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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO


DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO
SETOR DE CURSOS LATO SENSU
GEOMINAS
BARRAGEM: CONCEITOS BÁSICOS E APLICAÇÕES

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOLOGIA DE MINAS E TÉCNICAS DE LAVRA À


CÉU ABERTO - GEOMINAS

DISCIPLINA: BARRAGENS: CONCEITOS BÁSICOS E APLICAÇÕES


PROFESSORA: CAMILA NASCIMENTO ALVES – PARTE I

BLOCO I: FUNDAMENTOS

Julho/2020

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1. APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA

Os estudos de uma barragem e, em particular de sua fundação, necessita investigações


preliminares que forneçam informações topográficas, hidrológicas e geológico-geotécnicas. As
informações topográficas cumprem, previamente, um levantamento topográfico da região onde
deverá ser construída a barragem, delineando-se assim a sua bacia de acumulação. Nesta fase
são particularmente úteis as fotografias aéreas, que após interpretação, fornecem informações
importantes, como o tipo de vegetação constituinte do terreno, pois essa é um indicativo da
natureza do terreno. Vales bem encaixados, ou seja, estreitos, revelam a existência de rochas
com boa qualidade, visto que suas margens são pouco erodíveis. Já vales planos e largos
indicam rochas de qualidade inferior, devido a serem facilmente afetados pela denudação. Outro
fator é a existência ou não de canais de erosão, pois sua ausência indica índices de alta
permeabilidade, já o caso contrário indica a presença de solos de menor permeabilidade.
As investigações prévias de ordem hidrogeológica visam conhecer o regime de fluxo e
hidráulico das águas subterrâneas da região. As informações das condições geológicas regionais
são de importância fundamental, visto que cerca de 40% dos acidentes em barragens registrados
nos Estados Unidos são, direta ou indiretamente, de ordem geológica. As informações
geotécnicas seguem as geológicas, e vice-versa, especialmente quando se trata de barragens de
material granular. A verdade é que, para a construção dessas barragens, impõe-se o
conhecimento, tão exato quanto possível, das propriedades dos materiais da fundação e dos
materiais de empréstimo que serão utilizados na sua constituição.
Segundo [1] as barragens são estruturas construídas em vales e destinadas a fechá-los
transversalmente, proporcionando assim um represamento de água ou de rejeitos oriundos de
mineração. Não se deve confundir com diques, que são obras construídas ao longo do curso
d´água para evitar seu transbordamento para terrenos marginais mais baixos.
Assim como as inúmeras vantagens desfrutadas pela construção de uma barragem, são
os riscos que as eventuais falhas presentes na estrutura dessas podem causar à sociedade. No
ano de 1946, em Johnstown, nos Estados Unidos, ocorreu o rompimento de uma barragem

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local, o que gerou uma onda de cheia com altura de, aproximadamente, 20 metros, causando
assim a morte de 2209 pessoas (http://usparks.about.com, 2012). No Brasil, no dia 5 de
novembro de 2015 ocorreu o rompimento da barragem de Mariana, no distrito de Bento
Rodrigues, no estado de Minas Gerais, que culminou com o óbito de aproximadamente 20
pessoas, além de inúmeros impactos sócio-ambientais. E, no dia 25 de Janeiro de 2019 ocorreu
o acidente oriundo de uma barragem de mineração no Brasil, o rompimento da barragem de
Brumadinho, também em Minas Gerais, com aproximadamente 260 óbitos e inúmeros impactos
ambientais, sociais e econômicos da história da mineração no nosso país. Alguns autores
consideram esse acidente como o segundo maior acidente industrial do século [2].
Felizmente, nem todos os acidentes evolvendo essas obras de engenharia possuem a
mesma gravidade, contudo não é permissível que a sociedade conviva com estes tipos de riscos.
Nesta disciplina de Barragem do curso Geominas iremos trabalhar os fundamentos
técnicos de projeto de barragens, de acordo com a sua devida classificação. Para isso, faremos
uma análise a respeito das diferenças entre barragens convencionais e barragens de mineração.
Depois, faremos a abordagem da concepção de projetos de barragens de rejeitos, com as suas
principais características geotécnicas, avaliação da capacidade de armazenamento, etc. Em
seguida, iremos estudar os principais métodos construtivos de barragem de contenção de rejeito,
tais como barragens de contenção de rejeitos à montante, à jusante e linha de centro.
Abordaremos as vantagens e desvantagens e a relação entre custo e segurança dos tipos de
barragens de contenção de rejeitos, sem esquecer dos métodos de auscultação de barragem, que
se referem aos processos de instrumentação de barragem. Também iremos enveredar nos
problemas geológicos e geotécnicos associados às fundações em maciços terrosos, tema
bastante atual e que precisa ser estudado com afinco pelos geólogos e engenheiros geotécnicos.
No mais desejamos bons estudos!

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2 TIPOS DE BARRAGEM
As barragens podem ser classificadas segundo diversos critérios:
a) De acordo com a utilização
 Barragens de armazenamento ou regularização de vazões
 Barragens de derivação para desviar o fluxo para canais
 Barragens para o controle de cheias
 Barragens para contenção de rejeitos de mineração
b) De acordo com o projeto hidráulico
 Barragens vertedouras ou de soleira livre
 Barragens não vertedouras
c) De acordo com o comportamento estrutural
 Barragens tipo gravidade
 Barragens estruturadas
d) De acordo com o material de construção
 Barragens de concreto ou alvenaria
 Barragens de aterro (terra ou enrocamento)

A barragem de terra ou enrocamento é a mais usualmente adotada. Neste curso o foco é sobre barragem
de contenção de rejeitos de mineração.

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1 Barragem de terra ou enrocamento


A barragem de terra ou enrocamento é apropriada para locais onde a topografia se apresenta
suavemente ondulada, nos vales pouco encaixados e onde exista área de empréstimo de materiais
argilosos/arenosos suficientes para a construção da barragem. Deve-se analisar a possibilidade de
utilizar materiais arenosos provenientes das escavações exigidas para a execução da obra, como por
exemplo do canal de adução, se houver, e das fundações das estruturas de concreto.
1.1 Principais componentes de barragens

As barragens de terra possuem elementos básicos que a constituem como um todo: talude jusante,
crista, talude montante, maciço, base e fundação. Estes elementos também são comuns à maioria dos
tipos de barragens ( figura 1).

Figura 1 – Elementos básicos de uma barragem. Fonte: Adaptado de Marangon (2004).

No processo construtivo de uma barragem existe um elemento responsável pelo desvio do curso
d’água, chamado de ensecadeira (figura 2).
Os túneis de desvio possuem função similar à ensecadeira, porém, diferenciam-se pelo fato de ser
usualmente empregado nas construções em vales íngremes (figura 3).

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Figura 2 – Esquema de construção de uma ensecadeira. Fonte: Adaptado de Marangon (2004).

Figura 3 – Esquema de um túnel de desvio. Fonte: Adaptado de Marangon (2004).

1.2 Classificação das barragens de terra

Segundo Quintas (2002), são consideradas barragens de terra aquelas cuja estrutura é constituída
fundamentalmente por terra. Neste caso, é adequado, quando possível, utilizar o solo da área de
implantação da barragem. As barragens de terra são as mais utilizadas e numerosas, devido a vantagens
econômicas e construtivas que elas proporcionam, em muitos casos, em relação às de concreto. Elas
também resistem melhor a recalques do solo de fundação e o seu preço, por volume unitário, se
manteve aproximadamente constante nos últimos 50 anos.

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1.2.1Barragem Homogênea

A barragem homogênea é aquela composta de um único tipo de material, excluindo-se a proteção


dos taludes. Neste tipo de barragem, seu material necessita ser suficientemente impermeável, para
formar uma barreira adequada contra a água, e os taludes precisam ser relativamente suaves, para uma
estabilidade adequada.
O Guia Prático de Pequenas Barragens (2015) salienta que essas barragens são geralmente
construídas com solos argilosos. A grande maioria dispõe de uma zona drenante, vertical ou inclinada
ao longo de praticamente toda a sua altura, nominalmente chamada de filtro chaminé, prolongado na
horizontal por um tapete drenante, na zona de contato com a fundação, e por um prisma de blocos de
pedra (chamados de enrocamento) na zona do talude de jusante em contato com a fundação. Estas
zonas drenantes constituem o sistema de drenagem interna da barragem e servem para conduzir a água
que atravessa a zona de montante do barramento, da fundação e das ombreiras para jusante sem
provocar danos na barragem.

Figura 4 – Esquema de barragem homogênea. Fonte: Frutuoso (2007).

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1.2.2 Barragem zoneada


Esse tipo de barragem é representada por existir um núcleo central impermeável, envolvido por
zonas de materiais consideravelmente mais permeáveis, zonas essas que suportam e protegem o núcleo.
As zonas permeáveis consistem de areia, cascalho ou fragmentos de rocha ou uma mistura desses
materiais. Neste caso as camadas que funcionam como drenos, não há necessidade do revestimento dos
taludes e há maior estabilização devido aos ângulos de atrito internos maiores.

Figura 5 – Esquema de barragem zoneada. Fonte: Frutuoso (2007).

1.2.3. Barragem de enrocamento


Barragens de enrocamento são barragens em que se faz o emprego de blocos de rocha de vários
tamanhos juntamente com uma membrana impermeável sobre a face de montante do talude construído
ou um núcleo impermeável. Geralmente, esse empreendimento é viável em regiões com altos custos
para obtenção de concreto, terra e fácil obtenção de rochas. O tipo de rocha de fundação que tolera uma
obra de barragem de enrocamento, nem sempre tolera obras de concreto (MARANGON, 2004).

1.2.3a. Barragem de enrocamento com núcleo impermeável


Na barragem de enrocamento o material rochoso é predominante, e a vedação da água é feita
por meio de um núcleo argiloso. O núcleo pode ser centralizado ou inclinado para a montante. Ele
também é separado do material rochoso por meio de uma camada de transição para evitar o

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carregamento do material fino para o interior do enrocamento (COSTA, 2012). Na figura 6 pode se ver
duas secções típicas de uma barragem de enrocamento com núcleo impermeável.

Figura 6 – seção de barragem de enrocamento de núcleo centrado e núcleo inclinado. Fonte: Costa
(2012).

1.2.3b. Barragem de enrocamento com face impermeável


Nesse tipo de barragem, o material predominante também é rochoso, porém a formação do
reservatório e estanqueidade do barramento são garantidas por uma membrana externa impermeável
(figura 7).

Figura 7 – Seção de barragem de enrocamento com face de concreto e chapa de aço. Fonte:
Costa (2012).

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1.2.3c. Barragens de concreto


Barragens de concreto são as constituídas basicamente de materiais granulares produzidos
artificialmente aos quais se acrescentam cimento e aditivos químicos (MARANGON, 2004). Por este
motivo são as barragens que tem o maior custo de produção (figura 8).

Figura 8 – Alguns exemplos de barragem de concreto. Fonte: Costa (2012).

2 Diferenças entre barragens convencionais e barragem de rejeito

Barragens convencionais são construídas com materiais provenientes de uma mesma jazida,
com características semelhantes de densidade e umidade. A compactação das sucessivas camadas
construtivas garante a homogeneidade de comportamento do maciço. De acordo com MELLO (1988),
em barragens de rejeito, essa homogeneidade não é um condicionante de projeto, sendo inclusive
esperada certa heterogeneidade devido às diferentes épocas de alteamento e materiais utilizados
provenientes de diferentes frentes de lavra. Especialmente em barragens alteadas pelo método de
montante ou de linha de centro, os alteamentos são realizados sobre rejeitos depositados em curto
intervalo de tempo e conseqüentemente encontram-se pouco consolidados, apresentando menor

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resistência ao cisalhamento. Além disso, não existe compactação das camadas adjacentes, a não ser
pelo tráfego de equipamentos durante a construção.

3 Barragem de rejeito

Geralmente, o rejeito de mineração não possui valor comercial e precisa ser descartado de
forma econômica atentando para a minimização dos impactos ambientais.
A barragem de rejeito é construída para reter os materiais estéreis da mineração e de outros
processos industriais, segundo a definição do Manual de Segurança e Inspeção de barragens (2002). Já
a definição da European Comission (2004) a barragem de rejeito é uma estrutura projetada para
decantação e manutenção de rejeitos e água de processo.
A estrutura de uma barragem de rejeito é construída seguindo critérios técnicos e geotécnicos
com a finalidade de confinar o rejeito de forma segura. Ressalta-se que a variação do processamento do
minério pode mudar as características do rejeito, por isso cada barragem possui sua particularidade,
como o tipo de rejeito a ser depositado, as diferenças nas características granulométricas, os processos
de disposição, dentre outros aspectos específicos de cada barragem.
A geometria de uma barragem de rejeitos depende de vários fatores, como da topografia local,
podendo ser implantada aproveitando o perfil de vales, facilitando dessa maneira, a formação da lagoa
ou também pode ser implantada em terrenos planos. Deve-se evitar a construção de uma barragem
sobre nascentes, pois a pressão de água pode comprometer a estabilidade do aterro. Além disso, o solo
deve possuir capacidade de suporte suficiente para não correr deslizamentos ou grandes acomodações
devido ao peso de rejeito a cada alteamento.
Um projeto de barragem de rejeito é uma “especialização” no contexto de projetos de barragens
convencionais. Geralmente, os materiais empregados na construção de barragens de terra
convencionais são mais adequados e passam por controle tecnológico de solos, incluindo a umidade e
compactação ótima. Diferentemente do que ocorre nos materiais utilizados na construção de barragens
de rejeito, que geralmente, possuem porcentagem mais elevada de água e dificilmente passam pelo
controle tecnológico das barragens convencionais, visto que requer custos.

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A disposição controlada de rejeito parece causar um aumento do custo de produção sem trazer
“benefícios imediatos” para a empresa mineradora, e como conseqüência essa atividade tem sido
negligenciada e somente lembrada quando ocorrem “erros” e “acidentes”.
A construção de barragens de rejeito deve ser um processo continuado, isto é, estendendo-se por
praticamente todo o período da atividade mineira, possibilitando um acompanhamento dos resultados e
possíveis modificações e aprimoramentos do projeto inicial. Desse modo, pode-se dispor, de forma
segura, todos os rejeitos gerados no processamento, minimizando os riscos de acidentes.

4. CONCEPÇÃO DE PROJETO DE BARRAGEM DE REJEITO


Na elaboração de um projeto de barragens de rejeitos deve-se ter em mãos os dados técnicos,
mas também é necessários que se considere os riscos associados aos custos do projeto, além da
disponibilidade orçamentária. Para uma barragem ser implantada com o próprio rejeito considera-se um
conjunto de operações:
 Espessamento
 Hidrociclonagem
 Transporte e descarga da polpa
 Deposição de rejeito
 Sistema de recuperação de água
 Drenagem superficial e profunda
 Construção da barragem

4.1. Espessamento e hidrociclonagem


Neste caso o material é lançado de forma semelhante a um aterro hidráulico. Entretanto, realiza-
se o desaguamento como último estágio do beneficiamento antes de lançá-lo. Nesta operação, não
ocorre a secagem total do rejeito, mas uma remoção significativa da água contida na polpa através de
um processo denominado espessamento.
O espessamento (desaguamento) é o estágio final do beneficiamento e é caracterizado pelo
adensamento da polpa. Essa etapa influencia sobremaneira as características do rejeito. De forma geral

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as empresas mineradoras costumam empregar o espessador próximo à usina de concentração para


promover a recuperação da água com baixo custo, propiciando condições adequadas à obtenção de uma
polpa com maior percentagem de sólidos, facilitando o transporte até a barragem de rejeitos.
A figura 9 ilustra a utilização de espessadores em uma seção esquemática.

