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UNIDADE 02

AULA 2 - Conceito de Trabalho Interprofissional em Saúde: uma breve


incursão

É extremamente provável que em algum momento de nossas experiências


profissionais, tenhamos escutado algumas expressões:

✓ E trabalho interprofissional? Prática colaborativa?

✓ Já ouviu antes ou são novas para você?

Visitar esses conceitos é um exercício interessante para perceber a


intencionalidade de assegurar profissionais que reconheçam a importância do
efetivo trabalho em equipe para melhorar a qualidade da atenção à saúde
O trabalho em equipe surge como necessária (re)configuração, enquanto
instrumento para a efetividade dos serviços de saúde, e consequente consolidação
e fortalecimento do Sistema Único de Saúde, visto que as novas formas de
organização dos serviços de saúde envolvem o desenvolvimento de novas práticas
clínicas baseadas em colaboração (PEDUZZI et al, 2016).
Entretanto, a continuidade da divisão por categorias e a hierarquização
ainda presente nas equipes dificultam a articulação entre os profissionais e
transformam esse espaço de produção de saúde potencial num espaço de
desavenças, lutas corporativas e de desqualificação do outro (BONALDI et al.,
2007).
Mediante a visualização da fragmentação ainda prevalente entre as ações
de saúde, que permanecem em práticas individualizadas em muitas realidades,
novas configurações de trabalho em equipe estão sendo discutidas. Esses debates
buscam promover reflexões e mudanças frente às características do processo de
interação entre os profissionais atuantes nos dispositivos de saúde e dos aspectos
que influenciam no trabalho cooperado.
Para um maior aprofundamento, existe a necessidade de maior
esclarecimento conceitual para melhor compreensão das discussões que
permeiam essa temática, visto que a perspectiva que se vislumbra atualmente
busca um pensamento mais avançado e abrangente, bem como a literatura aponta
uma ausência de consenso na especificação de termos.
Existe uma comum utilização da expressão “multiprofissional” para
designar o trabalho enquanto coletivo, em que os profissionais possuem
conhecimentos e práticas específicas mediante um objetivo em comum. Mas,
tornou-se necessária a busca por termos que colocassem em evidência, com mais
clareza, a importância da interação e cooperação necessária entre os profissionais
(COSTA, 2014).
De forma frequentemente os termos citados no início desta unidade são
tomados como equivalentes de forma equivocada, tornando imprescindível
discutir sobre essas definições de maneira clara, afim de promover um maior
conhecimento e consequente viabilidade para a execução na prática (PEDUZZI,
2007).
Na definição de Trabalho Interprofissional podemos identificar as seguintes
caraterísticas:

Assegura a efetividade da interação, sendo identificado pela


colaboração, respeito mútuo e confiança, no reconhecimento dos diferentes
profissionais, com interdependência e complementaridade dos conhecimentos
e ações (SILVA, 2014).

