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IV Simpósio Brasileiro de Solos Não Saturados, 2001

Porto Alegre, RS, Março, pp76-92.

EQUAÇÕES PARA MODELAGEM DA CURVA


CARACTERÍSTICA APLICADAS A SOLOS BRASILEIROS

Denise M. S. Gerscovich
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil

RESUMO: O conhecimento da relação entre umidade e sucção é fundamental em projetos que


tratem o comportamento de solos não saturados. Várias técnicas de ensaios de campo e de
laboratório foram propostas na literatura. A maioria destes métodos dificilmente é utilizada na
pratica em vista dos custos associados e à heterogeneidade dos materiais. Face a este problema
vários pesquisadores propuseram modelos matemáticos para modelagem da curva característica. A
maioria dos modelos baseia-se na interdependência entre a forma da curva característica e a
distribuição de volume de vazios. Nestes casos as equações são formuladas com base em curvas de
regressão de resultados experimentais. Existem também outras proposições que procuram
estabelecer a curva característica a partir de propriedades básicas do solo tais como distribuição
granulométrica e porosidade. Este trabalho tem por objetivo apresentar diversas proposições
matemáticas para modelagem da curva característica e avaliar sua aplicabilidade a solos brasileiros.

ABSTRACT: The relationship between soil moisture and matric suction is a fundamental
information for engineering design in unsaturated soil subsurface condition. Different field and
laboratory techniques are available to estimate water retention curves. These tests are costly,
difficult to perform and time consuming. Therefore they are rarely used in geotechnical engineering
practice. Various researchers have suggested mathematics models to predict the soil- water
characteristic curve. Some models are based on the assumption that the shape of the curve is
dependent upon pore size distribution and the necessary parameters of these models are calibrated
by linear regression of experimental data. Others assume that the water retention curve can be
directly estimated from physical properties of soils and grain size distributions. This paper discusses
the applicability of proposed models for predicting the soil- water characteristic curves of some
Brazilian soils.

PALAVRAS-CHAVES: solo não saturado, curva característica, modelagem

1. INTRODUÇÃO como parâmetros hidráulicos. A capacidade de


desenvolver sofisticados sistemas numéricos
Vários problemas geotécnicos estão excede a habilidade de prever corretamente
relacionados com comportamento de solos não estes parâmetros hidráulicos.
saturados. Nestes materiais o teor de umidade Várias técnicas de ensaios de campo e de
e/ou grau de saturação são função da pressão laboratório foram propostas nas últimas
negativa de água dos poros (sucção). décadas. A maioria destes métodos é,
Para simular processos de fluxo em solos não entretanto, pouco utilizada na pratica. A
saturados foram desenvolvidas ferramentas heterogeneidade dos materiais e os custos
numéricas, baseadas em métodos dos elementos associados à realização destes ensaios, visto o
finitos e/ou diferenças finitas. Na prática, o elevado tempo exigido para sua execução,
fator mais importante que limita a aplicação restringem a obtenção corrente destes
destes modelos é a falta de informações no que parâmetros. Face a este problema vários
diz respeito às relações entre teor de umidade, pesquisadores propuseram modelos
sucção e condutividade hidráulica, conhecidas
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matemáticos para reprodução das relações semelhante é observado quando comparam-se