Figura 9 Planta e seção esquemática de um espessador. Fonte: Soares (2010).

A hidrociclonagem possui baixa competitividade se comparado ao espessamento devido aos custos


operacionais, além de não recuperarem diretamente a água de circulação.
No processo de hidrociclonagem o a fração mais grossa do hidrociclone, também chamada de
underflow é empregada na construção do maciço da barragem, enquanto a fração mais fina, a overflow
é lançada no reservatório resultante do barramento. Na figura 10 consta um esquema de hidrociclone.

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Figura 10 Corte longitudinal de um hidrociclone. Fonte: Soares (2010).

4.2 Transporte
Após a fase de beneficiamento os rejeitos são transportados na forma de polpa aos locais de
disposição de rejeitos. Porém, existem fatores determinantes na escolha do transporte do rejeito:
 Topografia da área de manuseio dos rejeitos
 Volumes a serem depositados
 Distância entre o espessador e a área de deposição
 Consistência qualitativa do rejeito
 Clima

A polpa geralmente é bastante abrasiva e porcentagem de sólidos variando entre 15% a 55%. O uso
de espessadores facilita a obtenção de uma porcentagem maior de sólidos, que chegar a 40% – 50%.
O transporte da polpa é feito com auxílio da gravidade através de calhas, valetas ou mesmo
tubulação. O que irá determinar a escolha é a distância e a diferença de cota entre a usina de
beneficiamento e a área onde se dará a disposição de rejeitos.

O uso de calha de madeira ou de concreto para o transporte é praticado em locais com


topografia descendente no sentido usina/barragem. Essas calhas são intercaladas com caixas, com o

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objetivo de promover a dissipação de energia ou reduzir a turbulência na polpa. No final dessas calhas
encontram-se caixas de recepção posicionadas a uma altura que atenda os parâmetros hidráulicos
direcionados ao lançamento da polpa. Inicia-se o sistema de descarga que consiste em uma tubulação
com pequena inclinação em direção a barragem. Os rejeitos podem ainda ser transportados por
caminhões de mina, correia transportadora ou uma combinação de qualquer dos métodos citados.

4.3 Descarga
O rejeito na forma de polpa perde totalmente a plasticidade e a coesão das frações argilosas
devido encontrarem-se acima de seu limite de liquidez, então se comportam como um fluido viscoso.
Esse rejeito após ser transportado poderá ser lançado na barragem, por métodos hidráulicos, em um só
local ou em diversos pontos.
O processo mais empregado consiste no lançamento dos rejeitos a montante da superfície da
água do lago de decantação, em praias formadas e distribuídas ao longo do perímetro da barragem
(descarga periférica).
Normalmente, das caixas de recepção da polpa inicia-se a tubulação de descarga (tubulação
tronco) para o seu lançamento em área pré-selecionada. Em algumas circunstâncias, antes do
lançamento da polpa na barragem, são empregados processos de hidrociclonagem para a separação das
frações mais finas, overflow, das mais grossas, underflow. Desse modo, materiais mais grossos são
utilizados na construção do corpo (maciço) da barragem, destinando a fração mais fina ao lago de
decantação resultante do barramento.
A hidrociclonagem possibilita a seleção e adequação dos materiais construtivos, portanto,
tornou-se uma etapa muito importante na construção de uma barragem. A figura 11 ilustra um arranjo
típico de um sistema de hidrociclonagem em relação ao dique inicial (aterro) da barragem.

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Figura 11 Arranjo típico de hidrociclones ao longo da cristada barragem. Fonte: Soares (2010).

A descarga da polpa pode ocorrer através de um ou de vários pontos de acordo com spigots que
controlam a descarga da polpa. Na figura 12A as tubulações de transportes devem ser desconectadas e
relocadas de modo a possibilitar a formação seqüencial de depósitos adjacentes. Os plugues também
realizam a função de lançar rejeitos em áreas contíguas. Os spitgots ficam posicionados ao longo da
tubulação, normalmente espaçados entre 15 e 45m e ainda auxiliam o controle de lançamento dos
rejeitos por válvulas individuais ( figura 12B).

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Figura 12 Método de descarga de polpa periférica por um único ponto (A). Método da descarga
periférica de polpa por spigots (B). Fonte: Soares (2010).

4.4 Avaliação da capacidade de armazenamento


A capacidade de armazenamento é um aspecto de grande relevância nos projetos e na
construção de barragens de rejeito. O dimensionamento deve considerar o volume de armazenamento
de água, indispensável ao beneficiamento, o que pode resultar na construção de barragens de grandes
alturas.
A capacidade de armazenamento em uma barragem está relacionada a diversos fatores, como
topografia, hidrologia, clima, velocidade de deposição do rejeito, a velocidade em que a polpa o
alimenta e a exrensão do eixo do barramento.
A granulometria dos materiais é fator determinante na construção de barragens. As lamas se
depositam de maneira sub horizontal, diferentemente dos materiais com granulometria grossa formando

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praias com ângulo de repouso variável e dependem da porcentagem dos sólidos e da granulometria
durante o lançamento.
A velocidade de sedimentação dos rejeitos lamosos é crítica para o dimensionamento dos
reservatórios, definindo a espessura da zona da clarificação requerida na qual ocorre a
sedimentação/transição e adensamento dos materiais.

5. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS GEOTÉCNICAS DOS REJEITOS


Os rejeitos possuem características variáveis que dependem do tipo de minério processado e do
método de beneficiamento adotado.
O comportamento geotécnico do rejeito está ligado às características do minério processado, à
natureza do depósito mineral e à forma de deposição do rejeito. Resultam em duas classes:
a) Areias lançadas por mecanismos hidráulicos e;
b) Lamas depositadas por sedimentação.

A granulometria é a característica mais importante e determina o comportamento dos rejeitos.


Para se estudar as características geotécnicas do rejeito de mineração utilizam-se os índices da
mecânica dos solos clássica. As principais características geotécncias investigadas em rejeitos de
mineração são a densidade in situ, Limites de Atterberg, Índice de vazios, adensamento,
compressibilidade, permeabilidade e resistência ao cisalhamento.

5.1.Densidade in situ

A densidade in situ e a umidade do rejeito dependem do método de lançamento e sua posição


relativa à barragem. Geralmente a densidade in situ aumenta com a profundidade devido a
compressibilidade dos rejeitos depositados. A figura 13 demonstra a variação da densidade em função
da profundidade em que se encontra o rejeito.

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Figura 13 À esquerda o aumento da densidade in situ dos rejeitos com a profundidade e ao lado
direito verifica-se a variação da densidade aparente seca com a profundidade. Fonte: Soares (2010).

5.2.Limites de Atterberg ( Limite de liquidez e limite de plasticidade)

Grande parte dos rejeitos de mineração perdem a plasticidade devido aos processos de
beneficiamento. Os rejeitos dificilmente atingem índice de plasticidade acima de 25%.

5.3.Índice de vazios e adensamento

O índice de vazios é definido como a linha de fronteira entre a sedimentação e o adensamento,


ocorrendo uma transferência de esforços entre os mesmos.
Os materiais situados nas camadas mais profundas possuem baixos índices de vazios ou
elevadas densidades secas, enquanto os mais próximos a superfície possuem elevados índices de
vazios. Assim, a compacidade relativa (CR) de um material granular pode ser definida como:
𝐶𝑅 = (1)

Onde:
𝑒 é o índice de vazios máximo

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𝑒 é o índice de vazios mínimo


𝑒 é o índice de vazios do material no estado em que se encontra

5.4.Compressibilidade

O lançamento de rejeitos por mecanismos hidráulicos possibilita a formação de camadas fofas,


constituídas de grãos finos, alongados e angulosos resultando em materiais com elevada
compressibilidade. Se estes materiais estiverem saturados e associados a baixos índices de
permeabilidade e ocorrer a aplicação de pressões externas, a fase líquida pode absorver a pressão
parcialmente ou em sua totalidade. Neste caso, o rejeito poderá se comportar como um fluido, processo
denominado de liquefação e pode ocorrer em solos com granulometria arenosa fina.

5.5.Permeabilidade

A variação da permeabilidade pode ser caracterizada de acordo com a dimensão dos grãos do
rejeito, plasticidade, modo de lançamento e a profundidade do material.
A segregação dos materiais de acordo com a granulometria influencia a permeabilidade. O
índice de vazios também é bastante significativo na permeabilidade de rejeitos, podendo provocar
variações na permeabilidade em até 5 vezes nos casos de materiais de granulometria grossa, No
caso das lamas a permeabilidade varia em até 10 vezes. Na figura 14 os valores de permeabilidade
média são plotadas em função do índice de vazios de rejeitos.

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Figura 14 Variação da permeabilidade média de rejeitos em função do índice de vazios. Fonte: Vick
(1983).
A permeabilidade (K) de um rejeito pode ser estimada com base na granulometria, de acordo
com o diâmetro efetivo d10 ( o peso de todos os grãos menores constitui 10% do peso total da amostra),
segundo:

𝐾 = 100(𝑑 ) (2)

A equação 2 foi determinada empiricamente com grãos de areia uniforme e deve ser usada
apenas como ordem de grandeza. Segundo experiência empírica e de técnicos que atuam no setor
alguns valores de permeabilidade podem ser usados (tabela 3):
K (cm/s) 10² 1 10-2 10-4 10-6 10-8
Solo Pedregulhos Areia AF* Argilas
Tabela 03 Valores de permeabilidade em função da granulometria do solo. Fonte: ABGE
(1996). AF* = areias finas e silto-argilosas, siltes argilosos.

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A segregação hidráulica está relacionada ao processo de deposição das partículas de tamanhos


diferentes e as diferentes distâncias de lançamento. A concepção clássica da deposição hidráulica das
partículas de rejeito e as permeabilidades esperadas são observadas 3 zonas:
a) Constituídas por areias de alta permeabilidade, situada próximo ao ponto de descarga;
b) Constituída por lamas, de permeabilidade baixa, situada distante do ponto de lançamento;
c) Permeabilidade intermediária situada entre as duas primeiras.

A largura de cada zona irá depender da proporção entre areais e lamas, além da posição do lago
de decantação em relação ao ponto de descarga.

Figura 15 Concepção da variação da permeabilidade em um depósito de rejeitos. Fonte: Kealy e Bush


(1971).

A tabela 02 se refere à alguns valores de permeabilidade mais freqüentes em alguns rejeitos.


Tipo de rejeito Permeabilidade (K) (cm/s)
Ciclonado grosso, limpo, com menos de 10 -2 a 10 -3
15% abaixo de 74µ
Espigotado com até 30% abaixo de 74µ 10 -3 a 5 x 10 -4
Lamas não plásticas ou de baixa 10 -5 a 10 -7
plasticidade
Lamas de alta plasticidade 10 -4 a 10 -8
Tabela 02 Valores relativos À permeabilidade para alguns rejeitos. Fonte: Soares (2010).

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5.6.Resistência ao cisalhamento

É possível analisar a resistência ao cisalhamento de um rejeito em função do atrito entre os grãos,


além da tensão efetiva, conforme o estudo geomecânico dos solos naturais. O ângulo de atrito interno
irá variar de acordo com a pressão confinante e será maior quanto melhor o encaixe entre as partículas.
O formato, o tamanho dos grãos, a distribuição granulométrica e o índice de vazios influenciam a
resistência ao cisalhamento (Pinto, 2006). A quantidade de fino também um fator determinante na
resistência ao cisalhamento de materiais granulares. Os finos reduzem os vazios e auxiliam na interação
entre os grãos, gerando curva de tensão-deformação com picos maiores e mais definidos.

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6 PRINCIPAIS MÉTODOS CONSTRUTIVOS DE BARRAGEM DE CONTENÇÃO DE


REJEITO
Após o enchimento do depósito inicial, o aproveitamento do espaço gera a necessidade de
continuar colocando rejeitos de mineração, se as condições de estabilidade física permitirem, portanto o
alteamento tem como objetivo aumentar a vida útil do local de disposição. Pequenos diques de partida
são construídos e os rejeitos são lançados sobre o rejeito de fundação existente (figura 16).

Figura 16 Perfil de uma barragem de rejeito e seus elementos. Fonte: Machado (2007).

As obras de contenção de rejeito de mineração, como as barragens, normalmente são


construídas com altura inicial para atender o primeiro ano de operação, sendo alteada posteriormente de
acordo com o avanço da lavra. A forma mais comum de fazer o alteamento de barragens é executar um
aterro onde todo o material novo compactado é colocado em cima da crista e sobre o talude antigo. O
alteamento é feito com os rejeitos de melhores características geotécnicas. Esta concepção de projeto
permite parcelar os custos, possibilitando que as fases finais da construção sejam realizadas pelas
próprias equipes do empreendedor.
Geralmente as barragens de rejeito são construídas com material compactado proveniente de
áreas de empréstimo, ou com material do próprio rejeito, partículas de granulometria mais grossa, que

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são separadas pelo processo de ciclonagem. Podem ser construídas ou alteadas com o próprio material
do rejeito por um dos seguintes métodos:
 Método à montante
 Método de jusante
 Método de Linha de Centro

6.1. Método à montante


Por questões econômicas muitas barragens de rejeitos são construídas pelo método à montante,
onde inicialmente é construído um dique de partida, normalmente de material argiloso ou enrocamento
compactado (figura 17). Após isso, é utilizada a técnica de aterro hidráulico e o próprio rejeito é
lançado à montante ao longo da periferia da crista, formando uma “praia”. Esta praia será a fundação, e
eventualmente, a fonte de material de construção do próximo alteamento. Esta fundação deverá possuir
resistência suficiente para resistir a deslizamentos e uma capacidade de suporte adequada para prevenir
recalques excessivos. Este processo continua sucessivamente até que até que a cota final prevista em
projeto seja alcançada. O processo seqüenciado do alteamento neste método está esquematizado na
figura 18.

Figura 17 Método construtivo à montante. Fonte: Soares (2010).


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Figura 18. Seqüência de alteamento de barragens de rejeito pelo método à montante. Fonte: Vick
(1983).

As vantagens do método à montante são (Soares, 2010):

 Menor custo de construção


 Maior velocidade de alteamento
 Menores volumes na etapa de alteamento
 Pouco uso de equipamentos de terraplenagem

As desvantagens são (Soares, 2010):


 Menor coeficiente de segurança, em função da linha freática, em geral situada muito próxima ao
talude de jusante (figura 19A);
 A superfície de ruptura passa pelos rejeitos sedimentados pouco compactados (figura 19B);

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 Há possibilidades de ocorrer entubamento, resultando no surgimento de água na superfície do talude


de jusante, principalmente quando ocorre concentração de fluxo entre dois diques compactados
(figura 19C);
 Há riscos de ruptura provocado pela liquefação da massa de rejeitos por efeitos de sismos naturais
causados pelas explosões ou movimentação de equipamentos.