Permite a articulação entre práticas distintas através da boa


comunicação, coesão, flexibilidade, gerenciamento de conflitos e
compartilhamento da responsabilização nas tomadas de decisões (COSTA,
2014).
O trabalho interprofissional está relacionado à articulação entre
profissionais de uma equipe e equipes de diferentes serviços, direcionando a
organização do cuidado em saúde para novas práticas clínicas que promovam a
integração das ações, bem como a consolidação de redes de cuidado entre a
atenção primária, secundária e terciária. Trata-se de uma característica da “equipe
integração” (PEDUZZI, 2001) engrenadas por alguns aspectos como: respeito
mútuo e confiança, reconhecimento do papel profissional das diferentes áreas,
interdependência e complementaridade dos saberes e ações (D’AMOUR et al,
2008).
D’Amour e Oandasan (2005 apud D’amour, 2008) definem que as equipes
interprofissionais são constituídas por duas ou mais categorias profissionais que
compartilham conhecimentos e práticas para o planejamento, bem como execução
de ações no seu contexto de trabalho. Outras definições encontradas na literatura,
trazem que o termo se relaciona ao processo pelo qual os profissionais
desenvolvem reflexões e práticas que forneçam uma resposta integrada e coerente
com as necessidades do usuário, sua família e comunidade, envolvendo uma
interação longitudinal e a partilha de conhecimentos entre os profissionais, a fim
de resolver o cuidado contínuo, buscando estimular a participação do usuário
(ROCHA et al, 2016).
A literatura internacional traz evidências do impacto da prática
interprofissional colaborativa na atenção à saúde melhorando os resultados do
cuidado, principalmente no que se refere à segurança na assistência e satisfação
do usuário. Também se evidencia o impacto positivo nos próprios profissionais,
que relatam maior satisfação no ambiente de trabalho (PEDUZZI, LEONELLO e
CIAMPONE, 2016).
Alguns grupos internacionais canadenses e norte-americanos
desenvolveram um conjunto de competências para a prática colaborativa
interprofissional, a fim de suprir limitações na formação em saúde. O
grupo Canadian Interprofessional Health Collaborative (CIHC), estabeleceu seis
domínios de competências essenciais para a prática interprofissional colaborativa:
comunicação interprofissional; cuidado centrado no paciente, cliente, família e
comunidade; clarificação de papéis profissionais; dinâmica de funcionamento da
equipe; resolução de conflitos interprofissionais e liderança colaborativa (CIHC,
2010).
É necessário que os profissionais de saúde reconheçam a importância de se
trabalhar de maneira conjunta e estejam aptos a atuar mediante o reconhecimento
da importância da interação e complementaridade de diferentes olhares, e da
corresponsabilização em todos os aspectos do cuidado.
Vejamos agora duas cenas que enunciam diferentes conformações de
equipes:

Cena 01:
Em uma sala do CAPS AD, a coordenadora do serviço reúne os profissionais médico,
enfermeiro, psicólogo e assistente social para discutir o caso de João.
Coordenadora: Pessoal, precisamos ver o que podemos fazer para ajudar João. Sua mãe me ligou
dizendo que o mesmo não está conseguindo nem se alimentar.
Médico: Infelizmente não poderei ficar para a conversa, tenho muitos atendimentos para
realizar. Peça que ele venha que faço sua consulta.
Enfermeira: Quando ele for avaliado, eu explico como ele vai ter que tomar a medicação.
Psicólogo: Não conheço esse caso, vocês poderiam me explicar?
Enfermeira: Ah! Depois da consulta você pode conversar com ele.
Nesse momento todos saem e se dirigem cada um para sua respectiva sala.
Cena 2
Na sala da enfermeira, entra a agente comunitária de saúde:
ACS: Enfermeira, precisamos sentar para discutir o caso de adolescente Mariana, ela está cada
vez pior da depressão e agora não quer mais ir à escola.
Enfermeira: Precisamos investigar se ela realmente está tomando a medicação certinha. Vamos
chamar o médico e a técnica para estudarmos como podemos ajudar.
A ACS chama os profissionais, que entram na sala e sentam em círculo.
ACS: Bem pessoal, precisamos ver como podemos ajudar o caso de Mariana.
Médico: Irei procurar saber com o pessoal do CAPS como está o tratamento dela, mas podemos
fazer uma visita também.
Enfermeira: Vamos juntos para a visita, assim podemos fazer uma avaliação e traçar a melhor
conduta para o caso dela.
Técnica: Vocês podem me passar o caso dela? Posso ajudar na administração das medicações.
ACS: Claro, vou abrir agora o Projeto Terapêutico Singular dela para fazermos o planejamento.

✓ Você consegue identificar a diferença entre a forma de trabalho entre as duas equipes?

✓ Consegue identificar em alguma das cenas o Trabalho Interprofissional? A partir de


quais aspectos?

✓ Qual cena mais se aproxima da sua realidade de trabalho?

Para aprofundar essa reflexão, te convido para a próxima aula, onde abordaremos a
prática colaborativa.

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