entre parâmetros hidráulicos. Estes modelos são curvas características de solos uniformes e solos
definidos de forma empírica/semi-empírica, bem graduados
com base em curvas de regressão de resultados A Figura 1 apresenta curvas características
experimentais. típicas para areias e argilas, além de definir os
Este trabalho tem por objetivo levantar as parâmetros mais importantes relativos a esta
diversas proposições para modelagem da curva função.
característica e avaliar sua aplicabilidade a Na prática, se uma pequena sucção é aplicada
alguns solos brasileiros. a um solo saturado, nenhum fluxo ocorrerá até
que esta ultrapasse um determinado valor
crítico, capaz de fazer com que a água presente
2. CURVA CARACTERÍSTICA no maior vazio comece a sair. Esta sucção
crítica é denominada sucção de entrada de ar
Em um solo saturado, em equilíbrio, a pressão
(ψ b). Com o aumento gradual da sucção, vazios
nos poros é sempre maior ou igual à de diâmetros menores vão se esvaziando, até
atmosférica. Se uma sucção é aplicada, a água
que para altos valores de sucção, somente os
presente nos vazios será drenada e a pressão nos vazios muito pequenos ainda retêm água.
poros se tornará negativa. A aplicação de Apesar de ser numericamente pequena, esta
elevados níveis de sucção, não somente afeta a
sucção crítica é facilmente detectável em solos
água livre nos vazios, mas também pode afetar grossos e em solos bem graduados. Em geral,
a espessura das envoltórias de hidratação. Como
espera-se que ψ b varie entre 0,2kPa a 1kPa (2 a
um todo, o solo perde umidade.
10cm de coluna d’água) em areias grossas,
Define-se como curva característica a relação
1kPa 3,5kPa em areias medias, 3,5kPa a 7,5kPa
entre a água presente nos poros e a sucção de
em areias finas, 7kPa a 25kPa em siltes e mais
um solo. Este volume de água pode ser
do que 25kPa para argilas (Aubertin et al,
quantificado em termos de teor de umidade
1998).
volumétrico (θ), definido como a relação entre
o volume de água e o volume de total, teor de
umidade gravimétrico (ω), cuja magnitude é Sucção ( ψ)
(escala log)
obtida em função da relação entre pesos de água
e de sólidos, ou em termos do grau de Capacidade de Retenção
Específica: C(θ)=∆θ/∆ψ
saturação. Já a sucção ou sucção mátrica (ψ) é
estabelecida pela diferença entre as pressões na
água e no ar contido nos vazios (ua- uw), ou pode
ainda incorporar a parcela de sucção osmótica,
trabalhando-se, neste caso a sucção total. Para
altos valores de sucção (acima de 1500kPa) a ∆ψ Solo
sucção mátrica e a total podem ser consideradas argiloso
∆θ
equivalentes (Fredlund. e Xing, 1994). Sucção de
Dentre as diversas formas de se definir curva entrada
característica, a mais adotada é aquela que de ar (ψ b) Solo arenoso
relaciona teor de umidade volumétrico e sucção Teor de umidade
mátrica. (θr) (θs) volumétrico ( θ)
Teor de umidade Teor de umidade
O formato desta depende do tipo de solo,
residual saturado
distribuição de tamanhos de vazios e,
consequentemente, da distribuição das frações Figura 1 - Curvas Características Típicas
granulométricas. Solos arenosos tendem a
Métodos para definir a sucção de entrada de
apresentar perda brusca de umidade quando a
sucção ultrapassa um determinado valor; em ar (ψ b) foram propostos na literatura. Brooks e
contrapartida, solos argilosos tendem a Corey (1964) sugerem um procedimento
apresentar curvas mais suaves. Comportamento gráfico, mostrado na Figura 1, a partir da
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interseção entre 2 trechos lineares. Aubertin et porcentualmente em maior quantidade (os poros
al (1998) observaram que, em geral, ψ b está maiores se transformam em intermediários) e os
associado a um valor de umidade micro-poros permanecer inalterados. Sendo
correspondente a 90% da umidade saturada (θs). assim, a função de distribuição de volume de
Esta proposição baseia-se no fato de que ao vazios é modificada, afetando principalmente o
atingir ψ b o ar presente nos vazios passa a trecho da curva correspondente a baixos valores
formar canais contínuos. Na prática esta de sucção (Gerscovich, 1994).
hipótese resulta em valores de ψ b Um outro aspecto a se considerar é a história
aproximadamente 25% mais altos do que os de variação de umidade. Em um processo de
obtidos graficamente. perda de umidade a curva característica tende a
Define-se como teor de umidade residual (θr) apresentar, para um determinado valor de teor
o limite inferior a partir do qual qualquer de umidade, sucções mais elevadas do que as
aumento na sucção mátrica pouco afeta os observadas em um processo de umedecimento.
valores de umidade. A determinação O teor de umidade máximo alcançado em um
experimental do teor de umidade residual pode processo de saturação dificilmente atinge o teor