Figura 19. Principais riscos de ruptura causados pelo alteamento segundo o método à montante. Fonte:
Silveira e Reades (1973).

Segundo Martin (1999) o método de alteamento à montante representa um desafio no âmbito


geotécnico devido às tensões induzidas, potencial de liquefação e não consolidação do material
utilizado como fundação.
Ainda segundo TRONCOSO (1997), esse método de alteamento apresenta inerente risco de
ruptura por liquefação, especialmente em regiões de alta sismicidade. Rupturas por percolação e piping
também são possíveis devido à pequena distância entre a lagoa de decantação e o talude à jusante. Esse
problema pode ser evitado através de ângulos suaves na praia de deposição e segregação e
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sedimentação de partículas mais grossas junto à face de montante. Sistemas de drenagem e filtros (por
exemplo, tapetes drenantes) evitam aumentos excessivos de poropressões e controlam a poluição da
água subterrânea, quando for o caso.
Alguns cuidados devem ser tomados em relação ao método à montante com o objetivo de
melhorar a segurança e o desempenho da obra, são eles (Soares, 2010):
 O lançamento de rejeito deve ser feito no perímetro do lago imediatamente à montante do
talude do dique inicial e dos alteamentos subseqüentes;
 Deve-se evitar retenção de água próximo à crista ou em áreas confinadas
 Os rejeitos devem ter fração arenosa para favorecer a drenagem e serem lançados com
concentração de sólidos que possibilite a segregação do material próximo à crista da barragem;
 O nível de água d reservatório deve ficar afastado da crista da barragem, adotando-se sistema de
esgotamento das águas de chuvas e aquelas liberadas pela polpa;
 Evitar o método de alteamento à montante em áreas que ocorram vibrações, de origem tectônica
ou não;
 As barragens não deverão ter grande altura e a velocidade de alteamento ficam condicionadas às
propriedades dos rejeitos.

6.2 Método à jusante

É um método mais conservador do que o método à montante, desenvolvido para reduzir os


riscos de liquefação em zonas de atividade sísmica. Além disso, é um método que garante maior
estabilidade do corpo da barragem.
No método construtivo à jusante a etapa inicial consiste na construção de um dique de partida,
normalmente de solo ou enrocamento compactado. Depois de realizada esta etapa, os alteamentos
subseqüentes são realizados para jusante do dique de partida, ou seja, a linha do centro (eixo da
barragem) se desloca a jusante durante os processos de alteamento. Este processo continua
sucessivamente até que a cota final prevista em projeto seja atingida.

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No método à jusante somente os rejeitos de granulometria grossa são utilizados no alteamento e


a barragem pode ser projetada para grandes alturas, se incorporar o sistema de impermeabilização e
drenagem. Os rejeitos são hidrociclonados e o underflow é lançado no talude de jusante sobre a
compactação.
Neste processo construtivo, cada alteamento é estruturalmente independente da disposição do
rejeito, melhorando assim a estabilidade da estrutura. Todo o alteamento da barragem pode ser
construído com o mesmo material do dique de partida, assim como os sistemas de drenagem internos
podem ser também instalados durante o alteamento, permitindo um melhor controle da superfície
freática.

A figura 20 ilustra um esquema do alteamento pelo método à jusante.

Figura 20 Alteamento pelo método construtivo à jusante. Fonte:

De acordo com KLOHN (1981), as vantagens envolvidas no processo de alteamento à jusante são:

 Controle do lançamento e da compactação, de acordo com técnicas convencionais de construção;


 Nenhuma parte ou alteamento da barragem é construída sobre o rejeito previamente depositado;
 Os sistemas de drenagem interna podem ser instalados durante a construção da barragem, e
prolongados durante seu alteamento, permitindo o controle da linha de saturação na estrutura da
barragem e então aumentando sua estabilidade;

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 A barragem pode ser projetada e subseqüentemente construída apresentando a resistência necessária


ou requerida, inclusive resistir a qualquer tipo de forças sísmicas, desde que projetadas para tal, já
que há a possibilidade de seguimento integral das especificações de projeto.

Barragens alteadas pelo método de jusante necessitam maiores volumes de material (maior
relação areia / lama), apresentando maiores custos associados ao processo de ciclonagem ou ao
empréstimo de material. Além disto, com este método, a área ocupada pelo sistema de contenção de
rejeitos é muito maior, devido ao progresso da estrutura para jusante em função do acréscimo da altura.

6.3 Método de Linha de Centro

Este método é uma solução intermediária entre os dois métodos apresentados anteriormente,
possuindo uma estabilidade maior que a barragem alteada somente com o método à montante, porém
não requerendo um volume de materiais tão significativo como no alteamento somente com o método à
jusante.
O sistema de disposição é similar ao método à montante, com rejeitos lançados a partir da crista
do dique de partida. A construção prossegue de modo similar, onde inicialmente é construído um dique
de partida (dique inicial), e os rejeitos são lançados perifericamente a montante do mesmo, formando
uma praia. O alteamento subsequente é realizado lançando-se os rejeitos sobre a praia anteriormente
formada e sobre o talude de jusante do dique de partida. Neste processo, o eixo da crista do dique
inicial e dos diques resultantes dos sucessivos alteamentos são coincidentes, permanecendo o eixo de
simetria da barragem constante (figura 21).
Se a parte superior do talude perder eventualmente o confinamento, podem aparecer fissuras,
causando problemas de erosão, e aumentos de poropressões. (Troncoso, 1997).

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Figura 21 Método de alteamento da linha de centro. Fonte:

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6.4 Comparativo entre os métodos construtivos

A tabela 03 apresenta um resumo comparativo entre os principais métodos construtivos de barragens de


rejeitos, destacando suas vantagens, desvantagem, característicasm propriedades, entre outros.
Montante Jusante Linha de Centro
Tipo de rejeito Baixa densidade para Qualquer tipo Areias de lamas de
que ocorra segregação baixa plasticidade
Descarga de Periférica Independe Periférica
rejeitos
Armazenamento Não recomendável para Bom Aceitável
de água grandes volumes
Resistência a Baixa Boa Aceitável
abalos sísmicos
Alteamentos Ideal menos 10m/ano Nenhuma restrição Pouca restrição
Vantagens Menor custo, utilizado Maior segurança Flexibilidade
onde há restrição de construtiva
área
Desvantagens Baixa segurança, Grande quantidade de material Necessidade de
suscetibilidade a requerido, proteção do talude a eficiente sistema de
liquefação e piping jusante apenas na configuração drenagem
final

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6.5 principais problemas associados ao método construtivo da barragem de rejeito


Devido ao método construtivo e a dinâmica empregada na mineração o método que tende a
apresentar menos problemas é o método de jusante. Isto devido ao fato de a geometria da barragem
apresentar certa constância e o controle das propriedades dos materiais de construção independe do
ritmo de deposição do rejeito, ou seja, se possui um controle nítido de toda a barragem, compactação
do material, drenos e impermeabilização. A barragem por ser construída sobre o material de rejeito
depositado, o método de montante nos leva a uma maior dificuldade de controle das propriedades
geotécnicas da zona em que é realizada o alteamento, ou seja, rejeito adensado. De acordo com Araújo
(2006) e Martin e McRobert (1999), pelo fato dos alteamentos serem realizados sobre materiais
previamente depositados e não consolidados, estes estão em condição saturada e tendem a apresentar
baixa resistência ao cisalhamento e susceptibilidade à liquefação por carregamentos dinâmicos e
estáticos. Araújo (2006), também comenta os problemas decorrentes do sistema de drenagem interno
referentes a este método.
Quanto ao método de linha de centro, classifica-se como sendo um método intermediário, com
mais riscos associados que o método de jusante e menos que o de montante. Quanto a ele destaca-se o
fato de que o dreno está localizado em posição fixa, vertical, e metade do alteamento ocorre pelo
método de alteamento a jusante, o que leva aos pontos positivos deste método.
Quanto a análise de estabilidade da barragem, temos uma relação nítida da execução da mesma
com a geometria e disposição dos materiais e suas propriedades. Ou seja, quanto mais simples a
geometria da barragem e mais homogênea for a distribuição dos materiais envolvidos, mais facilitado
será o processo de análise da estabilidade, seja por métodos numéricos ou analíticos (Cardozo,
Cordova, Zingano, Galli e Peña, 2016).
Quanto as análises a serem realizadas, o que há de mais atual são os modelos em elementos
finitos, os quais fazem a análise mesclando hipóteses de deslizamento, tombamento e ruptura circular.
Quanto ao mecanismo mais frequente de ruptura, Marques Filho e Geraldo (2002) apontam o
deslizamento em eventuais planos de fraqueza da fundação, devido ao mau controle construtivo.
Analisando as opções de método construtivo de barragens de rejeito, conclui-se que o método
de montante perde em confiabilidade para o método de jusante. Diversos acidentes são associados ao
método de montante, este amplamente empregado na mineração brasileira. Visto isto, fica nítida a

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necessidade de aprofundamento em estudos que levem a uma maior utilização do método de jusante no
Brasil.

7. INSTRUMENTAÇÃO EM BARRAGEM DE REJEITO


A conscientização da sociedade e do meio técnico para o procedimento de auscultação de
barragem de mineração tem ganhado papel importante na sociedade frente aos grandes desastres
ocorridos no Brasil nos últimos anos. Nesse contexto, torna-se importante que se realize o
acompanhamento da evolução do comportamento de barragens para garantir a operação segura.
Portanto, são instalados instrumentos apropriados através de técnicas de auscultação que executam
leitura dos dados relevantes, como deformações nas estruturas.
A auscultação também tem como objetivo obter dados de instrumentos para subsidiar planos de
segurança da barragem e preservar as funções operacionais e estruturais. Existem diversas técnicas de
auscultação que incluem a seleção do tipo de instrumento, a quantidade a ser utilizada, localização da
instalação e manutenção, aquisição de dados, análise e interpretação dos resultados.
A auscultação pode ser realizada por instrumentação utilizando diferentes equipamentos que
fornecem dados sobre o comportamento da barragem. No entanto, também são realizadas inspeções
visuais de campo. As duas formas de acompanhamento devem ser vistas como complementares e não
excludentes.
Os tipos, as quantidades e a distribuição de instrumentos de auscultação utilizados em barragem
são escolhidos com base na geometria e na cinemática dos casos em foco e através de estudos
bibliográficos de situações semelhantes e consultas a organismos e indivíduos com experiência no
assunto. Existe uma variedade de instrumento muito grande. Mas deve-se focar essencialmente nos
instrumentos que permitam a observação de deslocamentos, subpressões e vazões de percolação. O
projetista deve conciliar a tendência em adotar inovações tecnológicas sem referência de operação com
a corrente conservadora que dispõe de dados operacionais de várias barragens com instrumentos de
desempenho conhecido. Os instrumentos mais comuns são marcos superficiais, inclinômetros,
piezômetros, deformímetros e estações meteorológicas. A figura 01 apresenta o mapeamento dos
principais locais e instrumentos possíveis de serem instalados em barragem de terra.

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Figura 1 – Instrumentação em barragem de terra. Fonte: Geokon Incorporated, 2007.

A fase inicial de um programa de instrumentação deve envolver essencialmente certo número


de instrumentos que se caracterizem pela sua simplicidade, robustez e baixo custo. Considera-se que
um instrumento atinge a sua maturidade, ou seja, possa ser considerado perfeitamente adequado à
medições de grandezas a que se propõe após um prazo de, no mínimo cinco anos decorridos de seu
projeto original (Silveira, 1976).
Durante o estabelecimento do número de instrumentos a serem instalados deve ser observado os
seguintes fatores:
1) Extensão da área a ser auscultada;
2) Características geológicas da fundação e do maciço;
3) Tipos de instrumentos selecionados;
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4) Condições de acesso ao local de instalação


5) Disponibilidade orçamentária

Para que uma barragem possa ser considerada bem instrumentada deve seguir um programa de
instrumentação criterioso e intuitivo com definições claras das questões fundamentais e com as
respostas para as perguntas:

 Por que instrumentar?


 O que instrumentar?
 Onde instrumentar?
 Quais os níveis previstos no projeto?
 Quais os níveis críticos?
 Quais providências adotar se os níveis estabelecidos forem ultrapassados?

As grandezas que geralmente são monitoradas em barragem são:


 Deslocamentos
 Deformações e tensões
 Níveis piezométricos
 Pressões de água
 Vazão

Os instrumentos devem ser confeccionados e calibrados sob supervisão adequada e a instalação


deve ser realizada por equipe especializada. Vale ressaltar que não importa obter o melhor instrumento
do mercado se não contar com uma aferição adequada e manutenção preventiva e corretiva, caso
contrário poderá, inclusive, tornar-se nocivo e causar falsa impressão de segurança em relação ao
empreendimento auscultado.
A instrumentação prevista em projeto deve ser instalada em momento adequado, assim como a
freqüência da leitura para permitir o acompanhamento e a compreensão dos fenômenos e mecanismos
que fundamentam a decisão de instrumentar uma barragem (Kanji e Figueira, 1980).

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A instrumentação instalada em barragens de rejeitos de mineração deve visar dois objetivos


básicos de segurança: a segurança estrutural e a segurança ambiental. Para este controle são adequados
os instrumentos apresentados na tabela 01, considerando as necessidades do projeto, segundo o
Simpósio de Instrumentação de Barragens (1996).

Tabela 01: Medições a serem realizadas para segurança estrutural e ambiental. Fonte: Simpósio de
Instrumentação de Barragem (1996).

Segurança Estrutural Segurança Ambiental


Fundação Maciço Altura piezométrica do
regime de água subterrânea
Deslocamentos verticais Deslocamentos verticais
Deslocamentos cisalhantes Deslocamentos horizontais
horizontais
Sub pressão Pressões intersticiais (ou
neutra)
Vazão de infiltração Pressão da terra
Medida de materiais Vazão de infiltração
sólidos carreados
Medidas dos materiais
sólidos
Medida de alongamento ao
longo da crista e da berma

A rotina de leituras dos instrumentos possibilitará o acompanhamento das variações das grandezas
medidas pelos instrumentos em cada fase do empreendimento e a identificação e a análise de qualquer

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comportamento anômalo que venha ocorrer adotando-se medidas necessárias para garantir os níveis
normais de segurança na operação.
A freqüência mínima de leitura deve ser baseada na experiência de outras barragens e
recomendações do International Commission on Large Dams (1982). A devida leitura não deve ser
encarada como algo imutável, devendo ser intensificada quando observar valores acima dos seus
valores limites ou com tendência de crescimento acima do esperado.
Em relação à vida útil dos instrumentos tem-se que os de concepção elétrica ou eletrônica,
possuem vida útil bem extensa. Pode-se constatar, por exemplo, que em muitos casos após cerca de 30
anos de operação, ou até menos, qualquer barragem exigirá uma reavaliação de seu plano de
instrumentação original, para só assim, descartar por definitivo os instrumentos danificados ou com
comportamento suspeito e a instalação de novos instrumentos em locais de particular interesse.
O processo de deterioração da instrumentação de auscultação de uma barragem é observado por
vários fatores, alguns deles relacionados a correta instalação, assim como a operação e manutenção dos
instrumentos durante a operação da barragem.

