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Análise do Rompimento Hipotético da Barragem de Ernestina
pela falha da barragem, pela qual a água do brecha é a consideração dos efeitos
reservatório passa, podendo alargá-la e hidrodinâmicos no interior do reservatório. O
aprofundá-la. A mecânica da formação da rompimento da barragem gera uma onda
falha inicial e da brecha não é bem positiva para jusante da barragem e uma onda
compreendida tanto em barragens de negativa que se propaga para montante no
concreto como de terra. interior do reservatório. Quando o rompimento
A formação da brecha tem sido é gradual, o efeito desta onda é pequeno, e o
simulada pelos seguintes métodos (Almeida e reservatório se comporta como se houvesse
Franco, 1994): uma grande abertura de comportas. A
modelação deste processo é importante
1. Hidrograma de ruptura estimado: É o porque a vazão através da brecha depende do
método mais simples, em que um nível da água. Em processos de formação de
hidrograma de ruptura é obtido a partir brecha lentos, um modelo de propagação em
de estimativas de vazão de pico, tempo reservatório do tipo hidrológico pode ser
de esvaziamento e volume do utilizado, mas se o rompimento for muito
reservatório. rápido ou instantâneo, a declividade da linha
2. Evolução pré-determinada da brecha: da água ao longo do reservatório vai exigir a
É um método bastante popular para utilização de um modelo hidrodinâmico (Fread,
todos os tipos de barragens. Uma 1977). Desprezar a onda negativa pode
brecha de forma pré-determinada resultar num pico de vazão de ruptura
cresce de acordo com parâmetros de superestimado em relação ao real.
tempo de formação e dimensões A propagação do hidrograma é
máximas. realizada com metodologia semelhante à
3. Evolução por erosão simplificada: utilizada para propagação de cheias normais
Especialmente utilizado em barragens em rios, porém as cheias devidas ao
de terra este método considera a rompimento de barragens são, em geral,
erosão do material da barragem por maiores e de crescimento mais rápido do que
alguma expressão de descarga sólida as cheias naturais.
e os aspectos hidráulicos de forma A maior parte dos modelos
simplificada, em geral por uma desenvolvidos para análise de rompimento de
equação de vertedor de soleira barragens utilizam as equações de Saint
espessa. Venant resolvidas pelo método de diferenças
4. Evolução por erosão completa: Este finitas (Reiter, 1992).
método combina as equações O escoamento a jusante da barragem
hidrodinâmicas completas com pode, dependendo das características do
equações de descarga sólida. hidrograma de ruptura, da topografia e das
Os modelos de formação de brecha condições iniciais do rio, desenvolver uma
que incorporam conceitos de erosão e frente de onda bastante abrupta. Existindo
transporte de material sólido necessitam uma suficiente energia, a frente de onda pode
grande quantidade de dados sobre o material tornar-se cada vez mais abrupta, rompendo-se
da barragem e o hidrograma calculado é tão e formando um forte ressalto móvel,
sensível à incerteza que existe nestes dados, denominado onda de choque. A onda de
que a utilização destes modelos pode não se choque é caracterizada pela descontinuidade
justificar frente a um modelo de formação de das variáveis profundidade e vazão e pela
brecha mais simples. Além disso, os conceitos inaplicabilidade local das equações de Saint-
de erosão e transporte não se aplicam à Venant. Uma das hipóteses adotadas na
barragens de concreto. Os métodos mais obtenção das equações de Saint-Venant, ou
simples, como o de evolução pré-determinada seja, a de que as acelerações verticais são
da brecha ainda são os mais adotados. desprezíveis, não é atendida neste caso
Mais importante que as equações (Basco, 1989, Cunge et al., 1980). A solução
utilizadas no cálculo da vazão através da numérica do escoamento encontrada na
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Propagação do hidrograma
(5)
As equações de Saint-Venant,
expressas na forma conservativa e com O primeiro método considera a seção
termos adicionais para os efeitos de transversal como única nas suas
expansão/contração, sinuosidade do canal e características de área A, raio hidráulico R e
fluidos não-Newtonianos, consistem de uma rugosidade n. O segundo método considera
equação de conservação de massa: as características n, R e A separadamente
para o canal, a área inundada a esquerda e a
(3) área inundada a direita do canal. No segundo
método, chamado método da seção composta
ou da condutância hidráulica, as condutâncias
e uma equação de conservação de momento: de cada parte do canal são calculadas
separadamente pelas Equações (6) a (8) e
então são combinadas pela Equação (9) para
obter a condutância total do canal.
