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BLOCO I: FUNDAMENTOS
Julho/2020
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO
SETOR DE CURSOS LATO SENSU
GEOMINAS
BARRAGEM: CONCEITOS BÁSICOS E APLICAÇÕES
1. APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
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local, o que gerou uma onda de cheia com altura de, aproximadamente, 20 metros, causando
assim a morte de 2209 pessoas (http://usparks.about.com, 2012). No Brasil, no dia 5 de
novembro de 2015 ocorreu o rompimento da barragem de Mariana, no distrito de Bento
Rodrigues, no estado de Minas Gerais, que culminou com o óbito de aproximadamente 20
pessoas, além de inúmeros impactos sócio-ambientais. E, no dia 25 de Janeiro de 2019 ocorreu
o acidente oriundo de uma barragem de mineração no Brasil, o rompimento da barragem de
Brumadinho, também em Minas Gerais, com aproximadamente 260 óbitos e inúmeros impactos
ambientais, sociais e econômicos da história da mineração no nosso país. Alguns autores
consideram esse acidente como o segundo maior acidente industrial do século [2].
Felizmente, nem todos os acidentes evolvendo essas obras de engenharia possuem a
mesma gravidade, contudo não é permissível que a sociedade conviva com estes tipos de riscos.
Nesta disciplina de Barragem do curso Geominas iremos trabalhar os fundamentos
técnicos de projeto de barragens, de acordo com a sua devida classificação. Para isso, faremos
uma análise a respeito das diferenças entre barragens convencionais e barragens de mineração.
Depois, faremos a abordagem da concepção de projetos de barragens de rejeitos, com as suas
principais características geotécnicas, avaliação da capacidade de armazenamento, etc. Em
seguida, iremos estudar os principais métodos construtivos de barragem de contenção de rejeito,
tais como barragens de contenção de rejeitos à montante, à jusante e linha de centro.
Abordaremos as vantagens e desvantagens e a relação entre custo e segurança dos tipos de
barragens de contenção de rejeitos, sem esquecer dos métodos de auscultação de barragem, que
se referem aos processos de instrumentação de barragem. Também iremos enveredar nos
problemas geológicos e geotécnicos associados às fundações em maciços terrosos, tema
bastante atual e que precisa ser estudado com afinco pelos geólogos e engenheiros geotécnicos.
No mais desejamos bons estudos!
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2 TIPOS DE BARRAGEM
As barragens podem ser classificadas segundo diversos critérios:
a) De acordo com a utilização
Barragens de armazenamento ou regularização de vazões
Barragens de derivação para desviar o fluxo para canais
Barragens para o controle de cheias
Barragens para contenção de rejeitos de mineração
b) De acordo com o projeto hidráulico
Barragens vertedouras ou de soleira livre
Barragens não vertedouras
c) De acordo com o comportamento estrutural
Barragens tipo gravidade
Barragens estruturadas
d) De acordo com o material de construção
Barragens de concreto ou alvenaria
Barragens de aterro (terra ou enrocamento)
A barragem de terra ou enrocamento é a mais usualmente adotada. Neste curso o foco é sobre barragem
de contenção de rejeitos de mineração.
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As barragens de terra possuem elementos básicos que a constituem como um todo: talude jusante,
crista, talude montante, maciço, base e fundação. Estes elementos também são comuns à maioria dos
tipos de barragens ( figura 1).
No processo construtivo de uma barragem existe um elemento responsável pelo desvio do curso
d’água, chamado de ensecadeira (figura 2).
Os túneis de desvio possuem função similar à ensecadeira, porém, diferenciam-se pelo fato de ser
usualmente empregado nas construções em vales íngremes (figura 3).
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Segundo Quintas (2002), são consideradas barragens de terra aquelas cuja estrutura é constituída
fundamentalmente por terra. Neste caso, é adequado, quando possível, utilizar o solo da área de
implantação da barragem. As barragens de terra são as mais utilizadas e numerosas, devido a vantagens
econômicas e construtivas que elas proporcionam, em muitos casos, em relação às de concreto. Elas
também resistem melhor a recalques do solo de fundação e o seu preço, por volume unitário, se
manteve aproximadamente constante nos últimos 50 anos.
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1.2.1Barragem Homogênea
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carregamento do material fino para o interior do enrocamento (COSTA, 2012). Na figura 6 pode se ver
duas secções típicas de uma barragem de enrocamento com núcleo impermeável.
Figura 6 – seção de barragem de enrocamento de núcleo centrado e núcleo inclinado. Fonte: Costa
(2012).
Figura 7 – Seção de barragem de enrocamento com face de concreto e chapa de aço. Fonte:
Costa (2012).
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Barragens convencionais são construídas com materiais provenientes de uma mesma jazida,
com características semelhantes de densidade e umidade. A compactação das sucessivas camadas
construtivas garante a homogeneidade de comportamento do maciço. De acordo com MELLO (1988),
em barragens de rejeito, essa homogeneidade não é um condicionante de projeto, sendo inclusive
esperada certa heterogeneidade devido às diferentes épocas de alteamento e materiais utilizados
provenientes de diferentes frentes de lavra. Especialmente em barragens alteadas pelo método de
montante ou de linha de centro, os alteamentos são realizados sobre rejeitos depositados em curto
intervalo de tempo e conseqüentemente encontram-se pouco consolidados, apresentando menor
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resistência ao cisalhamento. Além disso, não existe compactação das camadas adjacentes, a não ser
pelo tráfego de equipamentos durante a construção.
3 Barragem de rejeito
Geralmente, o rejeito de mineração não possui valor comercial e precisa ser descartado de
forma econômica atentando para a minimização dos impactos ambientais.
A barragem de rejeito é construída para reter os materiais estéreis da mineração e de outros
processos industriais, segundo a definição do Manual de Segurança e Inspeção de barragens (2002). Já
a definição da European Comission (2004) a barragem de rejeito é uma estrutura projetada para
decantação e manutenção de rejeitos e água de processo.
A estrutura de uma barragem de rejeito é construída seguindo critérios técnicos e geotécnicos
com a finalidade de confinar o rejeito de forma segura. Ressalta-se que a variação do processamento do
minério pode mudar as características do rejeito, por isso cada barragem possui sua particularidade,
como o tipo de rejeito a ser depositado, as diferenças nas características granulométricas, os processos
de disposição, dentre outros aspectos específicos de cada barragem.
A geometria de uma barragem de rejeitos depende de vários fatores, como da topografia local,
podendo ser implantada aproveitando o perfil de vales, facilitando dessa maneira, a formação da lagoa
ou também pode ser implantada em terrenos planos. Deve-se evitar a construção de uma barragem
sobre nascentes, pois a pressão de água pode comprometer a estabilidade do aterro. Além disso, o solo
deve possuir capacidade de suporte suficiente para não correr deslizamentos ou grandes acomodações
devido ao peso de rejeito a cada alteamento.
Um projeto de barragem de rejeito é uma “especialização” no contexto de projetos de barragens
convencionais. Geralmente, os materiais empregados na construção de barragens de terra
convencionais são mais adequados e passam por controle tecnológico de solos, incluindo a umidade e
compactação ótima. Diferentemente do que ocorre nos materiais utilizados na construção de barragens
de rejeito, que geralmente, possuem porcentagem mais elevada de água e dificilmente passam pelo
controle tecnológico das barragens convencionais, visto que requer custos.
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A disposição controlada de rejeito parece causar um aumento do custo de produção sem trazer
“benefícios imediatos” para a empresa mineradora, e como conseqüência essa atividade tem sido
negligenciada e somente lembrada quando ocorrem “erros” e “acidentes”.