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8. PROBLEMAS GEOLÓGICOS E GEOTÉCNICOS ASSOCIADOS A FUNDAÇÕES DE


BARRAGEM DE TERRA

Para que se possa conhecer e compreender com rigor uma fundação não rochosa é necessário
um estudo aprofundado de todas as suas características litológicas, estruturais e hidrogeologicas. As
propriedades geotécnicas dos terrenos são dependentes destes três aspectos, bem como da sua historia
geológica. Para se efetuar o estudo de uma fundação e necessário utilizar os meios de reconhecimento e
prospecção adequados as suas características particulares. A localização do empreendimento e a
investigação geológica e geotécnica são de extrema importância, pois permitirá realizar o zoneamento
geotécnico dos terrenos da fundação.
O regime de percolação é o elemento principal para a segurança em terrenos móveis. Os
caudais que percolam na fundação, as subpressoes e o gradiente hidráulico, que traduz o risco de erosão
interna (piping), são os parâmetros que caracterizam o regime de percolação. Para efetuar o seu estudo
e necessário conhecer a espessura dos maciços terrosos, as suas características de permeabilidade, a sua
distribuição espacial e, ainda, os parâmetros inerentes a construção da barragem. Estes são
essencialmente os seguintes: carga hidráulica a montante, espessura da barragem, posição dos drenos,
espessura, localização e comprimento da cortina corta água e do tapete impermeável à montante.
No caso de solos de baixa densidade torna-se necessário determinar a sua resistência ao
cisalhamento, devido a possibilidade de colapsarem, caso freqüente nos loess, e ainda a eventual
ocorrência de fenômenos de liquefação.
A ocorrência de materiais solúveis nas fundações pode ser igualmente perigosa, especialmente
quando a quantidade de material removido pela percolação é grande. A compressibilidade e a
resistência mecânica necessitam ser conhecidas para que se possa efetuar o cálculo da segurança da
barragem e da fundação como um todo.
Nas barragens de aterro, as características dos materiais usados são bem conhecidas e sujeitas a
controle regular. Com o material da fundação não é possível ter o mesmo conhecimento, pois as suas
propriedades são grandemente influenciadas pelas zonas com as piores características. A ocorrência de
um fino estrato argiloso contínuo e com um ângulo de atrito muito baixo, pode comprometer a

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segurança de toda a fundação. Por este motivo é necessário fazer um reconhecimento pormenorizado,
com especial ênfase nas zonas de mais difícil amostragem ou caracterização. Do ponto de vista da
geologia de engenharia é importante o conhecimento da origem e natureza dos vales para o
planejamento e construção de barragens e reservatórios seguros. É igualmente importante conhecer a
origem e características dos materiais não consolidados que cobrem as vertentes (colúvio) e o fundo do
vale.

8.1. ALUVIÕES

A estratificação dos aluviões explica-se pelo modo como se formam. Na planície aluvial o curso
de água está confinado, em tempo normal, ao leito menor. Com as épocas de cheia, as águas
ultrapassam o leito menor, inundando toda a planície. Os materiais grossos, tais como a areia, seixo e
pedregulho são naturalmente depositados no leito menor, enquanto que os finos tenderão a depositar-se
na planície de inundação, pois são facilmente transportados pela água.
A evolução do rio tenderá a que ocorra migração dos canais, pois grande parte da planície será
afetada pela deposição de materiais grossos e finos.
Como resultado final da repetição deste fenômeno, teremos justaposições e alternâncias de
lentículas de material silto-argilosos, por vezes com alguma areia fina, lentículas de areia e outros
materiais mais ou menos grossos.
A heterogeneidade dos aluviões será tanto na horizontal como na vertical, sendo difícil a sua
previsão. Este fato faz com que seja necessário efetuar cuidadosamente o seu reconhecimento.
A dimensão do vale pode por vezes ser pouco maior que a do leito menor. Neste caso o leito de
inundação terá constituição idêntica a do leito menor.
Quando por um fenômeno de diminuição do gradiente do rio ocorre de uma zona de águas
calmas, podem depositar-se materiais essencialmente finos, que chegam a atingir grandes espessuras. É
freqüente ocorrerem sedimentos argilosos de origem marinha datando do Plioceno, preenchendo vales
por vezes profundos, em zonas próximas da foz de rios. Tal fato deve-se à subida do nível do mar em
relação ao continente. Assim, as águas marinhas ao penetrarem no estuário criaram condições calmas

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para deposição desses materiais finos. Com o indício de uma regressão há uma descida do nível do
mar, do que resulta um processo de aprofundamento do vale. Assim ocorrem transgressões e regressões
que originam os terraços. Como exemplo deste tipo de fenômeno e das suas conseqüências na geologia
do local da barragem, cita-se a barragem de Nassingir construída no rio dos elefantes em Moçambique
(Serafim e Carvalho, 1970).
O rio dos Elefantes tem o seu leito atual a uma cota de 82 metros acima do nível do mar, em
uma formação aluvionar quatemária recente, com cerca de 27 metros de espessura e assentando sobre
formações rochosas datadas do Cretáceo. O primeiro terraço aluvionar encontra-se entre as cotas 100 e
120 m, sendo a formação aluvionar mais antiga constituída por seixo com areia e argila. Este terraço foi
originado pela erosão de uma outra plataforma antiga, entre as cotas 130 e 150 m, que se formou entre
o Plioceno e o Pleistoceno, com materiais vindos do interior do continente e depósitos eólicos.
Em um estágio posterior, o rio moveu-se para sul e escavou um vale largo nas formações
cretácicas. Seguidamente, por transgressão, depositou neste leito formações silto-argilosas até uma
profundidade máxima de 30 m. Novamente em regressão, o rio moveu-se para norte até a sua posição
atual, escavando profundamente as rochas cretácicas.
Posteriormente, este vale foi sedimentado por aluviões com estratificação cruzada constituída
por areias finas a grossas, seixos e blocos. Esta formação corresponde ao vale principal do rio, que tem
a forma de um U aberto com 400 m de largura. Assim, a barragem assenta em três tipos diferentes de
solos: areias e seixos no primeiro terraço; areia aluvionar no vale principal; silte e argila no leito
abandonado do rio, para sul. A barragem assenta ainda sobre estratos pouco resistentes de arenito
cretácico e sobre margas e calcários nas encostas do vale principal (fig.2.1).

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8.3. GEOLOGIA ESTRUTURAL E LITOLOGIA


A definição correta da estrutura geológica e da litologia nos aluviões é de grande relevância,
pois as propriedades geotécnicas destes materiais dependem, como se disse, destas características.
O arranjo dos grãos vai depender da sua forma, tamanho e modo de sedimentação. O fato de o
material já ter sofrido pré-consolidação contribui para uma melhoria das suas características,
diminuindo o volume de vazios e aumentando a densidade e o ângulo de atrito. No caso de areias finas
depositadas em lagos ou Deltas, a estrutura resultante pode ser pouco compacta, de modo que o
material ficará sujeito a grandes adensamento durante a primeira fase de carga provocada pela
construção da barragem. Com as argilas, especialmente nas que sedimentaram em locais com forte
salinidade, poderão ocorrer fenômenos de liquefação. Estas argilas são conhecidas na literatura por
“quick clays" ou argilas muito sensíveis. Este assunto será tratado mais profundamente nos parágrafos
referentes a liquefação.
A determinação da ocorrência e posicionamento dos leitos mais grossos, como areia grossa,
seixo e mesmo blocos, poderá ser difícil. Além disso, estes leitos são normalmente lenticulares e
descontínuos. A sua importância geotécnica do ponto de vista da permeabilidade é enorme, pois podem
ocorrer percolações concentradas e intensas ao longo destes leitos, originando fenômenos de erosão
interna.
Existe maior capacidade de transporte de sedimentos nos locais com maior velocidade e durante
as épocas de cheia. A evolução dos meandros em planícies aluvionares vai condicionar a distribuição
da velocidade da água, ocorrendo deposição de materiais mais finos no intradorso e erosão no
extradorso.
Quando os meandros fecham, podem formar-se lagunas no seu interior. Nestes locais
depositam-se materiais finos que apresentam baixa compacidade, do ponto de vista geotécnico. A
natureza geológica do firme rochoso e a sua estrutura condicionam a forma, características e geometria
da interface com os terrenos de cobertura. A profundidade que se vai encontrar o firme rochoso,
depende essencialmente do máximo aprofundamento que o vale sofreu em relação a sua posição atual.
A espessura dos aluviões será tanto maior, quanta mais baixo tiver sido o nível do mar (nível de base)

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durante a fase de erosão do vale. Como exemplo de um vale com enchimento aluvionar espesso, cita-se
o da barragem de Assuao, no rio Nilo, em que as sondagens localizadas no centro do canal
atravessaram 225 m de material sedimentar ate atingirem o granito são - não intemperizado (Wafa e
Labib, 1967).

Na figura 2.2 esquematizam-se os diferentes tipos de depósitos aluvionares.

8.4. PERMEABILIDADE
Para caracterizar do ponto de vista da permeabilidade um maciço de fundação, procura-se como
primeira aproximação, e sempre que os aluviões não são muito heterogêneos, determinar um valor
médio da permeabilidade. Para que este valor tenha significado é necessário um grande número de
ensaios. Como exemplo citam-se os casos de Feistritg, na Áustria, com 1.000 ensaios em 250
sondagens (Magnet e Mussnig,1970) e de Tarbella, no Paquistão, com 3.539 ensaios em 347sondagens
(Khan e Alinaqui, 1970).
A partir dos ensaios é prática comum fazer o zoneamento da fundação estimando-se o valor
médio da permeabilidade para cada zona. O refinamento do método dependerá da possibilidade de
individualizar o maior número de zonas para cuja permeabilidade se possa admitir um valor médio.
As alternâncias de materiais com granulometrias totalmente diferentes provocam a
individualização de zonas com permeabilidades muito contrastantes, podendo originar vários aqüíferos
cativos independentes, que podem mesmo ser artesianos.
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A permeabilidade varia tanto na horizontal como na vertical. A permeabilidade vertical é


normalmente bastante inferior a horizontal, pois as lentículas de material argiloso ou silto-argiloso
constituem uma barreira pouco permeável reduzindo as percolações na vertical. Pode igualmente
ocorrer uma zona impermeável de material grosso, desde que os espaços entre os grãos sejam
preenchidos com finos. As zonas mais permeáveis correspondem aos traçados de antigos leitos
menores sucessivos. Possuem a forma de canais sinuosos e nos quais se concentram as percolações
subterrâneas, devido a grande permeabilidade dos seixos, pedregulhos e areias, que normalmente os
constituem.
O reconhecimento da permeabilidade da fundação deverá ultrapassar aos aluviões, chegando ao
firme rochoso, pois pode ocorrer circulações privilegiadas. As formações cálcicas são as que
apresentam maior possibilidade de possuir problemas deste tipo, como é o caso de Altinapa nos países
Balcãs (Ural et al., 1967).
No caso das barragens de aterro fundadas em solos, os problemas da resistência da fundação e
da compressibilidade são de um modo geral menos importantes que os problemas de percolação,
compreendendo estes as pressões neutras, as perdas de água e erosão interna da fundação. As
fundações argilosas proporcionam um tapete impermeável natural, eliminando ou reduzindo as
infiltrações sob a barragem.

8.4. FENÔMENO DA EROSÃO INTERNA

A erosão interna resulta da ação das forças de percolação das águas subterrâneas sobre as
partículas do solo, devido a transferência de parte da energia da água para as partículas. Em
conseqüência, pode ocorrer o arrastamento de partículas do solo, começando pelas mais finas, podendo
ainda dar- se o levantamento hidráulico (heaving).
A erosão interna pode ocasionar a ruptura de taludes ou o colapso de barragens. Este fenômeno
pode ser controlado com um filtro de material granular grosso, cujo dimensionamento deve obedecer
aos critérios gerais estabelecidos.
O arrastamento das partículas traduz-se em uma erosão subterrânea que normalmente se inicia
na zona à jusante, próximo ao pé da barragem, ou em um plano de sedimentação.

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A rede de percolação da figura 2.3 mostra como a capacidade de erosão de uma nascente
aumenta a medida que aumenta o comprimento do túnel. As linhas pontilhadas e as cheias indicam
respectivamente as linhas equipotenciais e as linhas de corrente. As linhas a traço e ponto delimitam a
zona que alimenta a nascente.
Verifica-se que ao aumentar o comprimento do túnel cresce o número de linhas de corrente que
o alimentam, incrementando o caudal e conseqüentemente o seu poder erosivo. Se uma nascente
adquire potência suficiente para iniciar a erosão, ela vai aumentar com o tempo até que finalmente
chegará o momento em que o solo romperá por erosão interna.

O levantamento hidráulico só se processa quando a pressão de água circula em direção à


superfície do solo e é maior que a tensão efetiva. Este fenômeno consiste geralmente no levantamento
instantâneo de uma grande massa de solo situada próximo à jusante da barragem.
Segundo Terzaghi e Peck (1972), a carga hidráulica a que se inicia o levantamento hidráulico é
independente do tamanho dos grãos do solo, produzindo-se a ruptura de um modo quase instantâneo
desde que sejam ultrapassadas as condições de equilíbrio.
Na realidade, a maioria das rupturas, resultado da erosão interna, produz cargas hidráulicas
muito inferiores aos valores calculados com base na teoria. Genericamente é grande o espaço de tempo
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entre a aplicação da carga hidráulica e a ruptura. Estes fatores indicam que a maioria das rupturas por
erosão interna são causadas por um processo que reduz o fator de segurança de forma gradual, até
chegar ao momento em que se verifica a ruptura.
Em materiais heterogêneos é bastante difícil determinar as linhas de menor resistência contra a
erosão interna, bem como o gradiente hidráulico necessário para produzir um canal contínuo, pois estes
fatores dependem de estudos geológicos pormenorizados, que são praticamente impossíveis de detectar
na prospecção.
Terzaghi e Peck (1972, op. cit.), apos analisarem vários casos de erosão interna, verificaram que
o material que cobre o solo erodido possui sempre pelo menos uma leve coesão, que é suficiente para
formar um teto sabre a caverna de erosão. Como não é possível manter um teto sem suporte nas areias
homogêneas não coesivas, estes materiais não estão sujeitos aos fenômenos de erosão subsuperficial, a
não ser que se encontrem debaixo de um teto que pode ser natural, tratando-se de uma camada coesiva,
ou artificial como a base de uma barragem. A segunda característica comum é que a depressão de
afundamento do túnel se produza sempre a grande distancia da boca de descarga.

8.5. RESISTÊNCIA E DEFORMAÇÃO DOS ALUVIÕES

A heterogeneidade das fundações aluvionares traduz-se numa anisotropia da deformabilidade. A


resistência mecânica das aluviões permeáveis não coloca problemas graves para o aterro, exceto os
resultantes da liquefação, especialmente em zonas sísmicas.
A construção de barragens de betão sobre fundações aluvionares é também possível, sendo
normalmente a sua altura limitada a cerca de 40 metros. Os países do leste europeu são os que mais têm
se destacado neste domínio (Evdokimov e Vedeneev, 1967). Freqüentemente ocorrem situações em
que há a necessidade de medidas especiais para se garantir a segurança da obra. Lembra-se o caso de
Pierre-Benite, na França (Gemaehling e Paubel, 1967), em que as areias bastante compactas e com
pouca coesão, exceto em algumas lentículas cimentadas, com resistência mecânica suficiente, eram
suscetíveis de sofrerem adensamento.

