência
lucro dos empresários. A procura efetiva é de investimentos que absorvam os exceden-
definida como o valor de D no ponto de in- tes de produção, mantendo ou até mesmo
tercessão da função da procura global com aumentando a receita dos empresários, esti-
a da oferta global. No momento que D for mulando-os a oferta de novos postos de tra-
maior que Z há um estímulo para o aumen- balho. Então, dada a propensão marginal a
to do emprego e a produção de novos bens, consumir, os empresários ampliarão ou re-
até o momento em que Z=D. duzirão o emprego, através do nível de in-
Para a doutrina clássica a qualquer vestimento. O incentivo ao investimento de-
volume de produção e de emprego, a fun- pende da relação entre a escala da eficiên-
RE Z
Onde,
D Z= f (N) = oferta global.
R E0 D= f (N) =Demanda global.
RE = Rendimento global.
N= Nível de ocupação da
mão-de-obra.
N
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A taxa de juros é apenas um dos con- 1950 vários trabalhos científicos convergiram
dicionantes do investimento, o outro é o lucro na adaptação dos conceitos keynesianos
esperado do investimento, o que Keynes cha- para explicar a dinâmica da economia regi-
ma de eficiência marginal do capital. Quando onal e urbana. Desses trabalhos, pode-se ci-
o capitalista espera alcançar uma taxa de re- tar os estudos clássicos de North (1956),
torno (em forma de lucro) com o investimen- Hirschman (1964), Isard (1972), Perroux
to em bens de capital, matéria prima e mão- (1982) e Lopes (1987). Conseqüentemente,
de-obra maior do que a taxa de juros, ele cer- essas análises clássicas forneceram elemen-
tamente optará pelo investimento, como tos para a compreensão da dinâmica da eco-
mencionado anteriormente. Keynes (1970, nomia local. Para o caso brasileiro, pode-se
1987a) estabelece então expectativas, basea- citar como referência os estudos de Souza
do nas premissas que os agentes econômicos (1981), Haddad (1989), Rippel e De Lima
formam na tentativa de prever o movimento (1999) e De Lima et all (2004). Esses estudos
das variáveis econômicas, já que o seu ambi- têm como elo comum a aplicação da análise
ente é de incerteza. Num debate, Keynes regional e dos pressupostos keynesianos para
(1987, p.151) afirmaria, que esta taxa de juros interpretar a dinâmica regional do Brasil e
“... equipara as vantagens da posse do di- de algumas regiões ou municípios brasileiros.
nheiro e do direito futuro sobre este”. Esses estudos partem do pressuposto
O investimento flutua por razões dife- que nenhuma região ou economia local é
rentes daquelas que determinam a propen- fechada, ou seja, elas interagem com a es-
são a consumir. Assim, só por coincidência trutura produtiva de outras regiões ou es-
a “brecha” entre o consumo e a renda será paços. Nesse sentido, as economias locais
preenchida pelo investimento. Dada a pro- mantêm uma estrutura de comércio inter-
pensão marginal a consumir (curto prazo), regional para dinamizar sua demanda efe-
o volume de consumo está determinado pelo tiva. Sem contar é claro com a participação
nível de renda. Mas, a renda é determinada do setor público, através da política pública,
pela produção de bens de consumo e de bens visando a expansão do emprego e da renda.
de capital. No entanto, decorre que os empre- Assim, a base produtiva de exportação e os
sários acharão que vale a pena produzir uma investimentos do setor público são elemen-
quantidade de bens de consumo que vai de- tos essenciais na dinamização das economi-
pender da quantidade de bens de capital que as regionais ou locais.
eles estão produzindo. Tomando como exemplo a economia
Portanto, é o montante de investimen- local, no caso da base produtiva de exporta-
to que determina o nível de emprego. E se o ção, ela utiliza as atividades de exportação
emprego e a renda global aumentam, nem ou de base como elemento-chave do seu cres-
todo emprego adicional será requerido para cimento econômico. Nesse sentido, o produ-
satisfazer as necessidades do consumo adici- to agregado local pode ser expresso pela se-
onal. Este aumento do emprego só será van- guinte equação:
tajoso se um novo investimento vier a pre-
Y= I + G + C + (X – M) (01)
encher a nova “brecha”. Daí que Keynes
(1985) admite que a regulação do investimen- Na equação (01), I são os investimen-
to corrente não pode ficar abandonada ape- tos ou gastos dos empresários, G os gastos
nas à iniciativa privada, caso contrário, as do setor público, C o consumo das famílias,
tendências às crises seriam mais freqüentes, X as exportações e M as importações. As-
vinculada um fluxo circular que poderia cau- sim, um aumento nessas variáveis causará
sar até mesmo uma depressão, até o momento uma expansão na renda ou produto da eco-
que um fato novo viesse reverter o processo. nomia, expresso por Y. Por exemplo, uma
expansão nas exportações (X) de um setor
1.6 As idéias de Keynes e o crescimento específico (a) estimulara a oferta de empre-
do produto nas economias locais. gos. Por sua vez, novos postos de trabalho
significam mais salários pagos e um aumen-
A análise keynesiana opera no campo to no consumo das famílias. O acréscimo no
da macroeconomia. No entanto, a partir de consumo das famílias representa um aumen-
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entanto, os dois elementos apresentados fa- amento causando a elevação da carga tri-
zem uma ilustração das possibilidades de butária sobre salários e lucros.
