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Estudo com teor de Laudo de Perícia


Ambiental
Paulo Roberto de Oliveira Rosa
Professor Departamento de Geociências da UFPB

Assistentes e Estagiários

 Silvio Veloso
 Firmino Manoel Neto
 Cristina Vivian
 Bertha Garcêz
 Liése Carneiro Sobreira
 Maria Emanuela
 Élvis Jácome
 Rogério Souto

João Pessoa, 25 de junho de 2007


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SUMARIO

Estudo com teor de Laudo de Perícia Ambiental sobre a intervenção


poluidora como atividade causadora de degradação ambiental na
superfície do entorno do Farol do Cabo Branco – PB
1 Preâmbulo
2 Histórico
3 Do objetivo da pericia
4 Das vistorias
5 Das considerações técnico-periciais ou discussão legal
6 Da dinâmica do evento
7 Conclusão
8 Das respostas aos quesitos
9 Croquis e desenhos
10 Levantamento fotográfico
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Apresentação

O presente documento relata de forma técnica e científica os dados coletados a partir de


observação com rigor sistemático. Buscou-se os metadados nas imagens do Google Earth; de
ortofocarta de 1974; nas aerofotos de 1970, 1985, 1998 e, dados reais, a partir de Fotos Aéreas
de Pequeno Formato: verticais e oblíquas, fotos horizontais com câmeras digitais Nikon e
Olimpus, ambas com elevada resolução. Outros dados foram obtidos com utilização de GPSs,
bússolas, clinômetro e outros equipamentos de coleta de dados em campo. No laboratório foram
utilizados equipamentos computacionais como mesa digitalizadora, computadores de elevado
desempenho, programas também de elevado desempenho: CAD, EXCELL, COREL DRAW,
dentre outros sistemas de desenho convencional.

Esse rigor se refere ao raciocínio para que o nosso argumento possa esclarecer o ponto de vista
encadeando de forma lógica dedutiva atenda a demanda estabelecida pela Exma Dra. Nadja
Palitot. Apesar do tempo relativamente pequeno para qualquer tipo de pesquisa, porém como se
tratou de uma investigação para coletar evidências de ação agressiva, foi necessário todo trabalho
sistemático, pois assim se fundamenta a certeza na busca da verdade.

Apesar da solicitação da solicitante não nos solicitar uma perícia e sim um Estudo com teor
Pericial, procurou-se estabelecer como premissa de que “contra os fatos não há argumento”.
Pautamos-nos nessa premissa para que os fatos anunciados pudessem ser expostos por
ilustrações que permitam que a leitura da solicitante tenha uma adesão firme e sem temor de
engano. Pois na dedução não pode haver erro sendo que o maior erro consiste em não saber e se
afirma acreditando saber.
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Laudo de Estudo com teor Pericial sobre a intervenção poluidora como


atividade causadora de degradação ambiental na superfície do entorno do
Farol do Cabo Branco – PB

1 Preâmbulo
A área que contém o cenário geográfico denominada de Cabo Branco está referenciada na
constituição paraibana no “Art. 60 Ficam tombados, para fins de preservação e conservação, o
Altiplano do Cabo Branco, a Ponta e a Praia do Seixas, saliências mais orientais das Américas” e
no “Art. 218 - São considerados patrimônio histórico da Paraíba a Praia do Seixas e o Cabo
Branco, saliência mais oriental da América”. Ainda no que se refere a Políticas Públicas, o Plano
Diretor da cidade de João Pessoa denota que o Altiplano do Cabo Branco é uma zona
considerada por lei como sendo de “restrições adicionais”.

Art. 26. A restrição adicional do Altiplano do Cabo Branco deve ser objeto de
regulamentação especifica no Código de Zoneamento, no Código de
Parcelamento do Solo e no Código de Obras e Edificações, para permitir sua
ocupação ordenada contemplando obrigatoriamente:
I - a delimitação precisa e as formas de viabilizar a implantação do Parque
Estadual do Cabo Branco - Zona Especial de Preservação;
II - uma Densidade Bruta de ate 50 hab./ha e limitação na altura das edificações
de modo a preservar paisagisticamente a falésia e a Ponta do Cabo Branco;

A restrição é um termo que denota, segundo a obra de referência: dicionário Aurélio, a ação de
reduzir de limitar, daí então a Constituição paraibana afirma que deve conter um adensamento
limitado, considerando que a densidade é a quantidade de indivíduos por área definida, nesse
caso a lei determina que seja 50 hab/ha, ou, observando uma situação mais líquida, como 1/hab
por 200m2. No entanto, sabiamente os legisladores estabeleceram como sendo 50 hab/ha
conotando então que há a possibilidade da família se estabelecer no local sem que haja uma
carga de pressão que possibilite a desestabilização do sistema natural ali contido.

