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Daelry podia ouvir seus próprios passos ecoarem dentro do enorme salão pouco iluminado,

onde Ilidan costumava ficar para planejar seus próximos passos com relação ao seu objetivo. O
salão com seus cantos escuros lhe passava a sensação de que estava sendo vigiada e mesmo o
ar parecia pesado. A energia da magia com a qual Ilidan lidava era sombria, entretanto ela
esperou por aquele dia por anos a fio. Os pés de Ilidan se assemelhavam com os de um bode
na proporção de um corpo élfico, forte e masculino, seu corpo forte e musculoso se esgueirava
pernas acima, ele tinha feridas que mais pareciam tatuagens em seus peito, braços e ombros e
era de um verde que parecia reluzir em sua própria luz. Ele usava uma venda preta nos olhos,
que ele mesmo havia sacrificado para que pudesse usar tamanho poder, era possível ver a luz
verde da magia vil que irradiava de seus olhos sob a venda negra. Os dentes agora mais
parecidos com presas afiadas, ressaltavam no rosto de uma pele levemente azulada que os
Elfos da Noite costumavam ter e esses elfos se auto proclamavam Kaldorei, entretanto, pouco
de seus traços eram aparentes em Ilidan e suas enormes asas demoníacas num roxo que se
misturava num tom vinho, dava a Ilidan uma aparência élfica quase demoníaca. Daelry era
também uma elfa, seu povo quase que em sua maioria havia nascido entre os Elfos da Noite,
aos quais eram parte, entretanto, sua sede por poder havia os levado a praticar magia arcana,
ao contrário dos Elfos da Noite que praticavam a magia da natureza e que, vendo que os elfos
passaram a se tornar viciados em magia arcana e com sede de poder, passaram a condenar o
uso dessa forma de magia. Como seu povo não queria perder o imenso poder que tinham
conquistado com a magia arcana, foram expulsos de sua terra natal e vagaram por anos até
encontrar sua atual terra, a qual chamam Lua Prata.

Embora sendo filha dos mesmos elfos que Ilidan, os anos que ficaram vagando em busca de
uma terra que pudessem chamar de sua, junto com o definhamento por falta do poder arcano,
os agora chamados Elfos de Sangue, perderam as características físicas dos Elfos da Noite, sua
pele era branca, alguns com a pele bem pálida, as orelhas pontudas se erguiam para cima, ao
contrário dos Kaldorei que se erguiam pelas laterais, o corpo mais magro e esbelto e os olhos
inicialmente de um azul profundo. Daelry mantinha a aparência dos Elfos de Sangue, com uma
pele pálida, os olhos azuis lembravam as ondas do oceano sob os raios de sol, o cabelo era
prateado como a lua cheia numa noite clara e o corpo esbelto, aparentemente mais alta que
as mulheres élficas. Daelry nascera com uma ligação forte com seis elfos, cinco deles Elfos de
Sangue, ou Sindorei, como se chamavam e o sexto elfo, por mais estranho que aquilo poderia
parecer naquele momento, estava diante de seus olhos. Ilidan sorriu para ela, enquanto a
observava caminhando lentamente em sua direção, ele se virou para olhar num tipo de
espelho mágico, arredondado e de cor verde, como se estivesse ocupado com alguma coisa. A
magia vil parecia escorrer pelas paredes e isso fazia com que Daelry não prestasse tanta
atenção em Ilidan como gostaria. Ele finalmente disse:

- Até que enfim nos encontramos novamente! Achei que Kael não iria permitir que você viesse,
não a arma de guerra dos elfos. Eu soube muitas coisas sobre você, sei que é a melhor maga
entre eles e que mesmo sem a fonte de poder arcano que vocês evocaram em Lua Prata, onde
todos os elfos não conseguiam mais praticar magia, você era a única que podia ainda usar o
poder arcano retirando-o praticamente do nada.

- Acertou. – disse ela: - Eu retiro o poder arcano do vazio. E por mais que eu tente ensinar o
meu povo a fazer isso, ninguém consegue.

- Simplesmente porque é impossível ou quase. Deve de fato haver algo especial com você,
além de sua ligação comigo.
- Ilidan, eu poderia ter te contado de Lua Prata, sem ter de me mover até aqui, mas usei o
portal que Kael nos deixou para esse planeta. Basicamente, eu não tenho muito tempo, ainda
que o que eu venho te solicitar possa precisar de muito mais tempo do que eu disponho. Um
grupo seleto do meu povo, sob minhas ordens, roubou um Naaru, o qual já conseguimos
extrair toda a magia do sagrado, bem como ele mesmo se sacrificou para fazer com que nossa
fonte arcana, a qual chamamos Nascente do Sol, voltasse a correr por nossas terras. Kael
enlouqueceu e foi proclamado como um inimigo da vida.