A construção de barragens de rejeito deve ser um processo continuado, isto é, estendendo-se por
praticamente todo o período da atividade mineira, possibilitando um acompanhamento dos resultados e
possíveis modificações e aprimoramentos do projeto inicial. Desse modo, pode-se dispor, de forma
segura, todos os rejeitos gerados no processamento, minimizando os riscos de acidentes.
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4.2 Transporte
Após a fase de beneficiamento os rejeitos são transportados na forma de polpa aos locais de
disposição de rejeitos. Porém, existem fatores determinantes na escolha do transporte do rejeito:
Topografia da área de manuseio dos rejeitos
Volumes a serem depositados
Distância entre o espessador e a área de deposição
Consistência qualitativa do rejeito
Clima
A polpa geralmente é bastante abrasiva e porcentagem de sólidos variando entre 15% a 55%. O uso
de espessadores facilita a obtenção de uma porcentagem maior de sólidos, que chegar a 40% – 50%.
O transporte da polpa é feito com auxílio da gravidade através de calhas, valetas ou mesmo
tubulação. O que irá determinar a escolha é a distância e a diferença de cota entre a usina de
beneficiamento e a área onde se dará a disposição de rejeitos.
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objetivo de promover a dissipação de energia ou reduzir a turbulência na polpa. No final dessas calhas
encontram-se caixas de recepção posicionadas a uma altura que atenda os parâmetros hidráulicos
direcionados ao lançamento da polpa. Inicia-se o sistema de descarga que consiste em uma tubulação
com pequena inclinação em direção a barragem. Os rejeitos podem ainda ser transportados por
caminhões de mina, correia transportadora ou uma combinação de qualquer dos métodos citados.
4.3 Descarga
O rejeito na forma de polpa perde totalmente a plasticidade e a coesão das frações argilosas
devido encontrarem-se acima de seu limite de liquidez, então se comportam como um fluido viscoso.
Esse rejeito após ser transportado poderá ser lançado na barragem, por métodos hidráulicos, em um só
local ou em diversos pontos.
O processo mais empregado consiste no lançamento dos rejeitos a montante da superfície da
água do lago de decantação, em praias formadas e distribuídas ao longo do perímetro da barragem
(descarga periférica).
Normalmente, das caixas de recepção da polpa inicia-se a tubulação de descarga (tubulação
tronco) para o seu lançamento em área pré-selecionada. Em algumas circunstâncias, antes do
lançamento da polpa na barragem, são empregados processos de hidrociclonagem para a separação das
frações mais finas, overflow, das mais grossas, underflow. Desse modo, materiais mais grossos são
utilizados na construção do corpo (maciço) da barragem, destinando a fração mais fina ao lago de
decantação resultante do barramento.
A hidrociclonagem possibilita a seleção e adequação dos materiais construtivos, portanto,
tornou-se uma etapa muito importante na construção de uma barragem. A figura 11 ilustra um arranjo
típico de um sistema de hidrociclonagem em relação ao dique inicial (aterro) da barragem.
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Figura 11 Arranjo típico de hidrociclones ao longo da cristada barragem. Fonte: Soares (2010).
A descarga da polpa pode ocorrer através de um ou de vários pontos de acordo com spigots que
controlam a descarga da polpa. Na figura 12A as tubulações de transportes devem ser desconectadas e
relocadas de modo a possibilitar a formação seqüencial de depósitos adjacentes. Os plugues também
realizam a função de lançar rejeitos em áreas contíguas. Os spitgots ficam posicionados ao longo da
tubulação, normalmente espaçados entre 15 e 45m e ainda auxiliam o controle de lançamento dos
rejeitos por válvulas individuais ( figura 12B).
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Figura 12 Método de descarga de polpa periférica por um único ponto (A). Método da descarga
periférica de polpa por spigots (B). Fonte: Soares (2010).
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praias com ângulo de repouso variável e dependem da porcentagem dos sólidos e da granulometria
durante o lançamento.
A velocidade de sedimentação dos rejeitos lamosos é crítica para o dimensionamento dos
reservatórios, definindo a espessura da zona da clarificação requerida na qual ocorre a
sedimentação/transição e adensamento dos materiais.
5.1.Densidade in situ
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Figura 13 À esquerda o aumento da densidade in situ dos rejeitos com a profundidade e ao lado
direito verifica-se a variação da densidade aparente seca com a profundidade. Fonte: Soares (2010).
Grande parte dos rejeitos de mineração perdem a plasticidade devido aos processos de
beneficiamento. Os rejeitos dificilmente atingem índice de plasticidade acima de 25%.
Onde:
𝑒 é o índice de vazios máximo
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5.4.Compressibilidade
5.5.Permeabilidade
A variação da permeabilidade pode ser caracterizada de acordo com a dimensão dos grãos do
rejeito, plasticidade, modo de lançamento e a profundidade do material.
A segregação dos materiais de acordo com a granulometria influencia a permeabilidade. O
índice de vazios também é bastante significativo na permeabilidade de rejeitos, podendo provocar
variações na permeabilidade em até 5 vezes nos casos de materiais de granulometria grossa, No
caso das lamas a permeabilidade varia em até 10 vezes. Na figura 14 os valores de permeabilidade
média são plotadas em função do índice de vazios de rejeitos.
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Figura 14 Variação da permeabilidade média de rejeitos em função do índice de vazios. Fonte: Vick
(1983).
A permeabilidade (K) de um rejeito pode ser estimada com base na granulometria, de acordo
com o diâmetro efetivo d10 ( o peso de todos os grãos menores constitui 10% do peso total da amostra),
segundo:
𝐾 = 100(𝑑 ) (2)
A equação 2 foi determinada empiricamente com grãos de areia uniforme e deve ser usada
apenas como ordem de grandeza. Segundo experiência empírica e de técnicos que atuam no setor
alguns valores de permeabilidade podem ser usados (tabela 3):
K (cm/s) 10² 1 10-2 10-4 10-6 10-8
Solo Pedregulhos Areia AF* Argilas
Tabela 03 Valores de permeabilidade em função da granulometria do solo. Fonte: ABGE
(1996). AF* = areias finas e silto-argilosas, siltes argilosos.
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A largura de cada zona irá depender da proporção entre areais e lamas, além da posição do lago
de decantação em relação ao ponto de descarga.
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5.6.Resistência ao cisalhamento
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Figura 16 Perfil de uma barragem de rejeito e seus elementos. Fonte: Machado (2007).
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são separadas pelo processo de ciclonagem. Podem ser construídas ou alteadas com o próprio material
do rejeito por um dos seguintes métodos:
Método à montante
Método de jusante
Método de Linha de Centro
Figura 18. Seqüência de alteamento de barragens de rejeito pelo método à montante. Fonte: Vick
(1983).
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Figura 19. Principais riscos de ruptura causados pelo alteamento segundo o método à montante. Fonte:
Silveira e Reades (1973).
sedimentação de partículas mais grossas junto à face de montante. Sistemas de drenagem e filtros (por
exemplo, tapetes drenantes) evitam aumentos excessivos de poropressões e controlam a poluição da
água subterrânea, quando for o caso.