adaptação dos postulados keynesianos em Keynes (1970, 1985) defendia três ti-
escala local. pos de intervenção do Estado na economia:
a política monetária, para controle da taxa
1.7 A crise do keynesianismo de juros, de forma a garantir a eficiência
marginal do capital; a política fiscal, para
A política econômica keynesiana pode intervenção na distribuição de renda, de for-
amenizar as crises do capitalismo, pode re- ma a controlar a propensão marginal a con-
tardar seu surgimento e acelerar sua recu- sumir a poupar e a investir; e por fim, a po-
peração. Porém, a intervenção do Estado tem lítica de gastos públicos, para sustentação da
limites econômicos e políticos, impedindo demanda efetiva. Destarte, a partir da II
que as crises e os ciclos econômicos sejam Guerra Mundial, incorporou-se ao receituá-
eliminados. Mais grave ainda é que as polí- rio keynesiano, o investimento público em
ticas econômicas de que dispõe o Estado ca- empresas estatais, normalmente em setores
pitalista tendem a agravar as contradições menos rentáveis e de um prazo maior para
que levarão a crises mais graves e profun- maturação dos investimentos. Essas empre-
das no futuro. Neste sentido, deve-se ressal- sas normalmente produzem insumos, que
tar as duas maiores contradições da política são vendidos a preços subsidiados às empre-
econômica keynesiana, quais sejam: sas privadas.
Em primeiro lugar, a possibilidade de O conjunto dessas políticas leva ao
o capitalismo manter a economia no pleno crescimento do endividamento do Estado e
emprego é impossível, a menos que sejam a possibilidade de “espiral” inflacionária,
eliminadas as inovações técnicas nos meios quando o financiamento dos gastos públi-
de produção e no processo de trabalho. No cos se dá pela emissão desordenada de moe-
entanto, são essas inovações que permitem da. Assim, a partir de um momento o Esta-
o aumento dos lucros. do já não é mais capaz de continuar finan-
Mesmo que fosse possível a manuten- ciando a acumulação de capital. Nesse mo-
ção do pleno emprego, isso traria sérios pro- mento a própria política keynesiana, passa
blemas aos capitalistas, pois traria um maior ser responsabilizada pela crise. Todos se vol-
poder de barganha aos trabalhadores, para tam contra o Estado esbanjador, como o prin-
obter ganhos de salários reais. Isso faria bai- cipal culpado pelo déficit público, pela in-
xar a taxa de lucro, ou a eficiência marginal flação e pela crise. Nesse momento a crise
do capital, diminuiria os investimentos e a econômica assume também, o conteúdo de
economia poderia entrar em crise. Para não uma crise política de Estado, levando a uma
falar na possibilidade de acirramento da luta reflexão sobre o seu real papel.
pelo poder político entre os trabalhadores e De certa forma, os acontecimentos que
os proprietários dos meios de produção. A se seguiram após a década de 1970, em que
manutenção do pleno emprego, numa eco- a economia mundial mergulhou num pro-
nomia capitalista não só é impossível, como cesso de estagflação, contribuiu para questi-
é indesejável, aos capitalistas. Normalmen- onar os “remédios’ keynesianos na atualida-
te, os curtos períodos onde a economia che- de. Fato que processou a retomada dos
ga próxima ao pleno emprego, apenas pre- paradigmas rechaçados pela “Teoria Geral”
coniza a crise que vem logo a frente. . O retorno dos postulados clássicos, agora
Em segundo lugar, a política de inter- com uma “roupagem” mais moderna, vem
venção do Estado na economia, em favor da de encontro a uma ciência econômica em
acumulação de capital, mais cedo ou mais crise, principalmente frente aos “velhos”
tarde, esbarra no limite da capacidade de problemas, como desemprego e inflação,
financiamento do próprio Estado. De acor- cujas soluções temporárias não tem garanti-
do com Sutcliffe (1979), apesar dos dispên- do o seu extermínio no longo-prazo.
dios do Estado fomentar o consumo de pro-
dutos e realizar a mais-valia gerada no sis-
tema produtivo, as mesmas exigem financi-
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2 Conclusão Referências
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