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Durante as escavações verificou-se que a estabilidade das areias era ameaçada pelas
subpressões, devido a sua heterogeneidade e falta de coesão. Para se poder construir a central e parte da
barragem, foram executados diques de proteção de modo a obter-se uma zona de dois trabalhos a seco.
Como havia necessidade de obter grande estanqueidade a solução escolhida foi a realização de paredes
diafragmaem betão plástico, localizadas sob o núcleo dos diques. Os resultados foram excelentes, não
se tendo verificado qualquer acidente.

8.5.1. CASO DE SOLOS NÃO COESIVOS

As areias e seixos não cimentados constituem os principais solos não coesivos. A resistência de
um solo deste tipo depende inteiramente da fricção interna das partículas. A resistência em uma seção
qualquer depende assim da tensão normal aplicada nessa seção.
A relação entre a resistência ao corte e a tensão normal efetiva é definida por tangente de ∅,
sendo ∅ o ângulo de atrito interno. O valor de ∅ para uma dada areia é praticamente independente da
tensão normal, mas varia com o grau de compactação das partículas, ou seja, com a densidade relativa
da areia.
Uma areia limpa, que não tenha silte ou argila é praticamente incompressível se não for
considerada a elasticidade dos grãos. Isto deve-se ao fato dos grãos formarem uma estrutura fechada,
análoga a de uma caixa com esferas, em que todos os grãos estão aproximadamente em contato uns
com os outros.
No entanto, quando se tem solos com a granulometria mais extensa, ou seja, contendo desde
areia até argila, a estrutura deixa de ser verdadeiramente fechada e possui tendência a aproximar-se da
das argilas, sendo então possíveis adensamento significativos.
Quando a densidade relativa é menor que 66% espera-se adensamento importantes, tanto
maiores quanto menor for a densidade relativa. Para valores superiores a 66%, solos compactos e muito
compactos, não são de esperar adensamento apreciáveis. A densidade de uma areia fofa pode ser
aumentada por compactação, por cravação de estacas, por vibro compactação ou uso de explosivos.
Para fundações muito solicitadas é conveniente verificar a capacidade de carga, realizando
ensaios in situ e ensaios laboratoriais.

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Em uma barragem no Rio Casca, no Brasil (Queiroz et al.,1967), foi necessário efetuar a
compactação de depósitos aluvionares de areia fina, fofa, que apresentava valores de NSPT variando
entre 1 e 3. A areia encontrava-se saturada e possuía uma espessura máxima de 17 metros. A
compactação foi preconizada para assegurar a estabilidade da fundação durante a construção e para
minimizar adensamento futuros na estrutura. Deste modo, foi reduzida a possibilidade de ocorrerem
fendas de tração no núcleo provocadas pelos adensamento diferenciais. O método de compactação
utilizado foi o das explosões controladas. Os adensamento máximos observados foram de cerca de 0,25
m, correspondendo aproximadamente a 2% da espessura máxima das areias fofas.
Foram executadas sondagens adicionais após a compactação, tendo-se encontrado valores de
resistência a penetração (N) de 3 a uma profundidade de 2 metros e de 7 a 10 metros de profundidade.
Este aumento indica que a densidade cresceu apesar do assentamento total ser relativamente pequeno.
No estudo da fundação da barragem de Massingir (Serafime Carvalho, 1970) verificou-se,
especialmente pelos resultados do penetrômetro Holandes, que a compacidade das areias do vale
principal era bastante baixa. Estas areias apresentavam valores médios da resistência de
aproximadamente 2 MPa dos 5 aos 10 metros de profundidade e de 3 a 4 MPa dos 10 metros até chegar
ao firme rochoso. Utilizando a relação empírica entre a resistência a penetração e a densidade relativa,
determinaram-se valores da densidade relativa de 20% para os primeiros dez metros e de 35% ate ao
firme o firme rochoso. Para aumentar a compacidade nos dez primeiros metros, foi realizada uma
compactação por vibro compactação, de modo a obter-se uma densidade relativa de 40% (ver figura 2.1
b). Deste modo procurou-se minimizar os adensamento e a possibilidade de liquefação no caso de
ocorrer um sismo.

8.5.2. CASO DE SOLOS COESIVOS


Genericamente englobam-se nos solos coesivos os siltes e argilas. Em muitos solos deste tipo,
as partículas estão dispostas em estruturas que se assemelham à favos, sendo os vazios normalmente
ocupados por água. A amostragem dos solos coesivos necessita ser cuidadosa para não destruir a
estrutura, pois, caso contrario, as propriedades que se irão determinar deixarão de ter significado.
Sob o efeito de uma sobrecarga, os solos coesivos comportam-se de modo diferente. Uma carga
temporária não permite uma consolidação efetiva do solo, pois a sua baixa permeabilidade impede a

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rápida expulsão da água. Com uma carga permanente a consolidação processa-se, fazendo com que a
água migre das zonas com maior pressão para as de menor pressão. Este processo é lento e elaborado,
sendo do domínio da mecânica dos solos.
Segundo Sherad et al., (1963), a maioria dos escorregamentos durante a construção de barragens
e boa parte dos escorregamentos para montante ou jusante após a construção ocorreram em barragens
cuja fundação possuía argila de plasticidade relativamente alta.
A ocorrência de camadas de silte e argila podem obrigar a aprofundar a escavação, de modo a
eliminar o material com as piores características. Se o volume para ser removido for muito grande a
solução pode tornar-se inviável, devido ao elevado custo. Haverá, então, que utilizar soluções
alternativas que permitam melhorar as características de resistência e deformação dos solos. A
execução de aterros é uma alternativa aos drenos verticais. Estes dois métodos podem ser utilizados em
conjunto para diminuir o tempo necessário para melhoria das características do solo.
A barragem de Sauri, no Japão é fundada sobre uma camada de argila mole aluvionar de cerca
de 8 metros de espessura. As variações complexas da litologia obrigaram a realizar uma campanha de
prospecção e ensaios de forma minuciosa. Analisando os resultados das fase investigativa considerou-
se necessario efetuar a consolidação das argilas com drenos de areia verticais, de modo a prevenir a
ruptura da barragem por escorregamento da fundação (Moriya e Ukaji,1967). Na figura 2.4 apresenta-
se o corte geológico da fundação e o perfil tipo da barragem.

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Um dos problemas mais importantes que se teve de enfrentar na construção da barragem de


Quiminha, no rio Bengo em Angola (Folque e Melo, 1977) foi o resultante de recalques diferenciais.
Na fundação ocorrem aluviões que atingem espessuras de 40 m, preenchendo o vale cavado em
calcários (fig. 2.5). A intercalação de materiais grossos com materiais argilosos de geometria variável
tornou difícil a caracterização geológica da fundação. A espessura da camada de argila era bastante
variável, desde valores de NSPT 6 a 20 m na margem direita, a valores praticamente nulos na margem
esquerda. Devido a heterogeneidade desta camada, foi necessário considerar um valor estatístico que
fosse representativo do seu comportamento.

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Os autores referidos consideraram que estes solos possuem um índice de plasticidade de cerca
de 16%, limite de liquidez médio de 39% e teor natural de umidade natural de 29%. A partir de ensaios
laboratoriais determinou-se um coeficiente de compressibilidade media cc de 0,25 e um coeficiente de
consolidação Cv d e 5 x 1 0 - 7 m2 /s.
As características de resistência determinadas em ensaios triaxiais, considerando as tensões
efetivas são de 20 KPa para a coesão e de 28° para o ângulo de atrito. Considerando tensões totais,
estes valores são respectivamente de 70 KPa e zero graus. Os máximos adensamento esperados são de
cerca de 1,7 m, correspondendo a cerca de 4% da espessura dos sedimentos quaternários. Cerca de um
ano apos o in1cio da construção da barragem, tendo-se atingido uma altura de aterro de 70% do seu
valor final, os recalques diferenciais já atingiam o valor de 0,6 m. Um dos problemas mais comuns das
fundações de barragens em argilas é o resultante da diminuição da resistência dos materiais superficiais
devido a alteração. A fluência e deslizamento dos taludes argilosos originam a diminuição generalizada
da resistência ou o aparecimento de superfícies de corte com uma resistência residual pequena.

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8.5.3. O FENÔMENO DE LIQUEFAÇÃO


As areias fofas saturadas quando sujeitas a tensões ao choques possuem tendência de diminuir
de volume. Ao processar-se este fenômeno, há uma transferência gradual das tensões para o fluido
intersticial, diminuindo as tensões efetivas e aumentando as tensões neutras. A partir do momento em
que a tensão neutra se iguala a tensão efetiva a areia perde toda a sua resistência passando a comportar-
se como um líquido.
A liquefação originada por cargas estáticas foi amplamente estudada por Casagrande (1936) e
(1950).
Um tipo diferente de liquefação é a denominada liquefação cíclica ou mobilidade cíclica,
segundo Casagrande (1979). Neste caso há um aumento das pressões neutras provocado por
solicitações cíclicas, tais como as criadas por um sismo. Se estas solicitações cíclicas possuírem
intensidade e duração suficiente, podem originar a liquefação em areias medianamente compactas a
muito compactas. As areias fofas sofrerão liquefação mais rapidamente, ou seja, com menor número de
ciclos.
A determinação da possibilidade de liquefação e solifluxão de uma fundação constituída por
solos arenosos soltos é um dos grandes problemas geotécnicos encontrados que precisam ser estudados.

A tabela 2 indica vários tipos de liquefação e solifluxão e as suas principais características.

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Tabela 02. Liquefação e solifluxão em solos. Fonte: Adaptado de Casagrande, 1979


Obs: As grandes deformações podem ser provocadas pelas elevadas pressões neutras internas criadas. No entanto, estas pressões são apenas
indiretamente responsáveis pela liquefação subseqüente nos siltes ou nas camadas de argilas altamente sensíveis
Solos que podem
Sensibilidade dos Caráter e velocidade da
ser afetados pelos Caráter da deformação necessária Exemplos de ruptura por
solosà liquefação ruptura por liquefação e
tipos indicados de para se iniciar a solifluxão (3). solifluxão (5)
(1) solifluxão (4) .
solifluxão (2)
Pequenas deformações, tais como as Ruptura por solifluxão de aterro
Altamente
Areia pouco provocadas por sismos, explosões ou Solifluxão rápida de caminho da Holanda (1981).
sensíveis (
compacta e siltes. vibrações afetando simultaneamente (alguns minutos). Solifluxão de siltes nos montes
Tipo A)
grandes massas. Laurentis.
Grandes deformações criadas Barragem de Ft. Peck, Montana
simultaneamente em um grande (Liquefação das areias fluviais
Pouco sensíveis Areias fluviais e Solifluxão rápida (
volume. Ex: ruptura por corte em da fundação e do aterro
( Tipo B) siltes. alguns minutos).
argilas trasmitida aos estratos hidráulico arenosoda
superiores. barragem).
Liquefação progressiva
Areias fluviais, Deslizamentos nas margens do
Pouco sensíveis Grandes deformações criadas a até algumas horas de
siltes variados, Rio Mississipi, solifluxão na
(Tipo C) progressivamente. duração, dependendo da
argilas moles. Holanda e em Varves.
massa envolvida.

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Analisar a sismicidade de um local onde será construída uma barragem é de grande importância
para o estudo da possibilidade de ocorrência de liquefação nos solos arenosos da fundação. A história
sísmica da área e a evidência de falhas ativas na proximidade da barragem necessitam ser bem
conhecidas. A utilização para efeitos de projeto de sismos ocorridos na área ou fora dela é uma
aproximação ao problema, que, no entanto pode ser muito enganadora. Nada garante que o sismo que
eventualmente venha afetar a fundação tenha as características do sismo anteriormente ocorrido.
A maioria das barragens de aterro que sofreram deteriorações devido a sismos foram
construídas antes de 1920, com um pormenor de projeto e métodos de construção que não seriam
considerados satisfatórios nos dias de hoje. Como exemplo de uma barragem de aterro que sofreu
ruptura, possivelmente devido liquefação da fundação provocada por um sismo, refere-se a barragem
de Sheffield em Santa Bárbara, na Califórnia (Ambraseys, 1960). Neste caso, os registros sobre os
métodos de construção e materiais empregados são vagos. No entanto, sabe-se que o aterro foi mal
compactado e que os materiais eram essencialmente granulares e totalmente saturados.
A ruptura ocorreu devido ao sismo de Santa Barbara em 1952, que teve uma intensidade
correspondente ao grau 7 na escala de Richter. Parece provável que a ruptura tenha ocorrido em
conseqüência da liquefação na parte inferior do aterro, ou na parte superior da fundação. Como a parte
inferior do aterro estava saturada, a vibração fez com que grande parte do peso do aterro fosse
suportado pela água. Em conseqüência, a resistência ao corte da base diminuiu drasticamente, tendo a
pressão da água empurrado a barragem para jusante, provocando a sua ruptura.

8.5.3.1 MÉTODOS PARA AVALIAR A SUSCETIBILIDADE A LI QUEFAÇÂO


DE SOLOS ARENOSOS SATURADOS
Folque (1980) refere que os métodos para avaliar as susceptibilidade a liquefação podem se
dividir em três grandes grupos:
a) Métodos em que se usam vias simplificadas para o cálculo das tensões cíclicas, do
número de ciclos significativos e da sua distribuição no tempo.
b) Métodos em que a historia do solo e as tensões cíclicas nele induzidas se deduzem a
partir da resposta da massa terrosa a uma dada solicitação cíclica.

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c) Métodos empíricos em que as características de locais onde ocorreu a liquefação são


comparadas com as características do local em estudo.
Prakash (1981) analisa cuidadosamente a liquefação em solos, nomeadamente a teoria, métodos
de estudo laboratorial e de campo, bem como o procedimento a utilizar no cálculo da possibilidade de
liquefação.
A ocorrência de sismos como os de Niigata e Alasca em 1964, impulsionou a pesquisa,
proporcionando o desenvolvimento dos métodos empíricos.
Apos o sismo de Niigata vários autores estudaram a relação entre os resultados do ensaio SPT e
os solos que sofreram liquefação. Na figura 2.6 reproduzem-se alguns dos resultados obtidos.
A contribuição de Ohsaki (1966) permite estabelecer uma relação muito simples, considerando
que a esquerda da linha que propõe que ocorrera liquefação, não ocorrendo à direita. Estes resultados
provavelmente não se aplicarão a outras áreas em que o sismo tenha maior intensidade, ou em que o
nível freático se encontre a profundidades diferentes do observado em Niigata.

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Seed e Peackock (1971) reuniram mais dados correlacionando a relação da tensão cíclica, que
causa a liquefação ( ) com o valor corrigido (𝑁 ) do ensaio SPT.

Para determinar 𝑁 pode usar-se a relação:

𝑁 = 𝐶 .𝑁

Onde:
CN é um fator de correção que, por exemplo, pode ser determinado pelo ábaco da figura 3.6.
Esta correção traduz a densidade relativa determinada indiretamente “in situ”. Este ábaco foi elaborado
por Sutherland (1974).

Na figura 3.7 apresentam-se algumas correlações entre o N e o ângulo de atrito ∅ para solos não
coesivos.

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Se a amostra é comprimida durante a cravação do amostrador obtém-se valores de N muito elevados.