- Você está querendo me dizer...

- Eles estão vindo por vocês. Maiev, está sob o comando da sua busca e nós fomos intimados a
limpar a suposta bagunça que Kael deixou.

- Então, você está aqui por amor? Para salvar Kael? – perguntou com um sorriso no canto da
boca.

- Na verdade, não. Kael me ensinou a trabalhar com a vileza. Lorthemar tentou evitar que eu
entrasse em contato com essa magia, mas Kael sabia que eu poderia controlar bem as duas, a
vileza e o arcano. Enquanto eu praticava com alguns elfos bruxos que deram continuidade no
treinamento que Kael iniciou, eu pude vislumbrar algumas coisas.

- Coisas? Que coisas? – perguntou Ilidan se aproximando dela verdadeiramente interessado.

- Ninguém, em nosso mundo natal, pode sentir ou saber que a Legião está vindo contra nós e
que num momento ou outro vai pegar a todos despercebidos, exceto pelos draeneis, da outra
facção inimiga, que perderam seu planeta para a legião, mas que não parecem preocupados
com um ataque ao nosso mundo. Entretanto, eu sei que eles estão se movendo. Acharam que
o mago guardião Medivh estando morto e Guldan, o orc bruxo, desaparecido, estávamos
completamente a salvo desse perigo, sem considerar uma nova invasão, talvez Kadgar saiba de
alguma coisa, mas não se pronunciou. Estão, na verdade, preocupados com o meu povo e toda
a energia vil que Kael deixou em nossa terra natal para nos alimentarmos. Entretanto, meu
querido, eu sei o que você está fazendo aqui e porque está fazendo tudo isso.

Ilidan deu as costas para Daelry e começou a caminhar lentamente, com a cabeça levemente
erguida como se estivesse pensando. Daelry puxou uma cadeira e acendeu um cigarro de ervas
que havia aprendido no tempo em que ficou entre os humanos em sua capital e do qual
adorava fumar especialmente em momentos cruciais ou que a estressava de algum modo. Sem
se virar para ver o que ela estava fazendo, Ilidan disse:

- Kael simplesmente me abandonou, sem me dizer qualquer palavra, embora não abandonou
esse mundo. Quando vocês dois vieram pela primeira vez, eu sabia quem você era e o poder
que você tinha. A superproteção de Kael sobre você não me deixou dúvidas de que minha
intuição estava certa e de que você era a arma dos elfos. Eu sempre quis que você se tornasse
uma caçadora de demônios e sem dúvida seria meu braço direito, mas quando comentei com
Kael sobre isso, ele foi intransigente. Ele sequer me permitiu conversar com você depois disso
e, talvez, pelo medo de Kael perder a sua arma poderosa, você foi trancafiada em Lua Prata,
com a desculpa de que estavam te protegendo da escassez de energia.

- Foi por isso que eu vim. Eu quero que você me ensine e me transforme numa caçadora de
demônios. Mesmo tendo o controle de enorme poder, como tenho, logo que aprendi a ser
uma paladina com o Naaru que tínhamos, podendo então, usar sagrado e arcano, com um
pouco de vileza da arte de bruxaria, eu não tenho poder suficiente para lutar contra a legião.
- Você sabe que não confio facilmente nas pessoas.

- Entretanto, você também sabe que pode confiar em mim para qualquer coisa.

- Eu não entendo o que nos liga.

- Pelo menos estamos certos que não há o que nos separe.

- Se eles te descobrirem terá que fugir para não acabar na prisão.

- Você se importa com isso? – disse ela com um suave sorriso no rosto.

Aproximando-se dela novamente, ele segurou seu queixo entre os dedos e fitou seus olhos,
como que se estivesse buscando por alguma coisa. Ela soprou a fumaça do cigarro no rosto
dele e sorriu, dizendo:

- Se está tentando me assustar, não deu muito certo.

- Eu sei que você é a senhora metamorfa. É estranho te encontrar pessoalmente, saber que
posso confiar minha alma em suas mãos e ao mesmo tempo ter de lidar com toda sua
capacidade mágica e de luta. Uma elfa muito bela que passou toda a sua vida aprendendo a
arte da guerra me soa bastante perigoso, ainda mais com esse poder de sedução que te
envolve. Ao te dar o acesso ao poder vil, pode ser que você se torne uma inimiga muito
perigosa. Mas, se conseguir lidar com o demônio que você se tornará e aplicar meus
ensinamentos, poderá se tornar uma aliada muito poderosa. Essa é a corda bamba na qual eu
me encontro nesse momento. A Legião Ardente irá te querer como aliada tanto quanto eu.