Os conceitos contidos no Plano Diretor observam diretamente o que está denotado na


Constituição como sendo a área do Cabo Branco uma área especial, pois ali está abrigado um
Patrimônio Histórico do Estado da Paraíba, por isso precisa ser conservado e preservado.

Ainda tomando a obra de referência: o dicionário Aurélio; busca-se a compreensão do termo


conservado que significa “que resiste à idade, ao tempo”; já o termo preservado cujo significado
está contido no verbo preservar assim anuncia “...manter livre de perigo ou dano1...”.
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Dano é um termo definido no Dicionário Aurélio Buarque de Holanda como “S.m. 3 -
Estrago,deterioração, danificação”. Já o Código Civil, à luz de minha interpretação, como sendo a
conseqüência de um Ato Ilícito. Assim conceitua “Ato Ilícito” o art. 159 do referido Código “ Aquele
que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a
outrem, fica obrigado a reparar o dano”. Lesão, segundo a obra de referência supra citada, “S.f.
(...)3.Dano, prejuízo. Degradação (op. cit) S.f. 2. Deterioração, desgaste, estrago.
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Esse universo conceitual referido no parágrafo antecedente aponta como patrimônio a paisagem
estabelecida no lugar denominado Altiplano Cabo Branco, praia e Ponta do Seixas. Ora, esses
são lugares que denotam identidade por parte de indivíduos geográficos já estabelecidos, por isso
há para eles uma toponímia que os identifique. Esses indivíduos em conjunto formam o que
chamamos de paisagem. Esse conceito pode ser visto por dois ângulos relativamente diferentes:
o cultural e o técnico-científico. O cultural, nas palavras do antropólogo Levy Strauss, é
anunciado como "qualquer paisagem se apresenta a primeira vista como uma desordem imensa
que nos deixa à vontade para escolhermos o sentido que quisermos dar-lhe" (Tristes trópicos.
1970: 50). No entanto sob o outro ângulo, o geógrafo J. Pierre Deffontaines assim anuncia:

Uma paisagem é uma porção perceptível a um observador onde se inscreve uma


combinação de fatos visíveis e invisíveis e interações as quais, num dado
momento, não percebemos senão o resultado global. (in Jean Tricart. Paisagem
e Ecologia. Inter-fácies: escritos e documentos. IBILCE, 1982.).

Assim sendo temos a paisagem como conjunto de elementos que estão interligados numa dada
área, sendo que essa área deverá ser vista como uma Região, haja vista ela encerrar em si mesma,
elementos únicos que lhe dão identidade, logo se pode afirmar que essa área constitui uma
unidade geográfica, dado a sua especialidade em relação à vizinhança.

Para elucidar o conceito de paisagem como o conjunto de elementos especiais que estão
estabelecidos sobre uma área única, ou seja, uma região. Nesse sentido estabelecemos o modelo,
a partir de outro cânone da geografia, A. Strahler (Geografia Física. Ed. Ômega. 1994: 39), para
melhor auxiliar a tomada de decisão:

Climático
Hidrografia
CONJUNTOS DE
ELEMENTOS
NATURAIS PAISAGEM

Relevo
VIDA

A partir da modelização teórica oriunda da visão de Strahler, fica mais nítida a leitura do que
Deffontaines considerou como paisagem. Assim sendo, podemos de agora em diante, verificar
que os três grandes conjuntos abióticos quando intersectados permitem a existência do conjunto
VIDA. O conceito Região passa a ser uma categoria consubstanciada pela paisagem e suas
nuances visíveis e invisíveis.
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A identidade do lugar a partir da especialidade determinada por um dos conjuntos formadores da


paisagem, nos permite ver com nitidez elementos que, para as vistas não atentas, podem ser
invisíveis ou banalizadas pelo senso comum. Assim sendo, o delineamento da região por um dos
conjuntos, nos permite entrar mais para interior, em busca dos elementos não visíveis, isso
significa que se ultrapassa metodicamente o senso comum e o bom senso, vai-se para esse
interior a partir da dedução.

