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Denise M. S. Gerscovich
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
ABSTRACT: The relationship between soil moisture and matric suction is a fundamental
information for engineering design in unsaturated soil subsurface condition. Different field and
laboratory techniques are available to estimate water retention curves. These tests are costly,
difficult to perform and time consuming. Therefore they are rarely used in geotechnical engineering
practice. Various researchers have suggested mathematics models to predict the soil- water
characteristic curve. Some models are based on the assumption that the shape of the curve is
dependent upon pore size distribution and the necessary parameters of these models are calibrated
by linear regression of experimental data. Others assume that the water retention curve can be
directly estimated from physical properties of soils and grain size distributions. This paper discusses
the applicability of proposed models for predicting the soil- water characteristic curves of some
Brazilian soils.
interseção entre 2 trechos lineares. Aubertin et porcentualmente em maior quantidade (os poros
al (1998) observaram que, em geral, ψ b está maiores se transformam em intermediários) e os
associado a um valor de umidade micro-poros permanecer inalterados. Sendo
correspondente a 90% da umidade saturada (θs). assim, a função de distribuição de volume de
Esta proposição baseia-se no fato de que ao vazios é modificada, afetando principalmente o
atingir ψ b o ar presente nos vazios passa a trecho da curva correspondente a baixos valores
formar canais contínuos. Na prática esta de sucção (Gerscovich, 1994).
hipótese resulta em valores de ψ b Um outro aspecto a se considerar é a história
aproximadamente 25% mais altos do que os de variação de umidade. Em um processo de
obtidos graficamente. perda de umidade a curva característica tende a
Define-se como teor de umidade residual (θr) apresentar, para um determinado valor de teor
o limite inferior a partir do qual qualquer de umidade, sucções mais elevadas do que as
aumento na sucção mátrica pouco afeta os observadas em um processo de umedecimento.
valores de umidade. A determinação O teor de umidade máximo alcançado em um
experimental do teor de umidade residual pode processo de saturação dificilmente atinge o teor
ser feita, como indicado na Figura 1, a partir da de umidade saturado. Esta histerese é atribuída
interseção das tangentes à curva característica . à não uniformidade geométrica dos vazios,
Do ponto de vista prático é razoável associar o presença de ar ou mesmo a mudança estruturais
teor de umidade residual a um valor de sucção decorrentes de processos de fluxo que podem
elevado. Assim sendo, pode-se utilizar o teor de propiciar fenômenos de inchamento,
umidade de uma amostra seca para estimar θr. ressecamento ou envelhecimento (Hillel, 1971).
Van Genuchten (1980) sugere associar o teor de A permanência do ar nos vazios pode ser
umidade residual a um valor de sucção de explicada por dois aspectos: (i) diferentes
velocidades de movimentação da frente de
ψ r=–1500kPa. A sucção correspondente à
saturação, causando zonas com diferentes graus
condição de teor de umidade nulo foi
de saturação; (ii) altos valores de sucção
determinada experimentalmente em uma
inibindo, em determinadas regiões, o avanço da
variedade de solos, tendo sido observado um
frente de saturação. Smith e Browning (1942)
valor da ordem de 106 kPa (Fredlund, e Xing,
observaram que em média 9.1% dos vazios
1994).
permanecem com ar após um processo de
O teor de umidade volumétrico
saturação. Wilson e outros (1981) verificaram
correspondente à condição de saturação (θs)
que a parcela de ar retido era proporcional a
apresenta o mesmo valor da porosidade (n), já
parcela da fração grossa, sendo 20% o máximo
que o teor de umidade volumétrico é
valor registrado. Com isto, em um processo de
equivalente ao produto da porosidade e do grau
umedecimento, muitas vezes não se atinge a
de saturação (θ=n×S). saturação completa; isto é o teor de umidade
O parâmetro que define a variação de saturado é numericamente inferior à porosidade
umidade (∆θ) em função de uma varia ção de (θs<n).
sucção (∆ψ) é denominado capacidade de Não existe nenhuma teoria que represente
retenção específica (C(ψ)). Este parâmetro é corretamente a relação umidade x sucção.
obtido a partir da tangente à curva característica Existem, entretanto, várias proposições na
e varia com o nível de sucção. literatura, as quais são válidas para alguns tipos
Além do tipo de solo, representado pelo de solos e para determinadas faixas de sucção.
tamanho do grão e composição mineralógica, A complexidade dos efeitos da adsorção e das
outros fatores afetam a forma da curva diversas geometrias dos vazios torna muito
característica. A influência do arranjo estrutural, difícil uma modelagem da curva característica,
por exemplo, pode ser observada comparando- adequada a qualquer tipo de solo.
se solos com diferentes graus de compactação.
Quando um solo é densificado, o volume dos
vazios maiores é reduzido, fazendo com que os 3. PROPOSIÇÕES PARA MODELAGEM
poros de dimensão intermediária fiquem DA CURVA CARACTERÍSTICA
IV Simpósio Brasileiro de Solos Não Saturados, 2001
Porto Alegre, RS, Março, pp76-92.