Alguns cuidados devem ser tomados em relação ao método à montante com o objetivo de
melhorar a segurança e o desempenho da obra, são eles (Soares, 2010):
O lançamento de rejeito deve ser feito no perímetro do lago imediatamente à montante do
talude do dique inicial e dos alteamentos subseqüentes;
Deve-se evitar retenção de água próximo à crista ou em áreas confinadas
Os rejeitos devem ter fração arenosa para favorecer a drenagem e serem lançados com
concentração de sólidos que possibilite a segregação do material próximo à crista da barragem;
O nível de água d reservatório deve ficar afastado da crista da barragem, adotando-se sistema de
esgotamento das águas de chuvas e aquelas liberadas pela polpa;
Evitar o método de alteamento à montante em áreas que ocorram vibrações, de origem tectônica
ou não;
As barragens não deverão ter grande altura e a velocidade de alteamento ficam condicionadas às
propriedades dos rejeitos.
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De acordo com KLOHN (1981), as vantagens envolvidas no processo de alteamento à jusante são:
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Barragens alteadas pelo método de jusante necessitam maiores volumes de material (maior
relação areia / lama), apresentando maiores custos associados ao processo de ciclonagem ou ao
empréstimo de material. Além disto, com este método, a área ocupada pelo sistema de contenção de
rejeitos é muito maior, devido ao progresso da estrutura para jusante em função do acréscimo da altura.
Este método é uma solução intermediária entre os dois métodos apresentados anteriormente,
possuindo uma estabilidade maior que a barragem alteada somente com o método à montante, porém
não requerendo um volume de materiais tão significativo como no alteamento somente com o método à
jusante.
O sistema de disposição é similar ao método à montante, com rejeitos lançados a partir da crista
do dique de partida. A construção prossegue de modo similar, onde inicialmente é construído um dique
de partida (dique inicial), e os rejeitos são lançados perifericamente a montante do mesmo, formando
uma praia. O alteamento subsequente é realizado lançando-se os rejeitos sobre a praia anteriormente
formada e sobre o talude de jusante do dique de partida. Neste processo, o eixo da crista do dique
inicial e dos diques resultantes dos sucessivos alteamentos são coincidentes, permanecendo o eixo de
simetria da barragem constante (figura 21).
Se a parte superior do talude perder eventualmente o confinamento, podem aparecer fissuras,
causando problemas de erosão, e aumentos de poropressões. (Troncoso, 1997).
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necessidade de aprofundamento em estudos que levem a uma maior utilização do método de jusante no
Brasil.
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Para que uma barragem possa ser considerada bem instrumentada deve seguir um programa de
instrumentação criterioso e intuitivo com definições claras das questões fundamentais e com as
respostas para as perguntas:
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Tabela 01: Medições a serem realizadas para segurança estrutural e ambiental. Fonte: Simpósio de
Instrumentação de Barragem (1996).
A rotina de leituras dos instrumentos possibilitará o acompanhamento das variações das grandezas
medidas pelos instrumentos em cada fase do empreendimento e a identificação e a análise de qualquer
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comportamento anômalo que venha ocorrer adotando-se medidas necessárias para garantir os níveis
normais de segurança na operação.
A freqüência mínima de leitura deve ser baseada na experiência de outras barragens e
recomendações do International Commission on Large Dams (1982). A devida leitura não deve ser
encarada como algo imutável, devendo ser intensificada quando observar valores acima dos seus
valores limites ou com tendência de crescimento acima do esperado.
Em relação à vida útil dos instrumentos tem-se que os de concepção elétrica ou eletrônica,
possuem vida útil bem extensa. Pode-se constatar, por exemplo, que em muitos casos após cerca de 30
anos de operação, ou até menos, qualquer barragem exigirá uma reavaliação de seu plano de
instrumentação original, para só assim, descartar por definitivo os instrumentos danificados ou com
comportamento suspeito e a instalação de novos instrumentos em locais de particular interesse.
O processo de deterioração da instrumentação de auscultação de uma barragem é observado por
vários fatores, alguns deles relacionados a correta instalação, assim como a operação e manutenção dos
instrumentos durante a operação da barragem.
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Para que se possa conhecer e compreender com rigor uma fundação não rochosa é necessário
um estudo aprofundado de todas as suas características litológicas, estruturais e hidrogeologicas. As
propriedades geotécnicas dos terrenos são dependentes destes três aspectos, bem como da sua historia
geológica. Para se efetuar o estudo de uma fundação e necessário utilizar os meios de reconhecimento e
prospecção adequados as suas características particulares. A localização do empreendimento e a
investigação geológica e geotécnica são de extrema importância, pois permitirá realizar o zoneamento
geotécnico dos terrenos da fundação.
O regime de percolação é o elemento principal para a segurança em terrenos móveis. Os
caudais que percolam na fundação, as subpressoes e o gradiente hidráulico, que traduz o risco de erosão
interna (piping), são os parâmetros que caracterizam o regime de percolação. Para efetuar o seu estudo
e necessário conhecer a espessura dos maciços terrosos, as suas características de permeabilidade, a sua
distribuição espacial e, ainda, os parâmetros inerentes a construção da barragem. Estes são
essencialmente os seguintes: carga hidráulica a montante, espessura da barragem, posição dos drenos,
espessura, localização e comprimento da cortina corta água e do tapete impermeável à montante.
No caso de solos de baixa densidade torna-se necessário determinar a sua resistência ao
cisalhamento, devido a possibilidade de colapsarem, caso freqüente nos loess, e ainda a eventual
ocorrência de fenômenos de liquefação.
A ocorrência de materiais solúveis nas fundações pode ser igualmente perigosa, especialmente
quando a quantidade de material removido pela percolação é grande. A compressibilidade e a
resistência mecânica necessitam ser conhecidas para que se possa efetuar o cálculo da segurança da
barragem e da fundação como um todo.
Nas barragens de aterro, as características dos materiais usados são bem conhecidas e sujeitas a
controle regular. Com o material da fundação não é possível ter o mesmo conhecimento, pois as suas
propriedades são grandemente influenciadas pelas zonas com as piores características. A ocorrência de
um fino estrato argiloso contínuo e com um ângulo de atrito muito baixo, pode comprometer a
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segurança de toda a fundação. Por este motivo é necessário fazer um reconhecimento pormenorizado,
com especial ênfase nas zonas de mais difícil amostragem ou caracterização. Do ponto de vista da
geologia de engenharia é importante o conhecimento da origem e natureza dos vales para o
planejamento e construção de barragens e reservatórios seguros. É igualmente importante conhecer a
origem e características dos materiais não consolidados que cobrem as vertentes (colúvio) e o fundo do
vale.
8.1. ALUVIÕES
A estratificação dos aluviões explica-se pelo modo como se formam. Na planície aluvial o curso
de água está confinado, em tempo normal, ao leito menor. Com as épocas de cheia, as águas
ultrapassam o leito menor, inundando toda a planície. Os materiais grossos, tais como a areia, seixo e
pedregulho são naturalmente depositados no leito menor, enquanto que os finos tenderão a depositar-se
na planície de inundação, pois são facilmente transportados pela água.
A evolução do rio tenderá a que ocorra migração dos canais, pois grande parte da planície será
afetada pela deposição de materiais grossos e finos.
Como resultado final da repetição deste fenômeno, teremos justaposições e alternâncias de
lentículas de material silto-argilosos, por vezes com alguma areia fina, lentículas de areia e outros
materiais mais ou menos grossos.
A heterogeneidade dos aluviões será tanto na horizontal como na vertical, sendo difícil a sua
previsão. Este fato faz com que seja necessário efetuar cuidadosamente o seu reconhecimento.
A dimensão do vale pode por vezes ser pouco maior que a do leito menor. Neste caso o leito de
inundação terá constituição idêntica a do leito menor.