(4)
(6)
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comportamento melhor, isto é, a variação romper. Isto permite simular o avanço de uma
dK/dh é mais suave na vizinhança desta onda de cheia pelo vale e por barragens e
transição. restrições impostas por pontes, onde tanto
A solução das equações é obtida barragens como pontes e aterros podem
utilizando um esquema de diferenças finitas romper, atingindo-se determinadas condições
de “quatro pontos ponderado” apresentado extremas de vazão ou elevação do nível da
por Preissmann em 1961. A substituição do água, previamente especificadas para cada
esquema de diferenças nas equações uma das estruturas.
diferenciais resulta em equações analíticas Uma barragem pode ser considerada
não-lineares. Estas equações, aplicadas a uma condição de contorno interna, definida
cada um dos N-1 sub-trechos entre as seções por um trecho curto entre as seções i e i+1,
de cálculo, e somadas às condições de onde o escoamento é descrito pelas Equações
contorno, resultam em um sistema de 2.N (10) e (11).
equações e de 2.N incógnitas a cada intervalo Para uma barragem o termo Q s da
de tempo. O sistema é resolvido utilizando o Equação (11) é calculado a partir da
método iterativo de Newton-Raphson. expressão:
Ao longo de um rio ou canal podem
existir estruturas como pontes e barragens ou
locais como quedas d’água, em que as
equações de Saint-Venant não são aplicáveis.
Para estes pontos podem ser usadas (12)
equações empíricas que descrevem relações
cota - descarga, como as equações de
vertedores. O modelo DAMBRK permite incluir
pontos singulares deste tipo mediante a
onde k sp é um fator de correção para
introdução de condições de contorno internas.
afogamento, cs é um coeficiente de descarga
As condições de contorno internas são
para o vertedor sem comportas, hs é a altura
pequenos trechos (valores de ∆ x entre zero e
da crista do vertedor, cg é o coeficiente de
a dimensão real da estrutura representada)
descarga para o vertedor com comportas, Ag é
em que as equações de Saint-Venant são
a área de fluxo da comporta, hg é a elevação
substituídas por duas equações, sendo uma
da linha central da comporta ou a altura da
delas a equação da conservação de massa
água a jusante se esta lhe for superior, kd é
com armazenamento desprezível, isto é:
um fator de correção para afogamento, cd é o
coeficiente de descarga para escoamento por
Qi = Q i+1 (10) sobre a barragem, L d é o comprimento da
barragem menos o comprimento do vertedor,
Ls é o comprimento do vertedor, hd é a altura
onde Qi é a vazão a montante e Qi+1 é a vazão da barragem, e Qt é a vazão turbinada, que
a jusante da condição de contorno interna. A pode variar com o tempo independentemente
outra é uma equação que depende do tipo de da altura da água no reservatório.
estrutura ou ponto singular que está sendo A vazão de ruptura da barragem Qb
representado, porém pode ser caracterizada pode ser calculada pela expressão:
da seguinte forma:
Qi = Qs +Qb (11)
(13)
em que Q s representa a vazão que passa
normalmente pela estrutura, por exemplo a
vazão turbinada para uma barragem, ou a onde c v é um fator de correção para a
vazão que passa sob uma ponte, e Q b velocidade de aproximação, b i é a largura
representa a vazão que ocorre se a estrutura instantânea da base da brecha descrita pela
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Conseqüências do rompimento
hipotético de Ernestina
As conseqüências do rompimento
hipotético da barragem de Ernestina foram
avaliadas em duas etapas. Na primeira etapa
foram utilizados dois cenários para a
estimativa da inundação no trecho entre
Ernestina e Passo Real. Na segunda etapa
foram definidos três cenários para a análise
das conseqüências sobre os aproveitamentos
de jusante.
Os dois cenários de análise da primeira Figura 8. Esquema da simulação para estimativa da
etapa consideraram que o rompimento ocorria inundação do vale.
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Figura 9. Propagação do hidrograma da cheia de Figura 11. Área e residências atingidas no trecho 2
rompimento para o cenário 1. do vale do rio Jacuí.
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