ser feita, como indicado na Figura 1, a partir da de umidade saturado. Esta histerese é atribuída
interseção das tangentes à curva característica . à não uniformidade geométrica dos vazios,
Do ponto de vista prático é razoável associar o presença de ar ou mesmo a mudança estruturais
teor de umidade residual a um valor de sucção decorrentes de processos de fluxo que podem
elevado. Assim sendo, pode-se utilizar o teor de propiciar fenômenos de inchamento,
umidade de uma amostra seca para estimar θr. ressecamento ou envelhecimento (Hillel, 1971).
Van Genuchten (1980) sugere associar o teor de A permanência do ar nos vazios pode ser
umidade residual a um valor de sucção de explicada por dois aspectos: (i) diferentes
velocidades de movimentação da frente de
ψ r=–1500kPa. A sucção correspondente à
saturação, causando zonas com diferentes graus
condição de teor de umidade nulo foi
de saturação; (ii) altos valores de sucção
determinada experimentalmente em uma
inibindo, em determinadas regiões, o avanço da
variedade de solos, tendo sido observado um
frente de saturação. Smith e Browning (1942)
valor da ordem de 106 kPa (Fredlund, e Xing,
observaram que em média 9.1% dos vazios
1994).
permanecem com ar após um processo de
O teor de umidade volumétrico
saturação. Wilson e outros (1981) verificaram
correspondente à condição de saturação (θs)
que a parcela de ar retido era proporcional a
apresenta o mesmo valor da porosidade (n), já
parcela da fração grossa, sendo 20% o máximo
que o teor de umidade volumétrico é
valor registrado. Com isto, em um processo de
equivalente ao produto da porosidade e do grau
umedecimento, muitas vezes não se atinge a
de saturação (θ=n×S). saturação completa; isto é o teor de umidade
O parâmetro que define a variação de saturado é numericamente inferior à porosidade
umidade (∆θ) em função de uma varia ção de (θs<n).
sucção (∆ψ) é denominado capacidade de Não existe nenhuma teoria que represente
retenção específica (C(ψ)). Este parâmetro é corretamente a relação umidade x sucção.
obtido a partir da tangente à curva característica Existem, entretanto, várias proposições na
e varia com o nível de sucção. literatura, as quais são válidas para alguns tipos
Além do tipo de solo, representado pelo de solos e para determinadas faixas de sucção.
tamanho do grão e composição mineralógica, A complexidade dos efeitos da adsorção e das
outros fatores afetam a forma da curva diversas geometrias dos vazios torna muito
característica. A influência do arranjo estrutural, difícil uma modelagem da curva característica,
por exemplo, pode ser observada comparando- adequada a qualquer tipo de solo.
se solos com diferentes graus de compactação.
Quando um solo é densificado, o volume dos
vazios maiores é reduzido, fazendo com que os 3. PROPOSIÇÕES PARA MODELAGEM
poros de dimensão intermediária fiquem DA CURVA CARACTERÍSTICA
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Várias proposições empíricas foram sugeridas do menisco assume uma forma esférica. Esta
para simular a curva característica. Algumas hipótese é válida para o caso de tubos
modelam a função que relaciona sucção com cilíndricos.
umidade (Gardner, 1858; Brooks e Corey, Os métodos que modelam a curva
1964; Farrel e Larson; 1972; Roger e característica em função das frações
Hornberger, 1978; William et al, 1983; McKee granulométricas não consideram a influência do
e Bumb, 1987; Haverkamp e Parlange, arranjo estrutural. Adicionalmente, ao
1986;Van Genuchten, 1980; Fredlund e Xing, relacionar diâmetro do vazio ao valor de sucção
1984). Outras propõem a obtenção da curva estes métodos não consideram a não
característica a partir de frações uniformidade geométrica dos vazios, já que
granulométricas (Gosh, 1980 Rawls e assumem que existe uma relação unívoca entre
Brakensiek, 1989). Esta última abordagem é sucção e diâmetro de vazio.
bastante conveniente já que tais informações De uma forma geral, os métodos pressupõe a
são rotineiramente determinadas inexistência de variação de volume de solo
experimentalmente. durante processos de umedecimento ou
A Tabela 1 relaciona algumas das secagem.
proposições para modelagem da curva Face às dificuldades experimentais para
característica. obtenção da curva característica, alguns
De uma forma geral os modelos baseiam-se métodos estão inclusive sendo estendidos para
no conceito de similaridade entre a curva novas aplicações. Equações empíricas
característica e a função de distribuição relacionando os parâmetros do modelo de Van
granulométrica, que indiretamente está Genuchten a condições de compactação e índice
relacionada à distribuição acumulativa de de plasticidade foram propostos na literatura
volume de vazios. (Tijum et al, 1997).
Os métodos assumem que sob condições em
que a pressão no líquido é negativa, a curvatura