O conjunto da paisagem que mais nos chama a atenção é o Relevo, mais tecnicamente a bacia
hidrográfica. Esta unidade do relevo, nos permite ver com mais nitidez o cenário em que
acontecem as interações que não prescindem de relações sistêmicas (Disposição das partes ou
dos elementos de um todo, coordenados entre si, e que funcionam como estrutura organizada in
dicionário Aurélio)

Assim, os quesitos levantados pela Exma. Deputada Dra Nadja Palitot, serão averiguados a partir
da bacia hidrográfica, sendo esta uma unidade topográfica que contém rede de drenagem
superficial intermitente na área do entorno do farol do Cabo Branco, possibilitando a
regionalização do lugar que se apresenta como área litigiosa.

2 Histórico
A Ponta do Cabo Branco se destaque não apenas pela sua geografia e sua proximidade com o
ponto mais oriental que é a Ponta do Seixas (Fig. 01), mas é um acidente geográfico que se
tornou ícone simbólico do povo paraibano e também internacional, haja vista estar em conjunto
com o ponto mais oriental de todo o continente americano chegando mesmo a criação do slogan
popular “onde o sol nasce primeiro” (Fig. 02).

A passagem do campo da geografia do lugar para o campo simbólico, cria-se valor, inicialmente
cultural e posterior, valor econômico. Culturalmente pode-se afirmar que se instalou no
sentimento do povo através de uma construção com base na informação cênica e, outra,
fundamentalmente histórica. Assim, o lugar passa a ser mítico, pois ele, o lugar em si, está se
eternizando mesmo com a ação indomável do oceano, por isso surge o culto simbólico que é o da
força e porque não, também o da eternidade.

O lugar, podemos falar agora como conjunto tanto a ponta do Cabo Branco como a Ponta do
Seixas, pois, apesar de vizinhos tão próximos, suas estruturas geográficas são diferenciadas; o
Cabo Branco está sobre o relevo dos Baixos Planaltos Costeiros e seu limiar no entorno do farol
é uma encosta íngreme (Fig. 03 e 04), um penhasco, denominada como Falésia. Já a Ponta do
Seixas é a área que recebe os sedimentos, ficando a poucos metros ao Sul da base da Falésia que
contém o farol, essa área geograficamente tem o seu relevo denominado de planície costeira.
Como podemos observar os Baixos Planaltos tem sua estrutura geológica constituída de material
sedimentar em consolidação, sendo formado por várias camadas de sedimentos areno-argilosos
(Fig. 05), material esse, quando não consolidado, podemos afirma que é de baixa resistência a
ação das águas, ou seja, de fácil erodibilidade.
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A fragilidade desse ambiente pôde ser notada nos meses finais de 1998 e início de 1999, época
que houve uma estiagem pluvial prolongada em toda a região costeira paraibana. Nessa época
havia uma pista de circulação de veículos que circundava a área do farol. Por essa pista trafegava
todo tipo de veículos: motos, automóveis, ônibus (turista e urbano) até caminhões de todo o
gênero de tara. Nessa época, houve vários desabamentos da encosta (Fig. 06 e 07) a poucos
metros do farol, o que acabou por motivar o governo local a desativa a via ao lado do farol.
Dessa época em diante houve uma forte pressão popular, capitaneada pela ONG APAN
(Associação Paraibana dos Amigos da Natureza) e apoiada de perto pelo Ministério Público,
para que a área do entorno do farol do Cabo Branco viesse a ser motivo de maior atenção por
parte da gestão municipal.

O entendimento do gestor municipal era que deveria se fazer obras de “emparedamento” para a
contenção dos possíveis desabamentos, desmoronamentos dado que a presença do mar estava
cada vez mais presente, solapando a base da Falésia (Fig. 08, 09 e 10). Esse projeto não
prosseguiu dado a ação efetiva tanto da APAN como também do Ministério Público.

3 Do objetivo da pericia
Anunciar se houve ou não agressão (por definição, segundo a obra de referência já citada e a
conduta caracterizada por intuito destrutivo) ao meio ambiente por parte do empreendimento que
está sendo implantado no Cabo Branco, enunciar os elementos a partir de vestígios (que servirão
como prova do fato em litígio) que estão sendo destruídos no meio ambiente pela ação do
empreendimento que está sendo implantado e a extensão dos mesmos.