Quando por um fenômeno de diminuição do gradiente do rio ocorre de uma zona de águas
calmas, podem depositar-se materiais essencialmente finos, que chegam a atingir grandes espessuras. É
freqüente ocorrerem sedimentos argilosos de origem marinha datando do Plioceno, preenchendo vales
por vezes profundos, em zonas próximas da foz de rios. Tal fato deve-se à subida do nível do mar em
relação ao continente. Assim, as águas marinhas ao penetrarem no estuário criaram condições calmas
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para deposição desses materiais finos. Com o indício de uma regressão há uma descida do nível do
mar, do que resulta um processo de aprofundamento do vale. Assim ocorrem transgressões e regressões
que originam os terraços. Como exemplo deste tipo de fenômeno e das suas conseqüências na geologia
do local da barragem, cita-se a barragem de Nassingir construída no rio dos elefantes em Moçambique
(Serafim e Carvalho, 1970).
O rio dos Elefantes tem o seu leito atual a uma cota de 82 metros acima do nível do mar, em
uma formação aluvionar quatemária recente, com cerca de 27 metros de espessura e assentando sobre
formações rochosas datadas do Cretáceo. O primeiro terraço aluvionar encontra-se entre as cotas 100 e
120 m, sendo a formação aluvionar mais antiga constituída por seixo com areia e argila. Este terraço foi
originado pela erosão de uma outra plataforma antiga, entre as cotas 130 e 150 m, que se formou entre
o Plioceno e o Pleistoceno, com materiais vindos do interior do continente e depósitos eólicos.
Em um estágio posterior, o rio moveu-se para sul e escavou um vale largo nas formações
cretácicas. Seguidamente, por transgressão, depositou neste leito formações silto-argilosas até uma
profundidade máxima de 30 m. Novamente em regressão, o rio moveu-se para norte até a sua posição
atual, escavando profundamente as rochas cretácicas.
Posteriormente, este vale foi sedimentado por aluviões com estratificação cruzada constituída
por areias finas a grossas, seixos e blocos. Esta formação corresponde ao vale principal do rio, que tem
a forma de um U aberto com 400 m de largura. Assim, a barragem assenta em três tipos diferentes de
solos: areias e seixos no primeiro terraço; areia aluvionar no vale principal; silte e argila no leito
abandonado do rio, para sul. A barragem assenta ainda sobre estratos pouco resistentes de arenito
cretácico e sobre margas e calcários nas encostas do vale principal (fig.2.1).
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durante a fase de erosão do vale. Como exemplo de um vale com enchimento aluvionar espesso, cita-se
o da barragem de Assuao, no rio Nilo, em que as sondagens localizadas no centro do canal
atravessaram 225 m de material sedimentar ate atingirem o granito são - não intemperizado (Wafa e
Labib, 1967).
8.4. PERMEABILIDADE
Para caracterizar do ponto de vista da permeabilidade um maciço de fundação, procura-se como
primeira aproximação, e sempre que os aluviões não são muito heterogêneos, determinar um valor
médio da permeabilidade. Para que este valor tenha significado é necessário um grande número de
ensaios. Como exemplo citam-se os casos de Feistritg, na Áustria, com 1.000 ensaios em 250
sondagens (Magnet e Mussnig,1970) e de Tarbella, no Paquistão, com 3.539 ensaios em 347sondagens
(Khan e Alinaqui, 1970).
A partir dos ensaios é prática comum fazer o zoneamento da fundação estimando-se o valor
médio da permeabilidade para cada zona. O refinamento do método dependerá da possibilidade de
individualizar o maior número de zonas para cuja permeabilidade se possa admitir um valor médio.
As alternâncias de materiais com granulometrias totalmente diferentes provocam a
individualização de zonas com permeabilidades muito contrastantes, podendo originar vários aqüíferos
cativos independentes, que podem mesmo ser artesianos.
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A erosão interna resulta da ação das forças de percolação das águas subterrâneas sobre as
partículas do solo, devido a transferência de parte da energia da água para as partículas. Em
conseqüência, pode ocorrer o arrastamento de partículas do solo, começando pelas mais finas, podendo
ainda dar- se o levantamento hidráulico (heaving).
A erosão interna pode ocasionar a ruptura de taludes ou o colapso de barragens. Este fenômeno
pode ser controlado com um filtro de material granular grosso, cujo dimensionamento deve obedecer
aos critérios gerais estabelecidos.
O arrastamento das partículas traduz-se em uma erosão subterrânea que normalmente se inicia
na zona à jusante, próximo ao pé da barragem, ou em um plano de sedimentação.
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A rede de percolação da figura 2.3 mostra como a capacidade de erosão de uma nascente
aumenta a medida que aumenta o comprimento do túnel. As linhas pontilhadas e as cheias indicam
respectivamente as linhas equipotenciais e as linhas de corrente. As linhas a traço e ponto delimitam a
zona que alimenta a nascente.
Verifica-se que ao aumentar o comprimento do túnel cresce o número de linhas de corrente que
o alimentam, incrementando o caudal e conseqüentemente o seu poder erosivo. Se uma nascente
adquire potência suficiente para iniciar a erosão, ela vai aumentar com o tempo até que finalmente
chegará o momento em que o solo romperá por erosão interna.
entre a aplicação da carga hidráulica e a ruptura. Estes fatores indicam que a maioria das rupturas por
erosão interna são causadas por um processo que reduz o fator de segurança de forma gradual, até
chegar ao momento em que se verifica a ruptura.
Em materiais heterogêneos é bastante difícil determinar as linhas de menor resistência contra a
erosão interna, bem como o gradiente hidráulico necessário para produzir um canal contínuo, pois estes
fatores dependem de estudos geológicos pormenorizados, que são praticamente impossíveis de detectar
na prospecção.
Terzaghi e Peck (1972, op. cit.), apos analisarem vários casos de erosão interna, verificaram que
o material que cobre o solo erodido possui sempre pelo menos uma leve coesão, que é suficiente para
formar um teto sabre a caverna de erosão. Como não é possível manter um teto sem suporte nas areias
homogêneas não coesivas, estes materiais não estão sujeitos aos fenômenos de erosão subsuperficial, a
não ser que se encontrem debaixo de um teto que pode ser natural, tratando-se de uma camada coesiva,
ou artificial como a base de uma barragem. A segunda característica comum é que a depressão de
afundamento do túnel se produza sempre a grande distancia da boca de descarga.
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Durante as escavações verificou-se que a estabilidade das areias era ameaçada pelas
subpressões, devido a sua heterogeneidade e falta de coesão. Para se poder construir a central e parte da
barragem, foram executados diques de proteção de modo a obter-se uma zona de dois trabalhos a seco.
Como havia necessidade de obter grande estanqueidade a solução escolhida foi a realização de paredes
diafragmaem betão plástico, localizadas sob o núcleo dos diques. Os resultados foram excelentes, não
se tendo verificado qualquer acidente.
As areias e seixos não cimentados constituem os principais solos não coesivos. A resistência de
um solo deste tipo depende inteiramente da fricção interna das partículas. A resistência em uma seção
qualquer depende assim da tensão normal aplicada nessa seção.
A relação entre a resistência ao corte e a tensão normal efetiva é definida por tangente de ∅,
sendo ∅ o ângulo de atrito interno. O valor de ∅ para uma dada areia é praticamente independente da
tensão normal, mas varia com o grau de compactação das partículas, ou seja, com a densidade relativa
da areia.
Uma areia limpa, que não tenha silte ou argila é praticamente incompressível se não for
considerada a elasticidade dos grãos. Isto deve-se ao fato dos grãos formarem uma estrutura fechada,
análoga a de uma caixa com esferas, em que todos os grãos estão aproximadamente em contato uns
com os outros.