Tabela 1 – Proposições para Modelagem da Curva Característica


Referência Equação Definição de variáveis
1 Θ = teor de umidade normalizadoΘ = (θ-θr)/(θs -
Gardner Θ=
1 + qψ η
θr); θ, θr eθs , respectivamente os teores de umidade
(1858)
volumétrico, residual e saturado.
η e q = parâmetros de ajuste
Brooks e λ Θ = teor de umidade normalizado:
ψ 
Corey Θ =  b  λ =índice de distribuição de diâmetro de vazios
(1964)  ψ 
Visser a b e c =parâmetros de ajuste
ψ = a( θ s − θ ) b / θ c
(1966) θs = teor de umidade saturado (= porosidade)
Farrel e α=parâmetro de ajuste
Larson ψ = ψ beα ( 1−Θ )
(1972)
Ss = θ/θs :
Roger e
ψ = a( Ss − b)(Ss − 1) a e b = parâmetros de ajuste
Hornberger
correção do modelo de Brooks & Corey.(1964), na
(1978)
faixa de baixos valores de sucção
Van  1 
m Θ = teor de umidade normalizado:
Genuchten Θ= n α, m e n = parâmetros de ajuste
(1980)  1 + (αψ ) 
 θ 
−β θs =teor de umidade saturado (= porosidade)
ψ = ψ b   λ1 percentagem da fração areia
Gosh  θs  λ2 percentagem da fração silte
(1980) λ 
0 , 2822
 λ3 
0, 0625

β = 2, 619 2  (λ4 + 0,7 )0, 0625 λ04,1250  5,91 + 1,1 λ3 percentagem da fração argila
 λ1   λ1 + λ3  λ2 λ3
λ 4 = 6,2 − 5,91
λ1 λ1 + λ3
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William et lnψ = a + b ln θ a e b =parâmetros de ajuste
al (1983)
Saxton et al a e b =parâmetros de ajuste
ψ = aθ b
(1986)
Umedecimento: n = porosidade
n  ψb 
λ
λ parâmetro de ajuste
θ=   K ψ >ψ b θs = teor de umidade para condição de saturação
1 + λ  ψ 
ao natural (< porosidade)
  λ  ψ  ψb * = sucção de entrada de ar para a condição de
θ = n 1 −    K ψ ∗b ≤ ψ ≤ψ b