- Se eu enlouquecer ou me tornar um demônio a favor da Legião, me mate prontamente.

- Vou pedir para que preparem um quarto para você e seu amigo. Infelizmente o que você está
prestes a enfrentar não é algo fácil e precisará passar um tempo comigo até que esteja
preparada. Você pode esperar no grande salão, pedirei para que alguém vá busca-la tão logo
seu quarto esteja pronto.

Dalivh acenou afirmativamente com a cabeça e saiu da sala e presença de Ilidan. Tristan a
aguardava do lado de fora encostado no batente de madeira da porta, ele sempre se viu como
um guardião e um discipulo de Dalivh, ainda que fosse outro dos seis elfos com os quais Dalivh
tinha uma ligação anímica. Dalivh o via como um igual, mas ele nunca se sentiu assim, ao
contrário dos outros elfos que tinham a mesma ligação com ela, ele não vinha de uma família
importante ou era um lorde como no caso de Kayn ou mesmo um rei como Kael, ou ainda
Lorthemar o atual lorde regente que foi nomeado por Kael, quando esse decidiu partir para o
mundo de Ilidan para ajuda-lo e conquistar ainda mais poder mágico. Entretanto, desde que
nasceu tinha uma aptidão muito grande com a magia arcana e assim se tornou um dos magos
mais prestigiados de Lua Prata. Não demorou muito tempo para que se transformasse de um
discipulo para um mestre da magia arcana. Seu contato pessoal com Dalivh se deu quando
foram para a terra dos humanos ensinar magia para cem deles. Lá, ele e Dalivh, estreitaram a
relação de amizade e confiança e desde então ele passou a estar do lado de Dalivh na maior
parte de seu tempo, como um guardião. Estava feliz em estar novamente no Templo Negro,
porque gostaria muito de encontrar seu velho amigo Murugo que aceitou a se tornar um
discipulo de Ilidan e consequentemente um Caçador de Demônios, assim como Kayn. Tristan
tinha a pele pálida, o cabelo comprido descia sobre a cintura e parte desse cabelo estava
amarrado num rabo de cavalo para não ficar caindo sobre o rosto, seus olhos eram chamas
verdes, como a maior parte dos Elfos de Sangue que tiveram que se alimentar com a vileza
para não morrer e seu corpo era musculoso e bem definido. Como um mago vestia túnica
comprida que cobriam seus pés na cor prata, com a cintura delineada por um cinto luminoso e
prateado e um enorme cajado de madeira, adornado com pedras preciosas e uma esfera de
luz azul na sua ponta superior era sustentado em sua mão esquerda.

Ao sair pela porta, Dalivh nem o olhou, parecia procurar por algo. Tristan sabia que ela estava
procurando por Kayn, certamente, já que parecia que ela tinha um sentimento maior que
amizade por ele e certamente tal sentimento era correspondido. Entretanto, Kayn e Dalivh
nunca expressaram abertamente tal sentimento, pois que Dalivh e Kael estavam para casar,
até ele enlouquecer. Ele nunca entendeu porque Dalivh aceitou o pedido de namoro de Kael,
quando era aparente sua predileção por Kayn. Sem dizer uma palavra ela se pôs a andar em
direção ao grande salão e Tristan a seguiu prontamente. Ao que entraram no grande salão,
Tristan se sentiu feliz por estar naquele lugar novamente. O grande salão tinha mesas de
madeira escura e pesada, bem como nos cantos havia grupos de mulheres tanto élficas quanto
humanas, que se sentavam em circulo sobre almofadas que sobrepunham tapetes vermelhos,
grandes e redondos, finamente bordados. Alguns Caçadores de Demônios, quanto elfos que
acompanharam Kael e que depois passaram a servir a Ilidan e sua causa, estavam sentados
entre essas mulheres e sendo acariciados e beijados, bem como bebiam alguma bebida
alcóolica em taças de prata e ouro. Ilidan era muito poderoso e conquistou todo aquele
mundo se tornando o senhor supremo de seu próprio reino. Quando soube que Ilidan era o
sexto elfo conectado a Dalivh, ele não pode acreditar que haveria um entre eles que era tão
poderoso quanto ela e tão diferente dos demais, sendo Ilidan um Elfo da Noite. Para ele Ilidan
era o marido perfeito para ela e não Kael a quem ela escolheu, mas não sabia de seus motivos.
Sabia apenas que a ligação anímica de Dalivh com os seis elfos, fazia com que ela tomasse
atitude em prol do destino deles, se colocando quase sempre em último lugar, era como se ela
estivesse lá para servi-los, enquanto todos, menos Ilidan, não conseguiam chegar nem perto
do poder que ela tinha, talvez Kayn fosse o mais próximo dela e de Ilidan. Dalivh, então,
interrompeu seus pensamentos dizendo:

