Você está na página 1de 2

IMPACTO DO SERVIÇO DE DESASSOREAMENTO DE RESERVATÓRIO HÍDRICO NA

CONCENTRAÇÃO DE SEDIMENTOS DA ÁGUA

Elise Baroni Ramos1*, Noelen Muriel Doimo Prado Martins2, Juliana Heloisa Pinê Américo-Pinheiro3,
Heidson Bruno Neves4, Luiz Sergio Vanzela5

1,2,3,5 Universidade Brasil, Programa de Mestrado em Ciências Ambientais, Fernandópolis, SP


4VB Ambiental, Votuporanga, SP

elise_baroni@hotmail.com*

Resumo: A “Represa Beira Rio”, localizada em Fernandópolis - SP, está passando por processo de
desassoreamento. O objetivo neste trabalho foi avaliar o impacto do serviço na dinâmica de sedimentos da
água. O trabalho foi realizado a partir de fotogrametria com aeronave remotamente pilotada, permitindo
acompanhar a evolução do espelho d’água durante a obra. Analisando a correlação cruzada, seguida de
regressão estatística da concentração de sólidos totais (ST) em função das quantidades mensais
escavadas de áreas de espelho d’água (EA), volume de sedimentos (V) e espessura de sedimentos (H),
foi possível concluir que o desassoreamento gerou o aumento da concentração de sedimentos da água.

Palavras-chave: Assoreamento. Dinâmica Hidrossedimentológica. Descarga Sólida. Aerolevantamento.

Introdução seguida de regressão estatística, da concentração


de sólidos totais (ST) em função das quantidades
No processo de escoamento superficial, a água mensais escavadas de áreas de espelho d’água
transporta sedimentos erodidos da bacia (EA), volume de sedimentos (V) e espessura
hidrográfica de contribuição para os cursos (H) de sedimentos. Para verificar possíveis
d’água, levando ao processo de assoreamento influências de sedimentos transportados de forma
(SCHLEISS et al., 2016). difusa, também se realizou as análises com as
De acordo com Chamoun et al. (2017), o precipitações acumuladas de 1 dia (P1D), 7 dias
assoreamento de represas é um processo que (P7D) e 15 dias (P15D).
afeta a sustentabilidade do reservatório, reduzindo As concentrações de ST foram monitoradas
sua capacidade de armazenamento hídrico pelo mensalmente na saída da barragem de janeiro a
acúmulo de sedimentos. agosto de 2021, por meio de amostragens e
Em Fernandópolis - SP, há uma represa análise da água por gravimetria. As quantidades
assoreada, denominada de “Represa Beira Rio”. O de EA, V e H foram monitoradas nos mesmos
processo de assoreamento ocorreu principalmente intervalos. O EA (m²) foi levantado por
em função da evolução urbana em sua bacia de aerofotogrametria, com aeronave remotamente
drenagem, o que resultou a uma redução de pilotada modelo DJI Phantom 4 Pro V2, com
48,3% em seu espelho d’água de 1979 a 2008 payload de câmera RGB de resolução de 20
(VANZELA, 2012). megapixels e voo projetado para GSD (Ground
Diante desse cenário de degradação, a Sample Distance) máximo de 10 cm. As imagens
Prefeitura Municipal de Fernandópolis iniciou em foram processadas no software comercial
dezembro de 2020 a obra de desassoreamento de DroneDeploy. O V (m³) foi monitorado pela
4,26 ha de espelho d’água da represa, com contagem da quantidade de caminhões
previsão de término em dezembro de 2021. basculantes com capacidade de 7 m³ de volume.
O objetivo neste trabalho foi avaliar o impacto O H (m) foi determinado pelo quociente entre V
do serviço de desassoreamento de reservatório
e EA.
hídrico na dinâmica de sedimentos da água.
Os valores de P1D, P7D e P15D, foram obtidos
a partir de dados de estação climatológica
Material e Métodos
automática do Centro Integrado de Informações
Agrometeorológicas localizada a 6 km da saída da
O trabalho foi conduzido no reservatório hídrico
barragem. A caracterização topográfica, foi
denominado “Represa Beira Rio”, no município de
realizada a partir de fotogrametria com aeronave
Fernandópolis – SP. A avaliação do impacto do
remotamente pilotada, permitindo acompanhar a
desassoreamento sobre a dinâmica de sedimentos
evolução do espelho d’água.
foi realizada pela análise de correlação cruzada,