Se o solo é perturbado, o valor de N não é significativo. Uma situação em que ocorre perturbação
verifica-se quando a pressão hidrostática no terreno é superior a do furo, provocando um afluxo rápido
de água para esse furo (Sanglerat, 1972 op. cit.).

A figura 2.7 apresenta os resultados, sendo baseada em sismos com magnitude de 7,5.

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O valor médio de 𝜏 é dado pela expressão:

𝜏 = 0,65𝛾 . 𝐻/ 𝑔. 𝑎 .𝑟

Onde:
𝛾 é o peso específico
H a profundidade do ponto considerado
𝑔 é a aceleração da gravidade
𝑎 é a aceleração máxima provocada pelo sismo a superficie do terreno
𝑟 é um coeficiente inferior a 1 relativo ao efeito da profundidade e que se determina a partir da figura
2.8.

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A figura 2.9 mostra a relação entre a granulometria e o potencial de liquefação segundo


Shannon e Wilson (1972). Verifica-se que são os solos com granulometria entre as areias médias e os
siltes que apresentam maior potencial de liquefação.

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É de realçar que apesar das técnicas de ensaio laboratorial ser bastante elaboradas, não é
possível utilizar com rigor os seus resultados, pois nos maciços terrosos as características
condicionantes da liquefação são muito variáveis. Assim, a obtenção de amostras representativas
torna-se bastante difícil, havendo a acrescentar a dificuldade de obter amostras indeformadas nos
terrenos saturados.

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8.5.3.2. CARACTERÍSTICAS DE PROJETOS EM QUE FOI ESTUDADA A


POTENCIALIDADE DA LIQUEFAÇÃO

Na barragem de Massingir (Serafim e Carvalho, 1970), o estudo da compacidade das areias in


situ do vale principal, fornecem valores da densidade relativa da ordem dos 20% para os primeiros 10
metros. No laboratório foram realizados ensaios triaxiais sobre amostras com densidades relativas de
20% e 40% aplicando uma tensão desviatória cíclica com freqüência e intensidade constantes. As
amostras foram saturadas a pressões hidrostáticas de 39,2 KPa, 58,8 KPa e 117,7 KPa. Observou-se a
liquefação das amostras com densidade relativa de 20% em menos de um minuto, sendo as tensões
desviatórias aplicadas de 7,8 KPa e 29,4 KPa. Com uma tensão deviatoria de 58,8 KPa não foi obtida
liquefação.
Os ensaios foram repetidos nas amostras com densidade relativa de 40% não se tendo observado
liquefação. Em face destes resultados considerou-se seguro o valor de 40%. Para se obter este valor da
densidade relativa no solo da fundação, foi executada a sua compactação por vibro compactação. Este
procedimento já foi anteriormente referido, a propósito da resistência e deformação dos solos não
coesivos.
A fundação do local da barragem de Obra, na Índia (Grage Agrawal, 1967), e constituída por
areias com espessura variando entre 18 m e 25 m. A área é moderadamente sísmica, sendo a aceleração
média dos sismos registrados de 0,07 g. Antes de se aceitar as areias como fundação, foi realizada uma
investigação geotécnicas para entender as suas propriedades. Determinaram-se as curvas
granulométricas a diferentes profundidades, o grau de arredondamento dos grãos, a densidade relativa
in situ por meio do SPT e do penetrômetro Holandes. Para correlacionar os resultados do ensaio SPT
com a densidade relativa foi utilizada a fórmula de Meyerhoff (1956), que relaciona os valores do
ensaio de penetração estática com o número equivalente de pancadas do SPT.
Os resultados obtidos pela fórmula de Gibbs e Holtz (1957) forneceram, próximo da superficie
valores da densidade por excesso.

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A partir dos resultados obtidos efetuou-se o zoneamento das areias, tendo-se considerado como
fofas as areias dos primeiros 4 metros, areias medianamente compactas as médias as dos 4 m aos 6 m e
areias compactas aos 6m ao substrato.
Foram também realizados ensaios laboratoriais sobre a influência da granulometria, densidade
do depósito, características da vibração, cargas aplicadas, localização dos pontos de drenagem, etc., não
se tendo verificado qualquer tendência da areia para liquefazer.
A barragem de terra de Grou, em Marrocos, (Benisty e Tonnon, 1970) é fundada sobre terraços
quaternários, ou seja, formação geológica recente. A base da barragem é assentada diretamente sobre
siltes argilosos com boas características mecânicas nos terraços médio e alto. Os siltes do terraço são
muito compressíveis, possuindo uma estrutura colapsível, que foi detectada pelo ensaio edométrico,
com entrada de água retardada. Os adensamento importante esperado, de aproximadamente 1 m e o
receio da possibilidade de liquefação em caso de sismo levaram a que se optasse pela solução de
engenharia para remoção completa destes siltes, fundando a barragem nas areias subjacentes.

9. SOLOS DE ORIGEM GLACIAL, GLACIO-FLUVIAL E GLACIO-LACUSTRE

Pode dizer-se que os solos de origem glacial possuem características diferentes consoante o
material que lhes deu origem e os processos a que estiveram sujeitos durante a sua formação. A
descrição dos diferentes tipos de materiais pode encontrar-se em quase todos os livros de geologia.
Os materiais conhecidos como tilitos ou brechas glaciares têm a sua origem nos terrenos de
cotas elevadas, em que os gelos escavam os vales preexistentes, erodindo as superfícies das rochas
sobre as quais se deslocam. Os materiais removidos, desde os fragmentos aos materiais finos, são
incorporados na massa de gelo e abandonados sob esta massa ao serem atingidos cotas mais baixas.
Pode tentar-se sintetizar as características das morenas a partir dos seguintes aspectos (Gignoux
e Barbier,1955). Uma morena tem uma composição muito heterogênea. Os blocos e fragmentos
rochosos são angulosos, exceto quando sofreram rolamento nas torrentes sub glaciares. Este fenômeno
tende a ser mais intenso nos grandes glaciares. Os blocos e pedregulhos tendem a apresentar estrias
devido a friccao com as rochas in situ, desde que a sua dureza seja inferior a destas rochas.
Normalmente as morenas assentam-se diretamente sobre o fundo rochoso, que se apresenta canelado

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devido a fricção dos blocos transportados pelo glacial; As morenas não são estratificadas, apresentando
uma distribuição irregular dos materiais.
Parte do material inicialmente transportado pelos glaciares e arrastado pelas torrentes
subglaciares, chegando a ser levado para além do limite do glacial. Os depósitos com esta origem são
classificados como glacio fluviais. Eles podem reter algumas das características dos materiais
transportados pelo glacial, mas apresentam um grau superior de calibragem e arredondamento,
aproximadamente proporcional a distancia a que foram transportados pelas torrentes. Apresenta ainda
estratificação idêntica a dos depósitos fluviais.
Nos lagos calmos, formados na frente do glacial ou sob ele próprio as correntes depositam os
materiais grossos em deltas de areia e cascalho. Os finos depositam-se em todo o lago, formando
camadas de argila e argilas siltosas.
Estes depósitos também podem possuir blocos de rocha que foram transportados por flutuação
nas massas de gelo. As varves são constituídas por seqüências repetidas, referentes as fusões sazonais
dos gelos que provocam um influxo de materiais finos para o lago glacial. O silte deposita-se
rapidamente, enquanto que o congelamento que se verifica no inverno apenas vai permitir a deposição
de argilas. Estas formações poderiam chamar-se de glacio lacustres.
Contrastando com os restantes materiais de origem glacial as areias e cascalhos dos deltas e as
varves apresentam calibração e arranjo dos fragmentos e partículas constituintes.

9.1. CARACTERÍSTICAS GEOLÓGICASS E GEOTÉCNICAS DOS TILITOS

As variações freqüentes na composição e espessura dos tilitos exigem uma investigação


cuidadosa do local em que ocorrem. Os grandes blocos encontrados pelas sondagens podem ser
confundidos com o firme rochoso. A espessura destes materiais pode chegar a atingir algumas dezenas
de metros, podem até mesmo mascarar uma topografia original com relevo pouco acentuado. Nestes
casos os métodos geofísicos são de grande utilidade, usados sozinhos ou, de preferência, conjuntamente
com as sondagens mecânicas.
O grande poder erosivo dos glaciares e capas de gelo permitiu escavar vales profundos em
alguns locais, especialmente nos vales estreitos. Estes, encontrando-se atualmente preenchidos com

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materiais de origem glacial, exigem grandes precauções quando interessam a fundação de uma
barragem.
As formações glacio lacustres podem dar origem a grandes deslizamentos, mesmo quando
possuem taludes muito reduzidos. Por conseguinte, pode ser difícil realizar obras neste tipo de
depósitos. A necessidade de aumentar a altura de uma barragem de aterro no Canadá de 12 m para
163m levantou importantes problemas devido a compressibilidade, resistência ao corte muito baixa e a
alta sensibilidade das varves argilosas moles da fundação (Klohn et al., 1982). O seu teor natural de
umidade varia entre 60% e 77%, o limite de liquidez entre 40% e 61% e o limite de plasticidade entre
20% e 25%.
Após a análise dos efeitos de um sismo, a partir de ensaios triaxiais cíclicos, utilizando as
varves argilosas, concluiu-se que a barragem não suportaria durante a fase de construção um sismo de
grau 5 na escala de Richter com o epicentro afastado de 25 Km. Após a construção não suportaria um
sismo de grau 6 com o mesmo epicentro.
Sob os depósitos moles e compressíveis ocorrem tilitos densos, rijos e relativamente
incompressíveis, constituídos por uma mistura de silte, areia e seixo. A partir da localização destes
materiais, foi decidido remover os solos argilosos moles com uma espessura máxima de 15m e
substituí-los por um aterro compactado.
Como conseqüência da ausência de estratificação e irregularidade das morenas, a distribuição
das permeabilidades é extremamente variável.
A estabilidade dos materiais das morenas, em relação às escavações superficiais, depende
grandemente do seu teor médio de argilas. Este teor dependerá, por sua vez, da natureza das rochas que
afloram na bacia de alimentação do glacial.
A barragem de Zoccolo, na Itália (Dolcetta e Chiari,1967) é constituída por um aterro com 66
metros de altura. O firme rochoso do vale glacial é constituído por filitos, micaxistos e paragnaisses. Os
talvegues são freqüentemente cobertos por espessos depósitos de rochas móveis que na zona da
fundação chegam a atingir 100m de espessura, apresentando uma permeabilidade variável. Estes
depósitos são formados por morenas cobertas por aluviões recentes. As morenas estão em parte in situ
e em parte foram transportadas e remexidas em diversos graus pelo curso d’água pós glacial. Os
depósitos aluvionares foram aumentando de espessura progressivamente, devido a alternância de fases

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fluviais e lacustres, provocadas pela barragem do vale por um cone de dejeção à jusante. Este processo
permitiu atingir cotas de algumas dezenas de metros acima das atuais, como testemunham os terraços e
a forte compressão sofrida pelos depósito glacio fluviais.
A velocidade das ondas sísmicas na morena é de 1 ,9 Km/s. 0 material não apresenta
estratificação e as diferentes frações granulométricas encontram-se quase sempre bem misturadas. Este
fato dá origem a que a permeabilidade seja reduzida, sendo de 10-6 m/s nas zonas superficiais,
diminuindo com a profundidade, ate atingir 10-7 m/s a 45 m de profundidade. No laboratório foram
determinados, com o auxilio de ensaios triaxiais lentos e rapidos, um valor de 39° para o ângulo de
atrito e uma coesão de 49 KPa.
A barragem de aterro de Vernay (C.F.G.B.,1982), tem uma altura máxima de 42 m e é fundada
sobre um espesso preenchimento aluvio-morenico com uma espessura máxima de 80 m. A
permeabilidade varia entre 2 x 10-3 e 10-4 m/s, tornando-se necessário executar um controle da
percolação de modo a garantir a segurança da obra, mas permitindo a realimentação do lençol freático à
jusante da barragem. Este objetivo foi atingido com a execução de uma parede moldada em betão
plástico com 1,20m de espessura, cortando o enchimento até uma profundidade de 45 m. Esta parede
foi executada antes do aterro, tido sofrido as deformações resultantes da construção progressiva da
barragem. As características exigidas do material foram uma estanqueidade elevada, resistência a
fissuração, resistência ao fraturamento hidráulica e manutenção de um gradiente elevado.
As barragens construídas total ou parcialmente sobre sedimentos de origem glacial tendem a ser
aterros construídos com os materiais locais de origem glacial. É comum prolongar o núcleo com um
corta-águas que devera atingir o firme. Quando os materiais apresentam resistência adequada, apenas
se procede a remoção da camada superficial alterada de modo a executar-se a fundação. Quando a
alteração ou amolecimento são profundos, a resistência e vulgarmente inadequada para suportar o peso
do aterro. Não se executam grandes escavações nestes solos, pelo que as camadas de argilas moles são
normalmente tratadas utilizando drenos de areia que permitem a drenagem, conduzindo a um aumento
da resistência (Knill, 1974). As elevadas pressões artesianas no firme rochoso podem provocar
problemas nas escavações de argilas moles.

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10. SOLOS RESIDUAIS

Para que se possam encontrar solos residuais in situ é necessário que a medida que se vão
formando não sejam removidos pelos agentes da geodinâmica externa. Por conseguinte, em igualdade
de circunstâncias, os terrenos planos tenderão a possuir maior espessura de solo residual.
Nas rochas graníticas a alteração progride ao longo das diaclases e fraturas da rocha. Como
avanço da alteração há um ataque progressivo dos blocos de rocha sã definidos pela rede de fissuras.
No estado final da alteração, em que apenas o quartzo se mantém inalterado, a rocha conserva
normalmente os vestígios da sua estrutura interna, apresentando-se pouco resistente e pouco permeável.
Este tipo de alteração ao longo das fissuras pode atingir grandes profundidades. Há ainda a considerar a
irregularidade da superfície de transição entre a rocha alterada e a rocha sã.
Nas rochas calcárias praticamente não há solos residuais muito espessos, pois a dissolução dos
carbonatos apenas deixa como resíduo argilas avermelhadas, que são facilmente transportadas pelas
águas.
Em uma alternância de margas e calcários, as circulações, concentrando-se nas diaclases do
calcário, podem alterar em profundidade as margas. Este processo é freqüente em outras rochas
heterogêneas.
Nas margas e argilas não fissuradas a alteração apenas atinge uma espessura da ordem dos
decímetros, devido a sua permeabilidade extremamente baixa. Quando fissuradas a alteração tende a
processar-se ao longo dessas fissuras. Este processo é freqüente nas encostas e a alteração pode ser
espessa em virtude do fraturamento decorrente da fluência.
Nos xistos a água percola através das fissuras e planos de descontinuidade e pode originar a
alteração em espessuras apreciáveis. Como resultado ocorre a formação de argilas.
A meteorização dos basaltos “in situ” pode originar um resíduo argiloso, que, após um longo
ciclo de mudanças secundárias com a adição de íons de ferro, pode resultar em um solo altamente
expansivo (Agarwal e Joshi, 1979).
As propriedades importantes dos solos residuais argilosos, afetadas pela mineralogia, são a
resistência ao corte, a permeabilidade e a compressibilidade.

