Você está na página 1de 2

PROPOSTA GERAL 1: Começa com um desabafo geral do sofrimento das vidas dessas Corpas

Femininas negras, batuqueiras e pobres. Logo se tornando o desabafo de quem está vivendo um
círculo de fechado, num grande cárcere; depois de sofrer com esse cárcere e se deparar com seu
corpo que era automaticamente resistente ser apagado e preso dentro de paredes e telas de
celulares acaba entrando no inferno dentro da loucura de si mesma.

CENA 1:

Mulher vestida toda de branco cantando boi da cara branca com expressão de exausta, esgotada,
profundamente triste e como iluminação apenas com o balançar de uma vela perto de seu rosto,
como um ato do velar o seu próprio corpo morto em sua frente, como uma metáfora de estar morta
por dentro.

FALA 1:

-A opressão é como uma faca, sabe? Quanto mais ela é amolada cortará cada vez mais fundo
algumas carnes... E essas carnes, ou melhor, essa carne é a minha, é a da minha mãe, a da minha
avó, é a da mãe da minha avó. Aquela família de batuqueiras da esquina da pracinha do bairro.

“NOTÍCIAS DE HOMICIDIO DE MARIELE JUNTO DE OUTRAS NOTICIAS DE RACISMO E


INTOLERANCIA. DE IMAGENS PASSAM CENAS DESSA MULHER CHORANDO E REPUDIANDO O
PRÓPRIO CORPO E ARREBENTANDO GUIAS DE SUA RELIGIÃO”

-Depois de ser alvo daquela faca afiada de pessoas que chamavam minha vó de a “velhinha do
diabo”, aos poucos eu aprendi que sair na rua com os nossos corpos é existir como um ato constante
de resistência, de lutas, de vitórias, mas também de perdas... Acebei perdendo a fé nos meus orixás
e os odiando por me fazer passar pelos cortes daquelas facas sujas... (COSPE NO CHÃO)

CENAS 2:

Mulher correndo histericamente dentro de toda a casa, fugindo da própria imagem retorcida e
obscura, porem calma e devagar cantando boi da cara branca.

FALA 2:

-E se eu continuar aqui trancafiada dentro desse lugar nenhum, sem poder continuar sendo esse ato
de resistência... Será que todos vão esquecer que existimos? Pra mim sim! Eu mesma já me esqueci
por ser assim...

Eu não queria existir como uma subalterna! Como uma marionete manipulada por mãos sujas de
sangue, num mundo sujo de sangue, o sangue de MULHERES como eu, NEGRAS COMO EU! Mas eu
simplesmente não sei o que fazer por nós.
CENA 3:

Mulher tentando respirar de um afogamento inexistente jogada ao chão

FALA 3:

Pensar nisso tudo me corrói, me teletransporta para meu próprio inferno, não consigo me
desvencilhar do meu próprio calabouço. Por esse medo de sermos esquecidas, pela dúvida latente
de quem eu sou, de quem eu sou no meio dessa balburdia embolorada, anosa e caduca.

E sou cada vez mais amassada por não saber mais quem eu sou dentro de tudo isso!!!QUEM EU
SOU?! QUEM EU SOU!!! (dança lacerante com som de tambores e palmas)

CENA 4:

Corta a cena da dança e volta para a mulher cantando boi da cara branca, agora mostrando o corpo
dela mesma “morta” na sua frente.

Você também pode gostar