No entanto, quando se tem solos com a granulometria mais extensa, ou seja, contendo desde
areia até argila, a estrutura deixa de ser verdadeiramente fechada e possui tendência a aproximar-se da
das argilas, sendo então possíveis adensamento significativos.
Quando a densidade relativa é menor que 66% espera-se adensamento importantes, tanto
maiores quanto menor for a densidade relativa. Para valores superiores a 66%, solos compactos e muito
compactos, não são de esperar adensamento apreciáveis. A densidade de uma areia fofa pode ser
aumentada por compactação, por cravação de estacas, por vibro compactação ou uso de explosivos.
Para fundações muito solicitadas é conveniente verificar a capacidade de carga, realizando
ensaios in situ e ensaios laboratoriais.
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Em uma barragem no Rio Casca, no Brasil (Queiroz et al.,1967), foi necessário efetuar a
compactação de depósitos aluvionares de areia fina, fofa, que apresentava valores de NSPT variando
entre 1 e 3. A areia encontrava-se saturada e possuía uma espessura máxima de 17 metros. A
compactação foi preconizada para assegurar a estabilidade da fundação durante a construção e para
minimizar adensamento futuros na estrutura. Deste modo, foi reduzida a possibilidade de ocorrerem
fendas de tração no núcleo provocadas pelos adensamento diferenciais. O método de compactação
utilizado foi o das explosões controladas. Os adensamento máximos observados foram de cerca de 0,25
m, correspondendo aproximadamente a 2% da espessura máxima das areias fofas.
Foram executadas sondagens adicionais após a compactação, tendo-se encontrado valores de
resistência a penetração (N) de 3 a uma profundidade de 2 metros e de 7 a 10 metros de profundidade.
Este aumento indica que a densidade cresceu apesar do assentamento total ser relativamente pequeno.
No estudo da fundação da barragem de Massingir (Serafime Carvalho, 1970) verificou-se,
especialmente pelos resultados do penetrômetro Holandes, que a compacidade das areias do vale
principal era bastante baixa. Estas areias apresentavam valores médios da resistência de
aproximadamente 2 MPa dos 5 aos 10 metros de profundidade e de 3 a 4 MPa dos 10 metros até chegar
ao firme rochoso. Utilizando a relação empírica entre a resistência a penetração e a densidade relativa,
determinaram-se valores da densidade relativa de 20% para os primeiros dez metros e de 35% ate ao
firme o firme rochoso. Para aumentar a compacidade nos dez primeiros metros, foi realizada uma
compactação por vibro compactação, de modo a obter-se uma densidade relativa de 40% (ver figura 2.1
b). Deste modo procurou-se minimizar os adensamento e a possibilidade de liquefação no caso de
ocorrer um sismo.
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rápida expulsão da água. Com uma carga permanente a consolidação processa-se, fazendo com que a
água migre das zonas com maior pressão para as de menor pressão. Este processo é lento e elaborado,
sendo do domínio da mecânica dos solos.
Segundo Sherad et al., (1963), a maioria dos escorregamentos durante a construção de barragens
e boa parte dos escorregamentos para montante ou jusante após a construção ocorreram em barragens
cuja fundação possuía argila de plasticidade relativamente alta.
A ocorrência de camadas de silte e argila podem obrigar a aprofundar a escavação, de modo a
eliminar o material com as piores características. Se o volume para ser removido for muito grande a
solução pode tornar-se inviável, devido ao elevado custo. Haverá, então, que utilizar soluções
alternativas que permitam melhorar as características de resistência e deformação dos solos. A
execução de aterros é uma alternativa aos drenos verticais. Estes dois métodos podem ser utilizados em
conjunto para diminuir o tempo necessário para melhoria das características do solo.
A barragem de Sauri, no Japão é fundada sobre uma camada de argila mole aluvionar de cerca
de 8 metros de espessura. As variações complexas da litologia obrigaram a realizar uma campanha de
prospecção e ensaios de forma minuciosa. Analisando os resultados das fase investigativa considerou-
se necessario efetuar a consolidação das argilas com drenos de areia verticais, de modo a prevenir a
ruptura da barragem por escorregamento da fundação (Moriya e Ukaji,1967). Na figura 2.4 apresenta-
se o corte geológico da fundação e o perfil tipo da barragem.
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Os autores referidos consideraram que estes solos possuem um índice de plasticidade de cerca
de 16%, limite de liquidez médio de 39% e teor natural de umidade natural de 29%. A partir de ensaios
laboratoriais determinou-se um coeficiente de compressibilidade media cc de 0,25 e um coeficiente de
consolidação Cv d e 5 x 1 0 - 7 m2 /s.
As características de resistência determinadas em ensaios triaxiais, considerando as tensões
efetivas são de 20 KPa para a coesão e de 28° para o ângulo de atrito. Considerando tensões totais,
estes valores são respectivamente de 70 KPa e zero graus. Os máximos adensamento esperados são de
cerca de 1,7 m, correspondendo a cerca de 4% da espessura dos sedimentos quaternários. Cerca de um
ano apos o in1cio da construção da barragem, tendo-se atingido uma altura de aterro de 70% do seu
valor final, os recalques diferenciais já atingiam o valor de 0,6 m. Um dos problemas mais comuns das
fundações de barragens em argilas é o resultante da diminuição da resistência dos materiais superficiais
devido a alteração. A fluência e deslizamento dos taludes argilosos originam a diminuição generalizada
da resistência ou o aparecimento de superfícies de corte com uma resistência residual pequena.
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Analisar a sismicidade de um local onde será construída uma barragem é de grande importância
para o estudo da possibilidade de ocorrência de liquefação nos solos arenosos da fundação. A história
sísmica da área e a evidência de falhas ativas na proximidade da barragem necessitam ser bem
conhecidas. A utilização para efeitos de projeto de sismos ocorridos na área ou fora dela é uma
aproximação ao problema, que, no entanto pode ser muito enganadora. Nada garante que o sismo que
eventualmente venha afetar a fundação tenha as características do sismo anteriormente ocorrido.
A maioria das barragens de aterro que sofreram deteriorações devido a sismos foram
construídas antes de 1920, com um pormenor de projeto e métodos de construção que não seriam
considerados satisfatórios nos dias de hoje. Como exemplo de uma barragem de aterro que sofreu
ruptura, possivelmente devido liquefação da fundação provocada por um sismo, refere-se a barragem
de Sheffield em Santa Bárbara, na Califórnia (Ambraseys, 1960). Neste caso, os registros sobre os
métodos de construção e materiais empregados são vagos. No entanto, sabe-se que o aterro foi mal
compactado e que os materiais eram essencialmente granulares e totalmente saturados.
A ruptura ocorreu devido ao sismo de Santa Barbara em 1952, que teve uma intensidade
correspondente ao grau 7 na escala de Richter. Parece provável que a ruptura tenha ocorrido em
conseqüência da liquefação na parte inferior do aterro, ou na parte superior da fundação. Como a parte
inferior do aterro estava saturada, a vibração fez com que grande parte do peso do aterro fosse
suportado pela água. Em conseqüência, a resistência ao corte da base diminuiu drasticamente, tendo a
pressão da água empurrado a barragem para jusante, provocando a sua ruptura.
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Seed e Peackock (1971) reuniram mais dados correlacionando a relação da tensão cíclica, que
causa a liquefação ( ) com o valor corrigido (𝑁 ) do ensaio SPT.
𝑁 = 𝐶 .𝑁
Onde:
CN é um fator de correção que, por exemplo, pode ser determinado pelo ábaco da figura 3.6.