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A necessidade de executar a fundação a uma profundidade conveniente pode acarretar um


grande volume de escavação. Genericamente as fundações em rochas alteradas em profundidade
prestam-se melhor a construção de barragens de aterro, pois raramente causam problemas de resistência
da fundação. No entanto têm sempre problemas de permeabilidade que podem originar fenômenos
perigosos para a segurança da obra, como os resultantes da erosão interna. O adensamento diferencial
pode ainda causar problemas importantes.

10.1. Estudo dos solos residuais

A compreensão dos fenômenos de alteração que originaram os solos residuais é de grande


importância para a resolução dos problemas práticos de geologia de engenharia, pois a construção de
obras neste tipo de solo levanta normalmente grandes problemas. Sem um estudo aprofundado dos
processos de alteração não e possível fazer previsões geodinâmicas, estudar os processos principais e
verificar os vários fenômenos de geologia de engenharia (Syrokomsky et al., 1979).
Um dos aspectos mais característicos dos solos eluviais é o seu zoneamento. Para definir o
zoneamento é necessário estudar a rocha mãe e as variações das propriedades dos solos ao longo do seu
perfil.
A zona de desintegração da rocha mãe pode normalmente ser estudada usando os métodos
petrográficos. Para as zonas superiores, mais meteorizadas, podem usar-se métodos laboratoriais tais
como as análises químicas, raios x, analise térmica diferencial e microscópico electrônico (Syrokomsky
et al.,1979 op. cit.).
Medina et al., (1982), a propósito do estudo dos solos residuais da fundação da barragem de
Guri na Venezuela, referem as principais aplicações das técnicas a seguir enumeradas.
A análise macro, mesa e microscópica serve para a caracterização da estrutura e da textura da
rocha e identificação dos seus minerais. Permite ainda uma ideia aproximada do estado de alteração dos
minerais. Com o microscópio eletrônico e possível observar o arranjo das partículas e a sua
representação física. A difração de raios X permite identificar os minerais argilosos, que, por serem
muito finos, não são detectáveis na analise microscópica. A espectroscopia de infra vermelhos

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possibilita a confirmação da presença de minerais argilosos e a existência de água absorvida ou de


ligação. Com a análise química é possível identificar os compostos de argila comuns. A análise dos sais
solúveis em água pode ainda dar informação sobre a susceptibilidade de dissolução dos minerais
presentes no solo.
O estudo deve estender-se desde a escala microscópica à macroscópica, passando pela
mesoscópica. Assim, é possível identificar diversas zonas e mesmo sub-zonas desde que se tenham em
atenção os fenômenos que estiveram em estudo, tais como desintegração, lixiviação, hidrólise, etc.
A descrição geológica, a estrutura, a textura, a composição mineral, a distribuição
granulométrica das partículas, a densidade, a porosidade, o ângulo de atrito e o módulo de
deformabilidade são outros tantos parâmetros que permitem a caracterização do tipo de terreno e das
suas propriedades. Os ensaios “in situ” são os que apresentam maior interesse prático para a execução
de uma estrutura hidráulica.
Por exemplo, o SPT fornece uma indicação da compacidade e consistência dos diferentes solos,
podendo permitir a diferenciação entre os solos aluvionares e os solos residuais. Com efeito, os solos
aluvionares apresentam valores de N baixos (geralmente inferiores a 10), enquanto os solos residuais
são mais consistentes, possuindo geralmente valores de N mais elevados (geralmente superiores a 10),
(Kong, 1983). Isto se deve ao fato dos solos aluvionares serem pouco resistentes devido ao transporte e
deposição que sofreram durante a sua formação. Por outro lado, os solos residuais desenvolvem-se a
partir da meteorização do firme rochoso subjacente, ocorrendo "in situ" sem grande perturbação.
A figura 2.10 ilustra o contraste entre os valores de N do ensaio SPT para os solos aluvionares e
para os solos residuais na fundação da barragem de Johor.

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Utilizando ensaios de penetração estática também se pode diferenciar os solos aluvionares dos
residuais. No entanto para estes métodos a interpretação dos resultados tem necessariamente de ser
correlacionada com dados de sondagens pr6ximas para que possam ter confiabilidade. Os solos
aluvionares tendem a ter baixa resistência a penetração e uma variação irregular do seu valor. Os solos
residuais apresentam valores da resistência a penetração superiores aos solos aluvionares, aumentando
este valor com o aumento da profundidade. A diferenciação entre os dois tipos de solos citados é de
importância pratica em geologia de engenharia devido ao contraste que apresentam nas suas
propriedades e comportamento.
Para determinar a permeabilidade dos solos residuais podem realizar-se ensaios “in situ” em
furos de sondagem. Utilizam-se os ensaios de nível constante ou variável, consoante os valores da
permeabilidade do terreno são altos ou baixos. A permeabilidade pode igualmente determinar-se
laboratorialmente a partir dos ensaios triaxiais realizados sobre amostras indeformadas.

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A realização do ensaio de carga com placa no fundo de trincheiras ou poços permite obter
elementos sobre o tipo de comportamento destes materiais.
A barragem de Guri, na Venezuela (Medina e Liu,1982) é fundada parcialmente em solos
residuais resultantes da alteração da rocha gnaissica. Verificou-se que o solo possuía uma estrutura
porosa aberta, conservando o esqueleto da rocha mãe, em resultado da lixiviação dos elementos
solúveis. A partir dos ensaios de consolidação, triaxiais e de carga com placa, e seqüente saturação
verificou-se que este fato permitia o colapso súbito da estrutura do solo quando sujeito a cargas
superiores a 400 KPa. Por este motivo foram adotados diversos procedimentos construtivos que
consistiram na remoção parcial do solo poroso na zona do núcleo, pré saturação da fundação antes da
construção do aterro e uso de banquetas estabilizadoras. Com estes procedimentos procurou-se
minimizar os adensamentos diferenciais e a conseqüente fendilhação (pequenas fendas) no corpo da
barragem, que foi dotada de amplos filtros para prevenir a erosão interna.
A figura 2.11 apresenta o perfil típico da parte direita da barragem de Guri.

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11. ROCHAS BRANDAS

Na natureza não há uma barreira entre o solo e a rocha, mas sim uma transição gradual, por isso
se torna difícil definir o início da rocha branda. Usualmente considera-se que os solos são os terrenos
que sendo colocados dentro de água e agitando se desagregam. Nas rochas, pelo contrario, a coesão não
é destru1da e não soferm desagregação.
Rocha (1977) considera que genericamente as rochas de baixa resistência possuem resistência a
compressão uniaxial entre 2 e 20 MPa, módulo de deformabilidade entre 4x102 e 4x103MPa e coesão
superior a 0,3 MPa. Os solos teriam uma resistência a compressão uniaxial inferior a 2 MPa, módulo
de deformabilidade menor que 50 MPa e coesão inferior a 0,3 MPa.
A maioria das rochas brandas são rochas sedimentares, tais como os argilitos mal consolidados,
argilas xistosas, margas, ou rochas residuais resultantes da meteorização das rochas pré-existentes.
Nos argilitos a adesão dos cimentos aos grãos vai determinar a resistência da rocha. Quando
cimentados com óxidos de ferro, a resistência dos argilitos pode ser muito variável, devido a
característica particular que este cimento apresenta, como a segregação em bandas ou massas
irregulares dentro do depósito. Os cimentos carbonatados são suscetíveis de serem dissolvidos pelas
águas meteóricas, originando bolsas de material que se transforma em solo arenoso. Este fenômeno só
é suscetível de ocorrer na escala do tempo geológico devido a baixa solubilidade do calcário. Os
argilitos com cimento siliciclásticos são os que apresentam maior resistência e menor deformabilidade.
O estudo petrológico das rochas brandas assume importância na caracterização das suas
propriedades como material de fundação de barragens.
A resistência das rochas brandas devem ser determinadas no laboratório através de ensaios de
compressão simples ou triaxial.
Segundo Rocha (1977, op. cit.), a caracterização da deformabilidade do maciço pode ser feita
no laboratório e que não implique que o volume a amostrar seja grande e que a amostra seja
indeformada.

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Yoshinaka (1967) refere o procedimento a utilizar na amostragem, preparação e execução do


ensaio de compressão triaxial para as rochas brandas.
Para o estudo "in situ" das características mecânicas das rochas brandas, são utilizados
freqüentemente o ensaio dilatométrico e o ensaio de carga com placa.
Pircher (1982) refere que as rochas brandas não colocam normalmente graves problemas de
resistência ou deformação para a construção de barragens de aterro. Estas barragens distribuem bem as
tensões, mas em casos de barragens muito altas poderá ser necessário executar uma laje entre o núcleo
e as camadas moles, conjugada com injeções de consolidação.
Os problemas resultantes da permeabilidade elevada nas rochas brandas assumem grande
importância.
Na barragem de aterro de Michelbach ocorre uma alternância de arenitos mal cimentados com
margas plásticas datando do Oligocenico (C.F.G.B., 1982). No fundo do vale encontra-se uma bancada
de arenitos com 10 m de espessura, coberta por solos aluvionares. O arenito é constituído por uma areia
granulometria fina e apresenta uma permeabilidade apreciável de a 10-5m/s, sendo superior a dos
aluviões. Para controlar as percolações foi executado um tapete impermeável à montante, associado
com uma parede moldada de betão plástico que corta completamente os arenitos, assentando nas
margas. A parede tinha como finalidade limitar a percolação através do arenito e eliminar os riscos de
erosão interna, pois o arenito apresentava características de erodibilidade bastante significativas.
As barragens de betão que mais se constroem sobre rochas brandas são as de contrafortes, de
preferência com a base alargada. Quando se verifique que o valor da resistência a ruptura da rocha
branda e insuficiente face às tensões transmitidas pela barragem de betão é aconselhável optar por uma
solução de aterro.
A barragem de contrafortes de Tamzaourt no Marrocos, com 94 m de altura é um exemplo bem
sucedido de uma barragem de betão construída sobre rochas brandas, constituídas por arenitos e
argilitos (Jaoui et al.,1982). O estudo da fundação foi realizado através de ensaios “in situ" e em
laboratório.

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12. AGUAS SUBTERRÂNEAS


O conhecimento da posição das águas subterrâneas, das suas variações sazonais e das pressões
hidrostáticas em estratos permeáveis profundos é de interesse no estudo das fundações de barragens.
As formações arenosas que possuem lençol freático próximo da superfície podem obrigar a
execução de rebaixamentos de nível d’água nos locais em que se pretendem executar escavações
profundas. A elevada permeabilidade destes materiais pode dificultar os trabalhos de drenagem devido
necessidade de bombear caudais elevados.
A distribuição da ocorrência de poço artesiano pode influenciar as características do projeto da
barragem

12.1. Níveis piezométricos


O estudo dos níveis piezométricos deve ser executado em todas as fundações terrosas de
barragens. Um meio fácil, mas nem sempre rigoroso é o de utilizar as sondagens mecânicas para a sua
determinação. Deve sempre referir-se no gráfico da sondagem o nível ou níveis dos aqüíferos.
É importante continuar a observação durante um tempo que permita atingir o equilíbrio dos
níveis e, sempre que possível, obter informações sobre as variações sazonais do nível d’água. Nas
argilas e siltes, o tempo necessário para atingir o equilíbrio pode ir até algumas semanas, mas as
observações durante as sondagens podem ser enganadoras. No entanto, sugere-se a anotação destes
níveis, no início e no final de cada turno da equipe de sondagem, pois permite observar a variação do
nível d’água em um intervalo de tempo conhecido.
O meio mais rigoroso para determinar os níveis dos aqüíferos é através da instalação de
piezômetros com características adequadas ao terreno. Pinto (1982) descreve os principais tipos de
aparelhos e as situações a que melhor se adaptam, dando especial ênfase a observação dos níveis
piezométricos no interior do aterro da barragem.
Normalmente não se instalam piezômetros antes da construção da barragem devido aos
elevados encargos que acarretam. A construção do aterro pode também danificar os aparelhos já
instalados, por isso a regra é proceder a sua implantação durante ou após a sua construção.

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As medidas piezométricas indicam diretamente a pressão da água de percolação, sendo um fator


fundamental na segurança das fundações das barragens. Nos terrenos que colocam mais problemas de
estabilidade, como, por exemplo as argilas moles, a piezometria é o instrumento de observação por
excelência. Neste caso particular é necessário o controle piezométrico da fundação durante a
construção da barragem para verificar se a pressão interstical de consolidação devido a sobrecarga
tende para valores perigosos.
A ocorrência de níveis piezométricos elevados nos maciços de fundação podem provocar
instabilidade nas escavações para a execução das obras (fig. 2.12), ou nas vertentes e fundo do vale
após o enchimento. Sendo ascendente o escoamento subterrâneo do maciço os níveis piezométricos
decrescem com a diminuição da distancia a superf1cie e a forca de percolação terá uma componente
vertical apreciável.

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Para que continue a processar o escoamento ascendente terá que ocorrer uma subida
correspondente dos níveis piezométricos. Imediatamente a jusante da barragem não há equilíbrio para
este aumento das pressões hidrostáticas, pois podem aumentar os problemas de instabilidade.
Considere-se ainda o caso de um aquífero regional confinado situado imediatamente abaixo da
fundação da barragem e em que os níveis piezométricos se encontram acima da superfície do terreno.
Neste caso o enchimento da albufeira vai provocar uma subida correspondente dos níveis
piezométricos, podendo aumentar os problemas de instabilidade a jusante de um modo idêntico ao caso
anterior.
No estudo hidrogeológico realizado antes da construção da barragem de terra e enrocamento de
Mont-Cenis, nos Alpes Franceses, verificou-se que os níveis piezométricos eram bastante inferiores aos
que se observavam na mesma vertical nas aluviões. Segundo Marchand et al. (1970) este fato seria
provocado pelas passagens com forte permeabilidade que ocorriam no Triássico.
O conjunto das medidas dos caudais e das medidas piezométricas permite detectar a evolução
do regime de percolação antes que se verifiquem movimentos ou rupturas que não sejam solucionáveis.
Durante a execução de valas profundas em que se utilizam lamas densas a base de bentonita
para sustentação das paredes, uma subida do nível freático vai provocar um afluxo de água para a
escavação, podendo criar dificuldades devido ao arrastamento e desmoronamento de areias e materiais
finos que vão contaminar a lama. Para evitar este problema é preciso manter o nível da lama a uma cota
segura, acima da lençol freático.

13. TRATAMENTO DAS FUNDAÇOES

As fundações de barragens em maciços terrosos são freqüentemente constituídas em terrenos


que não apresentam características adequadas a execução da obra pretendida. Surge então a
necessidade de melhorar essas características de modo a obter-se uma obra segura e econômica.
As fundações que tendem a apresentar mais problemas são, como se disse, as heterogêneas, as
demasiado permeáveis e as não consolidadas.

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Descrevem-se, a seguir, alguns métodos de tratamento de fundações terrosas mais


freqüentemente usados, não sendo referidos os métodos de cálculo utilizados no seu dimensionamento.

13.1. Controle da percolação por redução dos caudais

O problema da percolação da água através da fundação é bastante complexo, por isso


pesquisadores e profissionais foram criando diversas soluções técnicas com intuito de resolvê-los.
O valor da permeabilidade e a sua distribuição tridimensional é o fator que mais interessa
conhecer. A permeabilidade depende de diversos fatores de natureza geológica, podendo ser bastante
difícil de determinar. A própria incerteza que resulta da prospecção pode dificultar o trabalho.
Os riscos resultantes da percolação, tais como a erosão interna e as sub-pressões, a importância
econômica da água que se perde e as técnicas e meios disponíveis, vão favorecer determinado método
de impermeabilização em desfavor de outros.