- Lorthemar não faz nem ideia de que eu vim para cá. Entretanto, Ilidan pediu para que eu
ficasse por alguns dias para me preparar para receber a Vileza. Ilidan quer me treinar ele
mesmo. Dessa forma, precisamos encontrar alguma desculpa para o meu sumiço, mas
ninguém deve jamais saber que estivemos aqui. Mantive o silêncio desde que saí da sala de
Ilidan porque eu precisava compreender qual é o meu papel aqui, precisei dar uma olhada no
meu próprio destino. – ela acendeu outro cigarro de ervas e disse em seguida: - Nossos
destinos estão ligados. Lorthemar devia saber disso, mas desde que foi nomeado a Lorde
Regente de Lua Prata, está seguindo o caminho de Kael de uma forma diferente. Sua
preocupação maior é em manter nosso povo em segurança, mas desconhece muito do que nós
sabemos. – Sua face pareceu se tornar triste, ela suspirou dizendo: - Gostaria que Lorthemar
me escutasse um pouco, mas age como se eu fosse sua inimiga.

- O que aconteceu com você e com a gente não é algo fácil de entender, mesmo nós não
sabemos ainda porque nos ligamos, ou porque nossas almas estão ligadas uma a outra.
Lorthemar não é um mago, não buscou pelo conhecimento e sabedoria arcana, ele sempre foi
um homem valoroso e o melhor arqueiro que temos.

- Eu considero as limitações dele, sempre considerei. Ele me aceita como a arma de guerra
deles, mas teme que eu venha a levar nosso povo a destruição, como Kael acabou fazendo.
Podemos não entender o que essa ligação anímica é agora, mas certamente seremos
esclarecidos futuramente. O que realmente me preocupa é que Lorthemar não pode entender
essas coisas, ele está convicto de que Ilidan e Kael são nossos inimigos e que temos que acabar
com eles. Eu concordo quanto a Kael, já que esse se tornou um demônio e não tem mais
nenhum controle sobre o que faz ou deseja. Meu coração dói ao pensar que eu falhei com
Kael. Por outro lado, Ilidan está certo e sei que todos estão vindo para aprisiona-lo novamente.
Eu não posso permitir que isso aconteça. Como você é o mais sábio entre nós, Tristan, peço
que pense em algo que podemos dizer para Lorthemar e todos os outros povos sobre o nosso
sumiço, afim de protegermos Ilidan, Kayn e Murugo.

- Não é um fardo muito grande protege-los, minha senhora?

- Grande ou não é o meu fardo. – Ela olhou fixamente nos olhos de Tristan por um momento e
disse: - Tristan, você tem o dever de ficar ao meu lado nisso.

- Estarei sempre à sua sombra, minha dama.

- Ao meu lado é melhor, Tristan. – ela sorriu e em seguida pareceu novamente mergulhar em
seus pensamentos olhando para a fumaça do cigarro.

Tristan estava preocupado, tinha medo do que poderia acontecer se ela tomasse controle de
mais uma forma de energia e a Vileza era algo realmente assustador, pois que todos podiam
num momento ou noutro perder o controle e se esquecer completamente de seus valores e de
seus desejos mais caros, tornando-se uma marionete dos demônios. Dalivh parecia não se
importar com nada disso, tampouco com a possível guerra civil que crescia em sua própria
terra natal. Alguns ainda se lembravam, como Dalivh, de todas as coisas boas que Kael havia
feito pelo seu povo, de como ele libertou e evitou que todos os elfos que estavam na terra dos
humanos não sofressem um extermínio, todos os melhores guerreiros, magos e paladinos
estavam na terra dos homens e se fossem de fato exterminados como o rei dos humanos na
época estava pretendendo, Lua Prata tomaria uma enorme baixa militar e ficaria certamente
desprotegida e fácil de ser conquistada. Metade do povo gostaria que Dalivh, como sendo a
noiva de Kael, se tornasse a Lady Regente e outro grupo, temendo a ameaça que Kael
simbolizava, bem como sua perdição, estavam a favor de Lorthemar, que era um nobre
arqueiro. Dalivh entretanto, nunca quis governar Lua Prata, como provavelmente nunca quis
de fato se casar com o Príncipe Kael. Talvez por Kayn, talvez por qualquer outra coisa pessoal.
Ela costumava dizer que não podia ficar presa à uma terra quando seu caminho se expandia
para além de outros mundos, talvez na época ela tivesse se referindo a Ilidan, talvez estivesse
se referindo a outra coisa. Dalivh conseguia prever o futuro, não num todo, mas tinha alguns
vislumbres, e talvez, esses vislumbres tivessem feito com que ela agisse como agiu o tempo
todo. O coração de Tristan se acelerou ao ver Kayn se aproximando da mesa deles,
instantaneamente Dalivh olhou para Kayn como se tivesse sentido sua presença.