Esta correção traduz a densidade relativa determinada indiretamente “in situ”. Este ábaco foi elaborado
por Sutherland (1974).
Na figura 3.7 apresentam-se algumas correlações entre o N e o ângulo de atrito ∅ para solos não
coesivos.
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A figura 2.7 apresenta os resultados, sendo baseada em sismos com magnitude de 7,5.
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𝜏 = 0,65𝛾 . 𝐻/ 𝑔. 𝑎 .𝑟
Onde:
𝛾 é o peso específico
H a profundidade do ponto considerado
𝑔 é a aceleração da gravidade
𝑎 é a aceleração máxima provocada pelo sismo a superficie do terreno
𝑟 é um coeficiente inferior a 1 relativo ao efeito da profundidade e que se determina a partir da figura
2.8.
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É de realçar que apesar das técnicas de ensaio laboratorial ser bastante elaboradas, não é
possível utilizar com rigor os seus resultados, pois nos maciços terrosos as características
condicionantes da liquefação são muito variáveis. Assim, a obtenção de amostras representativas
torna-se bastante difícil, havendo a acrescentar a dificuldade de obter amostras indeformadas nos
terrenos saturados.
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A partir dos resultados obtidos efetuou-se o zoneamento das areias, tendo-se considerado como
fofas as areias dos primeiros 4 metros, areias medianamente compactas as médias as dos 4 m aos 6 m e
areias compactas aos 6m ao substrato.
Foram também realizados ensaios laboratoriais sobre a influência da granulometria, densidade
do depósito, características da vibração, cargas aplicadas, localização dos pontos de drenagem, etc., não
se tendo verificado qualquer tendência da areia para liquefazer.
A barragem de terra de Grou, em Marrocos, (Benisty e Tonnon, 1970) é fundada sobre terraços
quaternários, ou seja, formação geológica recente. A base da barragem é assentada diretamente sobre
siltes argilosos com boas características mecânicas nos terraços médio e alto. Os siltes do terraço são
muito compressíveis, possuindo uma estrutura colapsível, que foi detectada pelo ensaio edométrico,
com entrada de água retardada. Os adensamento importante esperado, de aproximadamente 1 m e o
receio da possibilidade de liquefação em caso de sismo levaram a que se optasse pela solução de
engenharia para remoção completa destes siltes, fundando a barragem nas areias subjacentes.
Pode dizer-se que os solos de origem glacial possuem características diferentes consoante o
material que lhes deu origem e os processos a que estiveram sujeitos durante a sua formação. A
descrição dos diferentes tipos de materiais pode encontrar-se em quase todos os livros de geologia.
Os materiais conhecidos como tilitos ou brechas glaciares têm a sua origem nos terrenos de
cotas elevadas, em que os gelos escavam os vales preexistentes, erodindo as superfícies das rochas
sobre as quais se deslocam. Os materiais removidos, desde os fragmentos aos materiais finos, são
incorporados na massa de gelo e abandonados sob esta massa ao serem atingidos cotas mais baixas.
Pode tentar-se sintetizar as características das morenas a partir dos seguintes aspectos (Gignoux
e Barbier,1955). Uma morena tem uma composição muito heterogênea. Os blocos e fragmentos
rochosos são angulosos, exceto quando sofreram rolamento nas torrentes sub glaciares. Este fenômeno
tende a ser mais intenso nos grandes glaciares. Os blocos e pedregulhos tendem a apresentar estrias
devido a friccao com as rochas in situ, desde que a sua dureza seja inferior a destas rochas.
Normalmente as morenas assentam-se diretamente sobre o fundo rochoso, que se apresenta canelado
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devido a fricção dos blocos transportados pelo glacial; As morenas não são estratificadas, apresentando
uma distribuição irregular dos materiais.
Parte do material inicialmente transportado pelos glaciares e arrastado pelas torrentes
subglaciares, chegando a ser levado para além do limite do glacial. Os depósitos com esta origem são
classificados como glacio fluviais. Eles podem reter algumas das características dos materiais
transportados pelo glacial, mas apresentam um grau superior de calibragem e arredondamento,
aproximadamente proporcional a distancia a que foram transportados pelas torrentes. Apresenta ainda
estratificação idêntica a dos depósitos fluviais.
Nos lagos calmos, formados na frente do glacial ou sob ele próprio as correntes depositam os
materiais grossos em deltas de areia e cascalho. Os finos depositam-se em todo o lago, formando
camadas de argila e argilas siltosas.
Estes depósitos também podem possuir blocos de rocha que foram transportados por flutuação
nas massas de gelo. As varves são constituídas por seqüências repetidas, referentes as fusões sazonais
dos gelos que provocam um influxo de materiais finos para o lago glacial. O silte deposita-se
rapidamente, enquanto que o congelamento que se verifica no inverno apenas vai permitir a deposição
de argilas. Estas formações poderiam chamar-se de glacio lacustres.
Contrastando com os restantes materiais de origem glacial as areias e cascalhos dos deltas e as
varves apresentam calibração e arranjo dos fragmentos e partículas constituintes.
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materiais de origem glacial, exigem grandes precauções quando interessam a fundação de uma
barragem.
As formações glacio lacustres podem dar origem a grandes deslizamentos, mesmo quando
possuem taludes muito reduzidos. Por conseguinte, pode ser difícil realizar obras neste tipo de
depósitos. A necessidade de aumentar a altura de uma barragem de aterro no Canadá de 12 m para
163m levantou importantes problemas devido a compressibilidade, resistência ao corte muito baixa e a
alta sensibilidade das varves argilosas moles da fundação (Klohn et al., 1982). O seu teor natural de
umidade varia entre 60% e 77%, o limite de liquidez entre 40% e 61% e o limite de plasticidade entre
20% e 25%.
Após a análise dos efeitos de um sismo, a partir de ensaios triaxiais cíclicos, utilizando as
varves argilosas, concluiu-se que a barragem não suportaria durante a fase de construção um sismo de
grau 5 na escala de Richter com o epicentro afastado de 25 Km. Após a construção não suportaria um
sismo de grau 6 com o mesmo epicentro.
Sob os depósitos moles e compressíveis ocorrem tilitos densos, rijos e relativamente
incompressíveis, constituídos por uma mistura de silte, areia e seixo. A partir da localização destes
materiais, foi decidido remover os solos argilosos moles com uma espessura máxima de 15m e
substituí-los por um aterro compactado.
Como conseqüência da ausência de estratificação e irregularidade das morenas, a distribuição
das permeabilidades é extremamente variável.
A estabilidade dos materiais das morenas, em relação às escavações superficiais, depende
grandemente do seu teor médio de argilas. Este teor dependerá, por sua vez, da natureza das rochas que
afloram na bacia de alimentação do glacial.
A barragem de Zoccolo, na Itália (Dolcetta e Chiari,1967) é constituída por um aterro com 66
metros de altura. O firme rochoso do vale glacial é constituído por filitos, micaxistos e paragnaisses. Os
talvegues são freqüentemente cobertos por espessos depósitos de rochas móveis que na zona da
fundação chegam a atingir 100m de espessura, apresentando uma permeabilidade variável. Estes
depósitos são formados por morenas cobertas por aluviões recentes. As morenas estão em parte in situ
e em parte foram transportadas e remexidas em diversos graus pelo curso d’água pós glacial. Os
depósitos aluvionares foram aumentando de espessura progressivamente, devido a alternância de fases
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fluviais e lacustres, provocadas pela barragem do vale por um cone de dejeção à jusante. Este processo
permitiu atingir cotas de algumas dezenas de metros acima das atuais, como testemunham os terraços e
a forte compressão sofrida pelos depósito glacio fluviais.