I. Tapetes impermeáveis

Podem considerar-se dois tipos de tapetes impermeáveis:


a) Os tapetes revestindo completamente o reservatório
b) Tapetes parciais à montante.

Os tapetes revestindo completamente o reservatório só são utilizados quando a água é preciosa e


o reservatório pequeno. Tapetes parciais à montante limitam-se a algumas dezenas a centenas de
metros à montante da barragem, podendo ser suficientes para reduzir consideravelmente os gradientes e
os riscos que lhes estão associados. Se o rio transporta grande quantidade de silte e de argila, estes
materiais podem preencher o núcleo da barragem constituindo um tapete natural.

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O tapete parcial a montante é freqüentemente a solução econômica desde que se trate de uma
formação aluvionar espessa. Este dispositivo, por si só, pode reduzir os gradientes de percolação e os
conseqüentes caudais de fuga para valores aceitáveis.
Na barragem de Massingir (Serafim e Carvalho,1970) utilizou-se um tapete argiloso que se
estendia com um comprimento de 270 m a montante da barragem, sobre a zona aluvionar dos terrenos
da fundação (fig. 2.1).

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Os tapetes a montante são especialmente eficientes em formações homogêneas.


Cambefort (1967) considera que os tapetes são interessantes quando a permeabilidade da
camada é inferior a 10-5 m/s. Eles permitem um aumento do trajeto da percolação, aumentando as
perdas de carga e diminuindo, conseqüentemente, os riscos de instabilidade à jusante da barragem.
A permeabilidade dos materiais usados no tapete vai influenciar a sua eficiência.

II. Corta-águas
Pode-se considerar que os principais tipos de corta-águas utilizados no tratamento de fundações
terrosas de barragens são:
 Estacas-pranchas metálicas,
 Estacas de betão (secantes e tangentes),
 Paredes moldadas,
 Paredes finas e
 Valas corta-águas.

A eficiência de cada um dos tipos enunciados é diferente, de acordo com a perfeita execução e o
tipo de terreno em que é utilizado.
Os corta-águas podem ser parciais ou totais. Os primeiros apresentam uma eficácia reduzida
quanto ao controle dos caudais, sendo geralmente eficientes na redução das tensões neutras (Lande,
1970). Procura-se levar os corta-águas parciais até uma camada contínua e pouco permeável, pois deste
modo se aumenta consideravelmente a trajeto da percolação. Na maioria dos casos não há uma camada
com as características enunciadas, mas sim várias camadas mais ou menos contínuas e afastadas que
acabam tendo um comportamento semelhante ao de uma camada única.
Os corta-águas totais são utilizados quando a espessura do solo a atravessar não é muito
grande, pois a profundidade máxima que é possível atingir é de cerca de 75m com as paredes
diafragma(Asselin, 1967), e de cerca de 120m com as estacas secantes (Dreville et al., 1970).
Nos solos homogêneos é necessário que o corta-águas penetre cerca de 95% da sua espessura
para que haja uma redução apreciável dos caudais de fuga (Mansur e Perret, 1948). Por este motivo
utilizam-se os corta-águas totais neste tipo de solos.

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As paredes diafragma possuem uma rigidez variável consoante a proporção de cimento


utilizado. Deste modo procura-se que a parede tenha uma rigidez idêntica a do terreno.
As valas corta-águas utilizam-se quando a camada permeável é de espessura reduzida,
constituindo geralmente um prolongamento do núcleo ate ao firme rochoso. Este método, ao efetuar a
escavação a céu aberto, permite a observação do terreno de fundação facilitando também o tratamento
do terreno subjacente a camada permeável, quando necessário. As valas são posteriormente
preenchidas com aterro compactado de permeabilidade baixa.
A execução da escavação de valas corta-águas com profundidade elevada levanta problemas
práticos que aconselham o uso de técnicas mais adequadas, de entre as quais se destacam as paredes
moldadas.

III. Injeções
Londe (1970) analisa cuidadosamente o problema das injeções das aluviões permeáveis,
nomeadamente no que respeita as caldas, numero de linhas de sondagem, pressão de injeção, absorções
e controlo durante a execução.
Considera-se o valor de 10-6 m/s como o limite inferior da permeabilidade que se pode obter
com um tratamento por injeção. Adaptando o tipo de calda ao terreno a injetar é possível limitar a
penetração nos grandes vazios utilizando uma calda viscosa, por vezes mesmo com areia. As frações
finas podem então ser impermeabilizadas com produtos químicos, evitando o seu consumo excessivo.
Em regra utilizam-se cortinas de injeção com linhas múltiplas. A espessura da cortina decresce
com a profundidade e para os flancos. O espaçamento mais freqüente entre as sondagens de injeção
varia entre 2 e 4 metros.
As pressões de injeção variam em muitos casos entre p=0,3 H e 0,7 H, em que p representa a
pressão em bars e H a altura do terreno em metros acima do troco injetado.
As cortinas de injeção são muito eficientes na diminuição dos caudais de percolação. Os
gradientes de saída e as sub-pressões diminuem proporcionalmente com a qualidade da
impermeabilização obtida. Para maior eficiência, devem associar-se a um dreno (Cambefort, 1967),
que, no caso da barragem de aterro, se desenvolve no contato com a fundação.

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IV. Consolidação e drenos


Tal como já foi referido, os drenos aumentam os caudais de fuga, mas diminuem as sub-
pressões.
Os poços de drenagem são utilizados em aluviões profundos que são dificilmente penetradas
por corta-águas totais. Provocam uma diminuição do risco de sub-pressão e são freqüentemente
empregados para controlar os problemas de percolação.
Os tapetes filtrantes são mais eficazes em solos homogêneos. Quando a estratificação horizontal
origina uma forte anisotropia da permeabilidade os poços drenantes são mais eficientes.
Os sistemas de drenagem devem apresentar pequenas perdas de carga e devem estar
dimensionados segundo os critérios gerais estabelecidos para os filtros, de modo a funcionarem sem
sofrerem colmatação.
Genericamente, as fundações são levadas até níveis em que as características dos terrenos
permitem suportar as solicitações impostas pela barragem. Quando os terrenos com as características
adequadas apenas se encontram a uma profundidade apreciável, opta-se por escavar o material com
propriedades inadequadas, ou por melhorar as suas características.
No primeiro caso, a fundação pode ser executada a partir do fundo da escavação, ou por cima de
outro material com características adequadas, que é colocado e compactado, substituindo o material
removido (fig. 2.11).
No segundo caso, as características são melhoradas por vários processos.
Para as areias finas, areias e seixos pouco densos utiliza-se a vibro compactação. Este
procedimento, já anteriormente descrito, foi utilizado na fundação da barragem de Massingir (Serafim e
Carvalho, 1970) para a compactação de areias finas (fig. 2.1).
Outro procedimento, já igualmente referido e com fim idêntico foi a compactação com
explosivos. Este método foi utilizado na barragem de Rio Casco III, no Brasil (Queiroz etal., 1967).
Nos loess e outros solos porosos é freqüente efetuar-se a sua umidificação para que se processem os
adensamento. Obtem-se melhores resultados quando e efectuada uma pré-carga destes materiais.
Nos solos argilosos podem acelerar-se os adensamento utilizando drenos verticais (fig. 2.4),
conjuntamente com a pré-carga.

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As injeções podem também ser utilizadas para consolidar as fundações.


Nas barragens de Gardiken e Asen, na Suécia, foram executadas injeções não com o fim de
diminuir os caudais percolados, mas com o objetivo de evitar a erosão interna dos estratos naturais
muito permeáveis (Heldt e Persson, 1967).

V. Combinação dos diferentes elementos


A utilização de qualquer dos métodos referidos anteriormente, excetuando os métodos de
drenagem e consolidação, tem como conseqüência uma redução da quantidade de percolação, devido
ao aumento do comprimento das linhas de corrente. Este fato provoca uma diminuição das tensões
neutras à jusante, aumentando a estabilidade da obra.
É freqüente utilizar-se na mesma obra mais que um dos métodos referidos, de acordo com o tipo
de barragem, as condições do terreno de fundação e os objetivos pretendidos com o tratamento.
Profundidades muito elevadas tornam antieconômico a realização de paredes moldadas e uma
das soluções de engenharia encontrada é a execução de uma linha ou várias linhas de injeção. Assim,
consegue-se realizar o tratamento total dos aluviões permeáveis, evitando que sobrem estratos sem o
devido tratamento.
Nos diques muito longos em que a espessura das aluviões é grande, muitas vezes é utilizado
tapetes à montante. No entanto, quando a espessura do material permeável é pequena podem-se
utilizar-se técnicas que atravessam totalmente os aluviões.
Na barragem de Assuao (Wafa e Labib, 1967) são combinados os tapetes com as cortinas de
injeção, sendo ainda realizada a drenagem por poços de alívio à jusante.
As diferentes combinações, em cada caso particular devem ser convenientemente estudadas por
especialistas, pois podem conduzir a diminuição apreciáveis nos custos e no tempo de execução.

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14. SEGURANÇA DAS FUNDAÇÕES


A importância e necessidade de se conhecer a segurança do conjunto barragem-fundação cresce com
o volume de rejeitos e com o aumento potencial de perdas humanas e materiais, que podem ser
causados devido a uma eventual ruptura da barragem.
A verificação da segurança da fundação vai depender do tipo de barragem que foi projetada e
construída. Os problemas já abordados anteriormente e que assumem maior importância no estudo das
fundações terrosas são os relacionados com a permeabilidade, sub-pressoes, gradiente hidráulico e
erosão interna, a resistência mecânica e deformabilidade, bem como a capacidade de liquefação.
Com o fim de se conhecerem os diferentes aspectos geológicos, geotécnicos e hidrogeológicos que
afetam a segurança da fundação é elaborado um programa de reconhecimento e prospecção de modo a
serem conhecidos os diferentes parâmetros a utilizar no projeto da obra e na determinação da sua
segurança.
Os métodos que permitem determinar a segurança de uma barragem de aterro são idênticos aos
utilizados para calcular a segurança da fundação, residindo a dificuldade na escolha da superfície de
deslizamento e dos parâmetros de cálculo.
O problema consiste na procura das passagens mais desfavoráveis, tais como as camadas argilosas e
falhas com preenchimento argiloso, cuja coesão é supostamente nula (Bourgin, 1967). Este objetivo é
conseguido com um elevado número de sondagens e levantamentos.
Com a realização da prospecção geotécnica pretende-se obter o conhecimento e a compreensão das
características do terreno, de modo a garantir que o projeto, construção e operacionalidade da barragem
sejam feitos com o máximo de economia, segurança e rentabilidade. Como já foi referido, a prospecção
deve processar-se de tal modo que forneça ao projetista os parâmetros que ele necessita conhecer.
As características geológicas de cada fundação condicionam o tipo, a dimensão e localização da
barragem, por isso o papel do geólogo de engenharia se torna de fundamental importância na análise de
cada caso, de modo a elaborar um programa de prospecção geotécnica coerente e adaptado ao local a
estudar.
Oliveira (1980) propõe um programa de prospecção organizado por fases, utilizando
primeiramente os métodos de custo mais baixo e expeditos e depois a utilização de métodos mais
dispendiosos e mais sofisticados

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FASES DO ESTUDO DE
ANTI PROJETO PROJETO CONSTRUÇÃO OPERAÇÃO
PROJETO VIABILIDADE
Interpretação dos resultados do
Estudo dos
Reconhecimento geológico Prospecção mecânica Cartografia da superfície de programa de observação do
documentos
de superfície (cont.) (cont.) escavação comportamento (assentamentos,
geológicos existentes
PRINCIPAIS ATIVIDADES DA GEOLOGIA DE ENGENHARIA

percolações, deformações, etc)


Acompanhamento dos
Prospecção geofísica Ensaios hidráulicos de
trabalhos de escavaçãoda
Fotointerpretação (métodos elétricos e grande volume (Ex:
fundação e tratamento do
sísmicos) bombagem)
maciço
Ensaios de
Reconhecimento Prospecção mecânica (valas Ensaios de controle do
deformabilidade em
geológico de superfície e sondagens) tratamento da fundação
grande área
Ensaios no interior de furos
Cartografia geotécnica e/ou poços (ex: Ensaios de laboratório
preliminar permeabilidade, complementares
deformabilidade, etc)
Preparação do
programa de Ensaios de laboratório
prospecção preliminar
Zoneamento geotécnico
Prospecção expedita Preparação do programa de
prospecção
DOCUMENTO Relatório preliminar Relatório provisório Relatório final Relatório suplementar

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EXERCÍCIOS AVALIATIVOS

1) Sobre a classificação de barragens cite os tipos de barragem, descrevendo as principais


características. Responder e colocar exemplos.

2) Quais as diferenças entre barragens convencionais de barragens de rejeitos de mineração?

3) Na elaboração de um projeto de barragem de rejeitos, além da disponibilidade orçamentária


o que se deve considerar? Explique.

4) Para se estudar as características geotécnicas dos rejeitos de mineração utilizam-se os


índices da mecânica dos solos clássica. Que índices são esses?

5) Quais os principais métodos construtivos de barragem de contenção de rejeitos? Explique


cada método e exemplifique.

6) Quais as vantagens e desvantagens entre os métodos construtivos de barragem de contenção


de rejeitos?

7) Por que é importante realizar a auscultação de uma barragem de rejeito de mineração? Quais
os principais grandezas medidas no monitoramento?

8) Quais fatores devem ser observados para o estabelecimento do número de instrumentos a


serem instalados para o monitoramento de uma barragem?
9) Sabe-se que o fenômeno da erosão interna se constitui como um dos problemas geológicos e
geotécnicos que ocorrem em barragem com bastante freqüência, por isso esse fenômeno

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deve ser estudado com a finalidade de propor soluções geotécnicas, conforme o estudo de
caso. Defina o que é erosão interna e os processos que a geram.

10) Discorra sobre a resistência e deformação dos aluviões como material de fundação de
barragem.

11) Discorra sobre o fenômeno da liquefação em barragens. Cite exemplos de problemas


geotécnicos e soluções propostas.

12) Quais os métodos para avaliar a suscetibilidade a liquefação de solos arenosos saturados?

13) A propósito do estudo dos solos residuais da fundação de barragens, discorra sobre as
principais aplicações técnicas utilizadas por Medina (1982).

14) O conhecimento da posição do nível do lençol freático, das suas variações sazonais e das
pressões hidrostáticas em estratos permeáveis profundos é de interesse no estudo das
fundações de barragens. Como é realizado o monitoramento dos níveis dos aqüíferos? Quais
os principais tipos de aparelhos utilizados?

15) Sobre problemas geológicos e geotécnicos associados à fundações de barragem. Quais os


possíveis tratamentos de fundações para o controle de percolação por reduções caudais?
Descreva cada um e exemplifique.

16) Oliveira (1980) propõe um programa de prospecção para verificação da segurança da de


barragens que é organizado por fases. Como é organizado esse programa? Você acha
adequado para os dias atuais? Por quê?

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