II Congresso Acadêmico e Tecnológico da Universidade Brasil 1


Resultados e Discussão A baixa significância e coeficiente de
determinação observados nas correlações e
Até 30/08/2021 foram retirados um total de regressões com a P7D, indicam que a variação de
113.448 m³ de sedimentos, com área de espelho ST está mais relacionada ao serviço de
d’água chegando a 34.255 m² (Figura 1). desassoreamento do que as quantidades
precipitadas no período.
Também é possível observar, de acordo com o
modelo da Figura 4a, que o ST atingiu o seu
máximo de 160 mg L-1 com EA de até 3.383 m²,
a partir do qual, o ST começou a diminuir.
Esse efeito pode ser explicado pela
combinação de dois fatores: característica do
sedimento escavado e distância da escavação até
o ponto de saída da barragem.
Figura 1 - Curva EAxV do serviço de Valores de EA de até 3.383 m² ocorreram nas
desassoreamento da represa. regiões com característica de sedimento mais leve
e mais próximo da saída da barragem (raio de
O avanço gradual do desassoreamento por cerca de 260 m da saída). Dessa forma, o
escavação pode ser observado na Figura 2. sedimento suspendido na água durante o
processo de escavação, chega em maior
concentração no ponto de saída da barragem.
Conforme o serviço foi evoluindo e o espelho
d’água aumentando, atingiu-se pontos onde o solo
estava mais compactado e com sedimentos mais
pesados. Além disso, a distância do ponto de
coleta, foi aumentando e os sedimentos
suspendidos com a escavação, tiveram maior
distância para se decantarem antes de atingir o
ponto de saída da barragem.

Conclusão

Figura 2 - Evolução do espelho d’água da represa. O desassoreamento promoveu o aumento da


concentração de sedimentos da água, sobretudo
As maiores correlações observadas com ST, quando a escavação estava dentro de um raio de
ambas positivas e não significativas (p>0,05), 260 m da saída da barragem, local também
foram com as variáveis EA e P7D (Figura 3), caracterizado pela deposição de sedimentos mais
cujos melhores ajustes foram o quadrático em finos e leves.
função de EA (r²=0,600 e p=0,06) e linear em
função da P7D (r²=0,173 e p=0,27) (Figura 4). Referências

CHAMOUN, S.; CESARE, G. de; SCHLEISS, A. J.


Management of turbidity current venting in
reservoirs under different bed slopes. Journal of
Environmental Management. v. 204, part 1. p.
519-530. 2017. DOI:
doi.org/10.1016/j.jenvman.2017.09.030.
Figura 3 - Coeficiente de correlação (r) de ST em
função EA, V, H, P1D, P7D e P15D. SCHLEISS, A. J.; FRANCA, M. J.; JUEZ, C.;
CESARE, G. de. Reservoir sedimentation. Journal
a b of Hydraulic Research. v. 54, n. 6. p. 595-614.
2016. DOI:
doi.org/10.1080/00221686.2016.1225320.

VANZELA, L. S. Evolução da paisagem do


município de Fernandópolis - SP. In: Prefeitura de
Fernandópolis. (Org.). Fernandópolis nossa
história, nossa gente. São Paulo: Anglo S/A,
2012, v. II, p. 246-266.
Figura 4 - Regressão de ST em função de EA (a)
e P7D (b).

II Congresso Acadêmico e Tecnológico da Universidade Brasil 2

Você também pode gostar