Dalivh se levantou ficando voltada para o lugar de onde Kayn vinha. Não podia acreditar que
estava o vendo novamente depois de tanto tempo. Kayn vestia uma venda preta nos olhos,
pela qual era possível ainda ver o fogo verde da vileza queimando em seus olhos, ele tinha um
par de chifres, como um demônio e seus chifres eram grandes e curvados, escuros como a
noite, ainda possuía a beleza e perfeição dos Elfos de Sangue nos traços de seu rosto, tendo
uma aparência muito bonita e sedutora. Seus peitos estavam à mostra, e tatuagens tribais se
desenhavam num verde gritante, demonstrando o poder vil que corria em suas veias. Ele
segurava uma arma de haste em cada mão, com ambas as pontas com gume. Vestia uma calça
verde de aparência militar e botas que se erguiam até a baixo do joelho. Ao ver Dalivh ele
sorriu, não esperava que fosse ela, Ilidan havia pedido apenas que levasse uma elfa e um elfo,
que eram seus convidados, para seus aposentos, mas nada disse sobre quem esses elfos eram.
Talvez quisesse lhe fazer uma surpresa, já que sempre esteve consciente da saudade que Kayn
sentia de Dalivh. Ao aproximar-se dela, ela segurou seu rosto com ambas as mãos, dizendo:

- Seguro minhas lágrimas pela alegria que sinto ao te ver, Kayn.

Ele a abraçou, sussurrando em seu ouvido:

- Eu prometi a Ilidan que sacrificaria tudo para salvar o nosso mundo, entretanto, sei que
minto quando penso em você. Você é minha fraqueza, mas não posso sacrificar o que sinto por
você.

- Tristan ficará me perguntando sobre nós novamente. – Sussurrou ela em seu ouvido.

Pegando-a de surpresa, Kayn beijou sua boca, Dalivh tentou se afastar e quanto mais tentava,
mais Kayn a prendia contra seu próprio corpo, quando Dalivh deixou de lutar, entregou-se ao
beijo. Tristan arregalou os olhos surpreso, finalmente suas dúvidas estavam sanadas, eles eram
de fato amantes. Após o beijo, Kayn se afastou gargalhando com sua voz rouca e virou-se para
Tristan o cumprimentando. Em seguida disse:

- Venham, preciso leva-los aos seus aposentos rapidamente porque eu tenho uma missão para
cumprir ainda hoje. – Segurando suavemente a mão de Dalivh, continuou: - Ilidan me disse que
ficarei livre nos próximos dias, pois ele quer que eu te acompanhe e te ensine algumas coisas.

- Tudo bem. – Disse ela.

Os dois seguiram Kayn pelos corredores até o aposento.

* * *

- Lorthemar, meu lorde. – Disse Livian se curvando e continuou: - Recebi um recado de que o
senhor queria me ver com urgência.

- Livian, é bom vê-lo. Eu preciso ter cautelas com as minhas decisões, então não é algo que eu
posso decidir nesse momento, mas quero que saiba que é meu desejo que você se torne
guardião de Dalivh ao invés de Tristan. Mas, não foi para isso que eu te chamei. Não vejo
Dalivh e Tristan há dois dias, ao enviar alguns de meus guardas para procura-los, descobri que
eles não estão em Lua Prata e não faço ideia de onde estão. Magos como você serão de grande
ajuda para me ajudar a encontra-los.

- Eles fizeram algo de errado, senhor?

- Na verdade não e por isso que eu tenho que ser bastante cauteloso para que eu não incite
uma guerra civil. A questão é que não posso confiar completamente em Dalivh depois de tudo
o que ela passou com Kael. Nenhum de nós pode dizer o quanto ela esteve de acordo com
tudo o que Kael fez, sempre que conversamos a respeito ela o defende dizendo que ele
fracassou como mago, deixando ser levado pela influência demoníaca da magia vil. Eu mesmo
me vejo num beco sem saída, porque eu e Kael éramos muito próximos e parte de tudo o que
Kael fez de bom para o nosso povo eu pude presenciar. Mas, fizemos um acordo com a Horda,
a facção que nos acolheu e que luta pelo bem de toda Horda, inclusive nós. É um aliado
poderoso que não podemos perder. Essa mesma Horda está caçando Ilidan Tempesfúria, esse
que Kael acabou se comprometendo e que ensinou a Kael usar como uma fonte de energia
para que nosso povo não morresse. Isso significa que ainda não somos de confiança para essa
facção ao qual fazemos parte, porque previamente nos aliamos aos inimigos deles. Os orcs
tiveram contato com a magia vil e pagaram caro por isso, criando um grande inimigo da vida,
um orc bruxo chamado Guldan. Ilidan também é um inimigo e estamos sendo pressionados,
nós teremos que ir para Shata, o mundo que agora é governado por Ilidan e matar Kael, em
primeiro lugar. O que me preocupa é que tão logo eu dei essa notícia para Dalivh, ela sumiu.