Haverkamp   1 + λ  ψ b  umedecimento (adotado igual a ψb )
e Parlange
(1986) θ = θ s K ψ ≤ ψ ∗b

Secagem:
λ
ψ   ψ  θ 
θ = n  b  1 − b 1 − s  K ψ > ψ b
 ψ   ψ  n 
θ = θs K ψ ≤ ψ b
McKee e 1 Θ = teor de umidade normalizado
Bumb Θ= a e b =parâmetros de ajuste
1+ e ( ψ −a ) / b
(1987)
ψ 
λ
ψb em cm H2 O
Θ =  b  n = porosidade (θs )
 ψ C = porcentagem de argila (5%<C< 60%)
5, 3396738+ 0,1845038( C ) − 2, 438394546( n ) −0 ,00213853( C 2 ) − 
Rawls e 0 ,04356349( S )( n) − 0, 61745089( C )( n) +0 ,00143598( S 2 )( n2 ) −  S = porcentagem de areia (5%<S< 70%)
 
0 ,00855375( C )( n ) − 0, 00001282( S )( C ) + 0 ,00895359( C ) ( n ) − 
2 2 2 2 θ r = − 0,018242 + 0,00087269( S ) + 0,00513488( C ) + 0 ,02939286( n )
Brakensiek
0 ,00072472( S )( n) + 0 ,0000054( C )( S ) + 0,50028060( n )( C ) 
2 2 2

(1989) ψb = e 0 ,00015395( C 2 ) − 0 ,0010827( S )( n ) − 0,00018233( C 2 )( n 2 ) +


0 ,00030703( C )( n ) − 0 ,0023584( n )( C )
2 2
− 0 ,7842831+ 0 ,0177544( S ) −1,062498( n )− 0 ,000005304( S 2 )− 
0 ,00273493( C 2 ) +1,11134946 ( n 2 ) − 0 ,03088295( S )( n ) + 
 
0 ,00026587( S )( n ) − 0,00610522 ( C )( n ) −
2 2 2 2

0 ,00000235( S 2 )( C ) + 0,00798746 ( C 2 )( n ) −0 ,00674491( n 2 )( C ) 
λ=e
a, m e n = parâmetros de ajuste ψo = 106 kPa
e = base log neperiano (e=2,718)
θs
θ =Cψ
[ln[ e + (ψ / a ) ]
m
Sucção (ψ)
n (escala natural)
Fredlund e Ponto de a = ψi
Xing (1994) ψp inflexão
θ 
ln(1 + ψ
Inclinação (s)
) m = 3,67 ln s 
ψr ψi s = θ i /(ψp-ψ i)
Cψ = 1 −  θi 
ψo
ln(1 + ) 1,31m + 1
ψr Teor de Umidade
n= 3,72s ψ
θi Volumétrico (θ)
mθs

S r = Sc + S a (1− Sc ) a, h co e m = parâmetros de ajuste


  hco  
h co=1 a 2,5ψb (cm H2 O)
 h  
2
2
 − m ψ  
S c = 1 −  co  + 1e     Sr = θ/θs :
Aubertin et  ψ   a ≈ 0,006 (curva de desaturação)
al (1998) ψo = 107 cm H2 O
a 2 ln(1 + ψ )
S a = Cψ 1 1 ψ 903 C = 1 − ψr ψr = 15x103 cm H2 O ⇔ θr
e ψ
3 6 ψ
ψ
ln(1 + o ) e = índice de vazios
ψ r

caracterização de amostras de solo residua l


4. RESULTADOS EXPERIMENTAIS EM estão apresentados na Tabela 2.
SOLOS BRASILEIROS Os ensaios para determinação da curva
característica foram executados segundo 2
Machado e Vilar (1998) realizaram ensaios em procedimentos diferentes. Para baixos valores
amostras indeformadas extraídas em um poço de sucção (até 13 kPa) foi utilizada placa de
localizado no campo experimental da sucção e para altos valores utilizou-se célula de
EESC/USP, São Carlos. Os resultados da pressão. Considerando que a aplicação dos
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valores de sucção foi crescente, os ensaios


