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UNIDADE 03

AULA 02- Projeto Terapêutico Singular como instrumento para efetivação


do Trabalho Interprofissional e Colaborativo na RAPS

Agora que já nos aprofundamos sobre a RAPS e conhecemos os conceitos


teórico-metodológicos relacionados ao Trabalho Interprofissional e colaborativo,
nesta aula iremos refletir como promover estratégias que potencializem este
cenário.

✓ Como você visualiza a RAPS do seu município?


✓ Você sente que seu serviço atua de forma corresponsável no cuidado dos
usuários da RAPS?
✓ Já vivenciou experiências exitosas que foram facilitadas pela articulação
com outros serviços da RAPS?

O cuidado em saúde mental sob a perspectiva da integralidade insere a


necessidade de diferentes abordagens que visualize todas as dimensões da vida do
usuário, contextualizando o adoecimento dentro do seu contexto e não como
centralidade. Essa posição é coerente com a base teórica para a reorientação do
modelo de atenção que afirma a concepção de saúde como processo e não como
ausência de doença, na perspectiva de produção de qualidade de vida, enfatizando
ações integrais e de promoção de saúde (SILVA; FONSECA, 2005).

Neste sentido, além do trabalho articulado dentro das equipes, torna-se


imprescindível a integração entre os profissionais dos diferentes serviços, para
que seja garantido uma assistência resolutiva. Atualmente, a demanda de cuidado
não se restringe apenas a minimizar riscos de internação ou controlar sintomas,
mas envolve também questões individuais, sociais, emocionais e financeiras,
relacionadas à convivência com o adoecimento mental (CARDOSO; GALERA,
2011).

O campo psicossocial tem como pressuposto a superação da rigidez da


especificidade profissional e flexibilidade para gerar o cuidado compatível com a
necessidade do usuário, a partir da ação integrada da equipe de saúde, acolhedora,
cooperativa, não hierarquizada, reflexiva e colaborativa no sentido de oferecer ao
usuário um cuidado compatível com o viver digno, em liberdade, no seu contexto
familiar e de vínculos (SILVA; FONSECA, 2005).

Muitas vezes os serviços se limitam a seus procedimentos específicos e não


visualizam o seu papel de corresponsabilidade do cuidado depois que o usuário
sai pela sua porta. O cuidado em rede veio para reafirmar que a abordagem em
saúde não pode ser fragmentada, mas continuada através da comunicação e
articulação.

Um dos principais elementos do Trabalho Interprofissional e Colaborativo


que tem caráter decisivo no fortalecimento da RAPS é a comunicação. Entre os
profissionais, entre os pontos de atenção, entre profissionais/usuários/famílias.
Nenhum outro passo para a articulação pode ser dado se não existir uma
comunicação eficiente.

A comunicação é essencial no trabalho em equipe, na perspectiva


interprofissional, visto que a interação dos profissionais e das ações, bem como a
integração dos saberes, ocorre mediada simbolicamente pela linguagem. É por
meio desta que os membros da equipe podem trocar informações, questionar, bem
como estabelecer consenso no intuito de construir um projeto comum visando ao
atendimento aos usuários (ARAÚJO e ROCHA, 2007).
Para Habermas (1989), a comunicação é uma prática necessária para a
interação entre os sujeitos, de forma que os atores sofrem influência,
simultaneamente, no mundo objetivo, que seria o físico; no mundo social,
referente às normas socioculturais e no mundo subjetivo, que diz respeito ao
interior de cada sujeito. Segundo a perspectiva Habermasiana, a comunicação,
como forma de expressão, não pode ser imposta, mas argumentada. A ação
comunicativa promove a construção de um agir democrático em saúde, através de
ações concretas numa dinâmica de interação entre todos os agentes envolvidos
(HABERMAS, 2012).
Uma estratégia, que enfatizaremos, que materializa a perspectiva do
Trabalho Interprofissional e Colaborativo no canário da RAPS é o Projeto
Terapêutico Singular (PTS), que é um recurso da clínica ampliada e da
humanização em saúde.