- Acha que ela foi se encontrar com Kael?

- De tudo o que eu posso sentir dela... – fez uma rápida pausa e continuou: - Minha intuição diz
que não, que ela não foi se encontrar com Kael, mas acho que não está colaborando com Lua
Prata.

- Isso quer dizer que o senhor desconfia que Tristan esteja aliciando-a?

- Não. Tristan tem uma personalidade forte e valores fixos. Não sei onde eles estão, se estão
em perigo ou se estão simplesmente se divertindo, ou se têm algum plano do qual eu não
estou ciente. Não posso afirmar nada, apenas me preocupo. Dalivh é conhecida como a “arma
dos elfos”, há um motivo para isso. Minha desconfiança parte porque ela aceitou de bom
grado a parceria que Kael fez com Ilidan. Nossos magos não conseguirão detê-la se ela investir
de fato contra a gente. Na guerra contra os Trolls Amani, foi Dalivh que decidiu a guerra, ela
me salvou das mãos do chefe deles Zuljin, gravemente ferido e por isso eu certamente devo
minha vida à ela. Entretanto, meus assuntos pessoais não podem interferir em meu desejo
maior de manter nosso povo em paz e protegidos. Ás vezes, meus sentimentos gritam junto
com a voz de Kael que dizia que nosso povo nunca foi tratado com justiça. A Horda ainda
desconfia da gente e para manter-nos protegidos com aliado tão forte como a Horda, nós
ainda precisamos provar que o que pensam sobre a gente é um equívoco.

- Meu senhor, me desculpe em opinar, mas acho que o que eu penso será algo que terá que
enfrentar logo. Do pouco que eu pude presenciar, Tristan viveu muito mais disso do que eu,
Ilidan nunca foi nosso inimigo, mas sim nosso aliado. Eu sei que é esquisito dizer isso, já que
dez porcento do nosso povo abandonaram nossa terra, pois se negavam a se alimentar da
energia vil que Kael nos trouxe, noventa porcento não definharam e morreram pela ajuda que
Kael recebeu de Ilidan. Sei que mais tarde percebemos que novamente estávamos atraindo a
Legião Ardente por causa de nossas práticas mágicas com o arcano e posteriormente com a
Vileza, e com isso nossa destruição, mas quando nossa Nascente do Sol foi destruída pelo Rei
Lich, Kael tomou medidas desesperadas para que vivêssemos. É difícil, entretanto, me julgar
um traidor ou digno de desconfiança, quando em nosso momento de maior necessidade,
apenas Ilidan propôs nos ajudar.

- Eu entendo bem o que está me dizendo e admito que esse também é o meu sentimento.
Mas, quando fui convidado a participar de um conselho em Orgrimar, a capital dos Orcs, eu
pude conhecer Maiev. Ela manteve Illidan preso por dez mil anos e ele conseguiu escapar,
dominando Shata em seguida e criando um grande exército. Fui informado de que na verdade
ele está planejando ajudar a Legião Ardente para dominar o nosso mundo e isso, de fato, não
pode acontecer. Recuso-me convictamente a me tornar um escravo de qualquer povo ou
homem ou elfo. Recuso-me a terminar controlado como Kael. Não posso colocar em risco
nossa liberdade e meu dever para com nosso povo, nem por Dalivh a quem devo a vida.
Também não posso permitir que Dalivh seja corrompida como Kael, porque eu já a vi lutando
muitas vezes e sei que seu título de “arma dos elfos” é pouco para descrever o quão poderosa
e mortal ela é. Por isso quero que você tenha sempre em mente que a proteção de Dalivh é
nossa prioridade e que não podemos perde-la para Ilidan ou qualquer outro. Ficaremos ainda
mais vulneráveis sem Dalivh entre nós. Rastreie o paradeiro de Dalivh e Tristan, é uma ordem.

- Sim, senhor. Reunirei nossos melhores magos, tanto os peritos em rastreamento, quanto os
peritos em portais dimensionais.

Lorthemar ficou olhando enquanto Livian deixava, acreditando estar sozinho, balbuciou:

- Nenhum rei reinará novamente em Queltalas.

- Falando sozinho, meu bem? – Disse Lavínia se aproximando dele: - Você parece cansado!