4 Das vistorias

O caráter da inspeção não foi judicial sobre o lugar o qual existe litígio, entende-se litígio como
sendo uma demanda oriunda do poder legislativo do Estado da Paraíba, especificamente da Sra.
Dra. Deputada Nadja Palitot.

Foram necessária várias inspeções ao lugar em que está acontecendo o empreendimento gerador
dessa demanda. A primeira foi uma inspeção preliminar para a notificação do fato em si; as
demais inspeções tiveram natureza técnica em busca de registro de fatos comprobatórios.

5 Das considerações técnico-periciais e discussão legal

Como foi anunciado o fato está se dando sobre um lugar que contém uma paisagem protegida
pela lei máxima estadual, a Constituição do Estado; e outras instruções normativas também
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procuram proteger a paisagem e o lugar em si como é o caso do Decreto Estadual nº 9.482/1982


(dispõe sobre o tombamento da área destinada ao Parque do Cabo Branco) e do Plano Diretor da
cidade de João Pessoa.

Como já foi apresentado o conceito de paisagem sendo a resultante de diversos conjuntos que
estão não apenas interligados mas fundamentalmente intersectados um ao outro, permitindo
assim o surgimento e a dinâmica da vida sobre o planeta e, conseqüentemente sobre o lugar.

Para o procedimento de um raciocínio mais adequado ao fato em litígio, tornou-se necessário a


utilização da dedução da categoria Região, sendo que essa se traduz por conter a unidade
geográfica passível de ser observada e inventariada. Nesse sentido a Região que está sobre o
Cabo Branco onde o fato em litígio está sendo consubstanciado pela ação predatória da
paisagem, nesse caso essa Região contém uma micro bacia hidrográfica, cuja rede de drenagem
superficial é intermitente, ou seja, oriunda dos períodos de maior precipitação pluvial. Partindo-
se então da Região como a generalidade cuja unidade geográfica está contemplada pela micro
bacia com rede hidrográfica (Fig. 11) já estabelecida, isso está denotado pelos efeitos do
escavamento ocorrido ao longo do tempo naquela superfície (Ver Croquis referentes às figuras.
12a, b e c).

O empreendimento que está sendo estabelecido está alterando por completo a dinâmica da
drenagem no lugar (Fig. 13), haja vista que a paisagem natural tem uma dinâmica que não
apenas se estabelece no lugar e sim ultrapassa seus limiares indo alimentar com matéria e energia
a vizinhança.

Como já vimos no modelo estabelecido para representar a dinâmica da paisagem, esta é a relação
de conjuntos que se intersectam de forma sistêmica, onde há troca permanente de matéria e
energia, nesse sentido deve-se observar que aquela paisagem recebe matéria e energia:
a) da situação climática que se põe sobre o lugar. O clima desse lugar recebe as influências
diretas do oceano; principalmente no que diz respeito ao vento e a precipitação;
b) a hidrografia, essa está contida fundamentalmente na micro bacia, lugar por onde há a
drenagem superficial de forma intermitente que se escoa dos pontos mais elevados para
os de menor energia, ou seja, vai direto para a planície costeira, desaguando diretamente
no mar;
c) o relevo numa visão macro deve ser visto como Planalto, pois perde material em função
das ações climáticas para os lugares de menor energia, nesse caso para a planície costeira.
As declividades no lugar, quando olhadas por instrumental computacional nos dá outra
conotação, haja vista, que a transformação da imagem da ortofocarta com as curvas de
nível em destaque, nos apresenta um relevo com rugosidade destacada, com vales cuja
declividade está bem nítida assim como elevações. Após a leitura com instrumental
computacional o modelado aparece destacando os elementos componentes do relevo (Fig.
14 e 14a);
d) a biota, o destaque será para a vegetação, pois, apesar de já ter sido profundamente
alterada a população vegetal do lugar, mas sem sombra de dúvida, mesmo sendo ela
alterada podemos afirmar que ainda é de origem natural, oriunda talvez, de uma quarta ou
quinta geração da população original.
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A partir da anunciação desses quatro grandes conjuntos que forma a paisagem, vamos tecer a sua
relação no viés a partir da vegetação, tomando essa população como elemento importante para
não apenas conter a erosão modeladora do relevo, mas também como elemento fundamental para
a contenção da água no solo, no sub-solo e conseqüentemente como alimentadora do aqüífero. A
vegetação local é denominada de sub-caducifólia ombrófila, ou seja, é uma vegetação que recebe
a precipitação e nos períodos pós verão, perdem parte de suas folhas, isso significa que essa
folhagem irá recobrir o assoalho florestal, formando a serrapilheira2 em que uma das funções
precípuas acaba por permitir que a água percole de forma vertical, indo para os níveis inferiores
do solo. Essa mesma serrapilheira, dentre outras funções, a partir da ação dos decompositores
quebram as estruturas do material depositado, o que inevitavelmente acaba por servir de matéria
e energia para outras espécies, tanto no lugar como para a vizinhança.