foram feitos no sentido da desaturação das ε=
1 n
∑ (
n i =1
)
θ i − ˆθ i
2
(2)
amostras.
onde θ i é o teor de umidade volumétrico
Souza (1995) executou ensaios em solo
residual da encosta do Morro Santos Rodrigues previsto, θ̂ i a umidade medida e n o total de
(Querosene), no Rio de Janeiro. Os testes foram pontos experimentais.
realizados em células de pressão e seguiram a De acordo com Leong e Rahardjo (1998), o
trajetória de umedecimento. A caracterização número total de pontos experimentais utilizados
do solo residual está listada na Tabela 2. na estimativa dos parâmetros de ajuste dos
modelos tem pouca influência na qualidade da
Tabela 2 – Caracterização dos solos modelagem. Os autores, entretanto, ressaltam a
Local São Carlos Querosene, RJ necessidade dos dados serem representativos de
ωcampo (%) 16,7 5,3 toda amplitude da curva característica. A
γt campo (kN/m3 ) 19,2 14,8 inexistência de dados experimentais na região
n 0,39 0,48
correspondente a altos valores de sucção (θ<θr)
S (%) 71,3 15,5
θcampo (%) 28 7,5 faz com que os erros nesta região sejam
Argila (%) 28 10 acentuados.
Silte (%) 13,7 15 A Tabela 3 resume os erros na modelagem da
Areia (%) 68,9 75 curva característica para os dois materiais
LL (%) 28 - estudados. Os resultados indicam que, com
LP (%) 17 - exceção dos métodos que utilizam as frações
granulométricas (Gosh, 1980 e Rawls e
5. MODELAGEM DAS CURVAS Brakensiek, 1989), os erros estão em uma faixa
CARACTERÏSTICAS que varia entre 0,7 a 15. No caso dos solos
estudados o modelo de Gardner (1958)
A determinação dos parâmetros de ajuste dos apresentou o melhor ajuste.
modelos propostos na Tabela 1 foi feita a partir
de um processo iterativo, minorando o erro Tabela 3 – Erro na Modelagem (Equação 2)
entre as curvas experimental e prevista. Para tal Local
desenvolveu-se uma planilha eletrônica, Autor São Carlos Querosene, RJ
incorporando todos os métodos descritos neste Gardner 0,69 0,81
Brooks e Corey 4,93 2,26
trabalho.
Farrel e Larson 8,08 15,46
A princípio, utilizou-se como critério de
Roger e Hornberger 2,08 2,00
medição da qualidade do ajuste, o coeficiente +Brooks e Corey
de correlação associado à linha de tendência Van Genuchten 0,78 2,47
entre resultados experimentais e resultados William et al - 1,66 6,16
previstos. Este tipo de abordagem fornece Saxton et al
coeficiente de correlação (r2 ) unitário sempre Haverkamp e Parlange 2,33 0,72
que os pontos são ajustáveis a uma relação McKee e Bumb 9,60 3,40
linear qualquer. Em algumas simulações Fredlund e Xing 0,76 3,54
observou-se uma defasagem constante entre as Aubertin et al 5,99 1,2
curvas experimental e prevista. Com isto, Gosh 151,99 21,30
apesar de r2 =1, o ajuste não indicava uma boa Rawls e Brakensiek 33,10 10,30
qualidade de previsão.
Assim sendo, a metodologia adotada para A Figuras 2(a) e 2(b) ilustram graficamente a
medição da qua lidade da modelagem baseou-se qualidade do ajuste para os modelos que,
em um critério de erro (ε), definido como o independente do solo estudado, apresentaram
somatório do quadrado dos resíduos, dividido erro inferior a 4. As curvas obtidas dentro desta
pelo número de determinações consideradas: faixa de erro simularam razoavelmente bem os
resultados experimentais. A reduzida faixa de
dados experimentais para o caso do solo
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residual do Querosene RJ, induziu a desvios na 50

modelagem das extremidades da curva

Teor de Umidade
Volumétrico (%)
40
característica.
30
A Figura 3 mostra as curvas obtidas com os
modelos baseados na distribuição 20

granulométrica, para o solo residual do 10

Querosene RJ. Os resultados indicam uma 0

tendência de subestimar os teores de umidade 1,E-01 1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04 1,E+05