A velocidade das ondas sísmicas na morena é de 1 ,9 Km/s. 0 material não apresenta
estratificação e as diferentes frações granulométricas encontram-se quase sempre bem misturadas. Este
fato dá origem a que a permeabilidade seja reduzida, sendo de 10-6 m/s nas zonas superficiais,
diminuindo com a profundidade, ate atingir 10-7 m/s a 45 m de profundidade. No laboratório foram
determinados, com o auxilio de ensaios triaxiais lentos e rapidos, um valor de 39° para o ângulo de
atrito e uma coesão de 49 KPa.
A barragem de aterro de Vernay (C.F.G.B.,1982), tem uma altura máxima de 42 m e é fundada
sobre um espesso preenchimento aluvio-morenico com uma espessura máxima de 80 m. A
permeabilidade varia entre 2 x 10-3 e 10-4 m/s, tornando-se necessário executar um controle da
percolação de modo a garantir a segurança da obra, mas permitindo a realimentação do lençol freático à
jusante da barragem. Este objetivo foi atingido com a execução de uma parede moldada em betão
plástico com 1,20m de espessura, cortando o enchimento até uma profundidade de 45 m. Esta parede
foi executada antes do aterro, tido sofrido as deformações resultantes da construção progressiva da
barragem. As características exigidas do material foram uma estanqueidade elevada, resistência a
fissuração, resistência ao fraturamento hidráulica e manutenção de um gradiente elevado.
As barragens construídas total ou parcialmente sobre sedimentos de origem glacial tendem a ser
aterros construídos com os materiais locais de origem glacial. É comum prolongar o núcleo com um
corta-águas que devera atingir o firme. Quando os materiais apresentam resistência adequada, apenas
se procede a remoção da camada superficial alterada de modo a executar-se a fundação. Quando a
alteração ou amolecimento são profundos, a resistência e vulgarmente inadequada para suportar o peso
do aterro. Não se executam grandes escavações nestes solos, pelo que as camadas de argilas moles são
normalmente tratadas utilizando drenos de areia que permitem a drenagem, conduzindo a um aumento
da resistência (Knill, 1974). As elevadas pressões artesianas no firme rochoso podem provocar
problemas nas escavações de argilas moles.
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Para que se possam encontrar solos residuais in situ é necessário que a medida que se vão
formando não sejam removidos pelos agentes da geodinâmica externa. Por conseguinte, em igualdade
de circunstâncias, os terrenos planos tenderão a possuir maior espessura de solo residual.
Nas rochas graníticas a alteração progride ao longo das diaclases e fraturas da rocha. Como
avanço da alteração há um ataque progressivo dos blocos de rocha sã definidos pela rede de fissuras.
No estado final da alteração, em que apenas o quartzo se mantém inalterado, a rocha conserva
normalmente os vestígios da sua estrutura interna, apresentando-se pouco resistente e pouco permeável.
Este tipo de alteração ao longo das fissuras pode atingir grandes profundidades. Há ainda a considerar a
irregularidade da superfície de transição entre a rocha alterada e a rocha sã.
Nas rochas calcárias praticamente não há solos residuais muito espessos, pois a dissolução dos
carbonatos apenas deixa como resíduo argilas avermelhadas, que são facilmente transportadas pelas
águas.
Em uma alternância de margas e calcários, as circulações, concentrando-se nas diaclases do
calcário, podem alterar em profundidade as margas. Este processo é freqüente em outras rochas
heterogêneas.
Nas margas e argilas não fissuradas a alteração apenas atinge uma espessura da ordem dos
decímetros, devido a sua permeabilidade extremamente baixa. Quando fissuradas a alteração tende a
processar-se ao longo dessas fissuras. Este processo é freqüente nas encostas e a alteração pode ser
espessa em virtude do fraturamento decorrente da fluência.
Nos xistos a água percola através das fissuras e planos de descontinuidade e pode originar a
alteração em espessuras apreciáveis. Como resultado ocorre a formação de argilas.
A meteorização dos basaltos “in situ” pode originar um resíduo argiloso, que, após um longo
ciclo de mudanças secundárias com a adição de íons de ferro, pode resultar em um solo altamente
expansivo (Agarwal e Joshi, 1979).
As propriedades importantes dos solos residuais argilosos, afetadas pela mineralogia, são a
resistência ao corte, a permeabilidade e a compressibilidade.
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Utilizando ensaios de penetração estática também se pode diferenciar os solos aluvionares dos
residuais. No entanto para estes métodos a interpretação dos resultados tem necessariamente de ser
correlacionada com dados de sondagens pr6ximas para que possam ter confiabilidade. Os solos
aluvionares tendem a ter baixa resistência a penetração e uma variação irregular do seu valor. Os solos
residuais apresentam valores da resistência a penetração superiores aos solos aluvionares, aumentando
este valor com o aumento da profundidade. A diferenciação entre os dois tipos de solos citados é de
importância pratica em geologia de engenharia devido ao contraste que apresentam nas suas
propriedades e comportamento.
Para determinar a permeabilidade dos solos residuais podem realizar-se ensaios “in situ” em
furos de sondagem. Utilizam-se os ensaios de nível constante ou variável, consoante os valores da
permeabilidade do terreno são altos ou baixos. A permeabilidade pode igualmente determinar-se
laboratorialmente a partir dos ensaios triaxiais realizados sobre amostras indeformadas.
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A realização do ensaio de carga com placa no fundo de trincheiras ou poços permite obter
elementos sobre o tipo de comportamento destes materiais.
A barragem de Guri, na Venezuela (Medina e Liu,1982) é fundada parcialmente em solos
residuais resultantes da alteração da rocha gnaissica. Verificou-se que o solo possuía uma estrutura
porosa aberta, conservando o esqueleto da rocha mãe, em resultado da lixiviação dos elementos
solúveis. A partir dos ensaios de consolidação, triaxiais e de carga com placa, e seqüente saturação
verificou-se que este fato permitia o colapso súbito da estrutura do solo quando sujeito a cargas
superiores a 400 KPa. Por este motivo foram adotados diversos procedimentos construtivos que
consistiram na remoção parcial do solo poroso na zona do núcleo, pré saturação da fundação antes da
construção do aterro e uso de banquetas estabilizadoras. Com estes procedimentos procurou-se
minimizar os adensamentos diferenciais e a conseqüente fendilhação (pequenas fendas) no corpo da
barragem, que foi dotada de amplos filtros para prevenir a erosão interna.
A figura 2.11 apresenta o perfil típico da parte direita da barragem de Guri.
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Na natureza não há uma barreira entre o solo e a rocha, mas sim uma transição gradual, por isso
se torna difícil definir o início da rocha branda. Usualmente considera-se que os solos são os terrenos
que sendo colocados dentro de água e agitando se desagregam. Nas rochas, pelo contrario, a coesão não
é destru1da e não soferm desagregação.
Rocha (1977) considera que genericamente as rochas de baixa resistência possuem resistência a
compressão uniaxial entre 2 e 20 MPa, módulo de deformabilidade entre 4x102 e 4x103MPa e coesão
superior a 0,3 MPa. Os solos teriam uma resistência a compressão uniaxial inferior a 2 MPa, módulo
de deformabilidade menor que 50 MPa e coesão inferior a 0,3 MPa.
A maioria das rochas brandas são rochas sedimentares, tais como os argilitos mal consolidados,
argilas xistosas, margas, ou rochas residuais resultantes da meteorização das rochas pré-existentes.