- Não sabia que estava ainda na Torre Solfúria, Lavínia. – Ele disse virando-se para ela e
consequentemente admirando sua beleza.

Lavínia era uma maga e apaixonada por Lorthemar, era de uma beleza sem igual. Seus cabelos
loiros caiam sobre sua cintura perfeita, o vestido deixava a mostra parte de seus fartos seios,
seus lábios eram avermelhados como o pôr-do-sol, sua pele branca contrastava com seus
olhos verdes. Suas linhas faciais perfeitas, a fazia parecer uma deusa iluminada com a luz do
sol. Lorthemar a namorava por alguns anos, mas devido ao seu cargo de Lorde Regente de
Queltalas e sua voz que era sinônimo de todas as vozes de Lua Prata, fez com ele adiasse seus
planos de casamento. Lorthemar era alto e forte, seu cabelo prateado caia sobre sua cintura,
ele usava um tapa-olho, pois havia perdido seu olho esquerdo numa batalha há muito tempo
atrás, e mesmo assim não havia danificado sua beleza. Lorthemar ainda conseguia inspirar em
seu povo o dever e a nobreza. Passando os braços ao redor da cintura de Lorthemar, Lavínia
disse:

- Sei que isso parece bobeira minha, mas às vezes acho que você pensa mais em Dalivh do que
em mim.

- Não é nada disso, meu bem. – Disse ele dando um beijo em seu rosto: - Há momentos em
que penso na minha posição. Eu disse ao povo de Queltalas que um rei jamais reinará
novamente e que nossa política tinha que mudar devido a loucura de Kael. Mas, é como se a
sombra de Kael me perseguisse. Quando entro nessa torre, não posso desviar o pensamento
de que ela foi construída e consequentemente, governada pelos Solfúria e Kael. É como se
Kayn Solfúria também estivesse de certa forma me vigiando. Dalivh é a sombra encarnada,
logo que ela estava noiva de Kael e tinha uma relação de amizade com Kayn e
consequentemente todos os Solfúria. Não apenas isso, eu tenho que lidar com a resistência de
nosso povo, aqueles que desejam que Dalivh seja a Rainha de Queltalas. Dizer que Kael nos
traiu e que Ilidan é um inimigo e não um aliado, faz com que os ânimos fiquem exaltados.
Tenho colocado foco na reconstrução de nossa terra, bem como na esperança de um futuro
próspero, resgatarmos a Nascente do Sol foi um grande passo, mas tudo ainda está muito
fresco na memória do nosso povo. Minha ligação com Sylvanas, a Rainha dos Renegados, os
mortos-vivos, também tem sido objeto de muito questionamento. A diferença entre eu e Kael
é que eu estou apontando a direção correta a seguir, enquanto Kael tentou os tirar da beira da
morte. Tudo isso pesa na balança.

- Você devia tirar umas férias.

- Eu não posso. Tenho que cumprir meu acordo com Sylvanas. Tenho que indicar os melhores
homens na caça ao Kael, tenho que lidar com Dalivh que pediu para que fosse junto de nossos
melhores homens para Shata, para matar Kael.
- Por que se preocupa tanto com Dalivh, ela não tem nenhum poder e você é o Lorde Regente.

- Gostaria que fosse assim simples. Infelizmente não temos nenhuma prova concreta de que
Dalivh está nos traindo junto com Kael, muito pelo contrário, no conselho ela mesma pediu
para que fosse matar Kael junto com o grupo. Um destino cruel para Kael, mas ele não nos
deixou escolhas.

- Eu tenho certeza de que você encontrará um meio de ficar em paz com o nosso passado.
Preciso ir agora, tenho que rastrear Dalivh a pedido de nosso Lorde Regente. – Ela sorriu e
beijou sua face deixando-o sozinho.

* * *

Naquela manhã, Tristan resolveu subir no terraço do Templo Negro, onde os mais notáveis
caçadores de demônios, costumavam ficar para treinar. Era uma manhã morna e observar os
caçadores de demônios era uma distração interessante para quem estava entediado como ele,
que havia ficado só e preocupado, depois que Kayn levou Dalivh para seu treinamento. Um
caçador de demônios em particular chamou sua atenção. Ele usava uma venda bege, mas
diferente da maioria, o esverdeado fogo vil não estava aparente sob a venda, seu cabelo
dourado caia em torno de seu dorso, com uma parte amarrada em rabo de cavalo, assim como
o penteado de Tristan. As cicatrizes de seu corpo pareciam moldar uma tatuagem tribal que
descia pelos seus braços até suas mãos, suas glaives estavam presas as costas e ele observava
o treinamento de seus companheiros atentamente sentado no chão. Embora estivesse quase
certo de que era Murugo, Tristan receava estar confundindo-o. Talvez pela observação atenta
de Tristan, Murugo olhou para ele, não acreditando no que seus olhos mostravam, seu velho
amigo estava o observando. Murugo se levantou e foi em direção de Tristan, perguntando:

- O que você está fazendo aqui?