A importância da serrapilheira com o lugar e com a vizinhança é sistêmica, considerando que as


regiões são unidades que estão sempre interligadas (e não isoladas) para que haja troca de
matéria e energia. Nesse sentido, podemos ver que parte da matéria produzida nesse lugar é
carreada para a vizinhança, especialmente via rede de drenagem.

A drenagem transportando o material para o mar, esse material serve à cadeia alimentar desse
novo lugar. Esse novo lugar em que a matéria chega, no caso do entorno do Cabo Branco, está
repleto de recifes arenosos e coralíneos (Fig. 15). Esse é um ambiente profundamente sensível e
que abriga populações distintas, tornando-se assim um habitat frágil e de relevância para a cadeia
alimentar dessa população. Com a interrupção desse material, inevitavelmente ter-se-á uma
quebra na cadeia alimentar dessa população residente nos recifes, ferindo assim profundamente o
andamento espontâneo da vida nesse lugar.

6 Da dinâmica do evento
O evento em si, já está se constituindo em fato.

Para a implantação do empreendimento da envergadura do que está sendo estabelecido em ritmo


acelerado, foi necessária, num primeiro momento, a retirada totalmente da cobertura vegetal da
área, incluindo, é claro, a subtração da serrapilheira; num outro momento, foi a terraplanagem,
nesse caso foi o nivelamento da área. Com a terraplanagem houve a supressão da rugosidade do
relevo e das vertentes (Fig. 16) que davam sinuosidade ao perfil planáltico; noutro momento,
com o advento da terraplanagem, foi necessária a implantação de sistema de canalização dos
cursos d’água naturais (Fig. 17) no intuito do escoamento d’água, cujo volume será muito maior
do que anteriormente, pois, a partir do momento da implantação do empreendimento já se
começa um novo tipo de agressão à vizinhança, o volume d’água aumentando irá acelerar a
dinâmica ambiental na vizinhança (Fig. 18, 19, 20, 21 e 22).

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Consiste de restos de vegetação, como folhas, ramos, caules e cascas de frutos em diferentes estágios de
decomposição, bem como de animais, que forma uma camada ou cobertura sobre o solo de uma floresta.
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Serrapilheira)
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7 Conclusão
Não resta dúvida que a paisagem teve seu sistema totalmente alterado, e quando se mexe com o
sistema natural não se sabe o que irá ocorrer no futuro, ainda mais quando o sistema é sensível e,
os elos mais frágeis da cadeia irão se romper quando a tensão for aumentada. Pelo que se
verificou em campo é que o corpo técnico que está implementando a obra não observou de forma
atenta tanto a paisagem como também a legislação que protege o lugar, pelo visto, não houve um
Estudo de Impacto Ambiental que trouxesse ao público uma discussão em que a sociedade se
responsabilizaria com a natureza do lugar e seu entorno imediato.

Num outro patamar a aparente contenção do sistema modelador do relevo, que é a erosão, isso na
superfície onde ocorre o empreendimento, não implica redução da ação erosiva no sistema
vizinho, onde a água irá chegar. A ação mais nociva do empreendimento, com a retirada da
população vegetal, é inevitavelmente a obstrução da percolação perpendicular da água para os
níveis inferiores do solo, isso decorre da forte impermeabilização que irá (já em andamento)
ocorrer na área, essa situação irá alterar a dinâmica marinha que recebe (ia) matéria (nutrientes e
água) numa dosagem equilibrada pela dinâmica natural do ambiente, no entanto de agora em
diante com a impermeabilização o volume de água não mais trará nutrientes naturais e pela
extensão da penetração da água no mar podemos ver que é uma influência de elevada
envergadura.

8 Das respostas aos quesitos

Abaixo estão descritos os quesitos formulados pela Exma. Deputada Dra Nadja Palitot e logo a
seguir as respostas a cada um deles:

Quesito 1 - Houve agressão ao meio ambiente no local em que está ocorrendo a


ocupação?