Nos argilitos a adesão dos cimentos aos grãos vai determinar a resistência da rocha. Quando
cimentados com óxidos de ferro, a resistência dos argilitos pode ser muito variável, devido a
característica particular que este cimento apresenta, como a segregação em bandas ou massas
irregulares dentro do depósito. Os cimentos carbonatados são suscetíveis de serem dissolvidos pelas
águas meteóricas, originando bolsas de material que se transforma em solo arenoso. Este fenômeno só
é suscetível de ocorrer na escala do tempo geológico devido a baixa solubilidade do calcário. Os
argilitos com cimento siliciclásticos são os que apresentam maior resistência e menor deformabilidade.
O estudo petrológico das rochas brandas assume importância na caracterização das suas
propriedades como material de fundação de barragens.
A resistência das rochas brandas devem ser determinadas no laboratório através de ensaios de
compressão simples ou triaxial.
Segundo Rocha (1977, op. cit.), a caracterização da deformabilidade do maciço pode ser feita
no laboratório e que não implique que o volume a amostrar seja grande e que a amostra seja
indeformada.
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Para que continue a processar o escoamento ascendente terá que ocorrer uma subida
correspondente dos níveis piezométricos. Imediatamente a jusante da barragem não há equilíbrio para
este aumento das pressões hidrostáticas, pois podem aumentar os problemas de instabilidade.
Considere-se ainda o caso de um aquífero regional confinado situado imediatamente abaixo da
fundação da barragem e em que os níveis piezométricos se encontram acima da superfície do terreno.
Neste caso o enchimento da albufeira vai provocar uma subida correspondente dos níveis
piezométricos, podendo aumentar os problemas de instabilidade a jusante de um modo idêntico ao caso
anterior.
No estudo hidrogeológico realizado antes da construção da barragem de terra e enrocamento de
Mont-Cenis, nos Alpes Franceses, verificou-se que os níveis piezométricos eram bastante inferiores aos
que se observavam na mesma vertical nas aluviões. Segundo Marchand et al. (1970) este fato seria
provocado pelas passagens com forte permeabilidade que ocorriam no Triássico.
O conjunto das medidas dos caudais e das medidas piezométricas permite detectar a evolução
do regime de percolação antes que se verifiquem movimentos ou rupturas que não sejam solucionáveis.
Durante a execução de valas profundas em que se utilizam lamas densas a base de bentonita
para sustentação das paredes, uma subida do nível freático vai provocar um afluxo de água para a
escavação, podendo criar dificuldades devido ao arrastamento e desmoronamento de areias e materiais
finos que vão contaminar a lama. Para evitar este problema é preciso manter o nível da lama a uma cota
segura, acima da lençol freático.
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I. Tapetes impermeáveis
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O tapete parcial a montante é freqüentemente a solução econômica desde que se trate de uma
formação aluvionar espessa. Este dispositivo, por si só, pode reduzir os gradientes de percolação e os
conseqüentes caudais de fuga para valores aceitáveis.
Na barragem de Massingir (Serafim e Carvalho,1970) utilizou-se um tapete argiloso que se
estendia com um comprimento de 270 m a montante da barragem, sobre a zona aluvionar dos terrenos
da fundação (fig. 2.1).
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II. Corta-águas
Pode-se considerar que os principais tipos de corta-águas utilizados no tratamento de fundações
terrosas de barragens são:
Estacas-pranchas metálicas,
Estacas de betão (secantes e tangentes),
Paredes moldadas,
Paredes finas e
Valas corta-águas.
A eficiência de cada um dos tipos enunciados é diferente, de acordo com a perfeita execução e o
tipo de terreno em que é utilizado.
Os corta-águas podem ser parciais ou totais. Os primeiros apresentam uma eficácia reduzida
quanto ao controle dos caudais, sendo geralmente eficientes na redução das tensões neutras (Lande,
1970). Procura-se levar os corta-águas parciais até uma camada contínua e pouco permeável, pois deste
modo se aumenta consideravelmente a trajeto da percolação. Na maioria dos casos não há uma camada
com as características enunciadas, mas sim várias camadas mais ou menos contínuas e afastadas que
acabam tendo um comportamento semelhante ao de uma camada única.
Os corta-águas totais são utilizados quando a espessura do solo a atravessar não é muito
grande, pois a profundidade máxima que é possível atingir é de cerca de 75m com as paredes
diafragma(Asselin, 1967), e de cerca de 120m com as estacas secantes (Dreville et al., 1970).
Nos solos homogêneos é necessário que o corta-águas penetre cerca de 95% da sua espessura
para que haja uma redução apreciável dos caudais de fuga (Mansur e Perret, 1948). Por este motivo
utilizam-se os corta-águas totais neste tipo de solos.
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III. Injeções
Londe (1970) analisa cuidadosamente o problema das injeções das aluviões permeáveis,
nomeadamente no que respeita as caldas, numero de linhas de sondagem, pressão de injeção, absorções
e controlo durante a execução.
Considera-se o valor de 10-6 m/s como o limite inferior da permeabilidade que se pode obter
com um tratamento por injeção. Adaptando o tipo de calda ao terreno a injetar é possível limitar a
penetração nos grandes vazios utilizando uma calda viscosa, por vezes mesmo com areia. As frações
finas podem então ser impermeabilizadas com produtos químicos, evitando o seu consumo excessivo.
Em regra utilizam-se cortinas de injeção com linhas múltiplas. A espessura da cortina decresce
com a profundidade e para os flancos. O espaçamento mais freqüente entre as sondagens de injeção
varia entre 2 e 4 metros.
As pressões de injeção variam em muitos casos entre p=0,3 H e 0,7 H, em que p representa a
pressão em bars e H a altura do terreno em metros acima do troco injetado.
As cortinas de injeção são muito eficientes na diminuição dos caudais de percolação. Os
gradientes de saída e as sub-pressões diminuem proporcionalmente com a qualidade da
impermeabilização obtida. Para maior eficiência, devem associar-se a um dreno (Cambefort, 1967),
que, no caso da barragem de aterro, se desenvolve no contato com a fundação.
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FASES DO ESTUDO DE
ANTI PROJETO PROJETO CONSTRUÇÃO OPERAÇÃO
PROJETO VIABILIDADE
Interpretação dos resultados do
Estudo dos
Reconhecimento geológico Prospecção mecânica Cartografia da superfície de programa de observação do
documentos
de superfície (cont.) (cont.) escavação comportamento (assentamentos,
geológicos existentes
PRINCIPAIS ATIVIDADES DA GEOLOGIA DE ENGENHARIA
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EXERCÍCIOS AVALIATIVOS
7) Por que é importante realizar a auscultação de uma barragem de rejeito de mineração? Quais
os principais grandezas medidas no monitoramento?
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deve ser estudado com a finalidade de propor soluções geotécnicas, conforme o estudo de
caso. Defina o que é erosão interna e os processos que a geram.
10) Discorra sobre a resistência e deformação dos aluviões como material de fundação de
barragem.
12) Quais os métodos para avaliar a suscetibilidade a liquefação de solos arenosos saturados?
13) A propósito do estudo dos solos residuais da fundação de barragens, discorra sobre as
principais aplicações técnicas utilizadas por Medina (1982).
14) O conhecimento da posição do nível do lençol freático, das suas variações sazonais e das
pressões hidrostáticas em estratos permeáveis profundos é de interesse no estudo das
fundações de barragens. Como é realizado o monitoramento dos níveis dos aqüíferos? Quais
os principais tipos de aparelhos utilizados?
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