Várias proposições empíricas foram sugeridas do menisco assume uma forma esférica. Esta
para simular a curva característica. Algumas hipótese é válida para o caso de tubos
modelam a função que relaciona sucção com cilíndricos.
umidade (Gardner, 1858; Brooks e Corey, Os métodos que modelam a curva
1964; Farrel e Larson; 1972; Roger e característica em função das frações
Hornberger, 1978; William et al, 1983; McKee granulométricas não consideram a influência do
e Bumb, 1987; Haverkamp e Parlange, arranjo estrutural. Adicionalmente, ao
1986;Van Genuchten, 1980; Fredlund e Xing, relacionar diâmetro do vazio ao valor de sucção
1984). Outras propõem a obtenção da curva estes métodos não consideram a não
característica a partir de frações uniformidade geométrica dos vazios, já que
granulométricas (Gosh, 1980 Rawls e assumem que existe uma relação unívoca entre
Brakensiek, 1989). Esta última abordagem é sucção e diâmetro de vazio.
bastante conveniente já que tais informações De uma forma geral, os métodos pressupõe a
são rotineiramente determinadas inexistência de variação de volume de solo
experimentalmente. durante processos de umedecimento ou
A Tabela 1 relaciona algumas das secagem.
proposições para modelagem da curva Face às dificuldades experimentais para
característica. obtenção da curva característica, alguns
De uma forma geral os modelos baseiam-se métodos estão inclusive sendo estendidos para
no conceito de similaridade entre a curva novas aplicações. Equações empíricas
característica e a função de distribuição relacionando os parâmetros do modelo de Van
granulométrica, que indiretamente está Genuchten a condições de compactação e índice
relacionada à distribuição acumulativa de de plasticidade foram propostos na literatura
volume de vazios. (Tijum et al, 1997).
Os métodos assumem que sob condições em
que a pressão no líquido é negativa, a curvatura
β = 2, 619 2 (λ4 + 0,7 )0, 0625 λ04,1250 5,91 + 1,1 λ3 percentagem da fração argila
λ1 λ1 + λ3 λ2 λ3
λ 4 = 6,2 − 5,91
λ1 λ1 + λ3
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Porto Alegre, RS, Março, pp76-92.
William et lnψ = a + b ln θ a e b =parâmetros de ajuste
al (1983)
Saxton et al a e b =parâmetros de ajuste
ψ = aθ b
(1986)
Umedecimento: n = porosidade
n ψb
λ
λ parâmetro de ajuste
θ= K ψ >ψ b θs = teor de umidade para condição de saturação
1 + λ ψ
ao natural (< porosidade)
λ ψ ψb * = sucção de entrada de ar para a condição de
θ = n 1 − K ψ ∗b ≤ ψ ≤ψ b
Haverkamp 1 + λ ψ b umedecimento (adotado igual a ψb )
e Parlange
(1986) θ = θ s K ψ ≤ ψ ∗b
Secagem:
λ
ψ ψ θ
θ = n b 1 − b 1 − s K ψ > ψ b
ψ ψ n
θ = θs K ψ ≤ ψ b
McKee e 1 Θ = teor de umidade normalizado
Bumb Θ= a e b =parâmetros de ajuste
1+ e ( ψ −a ) / b
(1987)
ψ
λ
ψb em cm H2 O
Θ = b n = porosidade (θs )
ψ C = porcentagem de argila (5%<C< 60%)
5, 3396738+ 0,1845038( C ) − 2, 438394546( n ) −0 ,00213853( C 2 ) −
Rawls e 0 ,04356349( S )( n) − 0, 61745089( C )( n) +0 ,00143598( S 2 )( n2 ) − S = porcentagem de areia (5%<S< 70%)
0 ,00855375( C )( n ) − 0, 00001282( S )( C ) + 0 ,00895359( C ) ( n ) −
2 2 2 2 θ r = − 0,018242 + 0,00087269( S ) + 0,00513488( C ) + 0 ,02939286( n )
Brakensiek
0 ,00072472( S )( n) + 0 ,0000054( C )( S ) + 0,50028060( n )( C )
2 2 2
Teor de Umidade
Volumétrico (%)
40
característica.
30
A Figura 3 mostra as curvas obtidas com os
modelos baseados na distribuição 20
tendência de subestimar os teores de umidade 1,E-01 1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04 1,E+05
Sucçao (kPa)
volumétricos. Os erros calculados (Tabela 3)
Exp. Rawls & Brakensiek Gosh
foram superiores a 10, acima do limite
considerado aceitável, para o caso dos solos Figura 3 - Modelos Baseados na Curva
estudados. Ressalta-se ainda a incapacidade Granulométrica – Querosene, RJ
desses modelos reproduzirem a forma sigmoidal
da curva característica. Assim sendo, a tangente O modelo de Visser (1966) não pôde ser
à curva, que define a capacidade de retenção comparado aos demais por não ser explicitado
específica (C(θ)), não pode ser estimada por em termos de teor de umidade. Os erros
estes modelos. calculados em termos dos desvios no valor da
50
sucção foram 287,2 e 1161,6, respectivamente,
para o solo do Querosene RJ e do campo
Teor de Umidade
Volumétrico (%)
40
30
Exp. Gardner Van Genuchten
Fredlund e Xing Brooks+Roger Haverkamp
20
0
40 1,E-02 1,E-01 1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04
Sucçao (kPa)
Teor de Umidade
Volumétrico (%)
30
Figura 4 – Modelo de Visser (1966) – São
20
Carlos
10
0
6. CONCLUSÕES
1,E-01 1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04 1,E+05
Sucçao (kPa) Este trabalho examinou a aplicabilidade de
Exp. Gardner Van Genuchten proposições empíricas para modelagem da
Fredlund e Xing Brooks+Roger Haverkamp
curva característica para o caso de dois solos
(b) Querosene, RJ residuais brasileiros. A maioria dos modelos
Figura 2 –Modelos com Erro inferior a 4 requer a definição de um número de
parâmetros, variando entre 2 e 6. Alguns destes
são determinados por simples ajuste, outros são
estimados a partir dos resultados experimentais
(ψ b, ψr, θr, θs).
De uma forma geral, as equações são
correlacionáveis, conforme constatado por
outros autores (Rawls e Brakensiek, 1989;
Leong e Rahardjo, 1998).
IV Simpósio Brasileiro de Solos Não Saturados, 2001
Porto Alegre, RS, Março, pp76-92.