Resposta 1: Sim houve agressão no sentido que se quebrou o sistema ambiental referente à
drenagem, a vegetação, ao relevo e a interrupção de matéria para o sistema vizinho.

Quesito 2 - Em caso positivo, quais são essas agressões?

Resposta 2: A região que contém a micro bacia hidrográfica foi bastante danificada com a
terraplanagem. A hidrografia foi alterada, sendo alterada também o volume e o fluxo das águas,
o lenços freático será alterado com a impermeabilização do lugar. A vegetação foi suprimida da
área, assim como todo o sistema onde ocorre a serrapilheira.
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Quesito 3 - Em caso de constatação, qual a extensão desses danos/

Resposta 3: Num primeiro momento o que põe em destaque é o fluxo e volume hídrico que irá
atuar diretamente no sistema vizinho, os recifes marinho imediatamente a frente do Cabo
Branco. O lenço freático será alterado, logo, o solo e o subsolo irão perder a umidade que age
como elemento agregador das partículas sedimentares (areia e argila) dessa área do Planalto. A
retirada da vegetação até as proximidades da Falésia na área mais ao Norte irá ampliar a
fragilidade do ambiente. A carga de pressão que será proporcionada pelo tráfego irá abalar a
estrutura nessa área mais ao Norte a cumeada da Falésia.

Quesito 4 - Ainda em se constatando o dano agressivo, quais as medidas mitigadoras?

Resposta 3: A área, dado a fragilidade de sua paisagem, não permite edificação que
sobrecarregue o sistema natural, o máximo que ela, a paisagem permite, seria uma ocupação
mais adequada ao próprio sistema ambiental, com baixa quantidade de solo impermeabilizado,
mínima alteração na população vegetal e um EIA/RIMA com técnicos e cientistas que já
desenvolvem trabalhos e pesquisas no lugar.
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9 Croquis e desenhos

Figura 12a – Croquis denotando o trabalho lento da água na modelagem do terreno


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Figura 12b – Diagrama denotando o comportamento do relevo diante da ação lenta da


águapor conta da vegetação

Figura 12c – Croqui anunciando a metragem do canal na foz junto à praia


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10 Levantamento fotográfico e imagético

Cabo Branco e Farol

Ponta do Seixas

Fonte Imagem do Google Earth

Figura 02 – Vista do nacer do Sol da praça de Figura 03 – Vista do perfil da Falésia a partir da
Iemanjá (Dezembro de 2003) praia do Seixas (Junho de 2007)
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Figura 04 – Vista do perfil da Falésia a partir da Figura 05 – Estratos sedimentares


geometría da encosta (1999) que formam a estrutura dos Baixos
Planaltos no Cabo Branco. Data:
junho/2007

Figura 06 – Bloco de sedimentos não Figura 07 – Sedimentos não consolidados no


consolidados que desabaram na estiagem entre desabando do topo da Falésia no período entre
1998 e 1999. 1998/99.

Figuras 08, 09 e 10 – Coqueiro na praia do Seixas abatido pela ação marinha entre 1998 e 1999
16

Figura 11 – A Região da bacia com a


rede hidrográfica (aproximação)

Poligonal aproximada do
fato empreendedor em
litígio
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Figura 13 – Curso d’água superficial


Junho de 2007

Figura 13 – O empreendimento sendo estabelecido


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Figura 14 – Curvas de nivel referentes à Ponta do Cabo Branco o que permite a modelagem numérica do
terreno
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Figura 14 - Modelo numérico de terreno gerado a partir de curvas de nível da


ortofocarta escala de 1:2000 de 1974.

Figura 15 – Recifes em frente ao Cabo Branco


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Figura 16 - Nivelamento da área suprimindo a rugosidade das


vertentes que davam o perfil sinuoso ao perfil planáltico

Figura 17 - Implantação de sistema de canalização dos cursos d’água naturais


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Figura 17 – Volume d’água que desce do Figura 18 – Água que desce em direção ao mar
empreendimento pelo canal já estabelecido. com os sedimentos da área do empreendimento.
Data: 31/05/2007 Data: 31/05/2007

Figura 19 – Volume d’água que desce do Figura 20 – Volume d’água abrindo sulcos
empreendimento pelo canal já estabelecido. profundos na zona de praia.
Data: 31/05/2007 Data: 31/05/2007
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Figura 21 – Sedimentos oriundos do empreendimento adentrando ao mar.


Data: 31/05/2007

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