Para entender melhor, Silva et al (2016) define que o PTS pode ser
compreendido como uma tecnologia para a gestão do cuidado e sua nomenclatura
traduz seu objetivo: Um Projeto, pois se refere a uma construção inacabada,
aberta a provisoriedade e reconfigurações. Terapêutico, uma vez que
experimenta o cuidado como uma construção de sentidos de práticas de saúde.
Singular, porque se refere ao sujeito/família.

Carvalho e Cunha (2006) esclarecem que o uso do termo “singular” em


substituição a “individual”, que já foi muito utilizado, baseia-se na premissa de
que é fundamental levar em consideração não só o indivíduo, mas todo o seu
contexto social.

O PTS é uma ferramenta que auxilia o planejamento, organização e


acompanhamento das ações de cuidado, principalmente em casos que requisitam
o desenvolvimento de várias ações ou alternativas terapêuticas, que podem ser
feitas simultaneamente ou de modo escalonado, facilitando a articulação entre
diferentes profissionais na abordagem do mesmo usuário. Os projetos podem ser
familiares, coletivos e até territoriais.

Esta organização leva ao aumento da eficácia dos tratamentos, pois, a


ampliação da comunicação traz o fortalecimento dos vínculos e o aumento da
corresponsabilização, propondo a utilização das reuniões de equipe como um
espaço coletivo sistemático de encontro, reflexão, discussão e compartilhamento,
com a horizontalização dos poderes e conhecimentos (CAMPOS, 2003).

Sua construção exige a presença e colaboração de sujeitos comprometidos


com propostas e condutas terapêuticas articuladas, envolvendo quatro pilares:
hipótese diagnóstica, definição de metas, divisão de responsabilidades e
reavaliação (BRASIL, 2008):

O diagnóstico
Deverá conter uma avaliação orgânica, psicológica e social, que possibilite
uma conclusão a respeito dos riscos e da vulnerabilidade do usuário. Deve
tentar captar como o Sujeito singular se produz diante de forças como as
doenças, os desejos e os interesses, assim como também o trabalho, a
cultura, a família e a rede social. Ou seja, tentar entender o que o Sujeito
faz de tudo que fizeram dele.
Definição de metas
Após os diagnósticos, a equipe planejará propostas de curto, médio e longo
prazo, que serão negociadas com o Sujeito pelo membro da equipe que
tiver um vínculo melhor.
Divisão de responsabilidades
é importante definir as tarefas de cada um com clareza. Além disso,
estabelecer que o profissional com melhor vínculo com o usuário seja a
pessoa de referência para o caso favorece a dinâmica de continuidade no
processo de cuidado.
Reavaliação
Momento em que se discutirá a evolução e se farão as devidas correções
de rumo.

Como podemos perceber, o PTS é elaborado segundo as necessidades de


saúde de cada usuário, considerando seu modo particular de compreender a vida,
construindo-se numa articulação democrática e horizontal entre a tríade:
trabalhadores/pacientes/família. A participação ativa do usuário em sua
construção, gera autonomia e maior protagonismo, incentivando a
corresponsabilização nos objetivos.
O Sujeito deve ser compreendido enquanto construção permanente e à
equipe cabe exercitar uma abertura para o imprevisível, pois nas situações em que
só se enxergava certezas, podem-se ver possibilidades, onde se enxergava apenas
igualdades, podem-se encontrar grandes diferenças, onde havia pouco o que fazer,
pode-se encontrar muito trabalho com o PTS.

Como você avalia a comunicação entre sua equipe e demais serviços da RAPS?

✓ Já participou da construção de algum PTS?

As discussões sobre essa temática não foram esgotadas, mas o objetivo


desde curso é despertar sobre a importância da articulação entre cada profissional
que faz parte da RAPS. Somente uma rede integrada é capaz de promover um
cuidado que responda as reais necessidades dos usuários.

O grande diferencial do Trabalho Interprofissional e Colaborativo é a


intencionalidade de desenvolver competências capazes de subsidiar práticas em
saúde mais integrais e resolutivas. Com esta unidade finalizamos nosso curso, mas
percebemos que o tema é bastante complexo e exige ainda mais aprofundamento.

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