Sucçao (kPa)
volumétricos. Os erros calculados (Tabela 3)
Exp. Rawls & Brakensiek Gosh
foram superiores a 10, acima do limite
considerado aceitável, para o caso dos solos Figura 3 - Modelos Baseados na Curva
estudados. Ressalta-se ainda a incapacidade Granulométrica – Querosene, RJ
desses modelos reproduzirem a forma sigmoidal
da curva característica. Assim sendo, a tangente O modelo de Visser (1966) não pôde ser
à curva, que define a capacidade de retenção comparado aos demais por não ser explicitado
específica (C(θ)), não pode ser estimada por em termos de teor de umidade. Os erros
estes modelos. calculados em termos dos desvios no valor da
50
sucção foram 287,2 e 1161,6, respectivamente,
para o solo do Querosene RJ e do campo
Teor de Umidade
Volumétrico (%)

40

experimental de São Carlos (USP). Apesar


30
destes valores a qualidade da modelagem pode
20 ser considerada aceitável, conforme mostra a
10
Figura 4.
50
0
1,E-01 1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04 1,E+05
40
Sucçao (kPa)
Teor de Umidade
Volumétrico (%)

30
Exp. Gardner Van Genuchten
Fredlund e Xing Brooks+Roger Haverkamp
20

(a) São Carlos 10


50 Exp. Visser

0
40 1,E-02 1,E-01 1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04
Sucçao (kPa)
Teor de Umidade
Volumétrico (%)

30
Figura 4 – Modelo de Visser (1966) – São
20
Carlos
10

0
6. CONCLUSÕES
1,E-01 1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04 1,E+05
Sucçao (kPa) Este trabalho examinou a aplicabilidade de
Exp. Gardner Van Genuchten proposições empíricas para modelagem da
Fredlund e Xing Brooks+Roger Haverkamp
curva característica para o caso de dois solos
(b) Querosene, RJ residuais brasileiros. A maioria dos modelos
Figura 2 –Modelos com Erro inferior a 4 requer a definição de um número de
parâmetros, variando entre 2 e 6. Alguns destes
são determinados por simples ajuste, outros são
estimados a partir dos resultados experimentais
(ψ b, ψr, θr, θs).
De uma forma geral, as equações são
correlacionáveis, conforme constatado por
outros autores (Rawls e Brakensiek, 1989;
Leong e Rahardjo, 1998).
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Porto Alegre, RS, Março, pp76-92.

A definição da qualidade do ajuste foi Properties of Soils - Soil Sci., v.130, No