- Vim acompanhar Dalivh. – Sem pensar muito, ele se lançou diante de Murugo e o abraçou,
dizendo: - É muito bom poder te ver novamente, meu velho amigo!

- Dalivh está com Kayn?

- Sim. Ilidan pediu para que Kayn a treinasse.

- Entendo. – Disse Murugo pensativo.

- Não acredito que ainda está magoado com Dalivh.

- Não tem como ser diferente depois do que ela me fez passar.

- Muitas das ações de Dalivh não parecem fazer qualquer sentido. Mas, sendo seu guardião
por todos esses anos, eu passei a compreender como funciona a mente dela. Tenho certeza
que o que ela fez para você foi em prol de um bem maior.
- Foi em prol do bem de Kayn. – Disse nervoso: - Mas, isso não importa. Como estão as coisas
em Lua Prata?

- Bem, Lorthemar está fazendo mudanças drásticas e, por isso, tendo de enfrentar uma
resistência. Conseguimos recuperar a Nascente do Sol e a lei de que nenhum rei reinará
Queltalas novamente entrou em vigor desde que Kael enlouqueceu. Dalivh está sob proteção e
não pode fazer qualquer coisa sem relatar a Lorthemar.

- Não acredito que Lorthemar fez isso a ela.

- Fez, infelizmente. Praticamente Dalivh é uma prisioneira política dentro de sua própria terra.
Embora ela participe do conselho e das decisões políticas, tudo isso é figurativo, na verdade,
Lorthemar a aprisionou à céu aberto e todos os seus movimentos devem ser reportados a ele.

- Então, Lorthemar sabe que vocês estão aqui?

- Não. Se souber que viemos visitar Ilidan, talvez sejamos condenados à morte.

- Você tem uma carreira promissora no Conselho dos Magos, por que está sacrificando isso por
Dalivh?

- Durante todo esse tempo eu percebi que Dalivh se sacrificou muitas vezes, por você, por
Lorthemar, por Kael e Kayn e mesmo por Ilidan. Todos vocês, sem exceção, fizeram o que bem
entendiam, muitas vezes com a ajuda dela, sem nunca pararem para pensar por um segundo,
naquilo que ela queria ou precisava. Ela pareceu nunca se importar com suas atitudes, mas eu
notei. Eu notei que Kael nunca se perguntou sobre como Ilidan sabia que ele precisava de
ajuda quando Kael percebeu que os humanos estavam lançando os elfos numa armadilha para
aniquila-los. Entretanto, dentro da prisão para magos, onde nenhum deles conseguiram
escapar, inclusive ela, usou da energia que não tinha, quase ao ponto da morte, para se
comunicar com Ilidan e pedir ajuda. Ou quando mesmo desejando que Kayn ficasse ao seu
lado, ela abriu um portal na terra dos Trolls Amani, nossos inimigos, para que Kayn pudesse vir
em segurança para Shata. Ou quando você desapareceu e ela ficou por dias acordada tentando
te rastrear para te resgatar. Ou mesmo agora, em que está se colocando em risco para se
tornar uma Ilidari assim como você e Kayn, sem saber se poderá voltar para casa ou não, para
ajudar a Ilidan que está novamente sendo caçado. Ou mesmo aguentando a ousadia de
Lorthemar que está a mantendo em cativeiro. Quando disse a ela que ela poderia ser rainha e
não prisioneira, ela me disse que temos de apoiar Lorthemar em tudo, mesmo que aquilo
significasse um sacrifício da própria liberdade. Eu senti que era meu dever tornar a vida dela
mais fácil, mostrar para ela que eu me importo quando nenhum de vocês fazem isso. Eu
preciso dar a Dalivh o que vocês nunca deram.

- Não me faça me sentir culpado. Eu tive que sacrificar tudo para me tornar no que sou agora.

- Ela se sacrificou muito mais para você se tornar o que é agora. Ela evitou que você e Kayn
fossem caçados, criando provas quase concretas de que vocês dois estavam mortos. Ela sabe
que você e Kayn vão ajudar a Ilidan em tudo e que Ilidan também se preocupa com vocês, mas
que não mede esforços ou sacrifícios para chegar em seu objetivo. Ela está tentando se
preparar para o que ela vê do futuro, coisa que nós não sabemos e que talvez ela nunca diga.
Por favor, meu amigo, pare de puni-la. Ela ficará feliz em te ver.

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