estabelecida a partir de um critério de erro 1.2, pp.60-63.
baseado na estimativa dos teores de umidade Gerscovich, D.M.S. (1994) - Fluxo em Meios
volumétrica. Para os solos estudados, adotou-se Porosos Saturados-Não Saturados: Model.
como limite aceitável o erro igual a 4. Num. com Aplicações ao Estudo da
Alguns modelos não reproduziram a forma Estabilidade de Encostas na Cidade do RJ
sigmoidal da curva característica e, portanto não - Tese de Doutorado - DEC - PUC-Rio.
conseguiram um bom ajuste. Haverkamp,R. D.G. e Parlange, J.Y. (1986) –
As proposições baseadas nas frações Predicting the Water-Retention Curve from
granulométricas não indicaram um bom ajuste. Particle Size Distribution: 1. Sandy Soils
Independente do tipo de solo, os melhores without organic matter. Soil Sci., vol.142,
resultados foram observados com o modelo de no.6, pp.325-339.
Gardner (1958). Os modelos de Haverkamp e Hillel, D. (1971) - Soil and Water: Physical
Parlange (1986), VanGenuchten (1980), Principles and Processes –Acad.Press, NY.
Fredlund e Xing (1994), Brooks e Corey Leong, E.C. e Rahardjo, H. (1998) – Review of
(1964), corrigido pela proposição de Roger e Soil-Water Charact. Curve Eq., J. Geot.
Hornberger (1978) e Visser (1966), também and Geoenv. Eng., dez., pp.1106-1117.
indicaram um bom ajuste. Machado S. L. e Vilar, O M. (1998) –
O modelo de Haverkamp e Parlange (1986) Resistência ao Cisalhamento de Solos Não
envolve o menor número de parâmetros de Saturados: Ensaios de Laboratório e
ajuste e, a exceção dos demais, considera os Determinação expedita. Solos e Rochas,
efeitos das trajetórias de umedecimento ou vol.21, no.2, pp.65-78.
secagem. McKee, C.R. e Bumb, A C. (1987) – Flow-
testing coal bed methane production wells
AGRADECIMENTOS in the presence of water and gas, SPE
Formation Evaluation, dec., pp.599-608.
A autora agradece à UERJ pelo apoio financeiro Rawls, W.J. e Brakensiek (1989) – Estimation
a título de bolsa de Iniciação Científica da aluna of Soil Water Retention and Hydraulic
Michelle Nogueira Guedes. Properties, Unsaturated Flow in
Hydrologic Modeling: Theory and
REFERÊNCIAS Practice, ed H.J. Morel-Seytoux, Kuwer
Academic Publishers, pp.275-300.
Aubertin, M; Ricard, J-F e Chapuis, R.P. (1998) Roger, B.C. e Hernberger, G.M. (1978) –
A Predictive model for the water retention Empirical equations for some soil hydraulic
curve: application to tailings from hard- properties. Water Res. Res., 14, pp.601-604
rock mines. Can. Geot. J., n.35, pp.55-69. Smith, R.M. e Browning, D.R. (1942) -
Brooks, R.H. e Corey, A.T. (1964), Hydraulics Persistent Water-Unsat. of Natural Soil in
Properties of Porous Media, Colorado State Relation to Various Soil and Plant Factors -
Univ. Hydrol. Paper No.3. Soil Sci. Soc. Am. Proc., v.7, pp.114-119.
Farrel, D. A e Larson, W. E, (1972) – Saxton, K.E., Rawls, J.S., Homberger, e
Modelling the Pore Structure of Porous Papendick (1986) - Estimating Generalized
Media, Water Res. Res., no. 3, pp.699-706. Soil-Water Characteristics from Texture -
Fredlund, D.G. e Xing, A (1994) – Equations Soil Sci. Soc. Am. J., no.50, pp.1031-1036.
for the soil water characteristic curve - Souza, V. A. D. (1995) – Estudo de
Can. Geot. J. 31(4) pp 521-532. Mecanismos de Ruptura na Encosta do
Gardner,W.R. (1958) - Some Steady-State of Morro Santos Rodrigues (Querosene) – RJ,
the Unsaturated Moisture Flow Equation Dissertação de Mestrado, DEC- PUC-Rio
with application to Evaporation from Water Tinjum, J.M.; Benson, C.H. e Blots, L.R.
Table - Soil Sci., No. 85, Vol.3, pp228-232. (1997) - Soil-Water Characteristic Curves
Ghosh, R.K. (1980) - Estimation of Soil for Compacted Clays, J. Geo. and Geoenv.
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IV Simpósio Brasileiro de Solos Não Saturados, 2001
Porto Alegre, RS, Março, pp76-92.

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